Deixar queimar o almoço.
Cada dia morrem à fome cerca de vinte e cinco mil pessoas. Mas graças à Swheat Scoop, milhares de gatinhos podem fazer um chichizinho confortável em grânulos de puro trigo.
Fica também a achega aos defensores dos bio-combustíveis. Vão encher o depósito com as refeições dos outros.
Os bio-combustíveis podem criar uma solução local para cada comunidade e melhorar a utilização da biomassa. Fermentar cereais produz etanol deixando um resíduo rico em proteína que pode ser usado para alimentar animais, por exemplo. Pode haver boas aplicações desta tecnologia. Mas canalizar a produção agrícola para os combustíveis é má ideia. A agricultura moderna consome imenso combustível nas máquinas e na síntese de adubos e pesticidas, por isso o ganho é quase nulo. E a agricultura é uma actividade comercial, por isso o bio-combustivel aumenta o preço da comida.
O preço do trigo, milho, carne e outros alimentos subiu 30% nos últimos dois anos, em parte pelas alterações do clima, em parte pela produção de bio-combustíveis. Até já inventaram um termo para esta subida de preço: agflation (1). Não é grave em países ricos onde apenas 10% do rendimento familiar é gasto em alimentação, mas é desastroso em países como a Índia e a China onde a família média gasta metade do rendimento em comida, e onde centenas de milhões de pessoas têm ainda menos dinheiro.
Vai ser difícil encontrar uma forma de vivermos todos de forma sustentável. Vamos ter que criar e usar novas tecnologias, mesmo com alguns riscos. Quando o avião está a cair temos que aceitar os riscos do pára-quedismo. Vamos ter que mudar de atitude. Andar menos de automóvel, comer mais vegetais e menos carne, consumir menos em geral.
Mas o primeiro passo, o mais importante, é fazer menos disparates.
1- Economist, 6-5-07, Nuns mug orphan!
Ludwig
ResponderEliminarConsumir menos??? Ha ha! Vais ganhar muitos amigos!
Eu tenho uma sugestão mais fixe: ser mais racional. Reutilizar... o que implica, claro, fabricar cenas que sejam reutilizáveis em primeiro lugar, o que já é o caso de muita coisa.
Acho os biocombustíveis uma boa ideia. Sempre fui, aliás, amiga do diesel (mesmo na altura dos motores ruidosos) porque sempre foram mais simpáticos nas emissões (excepto partículas, mas agora há filtros, ou seja, acabou o argumento das emissões de partículas), no consumo (e cada vez mais) e... se os do petróleo fecharem a torneira, não preciso de ficar a pé!
Mas tens toda a razão e eu já tinha dito em parte isso: temos que fazer produções localizadas de energia a nível das comunidades. Isto é um pouco como economia doméstica: ver onde se podem cortar custos fixos, o que se paga para fazer e o que se pode fazer.
Exemplo disso são os moinhos de vento/aerogeradores (já vou levar nas orelhas, porque há quem odeie aquelas coisas) em Melgaço. Como não consegui apanhá-los com a minha maquineta, depois digitalizo um panfletozinho jeitoso que lá apanhei.
Quanto a alimentar a China e a Índia... eles não consomem o mesmo milho que nós! Há que encontrar outros equilíbrios, mas este de queima de dinossauros mortos já era! Penso eu de que.
A Abobrinha tem razão!! A dizer frases dessa vais ganhar muitas amigas vais!!
ResponderEliminarHá sempre um senão, seja qual for a solução que se arranje relativamente aos combustiveis e as energias renovaveis...É necessário bom senso coisa que esses senhor fundamentalistas do ambiente não sabem o que é.
Consumir menos não é necessariamente viver pior. Passear pode ser melhor que andar de carro. Uma salada de vez em quando até sabe bem, não é preciso comer carne e peixe todos os dias. Comprar roupa quando a que temos fica velha, em vez de sempre que passa de moda (pois, esta é que me vai tirar as amigas ;)
ResponderEliminarSimplesmente comprar um garrafão de água de 5l em vez de cem garrafinhas de 0.5l faz uma diferença grande no consumo das embalagems.
A China e a India consomem o mesmo que nós. É um mercado mundial. Se compramos milho para combustível, é menos milho para rações. Quem produz animais vai comprar milho a outro lado, e assim por diante, até que os mais pobres ficam agarrados quando o milho que queriam comer custa mais que o dinheiro que têm.
As energias renováveis ajudam um pouco, mas muito pouco. E o bio-combustível é praticamente inutil. A menos que se tenha escravos ou gente na miséria a cortar cana de açúcar ou girassois praticamente à borla, tem que se cultivar tudo com tractores e lá se vai o combustível que se produziu. O bioálcool fáz sucesso no Brazil, mas não é necessariamente boa notícia para o pessoal que tem que trabalhar nas plantações de cana.
Enquanto não tivermos centrais de fusão nuclear vamos ter que poupar.
Ludwig
ResponderEliminarEu concordo contigo nessa de consumir menos e no passear (diz a mulher que fez 400 km sozinha este fim de semana). Escusas de estar a tentar converter o convertido. Por outra, amigos na mesma!
Não te esqueças ainda das células de combustível e outras. As energias renováveis são como um medicamento fraquinho: alivia, mas não cura. É mesmo só para um bocadinho! Por não serem muito eficientes agora não quer dizer que não o venham a ser. Ora é preciso (como nos automóveis antigos!) dar tempo e espaço a que melhorem!
Ludwig
ResponderEliminarNão te esqueças que há já geradores fotovoltaicos que podem alimentar uma moradia e (em certas condições) vender electricidade à rede. Isso não vai ser: já é! Hoje! Estás a ver aquela "the future is now"? Não tem nada a ver (é uma máxima idiota): now is now! Ou seja, isto já existe!
Eu queria instalar um aerogerador no meu prédio, mas os meus vizinhos são pouco sustentáveis. Vulgo, caloteiros! E estou em crer que não dão para reciclar! O aerogerador ia alimentar as lâmpadas mas nunca forneceria coisas como os extractores de ar da garagem ou os elevadores. De maneira que me fiquei pelas boas intenções!
Há dois problemas grandes com a energia. Um é o consumo ser muito variável. Há picos enormes quando chega toda a gente a casa do emprego, e armazenar energia com bom rendimento é difícil. Células, moinhos, e afins não servem muito para resolver isto.
ResponderEliminarO outro problema é a enorme quantidade de energia que consumimos sem notar. O automóvel não consome apenas quando anda, mas consome imenso a ser fabricado. O frigorífico, a televisão, as latas de refrigerante, as roupas, tudo isso consome imensa energia.
Até a comida. A agricultura consome combustíveis, depois os alimentos são processados com mais consumo, cozinhados (mais energia), congelados (mais energia) e depois, em casa, vão ao microondas (mais energia).
A longo prazo vamos precisar de uma fonte nova de energia, algo como fusão nuclear. A curto prazo temos que melhorar a eficiência, mas principalmente no consumo.
Ludwig
ResponderEliminarEssas coisas armazenam, como as outras. Mas claro que se gasta! E claro que há perdas em toda a cadeia de energia! Mas sempre se viveu com isso!
Se vires bem, as hidoreléctricas são fontes renováveis.
Não podes esperar pela fusão como solução para todos os males do mundo!
Outra incorrecção: as células de combustível não precisam de armazenar energia eléctrica porque a têm naturalmente armazenada como energia química. Problema: armazenar aquela história pode ser um problema muito bicudo. Explosivo mesmo!
Mas têm vantagens que não têm as renováveis (esta pode ou não ser renovável de acordo com a origem do hidrogénio): está sempre disponível. Não precisa de vento, caudais de água, sol... simplesmente de uma botijinha! Que não faça PUM, de preferência.
Ficas a saber que, para pequenas aplicações já têm utilização comercial (vou tentar arranjar o link). Para grandes utilizações também me parece que sim, mas é nos EUA e não estou disposta a jurar. Mas não são já o sonho teórico de uns totós: existem!
«Outra incorrecção: as células de combustível não precisam de armazenar energia eléctrica porque a têm naturalmente armazenada como energia química. Problema: armazenar aquela história pode ser um problema muito bicudo. Explosivo mesmo!»
ResponderEliminarSim, armazenar hidrogénio pode ser um problema. Mas eu estava a falar de células fotovoltaicas, e não fuel cells. Temos que produzir o hidrogénio primeiro, e isso consome energia. As fuel cells não são uma fonte de energia, são como as pilhas.
As fontes de energia renováveis são insuficientes para a quantidade que consumimos. Nos EUA são 6% da energia usada, mesmo incluindo nisto as hidroelétricas. 5.8% na Alemanha.
A longo prazo, a energia nuclear vai ser a única safa. Fissão, se conseguirmos eliminar os resíduos, ou fusão, se conseguirmos pôr isso a funcionar.
Ludwig!!
ResponderEliminarAcabou, nunca mais cá volto!!!
Agora fora de brincadeira, agradeciamos um post elucidativo sobre pros e contras da energia nuclear!
Como normalmente sou moderada acho que não vamos ter muitas saidas neste caso. Mas confesso que é uma ideia que me assusta e muito!!
Ludwig
ResponderEliminarProduzir hidrogénio PODE consumir energia. É um dos desafios dessa fonte de geração.
Não estou a ver qual seja o problema de as fuel cells/células de combustível serem como as pilhas.
Seja como for, trata-se de vários ciclos de energia e tem que dar rendimento, por que a quantidade de energia que sai daí tem que ser superior à gasta. Logicamente! Não estou a reinventar a roda.
Estou em crer que tu e o Mario Neta têm aí uma avença na fusão nuclear.
Abobrinha,
ResponderEliminarAqui, esbarramos com as leis da termodinâmica.
«Produzir energia» é um termo enganador. Não se produz energia; aproveita-se energia que já lá está.
Ou vais buscar hidrogénio a algum sítio, ou, se tens que o produzir, vais gastar mais energia que a que aproveitas.
Se produzes hidrogénio a partir da àgua e depois combinas o hidrogénio com oxigénio para formar àgua e fazer andar um motor ou produzir electricidade, o que aproveitas daí é necessariamente menos (e substancialmente menos) que a energia que gastaste inicialmente.
Bottom line: energia «renovável» é sempre dependente da fusão nuclear. Ou da que o Sol faz, que faz crescer plantas, andar o vento, etc, ou da que nós fazemos se conseguirmos encontrar o truque. O resto é pedir um empréstimo para pagar outro. Adiamos a colecta, mas pagamos sempre mais em juros.
Ludwig
ResponderEliminarÉs um teimoso! Ainda és pior que eu (eu ao menos sou capaz de vergar). E estou a ver que tens mesmo uma avença com essa cenas dos nucleares. Vou ter que te responder com números, mas isso vai demorar muito tempo (mais que o tempo útil deste post).
Ficas só a saber que estás enganado em relação à produção de biocombustíveis e que o hidrogénio tem várias fontes (já ouvi falar de bactérias, por exemplo. E ainda que (como tudo) o hidrogénio também não resolve os problemas todos da humanidade (mas acho que já disse isso várias vezes).
Só para não terminarmos zangados, ontem apanhei um resto de uma entrevista do Mário Crespo ao líder dos Verde Eufémia... e apeteceu-me dar um tiro à televisão. Contive-me, mas a custo! Mas que animal! E que mau aspecto!
Abobrinha,
ResponderEliminarZangado não fico (gasta energia... temos que poupar :)
As bactérias conheço bem, e mencionei-o no outro post sobre a energia nuclear. Mas é o mesmo problema: precisam de comer, ou seja, da agricultura. Petróleo outra vez.
E não estou a falar de todos os problemas da humanidade. Apenas de um: a dependência de combustíveis fósseis. Neste momento, a única fonte de energia alternativa é a nuclear. As outras ou são demasiado fracas ou dependem de combustiveis fósseis.
Jovem Krippahl
ResponderEliminarCOncordo com essa de estar zangado gastar energia. Ainda agora podia ter iluminado uma pequena cidade! Ainda se me fizesse emagrecer, mas não: para isso tenho que gastar energia de outra forma, que é pensar em maneiras de emagrecer e de vez em quando executá-las. Mas essa não é a questão essencial (mas é mesmo só para descomprimir).
Os combustíveis fósseis também terão lugar numa futura economia energética. Mas "um lugar" não é o mesmo que "praticamente o único lugar". E repito que há mais células de combustível além das baseadas em hidrogénio, mas de momento não te posso dar números nem mais nada (entre outras coisas porque continuo a descarregar energia... e a deitar fumo, como os aviões do Red Bull).
A história da fonte exclusiva de energia foi o que nos tramou em primeiro lugar! E não podemos propriamente esperar pela porra da fusão. Se queres um físico a despachar-te, vê o filme "O Santo", que tem 10 anos e em que a Elisabeth Shue (acho que é assim que se escreve) resolve "umas equações" em meia hora! Bora lá raptar a mulher, trazê-la Para Portugal, patentear aquelas "equações" e subjugar o mundo.
Há o pequeno pormenor de se ter produzido energia ao vivo e a cores na Praça Vermelha, Rússia, a partir de "umas equações", mas no meio de tanta treta até me pareceu perfeitamente razoável. Ou seja, o filme foi para lá de ruinzinho, mas esse foi o ano de filmes piores que maus, como "O paciente inglês". MAs estou a desviar-me de novo... na volta não sei o que estou já a dizer, pelo que é melhor voltar mais tarde
Abobrinha,
ResponderEliminarO problema também não é a dependência exclusiva. É pegar nesse carbono que está preso há milhões de anos e atirá-lo para o ar como CO2. Isso é disparate. Grande disparate se for muito, pequeno se for pouco, mas sempre disparate, porque nem queremos essa coisa na atmosfera nem deviamos queimar um material tão útil para tantas coisas.
O objectivo tem que ser deixar de usar combustiveis fósseis como fonte de energia. Quanto menos os usarmos mais podemos adiar esse objectivo, mas eventualmente vai ter que ser.
A minha opinião é que, pesando os prós e os contras, já é boa altura para investir em energia nuclear. Se queres números, vê a França, que produz 75% da sua electricidade com energia nuclear e exporta três mil milhões de euros de electricidade por ano. Ao que parece, já há trinta anos foi uma boa decisão.
Jovem Krippahl
ResponderEliminarEstranhamente, acho que será a economia a regular essa coisa dos combustíveis fósseis. E tens toda a razão: os combustíveis fósseis são preciosos demais para serem queimados assim por dá cá aquela palha. Tipo, para gajas com camisolas semi-pornográficas fazer 400 km para NÃO fazer rafting nocturno. Ele há cada uma, nãa achas? Gente de muito má índole!
Mas, jovem Krippahl, não podes queres tudo para ontem! Se bem que seria ideal (anteontem até não teria sido mal pensado). Infelizmente as alterações climáticas já não são muito discutíveis. Pessoas de boa índole gostaria de ter estado erradas ou serem altamente exageradas e alarmistas, mas não é o caso.
O que nos leva à captura do CO2 já libertado. Mas é melhor primeiro diminur as emissões!
Recordo-te que 10-20% de geração de energia por fontes renováveis é mesmo muito e tem (em princípio) potencial para aumentar!!! Agora faz as contas aos nossos 10%: é um bocadinho. E os 10% dos chineses? É mesmo muito! São muitos 100% nossos!!! Os números podem esconder mais números.
Só a nível informativo, à tarde consegui controlar as emissões de fumo de uma outra provocação mais grave um pedaço pela aplicação tópica de... pimenta. No traseiro do animal que teve a desfaçatez de me insultar. E de gelo na minha moleirinha. Há dias assim.