Um Pró-Prisão Hipócrita na Nicarágua...
Concordo com a crítica do Helder Sanches (1) à propaganda que prolifera nesta questão do aborto. Incomoda-me principalmente que defensores do pensamento livre tentem influenciar outros com slogans desonestos. Parece-me uma traição aquilo que como eles defendo. O blog Vota Sim (2) dá vários exemplos. O primeiro:
Sugere uma falsa dicotomia entre punir tudo ou não punir nada, mas não há pena mínima para o aborto na lei vigente. O referendo é sobre a possibilidade, e não a obrigatoriedade, de punir o aborto antes das 10 semanas. Nem é questão de punir mulheres, pois quem mata um feto a pedido da mãe pode ser punido seja homem ou mulher. E é arriscado assumir que o aborto antes das 10 semanas nunca é condenável. Por exemplo, nos Estados Unidos a razão principal para o aborto é adiar o nascimento (25% dos casos), segundo a wikipedia (3). Não é por razões económicas (21% dos casos) ou problemas familiares (14%). É apenas porque não dá jeito agora. O voto «não» não condena as mulheres todas à prisão; apenas mantém a possibilidade de punir algumas pessoas em casos em que matar o feto não seja uma solução aceitável.
O segundo:
A primeira impressão é que o voto é decidido pela geografia, mas rapidamente se percebe a insinuação que a nossa lei é tão má como a da Nicarágua. É claro que não é. Não estamos a decidir se as mulheres violadas ou com problemas de saúde podem abortar. Estamos a decidir se o aborto até às dez semanas é aceitável sempre que a mulher quer. Seguinte:
Não chamamos hipócrita a quem quer deixar de fumar e não consegue, ou a quem diz que é errado mentir mas de vez em quando lá se sai com algo menos verdadeiro. Além disso, não se percebe como é que a alteração da lei vai reduzir a hipocrisia. Ninguém se manifesta contra o aborto só por medo da lei.
Finalmente, temos a liberdade de escolha:
Este slogan é pau para toda a obra, pois em qualquer situação podemos defender a liberdade de escolha. Basta escolher quem é que vamos favorecer: eu sou a favor da liberdade de escolha, por isso não aceito que a mãe tenha o direito de matar a filha.
Resumindo, estes bonecos são uma treta. E prometo não ofender a inteligência dos meus leitores pondo aqui bandeirinhas a contar que algém se convença por ver o «Não» a piscar...
1- Helder Sanches, 4-12-06, Aborto - Propaganda bilateral
2- Vota Sim
3- Abortion in the United States
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