quarta-feira, agosto 22, 2007

Transgénicos.

Salvo estranhas excepções como o Miguel Portas (1), foi geral a condenação do protesto eco-ilógico da «Verde Eufémia». A justificação do movimento parece demasiado fraca:

«O objectivo é restabelecer a ordem ecológica, moral e democrática que tem sido constantemente deteriorada pelas políticas de União Europeia e pelo governo português» (2).

O vandalismo não contribui para a ordem moral ou democrática, e para restabelecer a ordem ecológica neste canto da península ibérica tinham que destruir todo o milho, tomate, eucalipto, batata, e a maior parte das restantes plantas e animais domésticos que invadiram este ecossistema por introdução humana. No meio disto tudo, implicar com este milho por ter um gene a mais é ridículo.

Todas as espécies são geneticamente modificadas, tendo evoluído de espécies ancestrais diferentes. A partilha de material genético entre espécies é normal em microorganismos, frequente nas plantas (o milho cultivado é híbrido) e até nos animais domésticos como a mula. E a domesticação sempre foi uma forma de manipulação genética, por selecção artificial.

Partes do material genético podem mudar de sítio ou multiplicar-se independentemente. Metade do genoma do milho são transposões, elementos que se multiplicam e se reintroduzem em diferentes partes do genoma. A transferência de genes entre organismos e espécies também ocorre na natureza. O genoma humano contém muitos vestígios de genes virais que ficaram incorporados nos nossos cromossomas.

E a manipulação de organismos por recombinação genética é uma técnica com várias décadas. Por todo o lado cultivamos microorganismos transgénicos modificados para sintetizar proteínas. Desde insulina e cápsides de vírus para vacinas até às proteases para o detergente da roupa ou as celulases que dão às jeans novas a textura da ganga usada.

Perigos, claro que há. Os automóveis são perigosos. As piscinas. A electricidade, os sacos de plástico, os talheres e os detergentes. Podem matar pessoas, destruir ecossistemas e estragar o ambiente. Mas há que pesar o custo com o benefício, e o maior problema de todos é haver seis mil milhões de pessoas, dezenas de milhares de milhões de animais domésticos e milhares de milhões de hectares de terra cultivada. O perigo de usar uma tecnologia tem que ser comparado com o perigo de não a usar. Entre 1900 e 2000 o rendimento da cultura de milho nos EUA aumentou quase quatro vezes, de 2,5 para 9,4 toneladas por hectare. Quem se preocupa com o impacto ecológico da tecnologia que o permitiu deve considerar o impacto ecológico de uma área cultivada pelo menos quatro vezes maior, e o que isso implicaria em perda de habitates, degradação do solo e uso de recursos hídricos.

Toda a produção alimentar tem riscos. Uma praga ou seca pode matar imensa gente à fome. Há riscos de alergias e doenças, há poluição com fertilizante, herbicidas e pesticidas, e assim por diante. E o risco da cultura geneticamente modificada nem sempre é o maior. As variante Bt de milho transgénico contém o gene para uma proteína da bactéria Bacillus thuringiensis que é tóxica para as larvas da broca (Sesamia nonagrioides e Ostrinia nubilalis). Se por um lado o pólen deste milho pode prejudicar outros insectos, a aplicação de insecticida para controlar a praga tem normalmente consequências piores. É escolher o mal menor.

Mais do que o vandalismo disparatado, preocupa-me o apelo ao histerismo colectivo. O Miguel Portas escreveu que «Com este gesto, o Movimento Eufémia Verde conseguiu alertar a opinião pública para um facto que lhe era desconhecido: que o Algarve - com o voto favorável da sua Associação de Municípios - já não é “uma região livre de transgénicos”»(1). É treta. Ninguém ficou a saber nada. Ninguém ficou a conhecer melhor os riscos nem a perceber melhor o problema. E a opinião pública não ficou mais capaz de determinar se o impacto ecológico da toxina de Bacillus thuringiensis é maior ou menor que o da aplicação de insecticida ou da introdução de espécies predatórias.

Nenhuma tecnologia é universalmente boa ou universalmente má. Cada forma de a aplicar deve ser avaliada individualmente sem esquecer as consequências das alternativas. Acima de tudo, tem que se decidir de forma esclarecida e não pela manipulação da opinião pública ao serviço de interesses políticos.

1- Miguel Portas, 18-8-07, Eufémia desobediente
2- Portugal Diário, 17-8-07, Protesto contra o milho transgénico

Adenda, a 23-8-07: O Miguel Portas entretanto reconsiderou a sua opinião inicial. Obrigado ao João Vasco pelo aviso.

24 comentários:

  1. Amen!

    É uma pena que as pessoas falem sem qualquer conhecimento. Uma vez estava a ter uma conversa sobre transgenicos com uma amiga e ouve uma senhora que me disse "Isso é o fim do mundo, essa coisa de fazerem os bichos em serie" Juro que fiquei a olhar para ela com cara de C_.
    Depois perguntei-lhe se sabia o que era um transgenico....

    Bla bla bla, é quando fazem o bicho no laboratório e é muito mau porque vai matar os outros bichos"....Bla bla bla, - Não ouvi o resto como deves calcular!!
    Mas portei-me muito bem, ainda tentei explicar, mas a senhora insistia na clonagem, por isso fiz um sorriso simpatico (disseram-me mais amarelo que um limão) e fugi da senhora.
    Ela não fazia ideia, só sabia que era muito mau!!


    "E a domesticação sempre foi uma forma de manipulação genética, por selecção artificial."

    Chama-se melhoramento animal, é assim que se chega a vaquinha que dá leite, a vaquinha que dá carne, á ovelhinha que dá muita muitaa lã. Tudo isto é ,manipulação a unica diferenca é que é feita por um metodo muito "manual".

    Acho que vi algures a cruza entre um cavalo e uma zebra, mas não não me lembro aonde:)

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  2. Vi aqui agora pela primeira vez uma posição do outro lado (pelo ataque aos trangénicos:

    https://www.blogger.com/comment.g?blogID=29251019&postID=7937752145802900519


    Há de facto aqui um ponto importante, que é um muito parecido com o das farmacêuticas: é preciso garantir, quando se aplica tecnologia numa coisa que não é acessária - não se está a experimentar um material novo num pinchavelho ikea, está-se a intervir no funcionamento de um organismo que não se conhece completamente e que nos é tão precioso (o corpo humano), que se fez bem essa pesagem do custo / benefício.

    Nos medicamentos há a ideia (em que por exemplo aqui o Ludwig parece confiar) de que há testes, se fez um esforço sério e controlado para fazer a tal pesagem. Honestamente, gostava de ter mais confiança nisto. Onde é que encontramos um directorio global, com dados desses testes? (Não estou a dizer que não os há, estou a dizer só que queria ve-los.)

    Na alimentação, diz aqui o rapaz da Eufémia que não há.

    Quem é que elucida?

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  3. W,

    (o link está errado, vem dar a esta página...)

    Os organismos geneticamente modificados carecem de aprovação, tal como muitas outras coisas na agricultura (herbicidas, pesticidas, etc). E a Food and Drug Administration, como o nome indica, trata desses tal como trata dos medicamentos.

    Mas é diferente criar uma droga nova para curar uma doença ou juntar coisas que são comuns no que comemos todos os dias. O Bacillus thuringiensis é uma bactéria comum no solo, e o insecticida que produz é usado para controlar pestes, inclusivamente em agricultura biológica porque é considerado seguro por ser biodegradável e específico para certas espécies de insecto. É inofensivo para humanos.

    Por isso no caso do milho Bt não estamos a fazer nada de novo ou particularmente arriscado para o ser humano.

    Variedades deste milho modificado já são comercializadas nos EUA há uns quinze anos, e na Europa há dez. Sendo o milho a principal fonte de açucar para muitas bebidas e doces, diria que deve haver poucos europeus ou americanos que nunca comeram destes produtos.

    Quanto aos ensaios clinicos, penso que uma boa fonte é a Pubmed, mas em muitos casos só estão disponíveis gratuitamente os resumos.

    Também tens em http://clinicaltrials.gov/ informação sobre ensaios clínicos a decorrer, mas não sei se há lá os resultados de ensaios anteriores.

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  4. Ludwig:

    Soube que o Miguel Portas já se arrependeu das suas declarações no calor do momento.

    O link está aqui:

    http://www.miguelportas.net/blog/?p=113

    Ainda assim, continuo a discordar dele.

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  5. segundo a wikipedia existem vários organismos fiscalizadores de transgénicos:

    «[...] The three agencies involved are:
    * USDA Animal and Plant Health Inspection Service;
    * EPA - evaluates potential environmental impacts, especially for genes which encode for pesticide production;
    * DHHS, Food and Drug Administration (FDA) - evaluates human health risk if the plant is intended for human consumption. [...]»


    parece-me que podemos confiar tanto nos transgénicos como em qualquer outro alimento ou medicamento ou o que seja... não percebo o pânico (embora possa concordar que, do ponto de vista do desenvolvimento da agricultura portuguesa no contexto europeu, a aposta na chamada agricultura biológica pode ser um melhor caminho a seguir, mas isso não tem absolutamente nada a ver com o que aconteceu e está em discussão).

    existe, no entanto, um problema associado às sementes transgénicas e que não parece receber qualquer atenção (apesar de me parecer ser o único verdadeiro problema): o código genético dessas sementes está patenteado. a razão pela qual isto é um problema é clara: a espalharem-se as sementes para plantações vizinhas podem "obrigar" agricultores "livres" de transgénicos a serem processados por usarem (ainda que involuntáriamente) propriedade patenteada... este sim, parece-me ser o problema a resolver...

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  6. Ricardo,

    Estou de acordo com o problem das patentes, mas não se limita aos transgénicos. É um problema de fundo, e bastante sério. Este, sim, é um que deve ser resolvido pela opinião pública, pois não se trata de uma questão técnica para peritos.

    Nas últimas décadas a transformação da legislação de patentes, copyright, e «propriedade» intelectual em geral foi sempre alheia à democracia e à vontade da maioria. Foram coisas decididas por alguns em nome de todos.

    Mas está em causa um juízo de valor fundamental: se aceitamos que abstracções como conhecimento, técnicas, ou estirpes de organismos podem ser propriedade de uma pessoa ou organização.

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  7. Epá, obrigado pelos links :)

    Enfim, a gente imagina sempre que na internet encontra tudo e é só procurar, e até é verdade, mas às vezes desmoralizo no processo.

    Nos últimos anos comecei a achar que a prática clínica é uma coisa subjectiva, e que eu deveria participar em decidir que medicamentos/medidas são melhores para mim, e então ponho-me volta e meia à procura de coisas na internet, mas parece-me tudo inconclusivo, e pior ainda, ao procurar referências "oficiais" esbarro sempre com registos para profissionais, ou a pagantes.
    Por exemplo, há tempos usava para simposium o http://st2.medicom.es - agora que está em baixo, não conheço nada além do prontuário do infarmed, que é muito fraquinho.

    Assim que tiver mais tempo vou ver se dou uma vista de olhos nestes links sobre os medicamentos que me interessam, e para ficar com uma ideia da confiança que merecerá a exigencia dos testes que se faz aos medicamentos. A legislação não deve ser igual em todo lado, não é? Haverá uma forma pouco trabalhosa de se perceber como é em portugal?

    Em relação aos trangénicos, faz-me confusão que sendo o problema analisável, e o risco da intervenção genética calculável, a malta da ecologia se alarme tanto. Há um bocado o estereótipo do ecologista que insulta tudo o que é "artificial" e sacraliza o "natural", mas custa-me a crer que a massa da malta na ecologia seja assim. Havendo tanto fumo, não haverá pelo menos fogo?

    O link que queria partilhar, do tal porta-voz do movimento que lá queimou ou despentou ou o que foi o milho, era este.

    Por último, o meu punho no ar pela questão das patentes. A última Time que li (há uns bons anos, por acaso), tinha nas páginas centrais um artigo do Bill Gates sobre como a fundação dele se propunha desenvolver cereais trangénicos para resolver a fome em África! Vivo a coisa mais pelo lado do software, mas é de facto um problema geral. Uns bitaites que gostei de ouvir recentemente sobre isso estão aqui.

    Vou trabalhar, intel :D

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  8. Mesmo arriscando-me agora a dizer disparates (entrando em campos que me são intelectualmente vedados, como já houve quem aqui comentasse), julgo que li algures
    que um dos problemas dos transgénicos, sobretudo do milho, é que são concebidos de modo a nunca se reproduzirem. Em África já existem comunidades dependentes deste milho, obrigadas a comprar as sementes todos os anos aos tipos da Monsanto & co. Esse parece-me um problema bastante grave, porque vai alastrar sobretudo em países onde o milho ainda é alimento básico e as pessoas dependem de boas colheitas.
    Cristy

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  9. W',

    O que o porta-voz afirmou:

    «Segundo Gualter Baptista, "estudos independentes revelaram alterações das funções hepáticas e renais, na absorção dos nutrientes e no pêlo e mutações" em ratos em laboratório sujeitos a organismos geneticamente modificados.»

    é possivelmente verdade para a semente MON863 da Monsanto. Não é um problema dos OGM. E este caso particular é duvidoso, porque esse tal efeito só foi «detectado» quando aplicaram outra análise estatística aos dados da Monsanto, e não houve confirmação ainda.

    O problema é mesmo haver muito mais fumo que se justifica. Como qualquer tecnologia, haverá aplicações que se tem que rejeitar, mas isso não é o mesmo que rejeitar a tecnologia toda. É como querer acabar com a radioterapia porque a radiação é uma coisa má e perigosa...

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  10. Cristy,

    Já há esse problema com o milho híbrido e afins, porque para ter o rendimento alto destas plantas é preciso peparar as sementes de uma forma controlada. As sementes comerciais também são tratadas com fungicidas. Plantar parte do milho colhido dá um rendimento inferior.

    Nos GM há o problema adicional de, em muitos casos, perderem os genes facilmente e reverterem à variante original.

    Mas o problema principal é a propriedade intelectual. No fundo, o agricultor é um pirata que vive de copiar ilegalmente o milho que outros inventaram ;)

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  11. Cristy

    Boa malha esse da Monsanto!

    Eu sou em princípio contra os trangénicos por poderem interferir ainda mais com um equilíbrio delicado da natureza. Eu que aprecio o conhecimento, a tecnologia e por aí adiante, acredito que a natureza é mais sábia que o homem e percebe mais umas coisinhas de evolução que ele. Não é grande descoberta, mesmo porque já alguém pensou igual e nem andou (acho eu) a pisar searas. Vejam em http://www.biomimicryinstitute.org/index.htm e leiam o livro Biomimicry, da Janine Benyus (ainda não o li: tenho-o emprestado a um menino que vai fazer mais uso dele no imediato. Tem partes seca, mas ao folheá-lo antes de o comprar fiquei com a ideia que no global se aprendia umas coisas).

    As modificações que se têm feito aos ambientes naturais podem ser demais! Se a própria "cultura de monocultura" pode estar a pôr em causa o solo (mas atenção que estou a falar de cima de muita ignorância), porquê introduzir ainda mais uma variável? Nem vou falar das patentes e Monsantos e companhia limitada.

    Lembro-me de um trigo trangénico que causava alergias, mas não sei indicar a fonte. Claro que muitas mais coisas causam alergias (amendoins, o que muito estranhei), mas não é preciso mais uma! Ou precisamente por isso.

    O movimento que parece mais equilibrado é o de relativa oposição à uniformização: o que parece ser sustentável são coisas resolvidas globalmente e implementadas localmente. O exemplo mais óbvio é o da geração de energias renováveis localmente, mesmo pelos próprios proprietários das casas. O oposto é rebentar com o curso de um rio para construir uma barragem.

    A nível de agricultura, toda a gente a cultivar a mesma coisa parece-me mal. Falhando tudo, por uma questão de biodiversidade. Porque não (e mesmo por argumentos meramente economicistas) haver uma diversidade de culturas?

    Politicamente temos uns gadelhudos que gostam de “alertar”. Os mesmos gadelhudos gostam de invadir Rivolis e chamar a atenção para causas (o Rui Rio foi genial ao retirar os cromos do teatro quando toda a gente estava a dormir, para não terem tempo de antena... mas devia ter feito isso no próprio dia!). E é daqueles casos em que os ambientalistas fazem mal ao ambiente. Dito isto, de quem achou que as vítimas civis do 11 de Setembro eram danos colaterais, não era de esperar grande sensatez.

    Um dia destes conto-vos as minhas aventuras com a esquerda. Foi educativo!

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  12. Não alimento os animais. Discuto transgénicos em qualquer altura, menos nesta.

    João Vasco: Quanto ao Miguel Portas, arrependeu-se de quê? e porquê? É que ele diz que se arrepende mas as ideias são as mesmas, não mudou nada de nada...

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  13. Abobrinha,

    Discordo que a natureza seja sábia. Inventou a miopina, não os óculos. A cárie em vez da pasta de dentes. As mortes no parto em vez da cesariana. Da asma à osteoporose e à unha encravada vê-se muito por onde melhorar.

    A natureza é um conjunto complexo de processos. Temos que ter cuidado onde mexemos a ver se não nos rebenta na cara, mas sempre lembrando que mesmo sem mexer em nada não estamos seguros. Daqui a uns milhares de milhões de anos o Sol vai ser uma gigante vermelha e tudo neste pedacito de pedra vai evaporar.

    A agricultura biológica é bonita, mas só em pequena escala. É brutalmente ineficiente, e se vamos alimentar toda a gente assim temos que destruir todos os habitates naturais da Terra e ainda plantar couves na Lua.

    Uma existência sustentável de seis mil milhões de mamíferos do nosso porte não se consegue de forma «natural», mas apenas recorrendo a toda a nossa capacidade de pôr a natureza a correr da forma que nos dá mais jeito. Até porque o precurso «natural» de uma espécie tão bem sucedida como a nossa é devorar todos os recursos e extinguir-se.

    Para o evitar temos não só que ser mais sábios que a natureza (o que não é difícil), mas também mais sábios que a nossa natureza. E talvez seja aí que nos vamos lixar...

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  14. Ludwig

    É o que dá eu aderir demasiado a discursos radicais: fiz figurinha de parva! Eu sei que a natureza não é perfeita (mas isso dos óculos foi um golpe baixo, porque eu sou pitosga!).

    O meu caminho normalmente é o do meio e nesse aspecto eu já concordava contigo na história de a agricultura biológica não ser em larga escala.

    Parte do problema são os 6 biliões, mas são (ainda) sustentáveis. Quer dizer, sustentáveis se não se reproduzirem muito mais!!! Nesse aspecto (e na tecnologia) é que levamos vantagem sobre os dinossauros: eles não sabiam observar o mundo nem fazer contas.

    Para tudo é preciso moderação. E de vez em quando é preciso olhar para além do lucro total. Sou insuspeita: adoro dinheiro e gosto que os outros o tenham também. Mas não a qualquer custo!

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  15. Já agora, a necessidade de moderação implicaria, por exemplo, dar cabo da casa de alguns desses radicais pisadores de milho para chamar a atenção para o facto de eles fazerem mal à saúde.

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  16. Não vou discutir a biologia inerente aos transgénicos, pois é assunto sobre o qual nunca me deu para recolher informação, mas, a questão dos 6 biliões lembra-me que o nosso maior erro é sermos uma raça dada a tretas como a piedade! Como temos pena de um pobrezinho, em vez de lhe darmos meios de auto-subsistência, damos-lhe tudo na palma da mão! E batemos de novo na questão do salário minimo... :-) E do rendimento garantido.
    Se fazer filhos em série não afectar o rendimento per capita de uma familia, todos os casais podiam desatar a procriar aos 12 anos e parar apenas quando caissem para o lado, pois como o Ludwig disse, pagava-se 500 Euros por mês por cada pessoa viva e atingia-se um equilibrio. Treta! Ficava-se era com 100 milhões de tugas em Portugal, a tentar sugar o rendimento minimo...
    Para um casal com 0 euros de rendimento per capita, ter mais um filho pouco afecta, e nada têm a perder. Se fizerem mais um, até pode ser que o possam pôr a trabalhar na fábrica de material desportivo de uma marca qualquer assim que tiver 5 aninhos, e até passam a ter rendimento que de outro modo seria sempre zero!
    dantes faziam-se muitos filhos mas a taxa de mortalidade era enorme e isso gerava equilibrio. Hoje em dia, num qualquer pais subdesenvolvido, onde as mulheres são violadas em série ou mesmo quando o não são, fazem filhos aos magotes, e a taxa de mortalidade é baixa, graças à medicina moderna, o que gera, crescimentos da população sem controlo. O crescimento da população mundial não ocorre na Europa, America do Norte, ou Austrália, mas, na Ásia, onde se misturam pobreza extrema com riquezas fáceis de poucos.
    Enquanto a disseminação da tecnologia for mais rápida e fácil que a disseminação do bom senso, vamos continuar a ter gente sem meios, que segue as patranhas de uns quantos, que inclusivem diabolizam o uso de contraceptivos, e que se reproduzem em série, para criar gerações de futuros explorados, para alimentar o consumismo de um mundo ocidental, demasiado politicamente correcto, para saber quando parar com as fantochadas politicas.
    No fundo concordo com o Ludwig. Os trangénicos são uma necessidade, a agricultura biológica uma mania de intelectuais bacocos, e compreendo a posição da aboborinha sobre a esquerda, que me parece falida e utópica, e a seguir ideias pelo simples prazer de ser do contra!

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  17. Evolução demográfica 8e outros) em tempo "real"
    http://www.breathingearth.net/

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  18. António,

    A tua dedução assume que ter um filho implica apenas uma despesa adicional, não afectando mais nada na nossa vida. Por meu lado, daqui deduzo que não tens filhos :)

    Osvaldo,

    Tá muito porreiro essa animação... e é impressionante ver a estrelinha a piscar na India e na China, e os EUA quase sempre encarnados...

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  19. Caro Ludwig,

    Ao menos desta vez estou em desacordo consigo!
    Não porque discorde do que escreveu em geral, e em particular quando salienta que a manipulação genética já é praticada pela humanidade à muitas gerações, se bem que normalmente de forma bem "artesanal"; ou que por todo a europa os ecossistemas há muito que são artificializados e completamente distintos dos precedentes à ocupação humana.

    Discordo por algo que voçê omitiu! O que lhe acho muito estranho face ao que acredito serem as suas capacidades em termos de cultura cientifica e verticalidade quando aborda um assunto

    Acontece que mesmo para as várias variedades de tomates, batatas, etc entretanto entroduzidas na europa, cada uma destas espécies em si preserva um razoável fundo genético que lhes premite responder às variações das condições ambientais, sejam estas interanuais e "estocásticas" ou tendências a longo prazo. Já a substituição de todas estas por uma única variedade geneticamente modificada para um rendimento máximo com as condições presentes, pode ser desastroso para o futuro caso as condições se alterem. Já agora, creio não ser necessário argumentar que no presente as condições se estão a alterar a um ritmo nunca antes visto.

    Exemplos prácticos podem ser vistos na etiópia quando a meio do século XX o governo resolveu acabar com a agricultura tradicional e substituir tudo por tabaco. Ou em muitas espécies vegetais australianas que produzem sementes especialmente adaptadas à seca e outras adaptadas às cheias. Todos os anos, umas morrem e as outras asseguram o sucesso reprodutivo da espécie. Mas se estas só produzissem sementes de uma variedade, Na primeira sequência de anos adversos era o fim da espécie!

    Agora pensemos que:

    90% da alimentação mundial é actualmente baseada no máximo numa dúzia de variedades ...

    estas variedades podem ser modificadas geneticamente no sentido do aumento substancial da produção para colmatar as necessidades da população humana; mas ao fazer-lo vai-se perder a diversidade genética que permite assegurar a continuidade dessas variedades caso o ambiente se altere

    Se tal acontecer, então os cerca de 90% da população humana arriscam-se a não ter o que comer

    Actualmente, grandes quantidades de alimento produzidas por variedades que não foram modificadas geneticamente em laboratorio já são produzidas e destruidas na Europa e E.U.A. por uma lógica de mercado e lucro

    Muitas destas variedades genéticamente modificadas funcionam na base da resistência a determinados pesticidades que destroiem todo o ecossistema menos os ogm's e as pragas que entretanto se tornaram resistentes

    quer os ogm's quer os pesticidades são desenvolvidos e comercializados por grandes multinacionais como a norte americana Monsanto

    Os agricultores pobres do 3º mundo veêm-se na obrigação de comprar ogm's e pesticidas a estas multinacionais. Cada par variedade/pesticida só é eficiente até a praga se tornar resistente, obrigando o agricultor do 3º mundo a comprar tudo de novo ao fim de alguns anos.

    Caro Ludwig, parece-me esta sua omissão intelectualmente tão desonesta quanto as argumentações dos criacionistas!

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  20. Caro Anónimo,

    Seria desonesto da minha parte não fossem os problemas que aponta completamente independentes da tecnologia.

    A capacidade de introduzir num organismo genes de outro em nada obriga a uma monocultura geneticamente pobre. O problema da perda de biodiversidade é muito mais antigo e ortogonal a esta tecnologia.

    De igual forma, problemas como o impacto económico das patentes sobre OGMs e do uso de variedades resistentes aos pesticidas são perpendiculares à tecnologia de recombinação genética.

    Que se acabe com as patentes sobre organismos. Que se restrinja o uso de herbicidas. Que se promova a biodiversidade, protegendo reservas naturais ou subsidiando a agricultura diversificada. Mas isso não tem nada a ver com pegar no gene de um organismo e colocá-lo noutro.

    O que acho desnonesto é apresentar estes problemas como sendo consequência inevitável do uso de transgénicos. Mesmo sem OMGs os agricultores pobres têm problemas pelo domínio das industrias e paises ricos, a biodiversidade está a desaparecer, e o uso de herbicidas danifica o ambiente e selecciona espécies resistentes.

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  21. Caro Ludwig,

    Claro que os problemas que eu enumerei já vêm de trás. Os transgénicos não os criaram ... mas agudizam-nos bastante!

    Fazendo uma comparação simplista:

    Fumar mata!
    Se eu tiver já cancro de pulmão não creio que fumar mais ainda seja um bom remédio!
    E se eu anteriormente nem fosse fumador, também não creio que seja correcto argumentar que fumar agora já não faz mal porque o cancro já lá está!

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  22. Caro Ludwig,

    Claro que os problemas que eu enumerei já vêm de trás. Os transgénicos não os criaram ... mas agudizam-nos bastante!

    Fazendo uma comparação simplista:

    Fumar mata!
    Se eu tiver já cancro de pulmão não creio que fumar mais ainda seja um bom remédio!
    E se eu anteriormente nem fosse fumador, também não creio que seja correcto argumentar que fumar agora já não faz mal porque o cancro já lá está!

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  23. Caro Anónimo,

    O importante é que nada desses problemas é consequência de inserir num organismo o gene de outro. São consequências de má legislação, mau planeamento, falta de incentivos, e assim por diante.

    Mas, no meio disto tudo, saber manipular os genes é uma grande vantagem. Não é por juntar a uma planta as melhores características de outra que se empobrece a biodiversidade, prejudica os agricultores ou aumenta a poluição por pesticidas. Todos esses problemas vêm de outros lados.

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  24. ncd:

    Sei pouco mais do que aquilo que está escrito no artigo citado, portanto não tenho melhores condições para esclarecer essas dúvidas.

    Por mim, achei importante avisar o Ludwig, e ele também parece ter achado o reparo relevante.

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