sexta-feira, março 14, 2008

Analogias e exemplos.

Eu costumo dar exemplos quando escrevo. Talvez pelo hábito das aulas, parece-me que tornam a exposição mais clara do que falar apenas em abstracto. Infelizmente, há quem confunda argumentos que contém exemplos com argumentos por analogia. Até agora não dei importância a isso. Mas o Desidério sabe com certeza a diferença e se isto lhe fez confusão o problema é mais sério. Se não deixo clara a estrutura do meu argumento também não se vai perceber o conteúdo. Por isso acho melhor esclarecer. Vou começar, como gosto, por dar exemplos. Mas espero desta vez deixar claro que não estou a argumentar por analogia. Considerem estes dois argumentos:

A árvore é um ser vivo. Tem metabolismo e reproduz-se. O ser humano também. Nisto são semelhantes. Ora se são semelhantes nestas coisas e a árvore cresce podemos concluir que o ser humano também cresce.

A Ana gosta de Mozart, chocolate e de fazer ski. O João também. Como têm estes gostos semelhantes e a Ana gosta de gelados provavelmente o João também gostará.

Estes argumentos estabelecem uma semelhança entre dois casos e inferem da semelhança de certos atributos que os dois casos serão também semelhantes noutro. A premissa implícita é que serem semelhantes numas coisas implica que serão na outra. É esta premissa implícita que os torna argumentos por analogia. Considerem agora estas variantes:

Todos os seres vivos crescem. (A árvore, por exemplo, é um ser vivo. Tem metabolismo, reproduz-se, e cresce.) O ser humano também é um ser vivo e, por isso, o ser humano também cresce.

As pessoas que crescem juntas, como a Ana e o João, tendem a partilhar muitos gostos. (Por exemplo, a Ana e o João gostam de Mozart, chocolate e de fazer ski.) Por isso se a Ana gosta de gelados provavelmente o João também gostará.

Estes argumentos partem de uma afirmação geral, como todos os seres vivos crescem, e da premissa que este é um caso particular, como o ser humano é vivo, e inferem daí o que a regra implica. O ser humano cresce. Coloquei entre parênteses os exemplos para mostrar que não são essenciais à inferência; a árvore apenas ajuda a perceber a premissa. O argumento é simplesmente que os seres vivos crescem e o ser humano é vivo por isso cresce. É muito diferente de um argumento por analogia onde se infere uma semelhança por haver outras semelhanças.

A confusão do Desidério foi esta:

«O outro argumento é o do jardineiro. O Ludwig está sempre a argumentar por analogia a favor do seu ponto de vista, mas as suas analogias raramente são procedentes.» (1)

No meu argumento (2) propus que a melhor forma de remunerar a prestação de serviços difere da melhor forma de remunerar a produção de bens materiais. Como esta premissa é muito abstracta dei o exemplo do agricultor e do jardineiro. Propus também que o autor é um prestador de serviços e não um produtor de bens materiais, e destas duas premissas concluí que não é boa ideia remunerar o autor à peça ou ao quilo. A analogia entre o autor e o jardineiro não é relevante para a inferência. Apenas ilustra a premissa. Este não é um argumento por analogia e é fácil ver que sem o agricultor e o jardineiro a estrutura do argumento é mesma. Mesmas premissas, mesma inferência, mesma conclusão.

Há mais coisas a dizer acerca do post do Desidério, e também do post convidado do Álvaro Santos Pereira (3). Mas isso fica para um próximo episódio. Talvez entretanto eles releiam o que eu escrevi e reconsiderem.

1- Desidério Murcho, 13-3-08,O jardineiro digital
2- Produtos e serviços
3- Álvaro Santos Pereira, 12-3-08, A utopia do custo zero

5 comentários:

  1. Caro Ludi

    Não é pura e simplesmente verdade que a melhor forma de pagar a quem presta serviços não seja pagando-lhe directamente pelo usufruto que temos do serviço que nos presta. Daí eu ter pensado que o teu argumento era por analogia. Porque se é um argumento directo, não se percebe qual é exactamente o argumento. Por que razão quem presta um serviço não pode ser pago pelas pessoas que usufruem directamente do seu usufruto? A tua confusão é sempre a mesma e eu já a denunciei várias vezes. Estás sempre a pensar que quando um engenheiro vende cópias do seu software ou um músico cópias da sua música ou um autor cópias dos seus livros, que ele está a vender AS CÓPIAS. Daí toda a tua Metafísica da Cópia, os bits, os números e outras ameaças deste jaez.

    Tudo isto é irrelevante porque tu não compreendes o que está um criador a vender. Ele está a vender o usufruto da sua criação. E uma maneira bem simples (não é a única!) de o fazer, é as pessoas que usufruem disso pagar-lhe. Pode haver coisa mais simples do que isto? Na verdade, os exemplos desastrosos que dás de pessoas a viver na Nova Economia Digital Maravilhosa que tanto apregoas usam exactamente este modelo: vendem música pela internet. Claro. É o mais prático.

    Ora, o meu argumento é muito simples. Se não fosse a mentalidade borlista que se instalou, terias muitos mais músicos independentes, e autores, a poderem fazer o mesmo, em vez de termos apenas casos isolados. E poderíamos ter criadores locais. Assim não dá. Tem de ser em inglês, por exemplo. Tem de se popular, caso contrário dez mil pessoas usufruem do trabalho dele, mas só cem lhe pagam voluntariamente.

    O que precisamos é de uma campanha a favor do Fair Digital Trade, que estimule as pessoas a pagar directamente aos criadores, em vez de andarem na borla. E isto que eu tenho defendido é perfeitamente compatível, como te disse várias vezes, com o argumento pragmático a favor de não se fazer nada contra a cópia pirata. Mas um argumento pragmático destes é muito diferente das tolices de filosofia barata da economia barata que andas a escrever, manchando o teu blog que tem tantas coisas interessantes quando não dizes disparates destes... :-)

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  2. Desidério,

    «Não é pura e simplesmente verdade que a melhor forma de pagar a quem presta serviços não seja pagando-lhe directamente pelo usufruto que temos do serviço que nos presta.»

    Que confusão... Quer lá saber o barbeiro se eu vou a um casamento ou ao cinema. O que ele cobra não é o meu usufruto do corte de cabelo. É o serviço. É o trabalho dele, o tempo dele, o esforço dele.

    «Tudo isto é irrelevante porque tu não compreendes o que está um criador a vender. Ele está a vender o usufruto da sua criação.»

    Isso não faz sentido. Usufruir fazem os outros. O autor cria. O que ele vende é esse serviço. Se eu te vendo um bolo não te vendo a degustação do bolo. Vendo-te o bolo. Se o comes ou o deitas para o lixo é me indiferente. Se te vendo o serviço de limpar a tua casa ou de compor uma música vendo esse serviço. O prazer que tu tiras ou não daí é irrelevante para a transacção.

    Parece-me que estas a complicar as coisas desnecessariamente...

    «O que precisamos é de uma campanha a favor do Fair Digital Trade, que estimule as pessoas a pagar directamente aos criadores, em vez de andarem na borla.»

    De todas as receitas, fórmulas matemáticas, regras gramaticais e principios da lógica de que já usufruiste, quanto é que pagaste aos seus criadores e herdeiros?

    Tu propões esta coisa como se fosse uma regra geral quando não há regra nenhuma. Se vires bem, é uma excepção. Isto só é defendido para uma fracção bastante pequena da economia, da inovação e da criatividade da nossa espécie.

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  3. PUTA QUE PARIU, ESSE DESIDÉRIO, QUE PARECE MAIS COM NOME DE DOENÇA QUER SER O DOIDO DA LINGUA PORTUGUESA. SERES MAIS HUMILDE COM TUAS PALAVRAS BROW KKKKK. IMAGINAS TU NO PARAISO ONDE DEUS ACOLHEU BILHARES DE SERES HUMILDES POR COMPLETO E CHEGAS TU COM TEUS TERMOS? QUE HORROR DEVES ACHAR O SENHOR!!! TALVEZ DIRÁ: DESCE E HUMILDECE, AKI NAO CHECHEU!!! AKI SÓ OS HUMILDES POR COMPLETO.

    BAIXA TUA BOLA BOIOLA!!!

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  4. este brasuca veio tardio hein....A árvore é um ser vivo. Tem metabolismo e reproduz-se...pois nem todas

    de resto nem todos os seres bibos se reproduzem mas afim

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