Treta da Semana: sites de partilha de ficheiros.
Esta semana a comunicação social revelou que não percebe a tecnologia de partilha de ficheiros. O «perito» que explicou a situação na SIC meteu os pés pelas mãos, a comentadora da TVI não sabia o que dizia. Pior ainda foi a entrevista com a coordenadora da PJ: «o site com maior número de partilhas em Portugal»(1). Ficou por explicar como é que um site tem partilhas. E provavelmente estão melhor informados que os magistrados ou o público em geral. O perito da SIC era o mais castiço. Devia ser mesmo perito, porque gesticulava muito e falava como para crianças de 3 anos. Com uma pilha de CDs ou DVDs à frente, explicou (1):
«é como se comprasse este disco, fizesse milhares de cópias, e colocasse à porta para quem quiser levar. É lógico que prejudicava os músicos e a indústria.»
Não vou discutir a lógica pela qual devíamos proibir a rádio e os gravadores de cassetes. Mas vou fazer as contas. Uns milhares de CDs e DVDs são uns mil gigabytes. Uma ligação de banda larga residencial permite enviar uns dez mil bytes por segundo. Cem milhões de segundos, ou mais de três anos de envio constante. Posto de outra forma, um miúdo fanático da partilha que nunca desligue o seu PC faz o equivalente a gravar uma cópia por semana. É como se comprasse este disco, e todas as semanas desse uma cópia a alguém. Mais honesto, mas menos alarmante.
O erro é confundir peer to peer (P2P) com o método mais conhecido de distribuição centralizada, ou cliente-servidor. A barraca da feira é um servidor onde os clientes vão às compras. A pilha de CDs à porta de casa é um servidor onde vão buscar cópias. O YouTube é um servidor de onde descarregam vídeos. Mas o YouTube transmite cem mil vezes mais que o «partilhador» residencial. A ligação P2P é de um para um, como o telefone. A analogia correcta seria tocar ao telefone a música que nos pedem do outro lado. Pode ser ilegal, mas está muito longe da pilha de milhares de CDs à porta de casa. Não é o utilizador individual que tem efeitos significativos, mas sim a acção distribuída de milhões de pessoas.
Obviamente, prender milhões de pessoas porque cada uma copia um DVD por semana não é prático. Por isso fecham os «sites de partilha». Segundo o perito da SIC, estes sites são como:
«uma barraca de feira onde as pessoas pagavam os discos e filmes mais baratos ou, em alternativa, tinham que fazer outras cópias ilegais e colocar à venda na tal barraca»
Não estou a defender sites como o Btuga, onde a cobrança de prioridades no descarregamento complica muito o assunto. Mas o problema desta analogia é que a «barraca da feira» não é o site. É uma rede, como a rede telefónica, por onde os utilizadores enviam ou recebem dados. Os ficheiros estão distribuídos por todos os utilizadores, e o site aloja apenas uma lista identificando alguns dos ficheiros espalhados pela rede. No site não há conteúdos protegidos.
E a até a transmissão de cada ficheiro é distribuída. Cada programa mantém uma lista de espera com os pedidos de outros utilizadores. Quando chega a vez de um, envia para esse uma parte do ficheiro que este pede e passa ao próximo da lista. Quem quer receber um ficheiro pede pedaços do ficheiro a centenas de outros utilizadores na rede, e fica à espera. Recebe um pedaço deste, outro pedaço do outro, e eventualmente junta os pedaços todos num só ficheiro. Um filme tipicamente é partido em centenas de pedaços que ninguém envia na totalidade. É como obter uma cópia de um poema telefonando a dezenas de pessoas, perguntando uma palavra de cada vez. Como apurar a responsabilidade desta violação de copyright?
Parte desta treta é ignorância, mas parte é aldrabice. O que cada pessoa faz na partilha de ficheiros é idêntico ao que já se fazia com os gravadores de vídeo, cassetes, ou fotocópias. A diferença não é o impacto de cada utilizador mas a organização da rede. Na internet, o vizinho do lado é o mundo inteiro, e é isto que assusta o distribuidor. Mas copiar um DVD por semana tem menos impacto que a treta dos milhares de DVDs à porta de casa, e preocupa-me que a probabilidade de um juiz perceber como o sistema funciona é ligeiramente inferior a nem penses nisso...
1- Jornal da Tarde, SIC, via Remixtures
Ludwig,
ResponderEliminarFinalmente algo em que concordamos nisto da cópia. A questão é se todos fazem colectivamente algo para o qual contribuem com uma infima parte, talvez seja melhor pensar numa abordagem mais realista. Se me prendessem por copiar um CD da web, era a garantia que nunca mais gastava 1 centimo em musica, e o mesmo se passa com um filme. Se o mal se generalizou, o risco é de perder todo o mercado!
No entanto, o que me destingue de ti neste assunto, é que eu não apoio de maneira nenhuma a chulice, que é alguem vender CDs pirateados, cobrar por downloads ilegais, no fundo fazer dinheiro tal como as editoras, mas, sem contribuir para o processo creativo de maneira nenhuma.
Aquele outro artigo do "rip off" dos putos ingénuos das bandas, lamento dizer-te é exactamente isso. Uma burla que é independente da editora. Aquela lista de custos é o que eu chamo uma tanga. O estudio onde eu toco já gravou vários albuns de artistas que lideraram ou lideram o top de vendas nacional de tempos a tempos. A qualidade é mais que suficiente, e não custa nada daquilo. Estás a falar de um exemplo de um pais de treta, onde um advofado cobra 1 milhão de euros por uns dias de trabalho, é um pais de gente estupida que se preta a estas figuras ridiculas. Se me aparecesse um afinador de bateria a querer-se impingir, ou um tecnico para por tudo em fase no hardware do estudio, saiam de lá com as lascas da guitarra entaladas em sitios pouco dignos.
Aquela lista é uma tanga, porque pelo preço que custou a gravação, eu construia um estudio de raiz para mim.
No entanto, o que me destingue de ti neste assunto, é que eu não apoio de maneira nenhuma a chulice, que é alguem vender CDs pirateados, cobrar por downloads ilegais, no fundo fazer dinheiro tal como as editoras, mas, sem contribuir para o processo creativo de maneira nenhuma.
ResponderEliminarAntónio,
Isso é olhar as coisas de uma maneira muito distorcida. É evidente que o comprador do produto pirateado nunca iria comprar a versão original se o feirante não vendesse uma cópia a preço da uva mijona. Portanto ninguém fica a perder dinheiro, pelo contrário. Se for um músico, ele pode até acabar por atrair mais pessoas para os seus concertos. Veja-se o caso do tecnobrega no Brasil.
Já agora aconselho-lhe a leitura desta entrada no Remixtures relativa a uma entrevista do investigador Lawrence Liang:
Habitualmente, existe uma opinião muita negativa sobre a pirataria, segundo a qual esta seria uma forma de exploração comercial de obras protegidas por copyright como por exemplo, vender DVDs baratos, fotocopiar livros, etc. Temos vindo a trabalhar no sentido de avançar com o argumento de que a pirataria é não apenas positiva, mas é também necessária nos países em desenvolvimento onde existe uma brecha entre as pessoas que têm acesso a bens de cultura e conhecimento e aqueles que não dispõem dos recursos necessários para tal. Muita desta pirataria permite que um grande número de pessoas possa participar na cultura e no conhecimento, dos quais de outra forma seriam excluídos.
(…)
Em geral, argumenta-se que isto é mau para a economia porque as companhias perdem dinheiro e o Estado perde grandes somas que seriam cobradas em impostos. Mas o que é facto é que este argumento baseia-se em pressupostos económicos falaciosos, sendo o principal o de que cada bem pirateado é uma venda perdida, o que nunca é verdade, porque a pessoa nunca o teria comprado se não existisse uma cópia pirata.
Isso também depende da perspectiva com que olhamos a economia. Todo o circuito da pirataria cria economias locais bastante dinâmicas. Gera emprego, permite a transferência de tecnologia, possibilita o surgimento de inovações locais. Se olharmos o fenómeno de um ponto de vista de uma economia global da informação, onde somos uma multinacional que controla os direitos de um filme ou de uma música, sim, é mau para a economia. Mas se estivermos interessados no desenvolvimento das economias locais, bem como da inovação local, diria que é algo positivo para a economia.
António,
ResponderEliminarEu não apoio a chulice. A chulice é um dos produtos indesejáveis de inflaccionar os preços com monopólios. Hás de reparar que ninguém nas feiras anda a ganhar dinheiro com releases do Ubuntu ou DVDs do projecto Gutenberg.
E cá em Portugal a gravação é mais barata porque os músicos ganham menos e o mercado é minúsculo. Mas o resultado final é o mesmo. Ficam sem nada do adiantamento, e ficam sem as músicas.
E o problema que o Miguel é muito relevante. Pode ser chulice vender cópias ilegais, mas também é chulice querer vender na India CDs ao preço que se vende nos EUA.
Já agora, o escritor Alberto Vazquez-Figueroa decidiu mandar as editoras pastar e vai pôr tudo o que escreveu à borla na net. Diz que está farto de serem os distribuidores a decidir quanto é que os leitores têm que pagar, e quando é que podem comprar os livros mais baratos.
A partir de agora os livros dele vão sair simultaneamente em capa rija, edição de bolso, e na net, e quem quiser reproduzi-los em qualquer publicação pode fazê-lo à vontade.
Aqui o link (em espanhol)
Estou habituado a usar open source, e aprendo procurando informações com "tutorials", "how to"s e esboços. Até encontrei na Web o código fonte do Quake (é livre).
ResponderEliminarAcho que o copyright é um empecilho para a criatividade, mas acho que mudar a lei não é má ideia. Penso que deveriam mostrar que as obras sem copyright podem ser mais rentáveis para os autores, e daí eles mesmos decidirem. Por exemplo, livros, filmes e música podiam ser vistos por partes na Web para os utilizadores que pagassem. Ou sites onde era pago uma taxa mensal, e os autores com obras mais vistas eram mais bem pagos. Os próprios autores poderiam vender merchandise e colocar publicidade nos seus sites, e meios para serem pagos para incentivo. A ideia seria a pirataria tornar-se irrelevante para no efeito dos lucros dos autores.
Não interessa se há quem copie as ideias do outros. Pelo contrário, isso seria desejável, desde que o autor da ideia original fosse reconhecido. Haveria variações da mesma ideia (forks) concorrentes do original, obrigando este a melhorar-se, ou então fazer parcerias. É a evolução em acção na arte.
É claro que isso é apenas o que acho que seria bom. Só me estou a basear com o meu pequeno mundo do open source. Posso estar errado (nem sequer sou economista), por isso acho que a lei não deveria mudar, pelo menos até haver bons exemplos sem copyright em várias áreas, como experiências.
Caro Pedro,
ResponderEliminarEu também acho que mudar a lei que tínhamos não é urgente, e tem que ser algo pensado e gradual para manter certos mecanismos de controlo de actividades comerciais. Não proponho que subitamente fique tudo domínio público.
O problema principlal é a aplicação da lei ao conteúdo digital. Os números sempre estiveram no domínio público. Se dantes nós atribuissemos um numero a cada letra e codificássemos um texto como uma sequência de números isso não seria violação de copyright. Nem era uma cópia do texto, nem era coberto pelos direitos de autor.
Ao aplicar o copyright ao conteúdo digital alteram estas leis de uma forma absurda e que nos rouba de muito que já estava no domínio público.
Ok Lufwig,
ResponderEliminarEntão o Copyright aplica-se onde, no caso da música transmitida via internet? Na cópia de mp3 para "cda"? No altifalante a vibrar? No ar a comprimir-se e a rarefazer-se? No tímpano a vibrar? Na transdução pelo cérebro? De facto o teu argumento é "limpo".
Miguel Caetano,
ResponderEliminarLamento discordar, mas, as economias locais que defende são uma falácia. Quem compra um filme na feira, pirateado compra porque é novo, e por vezes ainda nem sequer saiu em Portugal, por isso o não afectar os resultados das vendas é falso. Ninguém anda a piratear os filmes de 1980, nem de 1990. A pirataria é dos filmes recentes, e no caso da musica, é a pimbalhice recente. Não encontro lá nada do que eu oiço à venda, de certeza absoluta, por isso essa economia local é mais restritiva ainda do que a politica das editoras, e não leva a nenhum melhoramento cultural. É tanga de advogado a tentar preparar a defesa dos "chulos" de feira. É defender o ócio, pois, dedica-se a essa actividade quem não quer trabalhar, por muito que venham chorar que a vida de feirante é dificil. É dificil para alguns, não é para esses.
Num país em desenvolvimento o caso é um pouco diferente, pois, não existe a necessidade da pimbalhice de uma forma tão obvia, e o ostracismo a que são vetados por editores e afins torna a pirataria uma forma de acesso básico, e não de exploração. Mesmo assim, essa treta da diferenciação de preços, é absurda. Havendo diferenciação de preços gera-se o contrabando. E acontece o mais estupido dos efeitos económicos, que se vê na nossa economia actualmente. Preços mais baixos, implicam menores necessidades de aumentos salariais.
Se a agua em portugal custasse os mesmos 2,5 Euros por uma garrafa de 33cl que na Suécia, e se tivessemos os mesmos preços que os suecos, dificilmente se sobreviveria com o nosso salário médio de 750 Euros, e a única solução implicaria melhoramentos salariais, mais não fosse, porque sobrando menos dinheiro para todo o resto, os preços e o consumo cairiam a pique. As coisas têm tendencia para interagir de formas complexas que os analistas teoricos gostam de deixar passar nestas estiradas intelectuais a que se prestam.
Oi Miguel,
ResponderEliminarA música que se ouve nos altifalantes é uma cópia da música original. Se é para aplicar o copyright, seria ai.
No resto do processo tens algo como 123, 45, 67, 99, 12, 0 ,... Ora isto é tanto cópia de uma música como de um soneto do Camões, depende só como o interpretas.
Pior aínda, sequências de números já eram do domínio público antes de inventarem a internet, e não são sujeitas a copyright. Retirá-las do domínio público e abrir uma excepção para dar mais lucro à industria é um erro.
Mas o argumento último é que o copyright é um mau incentivo com a tecnologia que temos hoje em dia. Quando todos podem fazer cópias à vontade e um livro pode vender dez milhões de exemplares num dia, não faz sentido andar a polícia nas casas das pessoas para garantir exclusividades por setenta anos.
Faltou-me este detalhe, que o mário miguel acabou por referir...
ResponderEliminarEssa análise "estanque" dos efeitos é das maiores hipocrisias das economia. Nada é estanque, toda e qualquer alteração tem uma influencia de forma diferencial ou marginal em todo o resto.
Se vender mais barato em espanha que em portugal, qualquer bem terá tendencia a transpor fronteiras de forma ilegal. Veja o exemplo das lojas espanholas de electrodomesticos que trazem de espanha produtos destinados ao mercado espanhol. Se o produto necessitar assistencia, o consumidor está quilhado! Não trocam nem reparam nada, e se apresentar queixa no fabricante, é ignorada porque o produto está fora das condições contratuais. Se os custos fossem iguais dos dois lados da fronteira, não era necessário trazerem produtos "ilegais" para conseguir melhores preços, e convem referir que os custos deviam ser iguais, mas, os fabricates fornecem os mesmo produto com preços diferentes nos paises.
António,
ResponderEliminarMas faltou-te aí um ponto muito importante: a pirataria (vende de cópias sem autorização) traz a cultura a muita gente que nunca poderia pagar os preços que os editores pedem (nem são um mercado).
Se legalizassem a partilha conseguia-se isto ainda melhor. E com um impacto mínimo no mercado de entretenimento, porque quem tem dinheiro (que é quem lhes interessa) gasta-o à mesma. Se vendiam menos DVDs vendiam mais bilhetes de cinema. Se vendiam menos discos vendiam mais bilhetes de concerto. Se vendiam menos livros de bolso vendiam mais livros de capa rija, edições especiais assinadas, ou outras coisas que certamente iam inventar. Porque o dinheiro que o pessoal gasta em entretenimento é apenas função do dinheiro que tem para gastar em entretenimento, e não função de quanto custa o entretenimento.
Ludwig,
ResponderEliminar«A música que se ouve nos altifalantes é uma cópia da música original. Se é para aplicar o copyright, seria ai.»
Então o copyright, é aplicado à diferença de pressão das moléculas de ar? Se não a posso aplicar a um número, posso aplicar às variações de pressão do ar? Não tem o mínimo sentido.
A pirataria é dos filmes recentes, e no caso da musica, é a pimbalhice recente. Não encontro lá nada do que eu oiço à venda, de certeza absoluta, por isso essa economia local é mais restritiva ainda do que a politica das editoras, e não leva a nenhum melhoramento cultural. É tanga de advogado a tentar preparar a defesa dos "chulos" de feira. É defender o ócio, pois, dedica-se a essa actividade quem não quer trabalhar, por muito que venham chorar que a vida de feirante é dificil. É dificil para alguns, não é para esses.
ResponderEliminarEssa de acusar que a pirataria é só pimba é um bocado elitista, não? Mais um bocadinho e quase que podia dizer que os músicos são todos uns ociosos, portanto não merecem ser protegidos... E já agora, explique-me lá porque é que a pirataria não pode levar em certas situações a uma melhoria no acesso à cultura. Já ouviu falar em Tecnobrega?? É toda uma indústria musical baseada na pirataria em que todos ficam a ganhar.
Dos artistas de tecnobrega, 88% nunca tiveram nenhum contato com gravadoras. E 59% avaliam que o trabalho dos vendedores de rua têm influência positiva em suas carreiras.
O tecnobrega é a música mais ouvida no Pará. Em Belém, esse mercado é formado por 73 bandas; 273 aparelhagens (equipes de som que realizam as festas de tecnobrega); e 259 vendedores (de CDs e DVDs) que trabalham nas ruas da cidade.
O funcionamento: as bandas e DJs gravam de uma a quatro músicas num estúdio (normalmente caseiro). Mandam as canções para rádios e aparelhagens. Os camelôs compilam as músicas de maior sucesso em um CD e vendem nas ruas. O CD custa entre R$ 3 e R$ 4 (entre 1,10 e 1,50 euros) ; um DVD, R$ 10 (3,65 euros).
(…)
Segundo a pesquisa, o faturamento mensal total dos artistas com as vendas de CDs e DVDs é de cerca de R$ 2 milhões (730 mil euros).
Ah e quanto aos filmes, o António disse:
ResponderEliminarquem compra um filme na feira, pirateado compra porque é novo, e por vezes ainda nem sequer saiu em Portugal, por isso o não afectar os resultados das vendas é falso.
Até parece que as pessoas que costumam comprar filmes em feiras são frequentadores habituais das salas de cinema. A verdade é que na maior parte dos casos elas nunca foram. Até lhe poderia dar a mão à palmatória se estivesse a falar das pessoas que efectuam o download do filme através da Internet, mas agora as pessoas que compram nas feiras... não brinque comigo ;-)
Miguel Caetano,
ResponderEliminarOlhe que o António pode brincar consigo, pode:-)
Quando andava na faculdade, quase todos os meu colegas eram clientes da feira da ladra, se é que me entende, e iam também ao cinema.
E lembro-me perfeitamente muitos dos critérios usados para ir ao cinema ou não:
- Se for um filme com efeitos especiais, vou ver ao cinema; se não depender de uma grande tela, vou comprar uma "cópia de segurança".
E isto era um dos critérios mais usados, um outro bastante usado critério era:
- Se for um filme considerado mediano, ou com actores que não me agradam por ai além, vou comprar uma "cópia de segurança".
E o Teaser tinha muita influência na opção de ir ao cinema, a o haver a "cópia de segurança" criava esta opção de escolha.
Quando andava na faculdade, quase todos os meu colegas eram clientes da feira da ladra, se é que me entende, e iam também ao cinema.
ResponderEliminarO microcosmo de frequentadores da Feira Ladra em meados dos anos 90 não pode ser visto como uma amostra válida de todos os clientes das feiras em Portugal, já para não falar do mundo. Ainda para mais essa situação hoje em dia já perdeu razão de ser, uma vez que 95 por cento de todos os estudantes universitários possuem uma ligação à Internet.
Mário Miguel,
ResponderEliminarÉ possível conceder exclusividade de cópia se conseguirmos distinguir o que é cópia de uma coisa daquilo que é cópia de outra. Com as vibrações do ar é fácil: por ouvido dá logo para saber se é cópia ou não.
Com um ficheiro no computador isso é impossível. Uma série de 0s e 1s não é, por si só, nem música nem texto nem imagem. Depende de como é interpretada. Se pões na lei um critério fixo para determinar se o ficheiro X é cópia da obra Y, por exemplo se resultar em algo semelhante quando interpretado por um algoritmo de uma lista pré definida, então não tens copyright nenhum porque é trivial codificar Y de outra forma qualquer.
Se não tens um critério fixo, e dizes que X é cópia de Y desde que possa ser interpretado como algo semelhante a Y por qualquer algoritmo presente ou futuro, tens o problema de isto ser válido para qualquer ficheiro de computador. Subitamente, as tuas fotografias das férias são legalmente músicas da Mónica Sintra.
Isto porque um ficheiro de computador é exactamente o mesmo que um número escrito em binário. Pode ser um número estupidamente grande, mas isso é irrelevante para a matemática ou para os computadores modernos. E é trivial converter um número noutro qualquer. Ou proíbes a álgebra ou não há hipótese de implementar o copyright digital.
Mário Miguel,
ResponderEliminar«Quando andava na faculdade, quase todos os meu colegas eram clientes da feira da ladra, se é que me entende, e iam também ao cinema.»
A questão relevante é se iam menos ao cinema por causa da feira da ladra. Pelo que contas, não era esse o caso.
Para mim, o factor que alterou a frequência com que ia ao cinema foi ter filhos. Durante os primeiros anos praticamente deixei de ir. Agora que têm 6 anos vejo o Mr.Bean em férias, o Wallace and Gromitt, e essas coisas.
A facilidade de obter estes filmes pela internet é irrelevante, porque ir ao cinema é completamente diferente. Neste momento o factor mais importante é o preço. Irmos os quatro ao cinema são uns vinte euros, e é isso que nos faz ir menos vezes...
Miguel Caetano,
ResponderEliminarEssa do elitista é das melhores perolas que aqui vi. :-)
Se você nunca pôs os pés no Olivais shopping na sessão da meia noite, ou no Colombo, ou em qualquer cinema, aceito que foi um argumento com algum critério da sua parte, mas, as vezes que apanhei com frequentadores de feira nessas sessões permite-me rir perdidamente desse seu argumento.
O tecnobrega que falou, é mesmo o problema que referi da distribuição pirateada. Um cd pirateado disso, não servia para mais que uma base de copos. Se me disser que aquilo que eu oiço lá se vende, aí teria ganho qualquer coisa no argumento. Substituir o Tou e o Emanuel por pimba brasileiro, mantem a pimbalhice no mesmo nível, mas, noutro país. E não é ser elitista, que a musica que oiço não é para elites, simplesmente não é o mainstream agradável nem o pimba deplorável.
Portanto, e aviando os dois cometários de uma só vez... Sim, o technobrega é pimba (com sotaque), nem oferecido o queria quanto mais se pagar por ele. Além de a economia do brasil não servir de exemplo para ninguém, já que é demasiado local. Se eu gostar de Stone Roses há de me dizer em que feira basileira é que compro, e se pensa que são eleite, desenga-ne-se que são o mais chunga que os bairros de manchester conseguem oferecer.
Os filmes são pirateados e vendidos nas feiras em todo o país e quem os compra na Ladra, no Relógio ou nas FICs, vai ao cinema sempre que não puder obter a cópia pirata, e não são só os pobres que compram na feira... Isso é que é elitismo. Essa de acreditar que a feira é só para o coitadinho sem posses que não vai ao cinema, nem vê se não for pirateado. Até os juizes do tribunal de cascais vão comprar contrafacção na feira e não é por serem pobres, por isso cuidado com os argumentos. Eu vivo-os todos os dias, e sei o que vejo, não deixo que vejam ou pensem por mim!
António:
ResponderEliminarSe os juízes do Tribunal de Cascais gostam de ser beneméritos dos feirantes quando podem descarregar à fartazana da sua ligação doméstica d 24 MB pagando apenas o preço de um DVD virgem - e isto apenas se o quiserem gravar... - ninguém tem nada a ver com isso. Eles lá sabem de si. Agora, se a pirataria ambulante desaparecesse de um dia para o outro muita gente sem acesso à Internet e sem computador ficaria privado de uma enorme fonte de cultura e conhecimento.
Mais uma vez: o comprador típico das feiras e da venda ambulante EM TODO O MUNDO não quer saber de Stone Roses, Ele quer saber da música que lhe diz algo, seja ela Pimba, Brega, Malhão, indianices, chinesices. Analisar o fenómeno da pirataria exige que uma pessoa se distancie do ponto de vista típico da classe média. Na sua generalidade, a classe média não compra DVDs copiados em massa porque dispõe dos recursos económicos e intelectuais para aceder aos conteúdos através da Net.
António,
ResponderEliminarPenso que há aqui um desentendimento acerca da palavra «cultura». Um sentido é aquilo que é hip, ou cool, ou diferente, ou que só alguns apreciam ou conhecem.
Outro sentito é que cultura é aquela matéria prima que está acessível à inovação. Que se usa para criar mais cultura. E essa tem que ser a que é livre. Seja pimba, brega, ou o que for, o que está fechado por direitos de exclusividade não é cultura no sentido mais importante.
Esses mercados paralelos que o Miguel menciona são relevantes não só por tornarem esses produtos acessiveis ao consumidor mas por os tornarem acessíveis ao criador. Ou seja, por os tornarem cultura, mesmo que a aches pindérica.
Ludwig e Miguel (vai uma rodada colectiva),
ResponderEliminarEm nenhúm sitio eu digo que o technobrega ou outra pimbalhice não é cultura! Releiam lá o que eu digo e peçam desculpa com jeitinho que eu hoje estou sensivel. :-)
O que eu digo é que a feira não é a fonte de cultura por excelencia que afirmam. O meio de distribuição é irrelevante para a questão. A questão é o produto em sí. O technobrega não tem copyright e por isso o que a feira faz é do interesse dos autores e feirantes em simultâneo. As perolas de cultura locais são objectos locais, e não interessam para o conecito Ludwigiano :-) de massificação de cultura. Tu próprio o disseste, que a pirataria era a forma de colocar ao alcance dos habitantes de paises em desenvolvimento o conteudo que por falta de interesse económico as editoras não distribuiam lá, e quando o fazem é a preços proibitivos. Esta afirmação ainda é mais elitista que as do Miguel Caetano, pois presumes que quem vende nessas feiras vai vender muito mais barato ao ponto de fazer a diferença, como se não tivessem que pagar os custos da reprodução e o respectivo hardware!
As populações realmente pobres que o teu comentário visava fazem a própria cultura, não a usam "enlatada" como a classe média ocidental. Parece-me que quem está a fazer confusões com a classe média ocidental e seus tiques não sou eu. Ou algum de vocês acha que quem não pode dar 10 Euros por uma obra passa a poder dar 5 ou 7 por uma cópia. Sejam realistas... Nenhum pirateador de cultura vende abaixo de preço de custo, e tirando os livros, todo o resto implica ter dinheiro para comprar leitores, e hardware de qualquer género para aceder a conteudo. Que também aposto que é pirateado mais barato que o preço de custo para encaixar no modelo do pobrezinho cultural?
É por isso que eu digo que neste assunto há que ter cuidado com generalizações dos interesses a nível mundial, e tens que pensar os argumentos de forma global. Tentar projectar os interesses de classe média ocidental, nos pobres desgraçadinhos, porque eles querem aceder aos conteudos é à "economista". :-) Esses é que de 500 variáveis em jogo tentam explicar um fenómeno só a partir de 2, e quando contrariados pelos resultados visíveis, apontam a outras variaveis que sabotaram as premissas.
Por isso expliquem-me lá:
-Quem é pobre e só acede a cultura nas feiras, paga mais ou menos que o preço de custo da cópia?
-Qualquer cópia digital de o que quer que seja necessita de um "leitor" em hardware. Este é mais barato para pobrezinhos que vivem da oferta da feira? Ou de repente um leitor de CDs já custa menos de 50 Euros?
-A vossa projecção da cultura digitalizada, ocidental, faz sentido na musica africana, asiática ou nos costumes diferentes dos ocidentais? Não há copyrigyt no brega, nem no bangra, nem nos cantares alentejanos, nem na musica africana... Ou vosses andam a querer vender-me que eles querem vêr Brad Pitts, Rambos, e tretas dessas em DVD? E ouvir musica ocidental em CD? Ou querem saber do ultimo prémio nobel da literatura?
Revejam lá as vossas definições, e lembrem-se que nem todo o mercado de feira é ilegal. A nossa discussão não é sobre o mercado de feira, mas, sobre a cópia ilegal que também ocorre nesse mercado de feira. Comparar cópia ilegal com actividade de feira no geral é uma generalização elitista da vossa parte, presumindo que na feira em qualquer lugar do mundo só se vende cópias ilegais de tudo. Isso, é mais tuga do que vossês imaginam, e são vocês a projectar os vossos costumes no resto do mundo.
António,
ResponderEliminarUm DVD gravável cá em Portugal, importado da Ásia e depois de metida a taxa para a SPA, custa cerca de 0.50€. Um DVD para produção numa fábrica da China custa muito menos. A mesma fábrica que faz os DVDs que vão vender aqui a 20€ pode produzi-los a 1% desse preço.
Um Chinês de classe média não consegue pagar 20€ por um DVD, mas paga bem os cinquenta cêntimos que custa lá.
Mas penso que o teu erro fundamental é achares que é cultura uma coisa que só uns podem ter, contra pagamento, e da qual só um pode criar obras derivadas. Isso é negócio, não é cultura. Cultura é aquilo que está acessível a toda a população e que todos podem usar num acto criativo.
O bacalhau à braz é cultura. A nona sinfonia de Beethoven é cultura. Os Lusíadas e as anedotas são cultura. Tudo o que está sob copyright é mero negócio. Nem é acessível a todos nem se pode fazer nada com isso. Só violando o copyright é que essas coisas se tornam, na prática, cultura.