domingo, janeiro 28, 2007

O que as proteínas nos dizem.

Agradeço mais uma vez ao Jónatas Machado, desta feita pela referência ao artigo criacionista «Did God create life? Ask a protein» (1). Interessa-me porque trabalho em modelação de interacção e estrutura de proteínas, e não pelo artigo em si, que sofre de defeitos comuns da literatura “cientifica” criacionista. Rebate hipóteses há muito descartadas pela comunidade científica e usa uma analogia enganosa: a IBM montou um supercomputador para prever como uma proteína se forma, e o cálculo pode demorar um ano, mas a célula faz uma proteína em menos de um segundo.

E daí? Eu dou um salto no ar em menos de um segundo, mas se me pedirem para calcular os parâmetros de um modelo matemático que descreve a trajectória de todos os meus ossos, a força em todos os músculos, a aceleração, a pressão nas articulações e assim, nem um ano me chega. E eu sou mais esperto que uma célula – essa nem se safa com o 2+2. Mas em vez de dissecar o artigo vou vos contar o que as proteínas respondem à pergunta dos criacionistas. Vou começar do início.

Uma proteína é uma molécula com milhares de átomos, produzida ligando moléculas mais pequenas (aminoácidos) numa sequência determinada pelo gene. Conforme a «lombriga» vai crescendo, vai se enrolando numa forma complexa que depende da interacção dos diferentes aminoácidos na sequência. Vou ilustrar com a mioglobina, uma proteína com 153 aminoácidos que armazena Oxigénio nos músculos dos animais. A figura 1 mostra a estrutura da mioglobina de humano, foca, e tartaruga.


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Figura 1 (clique para ver maior)

A laranja marquei os aminoácidos que são diferentes da mioglobina humana. A foca tem 25 e a tartaruga tem 48 aminoácidos diferentes da nossa mioglobina. No entanto têm todas a mesma estrutura. Isto é surpreendente porque sabemos, por experiência, que a estrutura é muito sensível aos aminoácidos na sequência. Se mudamos um aminoácido muitas vezes a estrutura é preservada. Mas se mudarmos mesmo que uma meia dúzia o mais certo é estragar tudo. 48 aminoácidos é um terço da mioglobina – é surpreendente que um designer inteligente mude um aminoácido em cada três quando quer que a proteína fique exactamente na mesma.

Do design inteligente de sistemas complexos, como máquinas ou seres vivos, esperamos uniformização de partes. Se comprarem móveis no IKEA vêem que há alguns tipos de ferragens e cavilhas que servem para todo o mobiliário. A primeira coisa que as proteínas nos dizem é que, se a vida foi criada com alguma inteligência, foi por vários criadores, provavelmente em comité.

Mas nem isso. Mesmo num design por comité, o criacionismo prevê que a foca fique algures entre nós e a tartaruga. Pelas diferenças, 25 para a foca e 48 para a tartaruga, a foca devia ficar sensivelmente a meio. Mas a figura 2 mostra que não conseguimos encaixar a foca assim. É que entre a mioglobina da foca e da tartaruga há também 48 diferenças.


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Figura 2

Para um criador omnipotente tudo é possível. Podia ter feito as coisas exactamente assim. Mas podia ter feito de outra maneira, e por isso como explicação não serve. Não há nada no design inteligente que nos leve a concluir que é assim que as proteínas deviam ser. Antes pelo contrário; esperávamos que fosse de outra maneira.

Felizmente, temos uma teoria muito melhor. Há muitas gerações havia uma população de organismos com uma mioglobina. Quase todos nasciam com a mioglobina igual à dos pais, mas de vez em quando, por um erro acidental, um nascia com um aminoácido diferente. Se essa mutação afectava a estrutura da mioglobina provavelmente o desgraçado morria logo, porque a mioglobina já funcionava bem e não havia muito que se pudesse mudar. Mas se a mutação não afectasse nada o organismo vivia, reproduzia-se, e passava a sequência diferente aos seus descendentes.

Partes desta população foram se isolando, mudando independentemente, e dando origem a novas espécies. Ao longo do tempo foram-se acumulando as tais mutações neutras, que não mudavam a estrutura da mioglobina. E como eram aleatórias eram diferentes em linhagens diferentes. Hoje em dia temos uma árvore de família como a da figura 3.


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Figura 3


Nós e a foca partilhamos um antepassado mais recente, por isso somos mais parecidos, mas a tartaruga está equidistante de ambos, partilhando connosco e com a foca um antepassado mais antigo. Os humanos e as focas são primos mais próximos, e a tartaruga um primo afastado dos dois.

Isto é válido para a milhares de proteínas e milhares de espécies. Estas árvores de família aparecem todas as vezes que olhamos para as proteínas de espécies diferentes, e são coerentes entre si. Quando perguntamos às proteínas se foi um deus que criou a vida, a resposta é clara: «Não, que disparate.»

1- Thomas Heinze, Did God create life? Ask a protein

Detalhes técnicos:
As estruturas estão disponíveis no Protein Data Bank. Usei a 2MM1 para a mioglobina humana, 1MBS para a de foca, e 1LHS para a de tartaruga. A estrutura da mioglobina humana é um mutante, com a Cisteína 110 substituida por Alanina, mas contei com isso para as diferenças (se não dava 24 em vez de 25 comparando com a foca, o que também não era muito importante). Para os bonecos e as contagens usei o meu software favorito de modelação molecular: Chemera, acrescentando umas linhas de código para facilitar mudar as cores dos aminoácidos diferentes sem ter que os seleccionar um a um. As fotos foram tiradas da net, e não encontrei uma decente de tartaruga marinha, por isso foi mesmo esta da sua prima direita.

14 comentários:

  1. "Eu dou um salto no ar em menos de um segundo"

    Duvido. Pela foto parece gordinho e com a sua actividade a sua agilidade não deve ser grande coisa.

    "E eu sou mais esperto que uma célula – essa nem se safa com o 2+2"

    Aqui está uma grande falácia. O Ludi é um aglomerado de células e o 2+2 é calculado pelas células cerebrais do Ludi. ou será que o EU do Ludi é diferente do EU corporal? Há por aí uma alma imortal que faz cálculos matemáticos?

    "A foca tem 25 e a tartaruga tem 48 aminoácidos diferentes da nossa mioglobina"

    Porquê essa diferença? Explique-me, por favor, porque sou um ignorante nesses assuntos.

    "48 aminoácidos é um terço da mioglobina – é surpreendente que um designer inteligente mude um aminoácido em cada três quando quer que a proteína fique exactamente na mesma."

    Também me parece surpreendente. Existirá uma explicação para esse fenómeno? Vcs, cientistas, já pensaram no assunto e encontraram uma solução?

    "Do design inteligente de sistemas complexos, como máquinas ou seres vivos, esperamos uniformização de partes"

    Diz o povo, na sua milenar sabedoria, que nem sempre se alcança o que se espera. O que o Ludi afirma mostra que está muito longe de perceber os sistemas complexos.

    "A primeira coisa que as proteínas nos dizem é que, se a vida foi criada com alguma inteligência, foi por vários criadores, provavelmente em comité."

    As proteínas falam consigo? O Ludi concluiu isso. Mas será que está certo? Será que se atingiu o auge do conhecimento científico aí na Caparica?

    "Para um criador omnipotente tudo é possível. Podia ter feito as coisas exactamente assim. Mas podia ter feito de outra maneira, e por isso como explicação não serve. Não há nada no design inteligente que nos leve a concluir que é assim que as proteínas deviam ser. Antes pelo contrário; esperávamos que fosse de outra maneira."

    "Como explicação não serve" ?! Ora, ora, Ludi, isso é subjectivo.

    "Felizmente, temos uma teoria muito melhor."

    Ludi, a sua teoria pode ser adoptada por mim, cristão sem formação científica, sem deixar de acreditar em Deus. Mostra apenas que o Ludi chama "acidente" àquilo que não entende. Eu não lhe chamo "acidente", chamo-lhe "ignorância".

    Pode ser que o Ludi vá um passo à frente na explicação do mistério da vida. Mas isso não o torna ominpotente nem dono da verdade. Nem o torna um pequeno deus.

    "Quando perguntamos às proteínas se foi um deus que criou a vida, a resposta é clara: «Não, que disparate.»"

    Disparate é a sua conclusão porque nada do que escreveu no artigo negou a existência do designer inteligente. Simplesmente, mostrou que ainda há muito caminho a percorrer até que o Ludi perceba o que faz por aqui.

    Os "detalhes técnicos" são engraçados, procuram reforçar a sua credibilidade. São como aqueles jogos de feira com 3 cartas "e agora adivinhe lá onde está o ás de copas".

    Um grande abraço e Bom Domingo. Hoje é dia de reflexão, meditação, oração e a missa habitual.

    Um grande abraço ;-)

    António Parente

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  2. Caro António,

    Mesmo o conhecimento mais elementar de física o esclarecerá: a duração do salto depende apenas da altura (para uma dada aceleração gravítica) e não da massa do corpo.

    Um aglomerado de células tem mais capacidades que a soma das capacidades das células aglomeradas. O que não é surpreendente; também um automóvel faz mais que a soma das capacidades das peças.

    O porquê da diferença é explicado abaixo: acumulação de mutações neutras.

    «As proteínas falam consigo?»

    Não, mas dizem-me coisas, no sentido de "indicar, mostrar" que a palavra "dizer" inclui.

    «Os "detalhes técnicos" são engraçados, procuram reforçar a sua credibilidade. São como aqueles jogos de feira com 3 cartas "e agora adivinhe lá onde está o ás de copas".»

    Percebo a sua dificuldade em compreender isto, mais habituado à oração que há investigação. Mas os detalhes técnicos servem para qualquer leitor verificar os dados que eu discuto no texto. Se quiser comparar as estruturas e contar as diferenças nas sequências, é só usar o material que indico nos detalhes técnicos. Explicar o procedimento é essencial em qualquer àrea em que não se queira dependar da fé.

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  3. Caro Ludwig

    Ah! Fiquei esclarecido. Quis dizer que é capaz de se impulsionar no ar em menos de um segundo. Aí já não coloco tanto em dúvida...

    Quanto ao resto do seu pós-comentário não desmentiu nada do que eu escrevi. Mesmo que eu repetisse as suas experiências não mudaria as minhas convicções religiosas. Para que o Ludi tenha razão é necessário que nenhum biólogo seja ateu. Penso que, algures por aí, existirá um biólogo cristão.

    Quanto à sua última observação, concordo consigo: é um disparate misturar fé com experimentação. Por isso, acho todo o seu post uma grande treta. Pode mostrar que a foca tem 25 aminoácidos e a tarturuga tem 48 mas de que maneira isso contradiz a minha fé? Pode explicar-me, por favor?

    Se a mim me falta investigação no campo da biologia, da química e da física, e é um problema insolúvel porque o meu campo profissional é outro, cabe-lhe a si, cientista e investigador, explicar-me em linguagem para "pessoas simples" (eu sou uma "pessoa simples"...), como é que as suas investigações contradizem a minha fé em Deus. Tem de me explicar como é que as suas proteínas negam Deus. É por isso que eu comento os seus textos: tento aprender, esclarecer-me, verificar se o meu caminho espiritual é certo. O Ludi pode ajudar-me nisso. Também o posso ajudar se um dia sentir necessidade de orar. Tanta investigação não é saudável. De vez em quando é preciso parar, pensar, meditar.

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  4. Caro António,

    Ser cristão não implica acreditar que Jesus fez cada proteína individualmente, ou que cada espécie foi criada por milagre em vez de por processos naturais.

    Pelo que conseguimos ver, nem o gelo, nem a areia, nem a vida, foram criadas por deuses. Tudo isto teve causas perfeitamente naturais.

    «Pode mostrar que a foca tem 25 aminoácidos e a tarturuga tem 48 mas de que maneira isso contradiz a minha fé? Pode explicar-me, por favor?»

    Isso depende da sua fé. Se a sua fé for que um deus inteligente criou independentemente a foca, o humano, e a tartaruga, então isto contradiz a sua fé. É claro que a fé pode bem aguentar contradições, e temos muitos e sangrentos exemplos históricos que o demonstram.

    Se a sua fé for que o Benfica vai ser campeão, então isto nada tem a ver com a sua fé.

    O que eu foco no texto é a proposta criacionista que as proteínas sugerem uma criação inteligente e independente dos vários tipos de seres vivos.

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  5. Caro Ludwig

    "Tudo isto teve causas perfeitamente naturais"

    Pode explicar?

    Quanto à sua referência a Jesus penso que surge desfasada do tema.

    Se ser criacionista é acreditar que Deus construiu o Universo e todos os seres vivos segundo leis que o Ludi e os seus amigos cientistas estudam e tentam entender, então eu sou criacionista.

    Se ser criacionista é acreditar literalmente na descrição literária do Génesis, então aí não sou criacionista. Mas continuo crente e católico tenha a foca 25 ou 48 aminoácidos. Isso deve ter uma explicação. O Ludi que é cientista não a entende, atribui-a ao "acaso". Eu direi que tem de se esforçar mais. O "acaso" é a explicação que os cientistas dão quando não percebem uma coisa. Nós, os cristãos, não percebemos muitas coisas mas não escondemos a nossa ignorância no "acaso": dizemos que é um mistério de Deus e temos esperança que um dia nos seja "explicado" porque é que foi "assim" e não de outro modo.

    "Se a sua fé for que um deus inteligente criou independentemente a foca, o humano, e a tartaruga, então isto contradiz a sua fé. É claro que a fé pode bem aguentar contradições, e temos muitos e sangrentos exemplos históricos que o demonstram."

    Diga-me, por favor, como contradiz, porquê e dê-me os exemplos históricos sangrentos que refere.

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  6. António,

    Este texto das proteínas visa especificamente o tipo de criacionismo que diz que cada espécie foi criada inteligentemente e de forma independente.

    O outro criacionismo, do deus que liga o universo e depois deixa as coisas a correr, é refutado pela física e não pela teoria da evolução.

    É claro que estas refutações são sempre de natureza provisória, pois o que sabemos pode ter que ser revisto. Mas mesmo que o conhecimento seja incerto, ainda assim é superior à ignorância.

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  7. «Diga-me, por favor, como contradiz, porquê e dê-me os exemplos históricos sangrentos que refere.»

    A biologia molecular contradiz a hipótese de criação inteligente e independente dos seres vivos porque o que observamos é contrário ao que essa hipótese poderia prever.

    A hipótese prevê um design racional e uniformizado dos componentes. O que se observa é que a maioria das diferenças entre os componentes são irrelevantes para a sua função -- e.g. proteinas a mesma funcionalidade e estrutura mas com sequências de aminoácidos substancialmente diferentes.

    A hipótese prevê que as restrições aos genes sejam meramente as impostas pela funcionalidade. Por exemplo, o genoma do tubarão e do golfinho deviam ser mais semelhantes que o do golfinho e do morcego. O que se observa é o contrário. As diferenças genéticas seguem um padrão de àrvore de família como esperado pela evolução mas surpreendente num design inteligente.

    Estes foram os dois aspectos que foquei aqui.

    Quanto às contradições sangrentas da fé, dois exemplos: a inquisição, em que se salvava pessoas queimando-as vivas, e a santissima trindade, em nome da qual muitos foram perseguidos e executados por se recusarem a aceitar um conceito auto contraditório.

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  8. Ludwig

    Esses debates sobre criacionismo e evolucionismo são interessantes mas fazem-me alguma confusão porque quem os discute tem posições extremadas: ou acredita literalmente no Génesis, ou desdenha da Bíblia ou tenta encontrar Deus num tubo de ensaio. Eu não vou por aí.

    Não me parece que a Física refute Deus. Não vou voltar à discussão do outro dia, mas aquilo que a ciência consegue é apenas descrever aquilo que é observável e deduzir umas teorias para o que não o é. E a Deus ninguém o viu. E, como diz muito bem a Prof. Palmira, o Ludi não precisa de Deus como hipótese para os seus aminoácidos nem do António Parente. E o que é espantoso é que os dois existem, embora em dimensões diferentes.

    Até há pouco tempo eu não sabia que havia neutrinos por todo o lado. Sentia umas comichões, uma urticária de quando em quando, mas atribuía isso à picada de um insecto mais atrevido, ao ataque de uma abelha mais agressiva ou ao choque inopinado com outro ser vivo em relação ao qual tivesse qualquer espécie de alergia. Puro engano. Era tudo devido aos neutrinos. Neste preciso momento, estou a ser bombardeado por biliões que passam invisivelmente pelo meu corpo. Foi o que um doutotrado em Física me disse enquanto cuspia a casca de um camarão. Não os vejo, aos neutrinos, mas tenho de ter fé e confiança naqueles que me dizem que "sim, senhor, nós no CERN fazemos uma experiência e demonstramos que os neutrinos existem". Claro que posso estar a ser vítima de uma fraude científica mas a pessoa que me falou disto merece-me confiança.

    Quanto à religião passa-se a mesma coisa: tenho fé. Acredito que há um Deus por detrás de tudo isto, que me dá inteira liberdade para eu fazer o que quero da minha vida, que não interfere, e que eu nunca vi, nem em sonhos nem numa revelação privada. Quanto a isso, estou a zeros.

    Mas sei que historicamente (vcs ateus, desde o século XIX começaram a colocar isso em causa) existiu Jesus, que se preocupou mais com o sofrimento humano, os oprimidos e desprotegidos do que com rituais religiosos, regras ou normas. Que na descrição que se faz dele nos evangelhos está muitas vezes a comer e a beber, sempre acompanhado por pessoas consideradas "más companhias", e nos intervalos faz curas físicas e mentais. E que nos deixou uma mensagem muito simples: O Reino de Deus é aqui na Terra e façam o favor de ser felizes.

    E é nisso que eu acredito: que devemos procurar a felicidade e eliminar o sofrimento humano. E isso, não se faz só com antibióticos ou anti-depressivos.

    Um resto de bom Domingo e boas revisões das suas teorias.

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  9. Ora bolas, eu a escrever aqui e o Ludi a escrever aí. Depois do Boavista x Sporting passo por cá para ler o resto.

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  10. Bom, finalmente atingi o ponto fulcral da questão. Esse debate entre criacionismo e evolucionismo não me interessa. Tenho para mim que não existe contradição entre ciência e fé. O que existe, dos dois lados, é surdez e autismo. Eu não vou por esse caminho. Nem um criacionista é um cidadão de primeira classe por acreditar em Deus nem um cientista um cidadão de segunda por ser ateu. O mundo em que vivemos não é só preto e branco, tem mais tonalidades...

    Quanto à Inquisição, foi um crime. A Igreja é formada por pessoas e tem na sua história páginas negras. A Inquisição foi uma delas. Se o quinto mandamento diz "não matarás" houve uma época em que a Igreja não cumpriu esse mandamento.

    Quanto à Santíssima Trindade sei que para um ateu é difícil entendê-la. Procure livros de bons teólogos e leia-os. Não significa que vá concordar com o que lê, fica é a perceber do que fala.

    Olhe, termino dizendo-lhe que ainda procuro o meu caminho. Gosto do seu blogue, o Ludi é educado a conversar, é um ateu por quem eu tenho o máximo respeito.

    Vou passando por aqui para ver as novidades.

    Tenha uma boa semana de trabalho.

    Ah! Já agora ponho aqui, a propósito, uma parte da homilia de Bento XVI, hoje no Vaticano, durante o Angelus. Talvez lhe dê um bom tema para um post:

    (...)quando o homem se limita a pensar só em objetos materiais e experimentais, fecha-se aos grandes interrogantes da vida, sobre si mesmo e sobre Deus, se empobrece.(...)
    Na realidade, o desenvolvimento moderno das ciências traz inumeráveis efeitos positivos, que há que reconhecer sempre. Ao mesmo tempo, contudo, deve-se admitir que a tendência a considerar verdadeiro só o que se pode experimentar constitui um limite para a razão humana e produz uma terrível esquizofrenia, evidente para todos, pela qual convivem racionalismo e materialismo, hipertecnologia e instintos desenfreados.(...)

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  11. Ludwig:

    'Encontrei-te' por acaso. Lembras-te do 'Director' do Clube do Jogos de Simulação? Cá estou.
    «Ia a passar» e deparo com um debate em que te situas do lado «scientiphycco» da vida, que tanto me interessa e acompanho. Eu usei uma 'graphia' antiga porque me pareces um positivista-racionalista 'clássico', herdeiro directo do oitocentismo filosófico, materialista e assumidamente ateu -e tens todo o direito. Como tal, a tua argumentação parece-me honesta, independentemente de se concordar ou não. Por isso me detive.

    A propósito da complexa engenharia das proteínas, queria fazer-te uma pergunta: como surgiram as proteínas?

    Em relação à Ciência, creio que há novos horizontes - mas acho que o «Criaccionismo x evolucionismo» tal com estão a ser debatidos é um 'jogo' desigual, perante as múltiplas provas de dogmatismo que tenho visto. E, para dogmatismo já basta o dos 'criaccionistas exaltados'. O 'Intelligent Design' pode parecer - a alguns -'criaccionismo disfarçado', pseudo ciência' ou, até, 'não ciência', conforme as acusações 'rituais' que os 'evolucionistas puros' preferirem; pessoalmentes, como já li alguns 'papers' I.D. genuínos não sou nada dessa opinião, sendo
    todavia apenas um observador interessado.


    Há novas hipóteses - a Ciência é um meio de conhecer a Verdade, mas é a Verdade mesmo que interessa.
    Por isso se vai transformando, em função de novas epistemologias e novas 'verdades'. Ainda há pouco a Science et Vie' nos pedia para 're-elaborarmos toda a nosa perspectiva da história do Sistema Solar'...
    Entretanto, nem só a Física e a Biologia são 'exactas', tudo depende da escala que o Conhecimento exige.
    Se restringirmos a questão a células e a átomos, para ser conciso, então concordarei. Mas uma perspectiva mais abrangente e 'complexa', numa escala 'não quântica', pode exigir conceitos e técnicas de avaliação racional diferentes, com outras 'categorias.
    As 'Fuzzi logics' são funcionais neste domínio. O 'rigor' é de âmbito mais relativo, mas, mesmo sempre referente a um dado contexto, não deixa de ser rigor.

    Parece-me que o problema do aparecimento do Homo Sapiens não foi ainda séria e cientificamente resolvido pela Evolução. Toda a serie de conclusões até aqui empilhadas pela paleontologia, pela biologia e pela Historia, permitiu estabelecer uma série de conjecturas que podemos estruturar num 'Modelo Evolutivo' geral, que dispensa, à partida, qualquer outro factor que não seja o livre decorrer do tempo e a interacção bio-física entre o ambiente e o Homem, as 'mutações' aleatórias, a 'auto-evolução', a 'auto-aprendizagem', os 'caçadores recolectores, as primeiras comunidades, as primeiras cidades e...etc. mas é apenas uma série de conjecturas sistemáticas e lineares. Uma 'teoria', portanto, mas há nela mais 'buraco' que teoria...
    A análise feita a partir do DNA mitocondrial, que situa a nossa origem numa 'mãe' em África há cerca de duzentos mil anos' é talvez o dado mais preciso obtido.
    Ainda assim há controvérsia.

    Porém, de acordo com o título do teu blogue, eu poderia dizer-te que, no seu conjunto, esse Modelo pode ser um grande treta... mas não digo. Muito do se concluiu será provavelmente válido, mas é ainda pouco, e as dúvidas que existem são legítimas.

    A investigação 'no terreno' e a metodologia geral rejeitaram, à partida, e por exemplo, muitos registos escritos das mais antigas civilizações, que foram considerados como 'fantasistas e míticos' e cujas referências não foram tidas em conta. Isto acontece desde meados do séc. XIX, quando começaram as descobertas e explorações no Próximo Oriente e os investigadores e tradutores depararam com uma realidade que não podiam ainda compreender, muito embora um notável trabalho de compilação e tradução tivesse sido iniciado. E já vão 150 anos de reconstituições.

    Noutro tópico, a herança material dos tempos primordiais revela uma capacidade tecnológica desproporcionada com o nível que é atribuído presuntivamente a essa época pela História aceite. Porém, só agora é que técnicos adequados estão a participar em certas avaliações: Engenheiros e Geólogos avançam sobre as pirâmides, o Templo de Baalbek (Líbano) ou as cidades pré-colombianas da América do Sul, para além dos arqueólogos 'clássicos' que não têm formação bastante para avaliar todas as evidências. A datação exacta de muitas construcções só tem sido possível graças à Arqueoastronomia. Bastou um geólogo especializado 'aproximar-se' da Esfinge, analisar o tipo de degradação do Calcário em que é feita para, tendo em conta os dados climáticos, situar a sua construção antes de 7.000 A.C. data em que, segundo a 'escola' não havia ainda Egipto, e, portanto, 'impossível'.

    Reparei que o Génesis' foi já referido. Porém, alguém que participe nestes 'foruns' terá ideia de quando foi escrita a Bíblia? Alguém terá ideia da época em que Abraão foi 'convocado por Deus'? E de que Deus se trataria,
    cerca de 2000 A.C.?

    As tradições escritas a que me refiro são muito anteriores à época em que os sacerdotes Judeus materializaram a Bíblia, por volta dos séculos VI a IV A.C., salvo erro menor. Foi nelas que o Génesis recolheu a informação - mas adaptada à realidade do 'Deus único' que nessa altura os Judeus já reconheciam.

    Os mitos primordiais da Suméria, Acádia ou Babilónia são a fonte primeva que nos deixou versões afins sucessivas, múltiplos registos e relatos com o mesmo tipo de intervenientes que decorrem no contexto de um mesmo 'grande cenário' arquivado nos templos e nas bibliotecas durante mais de 4000 anos. E dão conta de uma realidade herdada de milhares de anos atrás, em tempos 'ante-diluvianos' em que ainda não havia homens na Terra. Neles encontramos referências explícitas a operações que não podem deixar de parecer manipulações genéticas e hibridações sucessivas (com problemas pelo meio) por via do cruzamnento controlado entre uma fêmea de 'homo herectus' e um elemento de uma 'Raça exterior', muito evoluída, técnica e mentalmente. Foram esses 'tutores' interessados que 'apuraram' o Homo Sapiens «à sua imagem e semelhança», inicialmente apenas um 'trabalhador auxiliar', e lhe transferiram posteriormente as tecnologias básicas, prepararam o início da agricultura e o uso de cereais, instauraram as primeiras hierarquias e, naturalmente, como elite dirigente, fizeram preceder os Templos aos Palácios 'humanos', pois foram os seus templos os núcleos iniciais de organização/ delegação de conhecimentos e tecnologias, para além de sede de Justiça.

    Esta é a hipótese da «Intervenção» talvez a mais ousada, mas, por várias razões, a mais consistente de um ponto de vista futuramente científico. Não exclui a Evolução, ou qualquer outro mecanismo natural biológico, e permite compreender como é que foi possível o salto enorme dos pré-hominídeos para o 'Sapiens'. A 'evolução' foi dramaticamente 'acelerada'. Permite também explicar a incrível rapidez relativa com que surgiu a 'súbita' civilização.
    Muitos indícios não relacionados até hoje estão agora a ser investigados. A investigação neste domínio é interdisciplinar e abrange várias áreas, incluindo a Astronomia - há referências que só agora podem deixar de ser vistas como 'fantásticas' uma vez que só agora as podemos compreender.

    Enfim, agradeço-te o tempo tomado.

    Vítor Luís
    (vitor_luis@sapo.pt)

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  12. Caro Vítor Luís,

    Foi uma agradável surpresa ler o teu comentário, e claro que me lembro de ti e do CJS. Muito obrigado por teres parado por aqui.

    Não me considero um positivista, mas mais um realista na linha de Kitcher e Psillos. E acho Lakatos muito melhor que Popper. Vejo os modelos que criamos como mais que meros truques para prever observações. Mas os positivistas tinham razão numa coisa: a única forma de saber se os modelos estão certos ou não é confrontá-los com as observações. O resto, seja intuição, fé, fezada, convicção pessoal, tradição, ou o que for, é treta. Não serve para ver quem tem razão, ou para descobrir se há erros no modelo.

    Quanto ao I.D., se encontraste algum trabalho que te parece verdadeiramente científico, manda. Também sou um observador interessado do I.D. e afins há anos, e nunca vi apresentado um modelo que fosse remotamente adequado como alternativa à biologia moderna. Sem isso não há ciência.

    Quanto ao problema do aparecimento do Homo sapiens, depende do problema a que te referes. O problema de compreender os factos e os mecanismos está bem resolvido, a menos de detalhes que são interessantes mas que já não são o mistério que era antes de Darwin. O problema de muita gente que tem um sistema de valores que depende da nossa espécie ter sido criada especialmente, à imagem de um deus ou de alguma forma excepcional, é impossível de resolver sem deitar fora esse modelo e arranjar um melhor.

    O dogmatismo e o DNA mitocondrial são bons temas para pôr aqui no blog. Vou tratar disso quando tiver tempo. Quanto à questão da intervenção na história humana, espero que não tenhas andado a perder tempo com os livros do von Daniken :)

    Um abraço, e obrigado eu.

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  13. Ludwig:

    A tua singela referência ao 'Daniken' revela a tua (natural) ignorância dos muitos autores da 'História Alternativa. este 'movimento' está ainda no início e disperso pelos 5 continentes. Daniken já lá vai, especulador fácil que é.
    O que ele referiu, e apenas o que era efectivo, representa a ponta da ponta do 'iceberg'. Tornou públicas algumas questões que deveriam ser tratadas seriamente e não tinha preparação para o fazer. Mas as questões, essas, já existiam há muito por resolver. Já agora, que livros leste do Daniken?
    Por outro lado, não tenho tempo a perder...Passaram + de 30 anos desde os livros do Danikem...

    Agora em relação ao I.D.: não é imediatamente indispensável a existência de um 'Deus Criador' para compreender a justificação da existência de elementos que surgem 'desenhados' com um propósito, ou 'projecto' e , portanto, sem aleatoriedade na sua génese. Mas este é um tema que 'dava pano para mangas'. Não há tempo...

    Quanto ao 'valor teórico' do 'Darwinismo' hoje, é claro que não sou biólogo - mas, leio alguns conhecedores. Sobre o I.D., um artigo publicado recentemente no 'Guardian' pode contribuir para esclarecer alguns problemas da Biologia 'ultra-moderna' - de onde, precisamente, o I.D. está a nascer - a contas com as insuficiências do 'darwinismo':

    «If Darwin had known what we now know about molecular biology - gigabytes of coded information in DNA, cells rife with tiny machines, the highly specific structures of certain proteins - would he have found his own theory convincing? Randerson thinks that natural selection works fine to explain the origin of molecular machines. But the fact is that we are still unable even to guess Darwinian pathways for the origin of most complex biological structures.

    Science has turned lots of corners since Darwin, and many of them have thrown up data quite unpredicted by his theory. Who, on Darwinian premises, would have expected that the patterns of distribution and abundance of species in tropical rainforests could be modelled without taking local adaptation into account? Or that whenever we sequence a new genome we find unique genes, unlike any found in other species? Or that bacteria gain pathogenicity (the ability to cause disease) by losing genes?»

    «Intelligent Design is a Science, Not a Faith» The Guardian, January 9, 2007
    By: Richard Buggs, DPhil in plant ecology and evolution from the University of Oxford.

    http://www.discovery.org/scripts/viewDB/index.php?command=view&id=3850&program=CSC%20-%20Views%20and%20News
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    PS: tens o meu e-mail no comentário anterior. Se me enviares o teu poderemos contactar de outro modo...

    VL

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  14. Vítor Luís,

    Já te mandei um email, podemos continuar a conversa em privado. Mas gostava de saber mais sobre essa história alternativa. Podes dar um exemplo de uma hipótese dessa H.A. que consideres seja bem fundamentada e muito diferente do que é aceite?

    Já agora uns nomes de autores para eu dar uma olhada pela net.

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