sexta-feira, março 07, 2008

Deuses e reis.

O leitor «– com – dá +» disse que as religiões não são más nem boas, «são construções humanas [...] e como tal esse atributo não se aplica». A tortura, a educação gratuita, a ditadura e a vacinação são construções humanas. Penso que não é por isso que o atributo deixa de se aplicar. Mas concordo que as religiões não são criadas ou escolhidas com a intenção de fazer mal. A religião é má noutro sentido. É má como a monarquia.

Dar o poder absoluto a uma pessoa pode ser bom se for uma pessoa mesmo boa. Pode até ser melhor que a democracia que temos, com promessas vãs, sacanices e demagogia. Mas escolher um líder pelo seu alegado pai dá quase sempre mau resultado. Não quer dizer que os monarcas sejam más pessoas nem sequer que as monarquias que temos hoje sejam más. Mas as monarquias modernas só não são más porque são monarquias light. O rei acena, anda de bicicleta e manda calar políticos estrangeiros impertinentes, mas de resto fica no seu cantinho e não incomoda ninguém.

É o mesmo com as religiões. Escolher um conjunto de dogmas só porque sim também dificilmente dá alguma coisa de jeito. E a crença num grande chefe absoluto é contrária aos ideais de igualdade de direitos, liberdade opinião e representatividade, seja deus ou rei. Mas se não as levarem a sério, se o rei e o deus forem só para vista, a religião e a monarquia tornam-se quase inofensivas.

Estas semelhanças não são coincidência. A história mostra bem a progressão do chefe venerado ao rei que é deus até ao deus que é rei. E devemos tratar a religião como a monarquia. É um direito de cada um acreditar nisto, se quiser. É um dever de todos respeitar quem acredita, não os discriminando pelas suas opiniões. E é uma obrigação da sociedade impedir que se implemente estas coisas a sério.

39 comentários:

  1. o Ludwig acha que existimos por acaso?

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  2. Na mouche, para variar :-)
    Cristy

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  3. Timshel,

    Sim e não.

    Os flocos de neve não existem por acaso. São consequência da forma como os átomos interagem. Mas aquele floco de neve exactamente daquela forma cair naquele sítio naquele instante tem muito a ver com o acaso.

    O mesmo connosco. «Nós» no sentido de um ser inteligente surgir algures ao longo da história da vida neste planeta penso que se deve mais às regularidades da interacção dos àtomos e da selecção natural que ao acaso.

    Agora «nós» no sentido de eu e vocês, de ter sido exactamente aqueles pares de óvulo e espermatozoide que se juntaram, e os mesmo para os nossos pais e avós e bisavós e assim pordiante, isso parece-me dever muito ao acaso.

    A menos que se assuma que é tudo uma experiência controlada, um gigantesco laboratório de algum cientista omnipotente que tem controlado a reprodução de todos os seres vivos neste planeta durante quatro mil milhões de anos. Mas parece-me ser uma premissa injustificada (além de pouco atraente).

    Mas já estou há uns tempos para escrever sobre o seu post "Os Calhaus"... infelizmente não dá tempo para tudo. Talvez amanhã, se isto do copyright acalmar :)

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  4. Ludwig

    Mas, Ludwig, desculpe a pergunta do ignorante: O que é o acaso?

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  5. Sentido estrito: efeito sem causa (e.g. criação de particulas virtuais, decaimento radioactivo, tunnelling, etc)

    Sentido lato: efeito sem causa identificável (e.g. sair cara ou coroa, ter sido este espermatozoide em vez daquele, etc)

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  6. "Os flocos de neve não existem por acaso. São consequência da forma como os átomos interagem."

    e os átomos interagem de certa forma por acaso?

    e acreditar que algo acontece por acaso é uma "crença" "científica"?

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  7. Ludwig

    Obrigado pela sua explicação. Está perfeita.

    Mas levanta-me outra questão: se tudo é por acaso, afinal qual é o sentido de tudo isto? O acaso não será uma justificação imperfeita para tudo isto? Se podem existir efeitos sem causa, mesmo não observáveis, porque negar Deus como causa primeira, admitindo-o como sem causa?

    p.s. - achei engraçada a hipótese de sermos produto de um cientista omnipotente; podia ter escolhido outra profissão, mas escolheu "cientista"; penso que o colega perspectiva (hello?) aplaudiu considerando esse o seu primeiro passo para a aceitação do design inteligente ;-)

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  8. Ludwig

    Em primeiro lugar, a palavra à monarquia: só na Europa é que ela é decorativa. Na Tailância, Dubai e outros sítios que não me recordo é monarquia à moda antiga. E funciona. Se eu concordo? Não, mas também ninguém me pediu a opinião... mas funciona!

    Aceitas a democracia, um sistema com origem na Europa como internacionalmente válido, mas isso pode não ser o caso. Aliás, tendes a ter fé demais nas pessoas e na justeza das suas decisões e avaliações morais. O que me parece é que as taxas de abstenção em votações recentes mostram que a democracia está em crise. Mas não me peças por alternativas, porque não tas sei dar (sei que em Inglaterra acabar com a House of Lords seria uma demonstração de bom senso e de democracia).

    Em relação ao assunto deuses, possivelmente a tua falha é o tal "porque sim". Os antropólogos costumam olhar para as sociedades em outras fases de desenvolvimento para saber mais sobre nós e o que nos levou a este estado. Não me recordo (mas pode existir sem eu conhecer) de nenhuma cultura sem um qualquer tipo de divindade. Culturas animistas, totémicas, monoteístas, politeístas, sempre ou quase sempre os humanos tiveram necessidade de acreditar em algo que os transcende.

    No fundo, ser religioso de um modo ou de outro faz parte do que é ser humano. Ou seja, "porque sim" é uma resposta menos que completa. A minha pergunta é se substituímos os espíritos do milho, do macaco, das chuvas, de Apolo, de Deus, do Qui (ou Chi?), da Força pelo espírito do homem que tudo pode e tudo conquistará e que evoluirá para criar uma sociedade perfeita e em que todos serão felizes. Porque este último, engraçado como pode parecer (e eu queria muito acreditar nele!)... é uma ilusão tão grande ou maior que as outras! E tu acreditas neles.

    Os deuses que são nossa criação são tudo o que esse Homem não é: perfeitos, criadores de uma ordem natural. Talvez seja o reconhecimento de que o Homem é tão imperfeito que nos leva a agarrarmo-nos aos deuses.

    Aqui sou eu a chamar-te a atenção para que és um homem de fé. E podes fazer juízos de valor errados baseado nesta mesma fé. Do mesmo modo que outro religioso. Como se evita isso? Não pondo o Homem nesse pedestal que puseste. Isto pode parecer conversa para boi dormir, mas a nível prático tem toda a importância do mundo.

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  9. Ludi, esta é de antologia:

    "devemos tratar a religião como a monarquia. É um direito de cada um acreditar nisto, se quiser. É um dever de todos respeitar quem acredita, não os discriminando pelas suas opiniões. E é uma obrigação da sociedade impedir que se implemente estas coisas a sério."

    Elegância, precisão e subtileza.

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  10. Concordo com o Desidério, sem dúvida que é uma afirmação de antologia. E muito perigosa porque tem vários problemas:

    1) Quem é a "sociedade"? O Ludwig e o Desidério?

    2) Deve a "sociedade" ser dirigida por uma elite de "iluminados"?

    3) Existindo uma incapacidade total de provar que Deus não existe e que a religião não é "mitologia" como fazer o povo crente seguir o caminho "certo"? À bofetada e educando-o à força?

    4) Não será a afirmação elegante e precisa uma forma subtil de fazer o apogeu da intolerância? Serão o Ludwig e o Desidério subtilmente intolerantes?


    Estas perguntas parecem-me pertinentes. Surgiram-me 23 perguntas assim de repente mas fico por 4.

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  11. Por momentos pensei que eu, e outras pessoas que escolhem ter uma figura divina presente nas suas vidas, faziamos "o menor mal possivel", mas agora já vi, que até podemos não fazer mal nenhum. Ainda bem.

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  12. Timshel,

    «e acreditar que algo acontece por acaso é uma "crença" "científica"?»

    A ciência não se caracteriza por um conjunto de crenças mas pela forma como as crenças são escolhidas, aperfeiçoadas e substuituidas por outras. E esse método diz para acreditar que tem causa aquilo para o qual temos indícios de causa, acreditar que não tem causa aquilo para o qual temos indícios de não haver causa e para se abster de propôr uma causa para a qual não há indícios.

    António Parente,

    «se tudo é por acaso, afinal qual é o sentido de tudo isto?»

    Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O sentido da minha vida não depende dos meus pais terem planeado o meu nascimento até ao último detalhe ou de eu ter nascido de uma gravidez acidental. O sentido da minha vida tenho que o criar eu, não é simplesmente dado por algo que me seja alheio. Isso é que não faria sentido...

    Abobrinha,

    «Na Tailância, Dubai e outros sítios que não me recordo é monarquia à moda antiga. E funciona.»

    Funciona enquanto monarquia. E é má. Precisamente porque é uma monarquia à moda antiga e a funcionar.

    Também há países onde a religião é à moda antiga, e funciona. E é igualmente má, ou mesmo pior.

    Bizarro,

    «Por momentos pensei que eu, e outras pessoas que escolhem ter uma figura divina presente nas suas vidas, faziamos "o menor mal possivel", mas agora já vi, que até podemos não fazer mal nenhum. Ainda bem.»

    Qualquer coisa que uma pessoa acredite mas que guarde para si e não deixe afectar os outros, se fizer mal só fará ao próprio. É como fumar sem exalar :)

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. muito obrigado pela resposta à minha segunda pergunta do meu último comentário

    posso continuar a aguardar pela resposta à minha primeira pergunta do meu último comentário ("os átomos interagem de certa forma por acaso?")?

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  15. enquanto não vem a resposta à minha primeira pergunta do meu penúltimo comentário ("os átomos interagem de certa forma por acaso?") gostaria também de saber se na tua opinião o big bang tem uma causa, não tem causa ou abstens-te de propôr uma causa (deixando portanto todas as causas em aberto)

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  16. Timshel,

    A interacção dos átomos é mediada por particulas virtuais. Estas surgem por acaso mas são a causa da interacção.

    Quanto ao big bang, alguns modelos dizem que pode ter originado numa flutuação quântica sem causa e outros que teria sido causado pela colisão de membranas ou cordas num espaço com mais dimensões. Mas eu não percebo o suficiente do assunto para responder a isto com confiança.

    O que posso dizer é que a hipótese de ter sido criado pelo deus dos Judeus é muitísimo remota e desprovida de qualquer suporte objectivo. Está na longa lista daquelas que eu rejeito com confiança, e que inclui a hipótese de ter sido uma vaca a lamber o gelo, um ovo de corvo, um castor a ir buscar àgua ao fundo do mar e outras que as religiões já propuseram.

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  17. Ludwig Krippahl

    Não perguntei nada sobre o sentido da sua vida, uma questão que pertence ao foro privado, à sua intimidade e na qual não me meto. Perguntei que sentido fazia tudo isto. Por "isto" entendo tudo o que existe e porque existe.

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  18. Ludwig Krippahl

    Permita-me um pequeno reparo à sua resposta das 21:40.

    O seu último parágrafo é uma pequena barbaridade, fruto da menta dawkiniana que o difundiu.

    Não faz sentido comparar "Deus" com o "castor" e a "vaca" e outras tontices. Por um motivo muito simples: o conceito do Deus cristão e judeu implica que seja exterior ao próprio Universo enquanto o "castor", a "vaca", o o Ludwig e o Parente são componentes do próprio Universo.

    Vejo que continua aceita a aceitar pacificamente que tudo pode acontecer sem causa mas rejeita firmemente a hipótese de uma causa primeira sem causa justificando-a. quiçá, com o argumento científico "as galinhas põem ovos, qed".

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  19. Ludwig

    "Funciona enquanto monarquia. E é má."

    Mmmmm... atreve-te a dizer que não se está bem economicamente no Dubai!

    Contudo (e porque me estou a marimbar fortemente para a monarquia), falhaste o essencial: a monarquia não tem nada que ver com o assunto "deuses", assim como não têm as outras construções humanas que mencionaste (tortura, educação gratuita, etc). As que mencionas estão no plano material, político, enquanto a necessidade de sentir que há algo mais além, um sentido mais profundo para a vida é algo de extremamente humano.

    E isto não tem nada que ver com o facto de achares que haver deuses é ou não certo: tem que ver com uma característica muito intrinsecamente humana. Não creio que tenhas maneira de negar isto. Se isto esconde ignorância ou um querer pensar mais além já não sei. Possivelmente nenhuma das duas, possivelmente ambas. Mas as coisas não são só uma coisa ou outra, pelo que a resposta há-de estar algures no meio (ou completamente ao lado). Mas não podes sobre-simplificar o que é tão complicado. Tão complicado que eu também não tenho explicação e que não tento impor-te a minha verdade (entre outras coisas porque não a sei definir com precisão).

    O sentido da vida de que falas é um ponto onde estou de acordo contigo: devemos tentar encotrar um sentido para a própria vida. Algo que não necessariamente ser super-heróis ou salvadores do mundo); mas também devemos evitar a visão do andar só por aqui a fazer cera.

    Mas o sentido da vida em geral pode ser só acaso ou algo mais profundo. Faz sentido que seja o acaso, mas deixa que te diga que (possivelmente por ignorância, o que é muito mais que plausível), essa de membranas e big bangs e o carago deixa-me a curiosidade menos que satisfeita (a da criação em 7 dias também não me parece bem, mas isso já é outra história).

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  20. Acaso: efeito sem causa (logo, produto da magia); sem causa identificável (logo, eventualmente, também produto da magia). Respostas do cientista do sítio da treta à interrogação de um comentador. Mas que treta...

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  21. António,

    «Não perguntei nada sobre o sentido da sua vida, uma questão que pertence ao foro privado, à sua intimidade e na qual não me meto. Perguntei que sentido fazia tudo isto. Por "isto" entendo tudo o que existe e porque existe.»

    Então vai ter que me explicar a pergunta primeiro. Não faço ideia que sentido possa ter uma pedra ou um peixe morto ou Júpiter. "Porque" existe pode referir uma causa. Faz sentido perguntar que processo originou a pedra, a morte do peixe ou a formação de Júpiter. Mas isso não é o mesmo que o sentido... Ou está a referir-se a um propósito?

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  22. António,

    «Não faz sentido comparar "Deus" com o "castor" e a "vaca" e outras tontices. Por um motivo muito simples: o conceito do Deus cristão e judeu implica que seja exterior ao próprio Universo enquanto o "castor", a "vaca", o o Ludwig e o Parente são componentes do próprio Universo.»

    Não. A vaca, o castor, e o ovo de corvo a que me refiro são todos exteriores ao próprio Universo. Obviamente. Senão seria uma tontice.

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  23. Anónimo,

    «Acaso: efeito sem causa (logo, produto da magia);»

    Parece-me que há aqui um equívoco. Se é produto de X, qualquer que seja o X, X é a causa. Por isso se é um efeito sem causa não pode ser produto nem de magia, nem de deuses, nem da fada dos dentes nem de coisa nenhuma. Não tem causa.

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  24. Abobrinha,

    «Mmmmm... atreve-te a dizer que não se está bem economicamente no Dubai!»

    Eu não sei. Mas tu duvido que estivesses. Quem não tem os órgãos sexuais do lado de fora não se dá bem nesses paises...

    «enquanto a necessidade de sentir que há algo mais além, um sentido mais profundo para a vida é algo de extremamente humano.»

    Talvez. Não tenho problema que sintam que há algo mais além. Para quem gosta deve ser bom.

    O problema é sentir que o algo mais além manda fazer as coisas assim ou assado, e depois daí concluir que devemos mandar todos fazer as coisas assim ou assado. É aí que eu recomendo dizer alto lá, sintam o que quiserem mas não chateiem os outros com isso.

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  25. Ludwig

    Se a vaca, o castor, e o ovo de corvo a que se refere são todos exteriores ao próprio Universo então teriam morrido completamente calcinados com o Big Bang. Ou então o Big Bang não existiu. De qualquer modo a sua toeria dá uma pedrada na ciência.

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  26. Ludwig

    Se não faz ideia do sentidoentão tenhamos esperança que um dia faça sentido para si a pergunta. Quanto ao "propósito" não é mesmo "propósito". Não faria sentido. Seria fora de propósito.

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  27. Olha o tal ingrediente que dá sentido à sopa... e acabei agora mesmo de me lambuzar com 2 malgas dela - vivo na aldeia! - e uma saladinha com rebentos de soja... hummm... estou mais gordo que o abade, o sacristão mai-lo padre!!! :D

    Quanto ao sentido da vida, adoro este poema simplicíssimo e bem directo ao assunto:

    Diante dos muros da cidade, uma noite de inverno
    um homem que tinha sofrido muito
    gritou, desesperado: "Qual é o sentido da vida?"
    E o eco respondeu-lhe claramente: "A vida!"


    Frans Wilde

    Belíssimo!... Belíssimo!!... Belíssimo!!!...

    ...ó Belíssima!!! ;)

    Ao menos, saborosíssima como legume, que gosto mais de verdura e hortaliça que todos os doces do mundo!!!

    Pois, o sentido da minha vida é muito estomacal, confesso... ;)

    Anyway... há uma estranha ignorância ou confusão em todos estes temas quando se discute essa tal entidade misteriosa que é talvez apenas outro nome para o acaso: a causa sem causa!

    Vida será a sua manifestação exterior, tal como Amor é a sua natureza intrínseca. É como se no início e antes de tudo, existisse desde sempre e para todo o sempre - no space, no time whatsoever! - uma Consciência amorosíssima, serena e beatífica. Dela surgiu toda a criação material que culminou na Vida, tão misteriosa e incognoscível na sua causa e finalidade.

    E cada um de nós partilha dessa mesma consciência infinita, criados que somos à sua imagem e semelhança. We are alive, we love, we live... we simply ARE!!!

    Higher than the highest star, beholding this universe from afar!

    A Human Being... a form so divine, so complete, so utterly perfect... I AM forever and ever and whatever!!! :)

    Ah! E o mesmo se diga da Abobrinha...

    Rui leprechaun

    (...com mais casca que a mãe Eva nuinha! :))

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  28. Leprechaun
    Os ingredientes da sua sopa de que fala, tinham algo a ver com papoilas?
    ;-)
    Cristy

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  29. Ludwig,
    Digo que o atributo não se aplica simplesmente por esta razão: são os homens (e as mulheres) que tem a capacidade de praticar o mal e o bem. Mas eu não queria discutir semântica até porque a minha posição não é assim tão diferente da tua, penso é que deve haver tolerância sem sobranceria.
    O problema das religiões para mim é outro: As religiões têm uma “inércia” fantástica, quero com isto dizer que elas têm uma dificuldade imensa em acompanhar a evolução das sociedades e, nos países em que existe o Estado-Religião está tudo tramado.
    Vejo as religiões mais como gigantescos monopólios com o seu Presidente, Board of Directors e Delegações. Estes monopólios têm um grave problema de qualidade, fornecem um produto/serviço sem auscultarem os clientes, pior ainda, criam necessidades artificiais nos seus clientes atafulhando-os em rituais e práticas inconsequentes e por vezes perigosas. Do produto/serviço que fornecem a única parte que se poderá dizer aceitável é a crença em deus.
    Nesta perspectiva o que me deixa realmente perplexo é porque razão não existem (que eu conheça) religiões light? , oferecendo um produto com um conceito bem fundamentado mas abertas à discussão e revisão “em tempo real” dos seus dogmas, em função da evolução da sociedade. Estou convencido que se isso um dia acontecer vamos assistir ao esboroamento das actuais religiões.

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  30. "Do produto/serviço que fornecem a única parte que se poderá dizer aceitável é a crença em deus.
    Nesta perspectiva o que me deixa realmente perplexo é porque razão não existem (que eu conheça) religiões light? , oferecendo um produto com um conceito bem fundamentado mas abertas à discussão e revisão “em tempo real” dos seus dogmas, em função da evolução da sociedade."

    isto é genial

    "revisão “em tempo real” dos seus dogmas, em função da evolução da sociedade"

    ahahaha



    amigo -com-dá+
    isso já existe

    chama-se psiquiatria institucionalizada

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  31. timshel,
    sim, é verdade, mas não satisfaz a necessidade que algumas pessoas têm em acreditar em Deus. Digamos que falta o Dogma fundamental :)

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  32. Ludwig, assim até já acho que consigo fazer bem. Mas vendo por esta optica, a religião é igual a um martelo. Pode servir para rachar a cabeça a outras pessoas, como pode servir para fazer casas. Depende da utilidade que lhe dão.

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  33. Comentadores,
    Vale a pena ler, está mesmo em linha com este post.
    Hoje no jornal o Público, entrevista com Gianni Vattimo, filósofo, ex-eurodeputado, comunista, homosexual, cristão, afirma : "O meu problema de cristão é que a Igreja me escandaliza"

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  34. Não obstante, ter sido educado de forma tradicional na Igreja Católica, nunca dei grande importância à religião. Todavia por força das últimas leituras de Dawkins, Sam Harris etc., passei a interessar-me muito mais pelo tema.

    Penso que a religião no ocidente tem um carácter mais ou menos benigno ao contrário das regiões onde o islamismo faz lei.

    No livro Quebrar o Feitiço de Daniel C. Dennett, esfera do Caos, tem um trecho que vou transcrever que me parece muito importante para o debate aqui travado, especialmente para as posições assumidas pela Abobrinha:

    “Actualmente, quando olhamos para o mundo à nossa volta, vemos Estados em colapso, violência étnica e injustiça grotesca a surgirem em toda a parte; uma questão que todos temos de encarar é a de saber que barco salva-vidas deveríamos tentar manter à tona. Algumas pessoas acreditam que as nações democráticas são a melhor esperança do planeta , proporcionando as plataformas mais seguras e fiáveis – embora não infalíveis – do planeta para melhorar o bem-estar humano e evitar o caos nuclear e o genocídio. Se elas se afundarem, ficaremos todos em maus lençois. Outras pessoas acreditam que as suas religiões transnacionais constituem melhores barcos salva-vidas e, se tivessem de escolher entre o bem da religião e o bem da nação de que são cidadãos, não hesitariam em optar pela sua religião. Talvez os leitores pertençam a este último grupo. Já que – se estão a ler este livro – quase com certeza vivem numa nação democrática em que existe o princípio da liberdade de religião, encontram-se então numa posição delicada: estão a desfrutar da segurança do barco salva-vidas democrático e a negar-lhe a vossa lealdade definitiva.

    Usando a liberdade que vos é concedida por uma nação que honra a liberdade de religião, recusam-sr – como é vosso direito (é semelhante a «invocar a Quinta Emenda» quando se é chamado a testemunhar em tribunal) – a auxiliar os vossos concidadãos na exploração de um problema de segurança nacional e internacional da maior urgência. Aproveitam a boleia, pondo a lealdade à vossa religião acima do dever para com os vossos concidadãos. Têm a sorte de existir um número suficiente de cidadãos com espírito público para compensar a perda do vosso contributo e preservar a integridade da nação, enquanto mantêm a vossa posição baseada na fé, «por uma questão de princípios». A este respeito, não são diferentesdos xiitas ou sunitas que dizem no seu coração: - Que o Iraque pereça, se for necessário, desde que a minha tribo religiosa prospere. A principal diferença (e é enorme) é que o estado precário do Iraque não corresponde (actualmente) à ideia, seja de quem for, de um barco salva-vidas seguro, enquanto que a sociedade livre em que vivemos é manifestamente garantia de segurança e liberdade de que desfrutamos. Por conseguinte, têm menos razões para negar lealdade à nação e às sua leis do que os Iraquianos.”


    António

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  35. Papoilas na sopa?!?! Puxa, isso deve ser uma moda muito avançada aí da cidade!!! :o)

    Bem, por vezes eu compro própolis cá na ervanária, o tal antibiótico natural que também contém pólen. E sei que há agora umas saladas com flores, mas nunca experimentei, isso é tudo avançadíssimo p'ra labregos, são novidades lá pràs primas de Lisboa, que aqui é mais fruta e broa! :)

    Couve lombarda, cenoura, courgette, pimento e alho francês... eis a sopa do maltês! Alface, chicória, rúcula, tomate e soja... saladinha cá prà loja! No fim trinca-se maçã e repete-se amanhã... que é hoje, afinal, para alegria geral!

    Simplicidade desarmante...

    Rui leprechaun

    (...mas não fico elegante! :))


    The supreme good is like water,
    which nourishes all things without trying to.
    It is content with the low places that people disdain.
    Thus it is like the Tao.

    In dwelling, live close to the ground.
    In thinking, keep to the simple.
    In conflict, be fair and generous.
    In governing, don't try to control.
    In work, do what you enjoy.
    In family life, be completely present.

    When you are content to be simply yourself
    and don't compare or compete,
    everybody will respect you.


    Tao Te Ching, 8

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  36. Nesta perspectiva o que me deixa realmente perplexo é porque razão não existem (que eu conheça) religiões light? , oferecendo um produto com um conceito bem fundamentado mas abertas à discussão e revisão "em tempo real" dos seus dogmas, em função da evolução da sociedade. Estou convencido que se isso um dia acontecer vamos assistir ao esboroamento das actuais religiões.


    Ó Matemático... olha que eu creio que há algo assim por aí!

    Ou seja, desde finais do século XIX e inícios do séc. XX, a crescente interacção do mundo ocidental com as antiquíssimas tradições religiosas e filosóficas do Oriente tem dado lugar a uma certa miscigenação religiosa ou espiritual, que deixou de estar assente em dogmas exteriores para se centrar muitíssimo mais nessa experiência da divindade interior.

    Deveras, uma das enormes dificuldades na discussão deste tema "religião", é que ele se pode referir a 2 realidades bem distintas. A exotérica dos dogmas e rituais, que infelizmente é aquela que está quase sempre em causa nestes temas, já que é indubitavelmente a mais fácil de analisar e criticar.

    Mas infinitamente mais importante é sempre a experiência individual do crente e o chamado "encontro secreto com o Deus escondido"... that's it!!!

    É por isso que esse apelo da crença sempre está e estará muitíssimo para além das religiões e seus dogmas e parafernália and so on! Isso mesmo se vê aqui neste debates, ou entre aqueles que dizem acreditar sem possuírem ou desejarem qualquer filiação religiosa, a tal espiritualidade independente das religiões.

    Deveras, nada mais existe senão a religião do Amor, e isto tem sido constantemente repetido ao longo de séculos e milénios por todos aqueles que experimentaram essa magia indizível e intraduzível por palavras... because you simply live it when you are there with you Most Beloved, the One and Only ever!!!

    My Lord: Eyes are at rest,
    the stars are setting,
    hushed are the movements of birds in their nests,
    of monsters in the deep.
    And you are the Just who knows no change,
    the Equity that does not swerve,
    the Everlasting that never passes away.
    The doors of kings are locked and guarded by their henchmen,
    but your door is open to those who call upon you.
    My Lord, each lover is now alone with his beloved
    And I am alone with you.


    Uma só dos incontáveis milhões de orações que brotam espontaneamente dos lábios e do coração daqueles que assim se unem ao Amante Perfeito e sem rival... o Único sem igual!!!

    É também por isso que o êxtase amoroso é deveras a máxima experiência humana que pode ser comparável ao arroubo místico... because the root is love, love, just everlasting LOVE!!!

    Bem, é tão difícil ser racional e lógico quando se experimenta esta alegria incomensurável... cause it feels so very good, what else can I wish or ask for?... it's this feeling I adore!!!

    Because... I am You!... I AM YOU!!...

    ...I AM YOU!!!

    Better yet... nor You or I... I AM... I simply AM!!!

    The true name of God: "I Am Who I Am!"


    E nada mais há para além desta união do Amor...

    Rui leprechaun

    (...solo TU! o Dio nel mio Cor!!! :))

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  37. Timshel, Místico,
    Vocês não apanharam a ideia, men !
    Ao Leprechaun ainda desculpo pois ele vive lá na aldeia e não deve estar habituado a estas coisas da lógica de mercado.
    Aquilo que eu falo é um produto novo, revolucionário. É um novo conceito!
    A Religião Light trás um Deus clássico (omnipresente, omnipotente) numa embalagem nova muito agradável. Não há cá dessas cenas do inferno e do diabo; o inferno é cá na terra se não cumprires a lei e a moral dos homens. Na verdade este Deus é mais um neo-clássico. Ele não se intromete na tua vida sexual, não se interessa se és homosexual, heterosexual ou bisexual. Desde que não mates, não roubes, e sejas altruísta uma vez por outra, está tudo bem. Essa história dos mandamentos já era.
    O resto da religião ainda se vai ver. Podemos fazer uma prospecção de mercado e ver o que mais se adapta às necessidades dos consumidores, tudo sempre numa lógica de mercado.
    Não me importo de ser o gestor de produto. Vocês serão os fundadores do movimento.
    Vá lá, ofereço-lhes a ideia, não reclamo direitos de autor. Aproveitem porque vocês têm espírito empreendedor. :)

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  38. António

    Relativamente à frase "estão a desfrutar da segurança do barco salva-vidas democrático e a negar-lhe a vossa lealdade definitiva", eu abordei à minha maneira o tema num post lá no meu tasco. Foi um post que escrevi de raiva contra a palermice de um tipo que pensa estar a ser democrático e religioso quando não pensa e é racista (embora não o saiba). É este aqui

    http://aboborapequenina.blogspot.com/2008/02/o-bispo-rowan-williams-ter-que-encarar.html

    Eu vejo a democracia como o garante das liberdades que prezamos, incluindo a liberdade religiosa. Mas a liberdade não é uma coisa absoluta (não é, por exemplo, impor a sua verdade aos outros), pelo que excessos religiosos que a ponham em causa devem ser travados.

    As nossas sociedades ocidentais, em teoria, conseguem travar este tipo de excessos... até algumas pessoas começarem a perder o hábito de pensar, confundirem liberdade de expressão com a liberdade de continuar com práticas feudais e tratarem pessoas como eu de racistas por defenderem que a burka não deve ser permitida em sociedades ocidentais.

    O meu post trata disso mesmo e de outras coisas semelhantes.

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