(In)decisão...
Várias pessoas propuseram que a economia é o factor mais importante para decidir o voto. Infelizmente, não há consenso acerca do partido que a economia recomenda. E um problema é o medo, injustificado, que redistribuir mais nos trama a todos por reduzir a produção de riqueza, e que é a produção que importa.
Dividir o PIB pelo número de adultos dá 2,000€ por mês. É o meu rendimento*. E é metade da média alemã, o que parece muito mas, a este nível, tem pouco efeito na qualidade de vida. Se eu fosse professor universitário na Alemanha a diferença principal na minha vida seria ter, e gastar, mais dinheiro para passar férias cá. Aumentar o rendimento de quem já tem a sua parte da riqueza que este país produz tem pouco impacto. O dinheiro faz falta é a quem tem muito menos que isso.
Às vezes vejo no Lidl pessoas a contar os trocos a ver se levam o pão ou só o arroz e as cebolas. É aí que se deve investir para aumentar a qualidade média de vida. Não com esmolas, mas com a garantia justa que ninguém é condenado à miséria. E isto é também um estímulo à produção. Subsidiar empresas não ajuda quem passou 20 anos a coser sapatos numa fábrica que agora faliu. Ninguém lhe vai dar emprego. Mas dar-lhe um rendimento fixo e não ameaçar retirar-lho assim que a sua situação melhore incentiva essa pessoa a tornar-se novamente activa na economia. A comprar um carro e fazer limpezas a escritórios, ou equipamento de sapateiro e reparar sapatos ou qualquer outra coisa. Arriscar, sabendo que não perde tudo por isso. Coisa que quem vive das poupanças ou de um subsídio à miséria nunca fará. Por isso eu defendo mais redistribuição, não só para melhorar a qualidade média de vida como, se for bem feita, para estimular o empreendedorismo individual que a economia tanto precisa.
Mas o mais importante nesta decisão nem é o que eu penso da economia. É a incerteza das estimativas ser muito maior que as diferenças estimadas. Há uns gráficos que mostram uma grande variação na desigualdade de rendimento entre os governos do PSD e PS (1). Mas a variação é apenas do rendimento médio no percentil 80 ser 7.4 vezes maior que no percentil 20 com o PSD, para 6.4 vezes maior com o PS. Contas por alto, é como baixar de 3700€ para 3400€ nos ricos aumentando de 500€ para 531€ nos pobres. Vai na direcção certa, mas só impressiona quando se manipula o gráfico para exagerar a diferença. Quando tento projectar o que prevejo das medidas económicas do PS, do PSD e do BE num eixo do muito mau ao muito bom, se sou honesto com as margens de erro estas pequenas diferenças só dão manchas desfocadas sobrepostas no mau. A economia é importante mas não me ajuda a distinguir estes partidos sem assumir uma capacidade irrealista de prever o futuro num sistema tão complexo.
Por isso dou mais importância a factores onde vejo diferenças significativas. Questões de valor, sem margem de erro, como os deveres do estado, direitos dos animais, justiça e direitos do cidadão. E questões práticas onde a margem de erro seja pequena. Como patentes de software, legalização da partilha de ficheiros para uso pessoal e assim por diante. Coisas que, além de serem importantes, permitem distinguir os partidos sem ter de fingir que sou melhor vidente que quem discorde de mim. É com isto que o PSD fica logo de parte.
Na investigação e ensino superior o PS parece o melhor, até porque se tem portado bem nisto. Mas na privacidade, liberdade de comunicações digitais, patentes de software e afins fica muito atrás do BE. E tem um historial de argoladas que me deixa relutante em votar neles. Mas o BE tem as medicinas alternativas. O João Semedo explicou-me que decorre um processo para os ministérios da saúde e da educação certificarem os cursos de terapias complementares. Mas quando perguntei se aceitariam que ensinassem coisas sem fundamento, como os meridianos ou os desequilíbrios energéticos, remeteu-me para a legislação e sugeriu que eu consultasse os programas do pólo português da universidade de Chengdu, a do Pedro Choy (2). Este é um problema sério e não concordo que legitimem algo que, não há outra forma de o dizer, é treta. Mas seria pior proibi-lo. O mérito destas terapias é uma questão científica e não legislativa. O erro do João Semedo é enquanto médico e não enquanto deputado. Não posso culpar a política por isto porque a culpa é da ciência, que ainda não conseguiu explicar às pessoas a diferença entre medicina e fantochada. É a ciência e a educação que têm de resolver este problema.
Por isso estou inclinado a votar no BE, e aproveito para deixar o meu apelo ao voto. Não necessariamente no BE, que o voto é secreto e cada um sabe do seu. Além disso, até Domingo ainda posso mudar de ideias. Mas votem. Quer queiram quer não, dia 27 elegemos 230 pessoas para nos representar. A todos, incluindo quem não vote. E o problema da nossa democracia é ter os partidos vinte anos atrás dos eleitores, no tempo em que o que contava era a cor da camisola. Esta é uma boa oportunidade para lhes mostrar que queremos soluções e não slogans ou ideologias. A melhor maneira de o fazer é votando.
Se não gostam dos grandes, votem no pequenino que esteja mais perto de algo que vos interesse. Seja o que for. Escolham um tema e força. Porque de votos em branco e abstenções eles riem-se. Mas se os obrigamos a partilhar a Assembleia com uma data de partidos já lhes estragamos os arranjinhos e já prestam mais atenção daqui a quatro anos. A democracia é como o Xadrez. É preciso pensar várias jogadas à frente.
* Considero que é rendimento líquido, mas a diferença entre o rendimento bruto e o líquido está nos impostos, que redistribuem os rendimentos e não afectam a média.
Correcção: O PIB per capita da Alemanha é só 150% do nosso. Vi mal os valores. Mas o dos EUA é o dobro do nosso, e entre ganhar menos cá ou mais lá prefiro ficar por cá...
1- Por exemplo, neste post do Ricardo Schiappa: Justiça social
2- Neste momento o site está em baixo, mas deixo o link à mesma: www.univ.pedrochoy-chengdutcm.eu
Ludwig:
ResponderEliminarNovamente concordo com muito daquilo que escreves.
Mas devo dizer-te que mais PIB também pode querer dizer melhores serviços públicos, melhor apoio social, e menos diferenças sociais. O nosso SNS é bom, mas tem falhas importantes, o francês é melhor, mas é mais caro.
E um PIB que cresce mais também tende a estar relacionado com menos desemprego. Tendo em conta que a tua proposta de um rendimento universal está fora da mesa, isso é muito relevante para evitar a pobreza e o crime.
Por essas razões, acho a economia um ponto mesmo muito importante, e os dados até são surpreendentemente claros na relação PS/PSD.
É verdade que a diminuição das desigualdades e da pobreza não é assim tão avassaladora, mas ela foi alcançada num contexto de consolidação orçamental. Se compararmos com a situação anterior em que a despesa do estado aumentava descontroladamente, e ainda assim pioravam as desigualdades e os serviços públicos...
João Vasco,
ResponderEliminarO problema não é com os dados anteriores que, se quisermos, podem ir ao cêntimo. O problema é a extrapolação desses para as consequências futuras das intenções dos partidos como as avaliamos neste momento. Isso é que tem umas margens de erro consideráveis.
Tu consegues, realisticamente, prever a proporção entre o rendimento do percentil 80 para o percentil 20 com precisão suficiente para decidir que com o PS vai ser menor que com o do PSD se a diferença até agora foi de apenas 1? Acho isso muito duvidoso...
Na verdade, acho que tanto PS como PSD nunca poderão contribuir para reduzir substancialmente a desigualdade de rendimentos devido a uma razão: corrupção. Ambos os partidos estão assolados de corruptos. Tudo bem que não podemos especular como é que o BE se comportaria caso chegasse ao governo, mas ao menos podemos dar-lhe o benefício da dúvida. Por outro lado, não sei se existe algum estudo relacionado com isso mas penso que existe uma relação entre o nível de desigualdade social de um país e o número de partidos representados na Assembleia Nacional. Só uma sugestão de leitura:
ResponderEliminarJohn Crace: Almost every social problem stems from one root cause - inequality, argue two British academics | Society | The Guardian
"It became clear," Wilkinson says, "that countries such as the US, the UK and Portugal, where the top 20% earn seven, eight or nine times more than the lowest 20%, scored noticeably higher on all social problems at every level of society than in countries such as Sweden and Japan, where the differential is only two or three times higher at the top."
O que é mais grave é que para além do nosso PIB ser pouco elevado também somos das sociedades mais desiguais do chamado "mundo desenvolvido".
O tal "Pedro Choi de Amélia Cordeiro" é a quinta pessoa do BE pelo círculo eleitoral de Santarém.
ResponderEliminarVide http://www.bloco.org/media/santarem09.pdf
5. Pedro Choi de Amélia Cordeiro, 49 anos, Médico de medicina chinesa
Ludwig:
ResponderEliminar"Quando tento projectar o que prevejo das medidas económicas do PS, do PSD e do BE num eixo do muito mau ao muito bom, se sou honesto com as margens de erro estas pequenas diferenças só dão manchas desfocadas sobrepostas no mau"
É o que eu penso. Por isso é que acredito que a diferença tem de ser conseguida primeiro na produção de riqueza. Certo que te obriga depois a tentar adivinhar quem são os melhores gestores, mas na politica estas sempre a tentar adivinhar uma serie de coisas.
João e João Vasco,
ResponderEliminarImaginem dois cenários -- muito mais simples que a realidade -- em que podemos prever exactamente os efeitos futuros de duas políticas diferentes.
A- Aumento de 23% nas pensões mínimas e redução de 1% no crescimento do PIB para o próximo ano.
B- Redução de 33% nas pensões mínimas e redução de 20% no número de desempregados para o próximo ano.
Qual é melhor? Qual leva ao maior aumento de qualidade média de vida? Como é que decidem isso?
Agora juntem mais uma data de factores, e ponham uma margem de erro de +-30% em cada estimativa, e depois digam-me como é que chegam à conclusão que a política económica de um tem mais utilidade (no sentido utilitário de prazer, bem estar, realização pessoal, etc).
Eu acho que vocês estão a assumir uma capacidade sobrenatural não só de prever os números mas também de os converter numa quantificação unidimensional da bondade de cada alternativa...
Há uma lei empírica na economia, cujo nome agora me escapa, que diz que o desemprego só desce quando o crescimento económico sobe acima dos 2 ou 2,5%. Bastante longe dos níveis em que estamos. Como disse é uma "lei" baseada na observação empírica das economias ao longo de décadas e portanto não é tão previsível como a 2ª lei de Newton. Mas, diz-nos que excepções a isto só são possíveis com mecanismos artificiais, como adulterações de salários, emprego forçado, investimento exagerado que suba o endividamento, etc.
ResponderEliminarDaqui resulta que de facto, como o João Vasco diz, só o crescimento do PIB pode levar à diminuição do desemprego e a melhores salários de forma sustentada.
Concordo também com o Ludwig, quando diz que todos deviam ter um rendimento mínimo assegurado (mais lato que o que já existe) mas não sei se se conseguia fazer isso, no contexto actual. Não tenho a certeza do custo, porque as contas de merceeiro não funcionam aqui. Há implicações de curto prazo e de longo prazo e não é só com umas divisões que vamos lá.
A questão da distribuição é de facto central e Portugal é um dos países mais assimétricos da UE, mas como a própria análise do Ludwig refere, baixar 300€ em rendimentos elevados, só permite subir 31, nos mais baixos. Parece apesar de tudo sensato mas há aqui um factor adicional. As pessoas, tal como os produtos, têm um mercado que nem sequer é nacional e é evidente que quem aufere 3700 euros provavelmente produz de forma a valer esse valor. A assimetria de rendimentos é um mal e deve ser atenuada, mas acima de tudo resulta das diferenças de qualificações. Quando nos países Nórdicos, de baixas assimetrias, mais de 50% da população com 22 anos frequente a Universidade e em Portugal anda, se não me falha a memória, pelos 17%, como é que se pode reduzir a desigualdade? A conclusão é que, só mesmo a educação pode resolver este problema e isso infelizmente vai demorar e não sei mesmo se estamos a recuperar com a velocidade que podíamos. Gostava de uma aposta séria na educação e isso não vi em nenhum partido. A única coisa que vi foram propostas demagogas, contra a avaliação que o PS impôs. A avaliação, pode ter muito que melhorar, mas é um bem em si mesma e as melhorias devem ser feitas ao nível dos conteúdos, dos recursos e da qualidade dos professores. Prefiro apesar de tudo o PS a este respeito, que teve a grande pecha de desmotivar uma classe determinante e portanto necessita mudar de ministro mas fez algumas coisas importantes, como o Inglês, a aposta tecnológica, a própria carreira dos docentes (que eles não gostam porque não cultura de haver diferenciação) e a avaliação. Com um pouco mais de bom senso e diálogo a coisa pode melhorar muito e essa é a aposta que a longo prazo poderá vir a diminuir a assimetria, assim como “As Novas Oportunidades” que aparentemente são de um facilitismo exagerado mas na verdade o país precisa de subir as qualificações das pessoas e a batalha de fundo, que referi anteriormente, demora tempo.
Já agora dizes de onde tiráste a informação sobre o rendimento médio mensal alemão? Obrigada.
ResponderEliminarCristy,
ResponderEliminarDo GDP per capita, na wikipedia.
Mas ainda bem que mencionaste isto, porque o dobro de Portugal é os EUA, o da Alemanha é só 150% maior... Devo ter visto mal a coluna. Mas até é um exemplo melhor, porque entre os EUA e a Alemanha até preferia a Alemanha, e os outros 50% que se lixassem :)
«Com um pouco mais de bom senso e diálogo a coisa pode melhorar muito e essa é a aposta que a longo prazo poderá vir a diminuir a assimetria(...)»
ResponderEliminarJoão. Há uns meses ajudei um homem a quem partiram a placa dentária (com um sopapo, a pobreza é pródiga nestas coisas) pagando-lhe o arranjo num "laboratório" de próteses. Julgo que se não houvesse na vizinhança um otário como eu este homem ainda hoje não mastigava. Por isso gostava que definisses "longo prazo".
(já agora devo dizer que é esquizofrénico e vive numa barraca. Cada aselhice ou despesa injustificada do governo, seja ele qual for, é uma cuspidela na cara. Na dele, na minha e na tua)
É, tinha estranhado essa do dobro :-)
ResponderEliminarLudwig:
ResponderEliminarEsses cenários são mais difíceis de comparar. Felizmente, aquilo que estaria em jogo em termos de comparação seria mais algo do tipo:
A- Aumento de 23% nas pensões mínimas e redução de 1% no crescimento do PIB para o próximo ano.
B- Aumento de 1% nas pensões mínimas e redução de 20% no número de desempregados para o próximo ano.
(Ainda assim são -22% de pensões mínimas face ao cenário alternativo).
Posto isto, acredito que o cenário B é mais desejável, não pela avaliação das consequências imediatas, mas sim pela avaliação a longo prazo da sustentabilidade das políticas.
É que se aumentas a distribuição sacrificando ao mínimo o crescimento económico, estás a criar as condições para ter mais para distribuir amanhã.
Se tens uma atitude de maior indiferença perante a necessidade de aumento de riqueza, amanhã poderás ter cada vez menos para redistribuir.
E isto parece-me um ponto muito importante.
Ludi, tu alguma vez tiveste curiosidade de saber qual é exactamente a doutrina politica do BE?
ResponderEliminarDe onde vem exactamente e quais são verdadeiramente as politicas que eles querem implementar?
beijos
Bruce
ResponderEliminarNão falei em pobreza. Essa tem que ser atacada com medidas imediatas como por exemplo o rendimento mínimo. Falei em assimetria de rendimentos e que esta se deve essencialmente às baixas qualificações da média dos Portugueses que competem com países com maiores qualificações. Só subir as qualificações pode diminuir essa assimetria. Isto pode ser feito de duas maneiras:
- Investir na educação e os resultados só se verão a longo prazo, no tempo de uma geração;
- E uma forma menos profunda mas de mais curto prazo, que é investir em programas de requalificação das pessoas, quer através de formação, quer através de uma educação condensada, procurando estimular as pessoas a voltarem a estudar e dar-lhes mais competências, mesmo que formalmente seja impossível que esta formação que dá equivalência a um determinado nível, seja na verdade igual a ter feito o percurso normal. No entanto recompensa um esforço e abre portas para que as pessoas invistam ainda mais. Há várias pessoas que começaram nas Novas Oportunidades e já vão na Universidade...
Joaninha,
ResponderEliminar«Ludi, tu alguma vez tiveste curiosidade de saber qual é exactamente a doutrina politica do BE?»
Os fundadores eram principalmente trotskistas, mas hoje o BE é uma data de gente diferente.
«De onde vem exactamente e quais são verdadeiramente as politicas que eles querem implementar?»
As políticas que querem implementar vêm descritas no programa eleitoral. Aconselho-te a ler, porque provavelmente vais ficar surpreendida com o que eles propõem.
Por exemplo, tanto quanto sei é o único partido que quer acabar com a produção de ovos em bateria, com as galinhas todas apertadas em gaiolas até morrerem, e permitir apenas a produção de ovos com galinhas criadas ao ar livre.
João Vasco,
ResponderEliminarO ponto é que tens de somar não só o erro dos dados que tens (e dos que não tens, estas estatísticas costumam vir seleccionadas de forma tendenciosa, mostrando umas coisas e escondendo outras) com o erro estimado pela previsão dos modelos. E só consegues fazer juízos de valor com confiança quando a diferença é grande.
Como nas estatísticas a diferença começa logo pequena e o erro é muito grande, acho injustificada a confiança com que tu e outros dizem que um partido vai ser melhor para a economia que outro.
A única coisa que penso podemos decidir com confiança é que os princípios orientadores de um partido estão mais de acordo com os nossos valores do que os do outro, mas se tentamos justificar isso com previsões socio-económicas tiradas do chapéu estamos a cometer um erro.
«A única coisa que penso podemos decidir com confiança é que os princípios orientadores de um partido estão mais de acordo com os nossos valores do que os do outro, mas se tentamos justificar isso com previsões socio-económicas tiradas do chapéu estamos a cometer um erro.»
ResponderEliminarÉ aqui que discordo completamente.
Não importa apenas saber se os valores são os mesmos, é muito importante tentar saber - por muita incerteza que exista - se as formas escolhidas para os passar à prática são eficazes ou contra-producentes.
É que muitas vezes são contra-producentes face aos objectivos propostos.
E um exemplo é precisamente o da redistribuição acima de um determinado ponto. No contexto actual, isso pode causar inibição de investimento, mais desemprego, que afecta em grande medida os que menos têm e causa mais diferenças sociais; as mesmas que se pretendia que atenuassem.
A Suécia é um exemplo que deve ser tomado em conta: é uma das sociedades em que existe maior coesão social, menos desigualdades, e é uma sociedade onde a esquerda moderada tem muita força. Eu acredito que não é por acaso.
E conhecer as diferentes experiências em diferentes países dá-nos algumas pistas em relação a quais são as estratégias que têm mais possibilidade de sucesso. As culturas são diferentes, os recursos são diferentes, os contextos são diferentes e há muita incerteza.
Mas não podemos abdicar, em nome dessa incerteza, de considerar quais as vias mais seguras e mais arriscadas para passar à prática os valores em que acreditamos.
Por isso acredito firmemente que não basta atender a quem tem os valores mais parecidos, importa muito quem defende as melhores estratégias para os pôr na prática.
Não falei em pobreza. Essa tem que ser atacada com medidas imediatas como por exemplo o rendimento mínimo.»
ResponderEliminarJoão, há dois milhões de pobres em Portugal que não vão deixar de o ser por obra e obra e graça da esmola do Estado. Muitos deles trabalham. Bem sei que é melhor do que nada, e também sei que num país como o nosso estabelecer um direito ao rendimento, mesmo que nano-mini-micro, é um passo civilizacional assinalável. (repara como o Paulo Portas ainda está com suores frios) Por isso parece-me que o que está em causa, e concordo com o que dizes, é a amplitude salarial. É por aí que devemos ir. Quanto ao “longo prazo”...
João V,
«Não importa apenas saber se os valores são os mesmos, é muito importante tentar saber - por muita incerteza que exista - se as formas escolhidas para os passar à prática são eficazes ou contra-producentes.»
Pois. Então não olhes para a Suécia.
?
ResponderEliminarJoão Vasco, vou fingir que não percebi que estás a fingir que não percebeste. Outra coisa. Dizes-me o que pensar da ingerência da política no poder judicial (caso juiz Casa Pia)? Parece-te um bom prenúncio para o combate à corrupção?
ResponderEliminarBruce:
ResponderEliminarRealmente não percebi o que quiseste dizer, mas mesmo fingindo que acreditavas nisso não me esclareceste.
Quanto ao que se passou com esse juiz, não estou bem informado. Mas dou de bandeira que na questão da corrupção o bloco central (e o CDS) é uma desgraça. Já o tenho escrito várias vezes.
Mas não é só isso que conta..
João Vasco,
ResponderEliminarÉ precisamente por importar saber que não nos devemos iludir a julgar que sabemos quando a margem de erro não justifica essa conclusão.
Imagina que tens um sistema de medição com um erro de +-50cm para um intervalo de confiança de 90%, e queres saber se o Zé é mais alto que o Chico ou vice-versa. Supõe que a diferença entre eles é inferior a 5cm. Por muito importante que seja para ti saber qual é mais alto, usando este sistema é errado ires por aquilo que a tua medição te diz. Estás simplesmente a iludir-te se julgas que sabes qual é mais alto.
É esse o problema que aponto aqui. As margens de erro não justificam a confiança que tanta gente tem que é o seu partido aquele que vai trazer mais benefícios para a economia. Um dado empírico que suporta esta hipótese é que, apesar da convicção de cada um, não se entendem uns com os outros. Uma indicação forte que a convicção é injustificada -- no mínimo, a da maioria...
João Vasco,
ResponderEliminarEu acho que a corrupção devia contar mais que as divergências de opinião acerca de qual é o melhor plano de desenvolvimento económico.
"Pois, o tipo é claramente criminoso, aldraba e mete dinheiro ao bolso. Mas aqui pelas minhas contas o programa dele tem boas probabilidades de reduzir o desemprego em 7.38% em menos de 244 dias, mais ou menos 20% e 500 dias."
Ludwig:
ResponderEliminarNo exemplo que me dás, justifica-se apostar naquele que a medição me diz que é mais alto, pois a probabilidade de ser esse o caso é superior a 50%.
Mas onde eu duvido é que a margem de erro seja tão elevada. Temos muitos exemplos históricos que nos permitem distinguir até entre diferenças como as que existem entre PS e PSD, que a esse nível são bem menores do que aquelas que existem entre PS e BE (os tais 5cm, que na verdade são mais).
Eu não faço uma avaliação absoluta quanto a isso, mas dou muita importância a esse factor, tal como dou a outros.
ResponderEliminarLudwig:
ResponderEliminarComo é que o BE pretende dar um boost na economia?
João Vasco,
ResponderEliminarA probabilidade* é ligeiramente superior aos 50%. Mas a sensação que me dás é que só estás a decidir por questões económicas -- precisamente aquelas que têm o erro maior.
* num sentido muito lato e algo longe do sentido normal de probabilidade, visto o intervalo de confiança dar-te o contrário: a probabilidade de obter aquela medição assumindo aquele valor real, e não a probabilidade do valor real ser aquele...
João,
Não prevejo um boost na economia das políticas de nenhum partido. Nem consigo prever com uma confiança útil que a do BE tenha consequências práticas melhores. Mas isto é porque as margens de erro são demasiado grandes quando incluo não só o erro na previsão de efeitos objectivos como a incerteza dos juízos de valor, como decidir se é mais importante reduzir o desemprego ou aumentar as pensões mínimas.
Por isso dou mais importância a outros factores onde posso fazer uma escolha com mais fundamento.
Ludwig:
ResponderEliminarNão são apenas essas. Mas acho que essas são... decisivas.
João Vasco, não és tu que conheces uns estudos económicos que referem o melhoramento do sistema judicial como decisivo para a competitividade económica de Portugal? Conheces mas já não te lembras. E eu vou dizer-te porquê: estás a pensar na Suécia.
ResponderEliminarVês?
Não temes uma estrategia "bait and switch"?
ResponderEliminarBruce:
ResponderEliminarOs debates contigo são algo estranhos...
Esses estudos não se referiam à corrupção, mas sim à lentidão e ineficácia. Mas admito que algum impacto negativo a corrupção terá a esse nível.
Ludi,
ResponderEliminarEstou a falar da ideologia politica, na ideologia base do partido, no "credo" que eles seguem e no rumo que eles vêem como sendo o mais correcto, e não do programa eleitoral, que como nós todos sabemos nunca é seguido, até porque muitas medidas propostas são na pratica impossíveis de implementar mas que são altamente apelativas.
(NO caso do P. eleitoral não me estou a referir a nenhum partido em particular mas a todos, nenhum o segue à risca e todos eles propõem medidasque sabem são impraticaveis, mas que cativam votos.)
PS: Mas que raio fizeste tu aos comentários não entendo nada disto!)
Jota Vasco, não digas asneiras :)
ResponderEliminarO poder político passou a ter mandatários no sistema judicial que decidem sobre as carreiras dos juízes e o João Vasco acha que isso não é central no funcionamento da justiça. Porquê? Porque não faz ideia do que está a dizer, acha que o combate à corrupção não precisa de uma justiça ágil, ou então só quer teimar até alguém largar a bicicleta :)
ResponderEliminarMas o que eu queria mesmo era que recuperasse a sua declaração (vou citar de cor) “Só voto no PS para o PSD não ganhar”. Proponho-lhe que no domingo, de esferográfica em riste, decida se afinal é clubista ou não. Só para a gente se situar melhor nos próximos “debates estranhos”.
Bom fim de semana!
Bruce Lóse:
ResponderEliminara) Se sou clubista, o partido em que mais votei agora é o BE. Até agora votei neles uma vez para legislativas, duas para europeias, duas para a câmara de lisboa, e ainda votei no Fernando Rosas que apoiaram para as presidenciais.
Por comparação, votei uma vez no PS em legislativas (com o Ferro Rodrigues como candidato), uma vez nas autárticas (João Soares, aliança PS+CDU) e uma vez nas Europeias.
Nas últimas presidenciais o meu voto de protesto foi para o Garcia Pereira, não pelo que ele propõe, mas porque na altura o que queria mesmo era um voto em branco, mas não queria que o Cavaco vencesse na primeira volta (à segunda volta votaria no vencedor que não fosse o Cavaco). E nas últimas legislativas estava em Londres e não pude votar.
Ok, ficaste a saber todos os meus votos. Tinha antes dito que só tinha dado um a mais ao BE, mas foi engano. Votei até agora muito mais no BE.
Isto são os factos. Se eu for clubista, qual será o meu clube?
Quando a eleição do Guterres estava assegurada, e eu não tinha medo do PSD, votei BE.
Quando o confronto entre Durão Barroso e Ferro Rodrigues esteve apertado, votei PS.
E agora, se não existisse um grande risco do PSD ganhar, votaria PH ou branco. Mas eu acredito que há. Por duas razões: a primeira é o susto que apanhei com as europeias. O PSD à frente, e nenhuma sondagem tinha previsto isso. A segunda é a dinâmica, se muitos decidiram ir votar PS por terem visto as coisas tão apertadas, estas sondagens poderão ter o efeito oposto, e anular o primeito efeito.
Por mim, mantenho os receios.
b) Mas se uma justiça mais rápida é essencial na luta contra a corrupção, então isso seria algo a favor do PS e não contra. Porque objectivamente a justiça ficou bastante mais rápida em resultado das políticas seguidas nesse sector (informatização, simplificação de burocracias, etc...).
Joaninha,
ResponderEliminar«Estou a falar da ideologia politica, na ideologia base do partido, no "credo" que eles seguem e no rumo que eles vêem como sendo o mais correcto»
A ideologia base está nos estatutos do BE:
«1 – O Bloco de Esquerda é um movimento político de cidadãs e cidadãos que assume a forma legal de partido político.
2 – O Bloco de Esquerda, adiante também referido como Movimento, inspirase nas contribuições convergentes de cidadãos, forças e movimentos que ao longo dos anos se comprometeram e comprometem com a defesa intransigente da liberdade e com a busca de alternativas ao capitalismo. Pronuncia-se por um mundo ecologicamente sustentável. Combate as formas de exclusão baseadas em discriminações de carácter étnico, de género, de orientação sexual, de idade, de religião, de opinião ou de condição.
3 – O Bloco de Esquerda defende e promove uma cultura cívica de participação e de acção política democrática como garantia de transformação social, e a perspectiva do socialismo como expressão da luta emancipatória da Humanidade contra a exploração e opressão.»
É claro que basta haver duas pessoas que já há duas opiniões, por isso é natural que esta base seja interpretada de muitas formas diferentes.
Eu não acho que haja alternativas ao capitalismo, mas também não me chateia que busquem por elas. Quanto ao resto, parece-me bem.
«PS: Mas que raio fizeste tu aos comentários não entendo nada disto!)»
Bem, alguma coisa deves ter acertado, senão não aparecia isto :)
Mas se tiveres dúvidas diz (se não conseguires comentar manda-me um email)
"Pois, o tipo é claramente criminoso, aldraba e mete dinheiro ao bolso. Mas aqui pelas minhas contas o programa dele tem boas probabilidades de reduzir o desemprego em 7.38% em menos de 244 dias, mais ou menos 20% e 500 dias."
ResponderEliminarHehehe :-) Bem, sem confiança nos representantes não há desenvolvimento económico duradouro e a longo prazo que se aguente. Porque isso acaba por provocar problemas sociais, aumentar a taxa de criminalidade ou até mesmo contribuir para que mais pessoas se sintam tentadas a fugir os impostos. No caso disto acontecer, o dinheiro que o Estado tem para gastar diminui, o que quer dizer que existe menos possibilidade de reduzir as desigualdades sociais.
Está mais do que provado que o crescimento do PIB e a geração de riqueza não significa necessariamente uma concomitante redução da pobreza. Lá porque há mais dinheiro a circular, não significa mesmo nada que esse dinheiro vá parar ao bolso de quem mais precisa. O capital social deve andar sempre associado ao capital financeiro. Isso é o que acontece nos países nórdicos, onde as pessoas são mais tolerantes e confiam mais umas nas outras. É por isso que a corrupção é um tema para mim tão importante. E sinceramente as últimas décadas mostraram que neste campo tanto PSD como PS como CDS não são de confiança.
Ou seja, se há certas medidas económicas do programa do BE que podem ser economicamente prejudiciais a curto prazo, outras há no plano social que irão contribuir para fomentar esse clima de confiança recíproca susceptível de conduzir a um desenvolvimento económico mais sustentado e distribuído pelo grosso da sociedade portuguesa.
João Vasco,
ResponderEliminarNesse caso pedir-te-ei as minhas desculpas mediante apresentação de prova :) Além disso, parece-me que votar noutros partidos quando se tem a certeza de que o PS já ganhou é perfeitamente compatível com o clubismo.
Sobre o teu ponto b). Por "ágil" referia-me à liberdade de movimentos da justiça e não propriamente à rapidez. É que o que por lá tem acontecido parece-me um autêntico assalto do partido ao sistema judicial com a revelação de ligações muito claras do seu órgão máximo a uma linha orientadora exterior. Mas sinceramente fiz o comentário de forma provocadora e pensei que fosses contrapor desde logo que "eu não disse nada disso!", o que de resto seria verdade.
Pelo menos espero ter levantado a questão na tua cabeça antes de lá pores a cruzinha.
"Mas dar-lhe um rendimento fixo e não ameaçar retirar-lho assim que a sua situação melhore incentiva essa pessoa a tornar-se novamente activa na economia."
ResponderEliminarQualquer pessoa que tenha conhecimento no terreno do que se passa na realidade com muitas familias que gozam de Rendimento Minimo Garantido sabe o quão distante deste planeta está esta afirmação.
Ludi....
ResponderEliminarDizer isso ou não dizer nada é a mesma coisa, qualquer partido politico é a favor da liberdade e contra a opressão e blábláblá...
Mas deixa lá, já acabou e eu, se queres saber tooooda a verdade, não tenho pê de paciência para discussão politica :)
Este comentários estão uma "beca" complicados :)
Ludwig
ResponderEliminarFiquei escandalizada com isto: "subsidiar empresas não ajuda quem passou 20 anos a coser sapatos numa fábrica que agora faliu". Ajuda sim!
1. Ajuda a manter um emprego e a dignidade a ele inerente;
2. Ajuda o funcionário a ganhar o próprio e a ele mesmo não precisar de apoio social. E dá-lo a quem não pode trabalhar;
3. Ajuda porque a fábrica de sapatos vai produzir, exportar e pagar impostos;
4. Ajuda de mais muitas maneiras! Tantas que não vale a pena enumerar de tão óbvias que são. Não sei porque escolheste uma fábrica de sapatos e não uma multinacional de semicondutores ou de automóveis, por exemplo. Uma fábrica de sapatos é menos que uma dessas? Exporta menos? Gera menos riqueza e dignidade?
O que não pode é ser o governo a manter as empresas sempre. O estado não pode manter as empresas de todo. Simplesmente entre o capitalismo selvagem e o estado providência há muitos estados. E o que conta é o equilíbrio.
Desagrada-me a perseguição da esquerda inteira aos "ricos" (as aspas são porque não são os ricos que eles perseguem, mas também não se tem que perseguir os ricos). A riqueza, a ambição devem ser incentivadas e premiadas. Não quero um país de gente que tem só o suficiente e não quer nem pode ambicionar a mais. QUer por falta de ambição quer por falta de condições para o conseguir apesar da ambição.
"Não quero um país de gente que tem só o suficiente e não quer nem pode ambicionar a mais"
ResponderEliminarAbobrinha,
isso, claro, levanta a interessantíssima questão do que é o suficiente, o de menos e o demais. E qual a ambição que deve ser premiada e incentivada.
Abobrinha,
ResponderEliminarLê outra vez isto, especialmente a parte a bold:
«subsidiar empresas não ajuda quem passou 20 anos a coser sapatos numa fábrica que agora faliu»
e explica-me lá melhor essa parte de manter o emprego, exportar, pagar impostos, não precisar de usar dinheiro do estado, não ser subsidiada para sempre, etc...
Cristy
ResponderEliminarO suficiente é muito discutível, mas vamos ficar pelo essencial: um tecto, um transporte (público ou privado conforme a adequação), roupa comida na mesa, justiça, saúde e educação gratuitas. Acho que não me esqueci de nada.
Ambição... TODA a que não atropele a dignidade e legalidade deve ser incentivada. Isso é o oposto de ir ao Continente e ficar furiosa a ter que ouvir o amiguinho da frente a criticar o Belmiro de Azevedo por ter muito dinheiro. Ora se o tem é porque o ganhou! E até é um homem espartano e não tem nada que o ser: tem dinheiro para ostentar (simplesmente não faz parte do seu estilo).
Tem uma coisa: a ambição que gera dinheiro legítimo gera ainda impostos. Que fazem com que muitas das coisas que enumerei como essenciais acima sejam possíveis.
Ludwig
ResponderEliminarExplica-me antes porque é que usaste a fábrica de sapatos e não a de semi-condutores. E há muitos motivos pelos quais se pode falir. Pode deixar-se cair a empresa ou pode dar-se uma ajuda (limitada!) para que se levante de novo.
O resto explico noutra altura, que agora não tenho tempo. Só para baralhar ainda mais, pensa na TAP que é subsidiada e subsidiada e subsidiada e ninguém lhe tira o apoio. E eu semi-concordo (sendo que "semi" é a palavra-chave).
Abobrinha,
ResponderEliminarJá agora, não tenho nada contra os ricos. Infelizmente, não posso dizer que até alguns dos meus melhores amigos o são, mas até gostava que fossem.
O que me parece pouco razoável é dar subsídios ao patrão se quem está aflito é o empregado.
Abobrinha,
ResponderEliminarO meu ponto é que subsidiar empresas para as incentivar a empregar pessoas não vai ajudar nada aquelas pessoas que passaram vinte anos a trabalhar numa fábrica que agora está falida. A menos que queiras subsidiar empresas falidas e isso penso que é problemático...
Ludwig
ResponderEliminarAjudar o trabalhador a recuperar o posto de trabalho é negativo onde?
A chave é o equilíbrio e a falta de preconceitos. Eu explico: eu sou da zona onde vi muitos empregados de fábricas de sapatos a virem para casa. Ah, e tal, são salários mínimos, desqualificados e não sei quê. Pois, mas exportam! Trazem dinheirinho para o país. Entendes agora porque é que falei dos semi-condutores, automóveis, TAP e sapatos? E já agora falemos de bancos, só para ajudar à festa!
"Subsidiar" é uma palavra que pode ter uma conotação chata. Se for para manter, mais vale nacionalizar. Ora na maior parte das vezes não vale a pena. Mas se a coisa até tiver viabilidade, for importante, for só uma má fase e não for previsível que a coisa aconteça de novo de modo a ser o estado a manter pançudos, porque não? Ajuda mais que extinguir postos de trabalho e ver esse pessoal passados dois anos a não ter subsídio... porque eu vi isso! O que originou muita coisa, inclusive imigração. É que eu também estou na zona que leva com os "avec". Leia-se: os que fugiram a um futuro pouco promissor e pelos quais tenho muito respeito pela coragem/ousadia de terem ido lá para fora.
Isto é muito mas muito complicado, Ludi. Não é de todo preto e branco.
Abobrinha,
ResponderEliminar«Ajudar o trabalhador a recuperar o posto de trabalho é negativo onde?»
É isto que eu quero que me expliques. Um trabalhador com 45 anos passou os últimos 20 a coser sapatos. A fábrica onde trabalhava faliu porque já não tinha encomendas para esse tipo de coisas.
Quem é que o vai empregar? Outra fábrica de sapatos que vai vender a mesma coisa que esta faliu por não conseguir vender? Ou uma agência de modelos que está interessada em tipos de 45 anos com experiência a coser sapatos?
Ludwig
ResponderEliminarÉ muito mas muito mais complicado que isso. Como te disse, há muitos motivos para abrir falência. Um dos quais é não haver encomendas para aqueles sapatos (há mais sapatos, há mais mercados!), outro o fornecedor não ter pago uma encomenda e deixado o tipo encravado (não acreditas? Acredita que acontece), outra estar a bater às portas erradas e precisar de uma ajuda para se manter à tona para procurar novos mercados (porque os há). Outro motivo bem mais prosaico é mesmo o administrador ter gasto o dinheiro em mulheres ou os filhos não estarem para se cansar. Acredita: há muitos cenários de falência que tu não conheces e eu conheço (e a lista não vai nem a meio!).
O que não pareces ter entendido (ou eu não tornei a coisa clara) é que só vale a pena apoiar quem tem pernas para andar. Se a empresa não tem de todo viabilidade (ou por o negócio não ser viável ou por o administrador não ser sério), então não vale a pena: é deixar cair mesmo!
Em todo o caso, manténs o teu preconceito em relação aos sapatos, só porque é um emprego não qualificado. Um dia destes vim eu para casa porque uma licenciada em Economia (ou algo parecido) precisamente de 43 anos e com uma filha para manter está prestes a perder o emprego numa seguradora por causa de reestruturações. Não está muito melhor que uma gaspeadeira em termos de idade e mercado de trabalho. E para essa não tenho solução porque o mercado de trabalho dela está a encolher (a empresa não vai fechar, mas precisa mesmo de ter menos gente) e ela não está a ficar mais nova.
Insisto: deve ajudar-se, dentro do razoável e viável a manter-se em pé as empresas que querem manter-se em pé. Para que o tipo de 45 anos tenha de facto o emprego e não um qualquer subsídio de pobreza. Que ALGUÉM paga. Mas como é que se paga se o tecido produtivo desaparece aos poucos? Não foi "o outro" que prometeu 150 000 novos empregos?
"O suficiente é muito discutível, mas vamos ficar pelo essencial: um tecto, um transporte (público ou privado conforme a adequação), roupa comida na mesa, justiça, saúde e educação gratuitas."
ResponderEliminarParece-me que excactamente isso que pretende o Ludi com o seu "salário base" para todos os cidadãos: que tenham acesso a tudo o que tu consideras suficiente, mesmo que o patrão feche a fábrica porque esbanjou o dinheiro num Mercedes para a amante. E para impedir que quando o patrão volte a abrir a fábrica com subsídios do Estado e da União Europeia, não empregue o mesmo trabalhador por metade daquilo que lhe pagava antes. Nesta perspectiva faz mais sentido subsidiar o trabalhador do que a fábrica. Porque não ajuda nada «quem andou 20 anos a coser sapatos»
Abobrinha,
ResponderEliminarEu concordo que usem os meus impostos para ajudar quem tem menos que eu e precisa de apoio. Mas não me parece razoável que usem o dinheiro que eu pago para dar dinheiro extra a quem tem mais que eu. Se for para dar igual a todos, tudo bem. Mas um subsidio ao qual só tem direito quem for dono de uma fábrica não me parece razoável.
Cristy
ResponderEliminar"Subsidiar" o trabalhador faz o mesmo sentido para o aguentar até à próxima fase que será um trabalho digno. É um direito que este conquistou por, quando não precisava e ganhava para isso gerou riqueza para tal. Estamos de acordo.
"Subsidiar" uma empresa não é tão líquido como para um empregado. Isto porque uma empresa não tem necessariamente uma dignidade própria, enquanto que um trabalhador tem porque é uma pessoa com necessidades (uma empresa pode perfeitamente morrer).
Contudo, no caso de uma empresa que só está a passar por uma má fase e que não se repetirá, acho que a dignidade na empresa existe e merece que ela tenha uma segunda oportunidade para "viver". Mesmo porque neste caso fará parte do apoio ao trabalhador, com a diferença que ele terá que ir trabalhar e produzir à mesma.
Se reparaste, coloquei sempre aspas em subsidiar. Isto porque não seria dinheiro perdido mas investido e que daria retorno. No caso de uma empresa, o dinheiro não é para ser dado mas de algum modo facilitado e com a perspectiva de ser recuperado.
Mas não tenhas ilusões: o dinheiro do estado vem de algum lado. E de onde vem é precisamente de impostos que só existem havendo quem produza.
O Mercedes da amante é enganador. Para já porque se uma fábrica só produz para comprar um Mercedes e vai logo assim à falência... escusado será dizer que não tem viabilidade nem para o stand que a vendeu. Por outro lado mostra um lado da ambição: tem mais que um carrinho. E a ambição é o motor de quem se mete à loucura de iniciar uma empresa. Mas como já disse, há mais que uma maneira de falir uma empresa ou de a fazer passar por um mau bocado.
Ludwig
ResponderEliminarIndo um pouco além do que escreveste e numa perspectiva abusiva, é defensável que tenhas dito que ninguém pode ter mais que tu. Que tu és o limiar da riqueza a que se pode almejar. Que para além do teu rendimento se é tão rico que não se pode ser apoiado.
Sabias que um empresário que caia na desgraça não tem direito a subsídio de desemprego? Os funcionários têm! Ora enquanto há os que se abotoaram e descapitalizaram a empresa, se divorciaram passando todos os bens para o nome da esposa e/ou colocaram os bens a salvo (e não os podes censurar completamente), há quem tenha colocado todo o dinheiro na salvação de uma empresa que deu o berro.
E o que eu defendia não era o apoio à pessoa do empresário (isso é outra questão) mas à empresa. Concretamente aos postos de trabalho dos trabalhadores.
O que me aborreceu no teu discurso mantém-se: a ideia de uma igualdade que não existe, de um limiar de riqueza aceitável e da ideia de que todos os empresários são ladrões e merecem ser tratados como tal. OK, posso ter exagerado um pouco, mas também o fazes nas tuas intervenções, pelo que compreenderás.