segunda-feira, maio 12, 2008

Fundamentos.

No Companhia dos Filósofos o Bruno escreveu um post interessante sobre ciência e religião (1). Estou de acordo que a ciência também tenta «responder às tais grandes questões da nossa existência» e concordo que a questão fundamental no debate entre ciência e religião é se o universo se deve a «algo ou alguém?», se a causa é um mecanismo ou uma pessoa.

Mas o Bruno vira subtilmente o argumento quando afirma, mais adiante, que a «grande questão [é] o tipo de fundamento que estamos dispostos a procurar: pessoal ou impessoal». Não pode ser. A questão é o fundamento em si e não a nossa disposição. Não devemos confundir o que é com o que gostaríamos que fosse. Além disso, “procurar” tem aqui dois sentidos muito diferentes.

A religião procura o fundamento da realidade como o corredor de maratona procura a meta. Com dedicação e esforço, ou por gosto, mas sempre com aquele resultado em vista e o trajecto traçado. Não volta atrás, não explora alternativas nem reconsidera premissas. É movida pela firme convicção que a meta está ali e o que importa é chegar lá. A ciência procura como um detective. Tem suspeitas em vez de fé, tem sempre caminhos por percorrer e o resultado só se sabe no fim. Move-se pela necessidade de esclarecer cada dúvida. Parece-me que enquanto não conhecermos o fundamento último do universo é insensato escolher uma direcção e desatar a correr sem olhar para trás.

Talvez por este uso ambíguo de “procurar”, o Bruno limita a ciência ao materialismo, como se a ciência também corresse só em frente:

«Enquanto numa visão materialista este fundamento último se reduz a um algo que podemos conhecer cientificamente, as grandes religiões monoteístas procuram e acreditam num Deus que é Alguém e não uma coisa, e que não é, portanto, totalmente cognoscível pelo método da ciência. Tentar aplicar a Deus o método científico não resulta, tal como não resulta utilizar o método científico para me relacionar com um amigo (a menos que queira também reduzi-lo a uma caixa de acção reacção)»

O materialismo é o principal suspeito. Pessoalmente, considero-o mesmo culpado de fundamentar o universo. Mas não é o único suspeito e se houver evidências que é inocente a ciência procurará noutros lados como já fez no passado. Por confundir o materialismo com a ciência, ou o suspeito com a investigação, o Bruno conclui que a ciência não nos ajuda numa relação com um amigo «a menos que queira também reduzi-lo a uma caixa de acção reacção». Não é verdade.

Podemos estudar psicologia, arqueologia ou primatas sem reduzir tudo a meros mecanismos desprovidos de intenção. O essencial para a ciência é a experimentação, e essa também é fundamental nas relações humanas. Desde que nascemos que fazemos experiências com os outros. Cada sorriso, cada birra, cada carinho e exigência dá-nos dados para reformular hipóteses. Não são hipóteses formais mas qualquer ser humano privado destes resultados experimentais não vai conseguir sequer formar modelos intuitivos que permitam relacionar-se com os outros.

Concordo que a questão importante é o tipo de fundamento que o universo tem mas não confio nas religiões para o descobrir porque assumem que já o conhecem em grande detalhe. Sabem pormenores acerca dos seus deuses que nem os deuses desconfiam. Mesmo que este fundamento seja um deus pessoal é a ciência que o vai encontrar. É a única que procura em vez de julgar que encontrou. Finalmente, é a experiência que nos ensina a relacionarmo-nos com outros. Tanto que as religiões projectam nos seus deuses o que aprendem com humanos. O deus pessoal é humano, criado à nossa imagem. Ama, condena, castiga, regozija, aprova, reprova, descansa ao Sábado e até gosta de ouvir louvores.

Antes de podermos desenvolver uma relação com o hipotético criador do universo temos que aprender algo acerca dele. Temos que o tornar objecto de ciência. Mas antes disso há que determinar se o universo de formou por algo, por alguém ou por outra coisa qualquer que ainda não imaginámos. Não vejo em nenhuma fase desta investigação um papel útil para as religiões

1- Bruno, 30-4-08, O fundamento último da existência: algo ou alguém?

49 comentários:

  1. Gostava de ter escrito isto.

    :)

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  2. Mesmo que este fundamento seja um deus pessoal é a ciência que o vai encontrar. (...)
    Antes de podermos desenvolver uma relação com o hipotético criador do universo temos que aprender algo acerca dele. Temos que o tornar objecto de ciência.



    Puxa vida! Eu não digo que este pessoal é mesmo exigente?! :)

    Ó Ludwig, ainda se fosse o Deus impessoal, que é imanente ao universo, ou a tal mente que guia a matéria-energia, poder-se-ia sem dúvida considerar essa hipótese.

    Aliás, tudo o que venho dizendo desde sempre é justamente isso. Ou seja, tal como a ciência tem penetrado nos últimos segredos da matéria - as mais ínfimas partículas-ondas - não por as "ver" de forma directa, mas pela comprovação indirecta, matemática ou experimental, da sua existência, talvez seja possível chegar-se também à conclusão de que existe mesmo um princípio ou mente ou consciência orientadora e um livre arbítrio - o tal "acaso", "randomness" - na matéria. May be, it is just a possibility.

    É claro que não tem de se chamar Deus a isso, embora tal tenha vastíssimas implicações no edifício metafísico... sure! Não me parece que estejamos muito longe disso, mas digamos que isto já é prever demasiado o futuro... e assim a mana desconfia do maduro... ;)

    Logo, essa imanência sim, em teoria pode ser objecto da ciência. Mas ir mais para além... nem com nem sem!

    A transcendência supera em muito a razão...

    Rui leprechaun

    (...e a sua lógica é SÓ a do Coração! :))


    PS: Ah! Muito bom este artigo do Dragão:

    Palavras com Raiz - III. Crença

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  3. O Ludwig, volta e meia, sugere que os criacionistas não acreditam na evolução porque ainda não perceberam a selecção natural.

    Quem o ouvir, pensa que existe na selecção natural uma qualquer sabedoria oculta que os criacionistas não consegue compreender.

    Mas quando o Ludwig começa a explicar os supostos mistérios da selecção natural, ficamos a saber que... gaivotas dão gaivotas e chitas comem gazelas.

    No primeiro caso, trata-se de uma espécie a reproduzir-se replicando a informação genética que está pré-programada no património genético da espécie.

    Quando muito, assiste-se a alguma adaptação a diferentes meios ambientes, de acordo com a variação genética existente.

    No segundo caso, trata-se de iundivíduos de uma espécie a destruir a informação genética contida nos indivíduos de uma outra espécie.

    Em nenhum dos casos assistimos à criação de informação genética nova, codificadora de estruturas e funções inovadoras.

    Nem a reprodução dos seres vivos de acordo com a sua espécie nem os comportamentos predatórios desmentem o ensino bíblico acerca da criação especial e da corrupção de toda a natureza depois da queda do homem no pecado.

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  4. Rui Leprechaun,

    Eu concordo que isso é uma possibilidade. Onde discordo de ti é quando a apresentas como a mais provável. Neste momento está muito longe de o ser. As evidências que temos apontam para um fundamento na matéria, nas partículas mais fundamentais. Como o formigueiro emerge da organização das formigas e não vice-versa.

    Quanto ao post do Dragão, é outra bela treta. Por exemplo, este raciocínio:

    «"o criado ou criatura deve servir o criador. Assim, devemos servir a Deus, tal qual o dinheiro nos deve servir a nós." Em contrapartida, se nos rebelarmos contra essa ordem, se entendermos que (por exemplo, porque não somos criados, porque somos meras moléculas sem qualquer vínculo ao sagrado) não devemos servir a Deus, [...], na mesma medida, o dinheiro e tudo aquilo que nós criámos deixa de estar na obrigação de nos servir a nós.»

    É um de muitos exemplos de inferências falaciosas. Rejeitar que fui criado por Deus não implica rejeitar que aquilo que eu crio me deve servir. Eu até defendo que como nós criamos os deuses os deuses devem servir os nossos propósitos.

    E não é por achar que nem tudo o que eu crio seja para em servir (por exemplo os meus filhos) que automaticamente me torno escravo do dinheiro.

    À superfície parece haver ali uma linha de inferência. Mas abana-se um pouco e é só um emaranhado de falácias e irrelevâncias.

    Tenho andado para gozar com o tipo há algum tempo. Até já quase tenho o personagem, o Dr. Aragão qualquer coisa (falta um apelido catita). Mas é uma chatice porque qualquer sátira a isto vai parecer mera cópia :)

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  5. Caro Jónatas,

    Enganou-se no post que queria comentar. Ou está a comentar neste para ver se tem mais audiência, mesmo que o comentário não tenha nada que ver com o post?

    Se foi a segunda aviso-o que dá muito mau aspecto... pense naquelas pessoas que interrompem as conversas dos outros para dizer algo que não tem nada a ver.

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  6. Debate entre a "ciência" e a "religião" ´muito vago, e não põe a pressão sobre o problema em questão.

    1. qual ciência?
    2. Qual religião?
    3. O que é que a "religião" diz qeu vai contra a "ciência"?

    etc, etc.

    Do ponto de vista Bíblico não há nenhuma "guerra" entre a ciência e a tologia cristã. Há conflito, sim, entre o Naturalismo e o Cristianismo, e, para bem do debate, seria bom qualificarem-se bem os termos.

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  7. Debate entre a "ciência" e a "religião" é muito vago.

    1. Qual ciência?
    2. Qual religião?

    etc, etc.

    Do ponto de vista Bíblico não há nenhuma "guerra" entre a ciência (observações) e a teologia cristã. Isso é facilmente confirmável pelo facto de que muitos dos fundadores da ciência moderna terem sido cristãos.

    Há conflito, sim, entre o Naturalismo e o Cristianismo, e, para bem do debate, seria bom qualificarem-se bem os termos.

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  8. Ludwig diz:

    "A religião procura o fundamento da realidade como o corredor de maratona procura a meta. Com dedicação e esforço, ou por gosto, mas sempre com aquele resultado em vista e o trajecto traçado.Não volta atrás, não explora alternativas nem reconsidera premissas. É movida pela firme convicção que a meta está ali e o que importa é chegar lá."

    Essa afirmação não é correcta. A história das religiões mostra-nos muita controversia entre e intra-religiões.

    "A ciência procura como um detective."

    A ciência apoia-se na observação e reprodução da realidade.

    No entanto, quando abordam as origens, que estão para lá da observação e da experimentação laboratorial, os cientistas inevitavelmente interpretam a realidade de acordo com a sua as suas próprias visões do mundo.

    "Tem suspeitas em vez de fé, tem sempre caminhos por percorrer e o resultado só se sabe no fim."

    Não é bem assim. Muitos cientistas naturalistas afirmam,sem qualquer evidência empírica, que a´vida surgiu por acaso no passado distante ou que o Universo explodiu de uma singularidade inicial que de alguma forma apareceu.

    O método científico funciona no presente observável. No entanto, ele não consegue examinar o princípio e o fim.

    Além disso, a ciência nunca chega ao fim porque nunca consegue observar toda a realidade.

    Só um Deus eterno, omnisciente e omnipresente é que nos pode informar com certeza acerca do princípio e do fim.

    Nenhum ser humano pode fazer afirmações fidedignas sobre o que se passou nas origens e o que se irá passar no futuro. Poderá quando muito especular. Mas nunca poderá ter a certeza.

    "Move-se pela necessidade de esclarecer cada dúvida."

    Os criacionistas também têm o seu programa de investigação.

    Eles procuram e conhecer melhor a sintonia do Universo, os códigos contidos no DNA, a geologia do dilúvio, os designs da natureza, etc.

    Mesmo dentro de um paradigma criacionista há muito "reverse engineering" a fazer.

    No entanto, os criacionistas começam com Deus e acabam em Deus.

    "Parece-me que enquanto não conhecermos o fundamento último do universo é insensato escolher uma direcção e desatar a correr sem olhar para trás."

    A questão é que já podemos conhecer. Deus revelou-se ao longo de milhares de anos de revelação escrita e através de Jesus Cristo que ressuscitou dos mortos.

    Existe muito mais evidência histórica de que Jesus ressuscitou dos mortos do que da singularidade inicial ou da origem acidental da vida.

    "O materialismo é o principal suspeito. Pessoalmente, considero-o mesmo culpado de fundamentar o universo."

    O Ludwig já sabe que o universo tem uma causa material, apesar de não conseguir dizer o que é que causou essa causa material.

    Ninguém consegue explicar a origem da singularidade inicial e da vida em termos exclusivamente materialistas.

    No entanto, isso não impede o Ludwig de, pela fé, acreditar no materialismo.

    Só que o Universo teve um princípio e tem estado a perder energia e ordem desde então.

    Isso significa que teve uma causa, e que essa causa lhe teve que transmitir energia e ordem.

    O Universo não pode ter sido a sua própria causa.

    Como a energia e a ordem não se criam a elas próprias, só um Deus eterno (sem princípio), omnipotente e omnisciente é que poderia ter fornecido a energia e a ordem do princípio do Universo.

    "Mas não é o único suspeito e se houver evidências que é inocente a ciência procurará noutros lados como já fez no passado."

    Não é necessário procurar muito longe.

    A sintonia do Universo e a extrema complexidade da vida (ambos os fenómenos reconhecidos por todos os cientistas) são inteiramente consistentes com o Deus da Bíblia.

    "Mesmo que este fundamento seja um deus pessoal é a ciência que o vai encontrar."

    Já está a fazê-lo. O crescimento dos movimentos criacionistas e do intelligent design deve-se mais a cientistas do que a religiosos.

    Só a aceitação dogmática de premissas naturalistas é que leva o Ludwig a negar os códigos do DNA e a tirar daí as consequências lógicas: não existe informação codificada sem uma origem inteligente.

    "É a única que procura em vez de julgar que encontrou."

    O problema é que a ciência se ocupa apenas do que é observável e Deus em si mesmo não é observável.

    Além disso, a ciência nem sequer consegue observar toda a realidade física, quanto mais Deus que é espírito.

    Cientificamente podemos concluir que Deus existe, mas nunca o conseguiremos conhecer pessoalmente através da ciência.

    "O deus pessoal é humano, criado à nossa imagem."

    Nós é que somos criados à sua imagem.

    Temos razão, porque Deus é racional.

    Temos linguagem, porque Deus pe Palavra.

    Temos sentimentos, porque Deus sente.

    Somos livres para amar e rejeitar Deus, porque Deus quer o nosso amor livre e genuíno.

    O Deus da Bíblia sempre exigiu que se não fizessem imagens d'Ele, porque ele não tem uma imagem material.

    O Deus da Bíblia fez-se à nossa imagem e semelhança quando encarnou em Jesus Cristo.


    "Ama, condena, castiga, regozija, aprova, reprova, descansa ao Sábado e até gosta de ouvir louvores."

    Também nós devemos amar os outros e condenar e castigar a maldade. Pobre da sociedade que não o faz.

    Deus descansou ao Sabado para nos dar um exemplo de que pelo menos um dia da semana deve ser reservado a Ele, à contemplação da sua Criação, ao convívio familiar e ao auto-conhecimento.

    Qualquer pai que ama gosta de ouvir dos seus filhos palavras de amor e de apreciação.

    A Bíblia também diz que Deus deseja que o tratemos por "querido Pai"


    "Antes de podermos desenvolver uma relação com o hipotético criador do universo temos que aprender algo acerca dele."

    Foi exactamente por isso que Ele se revelou através da Sua Palavra, do Seu Povo, e do Seu Filho.

    "Temos que o tornar objecto de ciência."

    O Deus da Bíblia é espírito, portanto não pode ser observável nem repetível.

    No entanto, Ele revelou-se através da história do Povo de Israel e do seu Filho. Isso pode ser historicamente investigado.

    Como disse, existe mais evidência histórica de que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos do que de que a vida surgiu por acaso ou de que uma espécie menos complexa evoluiu para outra mais complexa.


    "Mas antes disso há que determinar se o universo de formou por algo, por alguém ou por outra coisa qualquer que ainda não imaginámos."

    Quando e como saberemos? Quando teremos condições para conhecer todo o Universo e fazer um juizo definitivo sobre ele?

    Os cientistas hoje desconhecem a causa de tantas doenças, quanto mais da origem da vida ou do Universo...

    Além disso, se os nossos cérebros são o produto de mutações aleatórias, o que é que nos garante que eles nos podem dar um conhecimento não ilusório?

    Se o Universo é um acidente cósmico, o que é que nos garante que ele possa ser inteligível?

    A ciência só faz verdadeiramente sentido numa concepção bíblica do Universo, que nos propõe um universo criado racionalmente, com uma estrutura racional, apto a ser compreendido racionalmente por seres racionais.

    "Não vejo em nenhuma fase desta investigação um papel útil para as religiões".

    E daí? O Ludwig é eterno, infinito, omnisciente e omnipotente?

    Quem é que se importa com o que o Ludwig vê ou não vê?

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  9. A ciência começa a interessar-se pela religião no sentido em que estuda a necessidade de criar deuses e como estes evoluem ou são descartados em relação a outros de acordo com as tendências das épocas e das sociedades.
    A ciência tenta igualmente decidir se as religiões são prejudiciais, benéficas ou indiferentes ao bom funcionamento das sociedades.
    A ciência não visa provar ou não a existência de um deus, da mesma maneira que não dedica a sua pesquisa a provar ou não a existência de gambuzinos.
    Bjs Karin

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  10. PS
    como diz Denett, o estranho é que toda a gente sabe o que é um gnomo, que não existe, mas poucos sabem o que é um pudú, que tem a séria vantagem de existir.
    Bjs Karin

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  11. Perspectiva,

    Até me convencem que poderá ter existido um homem chamado Jesus, filho de José e Maria, irmão de James e mais uns quantos (aparentemente).

    Mas daí a dizerem que há provas que essa pessoa ressuscitou (as in, morreu crucificado e três dias depois voltou à vida) vai um grande passo.

    De que provas estamos mesmo a falar?

    Ricardo Silva

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  12. Caro Ludwig,

    Creio que a tua argumentação sobre a não existência de Deus se resume aos seguintes pontos:

    1.Pressuposto fundamental: todo o conhecimento humano é conhecimento científico. Este princípio aplica-se mesmo àquilo que a ciência ainda não conhece ou até mesmo àquilo que a ciência poderá de facto nunca vir a conhecer por limitações teóricas, tecnológicas, etc.

    2.O conhecimento científico é a única forma de racionalidade e aplica-se a todas as áreas da vida humana.

    3.A ciência dá-nos actualmente explicações suficientes sobre a origem do universo e da vida para termos uma boa ideia, mesmo que ainda incompleta, sobre o que se passou e o que se passa no universo.

    Daqui inferes:

    1.Se Deus existe, deve ser conhecido pelo método científico.

    2.Se não é cognoscível pelo método científico, então não existe, e a crença na sua existência é uma forma de refinado irracionalismo.

    3.As explicações científicas sobre o universo e a vida são muito mais convincentes que as explicações baseadas na acção criadora de Deus, uma vez que se apoiam na evidência empírica. São também suficientes, dispensando assim a sua existência.

    Respondo:

    1.Se Deus deve ser conhecido pelo método científico, então não existe. O que é cognoscível pelo método científico é tudo o que existe no espaço e no tempo (mesmo os números!) Pretender conhecer pelo método científico uma entidade que por definição não é nenhum dos seres espácio-temporais existentes ou a existir encerra uma contradição. Algo semelhante aconteceria se eu pedisse a um arquitecto que, enquanto arquitecto, me desse uma opinião profissional sobre a qualidade de um determinado vinho. E se eu dissesse que tudo o que não for avaliável por um arquitecto não pode existir!
    Além disso, esta tua posição parece-me extremamente conservadora, uma vez que exclui a realidade de qualquer outro universo que não obedeça às leis científicas do nosso universo, e cuja existência, ou não existência, não seja demonstrável pelo nosso método científico. Eu não tenho dificuldade em aceitar que possam existir outros universos tão radicalmente diversos do nosso que nunca serão por nós conhecidos e onde a nossa metodologia científica não funcione. Mas isso não me permite concluir que não existam. Acrescento ainda que os estados de consciência cuja experiência estritamente pessoal, não é acessível à ciência. Esta é a chamada perspectiva da primeira pessoa no estudo da consciência. A perspectiva da terceira pessoa é a da ciência, especificamente das neurociências.

    2.A razão humana não é apenas a razão lógico-matemática. Os cientistas que são excelentes em ciência e são ao mesmo tempo crentes na existência de Deus, não deixam de ser racionais quando encontram uma justificação para essa crença. São justificações que seguem metodologias diferentes. Se quiseres saber que metodologias são essas, poderás ler alguns dos muitos livros publicados por cientistas crentes, ou poderás falar com algum deles. As suas explicações não vão certamente impressionar-te nem convencer-te, mas por que razão continuarás a afirmar que a racionalidade está apenas do lado da ciência? Quem te deu essa autoridade? Em que livro sagrado estará isso escrito? Será que a própria ciência se auto-demonstra, demonstra a sua própria racionalidade enquanto excludente de qualquer outra forma de racionalidade? Já sei que me vais dizer que a ciência é racional porque é a única que não aceita verdades absolutas e se submete à crítica com base na observação empírica. Mas esta é uma definição de racionalidade que tomas como axioma. É, de facto, uma verdade absoluta.

    3.A crença em Deus criador não entra em competição com as teorias científicas sobe a origem do universo e da vida, nem com quaisquer outras. A relação de Deus com o universo não é pensada em termos da causalidade que é própria da ciência. Os argumentos que excluem Deus porque a ciência explica tudo e não necessitamos dele, típico de Dawkins, parte de um pressuposto que é falso. O cristianismo, para ser concreto, é compatível com qualquer teoria científica sobre a origem do universo e da vida.

    Finalmente, há uma questão da qual é impossível fugir:

    O Universo ou é eterno, e não teve criador, ou surgiu por si mesmo a partir do nada, e não teve criador.

    O que os cristãos acreditam é que Deus é eterno e não teve criador.

    A diferença não é muita!

    Saudações.

    Alfredo Dinis

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  13. Alfredo:

    Posso estar enganado, mas não creio que o Ludwig faça duas primeiras inferências que enumerou, mas sim outras que, tendo diferenças subtis, não deixam de ser importantes.

    "1.Se Deus existe, deve ser conhecido pelo método científico."

    1. Deus pode existir e não ser conhecido pelo método científico. Tal como os Dragões um planeta distante. Mas não temos nenhuma razão racional para afirmar a sua existência.


    "2.Se não é cognoscível pelo método científico, então não existe, e a crença na sua existência é uma forma de refinado irracionalismo."

    Corte-se a oração intermédia.

    Se não é cognoscível pelo método científico, temos tantas razões racionais para crer na sua existência como para crer na existência do Pai Natal: nenhumas.

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  14. «3.A crença em Deus criador não entra em competição com as teorias científicas sobe a origem do universo e da vida, nem com quaisquer outras. A relação de Deus com o universo não é pensada em termos da causalidade que é própria da ciência. Os argumentos que excluem Deus porque a ciência explica tudo e não necessitamos dele, típico de Dawkins, parte de um pressuposto que é falso. O cristianismo, para ser concreto, é compatível com qualquer teoria científica sobre a origem do universo e da vida. »

    Isto é falso.
    A teoria da relatividade diz que nenhum corpo se pode deslocar a uma velocidade superior à da luz no vácuo, por muito que qualquer entidade queira.

    A crença católica diz que Deus é omnipotente e que se Deus quiser um corpo pode deslocar-se a uma velocidade superior à da luz.

    Existe uma contradição directa.

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  15. «1. Deus pode existir e não ser conhecido pelo método científico. Tal como os Dragões um planeta distante. Mas não temos nenhuma razão racional para afirmar a sua existência.»

    ups. Faltou um "n". Dragões Num planeta distante.

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  16. Caro Vasco,
    Não sei onde leu ou ouviu que a omnipotência de Deus pode fazer com que a luz adquira uma velocidade superior à que lhe é atribuida pela teoria da relatividade. Não creio que possamos identificar omnipotência com arbitrariedade. A omnipotência de Deus deve ter algo a ver com aquilo a que em termos humanos chamamos inteligência. Penso na omnipotência de Deus nestes termos. E não entendo de que forma se manifestaria Deus nn sua inteligência divertindo-se a mudar as leis do universo ou 'brincando' com elas. Os próprios milagres de que tanto se fala não implicam necessariamente uma interrupção das leis da natureza, embora essa seja a imagem popular que predomina, mesmo entre os intelectuais.

    Saudações,

    Alfredo Dinis

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  17. Alfredo:

    Omnipotente é aquele que tudo pode.
    O Alfredo diz-me que se Deus é inteligente, ele não vai querer mudar as leis do universo arbitrariamente, ou "desobedecer" às leis que criou.
    Isso foi uma surpresa, visto que eu imaginava que um crente católico dificilmente se arrogaria a dizer o que é que "Deus nunca faria". Normalmente quando um ateu tece um argumento do tipo "Se Deus fosse perfeito então ele faria X", os crentes católicos frequentemente respondem algo do tipo "quem és tu - ou eu - para dizer o que Deus pode ou não fazer? Deus é infinito, não o podemos limitar à nossa visão incompleta, [...]"
    Joga-se assim a razão para longe, e o argumento fica fora de jogo... Mas divago.

    Mas tudo bem, o Alfredo diz o que é que Deus nunca quer fazer - Deus nunca quer pôr um corpo a deslocar-se a uma velocidade superior à da luz.
    Mas isso é irrelevante, porque o Alfredo acredita que Deus pode.

    A teoria da relatividade diz que ninguém pode. A contradição mantém-se.

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  18. Caro Alfredo,

    Obrigado pelo teu comentário, que merece uma resposta mais estruturada. A ver se tenho tempo para um post em breve.

    Por enquanto queria só focar dois mal-entendidos. Primeiro, proponho que conhecer algo exige no mínimo duas coisas:

    1- A capacidade de formular hipóteses acerca desse algo.
    2- A possibilidade de examinar esse algo de forma a distinguir entre hipóteses que lhe correspondam de outras que não lhe correspondam.

    Algo acerca do qual somos incapazes de formular hipóteses nunca poderemos conhecer. E acerca de algo que não podemos examinar poderemos, no máximo, especular mas não poderemos adquirir conhecimento.

    O primeiro mal entendido é que isto não é um pressuposto. É uma conclusão à qual chego por experiência e pela definição dos termos e que estou disposto a justificar. Também admito que haja alternativas, mas compete a quem o propor convencer-me que se pode conhecer algo sem passar pelos pontos 1 e 2 acima :)

    O segundo mal entendido é que isto não é um argumento contra a existência de Deus. Isto é um argumento contra afirmar que Deus não pode ser conhecido pela ciência mas, mesmo assim, sabe-se que Deus existe. É um argumento que propõe injustificada a crença que esse deus existe porque é injustificado crer como verdadeira uma proposição cuja verdade não se pode determinar. E é um argumento contra a alegada eficácia da religião Cristã e da sua teologia como formas de conhecer Deus. São de facto elaborações complexas do ponto 1, mas hipóteses sem verificação são mera especulação e não conhecimento.

    Não proponho que aquilo que a ciência não pode conhecer não existe. Proponho é que se algo se pode conhecer então pode-se formular hipóteses e confrontá-las com observações, e isso é ciência.

    «O Universo ou é eterno, e não teve criador, ou surgiu por si mesmo a partir do nada, e não teve criador.

    O que os cristãos acreditam é que Deus é eterno e não teve criador.

    A diferença não é muita!»


    Discordo. O universo eu observo, posso conceber e posso testar as minhas hipóteses acerca dele. Ou seja, há coisas no universo que eu posso conhecer. Talvez até a sua origem.

    Deus, segundo a tua hipótese, é algo acerca do qual apenas posso especular porque nunca poderei testar quaisquer hipóteses acerca Dele.

    E isso faz toda a diferença...

    Um abraço,
    Ludwig

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  19. O estranho é que toda a gente sabe o que é um gnomo, que não existe, mas poucos sabem o que é um pudú, que tem a séria vantagem de existir.


    É só provocações... mas eu não lhes ligo nenhuma patavina... bah! ;)

    Deveras, eu até gosto dos pudús que são pequeninos e maneirinhos como eu... um anjinho matateu! :)

    Anyway... ó alma céptica, olha que até tens razão em negar a minha existência como ente separado, sim, porque aquilo que eu desejava ser era apenas essa Consciência abençoada que nem sempre sinto mas a cada instante pressinto!!!

    Eis um vídeo tão, mas tão maravilhoso, que apresentá-lo seria estragá-lo.

    Deixei-o agora no outro blog da Companhia dos Filósofos, que nem sequer conhecia.

    E é tão, mas mesmo TÃO perfeito para exemplificar esse conto belíssimo dos cegos e o elefante, e tantas outras parábolas que dizem a mesmíssima coisa.

    Ou essa tão longa e funda e sabedoria que sempre nos diz que sim, há muito e muito mais do que só esta (ir)realidade presente e ilusória... passageira, transitória.

    Verily, there are more things on heaven and earth Horatio than your philosophy ever dreamt of. — Shakespeare.


    Jill Bolte Taylor: My stroke of insight


    Este é um vídeo longo, quase 20 minutos, do conhecido site TED: ideas worth spreading.

    Eis as palavras que o introduzem:

    Why you should listen to her:

    One morning, a blood vessel in Jill Bolte Taylor's brain exploded. As a brain scientist, she realized she had a ringside seat to her own stroke. She watched as her brain functions shut down one by one: motion, speech, memory, self-awareness ...

    Amazed to find herself alive, Taylor spent eight years recovering her ability to think, walk and talk. She has become a spokesperson for stroke recovery and for the possibility of coming back from brain injury stronger than before. In her case, although the stroke damaged the left side of her brain, her recovery unleashed a torrent of creative energy from her right. From her home base in Indiana, she now travels the country on behalf of the Harvard Brain Bank as the "Singin' Scientist."



    Do see it, O rational Mind...

    Rui leprechaun

    (...for there's a Love O so kind! :))

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  20. «Até já quase tenho o personagem, o Dr. Aragão qualquer coisa (falta um apelido catita).»

    Sugestão:

    Dr. Aragão Lacerda (de lacerta, lagartixa) da Escola Mística de Fogwarts.

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  21. Podia ser Dr. Aragão, D'Artacão, Lagartão, Trovão, Carrascão, e finalmente: Parvalhão.

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  22. Francisco,

    Obrigado pela sugestão. É que já tenho um texto grego porreiro e tudo :)

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  23. Caro Ludwig,

    Sobre a parte final do meu comentário: creio que não fui claro. A tua resposta não tem a ver com a questão que levanto. Não se trata de se poder observar o universo e não se poder observar Deus. O que disse e repito é que muitas pessoas recusam a hipótese da existência de um Deus criador e eterno e não criado, mas aceitam tranquilamente a hipótese de um universo eterno e não criado. A hipótese é tão estranha no caso de Deus como no do universo. Daqui não há fuga possível!

    Saudações,

    Alfredo Dinis

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  24. A propósito ainda do vídeo anterior em que a Dra. Jill Bolte Taylor relata a sua surpreendente experiência pessoal, na sequência de um derrame cerebral maciço do qual levou 8 anos (!) a recuperar, lembrei-me de um vídeo que há vários meses também foi aqui referido, do neurologista Vilayanur S. Ramachandran, uma das maiores autoridades actuais no estudo da consciência.

    De notar que a sua página pessoal contém inúmeros artigos integralmente acessíveis em ficheiros pdf, um precioso manancial de pura informação. Ao contrário de algumas outras autoridades neste campo, e embora assumindo uma posição céptica dentro do estrito naturalismo científico, o cientista de origem indiana não tem medo de avançar com todas as hipóteses que possam de qualquer forma explicar o ainda misterioso mundo da consciência.

    Isso torna as suas conferências deveras fascinantes, em particular quando se refere às grandes questões que têm a ver com a percepção dos fenómenos místicos ou a experiência de Deus.

    Eis então os tais vídeos em que Ramachandran explica o fenómeno do "cérebro separado" e as diferentes percepções da realidade por ambos os hemisférios, confirmando o relato de Jill Taylor.


    Ramachandran – Beyond Belief 2006 (I)

    Ramachandran – Beyond Belief 2006 (II)


    Para todos aqueles deveras interessados no trabalho mais recente e avançado que se tem realizado neste campo, deixo ainda um vídeo muito longo... são quase 2 horas!... dessa conferência "Beyond Belief" (2006), e que contém o excerto da palestra de Ramachandran acima e ainda uma fascinante exposição de Stuart Hameroff, um colaborador directo de Roger Penrose e grande promotor das controversas teorias quânticas sobre a consciência - Quantum Consciousness.

    Sit back, relax, enjoy... life is our toy! :)


    Stuart Hameroff & Ramachandran - Beyond Belief 2006


    This is powerful stuff for serious truth seekers, indeed! :)

    Por fim, estes relatos sobre a consciência têm de facto directamente a ver com o tema que aqui se trata dos fundamentos da fé e da religião. Deveras, continuo a considerá-los a autêntica chave ou a pedra angular para a plena compreensão, ou a melhor possível no mínimo, daquilo que deveras é a experiência do divino.

    Problem is... this is not an easy talk! Filosofar não é assim tão difícil, mas a discussão sobre algo tão extremamente pessoal como é o fenómeno da autoconsciência, com todas as vivências e crenças que lhe estão associadas, isso já se torna bem mais exigente.

    There are lots and lots of food for thought here. Todos estes vídeos contêm insights deveras excepcionais sobre aquilo que deveras é a nossa realidade subjectiva, o valor da qual é muitíssimo mais importante e significativo do que tudo o resto!!!

    E a experiência em 1ª mão de Jill Taylor pesa muito mais do que todas as teorias. Para quem viu esse testemunho deveras tocante em toda a sua pungente beleza, eis de novo a tradução dessa maravilha que ela descreve como uma vivência de unidade.

    Há quase 8 séculos atrás, a poesia eterna de Jalal ad-Din Rumi já evocava de forma sublime a mesmíssima expansão de consciência que abarca o Todo... nessa sublime e intraduzível sensação: I AM YOU!!!

    Rumi - Say I Am You

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  25. Caro Alfredo,

    «O que disse e repito é que muitas pessoas recusam a hipótese da existência de um Deus criador e eterno e não criado, mas aceitam tranquilamente a hipótese de um universo eterno e não criado. A hipótese é tão estranha no caso de Deus como no do universo. Daqui não há fuga possível!»

    A estranheza da hipótese é subjectiva ou função da cultura de cada um. Para um budista ou hindú penso que a hipótese de um universo eterno e não criado será tão corriqueira como a hipótese de ir à missa para um cristão. Por isso proponho que a estranheza é um mau critério de comparação de hipóteses que pretendemos corresponder à realidade.

    Um critério mais importante é a possibilidade de estabelecer ou testar tal correspondência.

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  26. Leprechaun,

    Os teus comentários continuam grandes demais para ler na integra, mas os vídeos do Ramachandran devem ser interessantes. Obrigado.

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  27. Caro Ludwig,

    Penso que não respondeste à minha questão. Para ser mais concreto gostaria de saber se aceitas, mesmo como mera hipótese, que o universo seja eterno ou, não sendo eterno, se tenha criado a si mesmo.

    Obrigado.

    Alfredo Dinis

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  28. Caro Leprechaun,

    Conheço o trabalho de Ramachandran. No estudo da consciência e da relação entre a activação neuronal de determinadas áreas do cérebro concomitantemente com experiências associadas à religião, como a meditação, por exemplo, não há nada de misterioso. Mas facilmente se confunde causação com correlação. O facto de haver correlação entre a activação em mim de determinadas áreas cerebrais agora mesmo ao escrever este post, não significa que é essa activação que causa o conteúdo do que escrevo. A correlação é uma condição necessária mas não suficiente para a explicação deste post. O mesmo se aplica à experiência religiosa. Além disso, convém notar que a acção de ajudar uma pessoa em dificuldade, um acto de paciência para quem nos ofendeu, não pagar o mal com o mal, etc., tendo por motivação uma crença religiosa é uma experiência igualmente religiosa, e não necessita de nenhuma activação neuronal especial. Ouvir vozes, ver almas penadas, considerar-se o espírito santo, etc., nada têm a ver com as experiências especificamente religiosas. São habitualmente essas as experiências mencionadas por Ramachandran, e são experiências dos seus doentes com patologias graves.

    Saudações,

    Alfredo Dinis

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  29. Alfredo,

    Peço desculpa se não fui claro nisso. Como mera hipótese admito todas. Quanto mais melhor.

    Mas depois tenho que as dividir entre aquelas que podem ser testadas e aquelas que, por não se poder testar, serão sempre puramente hipotéticas e especulativas. E aí admito favorecer a primeira categoria e sentir menos atracção pela última. Mas, de gustibus... ;)

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  30. Caro Vasco,

    Só o método científico assegura a racionalidade, segundo crê. Diga-me, então, se acha racional prestar assistência a um inimigo em dificuldade, perdoar as ofensas, não esmagar um adversário quando o poderia facilmente fazer... Em caso afirmativo em que metodologia científica se baseia para decidir da racionalidade ou irracionalidade destas acções.

    Quanto à omnipotência de Deus, continua a considerá-la em abstracto. Para os cristãos, essa omnipotência não se define em abstracto mas no concreto da relação de Deus com o universo e com a humanidade, uma relação que deixa suficiente liberdade a todo o ser criado. Neste aspecto, não creio que faça sentido sequer colocar a hipótese de Deus modificar a seu belo prazer a velocidade da luz. Do mesmo modo que não faz sentido perguntar se Deus pode fazer com que 2+2 perfaçam 5. São meras 'experiências de pensamento'. Não têm nada a ver com a minha ideia de Deus

    Saudações,

    Alfredo Dinis

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  31. verborreia à parte, parece que o único que teve curiosidade para ver o que era um pudú foi o Leprechaun.:)
    Karin

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  32. Alfredo:

    «Só o método científico assegura a racionalidade, segundo crê.»

    Quase...

    "Só o método científico assegura a racionalidade" das crenças a respeito do Universo.

    A ciência corresponde ao método racional de obter conhecimento. Por isso, afirmar "sei X sobre o universo" sem razões científicas é algo irracional. Porque se eu tiver razões válidas para dizer "sei X", essas razões são científicas pois permitem aumentar o conhecimento a respeito do universo, e é isso que a ciência é. Se não tiver razões válidas, a minha crença não é racional. (QED)


    «Diga-me, então, se acha racional prestar assistência a um inimigo em dificuldade, perdoar as ofensas, não esmagar um adversário quando o poderia facilmente fazer»

    Tudo isso pode ser racional ou não, e existem realmente ramos da ciência que exploram esses problemas - em particular a teoria dos jogos.
    Claro que nós no dia-a-dia não nos baseamos nos últimos avanços científicos a este respeito para tomarmos as nossas decisões. Mas uma coisa é a racionalidade de uma decisão, que depende da informação a que temos acesso e daquilo que fundamenta o nosso julgamento; e outra coisa é a racionalidade das crenças que fundamentam o nosso julgamento.

    Por exemplo: a crença segundo a qual se deve SEMPRE perdoar (dar a outra face) é uma crença que muitos dizem partilhar, mesmo que ninguém aja desta forma. Na verdade, creio que não é por acaso que ninguém age desta forma. É uma crença irracional e tão descabida que se torna impraticável. O dever de manter a lógica do "Olho por olho e dente por dente" é outra crença irracional.
    Aqui a Bíblia sugere duas crenças contraditórias que estão ambas erradas. A ciência da teoria dos jogos mostra-nos que o interesse geral e particular pode consistir no perdão ou na punição da ofensa (vingança) consoante a situação.. Perdoar sempre ou não perdoar nunca são ambas abordagens erradas quer para o indivíduo, quer para o grupo em que ele se insere.

    «Neste aspecto, não creio que faça sentido sequer colocar a hipótese de Deus modificar a seu belo prazer a velocidade da luz. Do mesmo modo que não faz sentido perguntar se Deus pode fazer com que 2+2 perfaçam 5.»

    Note que não colocar a hipótese de que Deus o faça não implica colocar a hipótese de que Deus não o possa fazer.
    Não me surprende que o Alfredo não coloque a primeira. O que me surpreende é que o Alfredo afirme a segunda.
    Se o Alfredo afirma a segunda, não acredita na omnipotência. Aqui não há volta a dar: é a definição da palavra.

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  33. Ó mui doce tratadora... do pudú que aqui mora! :)

    Claro que sou curioso... ui! mas isso às vezes é perigoso... ;)

    E obviamente lá fui ver... gosto de me conhecer!

    Sou Gnomo, sou Pudú... Eu e Ele, Nós e TU! :)*

    Que na divina consciência...

    Rui leprechaun

    (...Tudo é UMA só essência! :))


    PS: E quanto à tal verborreia... é do desjejum à ceia!!! :D

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  34. Caro Leprechaun.
    parabéns, um comentário seu que consegui ler do princípio ao fim: força, que vai no bom caminho.
    Cristy

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  35. Uáu!!! Ó que felicidade... ir buscá-la à faculdade... com a água de colónia... perfumando-a assim idónea! :)

    Olha, por falar em perfumes parece que me enganei no "Jardim das Delícias"... mas que importa?... são histórias sem malícias...

    Anyway... e p'ra não desfazer a boa impressão...

    ...por aqui me fico...

    Rui leprechaun

    (...no amor bem rico! :))


    Funny van Dannen - Die Liebe

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  36. Pois é, Leperchaun,
    mas porquê estragar logo a boa impressão com esse arrozoado de disparates?
    Cristy

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  37. Arroz?! Integral... ou doce... ou os grãozinhos... pròs noivos e os passarinhos?! :)

    Oh... mas não gostaste da cantiguinha... melodia amorosinha?!

    Ó Senhora, isto é livre associação... de uma mente em turbilhão!

    Que eu sou todo o Universo... e aqui o traduzo em verso... prà tua Alma libertar... sai da prisão, vem amar! :)

    Voa p'ra além do que és...

    Rui leprechaun

    (...sê Tudo de lés a lés! :))


    PS: Sim... please! Vê isto como um koan... solta-te e ri, linda Rã!!! :)*

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  38. os vídeos do Ramachandran devem ser interessantes.


    Eureka! Sempre fiz alguma coisa de jeito cá no sítio... milagre!

    São mais do que interessantes... belíssimos, fascinantes!

    Claro que já tinha visto alguns excertos no YouTube, incluindo o tal que aqui foi discutido brevemente há uns meses, em que ele fala das experiências nos pacientes com cérebro dividido (split-brain) e as diferentes respostas de ambos os hemisférios, por exemplo quanto a Deus ou a própria identificação de género homem-mulher.

    Ora... no big deal, lembrei-me na altura, normalíssimo a mim me pareceu. E com este recente vídeo de Jill Taylor - desse é que tenho feito um spam despudorado, Gnomo desavergonhado! :) - lembrei-me logo dessa palestra de Ramachandran que está no 1º dos vídeos indicados.

    Tenho aqui mais 2 que têm a virtude de não ser tão extensos, mesmo assim é quase hora e meia o 1º e perto de uma hora o 2º. De notar que nenhum deles tem nada de "místico", como os anteriores.

    De facto, num o neurologista dá a sua explicação dos mecanismos cerebrais que nos levam a apreciar as artes plásticas, e no outro refere o fenómeno dos "membros fantasmas", desenvolve as experiências que levou a cabo para explicar a "sinestesia" e ainda fala um pouco sobre a linguagem.

    A questão da sinestesia é muito fascinante, porque o seu mecanismo também pode dar pistas para o importantíssimo fenómeno da realidade subjectiva, por exemplo as tais experiências místicas ou dos estados excepcionais de consciências. Cá por mim estou fascinado... é difícil estar calado! :)

    E sempre fiquei a saber um ponto mais de mim... tenho um cérebro anarco-libertário... meu artístico fadário! Ou seja, cá dentro está tudo crosswired, que eu associo e associo e associo... e até meto a Betesga no Rossio! :D

    Pronto, antes que a mana se zangue, 'inda ralhe e depois mangue, aqui vão ambos os links:

    Ramachandran: Neurology and the Passion for Art

    Ramachandran: The Uniqueness of the Human Brain

    Agora, ando a ver a série da IBM Conference on Cognitive Computing, também de 2006 como os vídeos do "Beyond Belief".

    Enfim, por este andar ainda fico sábio...

    Rui leprechaun

    (...um burro carregado de alfarrábio! :))

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  39. mas porquê estragar logo a boa impressão com esse arrozoado de disparates?


    Ó lindíssima Valquíria... que até Odin quereria! :)

    Não são disparates, nada! Isto é só sinestesia, o Ramachandran diria!

    Tenho um cérebro de artista... pura barafunda à vista!

    Metafórico, analógico... mui gongórico e antológico!

    Caleidoscópio de cor...

    Rui leprechaun

    (...com som, gosto e olor! :))


    Borboleta, sonha, voa
    Ao jardim, ao bosque,
    Ao campo das papoilas.

    E qual é a verde?
    E qual é a azul?
    Sei lá, mas são tão lindas!

    (A Karpoila e a Crispoila)

    De: uma mariposa alucinada
    Para: as florinhas opiadas!!!

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  40. Caro Alfredo Dinis,

    Se me permite gostava de lhe devolver a pergunta:

    Porquê que os cristãos têm tanta relutância em aceitar um universo eterno (ou Multiverse) e não criado, e aceitam tão naturalmente a ideia de um Deus eterno e não criado?

    Obrigado pela atenção

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  41. Caro Xiquinho,

    A resposta é simples: pela mesma razão pela qual os ateus aceitam um universo eterno e não criado.

    Cordiais saudações.

    Alfredo Dinis

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  42. Caro Alfredo Dinis,

    A resposta pode ser simples, mas a diferença é muito grande: um universo eterno (ou multiverse) dispensa por completo a hipótese de Deus, enquanto que um universo criado (sem multiverse) obriga à hipótese de Deus.

    Creio ser de favorecer a primeira hipótese porque:

    1 – Temos a certeza que o universo é real. (não podemos afirmar o mesmo de Deus)
    2 - Evita de complicarmos mais o que já à partida não é simples. (não podemos afirmar o mesmo se introduzirmos a variável de Deus).

    Sei que não concorda comigo, mas queria compartilhar consigo a simplicidade da (minha) ateologia ateísta... O inverso da pergunta original faz toda a diferença.

    Cumprimentos do Xiquinho

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  43. Caro Alfredo,

    «A resposta é simples: pela mesma razão pela qual os ateus aceitam um universo eterno e não criado.»

    Eu acredito que esta bolha de espaço tempo a que chamamos universo foi criada pela formação de uma partícula virtual ou algo do género. E aceito a formação acausal destas partículas porque há fortes evidências que é mesmo assim que elas aparecem.

    Um universo eterno que forme bolhas destas sem fim também não me choca. É como dizer que 2+2 sempre foi 4. Não é coisa que saia de prazo e é um bom candidato a ser eterno.

    Mas algo inteligente e eterno é muitissimo estranho. Para já, porque é que Deus esperou um tempo infinito antes de criar o universo? Pode dizer que Deus está fora do tempo por isso não passou uma eternidade, mas nesse caso não passou nem um instante e Deus tem a mesma duração do universo e não pode ter sido a sua causa. E assim por diante.

    No fundo, o problema da sua hipótese é que acaba num mero jogo de palavras...

    Um abraço,
    Ludwig

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  44. Ó Grão Krippahl... lá do Hindustão austral! :)

    Pois bem, além das lindas manas Krippahlinas... pacientíssimas meninas!... ;) confesso que me apaixonei por outro descendente lá do radioso Oriente!

    É que ele fala tão bem de mim... que eu 'té coro e rio assim! :D

    Pronto, fim do interlúdio sinestésico... que sempre é um adjectivo mais eufemístico... e plenamente científico! Se é verdadeiro não sei, mas é uma prenda que a mim dei!

    O certo é que eu estou cada mais e mais fascinadíssimo por tudo quanto vejo, oiço e leio de Ramachandran, cá para mim ele é mesmo uma nova divindade que veio p'ra salvar a humanidade!

    Só sei dizer... lindíssimo e belíssimo!!!

    Por certo, ainda haverá muitas outras oportunidades para desenvolver tudo isto. Eis um artigo que vi agora na Net e tem um link para uma série de conferências na BBC Radio. Voici:

    O Futuro da Pesquisa sobre o Cérebro

    Reith Lectures 2003: The Emerging Mind

    Podes ler online o texto ou também ouvir, como no rádio. Lindo!... quase tanto como as duas senhoras encantadoras... ó tão cultas professoras!

    I'll say it again... fascinating!!! :)

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  45. Olá, Alfredo... sem medo! :)

    Sim, claro que Ramachandran, tanto na sua pesquisa mais específica na área da visão, como no estudo da TLE (epilepsia do lobo temporal) e outros fenómenos - membros fantasmas, sinestesia, etc. - realiza primordialmente esses estudos em pacientes que sofrem pois de alguma anomalia, quer a nível de lesão de estruturas cerebrais ou da sua modificação (crosswiring).

    Mas facilmente se confunde causação com correlação. (...) A correlação é uma condição necessária mas não suficiente.

    Exactissimamente! Deveras, a separação deses conceitos é essencial em ciência. Anyway... tenho imensos motivos para estar fascinado com tudo o que nestes últimos dias venho investigando em profundidade, porque cá no meu paradigma hiperbólico transcendental bate tudo certinho por igual! :)

    Deveras, é mesmo isto que eu mais queria fazer quando era muito jovem: desvendar e conhecer os mistérios da mente humana... chegar à consciência do Eu, ó mítica Taprobana!!!

    Mas hei-de ainda expor noutras oportunidades tudo o que isto representa de tão maravilhosa nessa concepção espiritual da existência, que significa que antes dela há a essência... ou a matéria procede da consciência!!!

    Por fim, um parágrafo do seu artigo que refiro no post anterior, onde ele se interroga sobre as potencialidades por desvendar no cérebro de qualquer pessoa comum, e que se manifestam muitas vezes em situações mais invulgares. Porque deveras podemos fazer essa ponte essencial entre a mente reactiva racional e a espontânea intuitiva emocional... we can and must, I surely trust! :)


    Nós sabemos tão pouco sobre o cérebro que devemos manter nossa mente aberta e estar preparados para surpresas. (...) As implicações de tudo isto, se confirmadas, são abaladoras, pois estes pacientes nos comprovam que existe uma prova da existência de que TODOS nós somos génios matemáticos ou artísticos, mas que reprimimos estas habilidades, que nos estão sendo negadas. Se isso é verdade, então teremos que esperar por um derrame ou ataques epilépticos para desencadear este potencial? Ou ele pode ser conseguido através de meios menos drásticos?


    Ora, a resposta é conhecido há milénios...

    Rui leprechaun

    (...somos anjos, somos deuses, somos génios! :))

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  46. Caro Ludwig,

    “Mas algo inteligente e eterno é muitissimo estranho. Para já, porque é que Deus esperou um tempo infinito antes de criar o universo? Pode dizer que Deus está fora do tempo por isso não passou uma eternidade, mas nesse caso não passou nem um instante e Deus tem a mesma duração do universo e não pode ter sido a sua causa. E assim por diante.”

    Respondo-lhe com as suas próprias palavras de há uns dias: ‘ser estranho’ não tem grande valor seja ontológico seja epistemológico. Por outro lado, Deus não pode ser concebido como algo ou alguém cuja existência pode ser analisada simplesmente em termos de espaço e de tempo e das leis da natureza. Se assim fosse, não seria Deus, seria um ser do universo, o que é uma contradição. O que poderá significar a expressão ‘Deus está fora do tempo’?

    "E aceito a formação acausal destas partículas porque há fortes evidências que é mesmo assim que elas aparecem."

    Não sei se, para um cientista, isto choca com o princípio da causalidade. Nem sem se, para um cientista, o princípio de causalidade é mais científico ou mais filosófico. Não sei se este princípio se aplica na mecânica quântica. Talvez me possa esclarecer.

    O que sei é que a causalidade divina de que falam as religiões não entra em competição com a causalidade científica. Mesmo que a ciência comprove que o universo não foi causado, estará sempre a utilizar o princípio de causalidade da ciência, com o qual a causalidade divina não entra em concorrência, como disse.


    “Um universo eterno que forme bolhas destas sem fim também não me choca … No fundo, o problema da sua hipótese é que acaba num mero jogo de palavras...”

    Respondo: Um Deus eterno que forme universos destes sem fim também não me choca. No fundo estamos no mesmo barco a jogar o mesmo jogo…

    Cordiais saudações,

    Alfredo Dinis

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  47. Caro Xiquinho,

    Da hipótese de o universo ser real não se conclui que seja ou não eterno nem que seja causado ou não causado.

    Não me parece que a hipótese de um Deus eterno e não causado seja mais complexa que a de um universo eterno e não causado. Do facto de ter a certeza de que o universo existe não se deduz nada sobre a existência ou não existência de Deus.

    Daqui não há fuga possível!

    Cordiai ssuadações,

    Alfredo Dinis

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  48. Alfredo,

    O problema não é a estranheza das hipóteses. É se são hipóteses concretas ou desculpas vagas.

    Por exemplo, a hipótese que a massa distorce o espaço-tempo é uma hipótese estranha mas que pode ser formulada de rigorosa com implicações testáveis. A hipótese que há um deus inteligente fora do espaço tempo e que nos ama é uma hipótese vaga sem nenhuma consequência que possa ser usada para averiguar a verdade da hipótese.

    Quanto ao princípio da causalidade, é uma hipótese que já teve que ser revista várias vezes, quer pela definição do tempo na relatividade quer pela evidência de efeitos sem causa na mecânica quântica (vê aqui, por exemplo).

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