A Blinologia do Supra-Empírico
Da autoria do blinólogo Mário Neto, que continua aqui a divulgar alguns aspectos menos conhecidos da Blinologia.
O supra-empírico, ou Ideal, é o reino da Realidade intemporal, necessária e absolutamente certa, em oposição ao reino da realidade aparente, contingente, e temporal que os nossos sentidos nos dão a conhecer. É o reino da Lógica e da Ontologia, no qual se pode afirmar com toda a certeza aquilo que é sem ter que considerar como o sabemos. Sabe-se, e pronto.
É assim que sabemos que os Blin existem. Podemos conceber algo tão Blin que nada pode ser concebido que seja mais Blin. Ora se esse algo não existisse, poderíamos conceber algo idêntico mas existente, e que, por existir, seria mais Blin que o Blin que não existe. Daqui se prova, a priori, que os Blin existem. É uma prova irrefutável por duas razões. Por não estar dependente do conhecimento empírico, que sabemos ser sempre falível, e por ser tão obscura e confusa que ninguém a pode refutar.
A Blínia Sagrada dá-nos um excelente exemplo: o Tremoceiro Poeta Que Existe. A visão do mundo empírico dada pelos nossos sentidos sugere que não existem tremoceiros poetas, mas está obviamente errada. A Blínia Sagrada não fala de um tremoceiro poeta qualquer, mas sim de um Tremoceiro Poeta Que Existe, e este necessariamente tem que existir, pela sua própria definição. Devemos também notar que no aramaico antigo, língua original da Blínia Sagrada, «tremoceiro» e «poeta» eram palavras distintas, muitas vezes usadas em contextos diferentes, o que atesta à riqueza e expressividade desta língua, e à sua capacidade de distinguir conceitos tão semelhantes que hoje em dia temos dificuldade em destrinçar.
O raciocínio a priori pode-nos conduzir à Verdade Absoluta se seguirmos três importantes passos. Primeiro, partir da conclusão à qual queremos chegar. Os cientistas andam muitas vezes à toa precisamente por dependerem daquilo que observam, e assim nunca sabem hoje que opinião terão amanhã. A Blinoligia é a ciência das certezas, daquilo que sabemos sempre a priori. Nunca na Blinologia se investiga sem saber onde a investigação nos vai levar.
Em segundo lugar, formular um argumento composto de um encadeamento de palavras que conduza um interlocutor de um ponto arbitrário á nossa conclusão. É importante que este argumento seja impecavelmente lógico, pois o supra-empírico é o domínio da Lógica, mas as premissas podem ser quaisquer. Se conduzem à conclusão certa, são forçosamente as premissas certas.
Finalmente, a Revelação do Ideal pode ser obscurecida pela atenção demasiado crítica às premissas do argumento ontológico. Por isso é importante mencionar algo como o significado de uma ou outra palavra numa língua antiga para dar ao interlocutor um contexto mais alargado, mesmo que completamente irrelevante.
Fica, no entanto, um aviso importante. Os argumentos ontológicos da Blinologia são válidos por estar de acordo com a Revelação e Fé Blínica, mas é preciso não tentar aplicar o mesmo método a crendices falsas como os deuses Gregos, Romanos, ou Hebraicos, pois nesse caso apenas resultará em falsidades absurdas.
Mas se o Bernardo ler, certamente perceberá.
ResponderEliminarPergunto-me qual será a sua resposta, eh!eh!
O Bernardo talvez possa ajudar, que ele parece favorecer este tipo de argumentos. Mas devo dizer que a crítica não é só aos argumentos do Bernardo. Nem são propriamente dele, porque este tipo de coisas é típico da teologia, que como todos sabemos foi copiar muito à Blinologia.
ResponderEliminarBasta ver a explicação da santíssima trindade que citei no post anterior...
Sim, quantas vezes já me apresentaram o chamado "argumento ontológico", que é um disparate muito bem ridicularizado neste texto.
ResponderEliminarNem sei bem como é que alguém pode manter uma cara séria enquanto defende um disparate desses, mas a teologia tem muitos como esse. Que lixo intelectual!
Será que o Ludwig Krippahl é da família do Herman...
ResponderEliminarConsultar!
http://www.citi.pt/hermanet/frameset_krippall.html
Explicar o que é a santíssima trindade? Mas afinal em que é que ficamos, é mistério ou não é mistério?
ResponderEliminarSe é realmente mistério então é suposto toda a gente mostrar ignorância.
Essa do clero é genial! Não é invenção do António, eu já tinha ouvido e lido isso.
ResponderEliminarFaz lembrar a história em que o "Rei vai nu".
Na história do "Rei vai nu", os aldrabões, para proteger a sua mentira, dizem que para ver aquele fato é necessário ser isto e aquilo.
Assim qualquer pessoa com espírito crítico que constate o óbvio: não está lá fato nenhum, sente-se desencorajada a fazê-lo porque não quer parecer limitada.
Pelo contrário: as pessoas dizem que vêm o fato com clareza, e até acrescentam pormenores sobre o mesmo.
Aqui, o clero fez o mesmo para contar as suas aldrabices. Diz que quem acredita tem esta e aquela qualidades, e que quem pensa que essas histórias não fazem sentido é limitado (em termos espirituais).
E depois quase toda a gente se comporta como se não fosse um absurdo patético e ridículo o "mistério" da santíssima trindade.
Para mim o "mistério" é saber como se põe tanta gente a engolir esse disparate (1+1+1=1), tal como os aldrabões da história tinham posto toda a cidade a ver o fato do Rei.
Lembro-me que da primeira vez que vi essa história o meu espanto foi o seguinte: "então porque é que as pessoas foram dar ouvidos à criancinha? Porque é que não se riem paternalmente de como ela é limitada, e continuam todos absorvidos pela sua crença ridícula?".
No mundo da religião é isso que acontece.
João,
ResponderEliminarDennett dá uma explicação interessante, no Breaking the Spell. O mais provável é que ninguém acredite na trindade, até porque não há nada aí que se possa acreditar. Simplesmente não faz sentido.
Mas acreditam em acreditar nisto. O crente acredita em ter fé, e esforça-se por isso, mesmo quando o absurdo o torna impossível. E o absurdo destes credos é em si uma característica importante. Se algo é compreendido provavelmente vai ser transmitido a outros por palavras diferentes. Mas o absurdo incompreensível tem que ser transmitido verbatim, sem mexer uma vírgula.
Penso que é mais fácil perceber a crença religiosa se a virmos principalmente como a crença no dever ou na virtude de crer. As proposições que a religião apresenta são literalmente incriveis, mas o crente acredita que é bom acreditar nelas, e esforça-se por isso. Com pouco sucesso, como se pode ver pelos para raios nas igrejas, entre outras indicações.
Ludwig:
ResponderEliminarAcho que isso é verdade, pensei sobre esse assunto depois de ter escrito sobre esse tema aqui: http://www.ateismo.net/diario/2007/04/f-srio.php (passo a publicidade).
A vivência da esmagadora maioria dos crentes mostra exactamente isso: eles gostariam de acreditar na vida eterna, e em tudo isso, mas não acreditam com muita convicção. Apenas os mais fundamentalistas acreditam.
Os outros acreditam que acreditam e que é bom acreditar. Mas na prática têm muitas dúvidas, mesmo que nem a si próprios o confessem.
Mas nesse ponto, também a comparação com a história do fato invisível bate um tanto certo.
ResponderEliminarNão se podia dizer que cada cidadão via ou não via o fato. Era um misto de quererem "ver", ao ponto de ter uns vislumbres imaginados; e não admitir para si próprios que não o viam, pelo que isso significaria.
Muito mais do que de um cristão bombo da festa, este blog beneficiaria de um cristão com argumentos à altura dos do bloguista, e, já agora, do João Vasco. Sempre supondo que esses argumentos existem. E o nível, meus senhores, o nível ....
ResponderEliminarCristy
Caro António,
ResponderEliminarÉ de facto um problema. Mas cristãos verdadeiramente carismáticos há poucos. Homens como Jim Jones ou David Koresh não há por aí aos pontapés. E os poucos que há não se interessam pelo debate, razão aliás porque são tão carismáticos enquanto cristãos.
Caro António,
ResponderEliminarO debate só é possível com quem esteja disposto a mudar de ideias e a escolher a melhor hipótese. Quem tem fé ou confiança absoluta na sua posição inicial nunca poderá debater, nem a sério nem a brincar. Pode trocar palavras, mas isso não chega para fazer um debate.
O que eu achincalho é precisamente aquele conjunto de atitudes que impede o debate. São as certezas absolutas, as crenças inabaláveis, os absurdos tidos como a mais importante das verdades.
Veja-o como um filtro. Todos os que se sentirem ofendidos, gozados, ou achincalhados são quase certamente aqueles com quem não adianta debater seja o que for.
Caro António,
ResponderEliminarNão tenho qualquer dificuldade em separar o blog da minha vida profissional. Nem nas aulas de programação falo de copyright ou religião, nem me lembro de ter aqui escrito posts sobre unificação, backtracking, ou cálculo de estruturas.
A sua ideia que a minha progressão na carreira de professor universitário depende do número de vezes que tenho razão é, para ser simpático, ingénua e desligada da realidade.
Mudar de ideias não é sinónimo de personalidade fraca. Pelo contrário. E se é verdade que eu sou moldado pela minha profissão, saiba que em grande parte sou pago para mudar de ideias. É quando as ideias mudam que se publica mais qualquer coisa.
Neste momento só um dia por outro é que consigo acompanhar os comentários neste blog. Se isto é um deserto, já é areia demais para a minha camioneta.
"Esse é que é o grande mistério: como é que uma grande cabeça como a do Ludwig não percebe o mistério e o Zé da Esquina entende-o? A ciência explicará isso? Há alguma explicação biológica? O seu irmão caiu do baloiço quando era pequenino?"
ResponderEliminarA questão não é tanto perceber o mistério ou não, é perceber se nos estão a querer enganar com lábias religiosas ou não. O Zé Ninguém claramente não percebe. Por outro lado, o meu irmão, apesar de não ter caído do baloiço, caiu relamente do beliche quando era pequenino. Suponho que isso tenha sido castigo de Deus por antecipação, um bocado na onda de morrer pelos nossos pecados 2000 anos antes de podermos sequer pecar fosse o que fosse.
Convém salientar que não caiu:
ResponderEliminarAtirou-se.
Da cama de cima.
De cabeça.
Contra uma alcatifa fina, colada à betonilha.
Podemos apenas especular, mas nota-se uma certa semelhança entre essa atitude e este blog.
"Olha que cais, olha que cais". Palavras. Mera teoria. Mas para terem significado era preciso que alguém as associasse ao empírico.
ResponderEliminarDesde pequeno que me sacrifiquei a bem do conhecimento...
«"Sacrificio" é uma palavra cristã»
ResponderEliminarNão é não.
Já havia "sacrfícios" muito antes do cristianismo ou do judaísmo até.
Os antigos egípcios, os antigos gregos, e muitos outros já sacrificavam animais.
E mesmo sacrificar pessoas não é exclusivo do cristianismo. Os Incas sacrificavam milhares de escravos, prisioneiros, e outros ao Deus Sol, por exemplo.
Dir-se-ia que não é só o cristianismo, mas uma série de religiões, que estão associadas ao "sacrifício fútil".
Mas sacrifícios por esta ou por aquela razão já são feitos desde a pré-história.
Quando o ser humano age racionalmente, é mais fácil que os sacrifícios não sejam em vão.
(Atirar-se da cama a baixo não parece estar na segunda categoria, lamento)
«O cristianismo, vertido no Novo Testamento, veio acabar com os sacríficios animais e humanos do Antigo Testamento. Penso que deve rever os seus conhecimentos bíblicos indo directamente à fonte e lendo bons autores cristãos»
ResponderEliminarMas são precisamente os cristãos que defendem que o Evangelho gira todo à volta de um sacrifício humano - o sacrifício de Jesus.
Eu até cheguei a argumentar que se fossem coerentes os cristãos teriam de admitir não ter havido qualquer sacrifício - se Jesus sabia à partida que não ia perder definitivamente a vida, ele nunca terá sacrificado a sua vida.
Mas nenhum cristão conseguiu admitir a evidência de tal argumento. Assim sendo, são os cristãos os primeiros a ter a certeza que os sacrifícios (de alguém) não acabaram no antigo testamento.
De resto, cito o Ludwig neste mesmo blogue a falar sobre fé e conhecimentos [como o científico, por exemplo]:
«Concordo que conhecimento e fé são distintos, mas não que se complementem. O bife e as batatas fritas complementam-se. Ou a flauta e o violino, ou as calças e a camisola. A fé e o conhecimento são o gato e o rato. Ou se separam, ou há chatice. Tanto uma como outro pretende legitimar que se aceite algo como verdade, mas muitas vezes indicam precisamente o contrário. O conhecimento diz que num sistema que não troca energia com o exterior a entropia não diminui. A fé diz que há um deus que, se quiser, faz com que a entropia diminua num sistema isolado. Isto não é complementaridade. É contradição. Ou se rejeita o conhecimento acreditando que isto é possível, ou se rejeita a fé como uma hipótese refutada. Este é apenas um exemplo entre muitos. Em geral, ou se tem fé, ou se compreende. Não há complementaridade. Quem tem o bife, quer batatas, mas ninguém precisa de ter fé naquilo que já compreende...»
http://ktreta.blogspot.com/2007/03/f-e-conhecimento.html
A verdade é que o raciocínio é simples e devastador.
Não voltarei ao cristianismo por entender que não existe contradição entre o conehcimento científico e a fé simplesmente porque isso é falso.
Por muito que seja repetido, e repetido, porque é bonito e politicamente correcto, é falso.
Essa contradição existe.
TRALALALA
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