Desafios.
A medicina moderna podia eliminar os piores problemas de saúde, como a subnutrição e doenças infecciosas que afectam milhares de milhões de pessoas nos países menos desenvolvidos. Há muitos obstáculos, como a pobreza, a guerra, a sede de poder e a ignorância, mas todos queremos ultrapassá-los. Todos opomos a miséria, a ignorância e a guerra. Até os ditadores se dizem contra a ditadura, alegando que a sua é para bem dos outros, por muito transparente que seja a desculpa. Não há solução óbvia para estes problemas mas é consensual que são problemas e que os queremos resolver.
Mas há um obstáculo que é diferente. Milhões de supersticiosos acham que o latex é um mal maior que a SIDA. Milhões julgam que se podem curar violando crianças (1). Milhões acreditam em curas por rezas, astrologia ou alfinetes. É um problema diferente porque os supersticiosos defendem a sua superstição. Chamam-lhe fé, «visão do mundo» ou a «sua» verdade. Exigem respeito. Invocam a tradição. Este é um problema de treta. Literalmente. Milhões de pessoas sofrem por ideias que são falsas, que se sabe serem falsas e que já lhes explicaram que são falsas.
Em questões de saúde não há tretas inofensivas. Acreditar que uma infecção é um bloqueio energético, castigo divino ou vibrações negativas pode ter consequências para o próprio e para outros. Não há espaço para conciliar a realidade com a treta, para soluções «complementares» de antibióticos e cristais coloridos. O que está em jogo é demasiado importante, e os problemas reais suficientemente difíceis, para que seja aceitável complicar as coisas com fantasias.
1- Mike Earl-TaylorHIV/AIDS, the stats, the virgin cure and infant rape
Você é um gajo lixado.
ResponderEliminarGosta de ser polémico e isso agrada-me. Mas coloca as polémicas em tais extremos que quase as desenquadra.
Digo-lhe isto com toda a consideração e sem laivos de cinismo.
É a sua forma e respeito-a, mas confesso-lhe a dificuldade de pegar no que escreve sem entrar numa inenarrável "declaração de voto" que não faz sentido nesta dinâmica de blog.
Em relação a esta "vasta" questão fico pela mais pacifica: latex ou SIDA.
O LK já percebeu onde eu me posiciono perante os catolicismos, certo?Portanto adiante.
Ora parece-me que o Bento tem um problema de principio que é o seguinte. Ele defende a familia como valor. E dentro da familia defende a monogamia. Logo, eu até sou capaz de entender se daí retirar que numa sociedade onde estes valores prevalececem os problemas da SIDA não teriam o relevo que têm...
Quanto ao resto, bem...será que se o Bento aprovasse o uso da dita o panorama seria substancialmente diferente ?!
Tenho dúvidas ! Você não ?
Está a ver ? É esta a dificuldade que eu tenho com os seus exemplos! Você consegue fazer-me discordar de coisas em que até concordo consigo !
Rasparta-o, homem !!!
Manuel,
ResponderEliminarEu acho que é mesmo num blog que faz sentido dizer as coisas desta forma. É um sítio onde quem discordar pode vir aqui e dizer de seu juízo também. Não vale a pena andar aqui com noentantos, apesares, masporvezes, salvosejas e afins.
Quanto à SIDA e o latex eu vejo a coisa desta forma: se querem ser fiéis ou não, isso é com cada um. Se não forem, é melhor que usem o latex porque reduz a taxa de transmissão convertendo uma pandemia numa doença em vias de extinção (basta que, em média, cada infectado infecte menos que uma pessoa ao longo da vida).
O que o Bento quer fazer é usar o medo da doença para impôr a sua noção de moralidade a todos os outros, sem se importar com os mortos e órfãos que isso vai dar. Uma atitude dessas há que denunciar e não andar com paninhos quentes. É uma irresponsabilidade atroz.
Será que seria substancialmente diferente? Acho que sim. O latex reduz em cerca de 90% a taxa de transmissão do vírus. Parece-me substancial. Mesmo que só reduzisse 10%, quando falamos de milhões de vidas 10% é bastante substancial...
Já agora, numa sociedade em que ninguém é infiel, ninguém tem sexo sem estar casado mas o divórcio é legal, doenças como esta também se espalham.
ResponderEliminarÉ claro, se fosse pelo Papa também não havia divórcios.
Lol...ok LK...então vamos lá sem salvosejam...
ResponderEliminarConheço razoávelmente algumas culturas africanas e tenho bons amigos negros.
Você sabe que em boa parte delas o que realmente importa quando um homem procura outra mulher que não a sua é fazer-lhe um filho ?
Isso mesmo: o que para o ocidental adúltero é um pesadelo, é o ideal de muitas culturas africanas.
Ora esses camaradas que nem conhecem o Bento de lado nenhum e pensam nesta maneira, iriam alterar alguma coisa do seu comportamento por recomendação Papal ? Eu duvido.
E por cá ? Acha que quem insiste reiteradamente em situações de risco o faz por falta de aval do Papa para o uso do Control ? Também duvido.
Por isso, mais uma vez, tenho que lhe dizer que estamos a discutir os problemas da fé no tabuleiro errado. E também mais uma vez tenho que lhe dizer que não sou apologista de explicar a excelencia das nossas razões á chapada a quem quer que seja.
Há uns anos, quando o Napoleão andou pela Europa, trazia a racionalidade das luzes para vender à chapada; O Adolfo tinha ideias semelhantes...
Diria o povo que de boas razões está o inferno cheio. E se isto fosse aquele programa manhoso com o poligrafo, seria agora que o cromo de serviço diria: " e a máquina confirma ".
É um gosto trocar teclas consigo, mas por Belenos, arranje-me lá exemplos que não me obriguem a discordar daquilo em que acredito...
Caro Manuel,
ResponderEliminarO pouco que conheço de África é que é um continente com muitos povos e culturas diferentes. Por isso não vou generalizar o que vai acontecer ao comportamento das pessoas todas.
Mas parece-me que entre os novecentos milhões de pessoas que lá vivem há de haver muitas que vão sofrer as consequências quando a conferência de bispos Católicos condena o uso de preservativos no combate à SIDA.
Note que eu não digo que vá afectar toda a gente. Nem metade. Talvez nem um décimo. Mas olhe que mesmo um centésimo de novecentos milhões é quase a população inteira de Portugal.
Parece-me que este tabuleiro é onde devemos mesmo discutir as crendices, ou a fé, ou a superstição (se houver diferença). Onde sugere que se discuta? No número de anjos que cabe na cabeça de um alfinete?
Já agora, se o ponho a discordar daquilo em que acredita, óptimo. Mais vale um pouco de confiança na dúvida que muita certeza na crença :)
Ludwig,
ResponderEliminarTaí um ótimo artigo teu!
Quanto à questão SIDA x latex: me surpreende como o catalocismo anda estacionado na Idade Média. Impressiona também que continue tão firme em Portugal.
E para quem ainda tiver dúvidas sobre se a igreja católica é ou não um sindicato criminal, recomendo a leitura deste artigo:
ResponderEliminarhttp://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/
7014335.stm
Cristy
Tiago
ResponderEliminarNão entendi de onde veio esse "Impressiona também que continue [o catolicismo]tão firme em Portugal". Sobretudo quando me parece qua acredite ser uma coisa má e irracional. E ainda com as suas posições criacionistas anteriores. Importa-se de esclarecer?
Ludwig
ResponderEliminarNa sexta, além de trabalho em excesso, o meu cérebro fez "pum" e não consegui acompanhar o post interessante que colocaste.
Resumindo e baralhando, acho que te equivocaste durante uma série de comentários ao confundir a fé (crença em Alguém superior) com a prática de algumas pessoas, nomeadamente a de "a minha prática de vida é melhor que a tua e tu vais para o Inferno se não fizeres o mesmo que eu". Se isso é uma definição de fé, eu não tenho fé. Mas eu digo que tenho fé porque a minha prática de vida não é essa.
Em relação a este assunto do latex vs vida/SIDA, estou de acordo contigo. Uma velhota aqui da minha beira tinha uma teoria diferente e andava aterrorizada porque tinha ouvido falar em pessoas que vinham limpar a SIDA nas velhas. Esse era o medo mais recente: os anteriores eram de coisas ruins e fantasmas e outras coisas que tais. Não há registo de eventos dessa natureza e a violação de criancinhas continua com os mesmos motivos: maldade pura e simples.
Eu acho preocupante a "alergia" da igreja à contracepção e não a compreendo. Isto face ao conhecimento actual do que é e não vida. A questão do aborto é inteiramente diferente e a minha posição é muito mais ambígua. O que acho é que por causa de um dogma ultrapassado se estão a pôr em causa muitas vidas, a maioria delas inocentes.
O que põe em causa a vida não pode ser uma posição de prática de fé (já defendi aqui casos particulares consistentes com esta posição generalista). No mesmo saco ponho a "alergia" a transfusões de sangue, amputação de membros e tansplantes de órgãos por motivos de fé: cada qual pode justificar estas posições como quiser, mas Deus não pode ter mandado fazer nada disto. Isto são só práticas que perpetuam sofrimento desnecessário.
No caso, o que cada um faz a si mesmo é consigo. Mas o que faz aos outros é inteiramente diferente. E deixar morrer um filho ou familiar próximo por falta de uma transfusão de sangue cai na mesma categoria que rejeitar um preservativo quando se sabe que o marido/companheiro dá umas voltas e não se sabe o que trás para casa: é falta de respeito pela vida.
Uma vez ouvi um bispo africano a falar de não usar preservativo para não pecar, apesar de arriscar a morte usando quase um tom de martírio. Isto gelou-me o sangue! Embora aquelas pessoas que morrem estejam longe, tocam-me porque são irmãos e porque morrem numa mentira que um que considero dos meus propaga.
No geral falaste da ignorância que mata. Concordo, pelo que há que levar a todos o conhecimento. A partir daí qualquer um faz as suas escolhas.
Nisto estamos completamente de acordo.
ResponderEliminarIndependentemente da doutrina da igreja, acho maldoso que o Bento condene o uso do latex.
O não uso do latex põe em perigo não só aqueles que pecam como aqueles que não pecam.
O Bento não devia ter opinado sequer.
Manuel,
Esse ponto em que toca, do valor da familia, é muito complicado. Porque o Bento sabe bem que o ser humano é falivel, tem varios exemplos mesmo dentro das esferas mais elevadas da sua comunidade.
Era nisto que ele devia ter pensado antes de condenar o latex.
"Aquele de entre vós que está sem pecado que atire a primeira pedra!"
Será proteger a familia deixar que o marido infecte a mulher e que esta tenha filhos infectados com o HIV?
Não me parece que isto seja protecção aos valores da familia. São inocentes a pagar pelo erro ou pecado de um só.
E a um preço muito alto e que podia ter sido evitado.
Eu não digo que ele apoie, mas nunca, nunca devia ter vindo a publico condenar o seu uso. Nem ele nem nenhum membro da sua fé nem de fé nenhuma.
Quem segue a dotrina tenha cuidado. quem peca ao menos que use o latex.
A questão do latex é muito pertinente e marca de facto uma receita de genocídio. Mas não é de esperar que uma organização católica coloque os aspectos práticos à frente dos princípios, mesmo que isso represente um assassínio em massa como é o caso. Isso tem a ver com o aspecto dogmático da coisa. Mesmo que depois, muito mais tarde, percebam que até os dogmas podem ir mudando (ou de outra maneira, havia dogmas que afinal não o eram e a prova disso é que hoje já nem há inquisição, o que sempre é uma melhoria). É portanto algo ingénuo pensar, que as posições da igreja católica mudam porque isso significava morrerem menos uns milhões à custa da doutrina. E já agora acrescento. Mesmo quando não estão em causa posições religiosas e portanto seria aparentemente mais fácil, há leis de Estados seculares como o nosso, que contribuem também para a morte de muita gente e não mudam. Exemplo: a liberalização das drogas que não acontece e que, a acontecer poderia contribuir definitivamente para acabar com o problema, não das drogas, mas dos traficantes, que fazem inflacionar preços, fazem com que as pessoas se prostituam, usem desregradamente seringas, se degradem a níveis que não teriam que acontecer se as ditas drogas fossem tratadas como outras drogas o são. É apenas um. Eu sou a favor dos princípios, mas estes definem-se por educação, campanhas, etc. Como a realidade nem sempre é a que queremos, há a necessidade de um pragmatismo associado, que deveria acontecer a muitos níveis e que coerentemente deveria dar azo a acções dirigidas aos tais problemas reais e outras acções dirigidas à defesa dos princípios, mas a verdade é isso é misturado e o produto final é escasso ou muito lento. A igreja é apenas uma faceta onde essas situação é ainda mais grave, mas onde a desculpa é até maior…mesmo que errada.
ResponderEliminarAbobrinha, Joaninha, João, Lk:
ResponderEliminarÉ evidente que estou de acordo com vocês !
A minha questão não é com Bento vs Latex. Sou capaz de fazer um esforço para perceber a posição, mas isso não quer dizer que concordo com ela.
Depois também disse algo que julgo merecer nota. Há muita coisa que não muda apenas porque muda a posição institucional sobre ela.
A minha questão mesmo é que a propósito da fé o Ludwig arranja uns exemplos que deixam-me que nem á Cinha com um golo do Benfica: perco a razão e as forças !!!
:::)))
Sugestão aos comentadores:
E se fizessemos uma "vaquinha" para oferecer ao LK um saco novo de exemplos agora pelo Natal ?
Alinham ??
Mas João há outros dogmas da doutrina que são postos em cheque quando se condena o uso do preservativo. Como o amor ao proximo, como a protecção da vida. Como a defesa e protecção dos inocentes...enfim...Não tem justificação a meu ver.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarJoaninha,
ResponderEliminarIsso é muito bem visto...
A doutrina envereda por um caminho, que nitidamente visa proteger o interesse da igreja, e o poder que esta exerce pela perpetuação de determinado miserabilismo, e protege isso à custa de outras coisas que prega como doutrina.
É mais um caso em que a igreja demonstra a sua pouca "vocação" para o espiritual, e muito mais para o terreno.
Manuel
ResponderEliminarO quê??? Arranjar um saco de exemplos novos para o Ludwig?? Depois de que é que eu ia refilar? Ah não! Não contem comigo!
Apesar de tudo o que o Ludwig diz (e eu concordo) acerca do latex e o Vaticano, há uma coisa que não muda: do mesmo modo que há liberdade de não mudar comportamentos sexuais ao ponto de se infectar com porcarias que afectam a família... há a liberdade de se proteger, mesmo contra os desígnios do clero! Os portugueses e outros europeus fazem-no, não estou a ver em que é que os africanos possam ser assim tão diferentes.
Abobrinha,
ResponderEliminarUma diferença é que o clero em Àfrica tem mais poder.
Manuel.
Eu não me importo de mudar de exemplos. Mas gostava de saber porquê. É que ainda não me explicaram porque é que estes exemplos são maus.
Se falo da superstição só posso mencionar aquelas que são inofensivas? Se falo da fé não posso mencionar os casos em que leva à morte e ao sofrimento de terceiros? Porquê?
Ludwig
ResponderEliminarNão creio que tenhas razão no sentido que 1. a igreja católica não é assim tão dominante em África e 2. há sempre a sociedade civil e poder civil.
Em relação à protecção contra a SIDA, lembro-me de um documentário de uma comunidade Zulu (não sei se na África do Sul se na Namíbia, mas não era religiosa) em que se faziam testes de virgindade às raparigas. As que chumbavam eram inclusivamente ostracisadas pela família. Essa comunidade esqueceu-se que o vector principal da doença são os homens e ainda que o hímen intacto não é necessariamente critério de virgindade (dá falsos positivos e falsos negativos). Estás a ver que a religião não é muito mais poderosa que a vontade de simplesmente exercer poder nem da ignorância.
Podes dar os exemplos que queres em relação a religião e outros. Eu não sou obrigada a concordar com eles, mas tenho a liberdade de concordar ou não. Parece-me bem! Parte da piada é mesmo o processo de discussão (que reafirmo: mantém-me em forma).
Mas em algumas coisas podes ser mais aberto qualquer coisinha, como ao aceitar que fé pode não implicar fanatismo e actos tresloucados. Mas não percas o bom humor, que com ele as tuas palavras têm mais impacto.
Talvez por não ser politicamente correcto. :-p
ResponderEliminarUma avó de meu pai era preta, e a maioria da família do seu lado tem cabelo crespo. Quando a minha mãe esteve grávida de minha irmã mais nova, vizinhos angolanos tomaram conta de mim e de meus irmãos. Podiam angolanos e brancos como o Jorge Perestelo, ou portugueses pretos ignorantes a respeito de África. Um sobrinho deles é preto ("black") e americano ("afro american"), e não deve saber mais sobre África do que nós. Quando o conhecemos, o meu irmão perguntou "Queres brinquiquite?", e lembramo-nos do Chessmaster: "Wanna play?". E assim jogámos à bola e depois às escondidas. Também tive uma apaixoneta por uma colega preta de olhos azuis, mas já estava comprometida e eu era muito tímido...
E acho os exemplos óptimos. Já vi documentários suficientes sobre o assunto, com padrecos em África s dizerem que os preservativos têm poros e por isso são irrelevantes, casais infectados, e alguns a tentarem desmistificar o preservativo e a SIDA... e esses alguns muitas vezes foram vítimas.
Pronto, pronto...prescindo do saco novo de exemplos...mas têm que me ajudar nestas pegas de cernelha ao endiabrado LK...
ResponderEliminarEntão vamos lá a ver:
1 - Independentemente da nossa noção de bem e de mal, de certo e de errado, podemos concordar em que a "razão" tal como a concebemos e nos formata culturalmente não é exactamente a mesma coisa do metro-padrão ?
2 - Em tempos idos fui treinado como "agente de mudanças". Chamavam a isso "extensão rural". Algo que me ensinaram desde logo e que depois tive de aprender á minha custa, foi que não há como induzir mudança social trabalhando com problemas latentes ou trabalhando contra valores. Neste caso o efeito é o oposto porque a comunidade rejeita liminarmente o agente de mudança. A Mudança ocorre de forma muito mais efectiva quando catalizada a partir de problemas sentidos.
3 - Qualquer sociedade está impregnada de fés, crenças, verdades e outras coisas que tais que derivam de um determinismo que é histórico e cultural.
4 - As colonizações de diversa ordem sempre resolveram estas questões por decreto. Em Cabo Verde, o General S Marques mandou prender e deportar os lideres duma comunidade que recusava aderir a um programa de erradicação da malária. E toda essa comunidade entrou na clandestinidade nas serranias do interior onde ainda permanecem.
5. Nestas como em muitas outras situações, é bom que, por muito fortes, justas, lógicas, que nos pareçam as nossas razões, se actue com o respeito devido a quem tem as suas razões, mesmo quando elas nos parecem pouco razoáveis.
6. As alternativas têm sido as derivas ditatoriais ou o colonialismo global. Nenhuma delas me é simpática.
Abobrinha,
ResponderEliminar«a igreja católica não é assim tão dominante em África»
Imagina que a Igreja Católica só afectava um décimo de uma milésima parte da população em Àfrica. Aínda assim a superstição que esta entidade propaga em relação aos preservativos iria matar noventa mil pessoas.
E eu acho que se só matasse uma pessoa já era uma pessoa a mais...
«Mas em algumas coisas podes ser mais aberto qualquer coisinha, como ao aceitar que fé pode não implicar fanatismo e actos tresloucados.»
Aceito sim. Se cada um guardar para si a sua fé estamos todos bem.
O problema é quando as certezas absolutas sem quaisquer evidências são tidas como valores mais altos que os valores dos outros. E isso não é raro na fé.
Manuel,
ResponderEliminarEu concordo com o seu comentário. Também sou contra que se prenda ou reprima quem discorda, mesmo que defenda algum disparate. A não ser que esteja a afectar os outros.
E concordo que «é bom que [...] se actue com o respeito devido a quem tem as suas razões, mesmo quando elas nos parecem pouco razoáveis.» Mas só o respeito devido, e nem mais um pouco.
Respeitar a sua liberdade de expressão, sim. Não proponho mordaças. Mas quando alguém diz que sabe de certeza absoluta que um tipo há dois mil anos nasceu de uma virgem morreu e depois ressuscitou parece-me legítimo apontar-lhe o dedo e dar uma gargalhada. É o respeito que isso merece.
E quando alguém põe em risco a saúde dos outros porque acha que um homemzinho no manda nas pilas de todos acho que devemos denunciar esse disparate. Não só por respeito às pessoas a quem isso prejudica, mas também por respeito a quem profere o disparate.
Porque o respeito por alguém implica não só dar-lhe o direito de dizer disparates mas também responsabilizá-lo pelos disparates que diz.
Ludwig
ResponderEliminarBem, o que estás a propor é no fundo que a igreja salve a humanidade. Eu também gostaria disso, mas não sou esquisita: podia ser a igreja ou outra coisa qualquer, desde que o fim fosse o mesmo. Ora isso não é possível! Pelo menos não para já. Podemos ter um acto de fé nos homens e dizer que no futuro a razão poderá evitar todos os males que descreves e os vindouros.
E olha que é uma fé relativamente fundamentada: ao contrário do que dizem muitos catastrofistas, cada vez estamos cada vez melhores connosco e com os outros. Pode é não parecer assim porque os problemas são mais complexos e porque pensamos cada vez mais neles.
Pode mesmo parecer-te estranho vindo de quem diz acreditar em Deus, mas eu defendo que cada vez mais os valores (os bons, antes que refiles) associados tradicionalmente ao que tem de bom as religiões estão a sair da esfera religiosa: em vez de fazer o bem (ser solidário, amar o próximo, etc) por receio de ir para o inferno e querer ir para o céu, faz-se isso porque parece bem... nesta vida!
Quanto ao cada qual ficar com a sua fé, reconheces-nos a liberdade de dizer que a temos (o que implica divulgá-la, dentro dos limites do razoável). POr outro lado, muitos dos que aqui comentam (e muitos dos que estão "lá fora") têm essa atitude de reserva e não a de mandar para o inferno ou pelos ares quem não acredita. Por isso estás a ver: o refilão aqui és tu!
Abobrinha,
ResponderEliminar«Bem, o que estás a propor é no fundo que a igreja salve a humanidade.»
Nah... eu já me dava por satisfeito se não atrapalhassem quem tenta resolver os problemas.
Eu não defendo que a ciência possa resolver todos os problemas. O que eu digo é que acreditar só por acreditar é uma fonte de problemas que se devia tentar evitar.
Finalmente, reconheço que a fé de pessoas como tu é tolerante à falta de fé de pessoas como eu. Infelizmente, tu achas que a fé, simplesmente por ser fé, merece respeito. Eu acho que uma opinião só merece respeito em proporção às razões que a fundamentam, independentemente da vêemencia com que a defendem. Treta é treta, por muito que se acredite o contrário.
Ludwig
ResponderEliminarInsisto: atrapalham uns que tentam resolver os problemas de um lado, mas são atrapalhados por outros que causam problemas de outro. Parecendo que não, a igreja não é a origem de todos os males.
Os sistemas são mais complexos do que o que os fazem. Nesse aspecto preferia que tivesses razão, mas não posso dar-ta.
Não sei se concorde completamente com o último parágrafo porque (para além de ser refilona) não sei o alcance do "merece respeito", mesmo porque isso abarca muitas coisas. Ora para mim, merecer respeito não é impeditivo da liberdade de expressão. Nem da minha nem dos outros.
Por exemplo, humor! Deixo-te uma piada religiosa (e vegetariana). O que são os tomates do papa espremidos? Sumo pontífice!