sexta-feira, novembro 23, 2007

Como Tudo Começou. 2- «r=0, pois r=1/2».

Para ir de um lado a outro tenho que percorrer metade do caminho, depois metade do que falta, depois metade disso e assim por diante. Como a sequência é infinita, Zenão decidiu que era impossível chegar a algum lado. O problema era só não saber fazer as contas, porque a série geométrica r + r2 + r3 + r4 +... converge para um valor finito se r estiver entre -1 e 1. Mas a semelhança com o criacionismo não se fica por declarar impossível o que é óbvio e trivial. Quando Adauto Lourenço demonstra esta resolução escreve «r<0» sempre que devia escrever «|r|<1», acabando na curiosa afirmação que r é menor que zero pois r é igual a um meio. Gralha ou não, é criacionismo chapado.

O segundo capítulo foca a complexidade especificada e a complexidade irredutível. Adauto começa bem quando afirma que «Informação pode ser definida como a actualização de uma possibilidade com a exclusão das demais». Ou seja, quanto mais possibilidades há, mais informação é necessária para seleccionar uma delas. É mais difícil adivinhar uma palavra chave com trinta caracteres do que uma com dois.

Mas depois afunda-se com «A complexidade especificada aparece sempre na forma de informação especificada». É a definição de William Dembski, que não faz sentido. Quanto mais especificado menos possibilidades de onde escolher. Se especificar que a palavra chave só tem vogais, ou que é o nome de um político famoso, ou que é o nome de solteira da minha tia paterna, estou a reduzir a informação necessária para a obter porque reduzo as possibilidades. É por isso que o conceito de Dembski nunca foi devidamente formalizado nem tem qualquer aplicação na teoria da informação. É zero igual a um meio.

Michael Behe definiu a complexidade irredutível como a dependência de todas as partes do sistema no desempenho de uma função. Behe diz que tal sistema não pode ser fruto da evolução porque não pode desempenhar aquela função se estiver incompleto. O que é irrelevante. Uma asa só serve para voar se estiver completa, mas meia asa serve para correr mais depressa, como nas galinholas. E um olho pitosga não serve para ler o destino do autocarro mas dá para não ser atropelado. Os exemplos favoritos de Behe, como o flagelo bacteriano ou a coagulação do sangue, são perfeitamente compatíveis com a evolução. Partes do flagelo bacteriano formam um sistema excretor e a cascata enzimática na coagulação sanguínea é formada por cópias de um gene ancestral, evidência de um sistema original mais simples. Essencialmente, Behe argumenta que tem que haver um Criador porque ele não percebe como as coisas evoluíram. Nem que zero seja igual a um meio.

No segundo capítulo Adauto recorre a uma variante do bolo de chocolate do primeiro capítulo. A escultura dos presidentes dos E.U.A. no monte Rushmore foi claramente fruto de um desígnio inteligente, mas a conclusão justifica-se porque temos evidências da existência dos seus criadores. Até sabemos que custou $989.992,32 (1). Não é evidência da intervenção milagrosa do Deus Criador de bustos presidenciais. Também sabemos que cada lesma é fruto do acto sexual de duas lesmas, bichos que pouco devem à inteligência. Os criacionistas não deviam ignorar esta pista importante, que bichos tão estúpidos criem algo que os criacionistas dizem exigir uma inteligência infinita.

1- Wikipedia, Mount Rushmore

Mais sobre as tretas do William Dembski no TalkOrigins:
Richard Wein, 2002, Not a Free Lunch But a Box of Chocolates

e sobre as do Michael Behe:
Irreducible Complexity and Michael Behe

A primeira parte desta série está aqui:
Como Tudo Começou. 1- Ciência e Criacionismo.

14 comentários:

  1. Essa do Zenão foi um dos primeiros paradoxos com o qual eu tive contacto, e tem algum humor:
    a seta e o alvo, a tartaruga etc...
    Um dos meus preferidos.

    Hoje houve um programa na TV2 (não vi) por volta das 14:00 h, no qual o tema entre criacionismo e evolucionismo foi abordado, com gente dos dois lados, e referiam-me que deverá haver sequela; deve estar na Net.

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  2. o primeiro a fazer bingo ganha!

    http://skeptico.blogs.com/skeptico/2007/09/bingo-creationi.html

    Luis

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  3. http://dn.sapo.pt/2007/11/24/opiniao/o_dialogo_cienciareligiao.html

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  4. Isto faz-me lembrar aquele truque que o pessoal fazia no preparatorio, em que omitiam um modulo para demonstrar que 2=0. Mas só que este senhor não está no preparatório, e devia saber que os módulos existem para alguma coisa...

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  5. Os módulos são a maior aberração da matemática. São uma fantasia que permite construir outras fantasias. Sem aqueles dois pauzinhos a matemática valeria zero. Ficaria com um sotaque semelhante ao de Setúbal.

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  6. a lesma, por incrivel q pareça, nao é um bicho idiota. se a ameba, como o Adauto cita, q é o ser menos complexo, tem toda aquela quantidade incontavel de celulas, imagine uma lesma!

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  7. Tive o primeiro contacto com os argumentos de Dembski com vídeos de VenomFangX no YouTube.
    Supostamente Behe é um biólogo. Pelo menos é o que conta na literatura de prosélitos criacionistas (colecciono).

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  8. Os involussionistas não são peçoas de bãe. Não fáchentido usar os módulos cuando temos um pásse. E Deus cuando cariou o universo foi num único pásso, não uzou módulos nãe belhetes. Tê-mos-nus cargumentar com ilmentos que fássão sentido e não com izemplos caté são sussialmente incurrétos. As lêsmas são caracóis sãe caza. E neste cazo tão a ser utlizadas duma maneira dzumana como pouco intlijentes, cuando todá jente se sabe que a culpa é da tacha de juro. Não me póço apurvar que teijam a dernegrir um animal só purque é um sãe abrigo. A bãe da nassão.

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  9. «Gralha ou não, é criacionismo chapado.»
    Não percebo esta frase. Porque é que a demonstração da convergência da série geométrica com razão (estritamente) entre -1 e 1 é criacionismo?

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  10. por que não respondes ao jaime, krippahl?, perguntaria o rei juan carlos.

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  11. Jaime,

    O que é criacionismo chapado é dizer que r é menor que zero porque r é igual a um meio. Nese caso particular é gralha, possivelmente, mas segue um padrão típico do argumento criacionista que é afirmar como verdadeiro o que é obviamente falso. Que as mutações só destroiem informação, que não há fósseis de formas transitórias, que um sistema irredutivelmente complexo não pode ter evoluido, etc.

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  12. Obrigado pela resposta, Ludwig Krippahl.

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  13. Gracias, diria o rei juan carlos.

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  14. ENtão já que estás assim tão convncido de que Deus nõ existe e que criou um bicho estúpido, então porque é que o ser humano nõ tem mente nenhuma para criar algo como Deus criou? Eu sou criacionista e pertenço à relgião evangélica baptista, e já ouvi muitos evolucionistas inteligentes a concordarem comigo em maior parte dos pontos de vista criacionista. Nos outros, não dizem nada. Porquê? Não têm resposta.
    Acho que é preciso uma pessoa ter muito mais fé quando acredita que tudo aconteceu ao acaso do que quando é para acreditar que Deus é que criou tudo. A ciência está certa em muitas coisas, mas apenas nas coisas que concorda com o criacionismo. H'as-de reparar que udo o que a ciêmcia diz que temprovas concretas, já os criacionistas tinham chegado lá há muito tempo.
    Einstein disse:
    "Qeuro saber como Deus criou o universo."

    Pensem...

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