Evolução: Função sem desígnio.
Sempre que vemos algo com uma função assumimos que foi criado para isso. Esta heurística é tão útil que facilmente confundimos função com desígnio. Se um relógio indica as horas é porque foi feito para indicar as horas. Se a faca corta é porque a feita para isso. E de uma imagem como a da esquerda inferimos alguém entretido com o Photoshop (1). Mas de um bicho como a ténia, à direita (2), não se vislumbra qualquer propósito que um criador inteligente possa ter tido em mente. Certamente não foi criado por quem a tem no intestino. Também não deve ter sido a ténia que escolheu essa forma tão desagradável de existência. E é pouco credível que um deus não arranje melhor coisa para fazer que parasitas intestinais.
Este mistério desvenda-se considerando a função da ténia. Aquilo que ela faz melhor que ninguém. Mais ténias. O relógio dá horas e não relógios, a faca corta mas não faz facas e a imagem da vaca com continentes não pinta imagens de vacas com continentes. Em muitos casos a função faz suspeitar um desígnio (mais ou menos) inteligente por não explicar a existência do objecto. É isto que motiva a hipótese de algo o ter criado para desempenhar essa função. Mas a função da ténia é fazer ténias. Cada ténia é criada pelo desempenho da ténia anterior sem ser necessário invocar qualquer outro objectivo. Cada ténia só “serve” para fazer a ténia seguinte e só lá está porque foi feita pela anterior. Esta função é especial. Não exige desígnio.
Qualquer característica perpetua-se e propaga-se ao promover ao contribuir para gerar mais seres com essa característica. E, com isto, cria na população condições para que surjam outras características mais capazes de desempenhar essa função reprodutora que depois a substituem. É um ciclo sem fim que produziu, e constantemente produz, esta enorme variedade de seres vivos, e que explica tanto as penas do pavão como o veneno da vespa ou os haplotipos t dos ratos.
Os haplotipos t de rato são variantes do cromossoma 17 que afectam a meiose e o desenvolvimento embrionário. Um rato com uma cópia deste cromossoma (heterozigótico) transmite-o a todos os seus gâmetas em vez de apenas a metade como acontece normalmente nos heterozigotos. Isto faz com que estas variantes do cromossoma 17 se propaguem rapidamente pela população. Mas ter dois cromossomas destes, um herdado do pai e outro da mãe, é letal ou torna o rato estéril. A propagação destes haplotipos é tão eficiente que muitas vezes resulta na extinção das populações onde se propagam. Se isto fosse por desígnio seria tudo menos inteligente, mas é fácil ver que é só mais uma de muitas coisas que acontecem na natureza sem qualquer propósito nem consideração por consequências a longo prazo.
A teoria da evolução explica a origem de seres capazes de desempenhar esta função. Para explicar de onde vem o relógio precisamos de encontrar o relojoeiro. Mas para explicar como é que a mosca é tão boa a fazer moscas basta apontar que os seus antepassados também eram exímios a fazer coisas parecidas com eles. O lento alastrar da descendência com modificação explica como a função de reprodução se mantém, se aperfeiçoa e toma formas tão diversas, complexas e surpreendentes. Esta teoria unifica a diversidade da vida neste planeta numa explicação coerente e elegante. A função de reprodução não requer desígnio, criando-se e modificando-se por si.
Mas uma boa teoria não se limita a colar o que sabemos. Tem também de restringir o que pode ser, seja ou não seja já conhecido. E também nisto a teoria da evolução é um sucesso porque só admite que a natureza, sem desígnio, consiga aperfeiçoar gradualmente aquilo que contribui para a reprodução. Mais nenhuma outra função ou propósito pode ser explicada desta maneira. Se encontramos vacas que dão demasiado leite, bananeiras com frutos enormes e sem sementes ou ovelhas com tanta lã que têm de ser tosquiadas sabemos que isso não surgiu pelo mesmo processo. Essas funções exigem um desígnio inteligente por trás, se bem que nesses casos a culpa seja dos humanos e não dos deuses.
De resto, tudo o que contribui para a reprodução, desde o nosso cérebro às ventosas da ténia, e que é herdado de antepassados parecidos (mas não exactamente iguais) pode ser explicado por este processo sem fim em vista. Por um escorregar constante na direcção que, em cada ponto, a reprodução for mais eficiente, sem qualquer inteligência nem antevisão do que virá a seguir.
1- Copiei a imagem deste post do Mats: Rebeldia versus inferência para o design
2- E esta do CienciasBlog, Parasitismo
LK
ResponderEliminarDeixa-me só comentar um ponto, os parasitas podem estar na base da diferenciação sexual. Desta forma , estas criaturas de pesadelo para quem as observe ao M. óptico , passam a poder ser olhadas de outra forma.
Detestaria clonar-me
Nuvens de Fumo,
ResponderEliminar:)
Detestarias clonar-te porque foste "programado" para gostar de sexo. Caso contrário a clonagem seria um prazer, e com certeza dos mais intensos.
Ludwig,
ResponderEliminarA aparente falta de propósito da ténia é mais um teste de Deus á nossa fé. Como os fósseis e os testes de carbono.
lol
Tu dizes isso porque não és uma ténia. Tal como muitos outros parasitas, servem precisamente para dar ao ser humano a função superior de habitat. Do ponto de vista da ténia, o humano parece mesmo feito para lhe dar casa. Há tenias diferentes para hospedeiros diferentes. Algumas das que passam por nos passam por outros bichos. Depende do estagio de desenvolvimento. Até podem dizer que nos nem somos do melhor.
ResponderEliminarAgora existem virus que só se reproduzem no homem. É a prova de que se o universo foi criado para existir o homem, o mesmo argumento serve para provar que o homem existe para que possa haver virus.
Porque se ele falasse tal como a ténia, parasitas obrigatórios, diriam que a prova que existe um Deus é que o ser humano foi mesmo desenhado para os acolher.
Fantastico.
Nuvens,
ResponderEliminarIsso dos parasitas e do sexo é verdade para parasitas microscópicos, que evoluem para se adaptar às defesas do hospedeiro. A pressão selectiva causada por parasitas como a ténia, que não têm grandes populações como muitas gerações dentro do hospedeiro e são muito resistentes aos ataques do sistema imunitário deste, parece-me pequena demais para compensar as vantagens da reprodução assexuada (vantagens, saliento, apenas na perspectiva da propagação dos genes ;)
De resto, basta considerar o ciclo de vida da ténia para perceber que um eventual criador não seria lá muito inteligente.
ResponderEliminarO bicho entra como ovo e choca no estômago donde depois tem de sair perfurando o corpo do hospedeiro. Quando encontra um sítio agradável (músculos, pulmões, cérebro) fica à espera de eventualmente ser comido novamente. Só então se fixa no intestino na fase adulta, para pôr mais ovos que serão eventualmente comidos por herbívoros... Um carrossel de porcaria. Não é muito inteligente mas porque é eficiente, estabeleceu-se.
No meu último comentário esqueci-me de referir um aspecto importante: é que o ciclo de vida da ténia é extraordinário. A existência sem sentido deste parasita e o processo de reprodução exótico, com vários estágios improváveis e não muito simples ensinam-nos algo importante sobre toda a vida na Terra.
ResponderEliminarÉ verdade que também nos ensina a lavar as mãos antes de comer. Mas piadas à parte, se formos a ver bem as coisas a ténia não é menos interessante que o Cordyceps nem muito repelente quando comparado com o aparecimento das flores coloridas a contar com os insectos.
Já para não falar no Leucochloridium variae.
ResponderEliminarOu do toxoplasma gondii e do dicrocoelium dendriticum (no The Loom o Carl Zimmer menciona vários parasitas do livro dele, Parasite Rex).
ResponderEliminarMas aposto que não é preciso ir longe: suponho que não é à toa que o vírus da gripe sazonal provoca congestionamento nasal e tosse, ou que o varicella zoster provoca erupções cutâneas e comichão.
"Para explicar de onde vem o relógio precisamos de encontrar o relojoeiro. Mas para explicar como é que a mosca é tão boa a fazer moscas basta apontar que os seus antepassados também eram exímios a fazer coisas parecidas com eles.
ResponderEliminarMas o facto da mosca ser boa naquilo que faz (tal como o eram os seus antepassados) não explica como surgiu a mosca, do mesmo modo que se eu explicar como o relógio é tão bom a dar as horas não explica como é que o relógio surgiu.
Parece-me que o problema é assumir que as mesmas forças e condicionantes que estão por trás das habilidades da mosca são as mesmas que a trouxeram a existência. Isso é o mesmo que dizer que os mesmos mecanismos que fazem o relógio operar são os mesmos que produziram o relógio inicialmente. Mas nós sabemos que o que gerou o relógio foi o design inteligente, embora dentro do mesmo funcionem forças mecânicas e eléctricas.
ResponderEliminarPorquê assumir que as forças que presentemente operam nos seres vivos são as mesmas que as trouxeram a existência?
Caro Mats,
ResponderEliminarPorque faz sentido quando se observa o registo fóssil.
Caro Francisco Burnay,
ResponderEliminarMas quando tu observas o registo fóssil, tu já vais com uma hipótese formada (na base da qual tu buscas evidências confirmatórias). Tu não olhas para o registo e "vês" as forças presente em acção a gerarem a biodiversidade. Tu olhas para o registo e impões a tua interpretação do mesmo.
A questão é mesmo essa interpretação: porque é que, antes de se observar as evidências, se assume que as forças que actualmente operam na biologia são as mesmas que originaram os sistemas presentes no mundo biológico?
Mats,
ResponderEliminarA mosca não é exactamente igual aos seus pais. E sabemos que tem diferenças genéticas por recombinação e mutação dos genes.
Sabemos também que os genes da mosca, e de todos os seres vivos, estão em moléculas grandes formadas por quatro monómeros.
E sabemos que, por mutação e recombinação, é possível que estes vão sendo diferentes de geração em geração sem haver nenhuma barreira à diversidade.
E sabemos pelo registo fóssil, pela filogenia, pela anatomia comparada, pelas técnicas de criação de animais, pelos modelos de populações e uma data de outras coisas que foi mesmo isso que aconteceu.
E só não sabe isso quem se agarra a um livrinho com histórias de uma tribo de há uns milénios e se esforça por ignorar o que se aprendeu desde então.
Mats,
ResponderEliminar«porque é que, antes de se observar as evidências, se assume que as forças que actualmente operam na biologia são as mesmas que originaram os sistemas presentes no mundo biológico?»
Tu vais aparafusar a mobília toda ao chão ou vais assumir que amanhã a força da gravidade vai actuar exactamente da mesma maneira que hoje?
A única forma de lidar racionalmente com a realidade é assumir que as coisas continuam como são, e foram como são, a menos que tenhamos evidências em contrário.
Porque se vamos assumir que serão ou foram completamente diferentes só porque nos dá na gana ou porque lemos num livro não conseguimos perceber nada de nada. É milagres para aqui, mistérios para acolá e nem sequer esfregar dois paus para fazer uma fogueira se consegue porque, sabe-se lá, pode transformar-se em cobras.
Mais um exemplo de "design" estúpido:
ResponderEliminarO nervo laríngeo recorrente que no caso dos mamíferos parte da medula espinal na zona do pescoço desce até ao peito, passa por baixo da artéria aorta perto do coração e volta para cima até à laringe em vez de ir logo directo para a laringe.
Na pobre girafa este nervo tem um comprimento de mais de 3 metros quando só eram precisos alguns centímetros.
Se a girafa tivesse sido "desenhada" por um "ser inteligente" era a prova de um "designer" muito incompetente (um engenheiro que cometesse constantemente erros do género ou mudava de profissão ou arriscava a estar quase sempre no desemprego) e poria em causa o adjectivo "inteligente".
Mais exemplos no link seguinte:
Some More of God's Greatest Mistakes
http://www.freewebs.com/oolon/SMOGGM.htm
Ver também este excelente documentário que passou há pouco tempo na BBC:
Inside Nature's Giants
http://www.youtube.com/view_play_list?p=AA2A1EC6D89256DB
No 4.º episódio é feita a dissecação de uma girafa onde se pode observar o nervo em questão.
Aviso já que não é aconselhável a estómagos fracos...
Ludwig,
ResponderEliminarA tua primeira "resposta" não chegou a refutar a minha afirmação inicial:
Mas o facto da mosca ser boa naquilo que faz (tal como o eram os seus antepassados) não explica como surgiu a mosca, do mesmo modo que se eu explicar como o relógio é tão bom a dar as horas não explica como é que o relógio surgiu. Certo?
Explicar o funcionamento não explica a origem.
Em relação ao relógio falaste sobre a origem ("Para explicar de onde vem o relógio precisamos de encontrar o relojoeiro") mas em relação à mosca não falaste "de onde vem" mas "o que faz" ("Mas para explicar como é que a mosca é tão boa a fazer moscas basta apontar que os seus antepassados também eram exímios a fazer coisas parecidas com eles").
Portanto num falas da origem mas noutro falas da funcionalidade.
Porque é que assumes que a funcionalidade pode de alguma forma explicar a origem da mosca, mas não fazes o mesmo em relação ao relógio?
Porque é que assumes que as forças que estão presentemente em operação no mundo biológico são as responsáveis pelo dito mundo biológico?
"Tu vais aparafusar a mobília toda ao chão ou vais assumir que amanhã a força da gravidade vai actuar exactamente da mesma maneira que hoje?
Mais uma vez misturas "operação" com "originação". O facto de eu assumir que a lei da gravidade vai funcionar na minha mobília como sempre tem funcionado não implica que a minha mobília tenha sido feita pela lei da gravidade ou por outra lei que actualmente nós observamos.
Porque é que se assume que as leis que actualmente operam na natureza são as mesmas que trouxeram a natureza a existência?
Caro Mats,
ResponderEliminarNão há imposição nenhuma. Um exemplo: eu não preciso de ver um átomo para saber que existem átomos. Quando Einstein analiza a estatística do movimento de agitação térmica num fluido, assumindo a existência de átomos, chega a um resultado que faz sentido com o que Brown tinha visto no microscópio - grãos de pólen a tremelicar.
Como é fácil ver, Einstein não "impõe" a existência de átomos. Ele prova que se assumir que os átomos existem, o movimento browniano é explicado (e não só).
Pode não se saber tudo sobre as partículas que constituem os átomos. Mas duvidar da sua existência é uma perda de tempo ou um exercício académico de interesse meramente pedagógico. O mesmo se aplica à teoria da evolução - há ramos que não se sabe bem de onde vêm mas o tronco está firmemente agarrado ao chão.
Só uma coisinha para o Mats.
ResponderEliminarAquilo do padrão da vaca pode acontecer sem ter sido originado com um propósito para ficar naquela forma, ou seja: sem inteligência, como aconteceu com os caranguejos com a cara de samurai na carapaça, ver aqui, explicado aqui, e com um vídeo de Carl Sagan da séria Cosmos aqui, que acho que foi de onde eu vi isto pela primeira vez. Que grande série a Cosmos!
Ou seja, o homem faz o papel de selecção natural e não tem o intuito ou o objectivo de fazer algo para que os resultados sejam aqueles.
Aqui outras curiosidades, embora isoladas, não se reproduzem como no caso do caranguejo.
Quando falo "sem inteligência", refiro o caso do homem não querer de forma inteligente e premeditada obter aquele resultado, e que o mecanismo de selecção natural está ali exemplificado no papel do homem, podia ser um predador que não gostasse daquela forma de carapaça (se assustasse com aquela aparência ou outra coisa qualquer).
ResponderEliminarMats,
ResponderEliminar«Porque é que assumes que a funcionalidade pode de alguma forma explicar a origem da mosca, mas não fazes o mesmo em relação ao relógio?»
Está explicado no post. Porque a função que o relógio desempenha não tem nada que ver com a criação de relógios, enquanto que tudo o que a mosca faz bem, com mecanismos complexos cuja existência requer explicação, está vocacionado para a criação de moscas.
Pega numa mosca e num relógio e pergunta-te, para cada um desses dois objectos, que coisa o criou. Enquanto que no caso do relógio é algo muito diferente do relógio, no caso da mosca é uma mosca parecida a essa.
E ser parecido, e não exactamente igual, é também importante. Porque, se vires em detalhe (na genética, por exemplo), vês que as diferenças entre a mosca mãe e filha são aleatórias. Ou seja, enquanto que o relógio foi criado por um relojoeiro de propósito para ter um relógio, a mosca é um produto natural das moscas que difere dos seus pais ao acaso.
Depois clica na tag "criacionismo" aqui no blog e podes ver mais uma data de outras razões para preferir a teoria da evolução em vez da história da carochinha. Não é só por isto que escrevo neste comentário. Isto é só para salientar a diferença entre a mosca e o relógio: a mosca faz moscas, o relógio não faz relógios.
a função que o relógio desempenha não tem nada que ver com a criação de relógios, enquanto que tudo o que a mosca faz bem, com mecanismos complexos cuja existência requer explicação, está vocacionado para a criação de moscas.
ResponderEliminarMas o facto de moscas darem à luz moscas não significa que a primeira mosca surgiu segundo o mesmo processo que as demais surgiram. Tu assumes isso, mas não justificas essa fé.
É claro que a primeira mosca surgiu de um processo diferente das moscas seguintes, uma vez que as demais vieram de moscas, mas a primeira mosca não veio de nenhuma mosca. O que tu queres fazer é afirmar que como moscas dão à luz moscas, então é assim que surgiu a primeira mosca. Não há razões para essa posição. Se achas que há, então tens que dizer porquê.
Isto é só para salientar a diferença entre a mosca e o relógio: a mosca faz moscas, o relógio não faz relógios.
A mosca faz muitas outras coisas para além de se reproduzir segundo a sua espécie (voa, vê, cresce, come, etc). O relógio só dá as horas.
No entanto, explicar o funcionamento não explica a origem.
Mats,
ResponderEliminarHá uns séculos não havia língua portuguesa. Hoje muita gente fala português. Responde-me então isto: com quem aprendeu a falar a primeira pessoa que falou português?
Quando descobrires que escolher essa pessoa é completamente arbitrário porque a língua portuguesa evoluiu gradualmente pela acumulação de pequenas diferenças na fala entre pais e filhos estarás bem encaminhado para perceber que o teu problema da origem da primeira mosca é um falso problema.
A única origem que é de explicar é a dos primeiros sistemas capazes de se reproduzir. Mas esses eram sistemas químicos muito mais simples que qualquer ser vivo.
Mats:
ResponderEliminar"É claro que a primeira mosca surgiu de um processo diferente das moscas seguintes"
Mats, que a primeira mosca surgiu de Deus é uma bizarria criacionista. Apenas ultrapassada pela bizarria de Deus a dar ténias.
Vou te dar uma má noticia. Não houve uma primeira mosca.
Não houve um primeiro homem e não ouve uma primeira gaivota. A coisa foi tão gradual que mesmo nos saltos evolutivos maiores as diferenças entre pais e filhos são as mesmas que se verificam hoje. Só por convenção é que tens uma primeira ténia.
Quando se consegue explicar algo por mecanismos conhecidos naturais não é fé. É inteligencia. Não compreender isso é mau. Insistir que explicar uma coisa através de processos bem descritos é uma fé é estupidez.
*** off topic... ou talvez não... ***
ResponderEliminarO jornal público trás hoje na primeira página uma foto da Eva.
http://ultimahora.publico.clix.pt/?idCanal=13
Esta conversa deu-me vontade de partilhar uma coisa que aconteceu a uma amiga minha.
ResponderEliminarEla foi trabalhar para Cabo Verde. Qunado voltou andava com uma comichão num olho e foi ao médico.
O senhor ficou pasmado, ela tinha uma série de ovos (muito pequenos) à volta do olho e a navegar neste, escondido , um parasita originário da Ásia. Conclusão, os parasitas andam de avião :))
também me lembrei de vos alegrar o dia
ResponderEliminarCuidado com o que se come :))
Por via das dúvidas eu compro pantelmim para o meu gato e para mim, pelo menos 1 vez por ano.
Esta é fantástica
ResponderEliminarA cena do mosquito está a matar. Deus ?
Há uns séculos não havia língua portuguesa. Hoje muita gente fala português. Responde-me então isto: com quem aprendeu a falar a primeira pessoa que falou português?
ResponderEliminarCom as pessoas ao seu lado que, embora não falassem o português de hoje, falavam o suficiente para permitir a comunicação e a troca e uso de novas palavras que mais tarde originaram o que hoje conhecemos como português. Tudo isto por design inteligente. Foi isso que aconteceu com a origem da mosca?
Como vês, essa analogia não é realista uma vez que a transformação da linguagem é um processo modificado segundo selecção artificial inteligente e não por selecção não-inteligente.
Segundo, a tua pergunta também não explica a tua posição de fé em assumir que as forças presentemente em operação são as mesmas que originaram o aparecimento das moscas.
Quando descobrires que escolher essa pessoa é completamente arbitrário porque a língua portuguesa evoluiu gradualmente pela acumulação de pequenas diferenças na fala entre pais e filhos estarás bem encaminhado para perceber que o teu problema da origem da primeira mosca é um falso problema.
Mas eu não tenho problemas com a origem da mosca. Eu sei como elas surgiram. A minha questão é a tua fé de que as forças que hoje funcionam são as mesmas que geraram a mosca inicialmente.
Modificações verdadeiramente acontecem, e aquelas que já foram documentadas estão bem dentro da crença de que Deus criou o universo em 6 dias, há cerca de 6000 anos atrás.
O problema é que por mais longe no tempo nós recuemos, as modificações não parecem modificar as formas de vida de forma evolutivamente significativa, nem de forma que contradiga a Bíblia. Dada esta situação, porque assumir que aquilo que hoje não acontece, aconteceu no passado não observável? Porquê assumir que a funcionalidade da mosca actual explica a origem da mosca primordial?
Funcionalidade não explica a origem, como tu muito bem mostraste com o exemplo do relógio, mas quando passas para a mosca queres explicar a origem segundo processos actualmente observáveis. O facto de haver reprodução não implica necessariamente que ESSE é o método a partir do qual a mosca surgiu.
Imagina que os seres humanos conseguem construir um relógio que consegue se reproduzir. Será que vais assumir que as mecânica interna do relógio está por trás da sua origem? Claro que não. No entanto é exactamente isso que fazes com a mosca.
Outra coisa que convém dizer é que a modificação e ramificação do latim não explica a ORIGEM do latim.
Mats,
ResponderEliminar«Com as pessoas ao seu lado que, embora não falassem o português de hoje, falavam o suficiente para permitir a comunicação e a troca e uso de novas palavras que mais tarde originaram o que hoje conhecemos como português. »
Com a "primeira mosca" teria acontecido o mesmo. Herdou os seus genes de outros que, embora não fossem moscas, eram suficientemente parecidos a moscas para permitir que alguns dos seus descendentes fossem moscas como as conhecemos hoje.
E a inteligência aqui é irrelevante. É necessária para uma pessoa aprender a lingua dos seus pais, mas não é necessária para que uma mosca herde os genes dos seus. Nota que a inteligência no caso da linguagem humana não é uma inteligência de um designer divino. É a inteligência humana. Que não precisamos para nascer com os genes que temos, nem a mosca para nascer com os seus genes.
«Outra coisa que convém dizer é que a modificação e ramificação do latim não explica a ORIGEM do latim.»
O latim terá originado de outra língua que não o latim. Mas terá tido a sua origem num processo análogo ao da origem do português. E assim para trás no tempo até chegarmos a linguagens mais simples, talvez com mais gestos que palavras, os primeiros rituais simbólicos e assim por diante.
O resultado disto é que para explicar a origem de linguagens tão complexas como as que temos hoje não precisamos de invocar o design inteligente. Não se reuniram uns homens das cavernas a escrever o pretérito imperfeito e o presente do conjuntivo de cada verbo. Foi um processo gradual, sem planeamento -- ninguém há 30 mil anos estava a planear o português -- partindo do mais simples para o mais complexo.
Tal como a vida.
E nota, mais uma vez, que a inteligência no caso da linguagem é irrelevante para esta discussão porque é a inteligência dos participantes e não uma inteligência externa ao processo como a que tu propões.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarSó mais uma coisa aí para o Mats ver que essa treta dos padrões há em grande quantidade.
ResponderEliminarNas ligações seguintes, clicar igualmente nas fotos mais pequenas do lado direito.
Padrões de caras presentes em seres vivos aqui.
Padrões de olhos presentes em seres vivos aqui.
Padrões de letras presentes em seres vivos aqui.
Padrões de pessoas presentes em seres vivos aqui.
Padrões de animais presentes em seres vivos aqui.
E por fim, um alfabeto completo bem como todos os números de 1 a 9 feitos com padrões de seres vivos aqui.