A cor da inteligência (ou a inteligência da cor).
Discutir se a inteligência é genética ou social é como discutir se a música vem da guitarra ou do guitarrista. Tudo num organismo resulta da interacção dos genes com o ambiente. Nem um embrião vai longe sem o ambiente certo nem as melhores universidades darão inteligência a uma amiba.
Faz mais sentido perguntar se mudar de guitarrista tem mais efeito que mudar de guitarra. Mas mesmo isto depende da guitarra e do guitarrista. Se a guitarra não tem cordas a diferença entre guitarristas é nula. Se nenhum sabe tocar não há guitarra que os safe. Até pode ser preferível a guitarra sem cordas. Com os genes é o mesmo.
Uma em cada quinze mil pessoas nasce com uma variante inactiva da hidroxilase de fenilalanina. Com uma dieta rica em tirosina e pobre em fenilalanina o efeito é mínimo. Caso contrário, a acumulação de fenilalanina e derivados interfere com o desenvolvimento do cérebro e resulta em deficiência mental profundo e outros problemas neurológicos.
A pele clara previne a deficiência de vitamina D em climas frios com pouco sol mas aumenta a incidência de cancro nos outros. A anemia falciforme protege da malária apenas onde há malária. Noutro ambiente passa-se melhor sem ela. A hemofilia é um inconveniente para quem tem acesso a medicação mas é mortífera para os outros. O efeito dos genes depende sempre do ambiente.
Imaginem que numa população de borboletas há borboletas brancas e negras, e as brancas são mais visíveis aos pássaros. Neste ambiente o gene da variante negra é um gene para evitar os pássaros, com o efeito de tornar a borboleta mais difícil de comer.
Agora imaginem uma população de humanos em que há brancos e negros e a sociedade nega aos negros o acesso à educação e aos melhores empregos. Neste ambiente os genes para pele escura reduzem a educação, o nível de vida e a inteligência. Tal como nas borboletas. O que não quer dizer que tenha sempre este efeito. Se as árvores ficam mais e claras as borboletas brancas passam a ser menos visíveis, ou se uma revolução inverte a discriminação social, as variantes destes genes passam a ter o efeito contrário. Mas em cada caso a diferença é genética.
Qualquer teste à inteligência na África do Sul durante o apartheid revelaria uma diferença genética entre brancos e negros. Não é erro. Nesse ambiente a diferença era mesmo genética. Mas, e agora todos em coro, o efeito dos genes depende do ambiente.
O que sabemos acerca da relação entre a cor da pele e inteligência é que em alguns ambientes a diferença é grande, noutros é pequena e tem vindo a diminuir, e se restringirmos as amostras a certos grupos sociais ou económicos não há diferença detectável. Por outro lado, as variações no ambiente têm um grande impacto, tanto nos indivíduos de pele clara como nos de pele escura.
Resumindo, não podemos dizer que a inteligência é mais social que genética. Isso nem sequer faz sentido. Podemos dizer que as diferenças de inteligência entre populações se devem mais a diferenças sociais que aos genes para a cor da pele, mas só para algumas gamas de variação social. Há sociedades em que a cor da pele é um factor determinante. E podemos concluir que a reforma social é a melhor forma de eliminar estas diferenças.
Alguns julgam que é uma boa noticia. Livra-nos do terrível determinismo biológico porque é só um problema social, não está nos genes. Mas disto discordo. É mais fácil dar insulina aos diabéticos que acabar com o racismo.
Ludwig,
ResponderEliminarpermita-me só então fazer umas perguntas que até podem não parecer pertinentes mas que são para chegarmos a uma conclusão (e atenção, eu não discordo de forma alguma da sua opinião):
Porque não foram os povos africanos a descobrir e colonizar o mundo?
Porque foram os povos brancos os primeiros a criar refugios permanentes para tempestades e chuvas?
Das civilizações antigas, porque eram os Zulus umas das poucas que se mantiveram nómadas até deixarem de existir?
Pelas perguntas anteriores o que acha que faz a diferença? A cor da pele ou as condições sociais/económicas/religiosas da altura?
nuno, recomendo:
ResponderEliminar"Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies", Jared M. Diamond
da review na amazon:
"...Most of this work deals with non-Europeans, but Diamond's thesis sheds light on why Western civilization became hegemonic: "History followed different courses for different peoples because of differences among peoples' environments, not because of biological differences among peoples themselves." Those who domesticated plants and animals early got a head start on developing writing, government, technology, weapons of war, and immunity to deadly germs..."
parece-me ir na linha do texto do ludwig.
A relação não é entre a inteligencia e a cor da pele, é entre uma raça e outra, e as diferenças entre raças não residem apenas na cor da pele, muitas outras caracteristicas variam.
ResponderEliminarApesar do social ter algum peso em vários aspectos de um individuo, o factor genetico tem muito mais. É impossivel que alguém que sofra de Sindrome de Down, tenha as mesmas capacidades a todos os niveis que alguém que não tenha tido este infortunio, independentemente do meio social em que se insere. Mas o contrário ja não é verdade, existe o caso conhecido de Ramanujan que apesar do meio social em que estava inserido, era de longe superior a outros matematicos que tiveram mais educação, e mais condições que ele. Existem outros casos de pessoas que são brilhantes muito antes de terem tido acesso a educação, como Paul Erdos.
«permita-me só então fazer umas perguntas que até podem não parecer pertinentes mas que são para chegarmos a uma conclusão»
ResponderEliminarHá uns tempos li um livro do Fareed Zakaria com uma possível explicação bastante simples: diferenças de clima e geografia tornam África mais propensa à propagação de doenças. E, com doenças a arrasarem a população, torna-se mais difícil criar e transmitir conhecimento. No longo prazo, as sociedades africanas acumulam um grande défice de conhecimento.
Porque é que os pobres são feios?
ResponderEliminarPorque os homens ricos e as mulheres bonitas têm maior amplitude de escolha quando se trata de encontrar
um parceiro sexual.
O que levanta a questão: a beleza física dos ricos - e a correspondente fealdade dos pobres - é de origem "natural" ou "cultural"?
Nem duma, nem doutra, é evidente. Ou então das duas, o que vem a dar no mesmo. O que se passa é que há uma selecção artificial que usa processos naturais para produzir determinados efeitos.
Admitamos agora, por hipótese, que há diferenças de inteligência estatisticamente determináveis entre o grupo humano A e o grupo humano B. A que são devidas essas diferenças? A características genéticas presentes nas populações originárias, A processos de selecção natural? A processos de selecção artificial?
Deixo aqui ficar as perguntas.
Os zulus deixaram de existir? Ó Nuno, não diga isso aos cinco milhões de zulus que vivem na província de Kwa-Zulu, na Rep. da África do Sul. Isto apesar dos esforços envidados pelos colonialistas em massacres e genocídios durante anos a fio. Deve dizer-lhes sim, é que já foram nómadas. É um pormenor da História deles que eles (e não só) desconhecem por completo, já que sempre se tiveram por agricultores, comerciantes, guerreiros e imperialistas. É verdade, existiram vários impérios africanos ao longo da História, com colonização (creio que é a isso que chama "descoberta") de outros povos - a África não é do tamanho de um guardanapo como a Europa - mas não se ensina isso nas escolas ocidentais por motivos óbvios.
ResponderEliminarQuantos aos refúgios para tempestades e chuvas, quer-me parecer que cada povo encontra a solução que lhe parece mais adequada às suas circunstâncias. De resto, quem é que lhe contou que foram os brancos os primeiros a criar refugios permanentes?
Cristy
Bizarro,
ResponderEliminarpedia-lhe que me desse uma definição científica de «raça» porque sem ela não vou perceber do que está a falar.
Cristy
Nuno,
ResponderEliminarReitero a recomendação do Ricardo, que também já fiz noutros comentários. Ess livro do Jared Diamond é muito bom.
Resumindo muito, o factor principal é a possibilidade de reunir um leque diverso de animais e plantas domesticáveis. Com bois, cavalos, cereais e legumes o médio oriente ganhou uma vantagem enorme em relação a outras partes do mundo, e essas espécies e tecnologias espalharam-se pela eurásia. Do mediterrâneo à india é possível levar plantas e animais atravez de climas semelhantes.
Na África, Américas e Oceania não houve essa possibilidade. Na américa central houve impérios baseados em agricultura, mas muito mais tarde que na eurásia e que foram devastados por doenças assim que os europeus lá chegaram. Em África a maior parte dos povos viviam sem agricultura porque não havia a diversidade necessária de espécies domésticas para suportar grandes populações sedentárias.
E ao contrário do que propõem alguns defensores do copyright, não é meia dúzia de génios que interessa. São as dezenas de milhões que fazem o resto que são o factor determinante.
Bizarro,
ResponderEliminarEstás a confundir várias coisas. As raças podemos definir como bem nos der na gana, que é uma distinção arbitrária. Pode ser pela cor da pele, forma do nariz, ou o que calhar. Mas se usarmos a diversidade genética acabamos com raças que não têm nada a ver com a cor da pele.
E esta é a confusão. Há genes que afectam a inteligência. E há genes que afectam a cor da pele. Mas o que os dados nos dizem é que não só são genes diferentes como nem estão correlacionados.
É verdade que dentro da gama de ambientes da maiora das pessoas em sociedades industrializadas cerca de metade da variação na inteligência pode ser atribuida a factores hereditários (não necessariamente genéticos, mas pelo menos congénitos). Mas não é verdade que estejam relacionados com a meia dúzia de genes que codificam o pigmento da pele.
Tudo aponta para que os genes que determinam a pigmentação da pele não estão correlacionados com os genes que controlam a inteligencia, e nunca disse o contrário. Quanto à inteligencia ser genética considero ser no minimo defensável.
ResponderEliminarAs caracteristicas que definem uma raça não se limitam à cor da pele, e sou de opinião que apenas uma caracteristica diferente não é suficiente para definir uma raça, tal como a cor da pele. São necessárias mais caracteristicas. Não sei precisamente definir raça, nunca me preocupei com isso, mas parto do principio que se disser raça negra, ou caucasiana, ou seja la o que for, todos sabem do que se trata e que é um conceito de senso comum.
Ludwig:
ResponderEliminarExcelente texto!
Nestas coisas é sempre bom por os pontos nos i's.
Caro Ludwig,
ResponderEliminarEste comentário é só para lhe dar este link para um filme intitulado Zeitgeist. O filme tem quase duas horas, mas acho que se ainda não o conhece vai gostar. Pode encontrar mais pormenores no meu blogue, se quiser lá ir.
Bizarro
ResponderEliminarPor um lado
"A relação não é entre a inteligencia e a cor da pele, é entre uma raça e outra, e as diferenças entre raças não residem apenas na cor da pele, muitas outras caracteristicas variam. "
Por outro
"Não sei precisamente definir raça, nunca me preocupei com isso, mas parto do principio que se disser raça negra, ou caucasiana, ou seja la o que for, todos sabem do que se trata e que é um conceito de senso comum."
Ou seja: ou muito me engano ou tenho que repetir que primeiro vêm as conclusões e depois as observações que as suportam. É uma maneira de fazer Ciência... mas não uma boa maneira! Dito isto, há quem faça isso mesmo!
Senso comum nem sempre é sinónimo de bom senso. Este post transpira lógica e bom senso por todos os lados, pelo que seria possivelmente uma boa ideia relê-lo para aprender qualquer coisinha.
Ludwig
ResponderEliminarNem de encomenda: tinha-te pedido para abordar a treta do racismo. Era mesmo isto e superou as minhas expectativas! Grazzie!
Hummm... deixa lá ver... nos últimos 4 séculos os portugueses não deram nenhum contribuição significativa ao de desenvolvimento do mundo... toda a sua evolução foi aprendida com os outros... há cem anos atrás na maior parte do país ainda se vivia exactamente da mesma maneira como se vivia no tempo de Cristo... eu ainda conheci lavradores que viviam em casas de pedra sem janelas e com um buraco para sair o fumo da lareira onde se aquecia o caldeirão e a iluminação era a azeite e tenho muito menos do que 100 anos.. Logo, segundo certos argumentos que li, poderemos concluir que os portugueses devem ser um povo geneticamente muito inferior... aliás, a generalidade dos europeus parece pensar isso mesmo... e devem ser mesmo, para defenderem argumentos que aplicados a eles próprios conduzem a essa conclusão...
ResponderEliminarhttp://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1310093&idCanal=13&showComment=1#commentarios
ResponderEliminaroi ,adorei os comentários e gostaria de fazer uma pergunta e ese alguém puder me responder eu agradeço:
ResponderEliminara inteligência,a final,é genética ou ñ????
ao vivermos em um mundo globalizado onde variedade de especies humanas vem crescendo a casa dia e comum ouvir-mos falar e, PRECONCEIO E DISCRIMINAÇÃO principalmente a COR DA PELE.
ResponderEliminarnao vou citar mais um cienticas diz que os judeus(branco) sao mais inteligentes.
outras dizem que os judeus tem como cultura buscar sempre o conhecimento e isso é genetica do seus antepassados e nada a ver com a cor da pele.
PORTANTO SERA QUE A INTELIGENCIA NAO ESTA NA MANEIRA QUE VOCE BUSCA O CONHECIMENTO E INFORMAÇÕES.
MEU NOME É THAIGO
WWW.MEADD.COM/OSPEGANINGUEM
MSN:THYAGUINHO_t@HOTMAIL.COM
Eu acho isso uma coisa muito relativa,
ResponderEliminareu não tenho uma opinião pronta sobre isso ainda,
porque por um lado parece que é certo que a inteligencia
vem da cor da pele pois os brancos foram os que mais se
sobressairam na história da humanidade.Mais por outro lado
eu penso pelo lado da cultura e das oportunidade,hoje os americanos
concerteza são muito mais inteligentes que os africanos,mais os africanos não tem tantas oportunidades quão os americanos;e isso os torna mais inteligentes que os africanos.
Em Minha Opinião A Inteligência Não é Genética, Pois O que Determina A Capacidade Intelectual São Os Valores Culturais, Oportunidades e Decisões.
ResponderEliminarNa verdade acreditar que nos interessa que os comentários permaneçam ou não...
ResponderEliminarque copiariamos o Jairo, coisa tão vulgar
já agora a duplicação do perfil Banda, resulta de um artefacto,do google
nós não ( falo nós por ser nobre, pois obviamente como ficou estabelecido na vossa teologia,sou uno) queremos saber do jairo o que quer, que um jairo seja (cinquentão ou sessentão, norte de Portugal)ou que dariamos uma atenção meramente filologica às vossas discussões.
A minha aposta para quem invade os computadores dos outros, quem não gosta de perder e anárquico por natureza e idade (ou pouco atrasado, mas como todos vós são neotenias ...)
é para o autor deste texto
O pior não é a arrogância.
O pior não é a ignorância.
O pior é sempre a junção das duas.
Adicionando o facto de que temos mesmo de aturar esta gente (e o enorme mal que fazem, tipo não lhes dar um tiro ou assim....
mas se calhar foi um dos outros, não o judas do krippahlismo mas um dos restantes apóstolos
em relação aos seus défices:
ResponderEliminarDesconhece a existência de centros de origem das plantas?...Vavilov anos 30, o texto acima,como muitos dos seus assenta em realidades parciais e um desconhecimento da história e da genética.
Provavelmente por ser um hiper-especialista
Com uma cultura geral enciclopédica e pouco prática опубликован
Resumindo muito, o factor principal é a possibilidade de reunir um leque diverso de animais e plantas domesticáveis. Com bois, cavalos, cereais e legumes o médio oriente ganhou uma vantagem enorme??? em relação a outras partes do mundo, e essas espécies e tecnologias espalharam-se pela eurásia???
Quais, pensa que os indianos ou os chineses comiam o quê há 8000 anos
Acampamentos na ásia central com 7000 anos, com vestígios de domesticação.
. Do mediterrâneo à india é possível levar plantas e animais atravez de climas semelhantes.
Na África, Américas e Oceania não houve essa possibilidade.
Na américa central (e no norte e sul, acaso não havia nações federadas e milho no norte, as 7 nações teriam meio milhão de indivíduos em 1600)houve impérios baseados em agricultura, mas muito mais tarde que na eurásia e que foram devastados por doenças assim que os europeus lá chegaram.Na américa central já estavam extintos muitos desses pequenos impérios.
De resto esta discussão (escrituração é inócua) não serve nenhum propósito ou visa algum esclarecimento.
Penso que todos aqui são almas gémeas em carácter,logo
discussão não existe apenas monólogos.
Não existe raça, isso é um conceito criado pelo homem para assim poder dominar os outros.
ResponderEliminarEgípicios são negros e africanos, constituíram uma das maiores civilizações da Antiguidade. Sem a conversa fiada de que as pirâmides foram feitas pelos "deuses astronautas", o europeu pode ter inúmeros feitos que foi ele que produziu, mas é só o africano fazer uma coisa que não atribuem o devido valor.
Heródoto ao falar que "o Egito é uma dádiva do Nilo" ele tinha INVEJA do Egito, pois viu um povo mais avançado que ele e ficou sem chão.