Páscoas Felizes.
Vou estar offline uns dias, mas antes de ir ter com a família à terrinha quero desejar a todos uma boa Páscoa. Ou duas. Ao contrário do que muitos julgam, a Páscoa não é só aquele episódio confuso do senhor que morre, desmorre, morre de novo, volta a aparecer, diz que já vem, manda um pentecostes e dois mil anos depois ainda nada. Não. A Páscoa é também pessach, a passagem, que os Judeus celebram por ser uma das poucas vezes que escaparam por pouco. É que das outras vezes nem isso. Apesar de serem o povo escolhido não têm muita sorte, por isso celebram o que podem. E estas duas Páscoas mostram-nos o fundamento do Cristianismo. Mas começo pela história mais antiga.
Em traços largos, eis o que se passou. O Faraó viu que os Judeus eram mais e mais fortes que os Egípcios, então decidiu escravizá-los. Não é claro como o conseguiu, sendo mais e mais fortes. Mas foi assim e pronto. Ora Deus não gostou da brincadeira, e o incidente com os tijolos foi a última palha. Chamou Moisés, sentaram-se à volta da fogueira e traçaram um plano. Moisés ameaçava com pragas se o Faraó não deixasse o povo partir. Deus ficava escondido, não deixava o Faraó libertá-los, e depois era pragas em cima dele. «Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó e multiplicarei na terra do Egipto os meus sinais e as minhas maravilhas.»(Ex. 7:3). Foi dito e feito. Ele foi bruxarias, rãs, moscas, gafanhotos, sangue, trovoada, doenças. Enfim, um festival.
No meio disto tudo o Faraó bem tentava dizer «Porra, leva lá essa gente que eu já tenho um monte de tijolos tão grande que até os turistas vêm tirar fotografias!». Mas Deus só o deixava dizer «Hmmm! Hmm hmm hm hmm! A... ma...nhã...» e ele não conseguia acabar com aquela praga. Literalmente. Até vir a décima. Esta teve que ser bem planeada. É certo que Deus é omnipotente e omnisciente, e tinha a obrigação de distinguir os Judeus dos Egípcios. Afinal, tinha-os escolhido... Mas nisto de matar primogénitos todo o cuidado é pouco. Por isso combinaram que cada família matava um carneiro e pintava os umbrais das portas com o sangue do bicho. Pouco higiénico, é verdade, mas estavam de partida. Os Egípcios depois que limpassem.
E assim foi. Hoje celebramos esta enorme partida em que um Deus todo poderoso se divertiu durante dez dias à custa do Faraó, dos Judeus a quem podia ter poupado dez dias de escravidão, e dos primogénitos todos que quinaram. Dá logo uma razão para nos alegrarmos: não sermos Egípcios.
Mas comparem as duas Páscoas. Numa Deus comete atrocidades, por culpa Dele o Faraó não pode libertar os Judeus, e no fim mata os filhos inocentes de uma data de gente. Na outra os homens cometem atrocidades, Deus é um primogénito inocente, e por culpa dos homens é torturado e morto na cruz. Em ambas mata-se carneiros.
Parecem contraditórias, mas une-as algo profundo, algo que define a religião Judaico-Cristã. O Amor. Não parece amor, mas o Amor Divino não é como o amor humano. O Amor que chacinou os primogénitos do Egipto não foi o amor dos namorados. O Amor que condena ao inferno quem não acreditar em torturar inocentes para redimir os culpados não é o amor que os pais sentem pelos filhos.
Este Amor Divino é tão diferente do nosso que só se compreende pelo símbolo comum às duas histórias: o carneiro. O Amor que Deus sente por nós é o amor com que degolamos o bicho, o enfiamos no forno e o comemos com arroz.
Até para a semana, porque não devo conseguir ligar-me à net antes de segunda feira. Felicidades a todos e boa Páscoa... Páscoas.
Com arroz?!?!?! Então Deus não nos ama... Toda a gente sabe que o borrego se come com batata.
ResponderEliminarMau... é assim que elas começam. Então o batatismo borregal não foi pronunciado heresia? Queres mais um cisma?
ResponderEliminar(O arroz também não me parece, mas batatas no médio oriente nessa altura é que não devia haver mesmo :)
Bem, até para a semana.
Pois, na altura, a acompanhar era mais pão...
ResponderEliminarMas aí temos uma redundância: parece que o pão se torna no corpo do cordeiro, ou lá que é...
Gostei muito desta parte:
ResponderEliminar«comparem as duas Páscoas. Numa Deus comete atrocidades, por culpa Dele o Faraó não pode libertar os Judeus, e no fim mata os filhos inocentes de uma data de gente. Na outra os homens cometem atrocidades, Deus é um primogénito inocente, e por culpa dos homens é torturado e morto na cruz. Em ambas mata-se carneiros.
Parecem contraditórias, mas une-as algo profundo, algo que define a religião Judaico-Cristã. O Amor. Não parece amor, mas o Amor Divino não é como o amor humano. O Amor que chacinou os primogénitos do Egipto não foi o amor dos namorados. O Amor que condena ao inferno quem não acreditar em torturar inocentes para redimir os culpados não é o amor que os pais sentem pelos filhos.»
Gostei muito desta parte:
ResponderEliminar"Vou estar offline uns dias"
Não sei porque é que os senhores não defendem que acabe este feriado. Afinal de contas, não tem razão de existir, numa sociedade laica. Podemos estar a a ofender as pessoas de outras religiões. Onde está o laicismo agora? De certeza foi de férias para o algarve.
Ah, abençoada coerência que existe apenas quando o interesse próprio assim o exige.
anónimo:
ResponderEliminarSe fosse logisticamente viável, não teria nada contra que se acabassem os feríados religiosos (são 5, creio) e se desse a cada trabalhador o direito de escolher 5 dias livres por ano (se fosse religiosos poderia disfrutar dos feríados à mesma, se não fosse poderia escolher dias que lhe dessem ainda mais jeito).
Na verdade, poderia ser uma solução muito agradável.
Realmente, crenças de alguns acabam por condicionar a calendarização dos dias livres de todos, e isso é relativamente injusto. Se ao Ludwig desse mais jeito outra quinta e sexta livres que não estas, se calhar não poderia ter optado por isso.
Mas enfim, existem imposições religiosas bem mais graves que essas...
Ricardo:
ResponderEliminarSim, esse é o ponto alto do texto!
Eu estou a dizer que devem lutar para que acabem os feriados religiosos, e não serem compensados noutros dias. Os crucifixos nas escolas também não estão a ser substituídos por algo concensual, simplesmente estão a ser tirados. o problema é que estes ateus defensores do laicismo radical, gostam de adorar o deus-sol nos verão, e a deusa-neve no inverno. Por isso, "até toleram" este escandalo de imposiçao clerical à sociedade "laica", que são os feriados religiosos.
ResponderEliminarClaramente o país parar por causa de um Deus que não existe, é muito mais grave do que um crucifixo num hospital, não concorda?
«Eu estou a dizer que devem lutar para que acabem os feriados religiosos, e não serem compensados noutros dias.»
ResponderEliminarExistem duas questões aqui. Uma é se existem feriados a mais. E a outra é em que dias é que devem ser calendarizados.
Se eu achasse que existem feriados a mais, que isso prejudicava a indústria, a economia, a qualidade de vida, então eu estaria em desacordo com o número actual de feriados e também em desacordo com a sua calendarização.
A discussão a respeito do número total de feríados (e dias de férias) é uma discussão que pode ser alheia às questões religiosas.
Os trabalhadores deveriam ter direito a mais férias, deveriam ter direito a trabalhar mais (e receber de acordo)?
O PIB aumentaria muito se acabássemos com os feríados? Se sim, ficaríamos a ganhar, mesmo tendo menos tempo de lazer?
Estou aberto a argumentos sérios, e posso alterar a minha posição. Mas creio que em Portugal existe um número de feríados razoável.
Tenho a impressão que são mais ou menos os mesmos que nos outros países da UE, e creio que não deveríamos ter mais, nem menos.
Outra questão é quando é que esses feriados devem ser calendarizados. No dia da independência? Da restauração? No 25 de Abril? Na implantação da República? No Natal? No ano novo?
Aqui é que entra a religião. Porquê gastar alguns dos dias livres a que tenho direito nos dias que dá jeito a quem acredita nalgumas superstições em relação às quais sou céptico?
Dia do corpo de Deus, Etc...
Realmente é uma imposição injusta, um previlégio dos católicos face aos crentes noutras religiões, face aos ateus e agnósticos.
No caso de um crente de outra religião, que precisaria de faltar ao trabalho nos seus dias santos, mas que nada ganha nos feríados católicos essa injustiça seria até um tanto grave.
Por isso acho que seria melhor uma calendarização mais livre.
Mas é injusto afirmar que "nós" nunca defendemos isso. Já vi esta proposta defendida mais do que uma vez; já a publiquei no DA, etc...
No fundo, é falar-se do que não se sabe...
Do António não esperaria outra coisa se não concordar comigo nisto.
ResponderEliminarUm anónimo vir dizer que nunca defendemos alterações no regime de feriados, ou que só queremos laicismo para umas coisas, é claramente alguém que não sabe o que é que defendemos ou deixamos de defender.
Mas não é só anónimo que fala do que não sabe...
Todo o clero prega "verdades" que não pode confirmar.
Quer o católico, quer o das outras religiões.
Encontrar este blogue, hoje Sexta-feira Santa, foi um achado extraordinário; admiro o entusiasmo das discussões aqui apresentadas, sobre os diversos 'conteúdos'.
ResponderEliminarOs meus parabéns e conto, se puder e se me deixaram, voltar em breve! Votos de Boas Páscoas...
Abraços, flores, estrelas e um Jesus de chocolate pra você!
ResponderEliminarNão vejo uma movimentação ateia a nível nacional para acabar com estes feriados, como vi para tirar os crucifixos. Lá porque escreveu um artigo sobre isso no DA, não quer dizer que exista um consenso ateu em relação a esse assunto. Acreditarei que sim, quando vir os laicos do governo ps a atacarem os feriados católicos, como atacaram os crucifixos nas escolas ou nos hospitais.
ResponderEliminarEnquanto isso não acontecer, vai existir uma ou outra voz, mas com cuidado, para não levantar muitas ondas, não vá isso ser levado a sério. No fundo há religiosidades que dão jeito a todos, nem que seja para ir para o algarve.
Tudo tem um início (o zumm zumm dos feriados)... Como se pode ver na perda de poder da religião, (ver protocolo de estado como caricatura) a coisa já não tem volta.
ResponderEliminarMas se os católicos podem ter n dias de feriados, os outros também devem ter os mesmos n dias.
claro!
ResponderEliminarE aliás, os movimentos em relação aos crucifixos foram feitos por uma associação (ARL) que defende a proposta que eu referi em relação ao feriados.
De resto, se as propostas em relação aos crucifixos tiveram maior impacte mediático é porque nessas apenas estava em jogo o cumprimento da lei.
Nisso dos feriados estaria em jogo uma legítima alteração da lei, e não um mero cumprimento da lei que já existe actualmente.
(neutralidade dos espaços públicos decorre da contituição, e não de nenhuma lei concreta que a ARL tenha promovido, já agora)
Já agora, o que significa ARL?
ResponderEliminarARL = Associação República e Laicidade.
ResponderEliminarFoi a associação que chamou o ministério de educação para a flagrante ilegalidade da manutençãos dos crucifixos nalgumas escolas.
A polémica veio daí, porque em vez deles serem simplesmente retirados, surgiu quem ficasse indignado com o cumprimento da lei.
OK, obrigado.
ResponderEliminarEntão só se batem para a aplicação da lei, e não pela legislação de algo que impeça uma mentira. Se o país todo pára por uma superstição, isso deveria ser um escandalo para os senhores. Mas como dá jeito, o escandalo passa a resiganção
ResponderEliminarA coisa é mesmo assim, cada um tem direito à sua superstição e a viver a sua mentira (já que assim o define!).
ResponderEliminarComo em democracia a coisa funciona assim, nós, que não partilhamos essa(s) ideia(s), pelo menos temos direito aos mesmos dias, não necessariamente na mesma data. No entanto se a vossa maioria "desaparecer", então, não tenho problema em limpar esses feriados, e ficar unicamente com esses dias anexados ao total de férias. Esclarecido?!
«Então só se batem para a aplicação da lei, e não pela legislação de algo que impeça uma mentira.»
ResponderEliminarNão é resignação.
São princípios.
Não quero impedir ninguém de acreditar nas patranhas que quiser.
Não mesmo.
Apenas não quero nenhuma promiscuidade entre o estado e a promoção de qualquer religião, tal como não quero que o estado promova o ateísmo. O estado tem de ser netro.
Nas saulas de aula, nem cruzes, nem símbolos do ateísmo, nem símbolos do benfica ou do sporting. O estado é laico.
Os cidadãos, repito, devem ser livres de acreditar nas patrnhas que quiserem. Raptos por extraterrestres, Yeti, Pai Natal, Fadas, Duendes, Biodança, Fenómenos Paranormais, Jesus, Alá, ou mesmo as patranhas da cientologia.
netro = neutro, claro.
ResponderEliminar"tal como não quero que o estado promova o ateísmo"
ResponderEliminarAhahahahahahahah
esta é pra rir, como se o objectivo desta cultura laica radical não fosse o ateísmo. Pode dizer que não as vezes que quiser, porque não vou acreditar.
Concordo plenamente na separação de Igreja e Estado, mas acredito que o Estado tem de proteger a cultura e os costumes do povo. A cultura portuguesa não é dissociável do cristianismo. Basta olhar para o nome das freguesias de lisboa, são nomes de santos a torto e a direito. Manter esses nomes é ser não-laico? Para os radicais sim, para os de bom senso não.
Ter um crucifixo num quarto de hospital em vez de uma estrela de david, faz sentido? Claro que sim, a maioria dos portugueses é católica e não judaica. Aqui não há promiscuidade entre Igreja e Estado, há um respeito pela cultura portuguesa.
Os laicos radicais querem mudá-la à força, por mais que digam que querem apenas "cumprir a lei". O objectivo é simples, manter a cultura católica dentro das igrejas, e depois um dia mandá-las abaixo. Já o fizeram na 1a republica, mas depois veio o Salazar. Vamos lá ver se a história não se repete, olhem que ele está na moda. Buuuuuuuuuuuuuu (voz vinda do além)
«Pode dizer que não as vezes que quiser, porque não vou acreditar»
ResponderEliminarSe quiser acreditar que os ateus comem criancinhas ao pequeno almoço também está à vontade.
«mas acredito que o Estado tem de proteger a cultura e os costumes do povo.»
Pois, mas eu acredito que não.
Cada pessoa segue os costumes e tradições que quer, ou não, e o estado não tem nada com isso.
«Já o fizeram na 1a republica, mas depois veio o Salazar.»
O Salazar que proibia o divórcio a quem se tinha casado pela igreja, e que era contra as mini-saias?
Isso é que era proteger os costumes e tradições!
Mas a mim parece-me triste.
Felizmente o resultado do concurso foi enganador - é o que dá fazer inferências estatísticas a partir de uma amostra auto-seleccionada - uma sondagem da Marktest mostrou que Salazar ficaria apenas em 4º lugar, bastante atrás de D. Afonso Henriques, Camões, e Fernando Pessoa. Mas mesmo o 4º lugar já é de mais... Faz-me pena estar rodeado de tamanha tacanhês e provincianismo, mas pelo menos não é tão grave como se poderia pensar. ...
A mim faz-me confusão como é que alguém se acha tão superior aos outros. É a falta de humildade, que verdadeiramente nos afasta dos nossos irmãos. Felizmente Cristo veio mostrar o que é a verdadeira humildade e o amor pelo outro. Ainda bem que houve o lava-pés...
ResponderEliminarCaro Anónimo,
ResponderEliminarTentar que todos sejam cada vez melhor em conjunto une-nos muito mais que qualquer gesto de "olha para mim, que humilde eu sou"...
Ora vejamos...
ResponderEliminarA páscoa é o que celebramos por cá, mas, noutro sitio chamam a isto "spring break".
É uma altura de transição, que deve ser celebrada pelo ciclo natural que representa (tal como o fazem na Suécia), e não por adorações a deuses.
Acabem-se com os feriados religiosos, mas, tenhamos a noção que muitos feriados religiosos são usurpações de datas pagãs, com outros significados, que em alguns casos podem fazer sentido celebrar.
António:
ResponderEliminarO Ludwig já defendeu isso, e em grande medida faz todo o sentido.
Mas não será que o ideal é cada um celebrar o que quiser quando quiser. Ou seja: tendo o mesmo número de feriados, cada um decidir em que dias é que os quer aproveitar?
Caro "João Vasco"
ResponderEliminarAí concordo plenamente consigo. Mas, como pessimista nato, já estou a vêr o patronato a boicotar esse direito do trabalhador... Ao menos a imposição do dia a celebrar sempre os vai obrigando a deixar passar a sua existencia. Do mal o menos... Que não tirem o caracter fixo desses dias, desde que não os tirem.