segunda-feira, julho 16, 2007

O mercado de ideias.

Vários comentários ao meu último post (1) merecem uma resposta mais elaborada. Vou começar pelo António, que diz:

«Se para o Ludwig a musica gravada vale 0 Euros, e a musica é vendida a 10 Euros, então não ouve, pois a audição está avaliada pelo mercado em 10 Euros.»

Não é avaliada pelo mercado. É um preço artificial, fruto de uma lei que confere um monopólio e torna escasso algo que não o é. Se fosse pelo mercado, o preço da sequência de números que codifica uma canção era o mesmo das sequências de caracteres que codificam a receita da mousse de chocolate, a fórmula resolvente ou as leis da termodinâmica. Zero. É só informação. É de graça. O Mário Miguel deu um bom exemplo (2):

«Ok vamos a um jantar em que tu e eu estamos incluídos, divide-se a conta por n-1, eu não pago, claro. Reclamas comigo? É justo que o faça sempre?»

Não é justo. A comida é um bem escasso; a que eu dou já não posso comer. Mas não fico ignorante por ensinar os outros. Se calculo quanto calha a cada um pelo jantar é justo que os outros usem esse valor sem que tenham que repetir as contas. Uma vez obtida a informação todos podem beneficiar sem qualquer custo adicional.

O último computador que comprei é mil vezes melhor que aquele que os meus pais me compraram há 15 anos. E foi metade do preço. O material é o mesmo; plástico, alumínio, silício. Só mudaram as ideias. Hoje sabe-se fazer computadores melhores e mais baratos. Essa inovação teve que ser paga, mas foi paga durante a segunda grande guerra, foi paga pela exploração espacial, e até foi paga pelos meus pais. Quem compra um computador agora goza sem encargos os benefícios de meio século de desenvolvimento. Essa inovação já está paga, e é assim com tudo. Os livros eram um bem de luxo há uns séculos, mas da prensa à impressão computadorizada foram ficando melhores e mais baratos. Os transportes, a agricultura, as comunicações. A própria civilização. Os direitos do Homem, a democracia e a liberdade são ideias que tiveram que ser pagas. Mas depois de desenvolvidas podem ser aproveitadas por todos sem custos adicionais. Devem ser aproveitadas. O progresso é aproveitar os benefícios daquilo que os antepassados pagaram.

A arte não é excepção. Mais de 99% de uma música moderna tinha sido inventado antes. Instrumentos, notas, ritmos, acordes, melodias, temas, rimas. É certo que o 1% que resta requer esforço, e esse esforço deve ser compensado. Mas uma vez feito esse esforço pode-se usufruir da informação sem custos adicionais. Como em tudo o resto, das receitas à matemática, da física à medicina. O que é preciso é incentivar a inovação. Infelizmente, convenceram-nos que a inovação em certas áreas só pode ser incentivada cobrando à cópia. Chega-se ao ponto de ver a partilha de informação como o problema. O João Vasco diz (1):

«Até recentemente não era fácil reproduzir as criações alheias, pelo que o problema não se colocava.»

Não é o problema. É a solução. A ciência, a educação, a democracia, a ética, mesmo a arte, dependem da reprodução de ideias alheias. O maior problema sempre foi o de disseminar a informação. A empresa distribuidora de discos e filmes foi uma solução que teve que ser paga à cópia. Facilitava a reprodução das criações alheias, mas pagava-se caro. Felizmente, é uma solução ultrapassada pela rede digital. Agora que disseminar ideias é tão fácil, o copyright já não serve para nada. O difícil é ter ideias, por isso temos que incentivar o autor e não o distribuidor. Pagar ao autor para ter as ideias em vez de pagar ao distribuidor para fazer cópias.

Maria Shneider é o exemplo mais famoso deste novo modelo (3). Propõe um projecto aos fãs, e se eles pagam ela grava o disco. E faz um dinheirão, porque mesmo vendendo relativamente pouco o lucro é todo dela. Contra o bom senso e contra o que a realidade demonstra, muitos insistem que isto é impossível. Não admira muito. Também há quem insista que a Terra é plana. Mas só teremos um verdadeiro mercado de ideias deixando a criatividade artística competir pelo dinheiro dos fãs. Sem monopólios e sem restrições disparatadas à disseminação de informação. Os artistas oferecem a sua criatividade, os fãs pagam aos que preferem, e o que se cria beneficia todos.

1- 15-7-07, À borla é maldade.
2- 13-7-07, Tudo doido...
3- Maria Schneider, e ver também o site da ArtistShare

26 comentários:

  1. «Não é o problema. É a solução. A ciência, a educação, a democracia, a ética, mesmo a arte, dependem da reprodução de ideias alheias. O maior problema sempre foi o de disseminar a informação. A empresa distribuidora de discos e filmes foi uma solução que teve que ser paga à cópia. Facilitava a reprodução das criações alheias, mas pagava-se caro. Felizmente, é uma solução ultrapassada pela rede digital. Agora que disseminar ideias é tão fácil, o copyright já não serve para nada. O difícil é ter ideias, por isso temos que incentivar o autor e não o distribuidor. Pagar ao autor para ter as ideias em vez de pagar ao distribuidor para fazer cópias.»

    O problema que só agora se começou a colocar, foi o de financiar o criador da obra facilmente reproduzível.


    «Maria Shneider é o exemplo mais famoso deste novo modelo (3). Propõe um projecto aos fãs, e se eles pagam ela grava o disco. E faz um dinheirão, porque mesmo vendendo relativamente pouco o lucro é todo dela. Contra o bom senso e contra o que a realidade demonstra, muitos insistem que isto é impossível. Não admira muito. Também há quem insista que a Terra é plana. Mas só teremos um verdadeiro mercado de ideias deixando a criatividade artística competir pelo dinheiro dos fãs. Sem monopólios e sem restrições disparatadas à disseminação de informação. Os artistas oferecem a sua criatividade, os fãs pagam aos que preferem, e o que se cria beneficia todos.»

    Esse modelo é muito bonito.
    Mas seria inviável para financiar as Star Wars.
    E muita gente gostou de as ver no cinema. Num mundo em que todos tivessem acesso fácil à pirataria, sem leis de copyrigth ou financiamento estatal ao cinema, um filme desses nunca poderia ter encontrado financiamento.

    Entre o financiamento totalmente estatal à cultura por um lado, ou o copyritgh por outro, será que prescindir do StarWars e outros do género é o menor dos males?

    Pode ser. Mas é um mal.

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  2. Um modelo possível seria os criadores de um filme colocarem na net uma espécie de pre-trailer ou um storyboard do filme, em que as pessoas que estivessem interessadas poderiam decidir se queriam pagar pelo filme ou n.

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  3. A questão que aqui foi descrita dessa artista Maria Shneider, bate de novo no problema que descrevi...
    Instrumentos, ensaios, composição e gravação de 10 temas, pode significar um custo de 10 mil euros para uma gravação de qualidade média, mais os cachets de todos os musicos que participarem, pelo tempo que estiverem a trabalhar. Se a gravação durar 6 meses, com 5 musicos mal pagos, são 30 mil euros, e se a senhora conseguir vender 10 mil cópias, sem suporte fisico, são 4 euros por cópia. A esse preço arranjo eu muita da minha musica com suporte fisico, saida da editora, e sem fazer pré-investimentos, nem correr o risco de o "verdadeiro artista" dar aos "slides" com o pilim antes de terminar uma gravação.
    Esta teoria de pagar em avançado é treta do mais básico Ludwig.
    Quem é que paga o primeiro disco de uma banda nova? Ninguém os conhece, quem é que arrisca? Queres financiar o meu primeiro disco? Vendo-te a cópia de todas as canções por 2 Euros, compras?
    Até bens sólidos que existem fisicamente são alvo de burla via Internet. Nunca viste anuncios de carros à venda na internet, muito baratos? A condição é pagar antes de os receber... Compras?

    E ainda não vi resposta viável á questão do pagamento do investimento alheio, nem explicação de suposta gratuiticidade da investigação cientifica, porque ser professor como resultado das ideias desenvolvidas no passado parece-me pagamento encapotado dessas ideias, porque como já disse quase todos os professosres universitários que tive eram péssimos professores, mas, muito conhecidos pelos méritos passados, tal como os musicos...
    Sobre os anos de ideias musicais acumuladas, aquilo que é afirmado é treta! Há mais anos de linguistica, e estudos da lingua, e nenhum professor fornece aulas à borla, nem se deixa gravar para repetir as aulas para os alunos seguintes, para reduzir os custos do ensino. Isto de se pagar a um professor para repetir a mesma matéria todos os anos numa universidade é treta, pois os alunos têm obrigação de compreender tudo pelo estudo e pelas capacidades intelectuais desenvolvidas ao longo da vida. Para fazer figura de tagarela não vale a pena pagar a ninguém, se não explicam coisas novas, o trabalho vale zero, tal como a gravação musical. Porque aquilo que eu tive nas aulas de grande numero de disciplinas, podia ter sido dado por qualquer pessoa sem qualificação especifica, ganha a desenvolver ideias.

    Ainda não vi contrariada a posição que defini de a criação de ideias ser um investimento, e como investimento tem um pagamento à posteriori que gera mais dinheiro que uma execução repetida (salário). Tal como não passa pela cabeça de ninguém que o dinheiro com que um negócio arranca só deva ser pago até ao valor investido e depois cair no dominio público. Assim, não haveria investimento, e a criação de coisas novas seria nula, pois aquilo que o Ludwig está a defender é lucro zero ou prejuizo, e nesse cenário não há motivação para o investimento nem para a criação.

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  4. A questão dos anos acumulados de desenvolvimento serem gratuitamente incorporados, é treta! O exemplo dado pelo Ludwig encarrega-se de o garantir.
    Os anos de guerra, e todos os avanços acumulados foram pagos pelos impostos dos paises que finaciaram esses desenvolvimentos. Se cada vez que um artista decidir arrancar a carreira, o estado lhe pagar os anos de trabalho, estou de acordo que a musica seja à borla. Isso não acontece?! Então o exemplo não se aplica! Não estamos a falar de ideias gratuitas...
    Do mesmo exemplo que o Ludwig deu pode-se extrair uma comparação que deita por terra a ideia da musica ter custos... A lei não proibe o Ludwig de tocar em casa com os seus instrumentos, as canções que ouve em qualquer lado. Não sabe? Não consegue? Não é igual? Então se quer ouvir o original paga! Tal como a receita. Se quer conhecer o original, paga para comer no restaurante. Não consegue imitar? Então paga de novo para comer no restaurante se quer.
    O material usado para construir um Deep Blue, pode construir um servidor barato de 3000 euros, porque é que um Deep Blue custa mais do que o que eu posso pagar? Pela linha de raciocinio do Ludwig, se alguem com os mesmos materiais os consegue transformar num servidor de 3000 euros, esse é o valor do Deep Blue.
    O copyright é uma forma de garantir o pagamento do investimento feito por um artista. Tentar reduzir esse lucro é garantir o desinteresse do artista em arrancar com a actividade! E não me parece que o finaciamento estatal seja adequado para a arte, porque por esse modelo, só quem se conforma à vontade do estado é que recebe. Nesse modelo, os Sex Pistols não existiam. Não estou a ver o parlamento a pagar para alguem gozar com a sua falta de capacidade para governar, ou de qualquer outro membro do estado.

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  5. «Um modelo possível seria os criadores de um filme colocarem na net uma espécie de pre-trailer ou um storyboard do filme, em que as pessoas que estivessem interessadas poderiam decidir se queriam pagar pelo filme ou n.»

    Sim, mas encontrar meia dúzia de pessoas que paguem para financiar uma artista (já nem digo uma banda) é uma coisa.

    Encontrar quem financie um filme tipo "StarWars" sabendo que, se outros financiarem, vão ver esse filme de graça, isso é impossível. E o resultado é que ninguém acaba por poder sacar o filme da internet, porque ele nem foi feito em primeiro lugar.

    Pode ser que não sintam a falta... Mas é bom que saibam que é essa a consequência de não se "proteger" o interesse comercial desses investidores: é que eles não investem.

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  6. João Vasco,

    «O problema que só agora se começou a colocar, foi o de financiar o criador da obra facilmente reproduzível.»

    Não. As ideias sempre foram valiosas para a civilização, sempre foram facilmente reprodutíveis, e sempre foi preciso incentivar quem tinha ideias. Filósofos, cientistas, artistas, inventores, etc.

    «Esse modelo é muito bonito.
    Mas seria inviável para financiar as Star Wars.
    E muita gente gostou de as ver no cinema.»

    Se muita gente gosta de ver no cinema, está ai o financiamento.

    A tua posição contradiz os dados. Há dezenas de milhões de pessoas a partilhar filmes, mas não há problemas nas bilheteiras, e os filmes continuam a render.

    É provável que sem esta lei proteccionista haja diferenças na forma como os filmes são feitos. Mas essas diferenças podem ser para melhor, e não há nada que indique que vão desaparecer os filmes.

    Os produtores dos filmes têm todo o interesse em inflaccionar os gastos, quer pela publicidade quer por terem que pagar menos aos argumentistas, ao escritor da obra, etc. E os actores, directores, e muitas pessoas que trabalham nesta industria ganham muito mais que o valor de mercado da sua obra.

    Eu não sou a favor de um financiamento totalmente estatal. Sou a favor de deixar o mercado decidir. São bolachas, não é insulina. Mas é aldrabice dizer que o mercado decide numa situação de monopólio como a que o copyright confere. Mas vou ver se esclareço melhor isso com um post.

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  7. António,

    «Quem é que paga o primeiro disco de uma banda nova?»

    Ninguém. Como ninguém contracta para canalizador quem nunca viu um cano.

    Qualquer artista novo tem que mostrar primeiro o que sabe fazer. Reunir fãs. Pôr videos no youtube, partilhas musicas em p2p, tocar em bares e concertos, etc.

    Isso é o percurso razoável. Mais que o atalho da discográfica, que faz um casting para miudas giras que consigam fingir que cantam, gasta milhões em publicidade, e impinge música de plástico.

    «Ainda não vi contrariada a posição que defini de a criação de ideias ser um investimento»

    Nem vou contrariar. Quem cria investe esforço e tempo, e convém a todos nós compensar esse investimento para incentivar a criatividade.

    É o modelo de compensação que temos nesta área da música, livros, e filmes que está errado. Ao contrário de tudo o resto, compensa o fabrico de de cópias em vez da criação de ideias novas. Isso é disparate, e agora que não precisamos de fábricas para disseminar ideias só traz desvantagens.

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  8. «A tua posição contradiz os dados. Há dezenas de milhões de pessoas a partilhar filmes, mas não há problemas nas bilheteiras, e os filmes continuam a render.»

    Ludwig:

    Nos concertos grandes, há sempre meia dúzia de indivíduos que conseguem trepar as grades e entrar sem pagar bilhete.

    Não "roubam" nada naquele sentido a que te referes, visto que o lucro de quem promove o concerto não diminuiria se estas pessoas não entrassem, e ninguém ficou prejudicado por mais meia dúzia de indivíduos.

    Claro que não é uma atitude muito bonita, mas não é uma atitude extremamente grave.

    O pior é se fosse impossível ter grades. Se qualquer indivíduo pudesse entrar no recinto sem pagar. Nunca fui ao Rock in Rio ou a eventos desse tipo, na verdade não sou assim tão fã de concertos, e os meus gostos musicais não se adequam tanto aos dos festivais e concertos mais promovidos. Mas sei que muitos gostaram de ir ao Rock in Rio, e isso só foi possível porque o recinto estava isolado e só podia ir assistir quem pagasse bilhete.

    Destruir o recinto era acabar com o festival.


    Com o "Homem Aranha III" o que aconteceu foi o análogo à meia dúzia de miudos que entraram no festival à borla. Tu pensas que há um acesso generalizado à pirataria porque trabalhas numa universidade, e fazes trabalhos computacionais. Mas a verdade é a seguinte: a esmagadora maioria das pessoas com a tua idade NÃO tem acesso à pirataria.
    Mesmo que muitos consigam saltar o recinto, ele ainda é suficientemente sólido para que muitos paguem o bilhete.

    Mas espera uns tempinhos. A pirataria vai-se generalizando mais, e os lucros das indústrias discográficas e cinematográficas vão continuar a caír - mesmo quando a economia mundial está a crescer, e os mercados estão a alargar, e o normal seria que essas indústrias estivessem a crescer de vento em popa.

    Depois, pouco a pouco, vai rendendo cada vez menos apostar em grandes projectos. Sem recinto não há rock in rio, e sem que ninguém tenha de pagar para ver o Star Wars, não há super-produções Hollywoodescas.
    Essas serão as primeiras vítimas. Depois será quase todo o cinema profissional que não encontrar subsídios...

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  9. João,

    Mais uma vez confundes um bem escasso com um bem que não é escasso.

    Quem entra no recinto oucupa lugar. Pague ou não, há outro que já não pode entrar. O espaço no recinto é um bem escasso.

    Se o concerto é transmitido em directo na TV, aí sim tens uma analogia correcta. Quem vêm em casa não oucupa espaço no recinto. E a TV não destroi os concertos.

    O que podemos observar é que a venda de cópias não autorizadas e a partilha de ficheiros não têm um efeito grande. Talvez tenham efeito, mas é suficientemente pequeno para nem ser claro que efeito têm.

    Mas é bem claro o efeito que esta legislação do direito de cópia tem nas liberdades individuais -- já há milhares de processos e pessoas a quem foi extorquido dinheiro com ameaças legais.

    Acima de tudo são essas coisas que temos que ponderar. Mesmo que destruisse a industria do cinema seria de pensar bem, porque a liberdade individual de manipular bits e a privacidade das comunicações electrónicas vai ser cada vez mais importante, e o cinema é um bocado secundário face a isso. Mas os dados não justificam esse cenário pessimista que tu pintas. O que podemos extrapolar razoavelmente é um impacto muito pequeno, se é que houver algum.

    A televisão ia acabar com o cinema. O VCR ia acabar com o cinema. O p2p é mais um de muitos alarmes falsos.

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  10. «Mais uma vez confundes um bem escasso com um bem que não é escasso.

    Quem entra no recinto oucupa lugar. Pague ou não, há outro que já não pode entrar. O espaço no recinto é um bem escasso.»

    Não é confusão nenhuma.
    A escassês de um bem ou falta dela geralmente não é absoluta.
    A passagem numa ponte pode ser um bem escasso ou não, dependendo do número de carros que lá passam.
    Se passam 4 ou cinco por dia, e a ponte tem capacidade para 50 000 mil, é absurdo analisar esse bem como escasso. Se passam 20 000, já poderá fazer mais sentido, mas mesmo assim depende.

    O preço de um bilhete para um concerto não reflecte a escassez do espaço físico. Reflecte os custos do concerto, principalmente o custo de convidar as bandas envolvidas.

    Quando meia dúzia de indivíduos se infiltaram pelo concerto a dentro, não roubam espaço a ninguém, pois continua a existir muito espaço disponível que não é utilizado. Isso acontece porque para esse espaço ser utilizado, os bilhetes teriam de ser mais baratos, e o lucro do vendedor diminuia. E se o espaço fosse utilizado ao ponto de se tornar escasso, então o lucro já seria tão baixo que não se justificaria fazer o concerto.

    Um monopolista não vende tudo o que puder acima do custo marginal. Para maximizar o lucro vende-se menos do que o suficiente para se estar próximo de uma situação de escassez.


    Por fim, a televisão teve um efeito muito importante sobre o cinema: em grande medida destruiu o papel extremamente relevante que tinha na vida de muitas pessoas. Tal como o cinema destronou o teatro, a televisão destronou o cinema: sem TV o cinema teria hoje uma importância muito maior.

    Não estou a dizer que é mau, mas estou a dizer que os anúncios feitos tinham muita razão de ser. Obviamente que "matar" o cinema foi uma profecia exagerada, mas tirar-lhe quase toda a importância que tinha foi o que aconteceu.

    Se calhar, será bem melhor ter p2p livre que ter StarWars. Mas dizer que vai continuar tudo na mesma, e que que os produtores de cinema vão ser pagos por magia quando ninguém tiver de ir ao cinema (ou pagar) para ver os seus filmes, isso é que me parece... treta.

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  11. Ludwig,

    Isso já parece conversa de ministro. As escolhas desastrosas deles, têm sempre "pouco" impacto, e a decisão de cópia livre, segundo o Ludwig, também.
    Optimo... Vamos enveredar por essa análise.
    Eu sou fã de uma banda, de repente a cópia é livre para qualquer um. Porque é que eu hei de pagar para eles gravarem? Eu nem sei se os gajos vão fazer alguma coisa de jeito, ou sequer se não vão morrer de uma overdose. Também há quem pague sinal para casas em construção e depois descobre que o empreiteiro já estoirou o dinheiro e não consegue acabar o trabalho. Uma casa é algo solido e palpavel e fácil de controlar, um bem artistico é volátil. Tirando o autor, ninguém sabe o que vai sair, o plágio é demasiado fácil para que seja possível mostrar uma antevisão de um trabalho.
    Nessa visão, ainda existe outro problema. As bandas em inicio de carreira, não podendo vender cópias, nunca vão reaver o investimento, e se para o trabalho seguinte usarem o modelo proposto, só vão cobrir custos, e por isso nunca rentabilizarão o modelo inicial. Se o que é proposto não é a cobertura de custos, mas, a possibilidade de realizar lucro, então estamos perante uma visão infantil da realidade. Qual é a justificação para enriquecer alguém por uma hipotética demonstração de talento futuro? Se actualemnet eles enriquecem à posteriori e descambam pois o sucesso lhes sobe à cabeça, como é que se controla isso antes de se produzir uma obra? Talvez alguém que ache a psicologia uma trata pense que as pessoas são todas equilibradas e que o dinheiro não lhes sobe à cabeça...

    O pagamento à posteriori, ainda é o melhor modelo, pois garante a qualidade. Se alguém não produzir trabalho de qualidade não vende e perde o investimento. Se quem investe são os fãs, o artista não corre riscos, e quem se lixa é o fã, porque os penduras que copiam à borla não perdem nada.
    Este modelo Ludwigiano já me começa é a parecer neo-comunista, parece a treta mais tretosa que já vi. Inclui os chupistas que nunca pagam e usam sempre, inclui os pseudo-artistas que fazem um trabalho de jeito e desse vão obter pré-financiamento para um trabalho que pode nem surgir, e que por não ser motivado pelo lucro futuro não os compele a fazer um trabalho criativo, mas, uma produção mecanica para pôr algo cá fora, e inclui os otários do costume que pagam em adiantado e correm riscos que não têm possibilidade de controlar, e qum controla esse risco, não tem incentivo para o gerir melhor.
    A arte paga à priori é o que aconteceu com o Requiem do Mozart, e o tipo morreu sem o ter acabado. O Salieri que vivia desse expediente, só produzia trabalho cinzento, que não se pode qualificar de arte. É apenas uma boa execução sem demonstração de criatividade! Até a historia está contra o Ludwig. :-)

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  12. Ludwig,

    "«Quem é que paga o primeiro disco de uma banda nova?»
    Ninguém. Como ninguém contracta para canalizador quem nunca viu um cano."

    A banda pode ter ou não boa competência para tocar, e isso além de ser algo subjectivo, só poderá ser visto após eles tocarem; enquanto no segundo caso, inequivocamente, informa que o pretendente a canalizador não tem competência para tal. Ou seja: no primeiro caso eu poderia arriscar, no sentido em que vamos ver o que de lá poderá sair, no segundo, nunca arriscaria. O exemplo parece estar errado.

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  13. Mário,

    Efectivamente o exemplo está errado, bem como o modelo no geral, pois propõe que alguém faça um investimento cujo melhor que pode obter é lucro zero. Não há investimento sem perspectiva de lucro. Se há uma duzia bandas de plástico feitas pelas editoras que são um abuso, a realidade é que há milhares de outras que vivem do seu mérito real, e do investimento que eles fazem.
    O Ludwig, neste caso está a confundir demasiadas coisas. Ele não é obrigado a comprar os CDs de U2 (por exemplo), ele pode sempre pegar numa guitarra e tocar e cantar os mesmos, mas, isso ele não gosta. Eu também gostava de ter aulas de fisica com o Einstein, mas, não posso... Em alternativa dão-me um fisico qualquer que dá aulas à borla. Se me derem o Ludwig a cantar U2 eu não pago. Verdade seja dita que também não pago por U2, mas, isso é outra conversa... Mas, o que ele quer comparar é isso. Se eu não pago para o ouvir cantar U2, ele está a defender que U2 devia distribuir à borla a musica. Que é como as ideias são difundidas... Um pensa, e outro debita o que o outro pensou. Não é a mesma coisa, mas, para o raciocinio do Ludwig tem que ser.

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  14. Quem é que paga a um desconhecido para jogar futebol? Ninguém.

    E para ser um futebolista profissional é preciso anos de treino.

    Pois que treine quem quiser, que os clubes organizem escolas, e que seja o público a decidir a quem está disposto a pagar para jogar. Não é preciso qualquer direito sobre a criação de cópias de fintas ou pontapés.

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  15. António,

    «Eu sou fã de uma banda, de repente a cópia é livre para qualquer um. Porque é que eu hei de pagar para eles gravarem?»

    Cada um fala por si, mas há muitos fãs dispostos a pagar para ter músicas novas das suas bandas favoritas.

    Aliás, toda a legislação de direitos de autor é justificada como sendo um incentivo à criação de novas obras. Pois que se pague precisamente isso em vez de pagar a cópia, porque pagar a cópia dá o dinheiro todo às pessoas erradas.

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  16. João,

    «Não é confusão nenhuma.
    A escassês de um bem ou falta dela geralmente não é absoluta.
    A passagem numa ponte pode ser um bem escasso ou não, dependendo do número de carros que lá passam.»

    Isto demonstra que há confusão. Um bem é escasso quando é um recurso limitado ou está dependente de recursos limitados. A àgua, a energia, o ar, a terra arável, tudo isso são bens escassos pois têm quantidades limitadas.

    Há casos em que podemos ignorar essa escassez, mas nesse tipo de bens é cada vez mais raro. Até com o ar temos que ter cuidado por causa da poluição.

    A informação é completamente diferente. O 3 não é um bem limitado. Nunca vamos esgotar os 3s por muito que os usemos. Toda a informação digital, todas as ideias, os modelos científicos, etc estão nesta categoria. Não são coisas limitadas, e nunca serão escassas enquanto ideias. Podemos ficar sem material para as guardar, mas a ideia em si não é escassa.

    Se tu tens um gazillião de toneladas de água e eu te tirar uma gota ficas com um gazilião menos uma gota. É um bem escasso. Se tens uma música em mp3 e eu criar uma cópia dessa música em mp3 tu ficas exactamente com o mesmo que tinhas. Esse bem não é escasso.

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  17. Joãp,

    «Por fim, a televisão teve um efeito muito importante sobre o cinema: em grande medida destruiu o papel extremamente relevante que tinha na vida de muitas pessoas. Tal como o cinema destronou o teatro, a televisão destronou o cinema: sem TV o cinema teria hoje uma importância muito maior.»

    Concordo, mas nada disso justifica legislação especial ou concessão de monopólios ou intervenção na liberdade de expressão ou nas comunicações, etc.


    «Obviamente que "matar" o cinema foi uma profecia exagerada, mas tirar-lhe quase toda a importância que tinha foi o que aconteceu.»

    Mais uma vez, concordo. Quando dizes que eliminar o copyright mata o cinema, estás a exagerar. Se disseres que com o desenvolvimento da internet e do p2p o cinema vai ter um papel cada vez menor no entretenimento, estou 100% de acordo. Mas isso é inevitável. As marionetas também já não têm o sucesso que tinham, mas não o lamento.

    «Se calhar, será bem melhor ter p2p livre que ter StarWars. Mas dizer que vai continuar tudo na mesma, e que que os produtores de cinema vão ser pagos por magia quando ninguém tiver de ir ao cinema (ou pagar) para ver os seus filmes, isso é que me parece...treta.»

    Eu conheço muita gente que, como eu, tem a possibilidade de ver filmes de graça se os quiser sacar com p2p. E, como eu, vão ao cinema. É verdade que vou pouco ao cinema, e quando vou é para ver o wallace e gromit ou o Mr. Bean, mas isso não tem a ver com o p2p, tem a ver com os miúdos. Mesmo com uma televisão boa de HD ir ao cinema é uma experiência diferente.

    Não vai ficar tudo na mesma, mas nada fica na mesma. Mas isso de nunca mais haver filmes com efeitos especiais caros é um grande exagero.

    E a concorrência sempre levou a inovação. Não é por coincidência que é agora que eles estão a construir cinemas 3D como deve ser, a lançar formatos de alta definição, a começar a lançar os filmes logo em DVD em vez de um ano depois de aparecerem no cinema, etc. Tudo isso são coisas boas, e em grande parte vêm dos buracos no monopólio.

    Eu acho que eliminar o copyright vai mudar muito as coisas. Mas, pesando bem os prós e os contras, é melhor um mundo em que este tipo de arte é mais competitiva do que um mundo de monopólios de musicas e filmes com o big brother a farejar todos os pacotes ip, a processar estudantes que trocam musicas, e a inspeccionar carros e mochilas à procura de CDs gravados.

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  18. Essa do vasculhar carros e mochilas à procura de CDs gravados é treta da grossa!
    Eu tenho o direito de copiar todos os CDs que tenho em casa para usar de forma segura onde pretender sem os danificar, e como todos os CDs que tenho no carro, têm o original em casa, só se a GNR se quiser meter em trabalhos é que envereda por tentar confiscar o que tenho no carro. É que se vão dar mesmo muito mal! O facto de possuir os originais confere-me o direito de fazer cópias para uso pessoal.

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  19. Não vais ter o direito de copiar os teus CDs por muito tempo, se isto continua. Por exemplo, de acordo com o DMCA nos EUA já é ilegal fazer cópias de um CD que se compra se o CD vier com uma protecção, mesmo que rascosa, porque é crime evitar os sistemas de protecção de cópia.

    E se há a distinção entre copiar uns e copiar outros, há de haver casos em que a cópia é ilegal.

    A tendência tem sido para a lei ceder às pressões destes grupos com interesses em tapar todos os buracos no seu monopólio, custe o que custar para as liberdades individuais.

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  20. No dia em que isso acontecer, vai haver um problema, que é quem é que vai ser responsável pelos CDs danificados. Se eu pago a copia e ela se danifica por não poder usar copias no carro, vou chatear e muito. :-) Mas, até lá...

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  21. Já há,

    Quando compras um jogo para o computador ou consola, vendem-te uma licença de utilização, mas protegem o CD para que não possas copiar. Em consolas, como a Playstation, a protecção está mesmo embutida no hardware, e em alguns paises é ilegal alterar a consola para poderes usar cópias dos CDs. Se os putos riscam o DVD tems que comprar outra «licença».

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  22. Eu acredito no poder da melguice!
    Chatear o fabricante e o vendedor até obter nova cópia. Especialmente quando a loja está cheia. :-)
    No caso dos fabricantes, até hoje não tive problemas. Cópias legais, sempre obtive cópias novas... A primeira foi com o CD de Propaganda. A ZTT enviou-me um novo. De jogos não sei pois não uso... :-) Devo ser um dos poucos que se fartou.

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  23. Ludwig,

    "Não é justo. A comida é um bem escasso; a que eu dou já não posso comer."
    Tudo bem. Substitui a comida por um Músico (não é para comer o tipo)... Embora eu prefira a striper (aqui já vale comer)! Agora a sério. Substitui a comida por um entertainer qualquer que tenha que ser pago.

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  24. Ludwig,

    O teu trabalho de alguma forma sofre de um proteccionismo contra cópia.

    O teu sustento enquanto professor da cadeira “x” tem que obedecer a certos critérios e estar acreditado, não sendo possível que um “pirata” grave as tuas aulas e venha a fornecer o mesmo serviço, produzindo ensino acreditado e válido para efeito de uma licenciatura.

    De alguma forma a comparação que já fizeste entre o músicos vs cópias piratas e a tua profissão, está errada, pois a tua profissão está de alguma forma blindada à pirataria devido a toda orgânica que uma instituição superior tem que obedecer. Os teus exemplos por vezes são desonestos, embora ache que não o são de forma depositada.

    Se fosse possível piratear o curso de forma a saírem licenciados (não havendo necessidade de saber como é que eles foram ensinados), ai tu falarias de outra forma! Ai haveria uma ameaça ao teu curso, e consequentemente à tua cadeira.

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  25. António,

    Tu que pareces estar bem informado sobre a orgânica do mundo da música...

    Encontrei aqui e aqui um formato que permite fazer uma audição prévia, e, que de alguma forma tenta evitar a pirataria; por exemplo, o som é mau.

    Que achas desta forma de Teaser? Dava para lançar desconhecidos. Ou é mais uma banhada?

    Eu tenho a minha opinião, mas gostava de ouvir a tua, e a do Ludwig também - esse comuna:-)

    Como gosto muito de um dos grupos que lá figuram, aqui vai mais do que uma versão da mesma música, a qual acho boa-onda; e sendo antiga já vendeu o que tinha a vender, não estando a causar dano ao autor;-)

    Men At Work - Overkill (Ao Vivo no Brasil)

    Men At Work - Overkill (Na série Scrubs)

    Letra - BR - Men At Work - Overkill

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  26. Ludwig,

    «Pois que treine quem quiser, que os clubes organizem escolas, e que seja o público a decidir a quem está disposto a pagar para jogar. Não é preciso qualquer direito sobre a criação de cópias de fintas ou pontapés.»


    Pois é isso mesmo: o público a decidir a quem está disposto a pagar para jogar.

    Aqui o objecto a ser protegido, como no caso da música, não é a finta "X", mas sim o executor que executa a finta "X" de forma inigualável! É aqui que está o teu erro imperdoável. Pois é o jogador que está protegido, e de que maneira... Ele é contratos, passe etc... O jogador, se é bom está blindado; tanto no acto de jogar como na sua imagem etc...
    A finta não interessa, mas sim a forma particular como ele é executada.

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