quinta-feira, março 27, 2008

O custo da informação.

Ontem aprendi uma coisa interessante com um comentador anónimo. O contexto da conversa é o custo de disponibilizar a informação digital. O comentador tinha afirmado que sai mais caro distribuir um jornal digitalmente que imprimi-lo em papel.

« O custo anual do papel, da impressão e da distribuição de um jornal em papel representa menos de 1% do custo total de um jornal. Na verdade é mais barato que o custo anual dos servidores/serviços técnicos para manter os mesmos conteúdos online.
[...]
Sou director de sistemas de informação de um portal nacional. [...] Não sei quanto o Público paga ao seu ISP/Datacenter mas nós pagamos cerca de 13 mil euros por mês e a isto há que acrescentar as licenças anuais da Microsoft para os nossos 21 servidores.»


Admito que me surpreendeu o custo de um site destes mas, em retrospectiva, percebo que é razoável. É preciso pessoas, equipamento e software para gerir os serviços e conteúdos. A confusão é julgar que este é o custo de distribuir a informação. Não é. O mesmo comentador critica assim uma das minhas sugestões:

«Colocar um pdf em p2p?! Essa é uma proposta válida para um site de um jornal?!»

É uma opção eficiente e eficaz de distribuir ficheiros. Na Pirate Bay (2) podem encontrar torrents (3) de muitas séries de televisão. Tipicamente, cada episódio está disponível no dia seguinte à sua exibição, tem 350 Mb e demora menos de uma hora a descarregar (segundo ouvi dizer, é claro...). Recentemente, a Canadian Broadcasting Company decidiu distribuir por P2P um programa do horário nobre (4). A distribuição é rápida e praticamente gratuita. Mas mesmo com servidores próprios o custo de disponibilizar os ficheiros pdf de um jornal é muito reduzido. Só que o objectivo do Público não é disponibilizar o jornal a quem o quiser ler.

Em parte, o objectivo do Público é atrair leitores pelo aspecto, conteúdo e funcionalidade do site, e isso tem que ser pago. Mas é o negócio normal da imprensa. Mostram-nos algo que nos interessa para vender a nossa atenção a quem nos quer vender coisas. Mas, além disso, também querem cobrar o acesso à informação. E isso exige um sistema de subscrição com acesso restrito, bases de dados de subscritores, serviços de pagamento online, formas diferentes de mostrar o conteúdo conforme o visitante é subscritor ou não e assim por diante. Isso não é barato.

O comentador anónimo recomenda que «Mantenham-se - os autores do blog - a falar de ciência porque de TI... santa ignorância». Se por “TI” quer dizer os preços destes serviços admito-me ignorante, e só não sou mais graças à informação que este comentador deu. Mas da tecnologia sei o suficiente para perceber que os custos do site do Público não são pela largura de banda. O YouTube sim, gasta um milhão de dólares por dia a enviar um terabyte de dados a cada segundo (6). Ao Público bastaria dez euros para enviar tantos exemplares em formato digital quantos os que vende em papel.

Uma grande diferença entre a venda do suporte material e a venda do conteúdo digital é que a primeira cobra na cópia o custo de a fabricar e a última cobra na cópia o custo de não deixar copiar.

1- A moedinha.
2- The Pirate Bay, TV shows
3- Wikipedia BitTorrent (protocol)
4- CBC, CBC to BitTorrent Canada's Next Great Prime Minister
5- Público
6- Wikipedia, YouTube

25 comentários:

  1. Note-se que o YouTube, apesar da despesa que dá e dos seus conteúdos serem grátis, deve dar lucro: caso contrário o Google não tinha pago o que pagou por ele. O negócio dos jornais é igual, pagando leitor apenas uma fracção do custo da impressão do jornal.

    Quanto à história de pagar à Microsoft por causa dos servidores, tenho quase a certeza que só pagam porque querem. Existem muitas alternativa open-source baratas ou mesmo grátis. Só aí poupa-se muito dinheiro.

    De qualquer forma, a Internet veio revolucionar a forma como pensamos a distribuição de bens ou serviços. Antigamente era difícil imaginar alguém a executar um serviço de graça. Através da publicidade na WWW temos acesso a milhões de utilidades deste género.

    Continuarei atento a este debate sobre os direitos de copyright, visto que se está a demonstrar bastante produtivo.

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  2. Hugo,

    Eu não sei se o YouTube dá lucro. À partida, parece-me que não. Tem pouca publicidade e consome imensa largura de banda e imensos recursos.

    O que me parece é ser uma jogada de mestre a médio/longo prazo. O custo da largura de banda está a cair a pique, e talvez em parte devido ao próprio YouTube que cria espectativas diferentes nos utilizadores da Internet. Eventualmente a largura de banda vai estar tão barata que qualquer um pode fazer um YouTube. Só que nessa altura ninguém quer mais nada a não ser o YouTube. E aí um site com centenas de milhões de visitas por dia vai render muito dinheiro.

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  3. Concordo com o que diz o Ludwig, e com o que diz o Hugo Monteiro acerca dos custos das licenças da Microsoft.

    Além do mais, o contraste entre pagar-se todo esse dinheiro à Microsoft por uma "licença" e um CD/DVD com os 0s e os 1s, ou utilizar software grátis para fazer praticamente a mesma coisa dava, por si só um debate interessante.

    Acerca do YouTube dar ou não "lucro", creio que a situação estará mais relacionada com o "mind-share" que o YouTube conquistou junto do público, e será nesse "assent" que a Google estará interessada. Mas esse assunto também daria pano para mangas :)

    Obrigado ao Ludwig e a todos os intervenientes neste debate sobre o copyright e afins. Como diz o Hugo, o mesmo está a ser muito produtivo e bastante interessante.

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  4. O curioso em o anónimo dizer que a empresa dele paga "13 mil euros por mês e a isto há que acrescentar as licenças anuais da Microsoft para os nossos 21 servidores" e mesmo assim ainda não foi à falência, deve ser porque esta coisa do digital, se calhar até dá dinheiro.

    Não me parece no entanto que um site de divulgação de conteúdos em formato texto, como o público, necessite de 21 servidores para publicar o jornal.

    Fiquei curioso de saber qual será a área de negócio e o nome da empresa do anónimo.

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  5. Ludwig,

    A marca Ludwig, a marca!
    Esse é o preço de se conseguir uma marca nos dias de hoje na net.

    Penso que o Paulo Querido escreveu sobre isto no expresso on-line a descrever como algumas marcas de jornais nacionais estão a dar tiros no pé quando se associam a grandes portais (os quais levam para eles numero de pageviews etc).

    Distribuir um "Público" em pdf leva a marca Público ao fundo.

    Se se quer criar notoriedade em serviços on-line (e penso que aqui estamos todos de acordo que é essencial para o futuro) tem de se criar serviços que os clientes pensem fazer sentido (para voltarem e se associarem à marca) alem de disponibilizar o pdf e esses serviços (que penso o Público explorar bem) fazem com que o housing e manutenção de um portal sério tenha um custo (já agora contabilisticamente vai a investimento) muito elevado mas sem ele... a marca morre.

    Quanto às alternativas "grátis" que o Hugo Monteiro fala deixe-me contar uma história breve.

    Quando ainda era verdinho e ingénuo nesta área tive a oportunidade, numa multinacional de consultadoria, de ser o responsável pelo lançamento de um portal (em termos nacionais grande mas não gigante mas cujo on-line era core). Com toda a responsabilidade optei (cada vez que me lembro fico a suar) por software livre para baixar os custos do cliente e do projecto. Realço que esse software livre não era assim tão livre era pago (custo muito baixo mas fornecido por uma empresa conhecida no mundo todo) e também pagávamos contrato de assistência mensal (dois anos de duração com possibilidade de aumento) com SLAs de 2 horas por mês de máximo tempo do serviço em baixo.
    Tudo super pensado, tudo super testado e o projecto foi para o ar.
    Passadas 2 semanas o serviço parou... e parou porquê? Até hoje estou para saber porquê! Contactada a empresa de assistência que ajudou na implementação do mesmo vêm como se fossem o 112 e passadas 48 horas nada! Ninguém faz ideia do que se passa! Contactos com colegas nos EUA e lá vêm eles todos no próximo voo tentar resolver a situação... mais 24 horas e... nada! Ninguém conseguiu resolver a MER&% do problema nem sequer perceber a origem!!! Resultado... fui posto na rua (oralilas) pela decisão idiota de me ter responsabilizado pelo projecto com base naquela solução!

    Anos depois neste novo projecto com software Microsoft (TUDO) escolhida por mim tivemos alguns problemas (lembro-me de 3 num total de 5 anos/24h por dia) que foram resolvidos numa média de 60 minutos!!!

    Sim, tem razão que existem soluções mais baratas mas quando se avança para um projecto cujo on-line é core... é bom que tenhamos alguém que conheça a ferramenta de trás para a frente se responsabilize totalmente por todos os seus aspectos técnicos e resolva o tema se ele surgir seja ele qual for.

    Este mundo das TI é como construir uma ponte. Não pode cair nunca nem por um segundo. Se for sobre um riacho um par de barrotes servem perfeitamente mas se for sobre um estuário há que ir aos melhores na área e nunca mas nunca será barato.


    Off topic.
    Quanto custa uma ferramenta de análise séria que dê info detalhada aos administradores de um (GRANDE) portal sobre o que os users andam a fazer, onde, quanto tempo, quem, de onde para onde, de onde vêm, para onde vão, tempos de estadia em cada pág etc etc etc para digamos umas 50 milhões de pageviews por mês? E para essa ferramenta funcionar que sistemas são precisos para guardar e tratar essa info? Tudo isto são custos "escondidos” que quem está por fora nunca se lembra de somar mas que são indispensáveis para a gestão destes negócios (a ferramenta grátis disponibilizada pela google não vale, pois essa apenas dá info básica, não se costumiza às necessidades particulares da cada cliente nem mais uma série de aspectos chatos mas decisivos que não vale a pena entrar aqui).

    Hoje as tecnologias de informação são essenciais numa série de negócios e são muito mais complexas que se pode pensar à primeira vista. A começar por… como criar o maior valor para a empresa (e/ou marca) com o mínimo custo sendo que… nunca pode parar, entupir, soluçar, ser “hackada”, faltarem backups e… isso é (MUITO) mais complicado e caro do que parece ao primeiro olhar.


    Cumpts

    (o Dir Sistemas de ontem que gostava de se identificar mas não pode)


    P.S.
    As empresas que prestam serviços online ao Google (youtube etc) são propriedade da Google incluindo a companhia de comunicações que os liga aos outros operadores de telecomunicações. Fica tudo em casa. O dinheiro, o conhecimento e a responsabilidade dos serviços nunca mas nunca soluçarem por dependerem de outros.

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  6. Caro Anónimo,

    «Distribuir um "Público" em pdf leva a marca Público ao fundo.

    Concordo. E compreendo que o Público invista no site para manter a sua imagem, etc. Mas é importante não confundir os custos da imagem com os custos de distribuir informação.

    «Quanto custa uma ferramenta de análise séria que dê info detalhada aos administradores de um (GRANDE) portal[...]? [...] Tudo isto são custos "escondidos” que quem está por fora nunca se lembra de somar mas que são indispensáveis para a gestão destes negócios»

    Mais uma vez, estou de acordo. Mas mais uma vez saliento que são indispensáveis ao negócio. São perfeitamente dispensáveis quando queremos simplesmente disponibilizar conteudos.

    E a grande ironia é que uma boa parte dos custos visam restringir a disponibilidade do conteúdo. Custa mais impedir o download gratuito do que dar as coisas de borla...

    Imagine que o Público tina o site todo tal qual como está mas não exigia subscrição para descarregar o pdf. A imagem não era afectada. Até atraiam mais leitores, provavelmente. E os custos do site diminuiam bastante. Dispensavam a base de dados de subscritores, os pagamentos online, os conteudos diferentes conforme o login e uma data de outras coisas que custam dinheiro. Custam muitissimo mais que o aumento na largura de banda que teriam por dar os pdfs de graça.

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  7. Anónimo das 21:33H

    Não posso identificar o que pede.

    Mas posso dizer que há que ter servidores de desenvolvimento, de teste, de qualidade, de monitorização de toda a plataforma (quais máquinas estão mais carregadas, para onde enviar o trafego, que alarmes estão a ser gerados, para onde/quem os enviar, etc), de monitorização de intrusão ou detecção de tentativas de denial of service, de actualização (software) de toda a plataforma (importantíssimo, tem de correr bem, tem de ser feito automáticamente em cada uma das máquinas e se correr mal tem de ser reposto o estado enterior sem intervenção de ninguém e sem o serviço parar um segundo), de servidores de SQL com load balance em tempo real de desenvolvimento/testes/qualidade (numa só maquina) e de produção (um monstro de 2 máquinas e storage à parte ligados por uma SAN totalmente de fibra), de tratamento dos logs e info de navegação, de publicidade e tratamento da info relativa à sua visibilidade colocação em cada local do portal tratamento de relatórios para comerciais e clientes em tempo real etc, de gestão de utilizadores para toda a plataforma de servidores (aqui são precisas duas a principal e a secundária não vá uma berrar e lá se vai todo o serviço), de backup a tudo isto caso algum falhe e de backup e restore das centenas de gigabytes diários. Acresce a estes alguns que prestam serviços externos (fechados) aos utilizadores normais e profissionais.

    Percebe porque são tantos? Destes apenas 4 prestam serviço de http aos internautas.

    Acresce que no datacenter temos (nós e qualquer serviço on-line que não pode parar um segundo) sempre uma pessoa (com conhecimentos superiores do software Microsoft base) dedicada à plataforma em horário laboral e outra 24/h dias a fazer monitorização de todos os alarmes.

    É mais perceptível o custo que um serviço destes tem num datacenter?

    Tudo isto aconteçe sem que o comum dos internautas tenha (naturalmente) qualquer conhecimento. Tudo o que vêm são páginas no seu portátil sempre que as pedem sem qualquer tempo de espera.

    Cumpts

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  8. ah!
    Importante mencionar que se tentar pôr isto tudo no ar com software livre é bom que faça um contrato com um gigante mundial da área com multas pesadíssimas sempre que o serviço venha abaixo. E deixe-me dizer-lhe que nesse caso o custo pedido por essas empresas é tão alto que no nosso caso (distribuido caderno de encargos faz uns belos anos atrás) as empresas que responderam com propostas com base em software Microsoft tinham custos mensais bem mais baixos.

    P.S.
    Não sou fan fa Microsoft estou só a relatar factos sobre o meu percurso neste mundo que conheço por dentro. Soa a pub grátis por isso o testemunho chega aqui ao fim (no que a micro/soft livre diz respeito).

    Cumpts a todos

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  9. Olá a todos

    Há um aspecto que vale a pena referir: a relação entre o online e o offline. Muitas coisas que parecem de custos reduzidos online, ou que parecem viáveis online a custos reduzidos, só o são porque são parasitárias em relação à contraparte do mesmo negócio offline. Durante anos os jornais pura e simplesmente financiaram a sua presença na web com os lucros das suas vendas de publicidade e do preço do jornal em papel. A dificuldade é fazer uma publicação inteiramente online. Mas esta dificuldade existe fundamentalmente por causa de um e um só factor:

    As pessoas não gostam de pagar directamente o que consomem na Internet.

    Por causa disto, a vida comercial online depende do número bruto de pessoas que se conquista. O que gera um círculo vicioso: é preciso atingir muita gente para que a publicidade seja minimamente rentável, mas para atingir muita gente é preciso oferecer muitas coisas de graça, e é preciso ter infraestruturas gigantescas para aguentar tantos acessos, o que encarece tudo.

    Daí o que eu sempre defendi desde a primeira hora: o gratuito da Internet está a sair muitíssimo caro porque provoca concentração de capitais, publicidade desenfreada e torna impossível, no caso dos jornais, o jornalismo independente, com poucos jornalistas sólidos, totalmente financiados pelos seus próprios leitores.

    O modelo de negócio online que oferece coisas às pessoas é tanto menos viável quanto maior for o número de pessoas que se pode atingir. Assim, é um modelo que favorece os EUA porque têm logo um mercado gigantesco. Um jornal dinamarquês ou português não pode sonhar com tal mercado. E não é apenas uma questão de língua, ao contrário do que as pessoas por vezes ingenuamente pensam. Não, o problema é também os hábitos e interesses do público, a que por vezes se chama a "cultura". Um dinamarquês não tem qualquer interesse num jornal português, mesmo que tivéssemos a mesma língua, porque não temos a mesma cultura. O que isto significa é que há uma pressão imensa de empresas como o Google para esbater cada vez mais as diferenças culturais, para que as pessoas todas tenham o mesmo tipo de interesses e hábitos, pois o sucesso dos grandes magnatas da web depende disso. O mesmíssimo tipo de fenómeno acontecia já com o cinema de Hollywood e a música popular, que teve o efeito de fazer os miúdos do mundo inteiro querem ser iguais aos miúdos norte-americanos. Nada de novo, pois, debaixo do Sol.

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  10. Anónimo,

    «Mas posso dizer que há que ter servidores de desenvolvimento, de teste, de qualidade, de monitorização de toda a plataforma»

    Correndo o risco de me repetir (a cópia é à borla, e pelo menos copiar de mim ainda posso :) saliento novamente que isto é necessário por causa do negócio, não por causa da distribuição de conteudo.

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  11. Ludwig,

    e eu também me volto a repetir :)

    Se o modelo on-line de um jornal fôr apenas a disponibilização de um pdf grátis tal e qual a edição em papel sem mais nadinha de nada a marca tem os dias contados neste mundo de rede, na rede.

    Será uma questão de tempo sofrer as consequências na venda do conteúdo em papel nesta nova geração on-line.

    Cumpts

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  12. Desidério,

    «As pessoas não gostam de pagar directamente o que consomem na Internet.»

    Já disseste isto muitas vezes. Por estranho que pareça, continua tão falso agora como era no inicio :)

    As pessoas pagam a largura de banda que consomem. As pessoas pagam o espaço de alojamento que consomem. As pessoas pagam os livros que consomem da Amazon, os vários objectos que consomem da Ebay, os serviços de transacção que consomem da PayPal, etc.

    O que as pessoas não gostam é de pagar quando não consomem. E uma coisa que (quase) toda a gente percebe é que fazer uma cópia não consome nada.

    O que deves dizer é que as pessoas não gostam de pagar só porque copiam uma coisa. Isso está correcto. Por isso se queres vender algo na Internet tens que vender mais do que meramente a autorização para fazer uma cópia.

    «Daí o que eu sempre defendi desde a primeira hora: o gratuito da Internet está a sair muitíssimo caro porque provoca concentração de capitais»

    O gratuito na internet não sai caro nem barato nem faz nada disso. É uma consequência trivial de ser, por natureza, gratuito copiar bytes. Não é uma mentalidade. Não é um estado de espirito. Não é um modelo de negócio. É como funciona esta tecnologia. Uma carga eléctrica aqui, uns fotões pela fibra, outra carga eléctrica no outro lado. Tudo automático e, na prática, gratuito.

    A concentração de capitais é consequência de não haver barreiras geográficas. Imagina que qualquer pessoa podia ir instantaneamente a qualquer supermercado, e que um supermercado podia servir sem inconvenientes centenas de milhões de clientes. Nessas condições é natural que o supermercado mais competitivo arrecade a grande maioria dos clientes. Porquê ir a um pior?

    O termo aldeia global não é em vão. É muita gente, mas na Internet está tudo ao virar da esquina.

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  13. Anónimo,

    «Se o modelo on-line de um jornal fôr apenas a disponibilização de um pdf grátis tal e qual a edição em papel sem mais nadinha de nada a marca tem os dias contados neste mundo de rede, na rede.»

    Concordei com isto há bocado, mas agora estou na dúvida...

    O site do deve sair muito mais barato que o do Público. Será que estão condenados ao fracasso por isso?

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  14. "Uma carga eléctrica aqui, uns fotões pela fibra, outra carga eléctrica no outro lado. Tudo automático e, na prática, gratuito."

    Bom, não é para defender o Desidério porque não sei se concordo com ele totalmente em relação aos copyrights mas claro que custa dinheiro! Disponibilizar um pdf online não custa quase nada mas manter algumas marcas online tem um custo elevado como se explicou pela necessidade de criação e manutenção de plataformas técnicas.

    Não é credível um jornal de referência hoje sobreviver com estratégia online de disponibilização de apenas um pdf.

    Se não se montam plataformas como é? Tudo p2p? E como me destingo no p2p?

    As coisas parecem grátis mas se está online, seja onde for, de que forma for então tem custos para alguém, custos esses que de uma forma ou de outra têm de ser pagos... certo?

    O Ludwig escreve aqui no blogspot. Imagine os custos de datacenter que esta platafora não deve ter! E o que se deve pagar a quem montou e gere esta plataforma todos os meses! O dinheiro tem de vir de algum lado (o google comprou e sabemos de onde vem o dinheiro).

    Copiar bits é barato isso é verdade. Baratíssimo. Disponibiliza-los (os originais e as cópias) é caro. Pelo menos de forma a torná-los conhecidos.

    Cumpts

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  15. Estão condenados a nunca serem os primeiros!

    E podem muito bem estar off-line um dia inteiro que ninguém nota nem o seu negócio sofre com isso.
    Situação a condizer com a marca que têm e que desenvolveram nos seus "clientes".

    Essa é uma ponte sobre um riacho. São um par de barrotes.

    Cumpts

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  16. Nota curiosa:
    reparei que a plataforma desse jornal é de origem "livre" (a do Publico é Microsoft). Partindo do princípio que não estão a gastar fortunas com SLAs super elevados e que "terceirizam" a gestão da plataforma/gestão online conteúdos alguém está a arriscar...

    (mais uma vez considero o risco compatível com a marca/negócio mas cada um teve o seu percurso e tem a sua sensibilidade).

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  17. Ludwig,

    Sobre os custos e proventos da internet apenas conheço a magra contabilidade de uma roulote de farturas que arrisquei no Second Life, mas a naturalidade com que justificas o "preço" da intenet (do ponto de vista individual ou colectivo) e do pagamento dos ISPs deixa perplexo quem tem acompanhado os teus argumentos na defesa da gratuitidade dos bits... Quer dizer: aos criadores de conteúdos devemos reclamar a liberdade de pagar ou não, ainda que do seu trabalho possamos fazer um milhão de cópias. Aos ISPs, a quem não se pede mais do que ligar um fio do ponto A ao ponto B (coisa que eles fazem de uma só vez e que custa a cada um dez tostões de fusível (*)) já o monopólio não te impressiona nada. Ainda menos percebo a parte sobre o custo dos "datacenters" em que dizes

    «percebo que é razoável. É preciso pessoas, equipamento e software para gerir os serviços e conteúdos. A confusão é julgar que este é o custo de distribuir a informação.»

    principalmente porque muitos destes servidores correm LAMP, software "FOSS", e os custos astronómicos devem-se principalmente ao aproveitamento de técnicos que subvertem completamente a tua lógica para a propriedade intelectual em geral, e para o software livre em particular. É o trabalho deles que todos pagamos, mensalmente, como gente grande. Ideias novas não pagamos nenhuma.

    (*) o serviço dos ISPs não inclui rigorosamente mais nada. Nem sequer a averiguação de responsáveis por scannings aos sockets do pessoal, nem mesmo por tentativas sistemáticas de intrusão oriundas de endereços do próprio ISP. Notar também que no nosso país a factura doméstica da internet chega a ser a dízima da classe mérdia.

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  18. Anónimo,

    «Disponibilizar um pdf online não custa quase nada mas manter algumas marcas online tem um custo elevado como se explicou pela necessidade de criação e manutenção de plataformas técnicas.»

    Eu entro numa livraria, pego num livro, e quando vou começar a ler dizem-me que tenho que pagar um euro. Explicam que não lhes custa nada que eu leia o livro, mas que gastam muito dinheiro com a decoração, limpezas, e a manter a boa imagem da livraria. Eu digo vão passear, e vou-me embora.

    O Desidério chama a isto mentalidade borlista, e diz que isto vai acabar com o negócio das livrarias, porque as pessoas que vão lá ler coisas sem comprar usufruem do espaço à custa dos papalvos que compram livros.

    Nos sites como o do Público passa-se o mesmo. O site todo tem custos mas eu não tenho nada com isso, tal como pouco me importa que a livraria tenha uma carpete xpto. Eu quero é descarregar o pdf, e isso, tal como ler, sei que não custa nada. Quando me pedem que pague o pdf, mesmo que tenham muitas despesas coitadinhos, eu sinto que me estão a enganar. Porque não é o pdf que custa.

    Notr que não discordo da sua análise acerca das marcas, do share do mercado, da imagem e isso tudo. Parece-me razoável que seja assim. Mas não tem nada que ver com o insucesso do sistema de cobrança ao ficheiro. Esse deve-se simplesmente à compreensão por parte da grande maioria que quando pagam por um ficheiro estão a pagar por nad só porque a lei os obriga.

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  19. Bruce,

    «aos criadores de conteúdos devemos reclamar a liberdade de pagar ou não, ainda que do seu trabalho possamos fazer um milhão de cópias. Aos ISPs, a quem não se pede mais do que ligar um fio do ponto A ao ponto B (coisa que eles fazem de uma só vez e que custa a cada um dez tostões de fusível (*)) já o monopólio não te impressiona nada.»

    Eu defendo que devemos pagar sempre que nos comprometermos a isso. A única excepção que aceito são os impostos, que devemos pagar a bem de todos e conforme as posses de cada um.

    Assim estou de acordo que eu pague ao meu ISP o serviço que ele me fornece, porque assim combinámos. E estou de acordo que o Publico pague aos seus técnicos e que quem encomenda músicas, cortes de cabelo, arranjos de canalização ou filmes pague de acordo com o orçamento que aceitou.

    Mas quem faz o trabalho, publica-o, e depois estende o chapéu a ver se lhe dão qualquer coisinha está a depender da caridade dos outros. Se eu escrevo um programa, distribuo-o e peço que me paguem pela cópia tenho todo o direito de pedir, mas só paga quem quiser. Para eu poder contar com o que vou receber tenho que combinar o preço antes, não depois.

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  20. Só para espicaçar um bocadinho a conversa entre M$ e Open Source...

    Sysadmin de Microondas

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  21. Olá, pessoal

    Ludi, vou voltar a meter-me contigo. Repara na analogia que fazes com as livrarias. Eu sempre defendi que a grande vantagem da internet seria precisamente ter algo como as livrarias: entras no site, lês ou puxas uma coisa, e vês se gostas. A diferença crucial é esta: na livraria, se gostares e quiseres levar o livro, pagas. A tua confusão é pensar que só é *legítimo* pagar o livro fisicamente. Isto é falso: pagas o livro fisicamente, sim, mas pagas também o serviço da livraria E pagas o trabalho do criador. Muitos criadores vivem disso. O preço do livro inclui diferentes percentagens para diferentes pessoas que te permitem levar o livro para casa.

    Na internet fazes tudo como na livraria, mas depois não pagas no fim. Pagas de outras maneiras e pagas a muitas pessoas, mas não pagas ao criador, a menos que te decidas a fazê-lo e raras pessoas o fazem. Pagas o ISP, pagas ao dono do site através da publicidade, pagas ao fabricante do computador, mas não pagas ao criador. Tudo o que eu sempre defendi é que as pessoas devem procurar pagar aos criadores quando usam as suas criações — não para pagar a cópia da criação, como estás sempre a insistir, mas como uma maneira simples e eficaz de pagar uma parcela do trabalho que deu a criar tal coisa. Tal e qual como tu decides pagar à Wikipédia. O teu problema é achares bem pagar à Wikipédia *unicamente* porque esse dinheiro não é para pagar aos criadores. Tens uma mentalidade académica no mau sentido da palavra. Para ti, os criadores ou têm de ser pagos pelos impostos porque são muito importantes para toda a gente (uma tolice do tamanho de um comboio porque se as pessoas pudessem escolher não pagariam impostos para tu poderes viver do teu trabalho académico), ou têm de vender o seu trabalho criativo antes de o fazer, mas não depois de o terem feito. Em suma, tens uma metafísica do tempo e do trabalho criativo deveras interessante. Só é pena ser uma treta, mas assim até fica bem no teu blog. :-)

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  22. Desidério,

    «Ludi, vou voltar a meter-me contigo.»

    É para isso que cá estou :)

    «Repara na analogia que fazes com as livrarias. [...] A diferença crucial é esta: na livraria, se gostares e quiseres levar o livro, pagas.»

    Sim. Como tu disseste há uns dias, e bem, pagas pelo que consomes. Quando levas o livro consomes um livro da livraria. Esse recurso limitado -- os livros em papel -- fica reduzido. Por isso justifica-se que pagues.

    Quando lês na livraria não consomes nada. A livraria tinha N livros continua com N livros. Não havendo consumo não se justifica pagamento. Por isso não pagas por ler livros na livraria.

    Assim se justifica que pagues ao ISP (consomes largura de banda, um recurso limitado) e que paguem aos gestores dos sites, aos escritores etc pelo seu trabalho (o tempo e esforço que isso consome). Mas não se justifica pagar pela cópia de bits. Isso ainda consome menos que folhear um livro.

    « Para ti, os criadores [...] têm de vender o seu trabalho criativo antes de o fazer, mas não depois de o terem feito.»

    Tanto me faz se é antes ou depois. Mas sempre que se vende trabalho, seja quem for que o venda, tem que haver algum acordo com quem o compra.

    Eu sou a favor que alguém seja pago para fazer uma escultura na areia. Sou a favor que lhe paguem primeiro e depois faça a escultura. Sou a favor que ele faça a escultura antes de ser pago tendo combinado com alguém para que lhe pague depois da escultura feita. E sou a favor que ele faça a escultura e receba donativos voluntários de quem fica maravilhado com a escultura.

    Mas sou contra que ele faça a escultura e por isso ganhe o direito exclusivo sobre aquela parte da praia pública que permite ver a escultura. E sou contra isso quer seja feito com areia quer seja feito com bytes e a praia seja o conjunto de números inteiros entree 0 e 255.

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  23. Ludwig,

    mas se eu coloco uma música minha no itunes (cópia de bits) ou um livro electrónico na amazon (mais cópia) ou um filme num site qq de aluguer (mais cópia) e pedir um euro para quem quiser ouvir/ler/ver então o preço pelo conteúdo está combinado à partida.

    A diferença é que o disco físico custa um cêntimo e a sua distribuição um euro e a livraria paga uma renda de uns poucos milhares de euros dependente da sua localização. E isto é menos do que custa um bom serviço on-line de distribuição. Pelo que foi dito acima quanto não custará ter o iTunes no ar? E se o único recurso à distribuição for o p2p como torno a minha música conhecida? Como a levo às pessoas para elas a conhecerem?

    Posso até pedir um milhão de euros ou um cêntimo. Paga quem achar justo o preço pedido pelo conteúdo. Não aceitar o preço explicitamente pedido dá automaticamente o direito de se ir pegar essa cópia de bits a fontes grátis não autorizadas por mim só porque é um recurso infinito (prensar cds é “pouco menos” infinito que copiar bits)?

    Também não concordo com o Desidério mas gostava de ler a tua opinião sobre a questão acima.

    Cumprimentos
    (Bom blog, com questões pertinentes e óptima colaboração dos comentadores)

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  24. Caro Anónimo,

    «mas se eu coloco uma música minha no itunes (cópia de bits) ou um livro electrónico na amazon (mais cópia) ou um filme num site qq de aluguer (mais cópia) e pedir um euro para quem quiser ouvir/ler/ver então o preço pelo conteúdo está combinado à partida.»

    Certo. Não vejo nada de mal nisso, tal como seria perfeitamente legítimo que o dono da livraria cobrasse bilhetes à entrada ou que cobrasse pela autorização de ler os livros. O dono do site, da livraria, dos livros tem o direito de decidir se cobra ou não.

    Mas há duas coisas importantes a ter em conta. Cobrar por algo que obviamente não tem custos vai ser difícil de aceitar pelo consumidor. Quem optar por fazer isto não vai ter muitos clientes.

    Mais importante ainda, o direito de cobrares no teu site para eu descarregar uma cópia do teu ficheiro não te dá o direito de me proibires de copiar o ficheiro para os meus familiares, amigos ou mesmo pô-lo no meu site de borla. Uma coisa é o que o dono da livraria faz na sua livraria com os seus livros. Outra bem diferente é ditar o que as pessoas podem fazer em suas casas com os livros que já compraram.

    «Não aceitar o preço explicitamente pedido dá automaticamente o direito de se ir pegar essa cópia de bits a fontes grátis não autorizadas por mim só porque é um recurso infinito (prensar cds é “pouco menos” infinito que copiar bits)?»

    Penso que estás a ver a coisa ao contrário. O direito não tem que ser dado. Já é de todos à partida. O direito de copiar bits, o direito de copiar em geral, ou, neste caso, o direito de descrever algo (posso descrever a tua sequência de bits sem a copiar usando outra sequência de bits diferente) são direitos que temos desde que nascemos. É assim que aprendemos tudo.

    A questão é se o teu negócio torna legítimo limitares este direito aos outros. A isso eu respondo que não.

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