sexta-feira, dezembro 15, 2006

Mutação. Degeneração. Confusão...

No seu livro “Genetic Entropy & the Mystery of the Genome”, John Sanford revela que não há mecanismos naturais capazes de manter o genoma humano fixo no seu estado actual. Mutações surgem demasiado depressa para que a selecção natural as possa eliminar a todas, e os genes da nossa espécie vão mudando ao longo do tempo. É uma descoberta importante para um criacionista, mas os biólogos já sabiam disto. Chama-se evolução.

Não admira que os criacionistas achem isto surpreendente. Eles leram num livro que cada ser vivo foi criado de acordo com o seu tipo, e assim ficaria para sempre. A nossa espécie especialmente. Segundo esse livro fomos criados à imagem de Deus, que toda a gente sabe é gordo, magro, claro, escuro, alto, baixo, homem, mulher... bem, mulher não, que essas foram criadas à imagem da costela. Mas seja como for não é suposto mudarmos ao longo do tempo.

Para a biologia dos últimos séculos isto é tão novidade como o pão às fatias. Inspirando-me nas analogias que Sanford oferece, deixo aqui uma ao leitor. As espécies são episódios duma longa novela Venezuelana. A nossa espécie é aquele em que Marisol descobre que Alonso afinal já é casado. Na altura parece uma grande coisa, mas uns episódios mais tarde já ninguém se lembra disso. E se bem que as cenas mudem de episódio para episódio não há nenhum propósito em vista e ninguém sabe como aquilo vai acabar. Se algum dia acaba.

Um exemplo que Sanford julga refutar a teoria da evolução é a diferença entre os humanos e os chimpanzés. Sanford estima que desde a separação das duas linhagens, há seis milhões de anos atrás, se acumularam na nossa espécie cerca de 20 milhões de mutações, e que a selecção natural apenas podia ter fixado mil destas. Mas vou explicar mais do principio.

Primeiro, não imaginem o ADN como uma sequência de letras. São moléculas de ácido desoxirribonucleico. As letras foram ideia de pessoas que passam o dia a inalar éter no laboratório, e são apenas abreviaturas para designar partes dessas moléculas. Ao longo da molécula de ADN há regiões que interagem com outras moléculas e desencadeiam complexas reacções químicas que acabam por determinar a cor dos olhos, da pele, a estatura, o sexo, e assim por diante. Esses trechos são os genes, e pessoas diferentes podem ter genes diferentes no mesmo sitio do seu ADN.

Voltemos ao exemplo de Sanford. Um gene fixa-se na população quando todas as outras variantes desaparecem. Por exemplo, o gene para os olhos azuis estará fixo na nossa espécie quando toda a gente tiver o mesmo gene e os olhos azuis. Sanford diz que só houve tempo para fixar mil novos genes nos últimos seis milhões de anos, baseando-se nos cálculos de Haldane (de 1957... os criacionistas gostam de livros antigos). Haldane considerou um cenário extremo: uma alteração no ambiente reduz a sobrevivência de toda a espécie excepto a pequena minoria que tem uma mutação que é benéfica nas novas condições. Daqui estimou ser preciso 300 gerações para esse gene se fixar na população, mas este valor pode ser bastante mais pequeno noutras situações. Mas vamos dar a Sanford o benefício da dúvida, e usar os números dele: em números redondos, para cada mutação benéfica que se fixe por selecção natural há cerca de 10 mil mutações que se fixaram por acaso.

Mudando novamente de direcção (este post parece uma gincana...). O que observamos em espécies como a nossa é que os trechos que especificam a estrutura química das proteínas ocupam, no total, apenas a milésima parte da molécula de ADN. Além disso, a taxa de mutações nestas regiões é cerca de dez vezes maior que nas regiões mais importantes. Dez vezes mil. Dez mil mutações sem efeito para cada mutação que faz diferença. Mais uma vez, Sanford descobre a roda.

É claro que isto é em números redondos. Mutações fora das regiões que codificam proteínas podem ter efeitos, e mutações que alteram as proteínas podem não ter impacto na sobrevivência do organismo. O número exacto de pelos no nariz, a cor dos olhos, a velocidade de crescimento das unhas dos pés, tudo isso pode variar sem afectar minimamente a sobrevivência ou a informação contida no genoma. O facto importante é que uma espécie é um conjunto diverso de indivíduos em constante mudança. Sanford descobriu isso e ficou assustado, mas não é degeneração, nem perda de informação, nem o fim do mundo. É evolução.

1 comentário:

  1. Sinceramente não me parece que o geneticista John C. Sanford esteja a duvidar da inteligência dos leitores ao utilizar o exemplo do manual de instruções. É preciso ter em mente que John C. Sanford, outrora um evolucionista, ensinou genética durante muitos anos junto de evolucionistas e consegue discernir exactamente o tipo de dificuldades que os mesmos têm na compreensão dos princípios básicos do criacionismo, tão acriticamente doutrinados que foram no evolucionismo. Daí a necessidade de adoptar uma linguagem simples e acessível, pontuada aqui e ali por alguns desenhos.

    John Sanford sabe precisamente que alguns evolucionista pensam que o DNA se reduz a um mero conjunto de ácidos nucleicos. Estes evolucionistas têm uma visão materialista e reducionista do DNA, não percebendo que o mesmo é um excelente suporte de informação e que essa informação é uma grandeza imaterial, que não se confundo com o respectivo suporte material. Pelas leituras que fiz, parece-me ser esta a posição do Ludwig Krippahl. Para se perceber a posição adoptada por estes evolucionistas pode pensar-se que ela seria o mesmo que tentar reduzir um livro de biologia molecular simplesmente a um conjunto de papel, tinta e alguns sinais pigmentados no papel, sem perceber que as sequências de caracteres ou pictogramas nas folhas de papel obedecem a um padrão de sentido pré-definido que permitem que alguém que conheça esse sentido aprender biologia molecular. Ponto é que o leitor do livro tenha sido pré-ensinado para reconhecer adscrever a cada uma dessas sequências um determinado significado. Um livro de biologia molecular em Mandarim seria claramente ininteligível para muitos de nós, que não fomos ensinados a reconhecer os respectivos caracteres e a relacioná-los com um sentido preciso. Quando um arqueólogo encontra uma pedra com inscrições gravadas pode pensar que as mesmas são meros sulcos numa pedra, destituídos de qualquer significado, ou, diferentemente, pode pensar que encontrou uma determinada mensagem na pedra, apesar de ainda não ter encontrado a Pedra Roseta que lhe permitirá descodificar as inscrições e reconhecer a mensagem nelas vertida.

    Diferentemente, existem outros evolucionistas que reconhecem que o DNA é acima de tudo um sistema de armazenamento de informação contendo instruções altamente complexas e especificadas, a qual, depois de traduzida pelo RNAm, possibilitará a realização, no ribossoma, da operação de construção de aminoácidos e proteínas que, depois de combinadas nas mais variadas quantidades e formas, darão lugar a um organismo de uma determinada espécie, seguindo à risca as instruções pré-inscritas no DNA. É claro que, no processo subsequente de divisão das células, mutações poderão acontecer, susceptíveis de comprometer, a prazo, a integridade do esquema de instruções. Felizmente o sistema tem um mecanismo de correcção automática de muitas mutações, o que demonstra que nele está pré-programado um padrão de sequências correcto, tal como no meu computador o sistema de correcção automática das gralhas supõe um pré-conhecimento da língua utilizada e uma pré-programação no sistema. Em todo o caso, uma vez entendido o DNA como um código, torna-se fácil compreender que a acumulação de mutações, longe de acrescentar informação nova ao genoma, deteriora a informação nele contida. E é isso mesmo que se pode observar. Na verdade, as mutações tenderão a detriorar o DNA assim como os erros de cópia deterioram um livro ou um programa de computador. Isso mesmo foi desde há muito reconhecido por banda dos evolucionistas. Assim, por exemplo, já há muito que o laureado com o Prémio Nobel em Biologia, John Kendrew, chamava a atenção para o facto de que “Just as in a book misprints are more likely to produce nonsense than better sense, so mutations will almost always be deleterious, almost always, in fact, they will kill the organism or the cell, often at so early a stage in its existence that we do not even realize it ever came into being at all. (John C. Kendrew, The Thread of Life, 1966, pp.106-107).Por seu lado, desde há muito que a própria Enciclopédia Britânica, cujo exemplo Richard Dawkins tanto gosta de utilizar para descrever o DNA, vem afirmando que “natural selection has used mutations for building up well-integrated organisms. New mutations are likely to upset this balance and are therefore mostly harmful or lethal. (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, 1967 ed., s.v. "Mutations"). Os próprios evolucionistas mais proeminentes reconhecem ser altamente inacreditável que as mutações consigam aperfeiçoar um sistema tão precisamente configurado como o DNA. Mas o seu compromisso ideológico com o materialismo e o evolucionismo e a sua recusa a priori em aceitar o criacionismo, a conclusão mais óbvia, lógica e natural dos dados observáveis, restringe-lhes as opções, pelo que têm que aceitar que as mutações, apesar do seu carácter aleatório, aperfeiçoem o sistema, não porque isso se retire imediatamente de uma análise dos dados (antes pelo contrário), mas apenas à falta de melhor. Isso mesmo foi expressamente reconhecido pelo centenário Ernst Mayr, há meses falecido, quando afirmou, há muito: “It is a considerable strain on one's credulity to assume that finely balanced systems such as certain sense organs (the eye of vertebrates, or the bird's feather) could be improved by random mutations. This is even more true of some ecological chain relationships. However, objectors to random mutations have so far been unable to advance any alternative explanation that was supported by substantial evidence. (Ernst Mayr, SYSTEMATICS & THE ORIGIN OF SPECIES, 1942, p.296) Mais recentemente, também Karl Popper avançava as suas dúvidas relativamente ao evolucionismo, são dizer: “The real difficulty of Darwinism is the well-known problem of explaining an evolution which prima facie may look goal-directed, such as that of our eyes, by an incredibly large number of very small steps; for according to Darwinism, each of these steps is the result of a purely accidental mutation. That all these independent accidental mutations should have had survival value is difficult to explain.” (Karl Popper, OBJECTIVE KNOWLEDGE, rev. ed., 1979, pp.269-270). As condições não se alteraram substancialmente nas últimas décadas, como evidencia o crescente número de cientistas que vêm questionando o paradigma neodarwinista.

    Referindo-se ao DNA, o evolucionista Carl Sagan dizia que numa célula se contém mais informação do que em toda a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Por seu lado, Richard Dawkins diz que uma célula contém várias vezes a quantidade de informação de todos os volumes da Enciclopédia Britânica. Para os criacionistas é altamente sugestivo que Sagan e Dawkins recorram a estas “analogias”, na medida em que nem os livros contidos na Biblioteca do Congresso nem a Enciclopédia Britânica geraram a informação neles contida. Essa informação é antes o resultado do trabalho intensivo de muitas mentes que, ao longo de séculos, criaram, codificaram, processaram, copiaram, traduziram, transcreveram e aumentaram informação, a qual se encontra agora armazenada em livros ou outros suportes de informação. Sagan, Dawkins e outros evolucionistas reconhecem que existe algo mais no DNA do que simplesmente ácidos nucleicos, embora não percebam ainda que a informação é uma grandeza imaterial distinta do respectivo suporte, que tem sempre uma origem inteligente. A mesma é sempre o produto de uma mente que convencionou adoptar um determinado padrão de sinais (v.g. sequências de letras ou pictogramas; sinais de fumo; código Morse, notação musical, sequências 01, sequências de ACGT) para armazenar essa mesma informação. Não se conhece nenhum processo naturalístico que permita a origem de informação sem a existência prévia de uma inteligência. É interessante notar que estes evolucionistas, embora apelidando os criacionistas de estúpidos e idiotas (à falta de melhores argumentos) por defenderem a existência de um acto de criação inteligente do Universo e da vida, têm forçosamente que recorrer à linguagem tipicamente inteligente dos códigos, do design e da inteligência para descrever o DNA. Os mesmos usam frequentemente palavras como “código”, “informação”, “transcrição”, “tradução”, “sistema”, “máquina”, “biblioteca”, “enciclopédia”, etc., para se referirem ao DNA. Por outro lado, quando olham para os céus, os mesmos não deixam de se referir à existência de inúmeras “coincidências” antrópicas, de sintonia infinitesimamente precisa, sem a ocorrência das quais a vida seria impossível. Ou seja, estes evolucionistas ao mesmo tempo que tentam descartar as causas inteligentes, acabam por afirmá-las, sem querer, através da linguagem que usam, típica da acção inteligente. É claro que o vocabulário do caos, da álea, do acidente, etc., se revela desadequado para descrever as características e o modo de funcionamento do DNA. Não é por acaso, que mesmo um cientista agnóstico como Stephen Wolfram veio reconhecer recentemente, no seu livro A New Kind of Science, a natureza computacional do universo. Para ele, o universo “is running a software”. Um criacionista não diria melhor.

    Para os criacionistas, a razão pela qual uma célula contém mais informação do que toda a Biblioteca do Congresso é, simples e logicamente, porque foi criada por uma inteligência superior à inteligência de todos quantos, ao longo dos séculos, contribuíram para criar toda a informação agora armazenada na Biblioteca do Congresso e na Enciclopédia Britânica. Os criacionistas reconhecem que existe muito mais, no DNA, do que simples ácidos nucleicos, e que não existe nenhuma propriedade nestes que lhes permita gerar a quantidade incomensuravelmente elevada de informação neles armazenada, tal como existe nas sequências 01, na notação musical, nas letras, nos sinais de fumo, etc., qualquer propriedade natural que lhes permita, por si só, gerar informação. Esta pode ser através deles armazenada (v.g. como um concerto de João Sebastião Bach pode ser armazenada em notação musical), mas apenas se tiver sido pré-convencionado que a uma determinada sequência de caracteres, sons, sinais de fumo, etc., corresponde uma palavra, uma nota musical, uma instrução computacional, uma instrução para a produção de aminoácidos e proteínas, etc. Essa convenção pré-existente é sempre, em todos os casos, o produto da acção inteligente. Ela supõe sempre a pré-existente de uma mente (v.g. um linguista; um autor; um compositor; um programador, etc.). Essa convenção funcionará tanto melhor quanto exista quem tenha capacidade para perceber essa informação e traduzi-la para, com base nela, realizar uma determinada função ou alcançar um determinado resultado. O DNA contém informação que permite a construção de máquinas moleculares, órgãos e organismos de uma complexidade que a mente humana mal consegue compreender. Os criacionistas estão inteiramente convencidos de que, cientificamente, não existe nenhum mecanismo naturalista que permita ao DNA criar informação sem uma inteligência anterior e superior. É exactamente isso que a Bíblia ensina: o Universo extremamente grande e a vida extremamente pequena foram criados por um Deus omnipotente e omnisciente, que se encontra para além do espaço, do tempo, da matéria, da energia e da informação. Não existe nenhuma observação empírica que desminta a Bíblia neste ponto fundamental.

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