Treta da Semana: Reforma Educativa.
O nosso sistema educativo precisa de melhorias. Não é de estranhar. Melhorias são sempre bem vindas. E, infelizmente, também não é de estranhar que os políticos identifiquem incorrectamente o problema e depois implementem mal a solução errada. O sintoma mais saliente é a avaliação dos professores. Os avaliadores são os mais velhos, muitas vezes com cargos administrativos e menos formação que os avaliados. As classificações mais altas têm quotas; numa escola com poucos professores de uma disciplina nenhum pode ser excelente. Por lei, e não por falta de mérito. E para essas quotas os avaliadores competem com os avaliados. Depois são todos comparados ao nível nacional quando cada um foi avaliado pelos critérios da sua escola. Uma melhoria óbvia a este sistema seria usar as bolinhas do bingo. A correlação entre pontuação e mérito era a mesma e poupava-se uma carga de trabalho.
Mas isto é só um sintoma. O problema começa no diagnóstico. No ensino público os alunos têm más notas. Piores, em média, que nas escolas privadas que escolhem os melhores alunos. E isto, para muitos, é um grande problema. É como as pessoas nas urgências dos hospitais públicos terem menos saúde que os pacientes das clínicas privadas. Terrível. Há que avaliar os médicos escolhendo avaliadores ao acaso (e um critério para cada hospital) e dar cheques saúde para quem for atropelado poder fazer um lifting na Corporación Dermoestética.
Mas o maior defeito desta reforma é desresponsabilizar o elemento mais importante do sistema de ensino. Os pais. Ao contrário do que muitos julgam, “encarregado de educação” não é um mero título honorífico. Designa correctamente o responsável pela educação das crianças. As escolas, os professores, os livros e o Magalhães são apenas recursos que a sociedade disponibiliza aos pais. Mas é aos pais que compete preparar os filhos para usar estes recursos.
Todo o meu percurso académico foi no ensino público. Tive bons professores e tive maus professores. Tive uma professora de biologia que ensinava que os animais no Árctico são brancos para reflectir a luz e manter baixa a temperatura ambiente. Essa incompetência deve ser combatida mas, mesmo nesse extremo, faz pouca diferença. Quem passou por escolas mais problemáticas sabe que o sucesso ou fracasso depende quase totalmente do ambiente familiar. Quem tem uma família que valoriza o estudo e condições para estudar safa-se bem mesmo com professores incompetentes. E a quem não tem essas condições não há professor que valha.
A maior treta, e a maior desgraça, desta reforma do ensino é a mensagem que dá aos pais. É popular. Os pais preferem que lhes digam que a culpa é dos professores do que lhes digam a verdade. Que o filho chumbou porque é preguiçoso, mal criado e só tem maus exemplos em casa. E dá votos. Há muito mais pais que professores. Mas reforça a ideia que o responsável por educar as crianças é o estado e que aos pais compete apenas levar os meninos à escola e dizer mal dos professores que reprovem algum.
Os pais que não preparam os filhos para aprender desperdiçam os recursos que o estado lhes oferece, obrigam os professores a dedicar a maior parte do tempo a crianças mal educadas e prejudicam os filhos dos outros. E enquanto os pais não se sentirem responsáveis pela educação dos seus filhos o ensino não vai melhorar.
«Há que avaliar os médicos escolhendo avaliadores ao acaso (e um critério para cada hospital) e dar cheques saúde para quem for atropelado poder fazer um lifting na Corporación Dermoestética.»
ResponderEliminarComo?!
Anónimo:
ResponderEliminarEra sarcasmo.
Ludwig:
Não sei se concordo com a mensagem essencial deste texto. Quer dizer, posso aceitar que o ambiente familiar tenha um peso maior do que o ambiente escolar no sucesso académico das crianças (se bem que Steven Pinker tenha uma argumentação sólida defendendo que o ambiente familiar tem um peso quase nulo na formação das pessoas. Contra-intuitivo e bizarro, mas bem fundamentado, tanto quanto soube), mas o estado tem pouco poder para mudar as famílias e os valores.
Cabe-lhe principalmente fazer com que a escola cumpra o seu papel o melhor possível.
Escrevi sobre os méritos e falhas deste sistema de avaliação no Esquerda Republicana ( http://esquerda-republicana.blogspot.com/2008/11/os-professores.html ), e não creio que a existência de cotas seja uma delas.
Na universidade o número de professores catedráticos também é limitado. Se houvesse um acesso sem restrições aos lugares de topo, a avaliação provavelmente seria inútil. E creio que a ideia de avaliar professores em si é uma excelente ideia que, juntamente com outras medidas, já aumentou a assiduidade dos professores significativamente.
«Na universidade o número de professores catedráticos também é limitado. Se houvesse um acesso sem restrições aos lugares de topo, a avaliação provavelmente seria inútil.»
ResponderEliminarO facto de o número de professores catedráticos ser limitado é apontado por Michael Athans, professor do MIT e durante 3 anos (salvo erro) visiting professor no IST, como uma das razões da mediocridade da investigação em Portugal:
«
Promote faculty according to a fixed schedule, with tough but fair criteria of
excellence, and establish multiple professorial ranks to reward excellence in research and teaching
[ ... ]
The biggest disincentive, especially for young Portuguese faculty members, is the fact
that promotions are based on “openings” rather than merit, and not according to an
established timetable. I believe that there are too few full professors and too many
assistant professors in the current Portuguese university system. Figure 1 illustrates this
point, showing that in typical US research universities the “academic pyramid” is
inverted.»
É instrutivo olhar para o desenho que ilustra e compara o número de professores catedráticos («full professors» em inglês) no MIT e IST, na página 10.
O documento pode ser consultado aqui -> http://www.math.ist.utl.pt/~jpnunes/PORTUG-RES-mathans.pdf
O autor explica porque é que o sistema de lugares limitados nas universidades está errado, e apesar de universidades e escolas secundárias serem meios muito diferentes, se o mesmo sistema for implementado nestas últimas, estará errado pelas mesmas razões: não dá incentivos para melhorar o trabalho desempenhado. Muito pelo contrário.
Óscar:
ResponderEliminarNas universidades dos EUA e nas empresas em todo o mundo, só para dar alguns exemplos abrangentes, o número de lugares de topo é limitado.
Para entender em que medida é que digo que os lugares de topo também são limitados nestes sítios, interessa citar parte daquilo que escrevi no texto que referi no meu comentário anterior:
«Os lugares de topo não precisariam de ser fixos por escola, mas o seu acesso teria de ser sempre de tal forma restrito que na prática só uma percentagem reduzida dos professores lhe pudesse aceder.»
João Vasco,
ResponderEliminar«se bem que Steven Pinker tenha uma argumentação sólida defendendo que o ambiente familiar tem um peso quase nulo na formação das pessoas.»
Acho que estás a confundir a formação com a personalidade.
«o estado tem pouco poder para mudar as famílias e os valores.»
Pode ser. Mas tem o poder de ser honesto e dizer-lhes "isto é principalmente culpa vossa". Ou, em alternativa, ser populista e dizer "pois, coitaditos dos vossos filhos, são os professores que não os educam". E essa escolha tem um impacto significativo na sociedade e na forma como o ensino (não) funciona.
« E creio que a ideia de avaliar professores em si é uma excelente ideia»
Não sei... estou a pensar na avaliação pelos pares que competem para os mesmos lugares, e não me parece boa ideia em que profissão for.
Além disso, tens o problema de ter cerca de 140 mil professores e, em cada ano, ficarem 10-20 mil de fora nos concursos. Mesmo que as avaliações funcionem e permitam tirar de lá uns para pôr outros o efeito vai ser irrisório.
A avaliação só é boa ideia quando é bem feita (senão é perda de tempo) e quando há a possibilidade de substituir os maus por outros melhores (senão não adianta de nada).
João Vasco,
ResponderEliminarAcho que estás a confundir os lugares de topo tipo gerência, generais ou CEOs com os lugares de topo numa carreira como a de professor. Nesta última estar no topo não exige ter gente por baixo em quem mandar. Apenas quer dizer que o seu desempenho foi reconhecido e que agora assume certas responsabilidades, etc.
Um exército não pode ter só generais. Mas uma universidade pode ter uma grande percentagem de catedráticos, desde que o mereçam.
João:
ResponderEliminarChegar ao topo da carreira de professor não é como chegar a CEO de uma empresa: no último caso só pode haver um, mas no primeiro caso não.
O sistema "antigo" eram progressões automáticas; substituir isto por um sistema baseado em avaliações até poderia estar correcto (ver mais abaixo), mas substituir o sistema existente por um em que professor, por muito mérito que tenha nunca chegará ao topo da carreira está fundamentalmente errado. É essencialmente uma medida de contenção de custos e cujo único (e negativo) impacto no sistema de ensino será via o descontentamento da classe docente.
Quanto ás avaliações propriamente ditas, aqui existe um problema no sistema de ensino que não existe por exemplo numa empresa. Numa empresa, trabalham todos com o objectivo de aumentar o lucro da empresa, e isto da um critério (que pode não ser único) para a avaliação de desempenho. No ensino (secundário) não existe um critério análogo: as notas atribuídas não serve, porque apesar de ser um critério objectivo, incentiva-se a atribuição de melhores notas mesmo que os alunos não as mereçam. E depois ainda há o problema de os avaliadores concorrem aos mesmos lugares dos avaliados... Por isso concordo com o Ludwig:
«A avaliação só é boa ideia quando é bem feita (senão é perda de tempo) e quando há a possibilidade de substituir os maus por outros melhores (senão não adianta de nada).»
Excepção feita à ministra da educação, acho que toda a gente já percebeu que este modelo de avaliação não cumpre qualquer uma dessas duas condições.
Òscar e Ludwig:
ResponderEliminar«Mas uma universidade pode ter uma grande percentagem de catedráticos, desde que o mereçam.»
Ok.
Estive a ler melhor o texto, e parece que pelo menos é isso que acontece no caso do MIT.
Imaginaria que isso dificilmente poderia funcionar bem, mas pelos vistos estava enganado.
Ainda assim, mantém-se a necessidade de existir avaliação, que apesar de tudo não pode ser excessivamente permissiva.
Eu realmente gostaria que estivessem a ser discutidas diferentes formas de avaliação.
Muitos professres dizem que o problema não é a avaliação, mas sim ESTA avaliação. Eu gostaria que a discussão pública reflectisse esta posição, e que realmente estivessem em discussão várias propostas sérias alternativas.
Oscar:
ResponderEliminar«Quanto ás avaliações propriamente ditas, aqui existe um problema no sistema de ensino que não existe por exemplo numa empresa. Numa empresa, trabalham todos com o objectivo de aumentar o lucro da empresa, e isto da um critério (que pode não ser único) para a avaliação de desempenho. No ensino (secundário) não existe um critério análogo: as notas atribuídas não serve, porque apesar de ser um critério objectivo, incentiva-se a atribuição de melhores notas mesmo que os alunos não as mereçam.»
Existem realmente estes problemas. Mas deles suponho que não se deve concluir que as progressões automáticas são a solução.
Nesse caso, como ultrapassar esse problema?
Ludwig:
ResponderEliminarA formação tem um enorme impacto na personalidade de um indivíduo. Algo que não influencia a significativamente personalidade dificilmente poderá influenciar significativamente a formação.
João:
ResponderEliminarSe eu tivesse a solução, ou mesmo uma proposta de solução, já a tinha dito :)
Concordo que uma avaliação justa e rigorosa seria melhor do que progressões automáticas, mas enquanto não se encontra uma, a atitude certa seria admitir que não se tem a solução, e continuar a procurar uma. Pelo menos essa seria a atitude certa se o objectivo fosse realmente melhorar o sistema de ensino!
Mas como do que se trata aqui é de conter custos, dê lá por onde der, então limita-se o número de pessoas que podem aceder a uma melhor remuneração, vende-se isto como uma reforma necessária para melhorar a "educação", and presto: a educação fica tão mal ou pior do que como está agora, mas o estado poupa alguns trocos....
Resumindo, acho que das duas uma: ou se devia deixar a coisa como estava, e procurar novas (e melhores) formas de avaliação, ou então assumir que se vai cortar nos salários porque não há dinheiro para todos, e arcar com as consequências dessa decisão. Agora conter custos e disfarçar isso como "reforma para melhorar o ensino" é que é inaceitável.
Ludwig:
ResponderEliminarSem querer desreponsabilizar os pais, que sao os culpados do estado do ensino por ignorancia e negligencia, acho que tem de haver uma maneira de incentivar os professores a serem bons e a reconhecer os que assim agirem. Por outro lado tem de haver uma maneira de afastar os maus professores do ensino. Que são aos magotes.
"Nas universidades dos EUA e nas empresas em todo o mundo, só para dar alguns exemplos abrangentes, o número de lugares de topo é limitado."
ResponderEliminarNas empresas os lugares de topo são limitados mas as avaliações não.
Por exemplo, trabalhei muitos anos na Accenture e noutras empresas do género. A avaliação era séria. Tinhas a avaliação que merecias e ponto final. Claro que nem todos podem ser Managers mas se foste avaliado no equivalente a excelente (é muito mais complicado que isto - tadinhos dos professores tanto trabalho dá a avaliação - eu dizia-lhes como era se trabalhassem para mim) és sempre aumentado não vás tu para a concorrência. Se não te promovem explicam porquê. Por exemplo, porque o Zé Manel vendeu mais um milhão que tu ou o Zé Carlos resolveu um tema técnico que se não resolvido punha em causa a relação com o cliente e resolve sempre estas questões sem espinhas.
Nas 3 maiores empresas onde trabalhei, duas multinacionais americanas e uma gigante nacional, todas recompensavam as boas avaliações apesar dos lugares de topo serem limitados. E as americanas compensavam e MUITO bem ($$$ aumentos, prémios, acções) as boas avaliações.
Uma avaliação não pode estar condicionada. Nesse ponto (e não só) dou total razão aos profs.
Agora no tema da avaliação dar muito trabalho e tal… ui! Condessas.
João Vasco,
ResponderEliminarEu concordo que haja avaliação para progressão na carreira. Mas deve ser por critérios objectivos e não pelo juízo subjectivo dos pares que competem para os mesmos lugares limitados. Mas nota que o objectivo principal deste método não é melhorar a educação mas sim poupar dinheiro ao estado travando a progressão na carreira destes 140 mil funcionários públicos. Se o estado recompensa os melhores gasta muito mais dinheiro com a educação.
Quanto ao efeito das famílias, um exemplo é este estudo sobre os alunos que desistem da escola antes de acabar o liceu:
«A stable home environment
and access to social and
financial resources strongly
influence the likelihood
that a student will graduate.»
Quanto aos resultados que o Pinker menciona, referem-se à hereditariedade de traços gerais de comportamento mas não a coisas específicas como se chumba ou passa à matemática do nono ano.
João,
ResponderEliminar«acho que tem de haver uma maneira de incentivar os professores a serem bons e a reconhecer os que assim agirem.»
A maneira de incentivar a excelência em qualquer profissão é recompensando, nomeadamente no salário, os profissionais que sejam excelentes. Isso não é possível no sistema que temos porque não se pode dar mais dinheiro aos professores melhores, nem mais férias, nem mais regalias.
O sistema que está a ser proposto é o contrário. É colocar entraves burocráticos arbitrários ao progresso na carreira desmotivando toda a profissão e afectando o desempenho dos professores.
«Por outro lado tem de haver uma maneira de afastar os maus professores do ensino. Que são aos magotes.»
Isso não me parece possível. Há 140 mil contratados de uma população total de talvez 160 mil candidatos. Por muitas voltas que dês a substituir não vais melhorar muito. A menos que se melhore as condições de forma a atrair mais (e melhores) candidatos.
Além disso o processo de selecção dos candidatos é mais objectivo e fiável que o método de avaliação proposto. Que nem sequer leva a despedimentos...
«Mas nota que o objectivo principal deste método não é melhorar a educação mas sim poupar dinheiro ao estado travando a progressão na carreira destes 140 mil funcionários públicos»
ResponderEliminarEssa é a alegação dos detractores da reforma, não aceite pelos proponentes da mesma. Não é esta alegação que eu desminto ou afirmo, ou que quero discutir.
«Eu concordo que haja avaliação para progressão na carreira. Mas deve ser por critérios objectivos e não pelo juízo subjectivo dos pares que competem para os mesmos lugares limitados. »
Isto é o que eu gostasria que tivesse em discussão. Porque é que em cima da mesa está ESTE métodos de avaliação ou nenhum? Assim dou razão aos proponentes deste, que estão a pôr como ponto de partida a existência de um método de avaliação. Os detractores afirmam que o problema é com ESTE método de avaliação, e não com a avaliação em geral. Não tenho razão nenhuma para não lhes dar razão - gostaria de estar com eles - mas só o farei quando estiver em cima da mesa uma proposta alternativa que seja melhor que esta. E se esta é tão má, não deve ser difícil.
Para mim, se há coisa que parece clara é que o sistema antigo tinha de ser mudado. E se não fosse, todos teríamos razão para dizer mal da ministra. Ela agora muda para um sistema de avaliação pior que o bingo? Bato palmas e espero que depois o sistema mude, pois pelo menos agora há avaliação, e isso vai encorajar os agentes sociais a quererem melhorá-la.
Claro que o melhor eras perder menos tempo e ter já um bom sistema de avaliação. Mas porque é que esses sistemas não estão em discussão? Alguns detractores falam naquilo que acontece noutros países da Europa. Falam no sistema de avaliação Inglês, ou Belga, ou o que for, não sei. Para mim esta é a forma mais séria de contestar este sistema, mas lamento que isto não passe de "conversa" - os representantes dos professores não põem esses sistemas em cima da mesa, não discutem alternaticas sérias, quando podiam fazê-lo e ganhar toda a razão.
Certamente que há muitos professores que querem ser avaliados com um bom sistema, agora só falta ser consequente face a essa vontade.
Mama eu quero,
ResponderEliminarsendo eu casado com uma professora do ensino secundário, apenas posso atestar que é verdade que o processo de avaliação, nos moldes em que estava, não traria nada de bom. Para além de ver a minha mulher trabalhar noites a fio e fins-de-semana em merdas/burocracias que não interessam minimamente, para um sistema que é inerentemente injusto. Nada disto acontecia há dois anos, e nota-se claramente na sua qualidade de vida e reflecte-se também na qualidade do ensino.
Que a avaliação incida só sobre os méritos de um professor, aí toda a gente concorda.
Mas dou-te um exemplo: para um professor não ser penalizado na avaliação, a taxa de aprovação de uma turma não pode diminuir de um ano para o outro. Uma das turmas dela teve uma taxa de aprovação de 94% o ano passado. Este ano, dos 22 alunos dessa turma que iniciaram o ano lectivo, 3 mudaram de escola e 1 desistiu da cadeira. Logo, a taxa de aprovação máxima só pode ser agora de 18/22 = 86%. Ou seja, por um factor completamente externo ao desempenho e valor da minha mulher, ela será penalizada.
Outro exemplo: no ano lectivo passado ela teve uma semana de formação para professores de castelhano em Compostela, numa acção promovida pelo próprio Ministério da Educação, que telefonou às escolas a pedir para "libertarem" os professores para poderem assistir a este curso.
Quando chegou à avaliação do ano passado, esta formação foi contabilizada como 5 dias de faltas e como tal foi impedida de obter a classificação de "Muito Bom" - ficou só com "Bom". Se o próprio Ministério faz estas merdas...
Decerto existirão, como este, vários casos de injustiça e estupidez administrativa. Daí o extremado descontentamento da classe.
João Vasco,
ResponderEliminar«Não é esta alegação que eu desminto ou afirmo, ou que quero discutir.»
Se não queres considerar os objectivos do ministério não vais compreender porque é este sistema de avaliação proposto e não outro... Este sistema de avaliação visa poupar dinheiro ao estado e não melhorar o sistema de ensino.
Em qualquer empresa a avaliação serve para incentivar o desempenho premiando os melhores profissionais. Para a empresa isto é um bom investimento porque esse desempenho dá um retorno à empresa maior que o prémio que dá. Uma empresa que implemente um sistema de avaliação como este dos professores rapidamente vai à falência porque é um desincentivo para todos.
O ministério da educação teria esse problema se os pais se preocupassem com a educação. Os pais que estejam por dentro do processo, que estejam atentos à educação dos filhos e que se responsabilizem pela sua parte verão que este sistema também não os beneficia.
Mas o ME aproveita e reforça a falta de responsabilidade paternal, ajudando os pais a distanciar-se do processo. Pode assim enganá-los mais facilmente reduzindo o investimento no ensino, reduzindo a qualidade do ensino e dando a sensação que estão a fazer uma coisa excelente.
É um dos problemas da democracia. Uma das formas de dar às pessoas o que elas julgam que querem é controlar o que elas julgam.
João Vasco,
ResponderEliminar«Para mim, se há coisa que parece clara é que o sistema antigo tinha de ser mudado.»
Uma coisa que está má deve ser mudada. Mas só se for para melhor. Se for para pior é melhor deixar como está :)
««Para mim, se há coisa que parece clara é que o sistema antigo tinha de ser mudado.»
ResponderEliminarUma coisa que está má deve ser mudada. Mas só se for para melhor. Se for para pior é melhor deixar como está :) »
Há dois problemas com esta tese:
1- Se é complicado avaliar se uma mudança é positiva ou negativa, mas sabe-se que a situação anterior é insustentável, então ou existem mudanças alternativas em cima da mesa, ou essa mudança deve fazer-se.
2- Esta reforma não será definitiva. Mas se, entre os diferentes aspectos que vem alterar, quando for renegociada já estiver em cima da mesa que a avaliação tem de acontecer, já será uma vitória.
A situação anterior era insustentável. O ministério tem interesse em poupar dinherio e propõe isto. Porque é que não existem contra-propostas sérias em discussão?
Nota bem isto, eu não estou a defender os méritos desta reforma. Haverá quem esteja, mas eu acho que existem vários pontos maus - tenho isso bem escrito no texto que referi a cima.
Aquilo que estou a defender é que não se percebe porque é que os detractores não apresentam alternativas. Se esta reforma for para a frente, certamente que elas acabarão por aparecer dentro de uns anos (ou menos), quando estiver fora de questão voltar às progressões automáticas. Aí iremos discutir - espero - reformas com pés e cabeça.
Claro que era bom poupar tempo e fazer isso JÁ, mas aquilo que me queixo é que nenhum interveniente no processo as apresenta.
Não concordas que isso não faz sentido?
João Vasco,
ResponderEliminar«1- Se é complicado avaliar se uma mudança é positiva ou negativa, mas sabe-se que a situação anterior é insustentável, então ou existem mudanças alternativas em cima da mesa, ou essa mudança deve fazer-se.»
Sim... o pessoal da medicina alternativa diz o mesmo :)
João Vasco,
ResponderEliminar«Porque é que não existem contra-propostas sérias em discussão?»
Penso que porque para haver discussão têm que estar ambos os lados interessados em discutir.
Nota que os critérios da avaliação dos candidatos que concorrem para os lugares de professor são bastante objectivos. Coisas como a média do curso, dias de serviço nos últimos anos, notas em formação adicional, etc.
Devias começar por perguntar porque é que o ministério propõem para avaliação dos professores critérios e procedimentos que não têm nada a ver com a avaliação dos candidatos a professor... Isso dá-te uma dica porque é que "não há" outras propostas em discussão.
Ludwig:
ResponderEliminarIsso dá-me uma pista sobre porque é que o ministério não os apresenta. Não me dá uma pista sobre porque é que não há.
Em democracia não existe só o governo, existem os chamados "parceiros sociais".
Se esta reforma é tão má - e não é isso que disputo - deveria ser fácil apresentar uma proposta melhor. Porque é que ela não é apresentada por ninguém?
"A maneira de incentivar a excelência em qualquer profissão é recompensando, nomeadamente no salário, os profissionais que sejam excelentes. Isso não é possível no sistema que temos porque não se pode dar mais dinheiro aos professores melhores, nem mais férias, nem mais regalias."
ResponderEliminarTalvez isso tenha de mudar não?
Que tal mais investimento do estado nos professores de modo a que cada escola tenha de ter um conselho pedagogico de professores (Muito bons), pagos extra para o caso?
Metodos de avaliação não deverá ser o problema. Desde que haja exames finais iguais para todo o pais e feitos em escolas diferentes ( nos estados unidos houve fraudes de professores que para não descerem no ranking deram os resultados àos seus alunos). Por cada aluno que sobe as notas ganha pontos. Por cada aluno que desce as notas perde pontos. A formula em si pode ter variantes mas a base deve ser esta.
João Vasco:
ResponderEliminar«1- Se é complicado avaliar se uma mudança é positiva ou negativa, mas sabe-se que a situação anterior é insustentável, então ou existem mudanças alternativas em cima da mesa, ou essa mudança deve fazer-se.»
Ludwig:
"Sim... o pessoal da medicina alternativa diz o mesmo :)"
Certo Ludwig, mas defendes a experimentação ou não? Se uma teoria não dá resultados não continuas a insistir e experimentas outra coisa ou não?
Eu concordo em absoluto com o João Vasco de que ainda não se viu um discussão séria deste assunto por parte dos representantes dos professores.
Não posso concordar com a manutenção deste sistema com progressões automáticas pois é o meu dinheiro que está a ser gasto e não havendo alternativa melhor prefiro a alternativa igualmente má (segundo alguns) mas mais barata.
Nuno
Nuno,
ResponderEliminar«Eu concordo em absoluto com o João Vasco de que ainda não se viu um discussão séria deste assunto por parte dos representantes dos professores.»
Porque quem está encarregue de o fazer não são os professores. Não há procedimentos estabelecidos para os professores decidirem como reformar o sistema de ensino, tal como não ha um sistema para os médicos decidirem como restruturar os serviços de saúde ou os investigadores decidirem o orçamento para a inovação científica e tecnológica. Essas coisas estão a cargo dos políticos.
O que houve foi, desde o inicio, uma forte oposição a esta proposta concreta da ministra da educação, oposição que a ministra ignorou.
É verdade que os 140,000 professores não têm um projecto consensual e detalhado para restruturar o sistema de ensino. Mas não me parece razoável exigir que o tenham.
O que é razoável é exigir do ministério que não enterre ainda mais o sistema de ensino só para poupar uns trocos. Se querem implementar algo que seja algo com boas hipóteses de ser uma melhoria. Primum non nocere.
«Porque quem está encarregue de o fazer não são os professores.[...] Essas coisas estão a cargo dos políticos.»
ResponderEliminarÉ verdade que isto funciona muito assim em Portugal. Pelo que sei, funciona mal. O ideal seria que a sociedade civíl tivesse mais peso no processo político e social.
Assim, seria bom que os sindicatos e outro tipo de associações que representassem os professores tivessem uma postura mais construtiva no delinear de uma política que vai afectar todos os professores.
Imagino que isto não é uma afirmação muito ousada: que não devem ser apenas os políticos que intervêm neste processo. Que a intervenção deve ser, na medida do possível, construtiva. Que se devem discutir alternativas.
Mas, podemos ignorar tudo isso, que o problema se mantém. Acho que o Bloco de Esquerda vai apresentar uma proposta alternativa, cuja natureza desconheço. À excepção deste partido, se não estou em erro, nenhum fez nenhuma proposta concreta. Se acreditas que isso está a cargo dos partidos, imagino que concordas que esta situação é lamentável.
Seria mesmo interessante passar a discussão do "avaliação ou não" para a discussão "que avaliação?".