Pensamento Crítico: 1- Introdução.
No dia 31 de Dezembro do ano passado recebi um email de uma leitora deste blog a sugerir que eu escrevesse um livro que ajudasse pais e educadores a ensinar pensamento crítico às crianças. É uma boa ideia, e talvez quando os meus crescerem mais um pouco eu me sinta confiante para tentar. Mas esta sugestão, que muito agradeço, motivou-me a escrever um manual para a disciplina que lecciono. Este semestre vou começar com uma primeira versão, tentando avançar a par da matéria para ser mais útil aos alunos.
O primeiro capítulo já está nesta página, que irei actualizando conforme vá melhorando este e escrevendo os próximos.
Agradeço, como sempre, os vossos comentários e críticas, que desta vez serão especialmente úteis porque irão ajudar-me a melhorar o texto. Mas, pela atenção especial que terei de dar aos comentários pertinentes, decidi apagar todos os que não sejam relevantes. A cavaqueira animada do costume, as trocas de insultos e o serviço de chat para quem não quer instalar o messenger podem continuar em qualquer um dos outros (mil!) posts. Mas neste pedia que comentassem o post em vez de uns aos outros.
Até porque o blog é um bom sítio para os alunos deixarem comentários anónimos. A maioria deverá esclarecer as suas dúvidas nas aulas e por email, mas é provável que alguns alunos se sintam inibidos de criticar quem os avalia, e não quero perder críticas úteis por causa disso. Nem por causa disso, nem por causa das conversas que por vezes se instalam nestas caixas de comentários...
Ludwig,
ResponderEliminarPrimeiro comentário pertinente: tens erros ortográficos no resumo do capítulo na página web. :)
PS: Foi pertinente, não foi? :D
E porque não um manual tipo Wiki?
ResponderEliminarJá há profs que tem a página deles num formato similar à Wikipédia, com esta, onde têm a matéria, manuais e espaço de dúvidas, avisos etc... E o aspecto é idêntico à Wikipédia. Porque não um manual simultaneamente assim com hipótese ou não de comentários?
O resumo não está completo:
ResponderEliminarResumo
[...]
• O pensamento crítico é uma capacidade transversal aos assuntos aos quais o
aplicamos. Mas pode ser desenvolvido focando técnicas específicas para certos
problemas que, com a prática, <= falta aqui qualquer coisa.
Ludwig,
ResponderEliminarSegundo comentário pertinente... :)
Acabei de ler a introdução. Devo confessar que fiquei interessado nos próximos capítulos o que é bom sinal. Reparei no entanto que a última caixa (a caixa de Resumo, tem o último bullet incompleto)
Venham os próximos capítulos. Tentarei contribuir, se achar que tenho algo que considere relevante, nas questões de conteúdo e não apenas nas de forma, como acabei de fazer nestes dois comentários.
Bom trabalho.
Sugestões de visionamento relacionadas com o pensamento crítico:
ResponderEliminarThe Baloney Detection Kit - Michael Shermer
Open-mindedness
Skewed views of science
The problem with anecdotes
Flawed thinking by numbers
Can You Trust Your Thoughts?
The Scientific Method Made Easy
Pequena crítica, Ludwig. Ainda não li o texto mas vi o péssimo layout. As caixas cinzentas são 5 estrelas, o (des)alinhamento do texto na margem direita é atroz.
ResponderEliminarO contexto histórico no capítulo 1.2 é um bocado simplista, do tipo "antes isto era bué bué de terrível e depois foi bestial nos gregos, e depois ainda foi bué bué mais terrível e agora é espectacular, men!", não sei há ali qualquer coisa na estrutura do texto que não está ao nível do restante. Dá mesmo a sensação que estavas apenas a queimar páginas, tinhas de escrever aquele contexto e lá o fizeste um pouco a contra-gosto.
E claro, nem preciso de dizer, mas na prática,
:D
Bom texto, ludwig e parabens pelos milhares
Por mim esta bom só com duas notas, de resto ja referidas:
ResponderEliminar-Paragrafos com formatação anacronica (Barba Rija)
-Frase incompleta no fim do resumo (anonimo).
Tem muitas passagens que estão inspiradas. Manda mais.
Muito interessante, venham os capítulos seguintes. Pelo menos a teoria convence. Na prática, pelo que tenho lido, parace que experiências demonstram que praticamente todas as decisões que tomamos na vida são instintivas e racionalizadas posteriormente. Independentemente da inteligência da cobaia. Aqui está um exemplo:
ResponderEliminarhttp://www.behavioralandbrainfunctions.com/content/3/1/45
De modo que pode ser que nos estamos tentar enganar a nós próprios, quando nos convencemos que com um curso em pensamento crítico vamos aprender a tomar decisões racionais ;-)
Não me impedirá de seguir o teu, claro.
Cristy
Ena, que eficiência :)
ResponderEliminarObrigado a todos pelos comentários. Já corrigi os erros na página, concordo que o justify fica melhor no texto e vou rever a secção 1.2. Nesta queria dar a ideia que o pensamento crítico agora já não é um mero exercício académico abstracto mas algo com utilidade prática. Mas concordo com o Barba que me baralhei um bocado no texto. O resumo ficou amputado, pois é... vou corrigir isso também.
Cristy,
É verdade que, na prática, somos mais um animal racionalizador que racional. Essa é a dificuldade principal em pensamento crítico. É difícil mudar esse hábito de primeiro escolher e depois arranjar desculpas para justificar a escolha.
Mário Miguel,
A wiki também é uma boa ideia, mas penso que como material de apoio às aulas convém ter algo estável, com o que interessa e que não precise de alguma correcção importante uns dias antes do exame. Penso que o livro ainda é um formato útil. De resto, para discussão temos uma lista de email para os alunos, que deveria servir para comentários, dúvidas e assim mas que está sempre deserta. O tempo que os alunos querem dedicar a cada disciplina é, compreensivelmente, bastante limitado...
Ludwig:
ResponderEliminarDesculpa meter-me na conversa com a tua irma. Mas acho que a Cristy tocou num ponto muito interessante.
Estive a pensar e ao racionalizarmos antecipadamente , como tu respondes-te, temos sempre o problema da paragem.
Isto é, existem questões, que estão cheias de imponderaveis, e de processamento a tender para o infinito. Temos no entanto de tomar uma decisão em tempo real.
Isso não implica mandar o pensamento critico para uma analise futura e agir de acordo com o que "parece ser a melhor escolha"?
É que a ciencia (e a filosofia) existe no cerebro de milhares de homens e através de gerações e gerações, mas a nossa vida é aqui e agora.
João,
ResponderEliminarEsse é outro problema, e eu tento arranjar exemplos de problemas sem solução precisamente para mostrar isso (pro exemplo, em ética os problemas dos trolleys a atropelar escuteiros).
É verdade que nunca temos informação completa e, quando temos mesmo de tomar uma decisão, vamos acabar por interromper o processo algures e dizer é esta.
Mas isso não nos obriga a tomar a decisão de forma inconsciente, que é a origem desse problema da racionalização.
A diferença não está na nossa capacidade de considerar infinitas hipóteses ou organizar toda a informação possível. A diferença é que, na racionalização, estamos a pensar para justificar aquela decisão que tomámos logo à partida, enquanto que o pensamento crítico visa inverter a ordem e pôr-nos a pensar antes de decidir para que, quando fizermos a escolha, sabermos porque escolhemos essa e não uma das outras.
«Isso não implica mandar o pensamento critico para uma analise futura e agir de acordo com o que "parece ser a melhor escolha"?«
A ideia é fazer o contrário. Mandar a escolha para o fim do processo, o mais no futuro que seja prático (e em muitos problemas isso até pode ser num futuro indefinido -- quase todas as discussões que temos aqui são exemplo de decisões que não precisamos tomar já mas podemos ir tomando...), para que se possa escolher de forma consciente.
Ludwig:
ResponderEliminarEntendido.
Mario Miguel:
ResponderEliminarDesculpa, mas uma Wiki não ia estar cheia de prespetivas fosseis? (yep, não foi por acaso)
João,
ResponderEliminarPois... uma wiki é excelente para colaboração, e quando é suficientemente grande, como a wikipédia (em muitas das páginas) é fiável.
Mas como ferramenta de estudo para uma disciplina acho que é tramado. Basta uma gralha na altura errada para baralhar quem esteja a estudar por isso...
Mesmo a wikipédia Ludwig, tem que se lhe diga. Eu sou leitor assiduo da versão Inglesa, gosto muito. Mas também procuro na Britanica e na Stanford Filosofy Enciclopeadia online (se ainda não conheces não sei que estás à espera)
ResponderEliminarMas a wikipédia em Português é preocupante. De tal modo que nem me estimula participar nas discussões e tentar contribuir.
Acho que as wiki precisam de uma massa critica de especialistas para serem boas. Sem atingir esse limiar não ha resultados. E pode passar por fases transitórias de qualidade duvidosa.
São projectos com prazos indefinidos.
antes de mais, parabéns pela óptima iniciativa.
ResponderEliminarAqui vai uma primeira "crítica": os nossos antepassados terão talvez tido uma maior necessidade em utilizar o pensamento crítico do que o sugerido. Por exemplo, a tomada de decisão de mudar a localização de uma tribo inteira por haver melhores recursos ou por o clima ser previsivelmente mais ameno noutro local. São decisões que deram vantagem aos que as tomaram da melhor forma. E quais os processos/métodos que usaram para o fazer? o tal pensamento crítico.
Mecanismos como este podem ter dado vantagens competitivas significativas.
Parabéns pela iniciativa.
ResponderEliminarContinue.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarLudwig,
ResponderEliminarSim, em "wiki" tem esse buracos (que podem ser tapados), mas o layout, para mim, é atraente... O que é mais ou menos irrelevante.
Só mais uma coisa (miudezas sem grande importância), a par do PDF, não devias colocar outro formato como o DjVu, para ligações lentas, mais pequeno que o PDF, ou outro em ODF.
Não devias privilegiar o ODF ou o DjVu, embora o PDF seja "aberto". Sim, este comentário também é uma farpazinha...
Gostei bastante de ler esta primeira parte. Fico à espera de mais.
ResponderEliminarEm relação ao design da pàgina, discordo com o Barba em no que respeita ás caixas e ao justify (parcialmente).
Percebo a necessidade de isolar alguns blocos de texto, mas os espaços brancos são fundamentais para evitar uma mancha pesada e de dificil "digestão". A minha proposta é usar linhas horizontais e espaçamento.
Quanto à justificação não acho atroz. Acontece apenas que a margem desalinhada à direita dá um ar mais informal ao texto, enquanto que a justificação completa é mais formal. O perigo do full justify é abrir espaços demasiado grandes no corpo do texto, caso não se use hifenização. Mas neste caso, com linhas de cerca de 11 palavras isso não me parece que vá acontecer. Dito isto voto no full justify.
Nas drop caps é que já temos um problema bicudo. Neste caso falha o seguinte:
- O limite das ascendentes da primeira linha de texto deve alinhar com o topo da inicial.
- As restantes linhas de texto incluídas na drop cap (neste caso apenas uma) devem ter maior identação que a primeira linha. No caso de letras comlicadas como o A ou o Q isto é ainda mais importante porque se prolongam frequentemente a nível da linha base. Aqui a identação está ao contrário e a segunda linha está encostada ao A.
Não sei como é que o word gere as drop caps, mas quase sempre é necessário acertar manualmente cada letra.
Logo à noite faço uma proposta de layout para o documento, para ilustrar as soluções para estas questões.
Que tal usar LaTeX?
ResponderEliminarLudwig,
ResponderEliminarDesculpa lá, mas tenho que perguntar isto:
Tencionas incentivar os leitores/alunos a terem pensamento crítico em relação a todos os assuntos, ou há tópicos, ideologias e crenças que estão fora de escrutínio?
Não estou de maneira nenhuma a pôr em causa o teu trabalho, e se ficares com essa impressão, mil desculpas.
O que se passa é que já naveguei em sites de "cépticos" a impressão com que fiquei é que o seu cepticismo é selectivo.
Uma curiosidade (preguiça de procurar nos outros tópicos e posts... claro...): o Ludwig é professor de quê, se posso perguntar? E o Pedro Ferreira?
ResponderEliminarFrancisco,
ResponderEliminarJá estou há uns tempos a planear aprender a usar o LaTeX. Mas acho que não vai ser desta... Talvez para o próximo artigo que tenha muitas equações :)
Manuel,
ResponderEliminar« os nossos antepassados terão talvez tido uma maior necessidade em utilizar o pensamento crítico do que o sugerido. »
Sim, há situações em que teriam tempo e talvez até informação suficiente para pensar com cuidado em vez de ler as tripas dos animais ou algo assim. Esse é um bom exemplo. Vou roubar :)
Krippmeister,
ResponderEliminar«Logo à noite faço uma proposta de layout para o documento, para ilustrar as soluções para estas questões.»
Ora aí está o que é :)
Thanks
Mats,
ResponderEliminar«Tencionas incentivar os leitores/alunos a terem pensamento crítico em relação a todos os assuntos, ou há tópicos, ideologias e crenças que estão fora de escrutínio?»
A mensagem principal é que nada fica de fora. Todas as decisões nas quais tenhamos tempo de pensar e acesso à informação é importante estar atento ao método pelo qual decidimos.
Tomei a liberdade de alterar o layout do documento e corrigir algumas gralhas.
ResponderEliminarEstá aqui disponível em vários formatos (M$ Word, Open Document Format [.odt], PDF, DjVu e LaTeX).
Argo,
ResponderEliminarBasta ires à minha homepage, cujo link está no meu perfil no Blogger...
Mas uma das disciplinas que lecciono é pensamento crítico. A página deste semestre ainda não tem quase nada (as aulas começam para a semana), mas a do ano passado tem os resumos das aulas e a gravação da maioria das teóricas, se quiseres dar uma olhada.
Anónimo,
ResponderEliminarObrigado. Na próxima revisão vou pôr também o .odt online, para facilitar a vida a quem quiser participar.
Preguiça minha de procurar, Ludwig. Estou baixando o primeiro dos vídeos para dar uma olhada.
ResponderEliminarNão tem interesse em fazer um "torrent" de todos?
(desculpe, meus comentários não estão sendo pertinentes ao assunto, mas depois, se voce quiser, pode apagá-los).
Argo,
ResponderEliminarSempre tem a ver com a disciplina, por isso vou deixar. Mas está no limite, sim :)
Não planeio fazer um torrent, mas se alguém quiser seleccionar os melhores e fazer um apanhado ou algo assim, tudo bem. Só que aqueles são para ficar na página da disciplina, e não vejo que valha a pena distribuir de outra forma (duvido que se tornem tão populares que o servidor se queixe :)
Para ser honesto, como aluno do 2ºano da LEI que sou, estou muito entusiasmado com as aulas de PC ! Adoro pensamento crítico mas o meu problema (e maior medo) é que não sei escrever. Libertar as ideias do meu consciente para o papel é algo que nunca consegui fazer com a margem de sucesso que gostaria. :D
ResponderEliminarMeta,
ResponderEliminar«estou muito entusiasmado com as aulas de PC»
Óptimo :)
Quanto ao problema da escrita, penso que não há razão para grandes preocupações. O que importa é que o texto seja claro, conciso (os limites ao número de caracteres nos trabalhos são propositadamente exigentes) e revele a compreensão da matéria.
A retórica sofisticada, com floreados e vocabulário rebuscado, normalmente até é prejudicial porque tende a esconder o que interessa.
Olá Ludwig,
ResponderEliminarAntes de tudo parabéns pela iniciativa. Acho incrível como não temos ainda publicado um manual de pensamento crítico. E tenho vergonha que não seja um profissional da filosofia a ter a iniciativa. Gostei do modo informal como escreve. Sei que se quer desviar, mas alguma informação de textos de filosofia pode ser útil. Deixo duas sugestões para alteração:
Fazer a referências das definições dadas de pensamento crítico. Creio que são as do manual do Alec Fisher. E, na 3ª página, refere: "e à nossa participação na sociedade onde intervimos como cidadãos e eleitores". Do meu ponto de vista "eleitores" está claramente a mais. Basta "nossa participação na sociedade". Aliás, nem sei se isso também soa bem. O pensamento crítico visa essencialmente dotar o individuo de ferramentas que o ajude a pensar com consequência. Depois, cada um faz com o pensamento crítico o que quiser. Se quiser aplicá-lo para burlar pessoas, que o faça. O problema é que o pensamento crítico visa a verdade da conclusão apoiada por fortes razões. E esta ideia basta para mostrar o que é o pensamento crítico.
De resto, mais uma vez, venha o livro todo.
Votos de bom trabalho
Rolando,
ResponderEliminarObrigado pelas sugestões e pela paciência de leres (podemos tratarmo-nos por tu?). Isto de escrever em open source ainda está a correr melhor do que eu esperava :)
Sim, prefiro o informal "tu". Vou estando atento e assim que postares outros capítulos continuarei a leitura.
ResponderEliminarabraço e bom trabalho