A Moda não está na moda...
... porque a moda agora é a protecção dos direitos de autor, e na moda não há disso. Quem afirma que o copyright é essencial à criatividade nunca menciona que aquele só se aplica a elementos decorativos ou artísticos sem utilidade prática. Tudo o que é utilitário não é coberto pelo copyright. Nas roupas a lei só protege a marca.
E este é o segredo do sucesso desta indústria (1). Quem quer andar na moda compra roupa quando a moda muda, e não espera que a roupa que tinha se estrague. E a moda é um fenómeno de massas; da mini-saia às calças descaídas é quando uma data de estilistas oferecem a mesma coisa que um monte de pessoas começa a usá-la. Sem terem que se preocupar se a roupa sai igual à de outro estilista, e sem terem que esperar 120 para poder fazer uma roupa parecida, a indústria cospe a cada estação uma moda (mais ou menos) nova que muito agrada aos consumidores, estilistas, fabricantes, e accionistas.
A música popular tem as mesmas características. É uma moda. Mas o proteccionismo do copyright abafa a criatividade, e prejudica a industria. Não pode ser, dirão alguns, porque se assim fosse bastava ignorar o copyright e ficava tudo melhor. Pois é o que cada vez mais artistas fazem. Mas aos distribuidores isso não interessa.
As marcas de roupa têm que tratar bem os estilistas. Como ninguém é dono do design nada impede o estilista insatisfeito de ir estilar para outro lado. As empresas discográficas têm mais sorte. Graças ao copyright, são donas de tudo o que os artistas criam. Por muito mal que a industria esteja, isto só lhes tiram partindo os dedos ao cadáver deste modelo de distribuição. Felizmente, já não falta assim tanto.
Nesta nota, fica este clip, roubado de um post do Miguel Caetano no Remixtures (2). Espero que o valor utilitário dos conselhos do Dick Dale (3) me safem de um processo por violação de copyright...
1- Techdirt, 10-4-07, More Research Shows How The Fashion Industry Is Helped By The Lack Of Intellectual Property Rights
2- Miguel Caetano, 6-4-07, Diz não aos contratos com companhias discográficas
3- Wikipedia, Dick Dale
É engraçado. Também tinha lido esse artigo antes ;-)
ResponderEliminarCaro Ludwig,
ResponderEliminarEsta agora tocou-me. :-)
Creio que a música está neste momento num ponto de total estagnação criativa, e, pior que isso, a enveredar por um caminho de exploração "sexual" que visa apenas encher os bolsos das editoras.
Senão vejamos. Os telediscos são meras montras de corpos e insinuações sexuais. Os artistas de Top, podem começar com o ar mais inocente do mundo (para alegarem ser novidade, serem diferentes), mas, ao segundo disco já andam com a roupinha da moda, em doses cada vez menores, até acabarem quase nús. Estranhamente, em termos músicais, acabam quase sempre a fazer "ruído", à base de ritmos estilizados do rap, com melodias monocordicas, e a dizer atrocidades, ou a oferecerem-se sexualmente aos fans. Normalmente o público alvo é sempre o mesmo: Os adolescentes, que na fase de afirmação e que sabem tudo, acabam por ser os mais fáceis de manipular e enganar.
O problema é que a única verdadeira fonte músical destes "talentos", é mesmo fazer covers de artistas consagrados, de alturas em que não havia tão baixa qualidade. Talvez pela busca dessa qualidade perdida, é que hoje existe a onda nostalgica em relação aos anos 80. Ainda bem que têm de pagar direitos para os imitar, senão não faziam mais nada mesmo.
Por outro lado, o copyright acaba por servir de protecção aos verdadeiros compositores, porque registam o seu trabalho, e impedem que as editores os "roubem" para colocar a musica desses autores nas bocas de uns artistas pré-fabricados, que na maior parte dos casos não têm talento nenhúm para a música.
No caso da moda, para alguém copiar alguma coisa tem de comprar materiais, tem de trabalhar para copiar e assim gera rendimento, e quem usa algo copiado está a pagar para usar. No caso da cópia músical, não existe rendimento para ninguém, pois é um acto digital, quem copia e quem usa a cópia não paga nada a ninguém. Por isso dificilmente pode ser comparado com o caso da cópia da moda.
Já agora, porque não há de ser livre a cópia e distribuição de um livro por qualquer pessoa, editora, site, etc. Assim, conseguia-se baixar o custo da distribuição da literatura, estaria acessível a toda a gente, e a produção literária iria florescer, tal como a moda. Afinal basta imprimir as primeiras 100 ou 200 cópias e alguém tratará de colocar os livros na internet para acesso gratuito a todos os leitores. Boa... Grande ideia... E assim o mercado vai florescer e vão aparecer novos e excelentes escritores, tal como na moda. Ou será que não?!
O fim do copyright na música e na literatura, por comparação com a moda é uma falácia, pois no caso da moda é mais comparável a entrar numa loja, pegar na roupa e sair sem pagar. A comparação com o mundo da moda, no caso da música só pode ser feita se disserem que todo o artista pode tocar a música de outro artista sem lhe pagar para o fazer, mas, o consumidor final ficaria na mesma obrigado a comprar os CDs, e o que se pretende com essa discussão é que o consumidor não pague nada... Não acontece na moda, e por isso nem faz sendido falar-se disso sobre a música. É mera retórica, e é mais parecido com uma "Falsa Dicotomia":
"Se na moda os criadores não pagam para se copiarem, na música, os consumidores não devem pagar para a terem."
Ou será que o que querem dizer é qua a Britney Spears pode cantar Pink Floyd sem pagar. Isso sim era digno de pagar para ouvir... mas não como música. Talvez como um sucedaneo de humor. :-)
Depois de relêr o meu comentário, acho que a mensagem não ficou clara... Pessoalmente acho que as editoras devia ser postas de lado, e os artistas deviam vender os seus CDs, por exemplo a 1 Euro na Internet, ou até a 50 cêntimos, e acabavamos com todo o mercado de intermediários, que se "enchem" com esta brincadeira. O mesmo também devia ser aplicado na literatura, nos filmes, etc.
ResponderEliminarCaro António,
ResponderEliminarÉ um erro confundir o direito de autor com o direito de propriedade, porque ideias não são coisas. Se o António me tirar as calças eu fico sem elas, mas se o António tirar proveito de uma ideia que eu tive eu não fico sem a ideia.
Todas as palavras, teorias científicas, fórmulas matemáticas, e milhares de coisas que usamos no dia a dia foram ideia de alguém e usamo-las sem sequer pensar nisso. E sem roubar nada a ninguém.
A única justificação para os direitos de autor é beneficiar a sociedade que os confere, pois são um privilégio e incentivo à criatividade. É uma forma de subsidiar a arte. E, como tal, devem servir primeiro os interesses do público e não dos autores.
Pois acredito que o público goste de ter acesso ao resultado da criação artistica, de graça, mas, isso implica que alguém tem de pagar as horas de trabalho do artista na composição e execução, produção e distribuição, ou serão os artistas diferentes dos outros trabalhadores?
ResponderEliminarAs ideias circulam, mas, se precisar de estudar 1 ano para desenvolvêr uma ideia, quem é que paga esse ano de trabalho? Que o faz ou quem tira proveito dele? Ou devem os artistas solicitar subsidios governamentais? Eu por exemplo recuso-me a comprar discos de artistas de quem não gosto, mas, eles vivem suficientemente bem com o que os fãs lhes pagam. Se me pedir 50 euros por mês para sustentar a arte, eu pago, mas, eu é que escolho a arte que sustento. O que acho é que um disco que sai da impressão a 1,5 euros ou menos, não deve ser vendido a 15 euros, pois anda a encher os bolsos a dezenas de intermediários que mais não fazem que gerir um oligopólio.