terça-feira, dezembro 12, 2006

Custo de vida em Marte

O Luís Pestana pediu aqui uma opinião:

«Sr. Ludwig [...] gostava de ouvir a sua opinião sobre o facto de se gastar milhares de milhões de euros para se descobrir se há vida em Marte e depois faltar dinheiro para proteger as espécies em extinção onde vivemos...»

Apesar de me parecer que se dirigiu ao meu pai (“Sr. Ludwig”?) vou responder porque, como devem ter reparado, gosto de dar opiniões.

A recentemente defunta Mars Global Surveyor custou cerca de 400 milhões de euros, metade em desenvolvimento e lançamento, metade nos dez anos seguintes no processamento de dados e manutenção da missão, a uma média de 40 milhões de euros por ano. A missão Mars Exploration Rover explora a superfície de Marte há três anos por cerca de 800 milhões de euros.

O custo monetário de proteger espécies é difícil de estimar, mas vamos considerar um problema específico: a pesca excessiva, que coloca muitas espécies marinhas em perigo. O mercado global de pesca vale cerca de 70 mil milhões de euros por ano, mais 50 mil milhões de subsídios governamentais, cem vezes mais que o orçamento anual da NASA. Os dez anos da Mars Global Surveyor pagam um dia e pouco de pesca. É uma gota de água no oceano. E a principal causa de perda de biodiversidade é a procura global de recursos naturais, e não a falta de investimento; é difícil ver como o dinheiro pode reduzir o consumo de peixe.

A minha opinião é que a investigação científica é um investimento muito modesto e com o maior potencial de retorno a longo prazo. Por outro lado estes problemas ambientais têm mais a ver com legislação, cultura e atitude que com investimentos específicos. Por isso aqui vão dois desejos para este natal: continuado sucesso para a Mars Reconnaissance Orbiter, e que ninguém coma bacalhau.

10 comentários:

  1. Acho que pegou neste assunto, primeiro pensando o que achava e depois pesquisando nos factos que apoiavam mais a sua opinião.

    Devia ter entrado em áreas como a protecção de florestas (e tudo o que isso envolve), onde a maioria das vezes é quem tem dinheiro que consegue o que quer, quer em construção (industrial/turística), quer em destruição para posterior venda de produtos. Nesse caso o dinheiro fala mais alto, e se as instituições de defesa do meio ambiente conseguissem ter peso nisso, talvez a historia fosse diferente.

    Não é uma questão de não comer bacalhau… (sim, eu sei que era uma saída humorística natalícia…)

    Por isso digo que a questão ambiental não é só legislação e atitude, mas sim também dinheiro (nada mais simples que isso) que por vezes está nas mãos erradas…

    P.S.1: Obrigado pela opinião dada Ludwig (não usarei mais o “Sr.” para não pensar que quero só falar com o seu pai)...se diz que gosta de dar opiniões ainda bem, pois eu (alem de opinar claro) gosto de as ouvir.

    P.S.2: Como podem ver pelo curso que estou a acabar, nada tenho contra a investigação científica, simplesmente gosto de dar hipótese aos dois lados da balança…

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  2. Olá Luís,

    Podia ter considerado problemas mais modestos, mas esses também têm pouca importância. Além disso seria mais tendencioso comparar um dos mais dispendiosos programas de investigação com os problemas ambientais mais "baratos".

    Concordo que há problema em estar o dinheiro nas mãos erradas, mas também queria salientar que é muito dinheiro -- milhares de vezes mais que o que se gasta com Marte.

    E a piada do bacalhau era só meio graça. O bicho está a ser exterminado e vai desaparecer em breve se não mudarmos os nossos hábitos de consumo. E esse é o problema principal. Enquanto houver compradores vai haver sempre alguém que venda e vai ser impossível proibir o comércio.

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  3. Tudo bem, se acha que proteger florestas e milhares de espécies em vias de extinção é um tema modesto nada posso fazer.

    Sobre o facto de o dinheiro ser “milhares de vezes mais que o que se gasta com Marte”, então nesse caso eu preferia que fosse milhões de vezes mais.

    Sobre a meia piada do bacalhau, só tinha percebido uma das metades, a da piada, porque não tinha conhecimento que era um caso assim tão grave, mas como se pode ver em

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/05/060502_especiesemextincaocg.shtml

    não se trata só do bacalhau (um exemplo bem escolhido pois protege a sua posição) que tão saboroso é, mas mais de 16000 espécies, que no futuro próximo vão deixar de existir (não sou eu que o afirmo, mas especialistas) ¼ dos mamíferos, 1/3 dos anfíbios, 1/8 dos pássaros e ¼ das árvores (falamos em quantidade de espécies diferentes claro).

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  4. "Tudo bem, se acha que proteger florestas e milhares de espécies em vias de extinção é um tema modesto nada posso fazer."

    Se for para proteger o lince ibérico ou a lontra europeia é relativamente modesto. Se for para proteger a Amazónia ou a floresta tropical do sudoeste asiático não é com umas missões a Marte que se lá se chega. Nesse caso estamos a falar de muitos milhares de milhões de euros e a restruturação de economias de paises inteiros para se poder resolver o problema.

    E é de essas 1600 espécies que eu estou a falar. Para as proteger mesmo, em vez de apenas adiar um ano ou dois a extinção de meia dúzia delas, é preciso alterações profundas na forma como as exploramos, e não apenas um investimento de uns milhões de euros.

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  5. Coloquei este problema por me ter passado pela cabeça, com uma rajada de vento que apanhei ontem, mas é realmente complicado opinar sobre ele devido à sua complexidade…mas concordo com a maioria dito por si.

    P.S. : Não são 1.600 mas sim 16.119 espécies em vias de extinção

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  6. Acho engraçado quando aparece alguém a dizer que é preciso mais dinheiro para salvar os não sei quantos milhares de espécies que estão em extinção.
    O que é que uma pessoa que diz isto pensa? Que se vai criar uma reserva ecológica para cada uma dessas espécies?
    Esta visão das ligas da proteção da natureza é muito limitada. Em vez de verem o problema como um todo a nivel mundial (sobreaquecimento, poluição, ...) tendem a ver cada caso como um caso (é preciso proteger o panda ali, o lince aqui,...). Obviamente este tipo de visão, até poderá salvar uma ou outra espécie da extinção, mas de certeza que não irá produzir efeitos a longo prazo para as restantes milhares que estão em risco.

    Além disso, o processo de criação e extinção das espécies sempre fez parte da vida na terra e não vai ser agora que só porque uma das espécies tomou consciência desse ciclo, que o ciclo vai mudar.

    Muito provavelmente a investigação cientifica (incluindo a espacial), faz muito mais pela conservação dos vários milhares de espécies em extinção que um qualquer movimento de salvação das baleias.

    Numa nota final, quando alguém diz que estão em risco de extinação 16.119 (acho engraçado ser um numero tão exacto, mas se calhar sou só eu que sou desconfiado por natureza) está a incluir nesse numero bacterias, virus, insectos, árvores, crustáceos,... ou refere-se só a animais de médio/grande porte?

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  7. Tanta agressividade Sr. Md… 

    1- Presumo que leu o que escrevi, logo devia ter a noção que não tenho nada contra o investimento tecnológico, senão nem emprego ia ter, só quis levantar uma questão que me passou pela cabeça (e apimentar as coisas, digamos assim);
    2- Disse que achou graça ao que eu disse, mas não me pareceu, ate parece que ficou chateado comigo;
    3- Eu sei que podia dar vários exemplos melhores e com “grandeza mundial”, e com mais lógica “aparente”, como você disse “sobreaquecimento, poluição” ou tal como disse o Sr. Hélder “investimentos em material bélico…actividades lúdicas não produtivas”, mas não o fiz, e não foi por ser parvo (que foi a ideia com que você ficou), foi porque a astronomia não é nem perto uma das minhas paixões;
    4- Não seja “desconfiado da natureza”, ou da sua grandeza, e não tenha medo de números que não sejam “redondos”, veja o site que eu coloquei num dos comentários atrás que encontra o que procura…como foi uma pesquisa da BBC talvez acredite…não quero que pense que foi enganado;)

    Abraço a todos

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  8. Luis,

    1. Eu qd disse que acho graça a ouvir alguem dizer que é preciso mais dinheiro para conservar as espécies, naturalmente não estou a dizer q acho a mesma graça a isso e a um episódio do Seinfeld.

    2. Eu n disse que sou desconfiado da natureza, mas sim que sou desconfiado por natureza. Ou seja, é a minha natureza ser desconfiado. De resto desconfiar de um conceito tão abstracto e abrangente como "a natureza" é algo que considero muito dificil.

    3. Realmente qd escrevi o comentário ainda n tinha lido o artigo da BBC, mas dps de ler fiquei com as minhas suspeitas confirmadas, que aquele numero n era o verdadeiro numero de espécies em risco de extinção, dado que esse número é virtualmente impossivel de calcular.

    "A entidade diz, porém, que o número pode ser uma "subestimação grosseira", já que menos de 3% das 1,8 milhão de espécies conhecidas foram analisadas pelos cientistas que elaboram a Lista Vermelha. Estima-se que existam cerca de 15 milhões de espécies no planeta."

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  9. Md,

    1 – Tenho pena que não tenha tido a piada de Seinfeld, pois Jerry Seinfeld, o criador da série, não fez mais nada na vida depois disso, só vivendo dos rendimentos que o programa continua a dar, e tem uma das mais conceituadas colecção de Porsche´s do mundo, algo que não me importava nada de ter…claro que colocava filtros para o meio ambiente (já que estou a ficar com a imagem de fanático do ambiente, entro na personagem);

    2- Só quis aproveitar a semelhança das palavras, eu sei o que quer dizer “desconfiado por natureza”…ainda não consegui tirar a sua ideia que sou parvo;)

    3- Mais vale um numero grosseiro que nenhum


    P.S.: Caro Ludwig, como gosta de responder a questões (tal como muitos muitos leitores seus) gostava de saber a resposta a estas num “post”, que tanto me têm chateado a cabeça:

    a) Se as torradas caiem sempre com a parte da manteiga para baixo, e os gatos caiem sempre com as patas no chão, o que acontece se barrarmos a parte de cima do gato de manteiga e o atirarmos?

    b) Os filmes de batalha espacial tem explosões tão barulhentas…o som propaga-se no vácuo?

    c) Por que os Flintstones comemoravam o Natal se eles viviam numa época antes de Cristo ?

    d) Se os homens são todos iguais, porque é que as mulheres escolhem tanto?

    e) Como se escreve zero em algarismos romanos?

    f) O instituto que emite os certificados de qualidade ISO 9000 tem qualidade certificada por quem?

    g) Se a ciência consegue desvendar até os mistérios do DNA, porque é que ninguém descobriu ainda a fórmula da Coca-Cola ?

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  10. Caro Ludwig, agradeço que tenha respondido no meu blog às questões, embora me tenha assustado que uma mente como a sua, perca tempo num blog como o meu…

    P.S.: Queria avisá-lo que ganhou 3 prémios nos 7 possíveis (pode ver no blog)

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