1+1=2
Toda a gente sabe. Até uma máquina de calcular, se escrevemos 1+1=, responde logo 2. Mas não dizemos que a máquina sabe, porque lhe falta uma percepção subjectiva do que está a fazer. A sua resposta é mecânica, sem compreensão.
Por outro lado, um rato tem percepção subjectiva de muitos uns que somaram e deram dois. Um pedaço de queijo mais um pedaço de queijo são dois pedaços no bucho. Mas falta ao rato abstrair o 1+1=2 com que a máquina calcula que um político corrupto mais um político corrupto dá dois políticos corruptos, sem saber o que são políticos corruptos.
Nem o rato nem a máquina sabe que 1+1=2, mas nós sabemos porque juntamos os dois aspectos, enraizando o abstracto na percepção. O 1 é o que abstraímos de uma laranja, um quilo de arroz, um cardume de sardinhas, o + de tudo o que juntámos, o = das comparações que fizemos. O rato tem experiências em que coisas concretas se juntam aos pares. A máquina tem um mecanismo para responder 2 a 1+1=. Nós temos conhecimento que 1+1=2.
Alguns dirão que este conhecimento permite conhecer outras coisas por um processo puramente abstracto. Por exemplo, que um zebedoing mais um zebedoing dá dois zebedoings. Mas não permite.
Em primeiro lugar, essa extrapolação exige um processamento mecânico dos símbolos, como a máquina de calcular. O símbolo «zebedoing» é estranho ao nosso conhecimento, como o «2» ao conhecimento da máquina. Podemos calcular, mas continuamos sem conhecer.
Em segundo lugar, pode nem dar dois zebedoings. Afinal, uma banana mais um quilo de açúcar não dá dois de coisa nenhuma, e um cardume mais um cardume dá um cardume. Consta que a álgebra de Boole, na qual 1+1=1, foi inspirada pelos rebanhos de ovelhas do sul da Irlanda. Só quando «zebedoing» estiver ligado a alguma percepção é que podemos testar (empiricamente) a hipótese que 1+1=2 é uma álgebra adequada aos zebedoings. E só então teremos mais conhecimento.
Conhecer é abstrair ideias de observações e aplicar ideias a observações. É sempre ideal e empírico. Separar o conhecimento em empírico e a priori é como separar a água em hidrogénio e oxigénio. Pode-se fazer. Nem é proibido. Mas deixa de ser conhecimento.
Hummm... interessante essa teoria do conhecimento, sim... mas não mereceu comentários?!
ResponderEliminarAnyway... esse raciocínio aplica-se ao conhecimento material, certo?! Mas será inteiramente válido para o auto-conhecimento, a descoberta desse vastíssimo mundo interior que talvez nem seja assim tão distinto do exterior?! É que nesse supra Conhecimento de Si - de verdade o único que deveras conta! - não se abstraem ideias de observações, que observador e observado coexistem no mesmo tempo e espaço, ainda que até exista uma subtil diferença entre ambos. Sim, os muitos em que nos desdobramos... ou a tal esquizofrenia mística, doença da santidade ou só Individualidade?! :)
Logo, não me parece que o comentário se aplique assim mecanicamente à psicologia do Ser, por exemplo. De resto, nada a dizer... mas que treta! é um prazer! :))
O auto-conhecimento é o conhecimento mais empírico possível. E mesmo esse não é completamente empírico.
ResponderEliminarEu sinto pensamentos. Esta parte é empírica. E destes pensamentos e outras sensações infiro que há um eu que pensa e sente. Mas é uma inferência incerta. É o meu modelo disto que sinto. Porque pode bem ser que haja apenas pensamentos e sensações e nenhum eu. E isso já é outro modelo...
Aplica-se tão bem ao ser e consciência como ao resto. A fenomenologia bem tentou escapar disto, mas à parte de escrever longos textos penso que pouco conseguiu.