Treta da Semana: o custo do tabaco.
Tem corrido por ai a ideia que o tabaco até é uma coisa boa. No Crónica do Migas, o fumador é «apoiante do bem comum e da vontade geral, sacrificando-se abnegadamente em prol dos seus concidadãos»(1), porque os impostos do tabaco rendem 1.3 mil milhões de euros ao estado, mas os fumadores apenas custam quatrocentos milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde. No Blasfémias, o João Miranda explicou-me que a perda de produtividade por causa do tabaco não deve ser contabilizada no seu custo para a sociedade porque «a produtividade individual não é pública. É privada. É o próprio que perde e não a comunidade»(2). Não me parece.
O primeiro problema é louvar o fumador porque o tabaco só consume em recursos de saúde um terço dos impostos que paga. O que dizer então da papa, do leite em pó, ou das bolachas de água e sal. O IVA rende dez vezes mais que o imposto sobre o tabaco, na maior parte dos casos sem causar cancro. O tabaco só sobressai como «apoiante do bem comum» se ignorarmos tudo o resto.
O segundo problema é considerar que os impostos são o bem comum. Não são. Os impostos são uma forma de redistribuir parte do bem comum, mas o bem comum é a riqueza da economia. É o PIB. É o que produzimos. São os transportes, as consultas do médico, as televisões, as bolachas, os computadores, essa tralha toda. A produção e troca desses bens faz circular dinheiro e parte desse dinheiro escorre pelo estado para (em teoria) ajudar quem mais precisa. Mas não é verdade que ficamos mais ricos por pagar mais impostos.
E é precisamente na produtividade que o tabaco custa a todos. Os quatrocentos milhões que o SNS gasta apenas mudam de mão. O dinheiro, por mais voltas que dê, acaba sempre na mercearia ou reinvestido pelos bancos. O custo real é o que esses médicos e medicamentos podiam ter feito por outras pessoas se não fossem os fumadores, e o que os fumadores podiam ter feito se não estivessem doentes. Ou mortos. O dinheiro circula em circuito fechado. O que se gasta ou aproveita é o tempo e esforço de cada pessoa. Os fumadores têm mais tempo de baixa, maior mortalidade, e usam mais recursos médicos. Os impostos não resolvem o problema, nem têm nada a ver com isto.
O João Miranda afirma que a produtividade é um bem privado. Já foi, em tempos, quando cada um vivia das couves que plantava. Numa sociedade moderna a produtividade vem da sinergia de muitos e não da mera soma do que cada um faz em separado. Os dias de baixa, os trabalhadores doentes, a redução na esperança de vida, as reformas antecipadas e o que mais o tabaco cause tem um custo para todos nós além do impacto no rendimento individual de cada fumador.
Isto não quer dizer que se proíba o tabaco. As férias, os feriados e os fins de semana também têm custos de produtividade. Produzimos para viver melhor; não vamos perder as coisas boas da vida só para ter mais produtividade. O que quero dizer com isto é que é treta contabilizar o custo do tabaco comparando os impostos com o preço dos medicamentos.
Mas este custo económico é tangencial ao mais importante. Fumar é mais vezes consequência de uma asneira de adolescente do que a escolha informada de um adulto. E nem sempre quem apanha com o fumo é quem quer fumar. É por isto que sou a favor de uma legislação mais restritiva. O modelo do mercado assume agentes livres e racionais, mas fumar raramente é uma decisão livre e racional. Especialmente quando se tem que fumar o cigarro dos outros.
1- Migas, 25-6-07, Thank you for smoking
2- João Miranda, 2-7-07, Fumar e o PIB (nos comentários)
Fumar não é bom para a economia nem para o bem comum. Mas julgo que os impostos pagos pelos fumadores compensam, sobejamente, as externalidades negativas do seu acto.
ResponderEliminarAcho que era apenas isto que o João Miranda pretendia provar, para concluir de seguida que os elevados impostos que o tabaco paga são mais do que a cobrança legítima das externalidades do acto de fumar - são uma demonstração do paternalismo do estado a esse respeito, que interfere nas livres decisões dos cidadãos para os encorajar a fazer aquilo que é melhor para eles próprios.
Acho que o cálculo do João Miranda é um tanto simplista e redutor, mas suficiente para deixar claro que a sociedade não está a cobrar externalidades a menos...
Deixa ver se percebo. Um tipo apanha cancro por causa do fumo dos colegas. Como o estado comparticipa uma pequena parte dos cuidados paliativos com os impostos do tabaco, considera-se que o desgraçado foi devidamente compensado pelo que lhe fizeram?
ResponderEliminarEu não lhe chamo um cálculo simplista e redutor. Eu chamo-lhe treta. Assumir que os 400 milhões gastos nos malefícios do tabaco são compensação adequada é um absurdo tão grande que me cheira a distorção deliberada.
«Deixa ver se percebo. Um tipo apanha cancro por causa do fumo dos colegas.»
ResponderEliminarPois, ninguém deve ser obrigado a isso.
As externalidades são devidas ao facto de um fumador poder ter custos acrescidos no SNS, e por isso poder justificar-se que ele compensse a comunidade.
Mas ninguém deve ser obrigado a apanhar com o fumo que não quer.
Simplesmente as pessoas apanham sempre que fazem ESCOLHAS nesse sentido. Seja ir para um café onde é permitido fumar, seja trabalhar num café onde é permitido fumar.
Faço minhas as palavras do António Parente.
ResponderEliminar(uma parte do comentário afixado no último post)
Vasco, cinges-te muito ao limite paternalista do Estado e já deste a entender que o interesse colectivo nunca se deverá sobrepor ao individual. Faço-te uma pergunta respeitante a uma obrigatoriedade que mexe mais nos direitos individuais que a proibição de fumar, és a favor ou contra a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança nos veículos?
«Estado e já deste a entender que o interesse colectivo nunca se deverá sobrepor ao individual.»
ResponderEliminarO interesse colectivo pode sobrepôr-se ao interesse individual.
Mas sou eu que devo decidir, e não o colectivo, o que é melhor para mim. Salvo raras excepçções discordo que o colectivo procure impedir-me de tomar decisões que só a mim me afectam. Ou que só afectam quem as toma livremente.
Quanto ao caso do conto de segurança, já respondi na discussão do texto anterior.
Caro Ludwig,
ResponderEliminarComenta apenas, e de forma selectiva, os argumentos referidos sobre o tabaco.
Num dos, poucos, comentários que fiz a um seu post anterior referi que uma das argumentações feitas pelos anti-tabagistas é a de que os fumadores consomem muito dos recursos financeiros do Estado no sector da Saúde.
Referi, e falando pessoalmente agora, que já paguei todas as minhas eventuais despesas de saúde uma vez que, todos os dias, ao comprar um maço de tabaco, cerca de 80% (concretamente 76,5%, valores do INE e referentes a 2003) desse valor é receita fiscal ou imposto.
Esse imposto gerou, em 2005, 1.22 mil milhões de euros.
Parece-me que esse dinheiro, para além do que pago em IRS, dará para pagar as minhas despesas de saúde.
“Os dias de baixa, os trabalhadores doentes, a redução na esperança de vida, as reformas antecipadas e o que mais o tabaco cause tem um custo para todos nós além do impacto no rendimento individual de cada fumador.”
Utilizando esse tipo de raciocínio entraremos numa espiral em que as opções da vida privada de cada terão que ser contabilizadas, potencialmente, para o rendimento de cada um. Ou seja o que fazemos na vida privada deverá ser descontado ao nível dos impostos.
Comecemos então, com alguns exemplos: hobbies – os praticantes de desportos radicais deveriam ter um factor de retenção maior que os leitores de poesia (é que as lesões originadas pela leitura do Vasco Graça Moura serão menores que o paraquedismo; e daí…); património genético – até onde deverá ser feita a análise? ; viagens (em função do tipo de meio de transporte a utilizar – conduzir um carro em Portugal não deveria ser contabilizado em termos de risco como conduzir na Áustria?).
Concorda com estes exemplos?
Saudações
Luís Azevedo Rodrigues
Caro Luís Rodrigues,
ResponderEliminarNão duvido que os seus impostos cubram a comparticipação do estado com a sua saúde. Mas discordo que isso indique que está tudo bem. Os nossos impostos não são só para pagar os gastos de saúde de quem paga impostos. São para pagar a educação, a polícia, os tribunais, a administração do país, ajudar os mais carenciados, e todas essas coisas que, bem ou mal, lá vão fazendo o país funcionar.
O facto de ainda sobrar alguma coisa dos seus impostos depois dos gastos de saúde não é, por si só, um indicador positivo.
E concordo consigo que a questão económica não é determinante. Disse-o até explicitamente no final do post. Penso que o que justifica proibir que se fume para cima dos outroa é o mal que faz aos outros. Mais que isso não é preciso.
O exemplo do cinto do JPVale é uma boa referência. A questão que se põe, é se a liberdade individual é maior que a liberdade colectiva.
ResponderEliminarPorque no fundo é isto que se trata. Que direito tem 1 fumador de se impor a 2 não fumadores. Ou ainda, porque é que 9 fumadores têm o direito de obrigar 1 fumador a aturar o fumo deles? E ainda, porque é que deve ser esse não fumador a abandonar o seu prazer de estar no café a beber o seu café à vontade, e não os 9 de irem fumar para outro lado?
Quando vou a um café ou restaurante, pago para comer, beber e estar sentado a ocupar o espaço do café/restaurante. Não preciso pagar para fumar, pois isso posso fazer em qualquer lado, inclusivém em minha casa, onde só entra quem eu quero. Por isso, se é dada liberdade aos cafés de permitirem fumo ou não, já é mais que suficiente, e se alguém não respeitar isso, a multa é merecida, até podia ser pior.
O facto de pagarem mais impostos no tabaco do que aquilo que custam ao SNS, é treta! Se alguém meter baixa com DOPC, e o patrão tiver de contratar outra pessoa para fazer o trabalho, e ao fim de 3 anos o doente volta a trabalhar, quem é que assume a despesa de ter de pagar a 1 trabalhador a mais? E quem é que a haver despedimentos, deve ir para a rua? E se o fumador volta a meter baixa 1 mês depois do outro ter sido despedido? Quantos trabalhadores deve o patrão contratar e formar, e assumir custos por causa do fumador meter baixa? E se o fumador perder 1 hora por dia a fumar, quem é que assume os 12,5% de perda de produtividade? É o patrão? Ou o fumador aceita trabalhar por menos ordenado para compensar?
Isto de achar que a sociedade fica satisfeita só com impostos é relativo... Eu como patrão, prefiro que o estado perca os impostos, e o trabalhador não gaste tempo a fumar. Ou será que os direitos do patrão, e restantes empregados são menos que os do trabalhador fumador?
Caro Ludwig,
ResponderEliminarNão esqueceu de ler no meu comentário que, para além do imposto de tabaco, também pago IRS, que (deveria) contribuir para o esforço colectivo para a saúde, justiça, educação, etc. - a sua, a minha, e a dos restantes portugueses.
Não pretendo defender o indefensável - malefícios do tabaco, Tchekov dixit.
Falou em custos para a produtividade originados pelo tabaco.
Que lhe parece os exemplos que lhe apresentei?
Deveriam ser igualmente tidos em conta, potenciais de quebra de produtividade?
Cumprimentos
Luís Azevedo Rodrigues
Ludwig,
ResponderEliminarCuriosamente conheço muitos não fumadores que não concordam com a lei.
O que é giro porque sempre achei que iam todos esfregar as patinhas de contentes.
Não te parece mais justo que o proprietário possa escolher assim como o cliente.
Ou seja eu como cliente posso escolher entre um café para fumadores ou para não fumadores. O Ti maneli pode escolher entre ter um café para fumadores ou para não fumadores e o empregado pode escolher em que tipo de café quer trabalhar.
Tenho sempre um certo receio que este tipo de atropelo das liberdades individuais acabem em descalabro.
Caro António,
ResponderEliminar"Eu como patrão, prefiro que o estado perca os impostos, e o trabalhador não gaste tempo a fumar. Ou será que os direitos do patrão, e restantes empregados são menos que os do trabalhador fumador?"
Que lhe ocorre dizer sobre o que escrevi num comentário anterior:Ou seja o que fazemos na vida privada deverá ser descontado ao nível dos impostos.
Comecemos então, com alguns exemplos: hobbies – os praticantes de desportos radicais deveriam ter um factor de retenção maior que os leitores de poesia (é que as lesões originadas pela leitura do Vasco Graça Moura serão menores que o paraquedismo; e daí…); património genético – até onde deverá ser feita a análise? ; viagens (em função do tipo de meio de transporte a utilizar – conduzir um carro em Portugal não deveria ser contabilizado em termos de risco como conduzir na Áustria?).
Cumprimentos
Luís Azevedo Rodrigues
Caro Luís,
ResponderEliminarHá aqui dois pontos diferentes. Um, que abordei neste post, é a treta de dizer que o tabaco dá mais lucro do que custos só por comparar a comparticipação do estado no SNS com o imposto do tabaco. O verdadeiro custo do tabaco é a doença, o sofrimento que isso causa, a morte prematura, e o impacto na produtividade. E isso é independente dos impostos, nem se resolve com impostos.
Seja quanto for que o Luís paga de impostos, aquilo que o seu tabaco faz à sua saúde e à dos que o Luís afecta com esse hábito é um custo para todos. Não há imposto que faça desse custo um lucro.
O outro ponto diferente é o da proibição de fumar onde incomoda os outros. A única justificação para isso é que ninguém tem o direito de incomodar e prejudicar a saude dos outros só porque lhe apetece. O custo e o imposto não têm nada a ver com isso, e por mim o paraquedista pode-se partir todo à vontade desde que não acerte em ninguém. Tal como o fumador deve ser livre de apanhar o cancro que quiser desde que não leve ninguém com ele (mas o problema de ser «livre» quando se trata de uma substância viciante é mais complexo que o do paraquedismo).
Caro Luis Azevedo Rodrigues,
ResponderEliminarAcabei de perder um post em que lhe respondia a isso, mas, vou tentar repetir o mesmo. :-)
O seu argumento falhou num ponto importante. :-) Se você for fazer qualquer actividade radical, e se partir todo, está entalado por duas vias.
1- Nenhuma companhia de seguros cobre as despesas inerentes a acidentes com essas actividades. Ao contrário dos fumadores, que ainda mantêm as coberturas, apesar de mais caras. Se partir um joelho a andar de skate, e não mentir no formulário, não recebe nada de despesas de saude associadas a esse acidente!
2- Se não conseguir andar, por causa desse acidente e não mentir na inspecção médica, nem sequer a baixa lhe pagam. Por isso, a liberdade individual dos fumadores está mais que garantida, em comparação com os desportistas radicais amadores.
Por isto, o seu exemplo é muito mau! Eu conheço um "entalado", por causa de um acidente de ski, que não fuma, e que não perdia tempo a fumar todos os dias, ao contrário de outros melhor pagos!
Outra coisa... Se demorar 10 minutos a fumar cada cigarro e fumar 6 por dia, a empresa perde 1 hora de serviço, que para o trabalhador médio, são 4.15 Euros, e esses cigarros são cerca de 1 euro. Acha que os impostos desses 6 cigarros pagam aquilo que custou ao empregador? E se lhe cobrassem 20 Euros o maço, para dar 17 ao empregador pelos cigarros que fumar na hora de serviço?
Vou aproveitar o comentário do Ludwig, para dar outro exemplo:
ResponderEliminar-Eu gosto de ouvir música quando trabalho, e não gosto de headphones. Na maior parte dos casos (aí uns 99% deles) ninguém onde eu trabalho gosta da musica que eu gosto. E se eu puser a musica ao volume que eu gosto no local de trabalho?
A sua resposta a isto, pode-se aplicar ao que eu sinto pelo fumo dos outros. E acredite que a musica que eu gosto e ao volume que eu gosto, todo o dia, não o impede de trabalhar, nem lhe afecta a saude fisica.
Caro Ludwig,
ResponderEliminarabordei, de forma indirecta, a questão dos quebra de produtividade. O que me parece menos próprio e perigosos é misturar a preservação da saúde de terceiros por parte dos fumadores e questões laborais.
Por isso referi aqueles exemplos. Por me parecerem que se entramos na análise de um comportamento privado deveremos, então, estar preparados para a espiral de controle em todas as áreas.
Porque, percebeu também como eu, é disso que se trata.
Em relação ao vícios claro que é complexo; mas o que não é complexo é perceber que podemos cair na tentação da invasaõ da esfera privada por mecanismos de controle de produtividade.
"Mais que isso não é preciso."
Cumprimentos
Luís Azevedo Rodrigues
Caro António,
ResponderEliminarObviamente que onde, através de exemplos mais ou menos exagerados, eu quero chegar é até onde deve o Estado ou a entidade patronal poder controlar (e só dessas, pois a actividade seguradora é diferente, neste contexto) a vida profissional de um cidadão ou empregado.
Na sua opinião, e como empregador, deveria ter acesso a informações do foro genético dos seus trabalhadores? É que 10 minutos por dia a fumar um cigarro provavelmente não é nada em termos de custos comparado com a possibilidade de um dos seus empregados poder ter uma doença crónica incapacitante.
Apenas mais uma chega
Cumprimentos
Luís Azevedo Rodrigues
Caro Luís,
ResponderEliminarQue as seguradoras não cubram os desportos radicais não é nem bom nem mau exemplo. O importante é que se partir a perna a andar de skate e não tiver dinheiro para pagar o tratamento não o põem fora do hospital. O SNS paga, tratam de si, e vem tudo dos impostos.
Quanto à produtividade não era isso de sair para fumar o cigarrinho. É ficar de baixa, reformar-se antecipadamente, e tudo aquilo que está por trás dos quatrocentos milhões de euros em despesas de saúde. É que quem está no hospital não está a trabalhar, e esse é um custo adicional que todos pagamos.
Saliento que não é isto que justifica a proibição. O ponto é que esse cálculo pelos impostos está mal feito.
E o Ludwig tem razão.
ResponderEliminarA questão não é cobrir os custos, isto é o factor de dissuasão, a questão é que se alguém é exposto ao fumo todo o dia, todos os dias, involuntariamente, tem as mesmas probabilidades de contrair uma doença relacionada com o fumo, além do incomodo da exposição.
Mas, a questão do fumo, também é "voluntária". Você decide fumar porque, bem ou mal, escolheu esse caminho. Se você sofre de esclorose não é por decisão sua! Você não decide que gener herda, mas, é você que decide fumar, é você que decide saltar de um penhasco, é você que decide expor-se ou não a determinados riscos, e os patrões podem impor-lhe um código de conduta, que inclui a sua exposição pública.
Diga-me qual a viabilidade de um CEO de um banco, manter o emprego e ao mesmo tempo, posar em revistas pornográficas? :-)
E se você receber 100 mil euros semanais a jogar futebol, e passar o tempo livre a beber litros de alcool e a comer compulsivamente?
E se, tantas outras coisas...
A questão não é a que o Luis coloca de aceder a informação genética, ou afins, é a de quando aceita um emprego em que lhe digam que não pode fazer algo, e você ignorar e fazer na mesma.
Se lhe disserem que não pode fumar nos escritórios, porque incomoda os colegas e clientes, se você o fizer quer o quê? Mater o emprego?
Se me disserem que para determinada actividade profissional tenho de abdicar de algo que não é um direito fundamental, pois interfere com a productividade/credibilidade laboral, que lhe parece ser o resultado final?
Ludwig:
ResponderEliminarO cálculo dos impostos não está mal feito. O objectivo do cálculo é que não é o mesmo que assumes.
Ao fumar estás a provocar "despesa" a ti e à comunidade. Mas por outro lado pagas externalidades: os elevados impostos do tabaco.
A comunidade deve ajustar as externalidades que tens de pagar ao nível das despesas que tem necessariamente contigo, devido ao teu acto de fumar, por forma a que a decisão de fumar só te diga respeito a ti, e devas ser tu a escolher, em consciência e liberdade, se queres fumar ou não, ponderando o prazer e os danos para a tua saúde.
Assim, é justo comparar o montante recebido pelos impostos ao tabaco com as despesas no SNS gastas com o tabaco.
Os outros tipos de despesas - menos produtividade, morte prematura, etc... - foi o próprio fumador que as sofreu, e por isso apenas a ele dizem respeito.
E quanto aos não-fumadores obrigados a levar com o fumo alheio?
Isso não devia existir. É uma injustiça que alguém seja obrigado a levar com o fumo alheio, por isso defendo que nos edifícios públicos, se não for possível separar áreas para fumadores e não fumadores, deveria ser proibido fumar.
O mal é considerar que um bar é um sítio público onde as pessoas não podem escolher deixar de ir. Não é!
Ninguém vai a um bar apanhar fumo de tabaco obrigado! Só entra no bar quem quer.
O que não é justo é querer impôr as tuas regras ao dono e aos outros clientes. Se não queres apanhar fumo, não usas esse bar, dando um forte incentivo à criação de bares onde é proibido fumar. Porque é que os não fumadores não fazem isto, em vez de querer impedir os fumadores de fumar nos seus espaços?
Legalmente um bar, ou café, é um local público.
ResponderEliminaranónimo: isso é falso. É propriedade privada.
ResponderEliminarPropriedade privada de utilidade pública: quer dizer que o público, se quiser, e mediante certas condições que o dono pode estipular, pode usufruir da estadia nesse espaço privado.
Este é o ponto chave.
Aliás, é esse equívoco que está na base de quase todos os argumentos favoráveis a esta lei tão injusta.
João,
ResponderEliminarO imposto do tabaco não serve para compensar os outros do cancro. Nem sequer compensa a sociedade das perdas económicas da doença que o fumador provoca em si mesmo, quanto mais do mal que faz aos outros.
Raramente a cobrança de externalidades compensa o mal que estas fazem. A taxa cobrada a uma empresa poluente não é uma compensação justa pelo pessoal que respira as dioxinas ou o que for.
Cobrar as externalidades faz sentido por aumentar o custo da actividade e levando o agente a procurar fazer as coisas de outra forma. Uma taxa sobre poluição serve para reduzir a poluição, não para compensar monetariamente quem sofre pela poluição (não há imposto que compense ficar sem água potável)
No caso do tabaco isto não funciona porque o fumador não é um agente racional livre. É um viciado. Pelo menos metade dos fumadores quer deixar de fumar e não consegue. Isto é um bom indicador que este sistema de inibir o comportamento cobrande as externalidades não funciona neste caso.
«Cobrar as externalidades faz sentido por aumentar o custo da actividade e levando o agente a procurar fazer as coisas de outra forma.»
ResponderEliminarNão.
Numa troca há duas partes envolvidas. Se ambas aceitam de mútuo acordo a troca, nada há a obstar.
Mas ocasionalmente há trocas que envolvem 3 partes. O comprador, o vendedor e a comunidade. A gasolina é um exemplo: ao ser queimada polui o ar de todos.
A ideia da externalidade é fazer com que ambos os envolvidos compensem a comunidade pelos danos causados.
Se aquilo que tiverem a ganhar com a troca for menor do que os danos provocados à comunidade, o pagamento da externalidade faz com que a troca deixe de valer a pena. A troca não é efectuada.
Se aquilo que tiverem a ganhar com a troca for maior do que os danos provocados à comunidade, o pagamento da externalidade compensa-a pelos danos sofridos. Ainda assim, o vendedor e o comprador vão ganhar com a troca.
Um externalidade excessiva desencoraja trocas em que o saldo geral seria positivo, e uma externalidade pequena de mais encoraja trocas em que a comunidade fica a perder.
Quando alguém compra tabaco, está a prejudicar a comunidade por isso constiuir um risco acrescido, e fazer parte do SNS. Este é o único prejuízo coercivo que causa. Todo o restante alegado prejuízo resulta de decisões livres. Os impostos devem assegurar que este prejuízo que o tabaco causa, sem que a comunidade o tenha escolhido, é compensado.
E pelos vistos, isso acontece.
Já os danos para a saúde do próprio fumador, não devem obviamente estar incluidos nas externalidades, visto que é ele que decide se faz a troca.
Os danos devido à menor produção (absentismo, etc..) também são da única e exclusiva responsabilidade dele, e de quem o contrata livremente.
Os danos para a saúde dos fumadores passivos simplesmente não deviam existir para começar: ninguém devia ser obrigado a fumar o fumo de outros.
Mas quando se vai a uma "casa de fumo" de livre e espontânea vontade...
Nota: pode ser feio, mas para o cáluclo das externalidades - seja do que for, tabacos à parte - tem mesmo de se calcular o "valor económico" de uma vida humana (nos EUA anda pelos 10 milhões de dolares), do ar puro, etc... Quem calcula externalidade tem mesmo de dar um preço ao rio sujo, e quanto mais senstao for o cálculo, mais a comunidade terá a ganhar.