sexta-feira, janeiro 30, 2009

A lâmina não é essa...

Este vídeo do Edward Current está engraçado e o objectivo dele é satirizar, não é ser rigoroso. Mesmo assim, apetece-me implicar porque comete um erro que vejo muitas vezes. No início do filme ele diz que a lâmina de Occam é que «se há várias explicações, aquela que tiver menos complicações ou premissas é normalmente a melhor». Isto não é a lâmina de Occam. É o princípio da parcimónia. É parecido mas não é o mesmo.

A lâmina de Occam diz-nos para não multiplicar entidades desnecessárias. Refere-se a elementos de uma hipótese que, de acordo com a própria hipótese, não a podem distinguir de outra que não os tenha. Por exemplo, nenhuma observação pode distinguir da física a hipótese que duendes indetectáveis fazem com que tudo aconteça como a física prevê. Podemos eliminar estes duendes da hipótese seguros que nunca vamos obter dados mostrando que afinal existiam. Pela hipótese, não poderá haver tais vestígios destes duendes.

Segundo o princípio da parcimónia, se duas hipóteses equivalentes explicam um dado conjunto de observações é preferível aquela que especula menos acerca do que não sabemos. Em parte porque é mais fácil formular e utilizar essa hipótese, e em parte porque arrisca menos. Se sabemos apenas que água com vinho embebeda, água com vodka embebeda e água com rum embebeda o melhor é começar pela hipótese que a água embebeda. É mais fácil justificá-la e testá-la do que especular acerca de um eventual factor desconhecido comum a estas misturas.

Mas esta preferência pela hipótese mais simples é arriscada, ao contrário da lâmina de Occam. É menos arriscado começar pela hipótese mais simples porque no outro extremo há uma infinidade de hipóteses infinitamente complicadas, que além de não servir para nada têm muito mais maneiras de estar erradas. Mas a explicação mais simples para um conjunto de dados pode mostrar-se incorrecta quando adquirimos dados adicionais. Parafraseando Einstein, a explicação deve ser tão simples quanto possível, mas não mais que isso.

Satisfeita a minha necessidade de ser picuinhas, passo então ao filme.



Via Pharyngula.

30 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ludwig:

    Acho que mais correcto ainda será dizer principio de Ockham. O homem viveu e disse o que disse. Lamina é já uma metafora. E tanto quanto pude saber o que ele disse foi, como tu referiste, que as entidades não devem ser multiplicadas para além do necessario.

    A lei da parcimonia ou principio da parcimonia pode ser deduzida do principio de Occam. Isso acontece ao generalizares o que significa uma entidade. Quando as entidades passam a coisas como materia e energia ou acontecimentos de qualquer natureza.

    Nao posso ver o video agora mas são principios largamente validados pela experiencia. E de extrema importancia na ciencia. Porque diz que se trazes uma nova entidade para explicar um fenomeno então tens de o provar.

    Não?

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  3. Ludwig:

    E convido-te a ler isto:
    http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/01/dualismo-das-lacunas.html

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  4. João,

    «A lei da parcimonia ou principio da parcimonia pode ser deduzida do principio de Occam.»

    Não. A lâmina é a conclusão de um argumento dedutivo. Resumindo, se tens duas hipóteses que só se distinguem por uma incluir algo que nunca se pode observar, então as tuas hipóteses não podem ser distinguidas por observação e essa coisa extra não serve para nada.

    O princípio da parcimónia é uma regra de indução, e essas não se justificam dedutivamente (pelo menos segundo a maioria dos filósofos). Vem, basicamente, da ideia de contar com mais do mesmo.

    Se tiras 10 berlindes de um saco e são todos vermelhos, a lâmina de Occam diz-te para não propôr que alguns berlindes têm alma. Se não tens maneira de distinguir um berlinde com alma de um berlinde sem alma, essa entidade é superflua.

    Mas da lâmina de Occam não podes concluir que o próximo berlinde será vermelho ou que não há berlindes azuis no saco. Isso vem da indução que fazes da amostra que te saiu. O princípio da parcimónia é que te ajuda aí, recomendando que não compliques a hipótese para além daquilo que os dados justificam (que só há berlindes vermelhos, até indicação em contrário).

    Quando chegar a casa leio o teu artigo. Agora vou vigiar um exame (iéee... vigilância, e sábado de manhã... double the fun... :P

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  5. Como existe informação codificada no genoma, em quantidade e qualidade inabarcáveis, precisamos de um ser inteligente para a explicar.

    Isto, porque é sempre necessário um ser inteligente para explicar a origem de informação codificada em qualquer sistema.

    Para não cairmos num regresso ad infinitum, postulando sempre um criador para o criador, e outro para esse criador, e ainda outro para este último criador, e assim por diante, aceitamos o ensino Bíblico acerca da existência de um Deus eterno, omnisciente e omnipotente.

    Dessa forma conseguimos explicar a existência da quantidade e qualidade de informação codificada no DNA (para a qual não existe nenhuma explicação naturalista plausível) e não multiplicamos entidades desnecessárias.

    Ficamos assim com Deus e descartamos quaisquer outros deuses.


    Como os evolucionistas descartam Deus, não ficam com nenhuma explicação convincente para a origem do cosmos e para a origem da vida e da quantidade e qualidade inabarvável de informação codificada de que ela depende.

    P.S.

    Guilherme de Occkam (que nunca usou a expressão que lhe atribuem) era um criacionista bíblico que fazia exactamente o mesmo racioncício que os criacionistas fazem.

    Ele nunca foi estúpido ao ponto de postular a origem e o desenvolvimento naturalistas do mundo e da vida.

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  6. O DNA aconteceu por acaso. Assim vem escrito no Livro Fundamental da Rena Siberiana de Pele Azul

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    Crente da Rena Siberiana de Pele Azul, aka timshel :)

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  7. «Querido Adso, não é preciso multiplicar as explicações e as causas sem estrita necessidade disso.»
    «Adso, tenho de acreditar que a minha proposição funciona, porque o aprendi com base na experiência, mas para o acreditar tenho de supor que há leis universais, e no entanto não posso falar delas, porque o próprio conceito de que existem leis universais e uma dada ordem das coisas implicaria que Deus fosse prisioneiro delas, enquanto Deus é coisa tão absolutamente livre que, se quisesse, e com um só acto da sua vontade, o mundo seria de outra maneira.»
    - personagem Guilherme de Baskerville, n'"O Nome da Rosa", inspirado em Guilherme de Occam e Sherlock Holmes

    http://www.iep.utm.edu/o/ockham.htm:
    «Historically, Ockham has been cast as the outstanding opponent of Thomas Aquinas (1224-1274): Aquinas perfected the great “medieval synthesis” of faith and reason and was canonized by the Catholic Church; Ockham destroyed the synthesis and was condemned by the Catholic Church» (...)
    «Theologically, Ockham is a fideist, maintaining that belief in God is a matter of faith rather than knowledge. Against the mainstream, he insists that theology is not a science and rejects all the alleged proofs of the existence of God

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  8. Como o Pedro Couto referiu, Occam era um fideista, radicalmente oposto à ideia tomista de unir fé e razão (muito na moda hoje em dia também...).

    Por isso é que a sua* lâmina é qualitativamente diferente do princípio da parcimónia. Occam propôs uma demonstração lógica dedutiva em como a existência de Deus não podia ser comprovada pela razão, mas era apenas uma questão de fé. Quando ele diz que não se deve fazer com mais aquilo que se pode fazer com menos não está a propôr uma heurística de tentativa e erro mas algo que se prova por aquilo que está a mais não fazer qualquer diferença.






    sua no sentido em que ele usava isto, não que a tenha inventado e não no sentido que muitas vezes, por erro, se lhe atribui

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  9. Ludwig e Pedro:

    O texto deixado pelo Pedro mantem a confunsão entre a parcimonia e a lamina.

    Sem desfazer na explicação do Ludwig ainda estou convencido que elaborando sobre um enunciado se pode chegar ao outro.

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  10. Em relação ao video. Está excelente. um golpe baixo nos ateus sem duvida. Deus lhes perdoe.

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  11. João,

    Podes realmente interpretar Occam de duas maneiras. De uma forma mais estrita, considerando o projecto dele de refutar ligação entre fé e razão, ou de uma forma mais lata baseada apenas em algumas afirmações como não fazer com mais o que funciona com menos.

    Mas do princípio de não ter numa hipótese entidades supérfluas não derivas o princípio de evitar entidades que têm efeitos observáveis mas que ainda não foram observadas.

    São duas interpretações diferente do que Occam escreveu, e penso que a primeira é mais fiél, dado o contexto. Não é uma consequência da outra. Vê aqui uma explicação mais detalhada (mas mais virada para a física).

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  12. A ideia da evolução naturalista é aceite por muitos porque é aceite por muitos.

    Para além da origem da vida e da informação codificada de que ela depende ser um problema insolúvel para os naturalistas evolucionistas (nunca ninguém viu informação codificada sem origem inteligente), também se tem concluido ultimamente que a hipotética transição evolutiva de procariontes para eucariontes também é um problema não menos insolúvel.

    Por seu lado, a "árvore da vida" tem vindo a ser descartadada pelas novas descobertas da genética, falando muitos cientistas da necessidade de a sepultar de uma vez por todas, de forma discreta e simpática.

    Refira-se que essa "árvore da vida" já tinha sido descrita como meramente fictícia, do ponto de vista paleontológico, por Stephen Jay Gould.

    Se a isto somarmos a evidência crescente de catastrofismo no registo fóssil e na coluna geológio, realidade para a qual já Derek Ager chamava a atenção há anos no seu livro The New Catastrophism, da Cambridge University Press, temos um cenário de "tempestada perfeita" a adensar-se sobre a teoria da evolução.

    É isso que está na base da crítica de que tem sido alvo o darwinismo e continuará a ser, à medida em que os projectos do Genoma Humano e ENCODE revelaram as quantidades inabarcáveis de informação genética e epigenética, com camadas de informação e meta-informação em códigos paralelos nas sequências genéticas.

    Igualmente importante é a observação, que se torna rotineira, de que muita da adaptação e da especiação está programada nos genes, não sendo o resultado nem de mutações nem de selecção natural.

    Igualmente relevante é o facto (observável todos os dias) de que as mutações e a selecção natural reduzem e degradam os genomas, o que é exactamente o oposto do que aconteceria se umas e outra tivessem um efeito evolutivo.

    A ideia com que se fica é que nas próximas décadas as críticas ao paradigma evolutivo só vão intensificar-se, como já sucede nos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Alemanha, França, Turquia, Rússia, Brasil, etc.

    Como afirmava recentemente a revista The Economist, numa caixa de primeira página, assiste-se hoje à globalização do Criacionismo.

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  13. ATENÇÃO: MAIS UM RUDE GOLPE NA HIPÓTESE NEBULAR

    Dizem os manuais que os nossos estudantes estudam que os planetas gigantes gasosos se formam a partir do colapso de um disco de poeira e gás por causa da instabilidade gravitacional.

    Um novo sistema de simulação computacional 3D demonstra que se trata de um cenário completamente impossível.

    A notícia é de 27 de Janeiro de 2009, e vem da Universidade de São Francisco Califórnia. Veja-se também a entrevista de Joseph Barranco à Space.com

    Os criacionistas bem chamavam a atenção para isso. Ainda o fizeram no célebre debate de Oeiras. Afinal, tinham razão também nesta matéria.

    Resta saber até quando é que os nossos alunos continuarão a ser induzidos em erro pelos "cientistas" da nossa praça.

    Os criacionistas afirmam categoricamente: as estrelas, as galáxias, o sistema solar, a Terra e a Lua revelam uma sintonia só explicável mediante design inteligente.

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  14. Ludwig:

    Obrigado pela ligação.

    Mas achei que estava de acordo com tudo o que li.

    "Mas do princípio de não ter numa hipótese entidades supérfluas não derivas o princípio de evitar entidades que têm efeitos observáveis mas que ainda não foram observadas"

    A questão é que na practica tu não podes distinguir entre a que é superflua porque não existe/não se aplica e aquela que existe mas não tem efeitos observaveis.

    Só prevendo o futuro. Como desenvolves isso?

    Nota~: eu acho que o principio de occam não substitui a experiencia, mas ele proprio deixa isso explicito. Se é obsevavel é necessaria...

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  15. Ludwig:

    queria dizer a certa altura "se aplica e aquela que existe mas QUE AINDA não tem efeitos observaveis."

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  16. João,

    «A questão é que na practica tu não podes distinguir entre a que é superflua porque não existe/não se aplica e aquela que existe mas [ainda] não tem efeitos observaveis.»

    Podes ter duas teorias que prevêem exactamente o mesmo. Nota que os efeitos relevantes aqui não são os que vão ocorrer (que até podem refutar ambas as teorias) mas aqueles que as teorias prevêem (que podem não ocorrer).

    Por exemplo, supõe que eu proponho

    E=mc^2 + A - 2B

    e que B=5 e A=10

    Daqui prevê-se exactamente o mesmo que da teoria de Einstein. Pela lâmina de Occam A e B vão fora. Isto independentemente se E é mesmo igual a mc^2 ou não. Até pode não ser.

    Em alternativa

    E= mc^2 + D

    em que D=0 todos os dias excepto dia 29 de Janeiro de 2281, quando será 0.2.

    Neste caso posso eliminar D pelo princípio da parcimónia, que me aconselha a não meter lá tralha desta, mas não posso dizer que tiro D por as duas teorias serem equivalentes. Neste caso já não são.

    Em suma, o que importa é a comparação das teorias, não a previsão do futuro. A lâmina de Occam permite deitar fora tudo aquilo que deixa a teoria com exactamente as mesmas previsões. O princípio da parcimónia aconselha a não perder tempo com tudo aquilo que é desnecessário com os dados que temos agora.

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  17. Jónatas,

    «Um novo sistema de simulação computacional 3D demonstra que se trata de um cenário completamente impossível.»

    E qual é o sisema de simulação que demonstra como o seu deus criou os planetas? Não acha estranho que ponha a fasquia tão alta para um lado e a tire completamente para o outro?

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  18. Segundo o Livro Fundamental da Rena Siberiana de Pele Azul, as estrelas, as galáxias, o sistema solar, a Terra e a Lua revelam uma sintonia explicável pela Santíssima Trindade (o Tempo Infinito, o Acaso e a Rena Siberiana de Pele Azul).

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    Crente da Rena Siberiana de Pele Azul, aka timshel :)

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  19. Ludwig:

    Tenho de admitir que não sou capaz de demonstrar que a lamina de occam é um caso particular da lei da parcimonia.

    Como sei que és um empirista ferrenho, tal como eu, pergunto-te apenas. Porque é que a lei da parcimonia tem evidencia empirica tão forte e é possivel obter toda uma gradação preditiva das afirmações em função da interpretação de entidade?

    Porque:
    De " X não deve ser multiplicado para alem do nesseçario" a "a explicação mais simples é a correcta" é só um refrasear-

    Como se verifica empiricamente quando se usam termos mais gerais, a abrangencia da afirmação aumenta, ( a sua capacidade para discriminar positivamente quando não deve: falso positivo), por isso se torna essencial juntar um provavelmente no fim da frase: "a explicação mais simples é provavelmente a mais correcta".

    Conforme se especifica X no sentido de entidade cada vez mais intestavel, ou de ocorrencia de probabilidade descendente, vamos ter uma diminuição nos falsos positivos, mas vão aumentar os falsos negativos (aquelas entidades que a lei deixa de cobrir). Mas ao termos entidade absolutamente intestavel temos a um X tal que = a lamina de Occam: Um caso particular que pode ser provado por logica apenas.

    Não tenho numeros para te mostrar que as gradações que eu sugiro acontecem mas tenho quase a certeza. Posso te dizer que trabalho com a lei da parcimonia todos os dias para organisar conclusôes (não excluir) e posso obter esses dados com algum esforço, mas penso que não é necessario.

    Isto é capaz de estar confuso
    mas resumindo: empiricamente podes ter uma gradação continua de resultados e versôes do principio nos termos que te propus. Em termos logicos pode não ser possivel explicar mas empiricamente a ligação é esta.

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  20. João,

    A lâmina de Occam, no sentido mais restrito que ele queria usar, baseia-se num argumento dedutivo:

    Sejam A e B duas hipóteses tais que as suas previsões são iguais e os seus respectivos conjuntos de premissas Pa e Pb tais que Pa contém Pb e Pb não contém Pa.

    Se isto for verdade então qualquer observação explicável por A é também explicável por B dispensando as premissas adicionais de A.

    Mas para justificar o principio da parcimónia precisamos justificar a indução. E isso, até agora, penso que ninguém conseguiu fazer com um argumento puramente dedutivo. É aliás um problema antigo na filosofia.

    Na mesma formulação:

    Sejam A e B duas hipóteses e os seus respectivos conjuntos de premissas Pa e Pb tais que Pa contém Pb e Pb não contém Pa. Tanto A como B explicam adequadamente o conjunto de dados D.

    Se podermos confiar que D é representativo do resultado de qualquer observação, então podemos rejeitar A e ficar só com B na confiança que nunca precisaremos das premissas adicionais de A.

    Mas isto é um risco. Se aceitarmos que a indução é justificada, então assumir que tudo é como em D é razoável. Mas mesmo assim não nos dá certezas.

    A grande diferença (espero não ter baralhado demais) é que a lâmina de Ooccam é um resultado dedutivo e o princípio da parcimónia é uma regra indutiva.

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  21. Ludwig, julgo que o João está a falar em intuição. Como excluir? Intuitivamente.

    Não sou a faca mais afiada da tua plateia mas parece-me que uma parte da filosofia (e da lógica) é tragicamente igual à sistematização do óbvio. Mas estive a ler umas cenas sobre a tal lâmina e sobre a declinação académica KISS (keep ti simple, stupid) e proponho uma variante para certos evangélicos a que chamei "Princípio do Cogumelo":

    keep them in the dark, give them shit

    Que dizes?

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  22. Uma clarificação:

    Não pretendo de modo algum retirar mérito à abordagem de Joseph Ignace Guillotin.

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  23. Bruce,

    «Ludwig, julgo que o João está a falar em intuição. Como excluir? Intuitivamente.»

    Yup, essa é a justificação para o princípio da parcimónia. O que eu queria dizer é que a lâmina de Occam, por ter uma aplicação mais restrita, é mais forte que isso.

    O princípio do cogumelo também me parece intuitivamente atraente, e de usar com qualquer cogumelo que fique onde o põem. E aí é que está o problema... :)

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  24. Ludwig:

    Mas eu aceito isso. Tudo o que dizer. Na minha exposição anterior explico que posso justificar a lamina de occam dedutivamente mas não o principio da parsimonia.

    Intuitivamente sinto que eles estão ligados, eu e uns quantos de outros, e adimito que não vou serr capaz de fazer o que milhetons antes de mim tentaram.

    Mas o que propuz foi um mecanismo baseado na experiencia. Indutivo se quiseres. Mas que pega numa ponta (lei da parsimonia abusada: KISS) e acaba na outra (lamina de occam), com inumeras nuances pelo meio. Quanto mais geral for a lei, mais falivel vai ser. Quanto mais especifica mais precisa (lei de occam).

    Eu considero é que provar pela experiencia tem valor. Só se me disseres que desenhei mal a questão.

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  25. "Mas mesmo assim não nos dá certezas."

    Deixas-me preocupado. Certezas é o que diferencia a Fé da ciencia. :P

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  26. João,

    «Deixas-me preocupado. Certezas é o que diferencia a Fé da ciencia. :P»

    Não só. É também o que separa a teoria da prática.

    A lâmina de Occam dá certezas porque é uma análise formal das hipóteses e é independente daquilo que a realidade for. Nisso é como a matemática e a lógica.

    Quando passamos à prática, tudo o que não vier com margens de erro é treta. E o princípio da parcimónia é uma regra prática que ajuda a procurar as hipóteses mais promissoras.

    Intuitivamente, concordo que parece haver uma relação. Mas formalmente não penso que haja. Imagina um universo governado por um deus chato que fazia sempre as coisas de maneira a que as hipóteses mais complicadas fossem sempre melhores. Nesse universo o principio da parcimónia provavelmente não resultava. Mas a lei de Occam era válida à mesma.

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  27. Ludwig:

    "Mas formalmente não penso que haja".

    Sim, já tinha percebido isso. Eventualmente até ten razão. Até porque há limites para afirmações verdadeiras serem provadas em qualquer sistema formal que se escolha. Teorema de Godel. Por isso tentei mostrar a minha crença partindo do observavel. E ajustei o valor preditivo consoante...

    Ha! esqueci-me de acrescentar. Repara que a questão é probabilistica. A varios niveis. Qualquer tipo de logica que tente resolveer o problema terá de lidar com questões multifactoriais e com probabilidades diferentes associadas a cada factor, a cada grupo de factores e a cada hipotese. Isto, digamos, trascende ligeiramente as minhas competencias do ponto de vista formal. E agora que penso nisso... Será esse tipo de matematica e lógica que é necessaria para unir a mecanica quantica e a relatividade... Na. Já comecei a soar a Deepack Chopra? Então está na altura de parar.

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  28. Ludwig:

    Mais a sério.

    Acho que isso não quer dizer que nós vivemos no mundo mais simples possivel

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  29. Ludwig:

    Acho que encontrei a corrente que procura fazer o que estava a defender:

    "verification principle proposed by A.J. Ayer in Language, Truth and Logic (1936), a principle and criterion for meaningfulness that requires a non-analytic, meaningful sentence to be empirically verifiable".

    Admito que ainda não conhecia. Cheguei lá através da pagina do Dennet na wikipédia.

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  30. João,

    Sim, Ayer era um positivista famoso. Mas o positivismo tem algumas fraquezas importantes. Por um lado assume uma distinção entre teoria e dados que é menos clara do que aquilo que o positivismo precisa. E também me parece que corta bastante o poder de uma explicação por não permitir afirmações acerca de situações que não são verdade.

    Mas força. Depois diz o que encontraste :)

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