domingo, março 09, 2008

Exemplos.

Com esta coisa do copyright tenho andado a descurar muita outra treta. Vou ver se mudo de tema próximos dias. Deixo aqui algumas referências para quem ainda não sabe como se pode criar arte sem proibir todos os outros de copiar ficheiros.

Filmes de borla:
Steal this film, Part 1
Steal this film, Part 2
Good copy, bad copy

Artigos à borla:
Publisher experiments with free online books
Music Industry Rocked on Multiple Fronts
1000 True Fans

Artigos à borla do Miguel Caetano, que não trabalha à borla mas tem um blog que é à borla. Deve ser magia...

NIN: Trent Reznor arrecada 750 mil dólares em menos de dois dias
SliceThePie lança primeiro álbum financiado pelos fãs
You Cross My Path dos Charlatans saiu hoje e também é grátis

Já agora, leiam o Remixtures regularmente. É à borla.

Finalmente, deixo a prova cabal de como a partilha de ficheiros está a matar a industria do cinema. Se isto continua assim os desgraçados acabam afogados em papel.

Vendas bilhetes MPAA


Os dados são da MPAA.

17 comentários:

  1. Sobre o cinema: lembro-me que era precisamente o que dizias em relação à indústria da música. Eu, armado em profeta da desgraça acertei no ponto e previa aquilo que está hoje a acontecer: à medida que a geração com maior contacto com a internet fosse crescendo, eles iriam perder à grande.
    Parece-me muito natural que exista um atraso em relação ao cinema: é diferente sacar 2 ou 3 megas, ou sacar umas centenas. Mas lá chegaremos, infelizmente...

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  2. João,

    Tu estás a confundir a venda de CDs com a industria da música. E não me parece que o pessoal vá partilhar bilhetes de cinema em P2P...

    Ou bilhetes de concertos:

    http://www.usatoday.com/life/music/news/2005-12-29-concert-tour-money_x.htm

    (Já agora uma correcção... eu acho que num comentário atribui os 3 mil milhões de dolars aos rolling stones mas era o total dos 100 maioroes, os stones foram os quem ganhou mais nisto).

    Em 2006 houve cerca de 9 mil milhões de dólares em vendas de cds nos EUA e 3 mil milhões de dólares nos concertos. Das vendas de CDs os músicos recebem tipicamente 5-10%, por isso a parte que está a diminuir é mais que compensada pela que está a aumentar. Para os músicos, claro. Os fabricantes de cds ficam agarrados...

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  3. falta só saber uma coisa pequenita:se essa coisa do lucro é uma correlação ou causalidade...

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  5. wCaro Ludi

    Repara no que dizes: “Deixo aqui algumas referências para quem ainda não sabe como se pode criar arte sem proibir todos os outros de copiar ficheiros.” Há duas incorrecções fundamentais neste post.

    A primeira é que estás a refutar um espantalho. Ninguém defende que não é possível criar arte sem proibir os outros de copiar ficheiros. O que eu tenho defendido é que a cópia de ficheiros deve compensar financeiramente os criadores da obra copiada, se estes quiserem ser compensados. Nem sequer estou a defender, o que seria absurdo, que um criador não possa disponibilizar de borla o seu trabalho na Internet.

    A segunda é que estás a cometer uma falácia que não costuma ser referida nos manuais de falácias, mas que é muito comum. É a falácia da possibilidade. É assim: quando alguém argumenta que X é possível é irrelevante argumentar que não-X também é possível. Porque uma coisa não invalida a outra. Ora, o argumento contra a cópia gratuita indiscriminada de ficheiros não é que isso torna impossível a criação artística, mas antes que não torna possível um certo tipo de financiamento dos criadores, financiamento esse que é particularmente importante para os pequenos criadores. Não se trata portanto de dizer que com as cópias gratuitas indiscriminadas acaba a cultura. Trata-se de dizer que com as cópias gratuitas indiscriminadas só subsistirá dois tipos de cultura: a de massas, controlada pelas grandes companhias, que vivem de vender publicidade que só rende quando se atinge milhões de pessoas; e a amadora, de umas pessoas eventualmente mais talentosas do que as que trabalham para os grandes tubarões, mas que por causa do seu sentido de independência não querem ficar dependentes deles. Só que como a sua actividade criadora não é economicamente viável porque só têm uma carteira de mil apreciadores que não lhe pagam nada — e por isso tem de trabalhar noutro lado qualquer.

    Finalmente, repara que um modelo económico no qual os criadores pudessem ser pagos directamente por quem usufrui das suas criações é compatível com 1) a cultura capitalista de massas que favoreces, na qual companhias gigantes dão coisas de borla às pessoas para lhes vender publicidade, 2) criadores que põem os seus produtos de borla na internet, seja qual for a razão. O meu modelo económico inclui o teu como uma parte própria, e portanto tem o melhor dos dois mundos: tem coisas de borla, mas permite também a independência financeira dos pequenos e médios criadores, sem ficarem dependentes das grandes companhias à americana. Não tenho nada contra os EUA, não sofro de antiamericanismo primário, mas também não penso que o único modelo desejável de Internet é o modelo o capitalismo à americana.

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  6. Caro Ludi

    Há outro aspecto que me esqueci de referir no teu post que está profundamente incorrecto.

    Pensemos no caso da HarperCollins, no artigo do Guardian que indicas. Usar este caso como argumento é incorrecto da tua parte. E isto por duas razões.

    Primeiro, porque se for verdade que os autores das obras não devem ser pagos pelas cópias digitais, não se entende por que razão devem ser pagos pelas cópias analógicas. Se fosse verdade que é uma aberração metafísica, como tu pensas, pagar a um músico por “pedaços de plástico com zeros e uns”, como tu sofisticamente argumentas, seria também uma aberração metafísica pagar a um escritor por pedaços de papel com tintas porque o que ele criou não é isso: isso é só a cópia do que ele criou.

    Segundo, porque o que a HarperCollins está a fazer é a ver até que ponto ter, de modo limitado, cópias gratuitas de autores ultrafamosos afecta as vendas dos livros em papel. Ora bem, isto significa duas coisas. Em primeiro lugar, como já chamei a atenção, que este tipo de coisa só é lucrativa com autores muito conhecidos. Se o Paulo Coelho tivesse apenas mil leitores regulares, isto não seria economicamente viável. Em segundo lugar, que este sistema de cópias é parasitário em relação às cópias analógicas dos livros: ou seja, o editor está a ver até que ponto isso afecta a venda de livros. Ora, isto é completamente lateral ao que defendes, pois é um sistema que só é lucrativo caso não afecte a venda das cópias não digitais. Por outras palavras: estás a embarcar na cantiga dos grandes empresários que vêem a internet apenas como um meio de publicitar as coisas, e não como um meio de pôr os criadores em contacto directo com os seus leitores ou ouvintes, que desse modo poderiam pagar-lhes directamente, sem passar pelas grandes companhias. E o meu argumento é que usar a internet desta maneira é um logro, pois poderia ser usada de uma maneira muitíssimo melhor — como um instrumento que elimina e ameaça os grandes editores, as grandes empresas, permitindo aos pequenos criadores que sejam economicamente independentes, por serem directamente financiados pelo seu público.

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  7. Desidério,

    «A primeira é que estás a refutar um espantalho. Ninguém defende que não é possível criar arte sem proibir os outros de copiar ficheiros. O que eu tenho defendido é que a cópia de ficheiros deve compensar financeiramente os criadores da obra copiada, se estes quiserem ser compensados.»

    Então tens que me explicar como implementas isso sem proibir a cópia a quem não pague. Que, para a maior parte das obras, será mais de 99.99% da população mundial.

    «Ora, o argumento contra a cópia gratuita indiscriminada de ficheiros não é que isso torna impossível a criação artística, mas antes que não torna possível um certo tipo de financiamento dos criadores, financiamento esse que é particularmente importante para os pequenos criadores.»

    Mostra-me os dados que suportam essa afiirmação que o copyright é especialmente importante para os pequenos criadores.

    «Trata-se de dizer que com as cópias gratuitas indiscriminadas só subsistirá dois tipos de cultura...»

    Tu afirmas estas coisas mas não dás quaisquer evidências disso. Não vou acreditar nisto só porque dizes que é assim...

    Qualquer pessoa com mil fãs dedicados pode ser um profissional na arte que cria. Qualquer pessoa que não arranje mil fãs dedicados terá que ser um amador. O copyright não interessa para isto.

    Esse problema que estás a apontar é o que acontece agora, porque se dá às companhias como a EMI e a Sony BMG direitos exclusivos sobre as obras.

    «O meu modelo económico inclui o teu como uma parte própria, e portanto tem o melhor dos dois mundos:»

    Não. O teu tem a parte pior. Obriga a que todos que não paguem sejam proibidos de copiar e punidos se o fizerem e policiados para não o fazerem. Isso é muito mais significativo do que aquilo que tu agora já admites ser apenas uma parte dos mecanismos de financiamento da arte. E que não demonstras sequer quão importante é.

    Na tua opinião, que percentagem dos rendimentos dos músicos vem do copyright pela venda de CDs? Suspeito que estejas algo enganado quanto a isso.

    «Primeiro, porque se for verdade que os autores das obras não devem ser pagos pelas cópias digitais, não se entende por que razão devem ser pagos pelas cópias analógicas»

    Precisamente. Deviam ser pagos pelo trabalho de escrever. A cópia é um mero acto mecânico, barato e automatizável. Quanto é que vale um ctr-C, ctrl-V?

    «Segundo, porque o que a HarperCollins está a fazer é a ver até que ponto ter, de modo limitado, cópias gratuitas de autores ultrafamosos afecta as vendas dos livros em papel. »

    Claro. A HarperCollins é um distribuidor. Um vendedor de cópias. Não escreve nem cria nada de novo nem tem negócio se a cópia não tiver valor.

    Mas quem escreve tem uma coisa para vender: a sua criatividade. E muitos querem esse trabalho. Nestas condições não há razão nenhuma para duvidar da capacidade do mercado livre de resolver a situação.

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  8. Caro Ludi

    “tens que me explicar como implementas isso sem proibir a cópia a quem não pague. Que, para a maior parte das obras, será mais de 99.99% da população mundial.”

    Já expliquei que esse é outro aspecto. Uma questão é saber se é bom haver piolhos. Outra coisa é saber se conseguimos ver-nos livres deles e qual é o custo disso. Uma coisa é saber se é bom haver cópias de borla de tudo e mais alguma coisa. Outra coisa é saber se nos conseguimos ver livres disso e qual é o custo disso. Eu só estou a argumentar contra o teu aplauso entusiástico aos piolhos. Nada mais.

    “Mostra-me os dados que suportam essa afirmação que o copyright é especialmente importante para os pequenos criadores.”

    Este é um argumento totalmente diferente! Agora não estás a dizer que os piolhos são uma coisa excelente, mas apenas que não vale a pena darmo-nos ao trabalho de acabar com eles porque não fazem comichão. Repara: ao longo de meses tens apresentado no teu blog muitos casos em que os músicos e outros criadores ganham dinheiro apesar de as pessoas copiares as músicas deles sem pagar. Mas isto é falacioso. É claro que haverá muitos casos desses. O problema é saber se há ou não casos dos outros. Ora, casos dos outros há às dúzias. Basta falares com criadores de software muito popular, usado por milhares de pessoas, mas que não conseguem viver disso porque desistiram de tentar fazer as pessoas pagar. Passaram a usar o software excelente que fazem como tu queres: mera publicidade para se venderem a eles mesmos. Venderem-se a quem? Às grandes companhias de software, que podem pagar-lhes o ordenado. Quando poderiam viver directamente da sua criação e do dinheiro das pessoas que usam o que eles criaram. Mas a mentalidade borlista que se instalou na internet, e que tu aplaudes, impede isso.

    “Qualquer pessoa com mil fãs dedicados pode ser um profissional na arte que cria”

    Não pode, Ludi. No sistema das borlas não pode. O autor do Izarc, por exemplo, tem muito mais de mil utilizadores no mundo, mas o homem não pode viver disso, nem pouco mais ou menos, porque tem de dar o software de borla. Tu só olhas para a Internet do ponto de vista do consumidor. Claro, não é uma maravilha a gente ir à Net e saber o que queremos de borla? Mas para isto acontecer, o preço a pagar é transformar a internet num mero placard publicitário: os criadores usam a internet para se promover, mas depois teremos de pagar noutro lado qualquer outra coisa qualquer e provavelmente mais caro do que pagaríamos caso contrário. Do ponto de vista económico, não há outra hipótese: isto é uma certeza matemática.

    Imagina que és um criador de software ou um músico. Para viver precisas de uns mil euros por mês. Para comprar os equipamentos necessários vais precisar de mais, mas vamos esquecer isso. Portanto, a questão é esta: seja a vender música ou software na Internet, seja a fazer outra coisa qualquer, alguém tem de te pagar mil euros. Quem? Bom, se for directamente, pagam os teus fãs: compram-te cópias da tua criação na Net e pagam uma ninharia: 1 euro por mês, se tiveres mil fãs. 12 euros por ano. Bem pouco para poder ouvir a tua música.

    Agora imagina que usas a Net para te promover, mas não vais buscar o cacau aí. Onde vais buscá-lo? Concertos, talvez. Se fores engenheiro de software, chapéu. Terás de ir trabalhar algures. Mas se fores músico fazes concertos. Agora o teu problema é que tens mil fãs — mas espalhados pelo globo. Em Portugal, só tens 200. Como raio fazes o espectáculo? Bom, podes fazer para os 200 apenas. Mas nesse caso eles, e só eles, terão de pagar a tua criatividade, criatividade da qual os outros 800 do resto do mundo estão a usufruir. Além disso, quando fazes um concerto, a maior percentagem do preço do bilhete alimenta a máquina dos concertos, mas não a tua carteira: é para pagar a PA, o segurança, a sala, o organizador dos espectáculos. Tu ficas com uma ínfima percentagem. Logo, os teus fãs terão de pagar MAIS para te sustentar do que pagariam se te pagassem directamente. Porque ao pagar os teus concertos têm de estar a pagar a tudo o resto e não apenas a ti. Além disso estes 200 têm de passar a vida a ir aos teus espectáculos, coisa que não é muito comum, mesmo quando gostamos muito de um músico. Porque podemos preferir ouvir a música dele no conforto da nossa casa, ou no carro, ou na banheira.

    Que beleza tem este sistema? Nenhuma. É uma macacada completa, ao mesmo nível da parvoíce que tínhamos antes, que também tinha coisas muito más. As coisas más que tínhamos, todavia, resultavam da própria natureza da distribuição dos bens — distribuir CDs pelo mundo todo, ou pelo país todo, exige grandes companhias. Mas o problema da distribuição não se põe na internet. Era essa a beleza da internet antes de terem aparecido os tubarões que a vêem como um mero placard de publicidade, o que nos conduz ao mesmo que tínhamos antes. E tu cais nesta armadilha pensando que é uma maravilha.

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  9. Continuando a responder:

    “Obriga a que todos que não paguem sejam proibidos de copiar e punidos se o fizerem e policiados para não o fazerem. “

    É como a violação de mulheres, pá. Dá uma trabalheira. Desculpa a ironia, mas não podes presumir que é um disparate proibir algo só porque é fácil de fazer. Podemos ter fortes razões para o fazer. E fazê-lo pode não obrigar a ter uma sociedade policial. Uma parte importante do comportamento das pessoas pode ser mudado se lhes explicarmos por que razão devem fazer certas coisas e não outras. O que se passa actualmente é que há toda a uma campanha para fazer as pessoas pensar que está correcto copiar software sem pagar aos autores porque os autores são em qualquer caso grandes companhias. Só que as pessoas não distinguem uma coisa da outra e tanto lixam a Microsoft com cópias pirata do Office como lixam um gajo que tem um utilitário muito fixe e pede apenas 10 dólares por ele. Se em vez de haver campanhas a dizer às pessoas “copia e não pagues, não sejas tanso!” houvesse campanhas a dizer às pessoas “Paga directamente aos criadores, apoia a criatividade” talvez a percentagem de pessoas que pagam voluntariamente fosse maior do que a miséria que é actualmente.

    Quanto à percentagem que os músicos ganham com os CD, isso depende dos músicos, Ludi. Tal como com os autores de livros ou de software. Mas é falacioso argumentar que porque alguns músicos podem prescindir das receitas da venda de CDs, todos podem; tal como é falacioso argumentar que ganhar 50 cêntimos por CD é o mesmo que ganhar nada.

    Ludi, já respondi várias vezes a isto e continuas a insistir demagogicamente:
    “Deviam ser pagos pelo trabalho de escrever. A cópia é um mero acto mecânico, barato e automatizável. Quanto é que vale um ctr-C, ctrl-V?”

    Pagar ao puxar uma música ou um livro não é pagar pela cópia, mas pelo tempo e talento do criador que está na origem causal da cópia. A maravilha da internet é ter tornado a cópia virtualmente de custo zero. Tu pareces pensar que ao comprar um CD a única coisa que queremos pagar é a cópia da música, e portanto se a cópia em si custar zero queres pagar zero — mas isto é um disparate. O que queremos pagar é o acto criador que está na sua origem, e pagar uma cópia é uma forma razoável de o fazer, desde que o criador receba uma percentagem justa. Outra coisa completamente diferente é saber se os criadores recebiam uma percentagem justa dos CD. Mas como raio se pode alguém queixar das grandes editoras que não pagavam justamente aos músicos, ao mesmo tempo que queremos puxar-lhe a música também sem lhes pagar? Quem se queixa de as companhias pagarem mal aos músicos deve defender o pagamento directo ao músico, através da internet, das cópias das suas músicas. Caso contrário estará a ser ainda pior do que as grandes editoras, que podiam pagar pouco, mas sempre pagavam alguma coisa aos músicos.

    Finalmente, é muito importante o que dizes no fim: a capacidade do mercado para resolver a situação. O mercado ficou totalmente diferente quando surgiu a ideia da borla. Sem a ideia da borla, os pequenos criadores usariam a internet para vender directamente os seus trabalhos ao seu público — e o mercado resolveria tudo, sem mais intervenções. Mas com a borla, o comportamento económico das pessoas altera-se. Não vais pagar nem 4 euros por 60 minutos de música se outro gajo ao lado te dá a música de borla. E o gajo só pode dar-te a música de borla, se tiver uma carteira de milhões de fãs e passar a vida a encher estádios de futebol com concertos e se tiver uma grande companhia por detrás para gerir isso. O que eu te estou a dizer desde o início é precisamente isto, Ludi: dada a existência da borla, os mecanismos normais de mercado levam as pessoas a não comprar nada directamente aos criadores. E é por isso que é uma treta.

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  10. Desidério,

    «É como a violação de mulheres, pá.»

    Não. Cantar no duche sem pagar à autora da música não é como violá-la. E ouvir a música ou copiar um CD sem pagar prejudica tanto como cantar sem pagar. Pensava que estavamos de acordo que não há nenhuma base moral para proibir outros de usufruirem das ideias que eu tive.

    «Pagar ao puxar uma música ou um livro não é pagar pela cópia, mas pelo tempo e talento do criador que está na origem causal da cópia.»

    É o que eu já te disse imensas vezes. Mas parece que não percebeste aínda que se um músico talentoso perdeu 500 horas a criar um àlbum, nem o talento dele nem as horas que perdeu vão ser afectados pelo número de pessoas que ouvem o àlbum.

    O que interessa é pagar o tempo e o talento do seu trabalho, não a utilização da música. X, por ouvir, Y por cantar no duche, Z por copiar em mp3 a 128Kb/s, W se for a 256Kb/s, etc... Isso é treta e não tem nada a ver com o músico, o seu trabalho ou o seu talento.

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  11. Fraquinho, muito fraquinho.

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  12. «É o que eu já te disse imensas vezes. Mas parece que não percebeste aínda que se um músico talentoso perdeu 500 horas a criar um àlbum, nem o talento dele nem as horas que perdeu vão ser afectados pelo número de pessoas que ouvem o àlbum.»

    O número de pessoas que ouvem o seu album está relacionado com a utilidade do seu esforço ao criá-lo. E um sistema que dá mais incentivos para criar aquilo que é mais útil pode ser o sistama que mais favorece a comunidade. Pelo menos pode ser um bom ponto de partida.

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  13. João,

    «O número de pessoas que ouvem o seu album está relacionado com a utilidade do seu esforço ao criá-lo.»

    Isso é muito discutível. Eu diria que mais relacionado com a utilidade do esforço será o número de pessoas dispostas a pagar pelo esforço. E essas podem pagar precisamente para que o esforço seja feito.

    A confusão aqui é pensar que o músico ou o escritor vendem um produto. Não é verdade. Vendem um serviço. Quem vende o produto é quem faz cópias. O canalizador e a peixeira têm que ter modelos de negócio diferentes. O músico e a discográfica também.

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  14. Ludwig:

    Se perguntassem aos consumidores quanto é que achariam justo pagar por uma batata, um quilo de arroz, ou uma estadia na discoteca, os valores seriam muito mais baixos que os praticados.

    Quando avaliamos um bem do qual pretendemos usufruir, a tendência é para a sub-avaliação. Isto é natural: quando se é juiz em causa própria é difícil ser imparcial.

    Mas os preços funcionam de outra forma: os consumidores só usufruem de um determinado bem se pagarem. Assim, a informação torna-se mais honesta.
    É diferente perguntarem: "quanto estarias disposto a pagar por uma imperial à 1h da manhã?" - e eu saber que aquilo que responder vai ser aquilo que pagarei por ela - ou perguntarem "estarias disposto a pagar 1.5e por uma imperial à 1h da manhã?" e eu saber que tenho a opção de aceitar ou rejeitar.

    No primeiro caso, é provável que o bem fique sub-avaliado. No segundo caso é mais provável que o preço reflita a utilidade que o bem tem para os consumidores / a facilidade com que os produtores o proporcionam. Se o bem for mais valorizado pelos consumidores, os fornecedores colocarão um preço caro; o que vai encorajar as pessoas a tornarem-se fornecedoras de um serviço para o qual pelos vistos existe utilidade. Isto vai baixar o preço até um ponto de equilíbrio. O produto não vai estar subavaliado nem sobreavaliado. Qualquer troca "útil" (quando o consumidor valoriza mais o produto do que aquilo que este custa ao produtor) vai tendencialmente acontecer.

    No teu sistema isto não acontece. Uma música pode ser um espectáculo, mas os consumidores podem usufruir dela sem pagar.

    No caso da cerveja, se fosse hábito dos vendedores perguntarem: "quanto achas que seria um preço justo a pagar por este copo?"; os consumidores diriam algo como "pagas 10centimos à central de cervejas por cada imperial. Se te pagar 50centimos já te dou 5 vezes aquilo que gastaste". Pois, só que 40 centimos de lucro por copo não são o suficiente para justificar o trabalho de estar a vender cerveja às tantas da noite. O vendedor vai passar a vender de dia, e eu - que pagaria 1.5e - fico a ver navios. É pior para todos.

    O caso da música é parecido. A cópia custa menos de 10c: custa 0. Mas a música não é gratuita. E se forem os consumidores a escolher quanto pagam por ela, a música vai ser sub-avaliada, e transacções que beneficiariam ambas as partes não vão acontecer. Todos ficam a perder.

    Tal como no exemplo da cerveja existem duas formas de fugir a isto:

    a) a melhor de todas, mas a mais difícil de acontecer: os consumidores revelam "altruismo" nas suas decisões (por exemplo eu dizer que dou 1e pela cerveja apesar de poder pagar tão pouco quanto queira).

    b) os consumidores só usufruem de um bem se pagarem por ele.


    Não estou a dizer que isto deva acontecer. Controlar as comunicações é complicado, censura, etc...
    Apenas faço notar que a consequência de se abolir o cpyrigth é que a música (e outros bens do tipo) passe a ser sub-avaliada. Pelo menos é aquilo que a teoria económica clássica diz a respeito do teu sistema.

    Esperemos que falhe redondamente.

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  15. João,
    O problema do copyrigth não é um problema de economia clássica. O Ludwig já alertou para isso em várias ocasiões. É um problema que só pode ser analisado correctamente pela teoria económica moderna (incl. Game Theory, Nash Equilibrium, ...)
    O que temos andado aqui a fazer é a tentar usar um martelo quando precisamos de uma chave de fendas.

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  16. João,

    «Mas os preços funcionam de outra forma: os consumidores só usufruem de um determinado bem se pagarem.»

    Estás a pôr a carroça à frente dos bois. Há preços em certas coisas porque os consumidores têm que as pagar.

    Quanto é que tu pagarias para cantar no duche? Para ler histórias aos teus filhos? (ok, mau exemplo, mas se os tivesses... ;) Para usar a multiplicação ou verbos?

    Se tivesse que ser claro que pagarias, e provavelmente bastante mais que por batatas. Mas como estas coisas podem ser usadas por todos à borla não se paga por isso. É mais razoável do que inventar leis para impor custos arbitrários.

    Tens razão que copiar a música é gratuiti mas fazer a música não é. E é aí que está o comércio e onde vais encontrar os preços. Não é na cópia, nem em cantar no duche nem no uso da multiplicação. É no trabalho de criar estas coisas.

    E isso o pessoal está disposto a pagar. Se for a escolha entre pagar ao músico ou não haver mais músicas novas o publico paga. E essa escolha não tem que ser imposta por lei.

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