A outra.
Segundo anunciado no Portal Ateu, no dia 12 foi fundada a Associação Portal Ateu – Movimento Ateísta Português (PAMAP). Apesar dos dois posts a apresentar a PAMAP (1,2), os detalhes são escassos e não percebi bem o propósito desta associação que «tem como objectivos a divulgação do ateísmo, [… a] anulação da influência da superstição e do sobrenatural na sociedade, [...] assim como a gestão de conteúdos online, nomeadamente do sítio Portal Ateu (www.portalateu.com), principal órgão de comunicação da PAMAP.»
Se fosse a Associação Portal Ateu percebia que era uma associação para gerir os conteúdos do Portal Ateu. Se fosse a Associação Movimento Ateísta Português esperava que tentasse representar o ateísmo português. Mas uma associação cujos objectivos, presumidamente lavrados em escritura pública, a comprometem a um site específico na Internet parece pouco compatível com algo tão mais abrangente como a promoção do ateísmo e a «anulação da influência da superstição e do sobrenatural na sociedade». Como esta associação fundada pelo Hélder Sanches e o Ricardo Silvestre dá a impressão de ser um movimento dos ateus portugueses, e como eu sou um ateu português, preocupa-me a confusão que, naturalmente, levará alguns a julgar que o Hélder e o Ricardo são porta-vozes do ateísmo.
Quando formámos a Associação Ateísta Portuguesa (AAP), o processo começou semanas antes da escritura, foi anunciado em vários fóruns e houve um esforço para reunir opiniões e obter um consenso acerca do que deveria orientar essa associação. Na altura até tive uma conversa com o Hélder, que estava preocupado que a AAP acabasse subordinada a algumas opiniões minoritárias e desrespeitasse o consenso. Assegurei-lhe que partilhava essa preocupação e que defendia, como defendo, que «não queremos uma associação ateísta para dizer aos ateus como ser ateu. [...] Queremos uma associação que descreva o que os ateus são e que mostre as preocupações e interesses de quem é ateu.» (3) Ou seja, uma associação para representar fielmente o consenso dos ateus e não para uns falarem pelos outros ou para ser plataforma de protagonismos.
E isto tem sido um desafio. Várias pessoas têm ficado desiludidas porque a associação não faz o suficiente. Não percebem que o ateísmo é, acima de tudo, uma opção pessoal. Individual. É cada ateu que deve militar pelo ateísmo. Uma associação de ateus deve servir apenas para destilar dessa diversidade de opiniões, escolhas e atitudes aquilo que é partilhado pelos ateus. O Hélder e o Ricardo foram duas dessas pessoas, tendo o Hélder abandonado a AAP com uma carta aberta publicada no seu blog (4) porque, pelo que me recordo da reunião que precedeu a sua saída, não concordámos em ter alguém oficialmente mandatado para representar a AAP em debates ou para organizar debates em nome da AAP. Eu opus-me a essa proposta porque acho que nenhum ateu consegue representar os outros. Cada um fala em seu nome, como eu faço aqui neste blog, sem comprometer mais ninguém. E os comunicados da associação são sempre feitos em grupo e só sai aquilo que for aceite por unanimidade. Isto não deixa ninguém completamente satisfeito mas tem evitado que saia asneira ou algo do qual outros ateus discordem. O que é bem mais difícil do que parece.
A PAMAP parece ser exactamente o contrário. Não houve anúncio prévio ou discussão e ainda nem há estatutos publicados. O Hélder diz que «Este é um movimento que representa todos os ateus que se sintam representados por nós»(1). Facilmente exequível, mas faz recair sobre quem não se sinta representado por eles o ónus de o esclarecer. Pelo que descreveram, esta associação está estatutariamente associada ao Portal Ateu. Ou seja, dependente dos seus administradores. E parecem ter pouco cuidado com a forma como apresentam o ateísmo.
«Divulgar o ateísmo e lutar contra as superstições e dogmas que consideram "castradores para a sociedade" são os principais objectivos do Portal Ateu - Movimento Ateísta Português (PAMAP) […] "Não queremos limitar-nos a bater no ceguinho, a atacar a religião. O que queremos é divulgar informação", diz Hélder. "Ajudar as pessoas a pensarem por elas próprias é difícil, mas vale a pena", acrescenta Ricardo Silvestre, outros dos fundadores.»(5)
Ainda não sei bem o que é a PAMAP. Talvez quando saírem os estatutos no Diário da República dê para ter uma ideia melhor. E é com alguma relutância que escrevo isto, porque reconheço que estas divisões podem prejudicar a divulgação do ateísmo. Ou talvez não. Talvez seja bom admitir que há muita coisa acerca da qual não concordamos, e apregoá-lo como uma virtude. Seja como for, quando o Hélder e o Ricardo se apresentam como Movimento Ateísta Português obrigam-me a esclarecer que não tenho nada a ver com isso. Reconheço a cada um o direito a enfiar o pé na boca. Mas apenas na sua.
1- Helder Sanches, 12-9-09, Nasceu a associação Portal Ateu – Movimento Ateísta Português
2- Ricardo Silvestre, 13-9-09, Apresentamos a PAMAP
3- Associação Ateísta Portuguesa, continuação.
4- Hélder Sanches, 19-1-09, Carta aberta à direcção da AAP.
5- DN, 20-9-09, Nova associação ateísta discute influência social da religião
Ludwig:
ResponderEliminarNão te zangues. Acho que eles falharam o alvo. Mas a APA,parece-me que tem problemas de identidade.
Acho no entanto que provavelmente, nesta altura, é aquilo que tem de ser.
Fazia falta no entanto uma associação de cepticos pro-activa, com porta voz e com visibilidade. Uma associaçao a quem fossem pedidas opinioes antes de dar noticias de OVNIS, inventos incriveis e curas miraculosas.
Isso fazia mais falta que outra associação ateista, que se calhar quer ser tudo de uma só vez.
Acho que um associaçao ateista deve ser um pouco mais pro-activa, mas é preciso amadurecer primeiro e ganhar espaço na sociedade, não podemos esquecer que somos um pais religioso. Nada como os numeros de ateismo de Inglaterra ou do norte da europa.
João,
ResponderEliminarHá anos fundei uma associação de cépticos. Ainda temos uma lista de discussão e tudo. Mas penso que hoje as associações têm um papel muito menos relevante. Eu acho que fiz muito mais pelo cepticismo com um blog que alguma vez conseguiria fazer com uma associação. Mas isso também pode ser defeito meu. Talvez a excessiva preocupação com o pensamento independente me tire toda a capacidade de liderança...
Mas se quiseres reanimar a CEPO, força. Junta-te à nossa lista de discussão, motiva a massa de associados e parte à conquista da racionalidade :)
E porque não uma Associação de Cépticos Portugueses (ACP)*? Seria algo muito mais genérico, e abrangente, e simultaneamente menos comprometedor em todos os sentidos. Quando vi a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) foi a primeira coisa que me ocorreu.
ResponderEliminar*Em alternativa a Associação de Cépticos Portugueses (ACP), para não confundir com o Automóvel Clube de Portugal (ACP), poderia ser Associação de Cépticos de Portugal (ACDP), ou Organização de Cépticos Portugueses (OCP).
Ludwig,
ResponderEliminarIniciei a escrita do meu comentário ainda o teu não estava publicado, logo só o vi após publicar o meu devido à actualização da caixa de comentários. Não sabia da CEPO. Só um detalhe, o nome é lixado, presumo que saibas o significado de "cepo", nomeadamente o significado depreciativo.
No curso do meu parco relacionamento com o Portal Ateu, fui informado de que "você não é ateu", e bombardeado com referências a um tal 'Novo Ateísmo'. Achei curioso, para dizer o menos; e ridículo, para dizer o mais. Tendo em conta que penso não precisarmos de nenhuma Polícia Ateísta para ver se os (in)fiéis estão ou não de acordo com o dogma, acho que vou deixar esta passar.
ResponderEliminarMário Miguel,
ResponderEliminarSim, cepo é, figurativamente, pessoa estúpida. Mas também é onde se corta coisas. Acho que a associação das duas ideias é porreira :)
Ludwig:
ResponderEliminarNão conhecia a CEPO. Acho que vou começar por motivar-te a ti. :)
E ao Mario Miguel. :)
Miguel Monteiro:
ResponderEliminarFaz-me um favor. Vais a um blogue chamado "Neo-ateismo, um delirio" e dizes que o Portal do novo ateismo acabou de nascer. Depois vais ao portal do novo ateismo e dizes que o Luciano tem provas que Deus existe. (sim, ele diz que tem). Depois dás uns passos atraz e ficas a ver o fogo de artificio.
Ludwig:
ResponderEliminarEstou a brincar. Acho que ja fazes muito aqui no ktreta. Ainda por cima agora que começas-te a por o teu livro do pensamento critico. Quando sai o proximo volume?
Mas ja viste? Alguns posts daqui até podiam migrar para la.
DNA de Jesus.
ResponderEliminarEssa é interessante:
Sabemos que somos formados a partir da fecundação do gameta feminino pelo masculino, por isso nosso material genético é uma mistura do de nossos pais.
Mas no caso de Jesus a historia é diferente. Se Maria é sua mãe, sabemos de onde vem a metade de seu material genético, mas e a outra metade?
Por esse raciocínio, poderíamos chegar ao DNA de deus, não? Ora, e deus tem DNA? Se não, de onde veio a outra metade? Se sim, nem preciso dizer as implicações disso...
Apontem a falha no raciocínio, se houver.
Miguel Monteiro,
ResponderEliminarSe não simpatizas com preconceitos, faz o que diz o João: lê o neoateismo um delirio, lê o que Treta, lê o Portal Ateu, e tenta perceber onde encontras mais lógica e razão.
Pedro,
ResponderEliminarO raciocínio está correcto, mas omite duas peças importantes. O milagre e o mistério. A crença religiosa pode-se dar ao luxo de defender qualquer disparate ou contradição porque pode sempre invocar um destes.
Jesus herdou 23 cromossomas de Maria e os outros 23 apareceram por milagre. Ou são um mistério. E pronto, não é preciso dizer mais nada.
E Jesus não é só filho de Deus. Jesus é Deus. E é Espírito Santo. São todos um só, se bem que sejam três distintos. Como? Uns dirão que é confusão, mas outros dirão que é um milagre ou um mistério.
Depois há a versão mais sofisticada, que é dizer que a fé é uma forma de razão que transcende a razão humana. Ou seja, deixa de haver regras e vale tudo.
Por isso, se bem que seja relativamente fácil apontar buracos na lógica das crenças religiosas, isso não convence os crentes que até os consideram uma virtude.
Ludwig:
ResponderEliminarO que achas disto:
http://comciencias.blogspot.com/2009/09/testando-hipotese-de-correlacao-entre.html
O EX-ATEU ANTHONY FLEW: CANSOU-SE DE NEGAR O ÓBVIO!
ResponderEliminarPara os ateus deve ter especial interesse a trajectória pessoal e intelectual de Anthony Flew.
Embora nascido e criado numa família cristã (o seu pai era um dos mais conhecidos pastores Metodistas do Reino Unido) Anthony Flew desde cedo se mostrou desconfortável com o ensino cristão, tendo abraçado uma visão do mundo naturalista e ateísta.
Durante a sua vida de estudante e professor de filosofia privou com alguns dos mais célebres filósofos, cientistas e intelectuais (v.g. Ludwig Wittgenstein, Bertrand Russell, C. S. Lewis) ateus e cristãos, em diálogo com os quais desenvolveu os seus argumentos ateístas.
Ao longo de cerca de seis décadas defendeu ferozmente o ateísmo em livros, artigos, palestras e debates.
Ele conhecia os argumentos de ateístas tão diversos como David Hume ou Bertrand Russell, argumentos esses que desenvolveu, aprofundou e sofisticou.
Recentemente, porém, algo aconteceu.
Anthony Flew, que teve sempre o mérito de manter uma mente aberta e seguir a evidência onde ela conduzisse, tornou-se deísta.
O que é interessante, considerando que se estava perante um defensor empedernido do ateísmo. Como ele próprio diz, a sua mudança não se ficou a dever a uma experiência religiosa de qualquer tipo, antes foi um evento exclusivamente racional.
Anthony Flew explica, no seu recente livro “There is a God” (existe um Deus), as razões que o fizeram reconsiderar a sua posição.
Sem quaisquer desenvolvimentos, podemos sintetizá-las em alguns pontos:
1) a existência de leis naturais no Universo corrobora uma criação racional;
2) a sintonia do Universo para a vida corrobora uma criação racional;
3) a estrutura racional e matemática do Universo corrobora uma criação racional;
4) a existência de informação semântica codificada nos genomas corrobora uma criação racional.
Com base nestes argumentos, e principalmente no último, Anthony Flew considera agora não apenas que a posição teísta é verdadeira, mas que ela é cientifica e racionalmente irrefutável.
Embora Anthony Flew não se tenha convertido a Jesus Cristo, ele confessa que se há alguma religião digna de consideração séria, é o Cristianismo, com as figuras centrais de Jesus Cristo e do Apóstolo Paulo.
Se Anthony Flew ousasse considerar seriamente a mensagem cristã, iria ver que ela tem muito a dizer sobre astronomia, astrofísica, biologia, genética, geologia, paleontologia, etc., e que em todas essas disciplinas abundam evidências que a corroboram.
É interessante o percurso de Anthony Flew.
Ele chegou a uma conclusão a que muitos outros já haviam chegado antes: a presença de informação codificada no genoma é evidência clara da existência de uma realidade imaterial, espiritual e mental para além da matéria, da energia, do tempo e do espaço.
"Para os ateus deve ter especial interesse a trajectória pessoal e intelectual de Anthony Flew."
ResponderEliminarNem por isso. Quem era?
Professor de filosofia com amigos famosos. Tipo o Ringo Starr da filosofia? Argumentos racionais? Nada que se mostre e demostre então. Vamos la ver:
1) a existência de leis naturais no Universo corrobora uma criação racional;
Ora vamos lá a ver... Mas porque raio de carga de agua? É que não faz sentido nenhum. As leis naturais são naturais. Se Deus criou as leis naturais podia então ter dado um geito para a gente poder ir ver marte, ter mais energia diponivel, não haver residuos, etc.
2) a sintonia do Universo para a vida corrobora uma criação racional;
Porque? Principio antropico... Se existe vida é porque o universo o permite. Se não tivesse esta configuração não estavas aqui para fazer a pergunta. Se não, então podemos dizer que a sintonia do universo para a criação de esgotos corrobora a criação racional. Porque tudo aponta para criar vida e a vida precisa de saneamento basico quando em grandes numeros e o universo providenciou uma maneira de o conseguirmos fazer. E o virus da Sida, se falasse, diria que impressionante era o corpo humano que parece mesmo feito para o multiplicar.
3) a estrutura racional e matemática do Universo corrobora uma criação racional;
Outra vez? Mas se ser racional é predcisamente compreender como o universo funciona, compreender o que é possivel e não é, não sera este argumento circular? Alem de um repetição obvia do primeiro postulado?
4) a existência de informação semântica codificada nos genomas corrobora uma criação racional.
Népia, Qualquer semelhaça entre o DNA e um conjunto de sinais convencionados é mais bem explicada pelo modelo evolutivo que por postulados milagrosos.
Observação: Refutado. Russel era melhor que o amigo. E o Ludwig sabe mais que o Prespetiva.
Não me surpreende nada que os ateus não se sintam motivados a espalhar por aí que o universo fêz-se a si mesmo, que a vida nada mais é que químicos, e quando morrermos é o fim.
ResponderEliminarTalvez, para motivar os ateus lusitanos, não seria má ideia mandar-lhes fazer uma visita de estudo a Richard Dawkins, e "beber" mais da sua inesgotável fonte de "sabedoria".
AP:
ResponderEliminar" uma teoria científica que demonstre a impossibilidade do nascimento de Cristo"
Procura nos livros de Biologia. Na melhor das hipoteses podia ser uma gaja.
Mas tu acreditas nisso? Olha, o teu lider religioso, o Luciano Henrique (não é quem estavas a falar?) diz que é uma metafora. Tu não deves ser catolico.
João,
ResponderEliminarParece-me uma hipótese interessante. Mas preferia ver os resultados :)
António,
ResponderEliminar«O que se espera de um cientista é um modelo, uma teoria científica que demonstre a impossibilidade do nascimento de Cristo.»
Bem, já temos modelos suficentemente testados que justificam assumir de uma mulher grávida que teve relações sexuais, especialmente antes de haver inseminação artificial.
O que eu mencionei foi as várias formas -- mistério, milagre e fé -- que os crentes invocam para justificar aquela hipótese especulativa que defendem (mas que não admitem aplicar-se a outras hipóteses especulativas de igual natureza mas de religiões diferentes).
Pode ser coincidência, António, mas, desde que conheceu o Luciano Henrique, o Ludwig virou as agulhas. Tem falado só de criacionismo e politica; até parece ter perdido a vontade de repetir a costumeira ladainha da incompatibilidade entre ciência e religião. Vamos aguardar.
ResponderEliminarConcordo consigo. NG. Já agora, tenho lido e apreciado os seus comentários no Jugular.
ResponderEliminarCaro Prof. LK:
ResponderEliminarMais uma vez não respondeu directamente à questão, preferiu torneá-la. Prefiro o estilo do neo-ateísmo que não foge e encara forntalmente os problemas.
Nuno Gomes,
ResponderEliminarAs legislativas são já no dia 27. Depois terei quatro anos durante os quais, prometo, voltarei a essas tretas.
António Parente,
ResponderEliminarO seu comentário tinha muitos pontos de exclamação mas não tinha nenhum ponto de interrogação. Se havia lá alguma questão, penso que é compreensível que me tenha escapado.
Prof. LK
ResponderEliminarEstá perdoado, reconheço que um ponto de interrogação ajuda sempre.
Eu:
ResponderEliminar«Nuno Gomes»
Oops... Nuno Gaspar. Peço desculpa. (Se calhar o melhor é passar a ser NG :)
Está desculpado.
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