O Manual da Vida.
Da autoria do Professor Mário Neto, blinólogo. Os leitores menos familiarizados com a blinologia podem encontrar aqui outros artigos sobre o tema
Foi pela Sua sabedoria e misericórdia que os Blin criaram para nós este universo ordenado, inteligível, e compreensível à razão do Homem. E foi também pela Sua sabedoria e misericórdia que os Blin nos deram os Mistérios. O Mistério da Vida. O Mistério da Salvação. O Mistério da Papa de Aveia primordial e dos alfinetes com cabeça em forma de joaninha. Os que são cegos à dimensão espiritual da nossa existência queixam-se que mistérios incompreensíveis à razão do Homem contradizem a ideia de um universo compreensível a esta mesma razão. Pois enganam-se, os infelizes, como eu aqui demonstrarei.
Enganam-se porque insistem em usar apenas e somente o bisturi frio do intelecto, e esquecem as pantufas quentinhas do sentimento religioso, que apesar de não cortarem nada são mais confortáveis e convidam ao repouso da mente. O intelecto científico procura respostas no exterior, e leva o cientista a dissecar o que o rodeia. Mas aquele que conhece a sua espiritualidade é introspectivo. Procura a Verdade olhando para o interior da alma, para o centro. Para o umbigo, por assim dizer.
Isto gera um conflito desnecessário entre a ciência e a verdadeira religião. Desnecessário porque a ciência depende totalmente de teorias e interpretações. Os geólogos que observam uma formação em granito usam as suas teorias para classificar a rocha, e os físicos datam-na como tendo muitos milhões de anos. Mas são só interpretações à luz das teorias científicas. Em contrapartida, a Blínia sagrada não carece de interpretações ou teorias. É a palavra infalível dos Blin, e o que está lá escrito quer dizer exactamente o que está lá escrito. O relato da criação da Terra é claro e explícito: os continentes foram criados sobre um enorme oceano de Papa de Aveia. A ausência de vestígios desta papa nas formações geológicas modernas é fácil de explicar à luz da Blinologia. Evidentemente, a Papa de Aveia transformou-se em granito.
Em suma, os cientistas vêm-se perante um aparelho complexo como é este universo e põem-se a brincar com os botões. Fazem experiências, carregam aqui e ali, e ficam todos contentes quando descobrem como acertar o relógio ou ejectar a cassete. Digo isto com todo o respeito por estes jovens que, enquanto não arranjam um emprego sério, descobrem coisas fascinantes como os computadores, as vacinas, e a electricidade. Mas nada disso importa. Não há grande valor em saber física, química, ou matemática, pois estas teorias são uma coisa hoje e outra amanhã, e não nos dão nada de consequência. É mais cómodo viver numa casa e ter saúde que viver numa caverna infestado de parasitas, mas a comodidade não é tudo. Nesta azáfama com o aparelho, esquecem-se que têm na Blínia sagrada o manual completo com tudo o que importa saber.
A Verdade que importa é a Blínia sagrada. É a Verdade imutável, infalível, a única em que podemos ter inteira confiança. E é também a mais relevante, pois dá-nos a vislumbrar o Maravilhoso. Quantos dias passou Gernifásio no Monte dos Caracóis. Como conseguiu o profeta Zaramias derrotar os sacerdotes Cumanitas à bisca dos nove. Tudo isso está escrito no mais perfeito Manual da Vida, tão perfeito que basta ler o manual, e nem precisamos tirar o aparelho do caixote.
Bravo!
ResponderEliminarEh!eh!eh!
gozem mas é quando estiverem a morrer, aí é que quero ver a coragem deste humor satírico. Agora qualquer um pode gozar, mas perante a morte gostava de lá estar para ver. Ah, grandes homens estes
ResponderEliminarCaro Anónimo,
ResponderEliminarA seu ver, não gozar nem dizer piadas quando se está prestes a morrer é indicativo de quê, exactamente?
E o que propõe para que uma pessoa nesta situação tenha vontade de rir? Cócegas?
pois, é esse o problema das religiões: foram inventadas sobretudo para aqueles que não concebem a ideia de que após a morte há ... nada. Para o aceitar, é preciso entendermos a nossa total insignificância individual. Não é fácil, muito menos nos casos - um deles aqui muito bem ilustrado - de falta aguda de humor. E é o que vale às igrejas e restantes vendedores de banha da cobra.
ResponderEliminarCaro Ludwig,
ResponderEliminarser corajoso não é dizer que se odeia pretos, quando se está no conforto do próprio lar, mas sim quando se está sozinho rodeado por um gang.
Esse tipo de piadas, e de desprezo, são muito mais fáceis de dizer quando pensamos que temos tudo sobre controle. Mas perante o confronto com o desconhecido, com a possibilidade de termos sido toda a vida cegos, por ñ termos querido ver, deve ser mais fácil engolir em seco do que satirizar sobre o que se irá passar em breve.
Não conheço nenhum católico que se tenha tornado ateu nos últimos momentos deste "passeio pelo universo", enquanto que se o Ludwig se converter nesses momentos, não seria o primeiro nem o último ateu a fazê-lo.
Cristy, as religiões foram inventadas, pela busca eterna do Homem pelo sentido da sua própria vida. Se já descobriu o seu, não despreze os que discordam dele.
Além disso diz que não há nada depois da morte. Que certeza tão grande, para quem nunca passou por isso, nem falou com ninguém que tenha passado. A não ser que além de ateia seja medium, e aí percebo o contacto com alguém do além, que lhe terá garatido que o além não existe).
E ainda além disso, garanto-lhe que sentido de humor não me falta, mas felizmente falta-me esse gosto pela sátira cobarde.
Pedro Silva
«Além disso diz que não há nada depois da morte. Que certeza tão grande, para quem nunca passou por isso, nem falou com ninguém que tenha passado.»
ResponderEliminarEntão parece que não faz sentido ter certeza da vida após a morte, certo?
Benvindo ao agnosticismo. Perfeitamente compatível com o ateísmo aliás.
Eu nunca fui ao Uganda, nem falei com quem lá tivesse ido a esse respeito, mas estou razoavelmente certo que existe.
Da mesma forma que acredito que os corpos caiem (pode ser que tenha sido tudo uma estranha coincidência até agora), acredito que as plantas e os animais morrem, e não têm vida eterna. E nós, como animal que somos, também não.
Quanto ao "respeito", acho que o Ludwig tem razão: quanto mais respeitamos as ideias, menos respeitamos as pessoas.
Que se lixe o respeito para com as patetices religiosas obscurantistas, na raiz da inquisição e de outros absurdos.
Respeitemos as pessoas discutindo abertamente as ideias, sem receio de pôr TODAS em causa. Riam-se do ateísmo à vontade, os ateus não deviam ficar incomodados. Mas não peçam para não satirizar a religião.
"Eu nunca fui ao Uganda, nem falei com quem lá tivesse ido a esse respeito, mas estou razoavelmente certo que existe."
ResponderEliminarVou mudar ligeiramente o que disse:
"Eu nunca vi Deus, nem falei com quem tivesse visto, mas estou razoavelmente certo que existe."
Bem vindo ao teísmo!! Custou, mas foi.
Usou o argumento mais humano que há, que tantas vezes é negado pelos ateus. Há coisas (milhares e milhares) que eu sei, sem haver uma única prova matemática, cientifica ou filosofica, que apontem nesse sentido.
É o que lhe permite afirmar que o Uganda existe. Será que vou exigir uma prova matemática, cientifica ou filosofica que Deus exista? Não é necessário, porque a realidade é simples. Eu não me fiz a mim próprio, recebi de Alguém a minha vida, e tudo o que me rodeia é um dom.
Qualquer pessoa sem preconceitos percebe isto, mas infelizmente isso é raro...
Podem gozar com o que quiserem, eu só estava a sublinhar que gozar nestas condições é fácil. Perante a morte inevitável é que deve ser complicado, mas se conseguirem, os meus parabéns.
Ao mesmo tempo, espero que não consigam...
Pedro Silva
Caro Anónimo,
ResponderEliminarCoragem é enfrentar um incêndio para salvar pessoas. Insultar os outros para levar porrada não é coragem. É estupidez.
Admito que a minha posição não tem nada a ver com coragem. Felizmente, neste momento e neste país não é preciso ser corajoso para rejeitar qualquer um dos milhares de deuses que por aí se apregoa.
Há muitas coisas que acredita que existem, diz, sem haver provas. Mas lembre-se que há muitas coisas que acredita não existem. Presumo que o Pai Natal, o Superhomem, o bicho papão...
Para perceber melhor o ateísmo, recomendo que pense na diferença entre o que acredita que existe e o que acredita que não existe.
Eu sei que existem países, pelo que não é difícil aceitar a existência de mais um país mesmo que o desconheça.
Eu sei que muita gente propõe que existem deuses, cada um propõe o seu, todos mutuamente exclusivos, e sem um pingo de evidências. Neste caso é difícil aceitar sequer um, insensato decidir que é este que existe e nenhum dos outros, e absurdo ter a certeza absoluta que essa conclusão é a correcta.
Quem dera ao clero que tivesse um centésimo dos indícios a favor da existência do Uganda a favor da existência do seu Deus.
ResponderEliminarNão existe nenhum bom indício de que Deus existe.
O mundo é exactamente aquilo que seria de esperar caso Deus não existisse.
Mas a diferença fundamental que eu vejo entre a crença em Deus e a minha descrença, é esta: eu imagino centenas de cenários que me fariam mudar de opinião. Se Jesus aparecesse nas nações unidas e multiplicasse os pães à frente de todos, se a virgem Maria aparecesse na Arábia Saudita entre islâmicos devotos e causasse furor por lá, ou se se a irmã Lúcia tivesse recebido da senhora de Fátima a demonstração do teorema de Fermat. Alguns dos cenários imaginados poderiam despoletar a minha conversão imediata, outros não, mas qualquer um deles me faria alterar aquilo em que acredito.
Já os crentes, não há nada que pudesse acontecer que lhes mostrasse que estão errados. Em geral isso é a prova que já estão.
Conhecimento válido é aquele que poderia ser desmentido caso algo acontecesse. Temos conhecimento porque, entre outras coisas, prevemos que esse algo não vai acontecer. E quando isso se vai confirmando dia após dia, entendemos que não é uma coincidência. Há algo verdadeiro naquilo que acreditamos.
Mas a crença religiosa generalizada é uma mentira peculiar: aconteça o que acontecer as pessoas encontram formas de a proteger.
Randi desmascara aqueles que acreditam ter este ou aquele poder, o Uri Gueller já foi desmascarado, mas continua cheio de seguidores. Assim é o clero cristão.
Gostava de perguntar aos criacioistas o que fará deus quando daqui a uns meros milhões de anos tiver acabado a raça humana? Ficará para sempre a coçar os tomates e a lamentar a brevidade da criaçao dos humanos?
ResponderEliminarA Blinologia é uma religião interessante mas será que se pode conciliar com a existência (comprovada) de duendes no fundo do meu jardim? E, já agora, onde é que posso comprar figurinhas para marcar as páginas da minha Blínia Sagrada?