Treta da Semana: Google Zero
Já recebi alguns emails de spam acerca deste site Português que redirecciona as pesquisas para o Google e apresenta uma página de fundo preto para «poupar energia» (1). Na verdade, é para fazer dinheiro com a publicidade na página.
Segundo o cálculo no site, «o Google é visto por 2.5 milhoes de utilizadores todas as semanas só em Portugal. O fundo negro pode reduzir o consumo energético até 7 W por dia por utilizador. Se todos os utilizadores converterem para o Google-Zero a poupança energética será de 30 W x 2.500.000 Utilizadores / Semana x 52 Semanas = 3.900.000 kWh».
A conta é um disparate, pois começa com uma potência, em watt, multiplica pelo numero de utilizadores num ano e acaba com uma medida de energia em kWh. Não se percebe como é que os 7 W diários passam a 30 W por semana. Nem a conta que fizeram nem como a potência se acumula com o tempo. Uma potência média diária de 7 W ao fim da semana dá uma potência média semanal de 7 W. Mas o pior é a tal redução de 7 W no consumo médio diário.
É verdade que ter o fundo preto num monitor CRT (cathode ray tube, os antigos, gordos) consome cerca de 7 W a menos (2). Mas isso é durante a pesquisa. Só se traduzia numa redução de 7 W na potência consumida diariamente se o utilizador fizesse pesquisas 24 horas por dia sem nunca sair da página do Google. Se for uma pessoa normal e usar o Google uns minutos por dia terá uma redução de consumo que, em termos técnicos, se designa por cagagésimal.
Isto com um monitor antigo. Um monitor LCD (liquid crystal display, os fininhos modernos) consome o mesmo qualquer que seja a cor do fundo. Nestes monitores as imagens são criadas alterando a transparência do cristal líquido que está à frente de uma luz. A luz está sempre ligada e, possivelmente, até consomem mais com o fundo preto (mas a diferença é mínima, ver 2). Para quem tem um monitor moderno ou usa um computador portátil, que é a maioria das pessoas, o Google Zero faz precisamente o que o nome indica.
O Luís Humberto Teixeira, no Mudar o Mundo, escreveu que «Saber ganhar dinheiro não é ilegal. Eu é que já estou farto de ver a ecologia ser usada para tal, especialmente se a vantagem ambiental do produto é dúbia» (3). Também eu. E não só por ser mais uma forma de aldrabar as pessoas. Principalmente porque dá uma sensação falsa de contribuir para resolver o problema. Quem usa o Google Zero só fica satisfeito com a poupança se não perceber que gasta mais em cinco minutos com o aquecedor ligado do que poupa em vinte horas de Googlagem. Mesmo com um monitor antigo.
1- A página de entrada é http://www.google-zero.com, mas tem publicidade. Em vez disso sigam este link para a página acerca do Google-Zero.
2- Darren Yates, 26-7-07, Black Google power saving figures are wrong (além de ser treta já é treta com meio ano...)
3- Luís Humberto Teixeira, 21-12-07, Google-Zero
Para não falar de "Por um mundo com ZERO emissões de CO2!". Estamos lixados, os tipos que criaram aquela treta ainda querem acabar com quase todos os seres vivos que por aí andam! :)
ResponderEliminarAté lá, vão estragando os olhos daqueles que escolhem usar o site...
Ludwig:
ResponderEliminarFinalmente um excelente exemplo :).
Aprecio particularmente que haja quem começe a questionar a teoria das "novas oportunidades" e a sua previsível sequela de oportunismos, tipicos do sistema que pretende resolver os problemas que ele próprio cria sem alterar uma virgula na sua lógica intrinseca.
Post lindo. Gostei destas piadas:
ResponderEliminar«[...] termos técnicos, se designa por cagagésimal.»
«[...] o Google Zero faz precisamente o que o nome indica.»
A treta propaga-se a grande velocidade, e gasta muito mais energia que aquela que quer poupar. Mas não é só de agora. Antigamente chamava-se banha da cobra. http://engenhariacivil.wordpress.com/2007/07/17/google-blackle-poupem-energia/
ResponderEliminarO Whois indica que o domínio goggle-zero.com foi registado no GoDaddy por um Cláudio Fernandes do Porto com o mail catatua@gmail.com. Catatua é o nome do serviço indicado na página do Goggle-Zero.
ResponderEliminarAcontece que o Eng. Fernandes tem uma conta no LinkedIn em que descreve as suas actividades profissionais.
Para quem quer livrar o mundo de emissões de CO2 o Catatua fez uma pior escolha de carreira que um daltónico na brigada de minas e armadilhas. O homem é dono de quatro empresas, uma de importação de carros, uma de mediação automóvel (melhor para reduzir as emissões de co2 só abrindo uma refinaria), outra de publicidade online e outra de painéis solares.
Mesmo assumindo que a venda dos painéis solares e o google zero compensam ecológicamente o negócio dos automóveis, o Eng. Catatua estraga tudo porque os sites das empresas são todos brancos cheios de fotos a cores e pejados de google ads até ao tutano. Quantos kw/h é que isto deve dar...
Ludwig
ResponderEliminarUma maneira mais eficiente de poupar energia seria vedar o acesso a computadores e net a certas pessoas.
Mais radical seria obrigar algumas a deixar de respirar, diminuindo significativamente as emissões de CO2. Mas como o critério é sempre complicado e isso não se faz, mais vale ir pelo caminho longo e tentar esclarecer as pessoas e viver com a parvoíce e os defeitos dos outros. Porque eles também vivem com os nossos.
ZERO emissoes de CO2 = milhões de emissões de LOL! O quê? Deixávamos de respirar? Que comece, então, o autor da ideia. Com tantas ideias alucinantes só pode mesmo ser, o que se cstuma dizer, um IDIOTA!
ResponderEliminarInfelizmente há cada vez mais emissões de idiotas.
Ludwig,
ResponderEliminarToma lá com o Feliz Natal da praxe, aqui do amigo António. Continua a bater-lhes forte e feio.
Kripp,
Se o senhor parar com o CO2 é pior. Vai transformar-se em metano cujo efeito é um pouco mais nocivo.
Tamos mesmo f@#$#$ com ele...