Treta da semana: pio, salpico e opúsculo.
No ano da graça de 2005, Duarte Pio de Bragança escreveu um opúsculo sobre a vida do nosso santo mais recente. Neste contou que «Quando passava de Tomar a caminho de Aljubarrota, a 13 de Agosto de 1385, D. Nuno foi atraído a Cova da Iria, onde, na companhia dos seus cavaleiros, viu os cavalos do exército ajoelhar, no mesmo local onde, 532 anos mais tarde, durante as conhecidas Aparições Marianas, Deus operou o Milagre do Sol». De rigor histórico duvidoso, este relato é ainda assim de um simbolismo intrigante.
A mensagem parece ser que os cavalos já sabiam onde se ia dar o milagre, cinco séculos antes da notícia chegar a uns jovens membros da espécie humana. Os cavaleiros, incluindo o Condestável, simplesmente pasmaram sem perceber o que se passava. Esta demonstração da superioridade teológica dos equídeos faz-me suspeitar que a senhora Guilhermina, sofrendo da maleita causada pelo salpico de óleo no olho, terá pegado numa figura do Condestável montado a cavalo e, inadvertidamente, amilagrado a vista com a parte inferior do boneco. Chamo por isso a atenção das autoridades eclesiásticas para a possibilidade de, no próximo dia 26, canonizarem o mamífero errado.
Deixado o aviso, passo ao que motivou este post. Na quarta-feira o Carlos Esperança escreveu sobre o opúsculo e Duarte de Bragança, concluindo com «Felizmente vivemos em República. Somos cidadãos e não súbditos. Quando nos cansamos dos titulares dos órgãos de soberania, votamos noutros. E ninguém, com juízo, votaria em quem acredita que Nuno Álvares curou o olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo de fritar peixe.»(2)
A principio surpreendeu-me a resposta dos defensores da monarquia. «Que raio de nome para quem se diz Ateu, pois para ter esperança há que ter fé». «Ainda não entendi como é que esta corja republicana ainda tira o chapéu à república». «não nos provoquem com textos denegrindo a imagem de S.A.R., O Senhor Dom Duarte Pio.» e assim por diante. Em mais de 70 comentários nenhum respondia à critica do Carlos. Que Duarte de Bragança não é um bom candidato a qualquer órgão de soberania. Nem sequer se inventarem um para ele.
É comum as discussões sobre política serem inconclusivas. Mas também é comum que cada parte tente apresentar uma razão minimamente coerente para rejeitar a pretensão da outra. É nisso, afinal, que assenta a política. Daí a minha surpresa inicial*. Mas, neste caso, o defeito é compreensível. Porque monarquia não é, nem jamais foi, uma opção política. Nunca teve de se justificar racionalmente perante formas alternativas de governo.
Quando se juntam pessoas alguma acaba por ser o chefe. E se continuam juntas vai querer que um dos seus filhos herde o poder. Com tribos nómadas era difícil controlar muita gente e as dinastias tendiam a ser de pouca duração. Mas, com a agricultura, e o sedentarismo possibilitou que famílias se alapassem ao poder durante muitas gerações antes que outras lho conseguissem arrancar. Eis a monarquia. Mais tomada de poder que forma de governo, nunca foi debatida nem escolhida como opção política. Simplesmente coagulou nas sociedades antigas e foi ficando, como a gordura na canja fria. E em alguns países permanece. Onde não é ditadura é só tradição, atracção turística ou simples espectáculo. O que também explica a sua afinidade por isto de santos e milagres.
* Que, admito, não foi grande, considerando os exemplares que passam por aqui.
1- “D. Nuno de Santa Maria - O Santo”, ACD Editores, 2005, via O Santo Contestável, por Carlos Fiolhais no De Rerum Natura.
2- Carlos Esperança, 23-3-09, O Sr. Duarte Pio e o opúsculo.
Também no século XX houve um que pretendia ser condestável e a primeira coisa que fazia todos os dias era encarregar o seu cavalo de pensar!...
ResponderEliminarO post do Esperança (não conhecia o blog...) teve sete dúzias dos mais impressionantes disparates. Não duvido que alguns desses disparatadores saltem para o teu canto em fúria.
ResponderEliminarIsto ainda aguenta? :)
Leandro,
ResponderEliminar«Não duvido que alguns desses disparatadores saltem para o teu canto em fúria.»
Não me parece que venham muitos aqui. Penso que foram lá tantos ao blog do Carlos Esperança porque ele é mais temido nesses círculos :) Nota que o post do Carlos Fiolhais não teve muitos comentários (só o da Sua Alteza Fictícia)
"Mais tomada de poder que forma de governo, nunca foi debatida nem escolhida como opção política. "
ResponderEliminarPudera, se tinha sempre o beneplácito do deus lá da freguesia ...
Cristy
Então não é, professor LK, que vossemecê tem razão!?
ResponderEliminarNa verdade, em questões de religião, será mais de considerar como ”racional” o comportamentos dos equinos do que dos ateístas.
Não é segredo que o gado cavalar tem qualidades que faltam ao comum dos ateístas. Brindou Deus os cavalos com grandes dotes? Reservou Deus para os ateístas uma pequena herança em termos de capacidades?
Não sei a resposta, mas sei que os animais se avaliam pelas qualidades do seu comportamento, dos seus actos, da sua capacidade de viver de uma forma válida, sã, activa e útil, onde as competências diferenciam os indivíduos. E, no mundo das propriedades individuais, é por isso, e pelo porte, se faz a distinções entre cavalos e burros…
As características de alguns animais sempre suplantaram as de alguns homens: a fidelidade dos caninos, por exemplo.
A religião, não nega isso. Os Homens capazes também reconhecem tal facto. Dai que existam cães, cavalos, pombos-correios, etc, que foram condecorados ao longo dos tempos, por valorosos, heróicos, notáveis e obstinamos serviços ao povo e à pátria.
Percebo agora que os ateístas ficam uns lamechas, reclamando com protestos plangentes e olhos toldados, um estatuto igual ao dos animais. Mas, pra isso têm que se igualar em qualidades.
Queixava-se o LK que no Presépio da terra dele estavam burros e vacas ao lado das figuras de invocação religiosa. Queria ele reclamar: “e porque não conceder aos ateístas esse papel!?”
Há animais que, em questões de religião, suplantam (de longe) alguns ateístas: lembro-me do sermão aos peixes.
Porém, podem os ateístas descansar que a Igreja respeita a ecologia e sobretudo, à ecologia humana. E, no plano das atitudes, lá virá o dia em que estes falsos ateístas (cristãos incapazes e de moral, influências e interesses duvidosos) regressam, contritos ao rebanho… lembro-me dum tal Flew.
Ora, pese embora o “tendencialismo obscuro”, o Esperança, membro da ala extremistas da nefanda progénie dos ICAR (Insolente e Contraculturais Ateus Republicanos) e e taberneiro-mor do gang da tasca ateísta de Lisboa, não tem razão!
INfelizmente vivemos em república – o sistema político que gerou (deixou germinar e crescer) as ditaduras totalitaristas modernas, tardou em livrar-se delas, e deixou-as degenerar em falsas democracias. Aliás, hoje as democracias mais não são do que sistemas onde as pessoas podem escolher os seus ditadores (dentro de um conjunto de ilegíveis muito restrito).
Todos (o povo, como eu) sempre fomos e seremos súbditos (hoje, obedientes à força).
Eu próprio (que não voto mesmo), não votaria num palerma que dissesse que beato Nuno Alvares cura alguém.
Votaria em alguém que dissesse que Deus curou alguém por intermédio do Beato Nuno Alvares.
Também não votaria num palerma “psico-diminuido” que negasse a desistência de Deus.
Eu, estou cansado dos juízes que são demasiado brandos. Srs republicanos, sendo os tribunais órgãos de soberania , façam o favor de me dizer como se substituem.
Estou cansado dos ministros que são mentiroso impunes, façam o favor de me dizer como se faz para os substituir apor aqueles que tem capacidade e sérios, já, neste momento.? Como se escolhem? Quando? Onde?
Este governo deve ser posto já (hoje mesmo na rua) e nunca mais deve lá voltar) digam-me como se faz, eu vou já lá e tenho a secundar-me, milhões de portugueses.
Ou será a palermice dos ateístas, membros da “loja” da javardice universal que se preocupam com o facto de não poderem corromper os monarcas?
Ou serão os ateístas que não conseguem penetrar a sólida cultura em que são educados os monarcas, o que os assusta e representa uma barreira à imbecilidade das suas ideias desagregadoras e socialmente perigosas (e condenáveis)?
"Este governo deve ser posto já (hoje mesmo na rua) e nunca mais deve lá voltar) digam-me como se faz, eu vou já lá e tenho a secundar-me, milhões de portugueses."
ResponderEliminarPodes rezar. Curar alguém através de um cavaleiro faz tanto sentido como depor um governo através de um mongodebilóide homofóbico monárquico, portanto acho que é de tentar. Dá-lhe Zeca!
Off topic
ResponderEliminarNo Texas a teoria da evolução é "só uma teoria".
Zeca:
ResponderEliminar"Este governo deve ser posto já (hoje mesmo na rua) e nunca mais deve lá voltar) digam-me como se faz"
Por exemplo, na "Merdarquia" não se pode fazer (coloca-los no olho da rua).
E já agora Zeca, grande ignorante, é canídeo e não canino. És um desastre, nem para palhaço serves.
Kripp:
ResponderEliminarEu não invoco favores divinos sobre merdas nojentas. Meter Deus no lodaçal da política, seria insultar a divindade.
Toma lá fesquinho:
Canino; adj. de cão; relativo a cão (…) fig. maligno
Canídeos ou cânidas; s. m. pl. Família de mamíferos da ordem dos carnívoros, fissipedes…
Ou seja quem está errado é vossa esperteza-mor.
Se eu tivesse dito Canídeo, referia-me ao animal em si e não ao seu comportamento. Ainda por cima, se dissesse canídeo podia estar a falar de outro animal que não o cão – por exemplo de uma raposa.
Mas esta discussão não em relevância, para este caso.
O certo é que não sabe nada de “partidocracia pseudo-democrata”, muito menos de monarquia.
Mesmo assim, até gostei da sua observação, dá um certo ar de elegância a este blog!!!
Zeca:
ResponderEliminarMas continua a ser válido que:
Por exemplo, na "Merdarquia" não se pode fazer (coloca-los no olho da rua). Ou queres dizer que pode?
E tu continuas a ser uma cavalgadura.m
"Eu não invoco favores divinos sobre merdas nojentas. Meter Deus no lodaçal da política, seria insultar a divindade."
ResponderEliminarMas Deus parece não ter problema nenhum em se meter em questões de saúde pública, sexualidade, e tudo e mais alguma coisa. Com certeza que não se importaria de meter o bedelho na política. Afinal não é para isso que serve o seu Pastor Alemão?
Kripp:
ResponderEliminarNem de propósito, como acabei de publicar um post no meu blog, passei pelo Portal anti-ateista e vi que o HH também tinha publicado um excelente post (enviado por um associado), dando razão ao Papa, na questão do preservativo .
http://anti-ateismo.blogspot.com/2009/03/afinal-o-papa-pode-ter-razao.html
Deus está a cima de todas estas coisas, independentemente do que pensa o Kripp de cara virada para o lado do cu. Alias, Ele que o marcou, algum erro lhe achou!
No que respeita ao Papa, que é o Pastor da Igreja e é Alemão, trata-se efectivamente de um chefe de estado que, pondo de parte a sua função religiosa, tem a mesma dignidade de qualquer outro.
Quanto a si, ficara com a dignidade do “cão de pastor alemão” (é exactamente assim que a raça se chama). E, se quiser saber porque acho que a sua dignidade está comprometida com o dito cão, passe pelo meu blog e veja o último post. Não tenho interesse nenhum em tê-lo como visita… e comentar, nem sonhe – lá quem manda sou eu.
Ena, o Zequinha até ameaça eliminar comentários, uuuuiii ca mau que a cavalgadura é. E ainda no outro dia referia que o LK eliminava comentários em tom depreciativo. Que pulha.
ResponderEliminarBruno,
ResponderEliminaro Zéquinha tem toda a razão: não há motivo nenhum para insultar os pobres bicos com comparações despropositadas.
Cristy
correcção: «bichos»
ResponderEliminarCristy
Realmente a Cristy tem razão:
ResponderEliminar"Comparar um cão de pastor alemão com o Kripp, é uma forma depreciativa de tratar os bichos..." - disse a Cristy e eu não a vou contrariar.
Zeca
ResponderEliminar"Deus está a cima de todas estas coisas, independentemente do que pensa o Kripp de cara virada para o lado do cu. Alias, Ele que o marcou, algum erro lhe achou!"
Aí enganas-te. Deus tem a mania pretensiosa de avaliar o seu próprio trabalho, e de ficar maravilhado consigo mesmo por ser tão talentoso.
Disse Deus: haja luz. E houve luz. Viu Deus que a luz era boa;
Por isso não irá com certeza encontrar defeitos em nenhuma das suas criações, por mais merdosa que seja. Pode é culpar outros pela merda que faz, o que parece ser a solução preferida.
Kripp:
ResponderEliminarNão te escames!!!
Nós (como não somos Deus omnisciente) só conseguimos saber o que é bom se existir algo de mau para contrapor.
Para sabermos dar valor à nossa "normalidade", tem que haver algumas aberrações, tipo os Kripphal que por qui se manifestam!