Treta da semana: dois em um.
A propriedade intelectual e as medicinas alternativas têm sido duas tretas recorrentes neste blog. Mas desta vez vêm juntas. A patente WO/2002/096440, registada na World Intelectual Property Organization, concede a Virendrakumar Jain o direito exclusivo de fabricar comprimidos de urina de vaca (1).
Uma das inovações reconhecidas ao inventor é «urina recém filtrada escolhendo uma vaca que tem uma bossa em forma de pirâmide perto do pescoço». E, segundo o inventor, esta urina é do melhor que há. Aqui vai a tradução, com maiúsculas e tudo.
«A URINA DE VACA É UMA CURA CERTA PARA A MAIORIA DAS DOENÇAS. Vaca, a venerada vaca indiana […] é um HOSPITAL AMBULANTE, para a maioria das doenças. É um ARMAZÉM de medicamentos. A maioria das doenças incuráveis são curadas pelo seu uso regular*. Os elementos conhecidos como Panchgavya, i.e. a urina da vaca, o excremento, o leite, o coelho e Ghee possuem capacidades terapêuticas para curar doenças. […] a urina da vaca é amarga, Pungente, picante, Acre, morna e cheia de cinco tipos de elidires nela. É muito pia, matadora de venenos, Insecticida, solenizadora para todas as três aflições como Wat/Pitta e Tosse.» E assim por diante. Dá para ver o estilo.
É claro que quem concede patentes não tem de avaliar se a coisa funciona. Mas a patente é um monopólio legal, pago pelos estados que participam na WIPO, com o objectivo de incentivar a inovação tecnológica. Além de restringir a “propriedade intelectual” exclusivamente às aplicações comerciais, seja as patentes seja o copyright, também deviam ser mais exigentes na concessão destes monopólios. O mijo de vaca, mesmo que fizesse bem a tudo e mais alguma coisa, não merece a concessão destes direitos exclusivos. A menos que seja à vaca.
* Pode parecer contraditório, mas quem engole este remédio engole tudo...
1- WIPO, patente WO/2002/096440.
O que é incrível é que se pode vender estes produtos sem comprovar a sua eficácia. O mesmo se passa com os suplementos alimentares em que tem de ser as autoridades a provar que o suplemento é prejudicial para o poderem retirar do mercado.
ResponderEliminarLudwig,
ResponderEliminarNão te chateies comigo com esse off-topic, se achares que isto não deve estar aqui apaga. Bem, off-topic não será bem, pois está num post da "Treta da semana".
Achei simplesmente engraçado o Luciano Henrique negar o envolvimento da violência com a religião no caso das caricaturas de Maomé, e até o associou ao ateísmo, ver aqui nos comentários e não no post em si.
Ludwig,
ResponderEliminar«Pode parecer contraditório, mas quem engole este remédio engole tudo...»
Parecer contraditório? Muito pelo contrário :)
Mário Miguel,
ResponderEliminarO Luciano não é tema tabu. Não me chateio nada que o refiras aqui ou envies ligações aos seus posts. Eu só decidi não comentar no blog dele porque quando o fiz ele pôs-se a editar o meu comentário antes de o publicar, e isso já acho demais. Por isso se o comentar será só aqui e não lá.
E tens razão, ele parece estar a candidatar-se a uma treta da semana :)
Quanto à contradição, referia-me à urina curar doenças incuráveis. É como ver o homem invisível...
Helder,
ResponderEliminarSim, esse é o grande problema das medicinas alternativas em geral. Querem ser alternativas para poder vender as suas mezinhas sem ter de demonstrar primeiro que são eficazes e seguras...
Ludwig,
ResponderEliminarQuando disse:
«Não te chateies comigo com esse off-topic, [...] pois está num post da "Treta da semana".»
Era mais por ser fora de tópico, somente isso. Nunca achei que tivesses um tabu sobre ele:)
«Quanto à contradição, referia-me à urina curar doenças incuráveis. É como ver o homem invisível...»
LOL, por acaso passou-me ao lado :) E verdade, nem tinha reparado.
Mas só se forem doenças UNIVERSALMENTE incuráveis, pois esse conceito vale à mesma. Incuráveis na medicina tradicional.