segunda-feira, julho 30, 2007

Copy Vai-te...

A Sun é um dos principais promotores do OpenOffice, um rival gratuito e open source* do Office da Microsoft. O OpenOffice foi o primeiro aplicativo do género a guardar os documentos em formato XML, um formato padrão de acesso livre. Em contraste o Office da Microsoft guarda os documentos em formatos proprietários que só a Microsoft oficialmente conhece, é caro, e alterar-lhe seja o que for é crime. Em 2003 a União Europeia solicitou à Sun que participasse na elaboração de normas para uniformizar o formato dos documentos electrónicos de escritório, como folhas de cálculo e documentos de texto. Uma norma destas deve ser aberta e em linha com os formatos padrão que já são usados.

Cá em Portugal o IPQ formou a Comissão Técnica de Linguagem de Normalização de Documentos para discutir as normas ISO. A Microsoft é representada por duas pessoas, uma das quais é presidente da comissão. Há representantes de empresas como Primavera e Jurinfor, parceiros da Microsoft em Portugal, e da ASSOFT, a associação Portuguesa de software comercial. Não há participantes de universidades, bibliotecas, ou outras organizações com interesses e conhecimentos em documentação estruturada. E agora recusaram a os pedidos da Sun e da IBM para participar na comissão técnica. A justificação foi que não havia mais cadeiras na sala.

Ser a Microsoft com os seus compinchas a decidir as normas ISO para a estrutura de documentos é um escândalo que dá brasa para muita sardinha, mas vou puxar só à minha. Não é por acaso que o encerramento do BTuga dá noticias em todos os canais de TV mas uma coisa destas não aparece em lado nenhum. Passou-se há duas semanas, mas só soube hoje pelo blog espanhol do Jorge Cortell (1). Foi seguindo as fontes de notícias espanholas que fui dar ao Abre-te Software, do Paulo Vilela (2). Nem é por acaso que as empresas que usam formatos fechados e proprietários conseguem controlar uma comissão cujo objectivo é criar padrões para todos usarem. É pelo dinheiro e poder que a lei lhes dá ao conferir monopólios sobre informação.

É ingénuo pensar que basta oferecer software e música por outras vias que não empunhando o copyright para resolver o problema. E é errado pensar que o direito de proibir os outros ou manipular mercados é de exercer ou não conforme se achar melhor. O facto é que este sistema está podre.

* open source: o código fonte é disponibilizado e pode ser alterado e distribuído com as alterações. Wikipedia.

1- Jorge Cortell, 30-7-07, Instituciones públicas se dejan y Micro$oft se aprovecha
2- Paulo Vilela, 16-7-07, Sun Microsystems "sem espaço" na normalização de documentos em Portugal

9 comentários:

  1. Alguém se lembra disto? http://jn.sapo.pt/2006/01/31/em_foco/bill_gates_apoia_plano_tecnologico.html

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  2. Somos todos culpados... porque não deixamos todos de gravar os documentos em formato M$. Melhor ainda, porque não começamos a usar o openoffice ? o excel tem as Macros VBA mas o Word é perfeitamente substituivel...

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  3. Anónimo,

    O problema é que isso dá trabalho, porque não há compatibilidade.

    Com o XHTML, CSS, Java, e outros não há esse problema. Podemos escolher o browser e o sistema operativo que quisermos, e aceder assim a milhentos documentos de formato aberto.

    Mas quem começa a trabalhar com o Word fica encravado. Para o utilizador normal, mesmo sendo o OpenOffice a mesma coisa tem o problema de converter os seus ficheiros. O uso de formatos proprietários ajuda o monopólio, impede a concorrência e lixa o consumidor.

    O plano da Microsoft é avançar com uma norma sub-especificada, em que partes da estrutura podem depois ser especificadas por formatos proprietários. Não só fica em vantagem em relação à concorrência por ditar unilateralmente uma norma para a qual já tem o trabalho todo feito, como aínda terão uma norma que permite deixar partes proprietárias e escondidas, o suficiente para lixar a interoperabilidade e continuar a manter os clientes presos ao monopólio.

    É claro que a culpa é de todos. Se simplesmente deixássemos de comprar coisas a quem quer que usasse estas leis, estava o caso resolvido. Mas isso é difícil. O melhor era acabar com os monopólios que a lei concede e a coisa resolvia-se por si.

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  4. Ludwig,

    Vou partir para um caso pratico para explicar como é dificil esse progresso.
    É estupido, mas, é real.
    Quando comecei a estudar um pouco o XML para conseguir dar apoio na empresa em que trabalho à equipa de desenvolvimento, o propósito era integrar um software de gestão documental no nosso ERP. Deram-me o ficheiro de XML, e qual a informação que os documentos deviam conter no ERP. Estava tudo no XML, mas, aquilo fazia pouco sentido. Quando finalmente percebi o XML e o conteudo do ficheiro é que reparei que aquele XML era a obra de um idiota chapado! E encontrei mais não sei quantos documentos XML iguais noutras fontes. A questão é que se tens um campo com a informação "Autor", é essa a tag que se deve usar para o nomear em XML, não é "1", que por acaso, umas tags mais à frente é "5" e depois "9", e por aí em diante. de 4 em 4 tags havia uma tag cujo valor era "Autor" seguida na tag seguinte do nome do Autor, a tag seguinte tinha o conteudo "Obra" e o seguinte era o nome da obra...
    Ou seja, não havia hierarquia, havia apenas um rowset e uma row, onde estavam espalhados 500 tags, correspondentes a 125 entradas. Isto porque alguém achou que para usar XML para transmitir informação era por tudo de forma sequêncial como um ficheiro com separação por virgulas. Usou mais de o dobro do espaço para transmitir a mesma informação, sem permitir o proveito de um protocolo como o XML.
    Isto serve para dizer, que a Sun, que sempre fez coisas excelentes está demasiado à frente para o intelecto do utilizador/programador médio. Não adianta discutir standards abertos, se depos vem um idiota qualquer, tentar codificar o standar aberto para parecer a treta que a microsoft impinge. Se o star office pegasse, havia de haver um inteligente que ia criar um conversor para gravar todo o trabalho em MS Office whatever. O tipo ainda seria capaz de jurar ter tido uma epifania, que o levou no caminho do MS office.
    A estupidez humana é brutal!

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  5. Portugal aprova standard OOXML proposto pela Microsoft:
    http://tek.sapo.pt/4L0/762309.html

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  6. Já tinha proposto algo vagamente parecido, neste bolg; em que quem compra verá "algum" de volta...

    Disco financiado por utilizadores da Internet

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  7. Já agora: tinha feito essa proposta
    aproximada, no comentário das 11:31 PM, no Post "Tudo doido...", mas ninguém me ligou nenhuma :(

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  8. Miguel,

    Não reagi ao teu outro comentário porque não me oponho a qualquer modelo de financiamento que funcione pela participação voluntária dos intervenientes.

    Como não me oponho que o merceeiro dê o troco em rebuçados, ou que faça fiado, ou o que for desde que seja um acordo voluntário entre ele e os seus clientes.

    O que estou contra é legislação que imponha um modelo específico.

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