domingo, fevereiro 18, 2007

Vitória de Pirro.

Sempre discordei de apresentar a despenalização do aborto como um conflito entre religião e laicidade. Decidir que às 10 semanas temos menos direitos que às 11 não tem nada a ver com deuses ou religiões. Mas hoje o desagrado passou a preocupação quando li o comentário do Massimo Pigliucci a uma palestra do Philip Kitcher sobre como mitigar os efeitos da religião (1).

Kitcher sugere que há dois factores principais, muito mais importantes que movimentos humanistas, ateístas, ou de lacidade: laços comunitários e segurança social. O que distingue os E.U.A. de grande parte da Europa, da Austrália, Nova Zelândia, e Japão, é que nos E.U.A. é comum as pessoas viverem longe das famílias e amigos, e a qualidade de vida está sempre em risco por um apoio social deficiente a quem perde o emprego ou tem um problema de saúde. Isto torna importante a pertença a uma comunidade religiosa à qual se possa recorrer em caso de necessidade. Nos outros países desenvolvidos a religião têm um peso muito menor porque é supérflua, mesmo naqueles em que há uma religião oficial do estado. Vai à missa quem quer, e quem não vai não perde nada com isso.

Isto que muitos apregoam como a vitória do ateísmo sobre a religião acaba por ajudar a fortalecer a religião em Portugal. O que o referendo disse a milhares de mulheres que todos os anos se vêm em dificuldades com uma gravidez é que nós pagamos se quiser matar o filho. Mas se quiser ajuda para o criar, que recorra à caridade. Ou seja, à igreja. Como diria Pirro, se continuamos com vitórias destas estamos tramados.

Massimo Pigliucci, 15-2-07, How to do away with religion, really.

1 comentário:

  1. Quem quizer liquidar a descendência tem apoio do estado.
    É o respeito pela vida , garantida na constituição

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