Einstein e a autoridade científica.
Já escrevi aqui sobre a ideia da ciência ser um dogma e o cientista o sacerdote que o defende (1). Mas quero mostrar com um exemplo de autoridade científica como esta difere da autoridade dogmática da religião. Todos conhecem este senhor, especialmente a fotografia da esquerda. É fácil ver nesta um sábio sacerdote da ciência.
A da direita mostra Einstein como era em 1905, com um ar bastante menos sacerdotal. O jovem Albert de 26 anos trabalhava no gabinete de patentes em Berna enquanto concluía o seu doutoramento, e nesse ano publicou quatro artigos na revista Annalen der Physik. O primeiro foi sobre o efeito fotoeléctrico e a natureza quântica da luz, mostrando que os quanta introduzidos por Max Planck eram mais que um mero formalismo matemático, e que revelavam algo fundamental acerca da realidade.
O segundo artigo foi sobre o movimento Browniano, o deambular das partículas microscópicas em solução. Einstein explicou-o pelo impacto de átomos e moléculas, dando evidência directa à teoria atómica e um modelo matemático que descrevia este movimento.
O terceiro foi sobre a electrodinâmica de corpos em movimento, onde formalizou a teoria especial da relatividade (para referenciais em movimento uniforme), abrindo um dos principais campos da física moderna e eliminando de vez o incómodo éter luminífero em relação ao qual se mediria a velocidade da luz.
Finalmente, publicou um artigo sobre a equivalência entre matéria e energia, a famosa equação E=mc2. Qualquer um destes artigos seria o excelente culminar de uma carreira científica. O jovem assistente de inspector de patentes publicou os quatro no mesmo ano, com 26 anos de idade e a tinta ainda a secar no diploma de doutoramento. E foi só o inicio.
Muitos cientistas liam o que Einstein publicava, como muitos católicos lêem o que o Papa escreve. Mas a autoridade do Papa ou de outros sacerdotes vem do cargo que ocupam. A mesma coisa escrita por um inspector assistente de um gabinete de patentes teria pouco impacto na comunidade católica.
A diferença fundamental é que uma religião é um conjunto rígido de crenças e tradições e a ciência é um método para gerar e aperfeiçoar descrições da realidade. As religiões têm que ser fechadas, auto-contidas, e resistentes à inovação. A ciência tem que ser aberta a ideias novas, e procurá-las onde quer que apareçam. Enquanto a autoridade do sacerdote é uma autoridade institucional, a autoridade do cientista vem do seu mérito, das suas ideias, seja quem ele for, e é-lhe concedida pelas provas que deu de ter algo interessante para contribuir.
1- Eu, 2-3-07, Dogma e ciência.
2- Wikipedia, Albert Einstein
*planCk
ResponderEliminar"Einstein não merecia que o Ludwig lhe fizesse isto. Já não há respeito."
ResponderEliminarNão percebo...não existe falta de respeito alguma. Se Einstein fosse o papa, se calhar até já percebia...
Oi Ricardo,
ResponderEliminarObrigado pela correcção.
Claro que falta aqui mencionar o papel determinante de Mileva Maric no trabalho de Einstein. É que no tratamento das mulheres existe semelhanças assutadoras entre a igreja católica e a comunidade científica.
ResponderEliminarCristy
Não tenho problema em mencionar papel determinante de ninguém, homem ou mulher. Mas não há indicios claros que a esposa do Albert tenha sido determinante neste trabalho.
ResponderEliminarJá a do Niels Bohr... :-)
ResponderEliminar«Foi esse homem profundamente religioso que recusou ao longo de toda a sua vida quaisquer ritos religiosos, públicos ou privados. Nunca praticou nenhum ritual judaico, nunca entrou num templo para orar, não autorizou que os seus dois filhos frequentassem aulas de religião, casou pelo civil com as suas duas esposas (a primeira era, de resto, ortododoxa, pois provinha de um território hoje situado na Sérvia) e também não teve qualquer cerimónia fúnebre de natureza religiosa (o seu corpo foi incinerado, excepto o cérebro e os olhos, que foram furtados pelo médico patologista que lhe fez a autópsia, e as suas cinzas foram lançadas a um rio num lugar desconhecido). Einstein não acreditava em milagres (violação temporária das leis gerais da Natureza), nem em nenhuma forma de espiritismo (tal como Espinosa de resto, que negava a existência de espectros, ou espíritos sem corpo).»
ResponderEliminarSendo que o Ludwig fala em religião organizada neste artigo (com clero, papa, etc...) e Einstein sempre foi alheio a isso (nem sequer autorizou os filhos a ter aulas de religião, que eu autorizaria se mo pedissem), nem sequer desse ponto de vista o nome dele estaria desenquadrado deste artigo.
O texto é citado do artigo do Carlos ao qual o António se refere.
Mas, exactamente como o Ludwig diz, em ciência não há sacerdotes.
ResponderEliminarEinstein bem podia ser um cristão muito devoto e beato - que não era, e estava bem longe de o ser! - que isso seria completamente irrelevante se não apresentasse boas razões para tais crenças.
Caro António,
ResponderEliminarSó pelo que que me ocorre de momento, o João Vasco já manifestou discordar de mim acerca de: feriados religiosos, censura do ateismo no youtube, aborto (muitas, muitas vezes, e em muitos aspectos), ética, fundamentos da consciência, relevância do utilitarismo...
Há umas semanas tive o prazer de me encontrar pessoalmente com ele e passarmos umas horas a discordar de uma data de coisas. É a melhor maneira de nos pôr a pensar e a aprender alguma coisa. Muito melhor que ficar de joelhos a dizer que sim.
Desculpem interromper a vossa discusãozinha existencial, mas vocês estão a falar de alguém (Einstein) que nunca foi dogmático, que ele próprio afirmou estar errado e que sabia que mais tarde alguém o corrigiria... Porém, essa correcção não reside em argumentos ad hominem completamente estúpidos e infundados À pessoa de Albert Einstein, mas sim às suas teorias, e o senhor Ludwig, como Dogmático que dizendo não o ser se mostra, apenas tem o direito de "atacar" Einstein, a sua pessoa ou as suas teorias, se tiver algo PRODUTIVO, algo que seja realmente INTRODUTÓRIO ao invés de se limitar a criticar sem qualquer razão, sem qualquer sabedoria. O dogmático caracterizado por si na pessoa de Albert Einstein é um ser que não existe, alguns Cientistas são-o, bem como ALGUNS sacerdotes o são, em todo o caso existem excepções, sendo que no último caso o ser dogmático é a regra e na segunda a excepção, e antes de qualquer comentário ou desabafo estúpido, infundado e profundamente hipócrita o autor desse mesmo desabafo deve compreender o que escreveu, deve-se debater sobre os valores que transmitiu no texto em questão, e se tal como você (creio) eu sou ateu e me revolto entusiastamente contra a religião e todo o tipo de "conhecimentos" dogmáticos, revolta-me também ver alguém criticar por falta de capacidade para aceitar a grandiosidade dos outros, criticar por simples inveja e mesmo hipocrisia, como reparará quem quer que leia o seu artigo, particularmente o texto que aparece anteriormente às imagens do Sacerdote do saber, e não do irónico "sábio sacerdote da ciência" que você diz ser. Ao longo do artigo apenas vi criticas à imagem de Einstein, notei inveja em " jovem assistente de inspector de patentes publicou os quatro no mesmo ano, com 26 anos de idade e a tinta ainda a secar no diploma de doutoramento. E foi só o inicio" e, lamento dizer, não vi qualquer carácter racional em qualquer uma das acusações feitas, além da falta de ética que existe em criticar alguém que, não se podendo defender, tem essa crítica como uma crítica destrutiva, referindo apenas o que diz estar mal mas ignorando a possibilidade de acrescentar algo à "sabedoria sacerdotizada" que Ludwig refere. Como último aspecto gostaria ainda de me referir a Mileva Maric. Dadas as informaçõess contraditorias que não nos permitem perceber se estamos perante sencionalismo ou veracidade histórica no que respeita à contribuição de Mileva Maric nos trabalhos de Albert Einstein torna-se dificil debater sobre este assunto, e uma vez que não se sabe se realmente ela ajudou Einstein, ou se é ela própria quem formulou as teorias, apenas podemos atribuir o trabalho a Einstein e salvaguardar Mileva com a POSSIBILIDADE de ela ter contribuido, de algum modo, TALVEZ ate por inteiro, nas teorias de Einstein. Quanto ao tratamento das mulheres pela comunidade científica, este FOI depreciativo das mesmas como FOI toda a sociedade passada, actualmente a igreja persiste em fazer a discriminação mas o mesmo não se pode apontar à Comunidade Científica ACTUAL. Não tentem é, como Compensação pelo passado evidenciar direitos femininos, SOMOS TODOS IGUAIS, homems e mulheres, e tal como não é justo discriminar um filho pelos actos dos seus pais também não o é agredir a comunidade científica por uma prática que OUTRAS pessoas, a comunidade científica PASSADA teve com as mulheres.
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