quinta-feira, novembro 29, 2007

Como Tudo Começou. 3- A Origem do Universo.

O terceiro capítulo do livro de Adauto Lourenço (AL) é sobre «A Origem do Universo». Neste AL recorre às duas primeiras leis da termodinâmica, cálculos complicados, e às técnicas de argumentação favoritas do criacionismo: a omissão e a mentira descarada.

AL calcula que há mil e duzentos milhões de anos a Lua teria que estar a tocar na Terra, a julgar pelo ritmo com que se afasta. Em apêndice mostra os cálculos detalhados (podem ver um exemplo semelhante na referência 1), com contas complicadas, mas tudo assenta na premissa que a dissipação da rotação da Terra pelas marés (pelo atrito da crosta com os oceanos) foi sempre igual aquela que é hoje. E as evidências desmentem esta hipótese.

Quando a Lua estava mais próxima a Terra rodava mais rapidamente e as marés eram maiores. AL afirma que «Marés com valores oito vezes maiores que os actuais teriam deixado marcas visíveis nas regiões costeiras. Tais marcas não foram detectadas». Até foram. E são essas que refutam o modelo simplificado dos criacionistas.

As marés junto ao estuário de grandes rios levam à formação de rochas pela acumulação alternada de sedimentos do rio e areia do mar, e nestas rochas é possível medir o período e intensidade das marés. A Lua está a afastar-se da Terra a 3.8 cm por ano, mas a evidência é que no passado o fez mais lentamente, em média a cerca de 1.3 cm por ano nos últimos dois mil e quinhentos milhões de anos (2). O atrito dos oceanos na crosta terrestre foi menor no passado e é por isso que as contas do modelo criacionista não dão certo. Isto demonstra mais uma vez que é preferível considerar a evidência toda do que fazer uma data de contas só com o bocadinho que pensamos dar mais jeito.

AL invoca a segunda lei da termodinâmica, que diz que a entropia de um sistema isolado aumenta até ao equilíbrio, para defender que Alguém tem que ter «dado corda» ao universo, organizando as coisas no princípio para se poder depois ir desorganizando gradualmente. Mas omitiu a expansão do universo. O universo começou desorganizado, mas a expansão aumentou rapidamente o máximo de entropia. É como duplicar o tamanho de um quarto todo desarrumado. Estava o mais desarrumado possível mas agora pode-se desarrumar ainda mais. Apesar do universo ter começado desordenado a desordem aumentou. E graças à expansão do universo, ainda há muito para a aumentar.

Finalmente, AL aponta que a primeira lei da termodinâmica, a lei da conservação de energia, está a ser violada porque a expansão do universo aumenta o comprimento de onda da luz. «Uma vez que a energia da luz é proporcional à sua frequência, isto pode implicar numa perda de energia. Até o momento, a teoria do big bang não oferece explicações para esta possível perda de energia». Refere como fonte o Principles of Physical Cosmology do P.J.E. Peebles. Edição de 1993, e página 138. Eu tenho este livro, e é o de 1993. Na página 138 não está nada relevante, mas está na 139:

«The resolution of this apparent paradox is that while energy conservation is a good local concept […] and can be defined more generally in the special case of an isolated system in an asymptotically flat space, there is not a general global energy conservation law in general relativity theory.»

O que AL considera ser uma lei que manda o universo conservar a energia dê lá por onde der é apenas uma generalização válida em certas condições. Hoje sabemos que não se aplica dessa forma ao universo como um todo. Mas o pior é dar a entender que o livro suporta a posição dele quando diz exactamente o contrário do que ele defende. Talvez tenha papagueado uma alegação de outro criacionista, mas se leu o livro sabia que estava a mentir.

O método criacionista é claro. Ignora-se factos, baralha-se as coisas e, de vez em quando, mete-se uma mentira a ver se ninguém nota.

1- Center for Scientific Creation, How Long Would It Take the Moon to Recede from Earth to Its Present Position?
2- Tim Tompson, TalkOrigins, The Recession of the Moon and the Age of the Earth-Moon System

14 comentários:

  1. Eh!Eh!Eh!

    É realmente uma anedota :)

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  2. João Vasco,

    Também rir-me-ia como tu, se não fosse triste ser este tipo de gentinha, com complexos de poder, que manipula tudo da mesma maneira para chegar ao topo, porque a camada intermédia de população que não se deixa manipular é muito pequena, e a camada manipulável é uma vasta maioria, que depois os venera e protege.

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  3. A simples leitura das leis da termodinâmica mostra o absudo da defesa da termodinâmica contra o evolucionismo:

    TERMODINÂMICA

    É a parte da Física que estuda o comportamento e as transformações de Energia que ocorrem na natureza. Mais especificamente, estuda as relações de Equilíbrio entre estados energéticos, cujas principais fontes de manifestação são o CALOR e o MOVIMENTO.

    Energia, é puramente o potencial de um corpo em produzir alguma ação, Trabalho.

    A Termodinâmica determina basicamente 3 Leis, ou Princípios, Fundamentais.

    1 - PRINCÍPIO DE CONSERVAÇÃO DE MASSA E ENERGIA

    Vulgarmente conhecido pela máxima: "NADA SE CRIA NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA." Diz respeito ao fato de que a Energia não pode ser criada ou destruída, mas sim convertida de uma forma para outra. Obviamente o conceito também é válido para a Matéria, justificando a frase popularmente conhecida como Lei de Lavoisier.

    De forma mais elaborada, diz que na transformação de Calor em Trabalho e vice-versa, as quantidades inicial e final de Calor e Trabalho são equivalentes, e que a soma total do potencial energético de um Sistema Fechado é a mesma antes e depois de uma transformação.

    Sistema Fechado é um que não sofre interferência externa, não perdendo nem ganhando energia para o exterior.

    Como exemplo de um sistema aberto podemos citar o hábito de esfregar as mãos para aquecê-las. O movimento é Energia Cinética, que sofre reação do atrito entre as mãos. Essa energia de movimento retirada pelo atrito é convertida em Calor.

    Deve-se tomar cuidado ao tentar observar esse fenômeno no dia a dia, pois TODAS as transformações cotidianas envolvem sistemas abertos, onde não é possível verificar a totalidade de energia convertida devido a esta se espalhar para diversos outros meios inclusive o Ar.

    2 - PRINCÍPIO DE DEGRADAÇÃO DE ENERGIA

    Vulgarmente chamado de Lei de Entropia, afirma que embora seja possível transformar Totalmente qualquer tipo de energia em Calor, não é possível transformar Calor Totalmente em qualquer outra forma de energia, pois parte dela volta a ser Calor.

    Todas as formas de energia tendem a se converter em Calor, que é um estado de vibração molecular da matéria, e também é a forma mais degradada de energia. Esse estado de movimento das partículas é totalmente desordenado, sendo chamado de ENTROPIA.

    Sendo assim num sistema fechado, a tendência geral da desordem molecular, Entropia, não pode diminuir. Embora tal possa ocorrer em partes do sistema. Ou seja, num SISTEMA FECHADO, a Entropia que caracteriza o Calor não pode diminuir, e sim manter-se constante ou aumentar devido a outras formas de energia se transformarem em Calor.

    3 - Terceiro Princípio, do "REPOUSO ABSOLUTO"

    Propõe que na temperatura de ZERO ABSOLUTO, 0o Kelvin, que equivale a cerca de -273,15o Centígrados no sistema Celsius, o estado de agitação molecular, a Entropia, tende a Zero. Esse princípio é útil para estabelecer fórmulas que permitam cálculos termodinâmicos, definindo um parâmetro que permite a medição da Entropia de um sistema.

    Vale lembrar que não se verifica essa temperatura na natureza e jamais se conseguiu atingi-la em laboratório.

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  4. "O método criacionista é claro. Ignora-se factos, baralha-se as coisas e, de vez em quando, mete-se uma mentira a ver se ninguém nota."

    Parece-me um excelente método, mas com uma falha: parece que anda sempre alguém à coca, à espreita de falhas! Que gente com tão mau feitio ;-)

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  5. Já que está numa de despejar lençois de texto, o anónimo não quer explicar onde é que encontra evidencias da aplicação das leis da termodinâmica na criação?
    É que gostava de saber quanto é que a lua abrandou no seu afastamento da terra, quando tudo foi criado... É que se a matéria surge do nada, e com ela vem a energia, isso tem de ter afectado a interação entre a terra e a lua em algum momento! Onde é que se vê isso?

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  6. Caro António, para isso basta-lhe ler qualquer livro sobre a formação da Terra.
    Mas respondendo à sua pergunta da interacção terra Lua ele existe desde a existência da Lua, bem depois da formação da Terra

    A aglomeração de matéria e a libertação de quantidades enormes de energia foram uma certeza na criação da Terra.

    As trocas de energia e atransformação de energia em calor, que acontecem em tudo, inclusive a transformação de matéria não humana em matéria humana, não são significativas nem têm de ser constatntes pelo simples facto de a Terra não ser um sistema fechado.

    O lençol deve-se a que se retira-mos partes podemos dar a volta que quisermos. Mas o conceito cientifico de Entropia aplica-se apenas, e tão só, a estado de movimento das partículas é totalmente desordenado.

    O afastamento da Lua deve-se a que o momento angular da Terra e da Lua tem de estar em equilibrio. Vários motivos têm levado a alterações do momento angular da Terra e à correcçõa do momento angular da Lua. A velocidade a que isso acontece não tem de ser constante, pelo contrário.
    Mas como existem muitos outros factores, como correcções, alterações nas velocidades de rotação, efeitos das marés, etc, o calculo da velocidade de afastamento não é linear.
    Não há é nenhuma evidência que a Lua tenho começado a afastar-se desde que existe e com velocidade constante.

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  7. Fico sempre abismado quando vejo alguns criacionista tentarem obscurecer factos com chavões e premissas técnicas.. É tão insólito como eu tentar provar a não existência de Deus, dizendo que deus disse que não existia. Uso Deus, mas só na parte que me convém.

    O texto referido por si no post, detona uma verdade incrível: que o que queremos e nos convém que existe não é o mesmo que o que realmente existe. Esse é sobretudo o grande calcanhar de aquiles dos criasionistas

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  8. O que mais me irrita a mim nestes casos são os argumentos pseudo científicos.Alegam conhecimentos que os leigos não sabem refutar e citam nomes de alegados escritores e cientistas dos quais nunca ouví falar de modo que não os posso avaliar.
    Karin

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  9. Já agora, está aqui um video muito engraçado a respeto das alegações criacionistas:

    http://br.youtube.com/watch?v=Lcrq5OOkQdk

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  10. Eu cá acho que nem sou criacionista nem evolucionista, sou calhosista. E o calhosismo diz que o universo existe porque calhou.

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  11. Se a relatividade nos ensina que a passagem do tempo depende da rapidez com que nos movemos e do campo gravitacional em que estamos, de que tratamos quando os astrónomos falam do universo inteiro como tendo uma idade bem definida de 14 mil milhões de anos?
    O Universo está recheado de uma radiação de microndas, que se diluiu progressivamente e arrefeceu até aos 2,7 graus acima do zero absoluto.
    Nos seus estados iniciais o Universo não estava povoado por aglomerados de matéria grandes, de grande entropia. A uniformidade da radiação da temperatura da radiação confirma que o jovem universo era homogéneo – o que implica baixa entropia.
    À escala das moléculas a água é heterogénea. Mas, se fizermos a média sobre os granulados moleculares de pequena escala e examinarmos a água às escalas “grandes” do quotidiano, a água no copo parece-nos uniforme. Quando o universo é examinado a escalas suficientemente grandes parece-nos homogéneo. A uniformidade da radiação é assim um testamento fossilizado de uma grande uniformidade.
    Se o universo não tivesse simetria no espaço, se a radiação de fundo fosse completamente desordenada, com temperaturas muitíssimo diferentes em regiões diferentes, o tempo, num sentido cosmológico, teria pouco significado. Relógios em locais diferentes mostrariam a passagem do tempo a ritmos diferentes.
    Se passássemos por uma fábrica e víssemos uma série de coisas a voarem violentamente para fora em todas as direcções, provavelmente pensaríamos que houvera uma explosão. Se seguíssemos os percursos dos fragmentos de metal e pedaços cimento ao contrário, acabaríamos por encontrá-los a todos a convergir para um sítio que seria um candidato muito provável ao local onde a explosão ocorrera.

    Bibliografia: "O Tecido do Cosmos" - Brian Greene

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  12. Anónimo,

    Era isso que eu suspeitava que iria dizer, mas, sem o querer alarmar muito, mesmo aceitando que a lua sempre se afastou à mesma velocidade da terra, esta, implicaria uma idade da terra muito superior à dos relatos biblicos. E provas existem de que devido à proximidade a que esteve da terra, provocou marés muito mais acentuadas.
    A definição de sistemas abertos ou sistemas fechados só se aplica à dissipação de energia, e não à injecção de energia num sistema, que é o que você alega com a literalização do relato da criação, por isso, mesmo admitindo uma palermice como a injecção de matéria (e por arrasto de energia) no sistema no acto de criação, você continua com o problema de no máximo causar uma desaceleração do afastamento da lua no momento da injecção. Por isso, os 3,8 cm são mesmo o mais rápido que a lua se poderá ter afastado da terra anualmente até hoje, e com esse conhecimento, está provado que o relato da criação e a escala temporal que a criação biblica acarreta é impossível.
    A premissa do autor do livro que enviou ao Ludwig de a terra e a lua se terem tocado há cerca de 1000 milhoes de anos é uma balela. Ao ritmo de 3,8 cm, constante, que ele admitiu, a diatancia média da elipse que é a orbita da lua é de 384401 km, implicaria 10115 milhões de anos para isso ter acontecido. Mesmo pela distancia minima da elipse 356400 km, com um afastamento constante, são necessários mais de 9000 milhões de anos. Se o sistema solar só tem 4.5 mil milhões de anos, a explicação da colisão de corpos como origem da lua é a mais plausível.

    Por fim, gostava de saber somo é que quer ser uma "autoridade" na termodinamica, se diz acreditar em algo que a contradiz abertamente, que é o mito da criação?
    Acreditar que algo (deus) induz energia num sistema, não aceitar que isso produza interferência no que é observável, e querer afirmar que as leis da termodinâmica são verdadeiras e não aceitar que são incompatíveis com os relatos que defende é no minimo incoerente.

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  13. Caro Anónimo,

    Em vez de copiar material de outras fontes prefiro que deixe apenas a ligação. Neste caso:

    http://www.evo.bio.br/layout/TERMO.HTML

    Mesmo que decida ignorar este pedido do dono do blog e achar necessário incomodar todos os leitores com longos copy-paste, no mínimo dê a referência da fonte não vá alguém acusá-lo de plágio.

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