sexta-feira, dezembro 18, 2009

Em números.

Tenho manifestado neste blog uma oposição radical a qualquer sistema de incentivo à criatividade assente na proibição da cópia ou transformação de material publicado. No lado oposto, alguns comentadores têm apoiado a posição radical que o autor tem o direito de proibir a cópia daquilo que decidiu tornar público. Este post não é para esses. É para os outros, os que estão meio, que sendo contra a repressão legal da cópia privada, lamentam o impacto da “pirataria” na criatividade. Não lamentem mais.

Segundo dados publicados pela British Phonographic Industry e pela Performing Right Society for Music, a queda nas vendas de gravações musicais entre 2004 e 2008 fez baixar o rendimento anual das editoras de mil milhões de libras para 780 milhões de libras. Os artistas também foram afectados e passaram a ganhar menos pela venda de gravações, passando esta fonte de rendimento de 150 para 110 milhões de libras por ano. No entanto, no mesmo período, o rendimento auferido pelos artistas por espectáculos ao vivo aumentou de 430 para 730 milhões de libras por ano, um aumento quase oito vezes maior que a queda no seu rendimento devido à menor venda de discos. Isto porque enquanto que o grosso dos rendimentos pela venda de música gravada vai para as editoras, nos espectáculos quem ganha mais são os artistas.

No total, o volume anual de negócio da indústria musical do Reino Unido aumentou cerca de 10% neste período, devido também ao aumento dos licenciamentos para radiodifusão, publicidade e assim por diante. Isto demonstra que apesar do aumento exponencial da partilha gratuita de ficheiros tem havido um aumento significativo no que os consumidores gastam na música. A grande mudança foi a quem dão o dinheiro. Cada vez menos aos distribuidores e cada vez mais aos artistas.

Pela primeira vez na história, este ano ou no próximo os músicos vão ganhar mais que as editoras. Para alguns – imaginem quem – isto é uma injustiça inaceitável.

Fonte: Times Online, Do music artists fare better in a world with illegal file-sharing?. Via TorrentFreak. Ver também este estudo semelhante acerca da indústria musical sueca: The Swedish Music Industry in Graphs Report

52 comentários:

  1. Ludwig,

    «Pela primeira vez na história, este ano ou no próximo os músicos vão ganhar mais que as editoras. Para alguns – imaginem quem – isto é uma injustiça inaceitável.»

    Para mim não é uma injustiça... Não sendo contradição a minha opinião sobre este ponto e o que acho ser de direito para o autor.

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  2. Só mais uma coisa:

    Não tens é um grupo de controle para comparar, na mesma realidade, com é que a coisa correria.

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  3. Para comparar o quê? Como seria se as pessoas tivessem de gastar o dinheiro em CDs? Até tens. Compara 2004 com 2008...

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  5. Se não fosse a cena da "posição radical" não te respondia. Mas sendo assim toma lá:

    Como é que sabes que isto é bom para os artistas que não estão a ganhar menos do que estariam de outro modo? (e não me digas que é irrelevante porque é o tema do post).

    E como sabes que isto beneficia os que procuram apoios para comçar a carreira? Como sabes que isto estimula a gravação de albuns de alta qualidade (ja como as coisas estão é mau o suficiente)?

    Como é que sabes que as editoras "merecem" ter perdas? O risco é delas. O investimento é delas.

    O que propoes que façam os escritores, diretores e produtores de cinema, criadores de propriedade intelectual (há os que fazem apenas isso), etc?

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  6. 2004 com 2008: realidades diferentes.

    A comparação é com e sem pirataria.

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  7. "Como é que sabes que isto é bom para os artistas que não estão a ganhar menos do que estariam de outro modo, tendo alem disso os lucros das vendas de copias? (e não me digas que é irrelevante porque é o tema do post).

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  8. João,

    «Como é que sabes que isto é bom para os artistas que não estão a ganhar menos do que estariam de outro modo»

    Claro que "de outro modo" poderiam ganhar mais. Bastava haver uma lei que nos obrigasse a ir a um concerto por semana. Mas isso não tem nada a ver com a conversa. Não estou a defender que os artistas ganham o máximo possível.

    O que defendo é que o impacto da nova tecnologia no incentivo à criatividade não justifica o atropelo a direitos pessoais e o custo de oportunidade de não aproveitar um sistema gratuito de distribuição só para manter vivo o esquema do incentivo pela restrição da cópia.

    Quando dizem que o P2P está a matar a indústria deviam dizer que a indústria cresceu 10% nos últimos 4 anos e o dinheiro canalizado para os artistas cresceu uns 70%, sendo que a única coisa que diminuiu foi a venda dos CD e o dinheiro para os distribuidores.

    Podiam ganhar mais ainda? Claro. Mas isso todos nós podemos dizer. O facto é que o choradinho que os piratas estão a destruir a música é treta.

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  9. Mário Miguel,

    «2004 com 2008: realidades diferentes.

    A comparação é com e sem pirataria.»


    Vê a minha resposta ao João. O argumento que devemos ter copyright porque senão os músicos não podem criar já é fraquito que chegue -- entre música e liberdade de expressão, privacidade e direito de acesso à informação a escolha não é difícil.

    Mas o argumento que os músicos ganham cada vez melhor mas podiam ganhar ainda mais se houvesse um polícia ao pé de cada computador é tão ridículo que acho que nem os mapinetas querem ir por aí...

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  10. Ludwig,


    «O argumento que devemos ter copyright porque senão os músicos não podem criar já é fraquito que chegue -- entre música e liberdade de expressão, privacidade e direito de acesso à informação a escolha não é difícil.»

    Não é esse o meu ponto, o meu ponto é unicamente o autor, se quiser, tem o direito em que a sua obra seja paga caso seja ouvida.

    «Mas o argumento que os músicos ganham cada vez melhor mas podiam ganhar ainda mais se houvesse um polícia ao pé de cada computador é tão ridículo que acho que nem os mapinetas querem ir por aí...»

    Mau! Estás a fazer um espantalho? :) Não defendo isso.

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  11. Ludwig:

    Mas a logica não segue de os musicos estarem a ganhar mais que as edioras para o apoio à inovação. Queres propriedade intelectal tens de pagar por ela. Queres mais escolha tens de pagar por ela. Actualmente o risco é assumido pelas editoras. O risco de não prestar. É o preço a pagar pela copia e por aturar girls bands (de onde se financiam).

    Outra coisa, estive a ver o companhia dos filosofos e aqui é só sobre religião. Todos os posts são sobre o amor do senhor da cruz e sobre a virgem e o caraças. Não sao filosofos são teologos.

    E por falar nisso. Que vai ser dos filosofos? Vao ter todos de começar a ser teologos se não puderem vender filosofia decente.

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  12. Ludwig,

    Não queremos um policia em cada computador, mas, expor à descarada, listas de ficheiros para cópia, cuja finalidade principal é a pirataria, é tão válido como uma página de assassinos a soldo nas páginas amarelas, como já disse nos comentários ao post "Legal, 9 (ou descubra as diferenças)".
    O valor da industria de entretenimento, em particular da música,ter crescido 10% de 2004 para 2008 é normal. A economia da Grã-Bretanha cresceu entre 2005 e 2008, 8.5%, e de cor não me lembro se foi mais ou menos de 1.5% em 2004, por isso, é normal que quando tudo cresce 10% a média sectorial seja 10%.
    Se os espectáculos estão a render mais, também é devido ao aumento dos preços dos espectáculos. Entre os 2500$00 do meu primeiro concerto de estádio, para os 90 Euros de algumas charopadas actuais, é normal que haja mais rendimento. Não por haver mais espectáculos, ou mais artistas, mas, porque os que existem graças à publicidade proporcionada pelas editoras, ganham cada vez mais. Não me parece que tenhamos, nem mais, nem melhores artistas, mas, sim uma industria madura que sabe gerar muito com os que já conseguiram um lugar.

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  13. Esqueci-me do link de info sobre o crescimento:
    http://en.wikipedia.org/wiki/Economy_of_the_European_Union

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  14. Ao contrário de muito do que se debate neste blog, esta questão não é um caso de preto ou branco, e essa subtileza tem empanado muitas análises, acabando por jogar francamente a favor dos que continuam a tentar chicotear o semi-falecido cavalo que é o modelo tradicional de distribuição de cultura. Levando o tema para um campo menos frequentemente discutido, a cópia e distribuição de livros, devo dizer que estou cem por cento de acordo com o Ludwig.

    A literatura costuma entrar menos nestas discussões, pela mesma razão por que a cópia de música não era um tema candente há 20 anos: os substitutos actuais dos livros ficam ainda, na opinião de muitos, claramente aquém do objecto livro; as formas de replicação não são imediatas – exigem formatação, dispositivos especiais para ler o texto (ou pelo menos um smartphone adequado); a menor apetência do mercado pela palavra impressa traduz-se em menor disponibilidade de textos. Por estas razões, e apenas por elas, é ainda possível encontrar muitas obras gratuitamente disponíveis, mesmo fora do circuito P2P. Sem um tostão de lucro para o autor, claro. É aqui que entra a tal subtileza.

    Os livros electrónicos disponibilizados por sites “oficiais”, dentro da legalidade e com acordos assinados pelas editoras, e presumivelmente também com os impostos em dia, custam ligeiramente menos que as suas versões impressas e encadernadas. Alguns desses sites explicam, não vá o cliente pensar que são eles os ladrões, que o PVP anunciado é uma imposição da editora. Compreensível mesmo, a uma primeira vista – tratar-se-á de regular a (auto-)concorrência. No entanto, vejamos:

    De uma forma geral, a fatia do preço do livro que cabe ao autor é 10% (a SPA fala em valores entre 5% e 15%, mas os 10% serão a esmagadora maioria dos casos). Sobram portanto 90% para a editora, valor potencialmente justo para quem tem de financiar uma impressão em offset que exige milhares de exemplares até ser rentável, uma rede de distribuição e venda a retalho, e sobretudo o risco potencial de não conseguir vender os tais milhares de exemplares que foi forçoso imprimir. Mais importante ainda, o excesso de lucro numa obra irá cobrir o prejuízo de uma subsequente má aposta. Tudo isto é justo.

    Extrapolar daqui os mesmos 90% para uma obra que é distribuída e disponibilizada a custo virtualmente zero é o que se chama, em antigo português, ladroagem. E qualquer discurso sobre concorrência ilegítima é disparatado – quem é que compra um livro que só poderá ler no computador ou telemóvel por falta de dinheiro para a versão encadernada em papel? Não seria melhor para o autor receber os 2 ou 3 euros pelo seu ficheiro Word? E mesmo que esse ficheiro fosse pirateado, seria pelo menos lido, por pessoas que talvez comprassem o próximo livro. Será grave para o autor que um distribuidor que nada distribuiu deixe de lucrar com este processo?

    Um esclarecimento apenas, para melhor legibilidade do que fica dito: em toda esta questão, o meu posicionamento é como autor, não como consumidor. Ainda uma observação, em resposta ao João que diz isto:
    O que propoes que façam os escritores, diretores e produtores de cinema, criadores de propriedade intelectual (há os que fazem apenas isso), etc?

    Bom, acho que devem fazer o que sempre fizeram, produzir e esperar pelo melhor. Na minha qualidade de criador de propriedade intelectual, e não dispondo de um patrocínio ou protecção, sinto que o cenário actual me oferece mais escolhas, e me permite publicar mesmo na ausência da bênção patriarcal de uma editora de dentro do sistema. Transpondo a coisa para um exemplo concreto, visto que os autores e os consumidores são de facto pessoas concretas, dirijo-te uma pergunta concreta, João: se acaso tu manifestasses interesse em ler alguma coisa escrita por mim, crês que eu te iria disponibilizar uns quantos textos, ou remeter-te para uma obra impressa, e acrescida dos tais 90%?

    Finalmente, Ludwig, as minhas desculpas pela extensão do comentário, e os meus agradecimentos pelo espaço aqui abusado.

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  15. Nuno Coelho:

    "se acaso tu manifestasses interesse em ler alguma coisa escrita por mim, crês que eu te iria disponibilizar uns quantos textos, ou remeter-te para uma obra impressa, e acrescida dos tais 90%?"

    Penso que me vais enviar uns textos para o meu email e esperar que eu se gostar compre obras maiores e completas.

    Manda. Se esse é o teu trabalho e tiveres vontade de mandar. Mas Estou convencido que sim. :)

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  16. Outra coisa:

    Eu tambem acho que o modelo actual é o melhor. Pois cada um pode fazer como quizer e distribuir como quiser.

    Que se continue a recorrer a editoras é a prova que as coisas não são tão simples como o Ludwig acredita.

    Mas a posição dele é consistente o suficiente para merecer uma prova empirica. Não estou de acordo é com algumas alegações que ele faz face ao modelo actual.

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  17. Mário Miguel,

    «Não é esse o meu ponto, o meu ponto é unicamente o autor, se quiser, tem o direito em que a sua obra seja paga caso seja ouvida.»

    Depende. Se me disseres que eu tenho o direito de escrever um post e só o publicar se vocês me pagarem, concordo. Tenho todo o direito de o deixar aqui no meu PC, de exigir que respeitem a minha privacidade, e de só o pôr no blog depois de prometerem dar o dinheiro. E tenho o direito de exigir o dinheiro a quem mo prometeu.

    Mas se estás a dizer que por escrever um post e voluntariamente o colocar onde qualquer um possa aceder, tenho o direito de cobrar pela leitura então discordo. Isso é um disparate porque só tenho o direito de cobrar o que me devem, e não o direito de inventar dívidas dos outros para comigo.

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  18. António,

    «Não queremos um policia em cada computador, mas, expor à descarada, listas de ficheiros para cópia, cuja finalidade principal é a pirataria, é tão válido como uma página de assassinos a soldo nas páginas amarelas»

    O problema é que um assassinato é uma coisa terrível. Basta um. Deve ser ilegal e devemos ter polícia a impedir que se assassine pessoas.

    Copiar um ficheiro mp3 não é nada de mal. Não prejudica ninguém, não viola ninguém, e é um uso legítimo da propriedade de cada um. Se é o meu disco, o meu computador, o CD que eu comprei, tenho todo direito de magnetizar o meu disco em função dos valores no meu CD e emprestar o meu disco a quem eu quiser. Isto era o que fazíamos com as cassetes e os discos de vinil.

    O que se passa agora é que o único problema é esse tal "descaramento". Não é a cópia em si. É muita gente conseguir copiar facilmente. Mas, como os números indicam, isso só é problema para quem era pago pelo serviço de copiar. Para quem cria as coisas estão melhor agora do que estavam antes.

    «A economia da Grã-Bretanha cresceu entre 2005 e 2008, 8.5%, e de cor não me lembro se foi mais ou menos de 1.5% em 2004, por isso, é normal que quando tudo cresce 10% a média sectorial seja 10%.»

    Ou seja, o impacto económico da tal "pirataria descarada" foi de 0%, visto o crescimento da indústria ter acompanhado o crescimento económico. Daí que não se justifique tomar medidas legais de combate a essa "pirataria descarada". Não é um problema para a economia em geral mas apenas para alguns negócios obsoletos. E o propósito das leis não é servir de pulmão artificial para negócios que já não têm interesse.

    «Não por haver mais espectáculos, ou mais artistas, mas, porque os que existem graças à publicidade proporcionada pelas editoras, ganham cada vez mais.»

    Essa hipótese implica que a diversidade na criação musical tenha decaído substancialmente, concentrando-se tudo nuns poucos. Os dados não suportam essa hipótese.

    Seja como for, mesmo que as editoras tenham um papel importante na publicidade (o que é treta, com a Internet, mas vamos assumi-lo como hipótese), ainda assim não se justifica legislação específica para garantir um retorno do investimento em publicidade. Isso é absurdo.

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  19. Nuno Coelho,

    «Finalmente, Ludwig, as minhas desculpas pela extensão do comentário, e os meus agradecimentos pelo espaço aqui abusado.»

    Não tens nada que pedir desculpa, e até agradeço o contributo. Só espero que não sigas o princípio do Mário Miguel, que já tive despesas que chegue este mês... :)

    A questão de como incentivar a criatividade é importante, e tenciono voltar a isso daqui a uns dias (há outros posts em fila). Mas penso que o teu comentário mostra bem os problemas de assumirmos que a melhor maneira de incentivar os criadores é criando restrições à cópia. Hoje em dia é até uma das piores.

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  20. João,

    «Eu tambem acho que o modelo actual é o melhor. Pois cada um pode fazer como quizer e distribuir como quiser.

    Que se continue a recorrer a editoras é a prova que as coisas não são tão simples como o Ludwig acredita.»


    Continua-se a recorrer a editoras porque há a possibilidade de comprar o direito exclusivo sobre uma obra. Sendo legalmente transaccionável, a editora, estando num ponto central da distribuição, pode dar-se ao luxo de o exigir como preço para publicar a obra.

    Isto era a norma até recentemente. Por exemplo, por estranho que pareça, até há pouco tempo o procedimento normal na investigação era o contribuinte pagar o trabalho, o investigador escrever o artigo e a editora ficar com os direitos exclusivos de distribuição sobre os resultados e um trabalho pago do erário público e do autor que não recebeu dinheiro nenhum da editora, e revisto por alguns dos seus pares que o fizeram em regime de voluntariado.

    A razão porque isto mudou é porque hoje há formas de distribuição alternativa e o pessoal começa a ver o absurdo deste esquema. Por isso agora há uma mudança gradual para o open access, em que o autor de artigos aceites paga um preço modesto para a manutenção e distribuição do artigo em formato electrónico mas esse torna-se de acesso gratuito.

    Mas essa lei que cria o direito exclusivo de cópia continua a ser um entrave. Sem isso as coisas funcionavam bem melhor.

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  21. Ludwig:

    Se o pessoal começa a ver o abuso deste esquema, que comece a editar por conta propria e a publicar. Como eu e tu fazemos. Ninguem me veio chatear a dizer que tenho de ter uma editora e que tenho de vender os meus direitos a alguem.

    Agora imagina que existe um empresario qualquer que acha que o meu trabalho amador pode merecer apos alguma edição, ter a atenção de mais pessoas e ser gasto dinheiro na divulgaçao. Imagina ainda, que esse tipo, apesar de ser um pouco louco, ainda pensa que pode ganhar dinheiro no processo, criando riqueza e pagando impostos disso, se me propozer investir dinheiro que eu não tenho, assumir o risco de não haver lucro - coisa que se eu quiser assumir tambem posso, mas não estou para ai virado - e deixar esse contrato escrito. Eu vendo-lhe uma propriedade metafisica, conceptual do meu trabalho, que lhe permite por uma engrenagem de divulgação e produção que+e onerosa em movimento.

    Eu acho que esse mecanismo não deve acabar.

    Agora imagina, que se trata, não de mim, mas de um tipo francamente talentoso. Mas que os seus contemporaneos falham em reconhecer, excepto um ou outro visionario. Imagina que esses vizionarios, tal com o empresário da historia anterior, está disposto em investir. Imagina que a divulgação pode acelerar a compreensão e a distribuição efectiva do trabalho deste criador.

    Eu digo deixa. Deixa todos os meios à disposição.

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  22. Ludwig, o teu argumento é bom contra aqueles que dizem que os artistas não conseguem ganhar dinheiro com a pirataria mas mau contra aqueles que apenas defendem os direitos destes e das suas editoras. Acho muito importante fazer esta distinção, porque se um artista prefere tentar a sua sorte a vender cds em vez de dar concertos, tem todo o direiro de tentar, mesmo que seja uma má estratégia da parte dele. Ou seja, as estratégias não podem ser forçadas; têm de ser dependentes da escolha do artista.
    Um merceeiro que tenha o seu estabelecimento num bairro perigoso e que seja assaltado 1 vez por semana não tem de ouvir argumentos da parte de ninguém (seja da polícia, dos vizinhos ou muito menos dos próprios assaltantes) a dizer "epá...queres ganhar dinheiro e não ser assaltado arranja uma loja noutro sítio menos perigoso". Quem está mal não é ele! São os ladrões, a camera municipal, a polícia, etc...
    Por isso acho importante fazer a distinção (totalmente relevante para esta discussão) entre os direitos do artista e a sua estratégia.
    Tento dito isto falta deixar claro que sou um total hipócrita, porque faço parte dos ladrões. Eheheh!

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  23. Ludwig:

    Uma vez que a minha posição era marcada precisamente pelo tipo de receio que descreves (como financiar a criatividade num cenário em que a pirataria é aceitável ?), os números que apresentas parecem-me significativamente persuasivos.
    Se o Reino Unido não for uma excepção, e essa for a tendência em toda a indústria ocidental, é difícil argumentar contra a tua posição. Pelo menos no que diz respeito à música.

    Mas...

    Mantenho um receio.

    O receio é o seguinte. Hoje todos estamos habituados a pagar pela música. Crescemos a pagar pela música, interiorizámos que é justo pagar pela música. Assim, parte significativa (e isto foi uma surpresa, confesso) daqueles que violam o direito de autor sente ainda o dever de contribuir financeiramente para com os autores de quem gosta.
    Mas manter-se-ão as coisas assim? Gerações habituadas a obter a música que querem gratuitamente não irão evitar pagar aos autores, sentido que a música a que têm acesso depende pouco ou nada das suas decisões individuais. Preferindo por isso gastar o seu dinheiro noutros bens, sem a sensação de culpa que tem esta geração habituada a pagar pela música?

    Os autores que disponibilizam as suas obras a todos, podendo cobrar antes da publicação, ou vivendo de doações voluntárias, podem safar-se bem com esta geração habituada aos direitos de autor "antigos". Mas terão futuro numa geração que não está habituada a isso?

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  24. Ludwig

    Já viu o novo modelo que pode acabar com a pirataria da música? Parece ser sensacional e vai trazer consequências económicas tremendas: o desaparecimento dos suportes físicos para música é revolucionário.


    http://www.ionline.pt/conteudo/38377-o-futuro-da-musica-nao-cabe-num-ipod-e-apple-sabe

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  25. Joao Vasco:

    Acho que devias ver a questão que o Mário Miguel pos.

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  26. Ludwig,

    Confesso que não há nada que eu mais goste do que usar os argumentos dos outros para lhes responder. :-)

    Como tu disseste o impacto foi 0%. Nesse período o copyright foi abolido? Ah! Pois não... não foi. Por isso o factor copyright faz parte dos factores que contribuíram para esses 0%, pois como o João Vasco disse, o facto de o copyright existir, ainda pesa psicologicamente, e por isso, mesmo quem copia muito da net, ainda copra alguma musica de vez em quando, e o receio da infracção ainda move o consumo. Sem copyright tu não podes determinar o que se vai passar, e com copyright já sabemos que o diferencial ainda fica nos 0 apesar de alguma mudança de foco.
    Algo que devias começar a analisar, é, dos muitos milhões que foram ganhos em actuações, quanto é que foi ganho por artistas distribuidos pelas editoras e cuja obra está sujeita a copyright e quanto é que foi ganho por aqueles que distribuíram gratuitamente as cópias do seu trabalho.


    Nuno Coelho,

    Uma resma de papel dá-me para imprimir 4000 páginas de livro, e o custo para mim desse papel é maior que para a editora, mas, ainda assim, cada livro, com 250 páginas, mesmo depois de impressas, fica muito mais barato do que alega.
    Os 90% que diz serem para a editora são falaciosos, pois 20% ficam para o estado directamente em impostos indirectos, e mais uma parcela em eventual IRC, tem de pagar os mesmo salários que os da editora de música, e toda a cadeia de distribuição. A única diferença relevante é o espaço, já que um livro expõe-se de forma diferente nas lojas, mas, mesmo assim, o espaço necessário a mais não é superior a 50%. Feitas as contas, o que é que a editora gasta a mais com livros do que com musica, ou pior ainda, com um filme? Um escritor só tem que se pagar a ele mesmo, por isso 10% não é mau. Mas uma banda, que além dos multiplos musicos quem que pagar o estudio, e todo o hardware, mais os tecnico envolvidos na gravação, etc., onde é que o custo inicial é inferior num livro? É que nem o papel todo em que o livro é impresso, se aproxima do custo de produção da gravação inicial.

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  27. Tempera,

    «Ludwig, o teu argumento é bom contra aqueles que dizem que os artistas não conseguem ganhar dinheiro com a pirataria mas mau contra aqueles que apenas defendem os direitos destes e das suas editoras.»

    Se a tua posição é que eu tenho o direito de exigir à sociedade -- ao sistema jurídico, aos legisladores e, em última análise, aos contribuintes -- que te impeçam de copiar os textos que eu voluntariamente coloco no meu blog, então divergimos logo aí. Porque se eu não quero que tu os copies, a minha opção é não os colocar no blog.

    A tua analogia com os roubos remete para uma situação diferente. Nesse caso concordo que se exija da sociedade um investimento na prevenção dos roubos. Mas ir na rua e roubarem-me a carteira é diferente de eu escrever um texto, convertê-lo numa sequência de 0s e 1s, publicar essa sequência e depois dizer que estou a ser roubado porque algumas pessoas copiaram essa sequência sem me dar dinheiro. Entre levar-me a camisola ou fazer uma igual vai uma grande diferença...

    «Por isso acho importante fazer a distinção (totalmente relevante para esta discussão) entre os direitos do artista e a sua estratégia.»

    Concordo. E um ponto que me parece fundamental é que nenhum artista tem o direito moral (e muito menos deve ter o direito legal) de me proibir de trocar com outras pessoas sequências de números que descrevam obras que esse artista voluntariamente decidiu disponibilizar ao público. Isso é como proibir-me de cantar no duche, emprestar CDs, vender livros em segunda mão ou ensinar alguém a tocar uma música na viola.

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  28. João Vasco,

    «O receio é o seguinte. Hoje todos estamos habituados a pagar pela música.[...] Mas manter-se-ão as coisas assim?»

    Não e sim.

    Não porque o "hábito" que temos é o de ter a obrigação de pagar pela música. Tem sido criada esta imagem desde as cassetes, pela propaganda das editoras, que alguém que ouve música de borla é uma má pessoa. Um pirata. Isto está a mudar. Cada vez mais o pessoal ri-se disto.

    Mas ainda bem porque isto de pagar por obrigação é sintoma de um mercado que está a funcionar mal. Faz sentido nos impostos, mas os impostos não são transacções voluntárias. Num mercado saudável as pessoas pagam porque querem participar na transacção, não por má consciência.

    Por outro lado, as coisas vão-se manter assim no sentido das pessoas quererem dar dinheiro aos seus autores preferidos. Eu acho difícil que seja só por coincidência que o mercado da música tenha crescido ao ritmo da economia, aproximadamente, e que o aumento do consumo de espectáculos e licenciamento comercial tenha compensado exactamente a diminuição das compras de CDs -- uma mudança muito grande que deixou tudo na mesma.

    Penso que a explicação melhor para isto é que as pessoas não estão a desistir de dar dinheiro pela música. O que estão é a ver que dar dinheiro pelo serviço de copiar ficheiros em CD é disparate. É isso que está a mudar.

    «Os autores que disponibilizam as suas obras a todos, podendo cobrar antes da publicação, ou vivendo de doações voluntárias, podem safar-se bem com esta geração habituada aos direitos de autor "antigos". Mas terão futuro numa geração que não está habituada a isso?»

    Todos estamos habituados a pagar por serviços, do cabeleireiro ao explicador, do cirurgião ao taxista. Não nos custa nada pagar a um compositor ou cantor -- e isso está patente no aumento do consumo nos espectáculos.

    Por outro lado, não estamos habituados a pagar caro por algo que podemos fazer sozinhos só por nos proibirem de o fazer. Esta é a aberração do copyright digital. No fundo, querem-te cobrar 20€ pelo mesmo que fazer Ctrl+C, Ctrl+V. E isso estamos habituados a ver que é barrete.

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  29. António,

    «Como tu disseste o impacto foi 0%. Nesse período o copyright foi abolido? Ah! Pois não... não foi.»

    Porreiro. Então podemos todos copiar e partilhar ficheiros à vontade que não faz mal nenhum desde que o copyright não seja abolido. Basta ser ignorado por centenas de milhões de pessoas e fica o problema resolvido.

    « o receio da infracção ainda move o consumo»

    Se isso for verdade é, por si só, um argumento forte para acabar com a lei. É que uma lei que só serve para mover o consumo de algo como CDs é claramente um mau investimento de recursos limitados. Mais vale ter leis que sirvam de alguma coisa útil.

    O ponto principal, que estás sempre a evitar, é se vale a pena ter leis que proíbam a troca de ficheiros e informação acerca de ficheiros, que violem privacidade, que contornem o processo judicial normal e assim por diante para que se impeça centenas de milhões de pessoas de partilhar dados apenas com o propósito de fazer com que o receio da infracção mova o consumo. Eu acho que isso é um disparate. Se é preciso esse aparato legal e policial todo só para mover o consumo é porque estamos a proteger um mercado que não interessa.

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  30. Ludwig:


    «Todos estamos habituados a pagar por serviços, do cabeleireiro ao explicador, do cirurgião ao taxista. Não nos custa nada pagar a um compositor ou cantor -- e isso está patente no aumento do consumo nos espectáculos.»

    Existe uma grande diferença.

    No que diz respeito ao cabeleireiro ou ao explicador acontecem duas coisas:

    a) Trata-se de um utilizador que paga individualmente o serviço.

    b) Trata-se de alguém que sabe que a sua decisão INDIVIDUAL de pagar afecta decisivamente a probabilidade de ter acesso ao serviço (se ELE não paga, não tem acesso).

    No sistema que sugeres para financiar a composição de música isto não acontece.
    Por isso, a priori, não é a mesma coisa.

    Os dados que apresentas são um bom argumento para defender que a posteriori são a mesma coisa. Não sou indiferente a esses dados.
    Mas eles não são completamente conclusivos por causa daquilo que disse sobre a geração.

    O medo é que todos estejam dispostos a pagar pelo trabalho do compositor (uns 5e, vamos supor). Mas como sabemos que a decisão INDIVIDUAL de pagar ou não pagar altera pouco a probabilidade de ter acesso ao seu trabalho, as pessoas se comportem de forma egoísta e fiquem sem acesso a esse trabalho. Não em resultado de CADA decisão individual, mas em resultado do efeito combinado destas decisões (dilema do prisioneiro).

    A wikipedia, que felizmente se vai mantendo, mas sempre em risco e com uma diminuição de participações significativa, foi o exemplo que me deste para mostrar que muitas vezes as pessoas não se comportam de forma egoísta.
    Concordo, mas será que esse altruismo é suficiente para manter a criação cultural de que hoje disfrutamos?

    Repito, os dados que apresentas são um indício nesse sentido, mas insuficiente para pôr fim aos meus receios.

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  31. João Vasco,

    «b) Trata-se de alguém que sabe que a sua decisão INDIVIDUAL de pagar afecta decisivamente a probabilidade de ter acesso ao serviço (se ELE não paga, não tem acesso).»

    Acho que é aqui que te está a falhar uma coisa importante. Quando um fã compra a edição limitada original assinada pelo seu cantor favorito está a tomar uma decisão individual de pagar por algo que ele quer pagar. Porque descarregar o mp3 num torrent não é a mesma coisa.

    E isto vai ao cerne da justificação para incentivar a criatividade. É por ser uma coisa boa. O valor da música não está no entretenimento que temos de ouvir o mp3 ou o CD meia dúzia de vezes -- apesar das editoras terem tentado fazer parecer que o propósito todo da criatividade artística é essa gravação. A arte é muito mais participativa que isso. É uma actividade colectiva na qual uns participam de uma forma e outros de outra. Sem artista não há arte, mas sem público também não.

    Cada pessoa toma a decisão individual de pagar para participar nesse processo colectivo que é a arte. O que estes números mostram é que a partilha gratuita de um dos produtos secundários -- os ficheiros -- não afecta a vontade de o fazer.

    E, ao contrário do que tu e o António sugerem, parece-me que não é por medo da polícia que o fazem. As sondagens, o impacto insignificante dos processos contra partilhadores e o esforço enorme para passar cada vez mais leis demonstra que empurrar o mercado com a lei não funciona bem.

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  32. Ludwig,

    Acho que confundes as coisas de proposito, mas, mesmo assim vou explicar como se não fosses inteligente. :-)
    Até ao advento do copyright, só havia músicos a soldo dos ricos, só havia pintores miseráveis, ou, a soldo dos ricos, só havia...bem, tu já percebeste. O problema era que, a soldo, faz-se o que o rico quer. O Mozart que produziu mais obras do que as que consigo "suportar", queixava-se, e isso é conhecido, que ter de fazer o que os ricos encomendavam para sustentar a família, lhe estava a matar a arte, porque tinha de debitar toda a "porcaria" que lhe ocorresse para cumprir com o que lhe pediam. Essa cultura de ricos, implicava que são eles que ditam o caminho a seguir e não o artista.
    Depois do copyright, o artista faz a sua arte e o publico avalia e decide do mérito artístico, que é o que desaparece com a redução a zero do valor do trabalho que tu defendes. Por cópia gratuita a filtragem desaparece a 100%, e toda a porcaria aparece ao mesmo nível. Exemplo disso é o lixo que encontras em file share com os mesmos critérios de pesquisa que obras conhecidas. Eu não sou contra a cópia gratuita, só que acho que a mesma deve ser vedada a utilizações comerciais, e durante o efeito novidade. Não ficas mais pobre se tiveres de esperar 5 anos para copiar sem restrições as canções da moda deste ano (eu não concordo com restrições vitalícias, pois acho que são tão más como a abolição do copyright), mas, se sentes a necessidade de ter uma cópia já, essa tua "necessidade" vale dinheiro, e o teu "egoísmo" do dilema do prisioneiro é que te está a levar a exigir a borla, mas, tu achas que os outros é que devem pagar pela "necessidade" deles. Acharia estranho se eles não pensassem da mesma maneira. No fundo é mais uma variante d'"Os ricos que paguem a crise", com a respectiva desresponsabilização das partes interessadas no resultado final. Tu queres a cópia, mas, achas que os outros é que a têm de pagar, tal como o desempregado sem "skills" nem iniciativa que acha que os outros é que devem importar-se com o seu sustento. Tu queres ser entretido, mas, outros que paguem o teu entretém. Sim, porque se trata de entretenimento, e não de cultura, porque a musica de massas, os filmes de massas e os jogos é que são os principais alvos de pirataria. Os nichos, que são cultura, auto sustentam-se. O Nuno Coelho deu o exemplo da literatura, que é afectada pela pirataria na componente técnica. Fotocopias os manuais, mas, não os livros do David Lodge. Eu copio a treta mainstream, mas, compro todos os CDs do meu "nicho" cultural, mas, se não tiver nada à vista para avaliar não pago. Não financio supostos trabalhos futuros, pois não sei o que vai na alma do criador. O criador não vale pelo que pode vir a fazer, mas, pelo que já fez, se me agradar. Por isso o teu modelo é bom para borlistas, mas, não interessa a mais ninguém.

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  34. «Cada pessoa toma a decisão individual de pagar para participar nesse processo colectivo que é a arte. O que estes números mostram é que a partilha gratuita de um dos produtos secundários -- os ficheiros -- não afecta a vontade de o fazer.»

    Ok, Ludwig.

    Eu diria que os números sugerem que a tua teoria está certa. MAS creio que as razões que apresentei são suficientemente fortes para que não possas usar a palavra "mostram".

    E não apresentei a razão "medo". Mais facilmente usaria a razão "culpa". E nota que eu não falo numa motivação racional - essa será tão forte numa situação de proibição legal como numa de liberalização - falo nas motivações que de facto afectam o comportamento das pessoas. O que é que os outros fazem, o que é a lei, o que é considerado correcto pelos outros (e às vezes pelo poder), o que sentimos que podemos ou precisamos de justificar.

    Hoje, se sacar ficheiros é ilegal, tu podes precisar de "sentir" que não és um ladrão como muitos julgariam, e para isso não deixares de contribuir. Amanhã, se sacar ficheiros é legal, podes não "sentir" que tenhas de dar justificações a ninguém se usufruis da música sem pagar.
    E não falo de ti em particular. O teu ego pode ser suficientemente forte para que sentimentos irracionais desse tipo não te afectem, não sei. Mas sei que pesquisas sobre a psique humana são bastante claras em como a ser esse o teu caso, certamente não será o caso geral.

    Por isso, os valores que apresentas dão algumas razões para maior optimismo da minha parte. Mas não são suficientes para calar os meus receios.

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  35. António,

    «Até ao advento do copyright, só havia músicos a soldo dos ricos»

    Até ao advento dos métodos de reprodução em massa, como a impressão, os criadores tinham de trabalhar para clientes ricos -- normalmente grupos religiosos -- porque só podiam ter poucos clientes, ou trabalhar em espectáculos. Esta era a grande diferença entre os escritores e trovadores até Gutenberg.

    Depois de se conseguir reproduzir material em grande quantidade, os criadores passaram a trabalhar para outros clientes ricos. Os editores. Esses é que ficavam com os direitos exclusivos sobre a cópia, como forma de subsidiar o investimento na rede de distribuição. Do ponto de vista do artista, o problema era o mesmo: só os ricos podiam distribuir, por isso no que tocava a vender cópias do seu trabalho o artista tinha de trabalhar para os ricos a menos que fosse rico.

    O que mudou recentemente é que todos podemos copiar e distribuir. Não é preciso ser rico para isso. Isto tem duas implicações. Uma é que os distribuidores deixam de ter a faca e o queijo na mão, passando a ter um papel secundário. A outra é que o artista pode agora vender o seu trabalho a muita gente. O trabalho, não a cópia. Como já muitos fazem.

    Com a tecnologia que temos a restrição à cópia é um método mau porque tem custos demasiado altos e benefícios irrisórios para todos excepto os distribuidores.

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  36. João Vasco,

    Penso que os números contradizem a hipótese do valor psicológico da lei. O número de cópias feitas à margem da lei é hoje pelo menos da ordem de grandeza das cópias legais e, ainda assim, a indústria continua a crescer. Isto está mais de acordo com a hipótese que as pessoas sabem distinguir aquilo pelo qual têm interesse em pagar e aquilo que não importa, como o serviço de cópia.

    Mas o mais importante é teres em mente que isto é uma lei. É uma forma coerciva de engenharia comportamental que pressiona uma data de gente pegando em alguns como exemplo e castigando-os severamente. O ponto principal que me parece muita gente omite é que este tipo de coação não se justifica só para proteger um esquema de distribuição.
    É possível que a lei tenha o efeito que tu dizes, de levar mais gente a pagar pela cópia. Mas o valor ético e social do pagamento pela cópia quando a tecnologia que temos torna a cópia gratuita não justifica uma medida tão pesada. Pelo contrário. Eu diria que mesmo sem a lei, a própria ideia que devemos pagar pela cópia devia ser combatida porque leva a um sub-aproveitamento da capacidade que temos de partilhar cultura e informação. Essa capacidade contribui muito mais para o bem estar de todos que o sucesso económico das empresas de distribuição (na verdade, era precisamente essa necessidade que justificava subsidiar os distribuidores na altura em que não havia forma alternativa de distribuir bens culturais e informação).

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  37. «Penso que os números contradizem a hipótese do valor psicológico da lei. O número de cópias feitas à margem da lei é hoje pelo menos da ordem de grandeza das cópias legais e, ainda assim, a indústria continua a crescer. Isto está mais de acordo com a hipótese que as pessoas sabem distinguir aquilo pelo qual têm interesse em pagar e aquilo que não importa, como o serviço de cópia.»

    Aquilo que estou a defender é que os números favorecem a tua hipótese, mas estão longe de ser definitivos.
    E crio que não contradisseste isso com os teus últimos argumentos.


    «É possível que a lei tenha o efeito que tu dizes, de levar mais gente a pagar pela cópia. Mas o valor ético e social do pagamento pela cópia quando a tecnologia que temos torna a cópia gratuita não justifica uma medida tão pesada. Pelo contrário»

    Seja. Mas pensei que aquilo que defendias, com estes valores, era simplesmente que a criatividade não deixaria de ser incentivada da mesma forma (aliás, a "forma" mudaria, claro. O "volume" direccionado aos criativos é que não).

    Não que a diminuição do incentivo não justifique a manutenção da lei. Esse argumento não é tão "ambicioso" como o anterior.

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  38. João Vasco,

    Concordo que não temos nada de definitivo mas isso é apenas porque, em rigor, nunca temos tal coisa. Nem podemos dizer em definitivo que o tabaco é uma causa de cancro.

    Mas os dados que temos mostram que conforme aumentou a distribuição gratuita à margem da lei, diminuiu a fatia de dinheiro que cabe aos distribuidores mas a industria cresceu acompanhando a economia e aumentou o quinhão dos criadores nessa parte da economia. Isto é consistente com a hipótese que o copyright serve aos distribuidores e não aos criadores e contradiz a hipótese que só aplicando restrições de cópia ao conteúdo digital é que é possível manter a indústria e a criatividade.

    Estes dados e o problema adicional dos direitos que se tem de violar para aplicar uma lei de restrição de cópia à actividade quotidiana de cada indivíduo parece-me suficientes para não estender o copyright à cópia e distribuição para uso pessoal. Há muitas outras coisas que incentivam a criatividade. E o acesso livre à cultura é uma delas.

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  39. «Concordo que não temos nada de definitivo mas isso é apenas porque, em rigor, nunca temos tal coisa. Nem podemos dizer em definitivo que o tabaco é uma causa de cancro.»

    Acho que não precisas de me explicar isso.

    Mas existe uma diferença entre "os dados indiciam" e "os dados mostram", mesmo que nenhuma delas queira necessariamente dizer "os dados dão-nos a certeza absoluta irrevogável".

    Era esta diferença que eu estava a focar.

    E apenas estava a discutir a questão do financiamento aos criadores em particular; não a questão mais ampla da desejabilidade de abolir o copyrigth.

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  40. João Vasco,

    O meu problema é que não consigo perceber essa tua diferença.

    O que proponho é que com os dados que temos e com os custos sociais e pessoais da implementação destas leis, o copyright deveria, no máximo, aplicar-se a relações comerciais e não ter qualquer efeito sobre aplicações sem fins lucrativos. Discordas ou concordas com esta parte?

    Além disso, parece-me que mesmo nas relações comerciais, como parte do incentivo à inovação tanto na arte como nos modelos de negócio, o copyright devia ser substituído por um direito de comparticipação de lucros. Ou seja, o autor que decide publicar uma obra não retém qualquer direito de proibir a sua distribuição ou transformação (como se faz no caso da sátira, por exemplo, ou no caso de exigências discriminatórias como querer proíbir que mulheres leiam o seu livro), mas fica com o direito de receber parte dos lucros da sua exploração comercial.

    É que enquanto que a restrição à cópia é bom para o distribuidor -- monopólios são sempre um benefício aos seus detentores -- como incentivo ao criador é um pau de dois bicos. Pode dar mais uma fonte de rendimento depois de ele ter sucesso mas dificulta-lhe o acesso às cultura durante a sua formação como criador e impede a criação de obras derivadas (algumas obras derivadas, porque no fundo todas o são, valha-nos a hipocrisia...)

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  41. Ludwig:

    Eu percebo que tenhas escrito este texto neste contexto mais amplo que descreveste no teu último comentário. E estás a repetir os fortes argumentos que tens apresentado.

    Mas muito em concreto o texto falava sobre como os criadores não têm sofrido com o facto da "pirataria" ter aumentado bastante.

    Eu começo por reconhecer isto como surpreendente, e como um indício forte a favor das tuas teses. Apenas recomendo cautela na interpretação destes dados: os criadores não parecem ter sido atá agora grandemente prejudicados pela partilha de informação mais "liberalizada" (talvez até pelo contrário); mas apresentei boas razões para não extrapolar isso para um cenário em que as pessoas nasceram numa sociedade que nunca protegeu o copyrigth.

    Já há bastante tempo que os teus argumentos me arrancaram da posição que tinha e me lançaram para o campo das dúvidas - razão pela qual não posso responder à tua pergunta - mas ainda não foi desta que aderi às tuas certezas (não absolutas, eu sei).

    Parece-me que eventualmente vai ficar impraticável proteger o copyrigth, pelo menos sem violações gravíssimas para a nossa privacidade e outros direitos fundamentais; e eventualmente será abolido.

    Tenho receios, creio que fundados, que a criação cultural de excelência possa ser algo vitimada por essa nova situação.

    Gostaria muito de acreditar que tens toda a razão, e que só o negócio de distribuição que se tiver tornado obsoleto e desnecessário é que vai sofrer, bem como meia dúzia de criadores sem verdadeiro talento.

    Aquilo que tenho estado a escrever é que ainda não foi desta.

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  42. João Vasco,

    «Tenho receios, creio que fundados, que a criação cultural de excelência possa ser algo vitimada por essa nova situação.»

    Vou então explicar porque considero infundados esses teus receios.

    Do lado do criador temos duas possibilidades:

    A) O dinheiro é um incentivo mais importante que outros como a exposição ao público, o acesso à cultura e a liberdade para criar e transformar obras de outros.

    B) O dinheiro é menos importante como incentivo para a criação de obras de excelência que esses outros factores: reconhecimento público, acesso à cultura durante a formação do artista e liberdade de criar como bem entender.

    Parece-me que a fraca correlação entre excelência cultural e sucesso comercial suportam claramente a hipótese B. Principalmente quando consideramos a investigação fundamental como parte da nossa cultura (que penso é correcto -- não vejo porque a teoria da relatividade não possa ser considerada uma obra da criatividade humana tão excelente como um romance do Saramago).

    Por isso a minha opinião é que se melhorar o acesso à cultura, facilitar a divulgação de obras e permitir a transformação de criações de outros autores resultar numa diminuição na quantidade de dinheiro que incentiva a criatividade, mesmo assim teremos um resultado melhor que aquele que temos agora.

    Mas da parte do consumidor temos estes dois modelos:

    X) O pessoal paga porque não tem outro remédio, e se se safar com borlas deixa de pagar.

    Y) O pessoal paga porque pagar é uma forma de quem não tem os dons do seu idolo ainda assim participar na criação daquelas obras que admira.

    Dados como os que apresento neste post suportam claramente o modelo Y. E podemos acrescentar a estes o crescente sucesso dos cinemas, a nova industria musical em que os artistas trabalham directamente com os seus fã, e a próprio funcionamento da pirataria, em que as pessoas partilham porque querem partilhar e não por ganhar dinheiro com isso.

    Por isso, independentemente de questões éticas ou de implementação de leis, eu defendo que mesmo que o objectivo seja unicamente a criação cultural devemos acabar com as restrições à cópia e à criação de obras derivadas.

    Como se faz na ciência, por exemplo.

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  43. Ludwig,

    Sobre a primeira parte daquilo que escreveste, considera que escrevi alguns bens de "entrenimento de excelência" em vez de alguns bens culturais de excelência.

    Não vale a pena dizeres "para proteger o negócio do entretenimento não vale a pena isto e aquilo", pois não é isso que estou a discutir. Estou meramente a especular sobre o futuro do entretenimento de excelência. E como falo em entretenimento e não em cultura, para este efeito o Matrix tem mais valor que o Waking Life, mesmo que pessoalmente prefira o segundo.


    «Dados como os que apresento neste post suportam claramente o modelo Y.»

    São um indício a seu favor. Aquilo que explico é em que medida é que não são um indício assim tão forte quanto isso.
    As razões para o receio mantêm-se.

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  44. João Vasco,

    Eu penso que parte do problema é a tua definição de valor não ser minimamente operacional.

    Tu estás a considerar apenas o entretenimento, aquilo que pode não ter qualquer valor cultural ou como inovação, mas que entretém. Tio Patinhas, Spice Girls, etc.

    Aceito focar isso, mas nesse caso proponho que se defina o valor do entretenimento por aquilo que as pessoas estão voluntariamente dispostas a dar por ele. De acordo com essa definição, se acontece algum entretenimento desaparecer porque não há gente suficiente a querer pagar por ele, então adeusinho, é porque não tem valor. O circo, por exemplo, penso que terá os dias contados e já não é sem tempo.

    Por isso julgo que o teu receio vem da natureza vaga da tua definição do valor do entretenimento. Não é cultural, científico nem algo do qual precisamos para a nossa saúde e assim. Mas também não é medido pelo que as pessoas estão dispostas a pagar. Então é o quê?

    Eu acho que se não fizerem o Matrix porque não há gente a querer pagar para ver isso então é porque o Matrix não será entretenimento que valha a pena fazer.

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  45. Já agora, relembro este post:

    Monty Python reagem contra a pirataria

    Outro exemplo de excelência e irrelevância das restrições à cópia.

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  46. Com esse argumento andamos em círculos.


    Uma coisa é eu decidir pagar volutariamente por um bem, e em função dessa decisão individual, tenho ou não acesso a esse bem.

    Nesse caso, tudo aquilo que dizes faz sentido. Tomemos o caso do circo: cada potencial espectador decide pagar ou não pelo espectáculo. Se não pagar não tem acesso. Por isso, quando alguém diz que não vai dar 5e para ver o espectáculo, sabes que ele não estaria disposto a dar esse valor para assistir ao espectáculo - se não, dava.


    E assim, se o circo não tem clientes suficientes para pagar as despesas, deve desaparecer. Não há ineficiência no processo.


    -------

    Mas o caso dos bens "copiáveis" é diferente. Cada pessoa decide voluntariamente pagar por esse bem. Mas a sua decisão individual afecta muito pouco a probabilidade de ter acesso a esse bem.

    Assim, se alguém diz que não está disposto a contribuir 5e pelo último filme do realizador X, isso não é garantia nenhuma de que não estivesse disposto a pagar 5e para ver esse filme se isso fosse a única maneira de ter acesso ao filme. Pode simplesmente pensar que se pode ver o filme gratuitamente, então não vale a pena pagar. É esta a diferença entre o exemplo do circo.


    E assim, se o filme do realizador X não tiver clientes suficientes para pagar as despesas, isso não quer dizer que não devesse ser feito. Não fazer o filme PODE perfeitamente corresponder a uma enorme inefciência.


    A abolição do copyrigth pode diminuir certo tipo de ineficiências (por exemplo permitindo o acesso a quem não estaria disposto a pagar pelas obras mesmo que não houvesse alternativa, ou facilitando a criação de obras derivadas); mas provavelmente incorrerá num aumento das ineficiências deste tipo que descrevi, e isso é uma perda para todos.

    Podes dizer que estes números desmentem esta conjectura, mas é aí que eu digo que pelas razões que expliquei esses dados não são definitivos.

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  47. João Vasco,

    Quando pagas para ir ao circo não estás a pagar apenas o acesso. Estás a pagar um bem escasso: aquele lugar.

    Quando pagas por um mp3 estás a pagar apenas pelo acesso. Nada mais.

    E a questão fundamental aqui é que o acesso ao conteúdo digital não é um problema. Não é isso que carece financiamento. É a produção desse conteúdo que é preciso financiar.

    Por isso o que deves pensar é assim: Uma coisa é eu decidir pagar volutariamente por um bem, e em função dessa decisão individual, esse bem ser ou não ser criado com a minha participação.

    E bens de entretenimento (ao contrário de coisas como escolas, hospitais e estradas) só faz sentido que sejam criados se houver gente disposta a pagar por isso. Se as pessoas preferirem entreter-se com outras coisas, é isso que devem fazer.

    Porque cobrar pelo acesso leva a criar uma escassez artificial, por força da lei, que por sua vez aumenta os custos e isso produz muito mais ineficiência. Vê os custos nominais de fazer um filme ou gravar um disco e vês o enorme desperdício que aquilo é.

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  51. (Ignorar 3 comentários anteriores via e-mail, sff)

    Ludwig:

    «E a questão fundamental aqui é que o acesso ao conteúdo digital não é um problema. Não é isso que carece financiamento. É a produção desse conteúdo que é preciso financiar.

    Por isso o que deves pensar é assim: Uma coisa é eu decidir pagar volutariamente por um bem, e em função dessa decisão individual, esse bem ser ou não ser criado com a minha participação.»

    Ok.
    Só que... muita gente usufrui do bem por ter acesso a ele e não por "participar" nele. Mais ainda quando "participar" neste caso significa apenas pagar.

    Daí, mesmo que muita gente estivesse disposta a pagar por ter acesso a um bem de entretenimento caso não tivesse a acesso a esse bem em particular de outra forma - seria possível que um número insuficiente de pessoas optasse por "participar". Tu dizes que nesse caso o bem não tem mérito (comparas com o caso do circo a que ninguém quer assistir), mas isso eu contesto em absoluto.

    Nesse caso não se trata de um bem com pouco mérito, mas sim de falta de sinergia e comunicação entre os potenciais clientes. Estão todos a perder no jogo do prisioneiro, porque um número insuficiente escolhe "cooperar".
    Dizes que não criar este bem não tem grande mal, e eu contesto isso.

    E isto até já é uma discussão diferente da inicial.

    O presidente da câmara tem uma ideia: "vamos fazer um fogo de artifício, se suficientes aldeões aderirem". O custo do espectáculo são 200e, e vai ser dividido pelos aldeões que se voluntariarem para pagar.
    Como cada aldeão pagaria 5e para ver o espectáculo e são 100 aldeões, é fácil: cada um paga 2e. A aldeia "ganhou" 300e.

    Mas no ano seguinte o André decide poupar aqueles 2e. Ele não paga, os outros que paguem e ele vê o espectáculo à mesma.
    Há aldeões que dizem que ele é um ladrão, que está a roubar aqueles 2e aos outros todos, pois usufrui tanto como os outros e não paga nada. Mas ele diz que não tira a ninguém a oportunidade de ver o espectáculo, e que ninguém tem o direito de o obrigar a pagar, nem de o impedir de olhar para o céu nessa noite.

    No ano seguinte, 49 aldeões seguem o exemplo do André. Os outros pagam 4e pelo espectáculo. A aldeia ainda ganha os 300e.

    Mas no ano seguinte, mais 25 aldeões decidem não pagar. Como o preço fica muito alto para os restantes 25, estes também desistem (8e > 5e). O espectáculo não perdeu mérito, a decisão colectiva dos aldeões é que passou a ser colectivamente estúpida, apesar de individualmente inteligente caso a caso. A aldeia deixou de ganhar 300e.

    Podes argumentar que é melhor assim, que pior seria obrigar o André a pagar. Mas não digas que não se perde nada de valor.

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  52. Só li o ultimo comentário do João Vasco, mas, como refere algumas das "contas" que se aprende a fazer a nível económico, e tem sido um argumento igual ao das "contas" que o Ludwig tem usado, a pergunta que se pode por é se a "mania" de aplicar a média estatística para medir o bem global, não te estará a toldar a visão, Ludwig?

    Quando os economistas falam da globalização como extremamente positiva para a economia, pensam que se 1000 batatas valem 1000 euros, em vez de 25 países produzirem 50 batatas cada um ao custo de 40 euros distribuídos pela população local, é melhor por os chineses a produzir essas batatas, pois, em vez de 800 euros, o custo passa para 8 euros, e o tipo que faz a distribuição em vez de 200 arrecada 992 de lucro. O argumento é que os que faziam batatas, descubram outras aptidões e se desenrasquem, criando outra riqueza qualquer, e que comprem as batatas dos chineses. Só que a cada nova aptidão e riqueza, aplicam a mesma teoria, e lá vai para a china. Resultado, a falsa optimização de recursos leva apenas à concentração dos lucros nos distribuidores.
    O tipo que gastava 40 e vendia por 50, que se lembrou de levar o negócio para a china, agora ganha 1000 ao custo de 8, e por isso em vez de ser 50 o produto desse país, passou a ser 1000. Em termos estatísticos, cada habitante está 20 vezes melhor, na realidade, apenas um tem os 1000, e na maior parte dos casos nem os gasta dentro de portas, porque os Porches e Mercedes são Alemães, a alta-costura é francesa, a cozinha da moda é japonesa, e os gostos de novo rico não se satisfazem dentro de portas. Resultado, o mundo progride em média, mas, as discrepâncias, são maiores que nunca, e na realidade a população em geral está pior.

    Uma cadeia de distribuição rende muito a muita gente, e os lucros das editoras vêm de venderem centenas de artistas. Se cada um der 100 euros de lucro, sendo milhares os lucros serão 100 vezes esses milhares, mas, muito dinheiro foi distribuído pelo caminho. Se enveredarmos por modelos que suprimam essa cadeia, a disponibilidade para gastar com entretenimento manter-se-à mais ou menos constante, o que muda é quem vai acumular, e quanto se vai concentrar a receita e o lucro. Por isso, defender que alguém deve abdicar de algo, para o bem da sociedade, esperando pela boa vontade para pagar os custos, cheira-me a filosofia barata e borlista. Se não estão dispostos a pagar não paguem, não me tentem é vender isso como sendo o futuro unico, que não é.

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