segunda-feira, janeiro 19, 2009

Bom e barato, VII

No interesse da transparência, o nosso estimado governo criou no verão passado um site com as compras por ajuste directo de todas as entidades públicas (1). Para não ser demasiado transparente, a pesquisa diz sempre «Não foram localizados resultados». Experimentei “Loures”, “Odivelas”, “Câmara municipal de Odivelas”. Nada. Com “Lisboa” lá saiu um registo: «Sessão de esclarecimento». Sem mais nada, fiquei pouco esclarecido.

A Associação Nacional de Software Livre (ANSOL) criou um acesso aos mesmos dados com um sistema de pesquisa fácil de usar e funcional (2). É o defeito do software livre. Poupa-se uns trocos, é certo, mas depois dá-se ao utilizador uma coisa que funciona e lá vêm os contribuintes bisbilhotar as contas. Não tem jeito nenhum. Por isso é que o nosso governo investe em software proprietário. O Ministério da Defesa, por exemplo, comprou 672.827,00 € de licenças ao El Corte Inglês (3). Julgo que o pacote inclui a garantia que a Espanha não nos invade.

Esta base de dados entretém. É rir para não chorar. Destaco o Centro de Formação Profissional para o Comércio e Afins (CECOA) pela sua gestão informática. Com um investimento de pouco mais de meia dúzia de milhões de euros, o CECOA conseguiu recuperar os dados que perdeu ao poupar largas centenas de euros não fazendo cópias de segurança (4). E uma menção honrosa para a Câmara Municipal de Loures pelo presépio de Natal. Sessenta mil euros (5). Uma bagatela, considerando o trabalho que isto poupou aos miúdos da catequese e o consolo que deu aos mais carenciados. Quem não tinha dinheiro para medicamentos ou para os livros dos filhos podia ao menos reconfortar-se com a aplicação dos seus impostos no burro do José e na vaca da Maria.

Mas passemos do roubo legal para o ilícito que dizem ser roubo. Se estão fartos de esperar até às duas da manhã para descobrir se dá mais um episódio da vossa série favorita ou se a programação mudou de novo, não desesperem. Sites como o RapidShare Links têm a solução.

A legalidade é questionável. A RapidShare oferece de graça o alojamento de ficheiros e ganha dinheiro com a publicidade, o que lhe deu problemas por permitir carregar ficheiros sob copyright (6). E carregar esses ficheiros para os servidores é ilegal em alguns países por disponibilizar conteúdos proprietários.

Mas ao contrário do P2P, onde descarregar também partilha o ficheiro com outros, descarregar ficheiros destes servidores é como ver filmes no YouTube. A transferência é apenas do servidor para o nosso computador e isto não parece ser punido pela lei. Ainda. Talvez seja de aproveitar enquanto não sai legislação para nos obrigar a ver os anúncios no intervalo.

Se vão usar o RapidShare ou serviços parecidos sugiro que instalem o JDowloader, um aplicativo em Java que automatiza o descarregamento dos ficheiros (7). Mas atenção! Não façam nada de ilegal. Cumpram a lei e estoirem milhões de euros dos contribuintes a recuperar dados e a pagar por software que não funciona. Não se ponham a partilhar informação gratuitamente porque isso é roubo.

1- www.base.gov.pt
2- Público, Site particular permite saber tudo o que o portal das compras públicas não mostra. O site que ANSOL criou é transparencia-pt.org.
3- Com esta pesquisa podem ver uma lista de várias compras de licenças.
4- As contas do CECOA
5- E as da Câmara Municipal de Loures
6- Digital Media Wire, German Court: RapidShare Must Proactively Nix Infringements
7- JDownloader

14 comentários:

  1. P2P, é entre dois ou mais clients: um saca um ficheiro disponibilizado por outro directamente. O server apenas existe como indexador de ficheiros e como forma de os clients se encontrarem (e creio que pouco mais), isto para algumas redes p2p que valorizam esses nodos, outras nem precisam de servers. Não existe nenhum ficheiro nos servers, daí a velha questão da legitimidade de desligar essas máquinas quando a única coisa que fazem é facilitar que os clients se encontrem e indexarem entradas de ficheiros...

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  2. Necrophoros,

    O RapidShare e outros serviços como esse não são P2P. São cliente-servidor. È mesmo um servidor de alojamento de ficheiros onde todos podem ir descarregar. Os servidores neste caso não são meros indexadores.

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  3. Ludwig,

    Boa malha. Apesar de não dares ponto sem nó, concordo que não podemos confundir a elegância do furto qualificado a um município insolvente com o pelintrismo do mancebo que do seu computador desbasta património essencial. Aliás, se há coisa que nos distingue dos países menos civilizados é uma noção clara e pública das prioridades.

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  4. Ludwig, o que eu achei giro foi os 30 mil euros que a Câmara Municipal de Odivelas pagou pela Festa de Natal da Romântica FM. Deve ter sido cá uma festança...

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  5. Ludwig:
    Seria interessante verificares isto:
    http://www.base.gov.pt/_layouts/ccp/AjusteDirecto/Detail.aspx?idAjusteDirecto=2496

    Ou é um erro, e pelos vistos não há confiança possível nos dados que existem nestas BD, ou é...como é que se diz?...um roubo?

    xxxxx

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  6. Ludwig,

    Sim, o Rapidshare não tem nada a ver com P2P, é pura armazenagem de ficheirada...
    É o que dá comentar às poucas da manhã... :D

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  7. Anónimo,

    «Ou é um erro, e pelos vistos não há confiança possível nos dados que existem nestas BD, ou é...como é que se diz?...um roubo?»

    Na notícia do Público menciona que esta base de dados tem alguns erros. Espero que essa fotocopiadora seja um desses... senão deve ser um grande maquinão :)

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  8. Miguel,

    Penso que essa festa da Romântica não terá sido uma festa na estação de rádio mas uma das festas que a CMO às vezes organiza para toda a gente, e que terá sido animada pela malta da rádio.

    Espero que tenha sido isso e não para o pessoal da rádio beber uns copos...

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  9. Ludi,

    Bom e barato não existe!

    Está provado cientificamente....

    Que se acredite em Deus, pronto...Contra mim falo...

    Agora bom e barato?! Por amor da santinha...Ninguém é assim tãããão crente.

    PS: Atenção eu não li o post, refiro-me só ao titulo, tenho a cabecinha enfiada no manual de constitucional do Jorge Miranda, por isso se não fizer sentido o que eu disse é normal :)

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  10. Ludwig,

    "Espero que tenha sido isso e não para o pessoal da rádio beber uns copos..."

    Sabe-se lá ;-)

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  11. Você é uma pessoa de conversa muito mal intencionada. Eu diria mesmo: “ordinária”. Veja-se:

    “no burro do José e na vaca da Maria.” (Krippal).
    Isto, referindo-se ao presépio.


    Sabe que os cristãos se sentem uma família e que o Natal é por excelência o festa cristã da família.

    Não gostaria, por certo que eu lhe dissesse com a mesma intenção:

    “ vaca da mãe do Krippal o burro do pai do Krippal e os porcos dos seus irmãos”;

    ou então:

    “a vaca da mulher do Krippal, o burro do Krippal e os porcos dos filhos Krippal”

    Sendo a minha intenção fosse a sua, gostava?

    Acha justo que o fizesse?

    Portanto, se quiser ser respeitado, deve fazer por merecer tal respeito. De contrário, é exigir de mais.

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  12. Anónimo,

    «Não gostaria, por certo que eu lhe dissesse com a mesma intenção:

    “ vaca da mãe do Krippal o burro do pai do Krippal e os porcos dos seus irmãos”;»


    O que quase me ofendeu foi insinuar que dou alguma importância a essas coisas. Mas fiquei-me pelas memórias nostálgicas do jardim infantil. Obrigado pela recordação.

    PS: Mas ofenda-se lá o exmo. Anónimo com o que bem lhe apetecer. Não faço juízos quanto a isso. E é que tenho pouco tempo para essas coisas. Senão também tirava um dia ou outro de vez em quando para procurar pequices com as quais me ofender.

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  13. Ludwig,
    "Na notícia do Público menciona que esta base de dados tem alguns erros."

    A questão é precisamente essa. Assim, há sempre lugar para duvidar da trasparência e, por outro lado, pode sempre justificar-se um valor despropositado de um negócio com um erro na BD. Ferramentas destas, com erros crassos destes, só nos fazem desconfiar ainda mais do sistema e seus amigos.

    Espero estar enganado, mas quer-me parecer que estes erros não vão ser corrigidos num àpice.

    xxxxx

    (não propriamente anónimo, e já agora para não ser confundido com a virgem ofendida do comentário das 23:21)

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