Treta da Semana: Energias.
Energia é um conceito físico rigoroso e muito útil. Adaptando uma explicação de Feynman, imaginem uma caixa com peças para construir brinquedos. Se não se acrescenta ou retira nenhuma, o número total de peças é uma característica constante qualquer que seja o brinquedo na caixa, seja barco, avião ou comboio. A energia é um conceito análogo. É mais complexa, mas é uma quantidade característica de um sistema isolado e é independente do estado do sistema. Ter isto em mente ajuda a ver vários disparates.
Dizer que há uma lei que obriga a energia a manter-se constante é absurdo e injusto. É absurdo porque é como dizer que há uma lei que obriga a velocidade a aumentar quando se anda mais depressa. Não é obrigação; é parte da definição. Um requisito da energia é que meça algo que é constante num sistema isolado. E é injusto porque menospreza o grande trabalho de encontrar uma formalização para a energia de um sistema. Que nem se consegue para todos os sistemas. O universo como um todo, por exemplo, não tem uma energia total. Não é que viole a lei. Simplesmente não se encontrou um formalismo para definir este conceito.
Outro problema é julgar que a energia é um fluído que escorre e circula. Em tempos pensou-se que o calor era assim, mas já sabemos que é um modelo errado. E ninguém pensa que a velocidade de uma bola de bilhar escorre para a outra quando colidem. Pois a variação de energia cinética, neste caso, deve-se à variação na velocidade. Uma bola trava, a outra acelera, e a energia em cada bola varia conforme a velocidade. Fala-se de uma “transferência” de energia só no sentido que a variação de energia de uma bola tem a mesma magnitude que a da outra. O valor conserva-se como se passasse de uma para a outra. Mas é apenas uma medida que se mantém constante, não é uma substância que se transfere.
Finalmente, o disparate das energias, no plural. A energia espiritual, positiva, negativa, sexual, do amor e assim por diante. Quando os físicos falam de energia cinética, potencial, química ou outras unificam vários aspectos do sistema numa única medida. É tudo somado em joule. É tudo contabilizado como energia, no singular. Dividir a energia em inúmeros sabores e espécies é o contrário do que a ciência faz. O que não é problema quando se usa o termo «energia» como metáfora. Ir de férias para ganhar energias, ou ter uma personalidade energética. Mas é problema quando o usam para pincelar uma aparência científica numa superstição qualquer. A “energia vital”, a “energia espiritual” e tretas afins são o oposto da energia. São vagas, são impossíveis de quantificar e são coisas diferentes entre si. A energia é uma quantidade bem definida.
Se algo flui pelo corpo e fica bloqueado por uma doença então não é energia. A energia nem flui nem entope. É o sangue numa trombose ou ranho no nariz do engripado. Talvez espetar agulhas no nariz traga tantas lágrimas aos olhos que acabe por desbloqueá-lo, mas eu prefiro a medicina ocidental. Dou-me melhor com umas gotinhas de soro fisiológico e um lenço.
Se a acupunctura é medicina oriental, a homeopatia é medicina ocidental. Sendo assim, eu não prefiro a medicina ocidental. Prefiro a medicina que funciona. Creio que era isso que o Ludwig queria dizer.
ResponderEliminarVou por estes dias ter o prazer de ir a um jantar da herbalife. como leitor interessado nos variados aspectos da Tretologia estou mortinho por falar com os especialistas da coisa e depois vos relatar a minha esperiencia.
ResponderEliminarleitor(não)identificado
Francisco,
ResponderEliminarTens razão... assim parece que a prefiro por ser ocidental e não por ser medicina. O que eu acho é que nem a homeopatia nem a acupunctura são medicina.
Vou corrigir...
"Energia é um conceito físico rigoroso e muito útil."
ResponderEliminarCaro Ludwig,
Permita-me discordar um pouco da parte rigorosa. Rigorosa não no sentido da sua medição, mas da sua definição. Indo ao conceito fundamental, sem caracterizações para além da própria energia (sem cinética, potencial, etc), o conceito de energia é nebuloso e na maioria das vezes definido de forma circular com o trabalho, sendo a energia a capacidade de realizar trabalho e o trabalho a dissipação de energia. Até hoje não encontrei nenhuma definição satisfatória do que é a energia. Se que a meço, sei que a sinto e sei que vejo os seus efeitos. Mas a sua definição é algo que ainda não vi feito.
Caro necrophorus,
ResponderEliminarEu concordo com a ideia mas poria a coisa de outra forma.
Acho que a definição de energia é rigorosa. 1/2mv^2, por exemplo, mais outros termos que tais conforme o sistema. Isto é absolutamente rigoroso.
Mas sem esta formulação matemática não temos definição de energia. Penso que por não termos uma intuição do que é energia neste sentido.
Por exemplo, eu consigo mais facilmente imaginar uma energia espiritual (tipo um fantasma ou assim) do que o produto de metade da massa pelo quadrado da velocidade. Isto não consigo sequer pensar o que possa ser. Mas 1/2mv^2 é uma definição mais rigorosa que «energia espiritual».
Tenho a ideia de que a energia é apenas um nome dado a um formalismo que é útil em associar a uma "lei de constância" a um sistema. Digamos que um sistema tem um valor V qualquer a variar. Gostaria de lhe encontrar um segundo valor E tal que seja verdadeira a "lei de constância" V + E = c, onde c é uma constante. Simplesmente defino E = c - V e chamo-lhe "energia". O que "legitima" este truque? É que na altura de fazer as contas, dá muito jeito!
ResponderEliminarQuanto ao post, concordo com ele. Muitas vezes fala-se de "energia" para dar um aspecto de cientificidade. Se a memória não me falha, Freud falava de "energia psíquica" e "energia libidinal" na sua teoria psicanalítica para pedir emprestado algum do prestígio de que as ciências exactas gozavam na sua época.
Ao pé do sítio onde trabalhava havia uma loja de carácter esotérico que vendia, entre outras tralhas, um livro que ensinava a utilizar a "energia das pedras".
ResponderEliminarQuando era puto utilizei a "energia das pedras" quando atirei um calhau a um cigano para poder fugir, mas desconfio que não era disso que o livro falava.
Caro Ludwig,
ResponderEliminarExacto, a expressão matemática para a energia cinética é perfeitamente rigorosa. Tendo o atributo de "cinética", até a poderemos explicar minimamente dizendo que "é a energia que...", ou de outra forma que "é o trabalho necessário para...". No entanto, ao usarmos a energia, estamos a explicar o que é a energia cinética usando um conceito que ele próprio não está bem definido.
Ajuda-nos, portanto, a ter uma ideia do que acontece em fenómenos relacionados com massa e velocidade, como se comportarão objectos em andamento, o efeito que um determinado objecto tem sobre outro quando chocam, de uma forma descritiva.
Não nos ajuda a compreender a natureza da própria energia. Ou seja, não responde à pergunta: o que é a energia?
É como o Jaime diz. Se for encarado como um mero formalismo que expressa uma lei de constância, resume-se a isso. No entanto, se noutras perspectivas for encarado como tendo realidade física, então é algo que, apesar de as suas manifestações em fenómenos estarem perfeitamente descritas, não está com a sua natureza definida.
necrophorus,
ResponderEliminar«Não nos ajuda a compreender a natureza da própria energia. Ou seja, não responde à pergunta: o que é a energia?»
Isso é verdade, mas penso que não é um problema de indefinição.
Podemos definir energia como a soma das várias parcelas (cinética, potencial, etc). Esta soma pode ser definida rigorosamente. É como definir a àrea total da minha casa como a soma da àrea do quarto, da cozinha, etc.
Basta não assumir que são tipos diferentes de área ou tipos diferentes de energia. São parcelas da mesma coisa.
Mas com esta definição apenas substituimos uns simbolos por outros e ficamos na mesma.
Nisto "energia" é o contrário de "doce". "Doce" não se consegue definir mas quem já saboreou algo doce compreende o que quer dizer. A raiz quadrada de -1 é fácil de definir, mas pelo menos eu não consigo compreender o que seja, não no mesmo sentido que compreendo doce.
Ludwig,
ResponderEliminarNão podia concordar mais.
"A raiz quadrada de -1 é fácil de definir, mas pelo menos eu não consigo compreender o que seja"
lol, nem eu, por mais que me tentem demonstrar que até é algo bastante útil...
LOL! Ainda ninguém definiu energia pq de facto não existe uma definição de energia... existem várias e que apenas dão conta das suas manifestações. A energia não será o vazio... a abertura a todas as possiblidades?
ResponderEliminarE=MC2 em q E é energia física, M é matéria e C é velocidade da luz, esta fórmula visa explicar a conversão da matéria em Energia Física e como sabem foi verificada pelas reacções nucleares e a bomba atómica. De facto o universo é composto de matéria e energia física. Mas quem diz isso? Nós os observadores. Então falta adicionar um elemento à equação.. um elemento que deixa desconfortáveis todos os cientistas: a Consciência. Houve um físico que teve a pretensão de adicionar esse elemento e E=c2/g1/2*Q em que Q é carga eléctrica (consciência) e G é gravidade; e assim Q=g1/2*M.
E assim surge o conceito de "Energia Livre" que é difícil de compreender pela física de Newton mas perfeitamente enquadrada pela física Quântica. De facto o universo é sobretudo constituído por vácuos, espaços vazios prenhos desta chamada Energia livre. Se há aqui alguma relação com o Ki? Deixo à vossa consideração. Sei que o ideograma de Ki em chinês tb representa vazio... mais num sei.
Até Breve e Bom ano (com muita Energia Livre ou muito Ki...LOL