Evolução: cinco princípios.
O Mats queixou-se que eu não mostrei qualquer mecanismo para a evolução do pé (1). Cá vão então os pontos fundamentais da teoria que Darwin propôs há 150 anos. A teoria da evolução de hoje é muito mais que isto, da genética de populações à biologia molecular, da homologia de proteínas aos estudos de biodiversidade. Darwin nem sequer sabia como os filhos herdavam as características dos pais nem fazia ideia do que era o ADN. Mas os princípios que ele enunciou ainda são válidos e úteis para perceber a origem das espécies.
O primeiro princípio é que qualquer população cresceria exponencialmente se tivesse recursos ilimitados. Se cada casal de coelhos tem quatro filhos a população duplica a cada geração. O que na prática é impossível. Por isso, diz o segundo princípio, como os recursos são limitados muitos indivíduos não conseguem deixar descendentes. Na luta pela reprodução só alguns têm sucesso. Isto vem do que Malthus escrevera no seu Ensaio sobre o Princípio da População, em 1798, e que Darwin leu em 1838, percebendo de imediato as implicações para a evolução.
O terceiro princípio é que os indivíduos são todos diferentes. Por muito pequenas que sejam as diferenças, há sempre variação em qualquer população. Darwin desconhecia os mecanismos de recombinação genética e mutação. Hoje sabemos que, pelos erros inevitáveis na cópia do ADN, a diversidade genética de uma população nunca pode desaparecer por completo. Mas mesmo sem se conhecer a origem molecular desta diversidade, esta diversidade era evidente no tempo de Darwin e muito apreciada pelos criadores de plantas e animais. E se cada população tem indivíduos diferentes, uns serão mais aptos que outros para se reproduzir no ambiente onde vivem. Este é o quarto princípio. As diferenças entre indivíduos correlacionam-se com diferenças no sucesso reprodutivo.
Em conjunto, estes implicam o quinto princípio. A conclusão é que os indivíduos de cada geração tendem a ser aqueles que herdaram dos seus progenitores as características que mais ajudaram na reprodução. Assim, a cada geração a diversidade da população é empurrada pela selecção natural resultando, em média, numa geração seguinte com mais características favoráveis à reprodução e menos incidência das que forem desfavoráveis.
O nosso pé – como tudo o resto – surgiu por este mecanismo. É difícil dizer ao certo que factores levaram os nossos antepassados arbóreos, há cinco ou dez milhões de anos atrás, a caminhar erectos. Darwin propôs que seria para libertar as mãos, que pode ter servido para carregar alimentos ou utensílios ou para transportar as crias. Outras possibilidades são o alargamento da zona de caça e recolha do macho, trazendo provisões para as crias, ou para melhor vigiar os predadores. Os detalhes teremos de ir encontrando, mas o que a teoria da evolução diz claramente é que alguma coisa, seja uma nova característica comportamental ou uma alteração no ambiente, mudou o balanço de vantagens e desvantagens entre ter um membro posterior mais capaz de agarrar ramos ou mais eficiente para caminhar.
Uma vez encetado este caminho, a selecção natural fez com que os indivíduos com um pé mais parecido com o nosso tivessem mais probabilidade de se reproduzir. O nosso pé resulta de descendermos de uma linha ininterrupta de indivíduos que conseguiram reproduzir-se. Nem um único dos nossos antepassados falhou nesta tarefa.
O Mats dirá que a variação de uma geração para outra está muito bem mas que isto não explica como um macaco passa a ser homem. É um aspecto curioso do terceiro princípio. À partida, devia ser o mais evidente. Basta olhar em volta para ver que todas as populações são compostas por indivíduos diferentes entre si e que chamar a uma “macaco” e a outra “homem” não designa uma coisa única mas sim categorias onde agrupamos seres diversos. Infelizmente, a nossa mente insiste em reificar tudo e ver tais categorias como se fossem coisas em si, com uma essência própria*.
Este erro não é apenas dos criacionistas evangélicos, muçulmanos radicais e outras seitas que rejeitam explicitamente a evolução. O cristianismo católico comete-o também ao admitir a “evolução biológica” mas exigir um ponto onde surja o Homem. Ou seja, exigem uma transformação da essência dos animais ancestrais na essência do ser humano.
Isto é um erro crasso porque só se pode perceber a evolução rejeitando essa ideia das essências. Não há uma essência de macaco que se transforma numa essência humana. Há populações. Cada uma é composta por indivíduos diferentes. E cada indivíduo nasce, cresce, morre e deixa outros parecidos mas não iguais. Com o tempo, a população dos descendentes é cada vez mais diferente da população ancestral, sem que nunca se altere qualquer essência. E este é um processo que não tem propósito, não segue nenhum plano e nunca, nunca, terá fim**.
*Acontece também na propriedade intelectual. As “coisas” de que se é proprietário segundo esta doutrina são, na verdade, categorias. Quando dizemos que duas pessoas cantam a mesma canção estamos a dizer, em rigor, que agrupamos na mesma categoria os padrões de som que produzem. A ilusão que se pode ser o dono legítimo de uma categoria é análoga à ilusão que existe uma essência para cada espécie.
** OK, esta parte é hipérbole. Eventualmente o universo vai ficar todo congelado e acaba-se a brincadeira. Mas isso é daqui a tanto tempo que dá bem para dois nuncas. Ou mais.
1- Mats, Pressão Evolutiva Pressiona-me a Rejeitar a Evolução
"e que Darwin leu em 1938"
ResponderEliminarParto do principio que será 1838. :)
Duh!... :)
ResponderEliminarObrigado.
Talvez tenha interesse: http://www.i-sis.org.uk/encyclo.php
ResponderEliminar"Acontece também na propriedade intelectual. As “coisas” de que se é proprietário segundo esta doutrina são, na verdade, categorias"
ResponderEliminarOk, são informação mas correspondem a uma representação fisica, senão tu não estavas interessado nelas. Nem que seja fazer disparar uns neuronios e libertar umas endorfinas. E a informação pode-se caracterizar. O que me parece é que por um lado queres a informação pela utilidade que ela te tras por outro lado regeitas essa utilidade dizendo que é apenas informação. Mas as duas coisas estão la enquanto houver quem a consiga usar, mesmo que só potencialmente.
E tambem não tem intencionalidade, é certo... Ainda.
Tiraste força à critica com esta mistura.
" Nem um único dos nossos antepassados falhou nesta tarefa."
ResponderEliminarHaaa. E qual era a probabilidade de isso acontecer? Fantastico.
Eurico:
ResponderEliminarSim, a epigenetica é a vingança silenciosa de Lamarck. Mas é só isso. Nada de estrondoso como realmente um lamarckismo forte, apenas um complemento importantissimo para a hereditariedade com importancia a nivel familiar. Creio que não mais.
João,
ResponderEliminarUm CD é uma coisa física. Mas os meus CDs são meus, não do autor da música.
E as músicas, o tenho dois amores ou o parabéns a você, são categorias não coisas.
Já agora, João, eu não rejeito a utilidade do número 32, do verbo existir ou da teoria da relatividade. Rejeito é que se restrinja o uso de instâncias dessas categorias com leis de propriedade.
ResponderEliminarO mesmo se passa com sequências de bits, músicas, texto, etc.
"E as músicas, o tenho dois amores ou o parabéns a você, são categorias não coisas"
ResponderEliminarE depois? Podes identifica-las facilmente e dizer quando se fez uma copia de uma delas e se a copia tem muita ou pouca fidelidade. E podes distinguir facilmente uma da outra e de todas as outras combinações de sons.
Se podes dizer o que é uma copia podes legislar sobre isso. Não é uma lei natural ou falta dela que o contraria.
Não se trata de dizer que existe uma entidade indistinta de qualquer crença que tem vontade propria.
Não se
" Rejeito é que se restrinja o uso de instâncias dessas categorias com leis de propriedade."
ResponderEliminarMas isso é outra coisa. Pode ser feito. Tu é que achas que é prejudicial. Não é dizer que não pode porque não existe tal coisa como "propriedade intelectual". Existe e sempre existirá enquanto estivermos convencidos que criamos alguma coisa.
Se se pode negociar com isso e como se pode é outra questão.
Eu até podia estar de acordo contigo neste aspeto, se se provasse empiricamente, mas nunca em relação aos argumentos do isto não existe porque foi inventado.Por ser inventado é que é propriedade intelectual e não fisica, mas a nossa mente é real e os nossos padroes de circuitos neuronais tambem. Os nossos pensamentos são reais - mas não aquilo que eles representam.
Os nossos pensamentos são reais - mas não aquilo que eles representam.
ResponderEliminarOu seja a representação de um elefante sera sempre a representação e não o elefante, mas a representação existe por si propria.
Aceito que a musica seja subjectiva e que o universo não houve musica por assim dizer. Mesmo depois de produzida, a realidade fisica é indiferente se são zeros e uns se frequencias sonoras - o que interessa é a realização intelectual, na mente. E isso é testavel, reprodutivel, manipulavel, inconfundivel (se confundes duas musicas se calhar ha plagio) etx.
Parece que queres tirar o significado da musica ou da arte para a poderes apreciar. Não faz sentido.
"Mas os meus CDs são meus, não do autor da música."
ResponderEliminarNão, tu não és dono dos teus CDs, tal como es dono de outras coisas. É mais um contrato de poderes fazer certas coisas com aquele CD.
Pensei que era contra isso que te insurgias... Claro que o plastico é teu para fazeres dele o que quiseres desde que não o queiras usar para infrigir a lei. Como por exemplo cortar alguem.
Percebes o que quero dizer?
ResponderEliminarAcho que tens de distinguir entre "isto não pode ser feito" e "isto não deve ser feito se...".
Ludwig,
ResponderEliminarfiquei contente por reconheceres que o cristianismo católico não se confunde com o fundamentalismo religioso, mesmo se existem outros grupos das outras religiões que procuram estudar a fundo a interpretação religiosa que fazem do mundo e a forma como o descrevemos através das ciências naturais.
Não estaria tão seguro que o "ponto onde surja o Homem" seja um erro, no que diz respeito ao Cristianismo Católico. Certamente é um ponto onde se sente que mais deve ser aprofundado e discutido, mas não com base no erro, com excepção do interpretativo das Escrituras.
Por outro lado, a essência do macaco não se transforma na humana, mas ambos possuem um ancestral comum. Contudo, a essência - se a ela te queres referir - é clara e tem a ver com a consciência de si mesmo. Eu acredito que Deus age nos, com e através dos processos naturais. Age intrinsecamente, no íntimo, e é Causa Primeira, mesmo se causa é usado em sentido analógico, não sendo uma causa entre outras causas. Nesse sentido, a percepção de Deus poderia considerar-se, por exemplo, como o primeiro sinal de humanidade. Algo que não acredito acontecer a "um primeiro", mas relacionalmente a "um grupo". Algo a discutir também, claro ...
Quanto à tua conclusão
E este é um processo que não tem propósito, não segue nenhum plano e nunca, nunca, terá fim
concordo com a última parte, mas discordo das primeiras duas, pois o plano de Deus não se associa ao algo de engenharia, ou desenhado, mas sim de um plano de amor, algo difícil de entender para quem opta pelo materialismo científico e opta, assim, por recusar a consonância de um processo cujo propósito pode ser, por exemplo, segundo Alfred North Whitehead, incrementar a beleza no universo, a última entendida como a harmonia de contrastes.
Abraço e Bom Domingo!
João,
ResponderEliminar«E depois? Podes identifica-las facilmente e dizer quando se fez uma copia de uma delas e se a copia tem muita ou pouca fidelidade.»
Claro. A utilidade de uma categoria está em poder identificar os seus membros. Se te dou a categoria "calças de jeans azuis" é fácil veres se um dado objecto pertence ou não à categoria.
O problema está em dizeres que alguém é dono dessa categoria. Faz sentido ser dono de um objecto, como um par de calças jeans azuis. Mas não faz sentido ser dono da categoria "calças jeans azuis". Só faz sentido haver leis de propriedade para objectos concretos e não para categorias abstractas.
«Não, tu não és dono dos teus CDs,»
Sou sim. Posso destruí-los, emprestá-los, dá-los, vendê-los ou colá-los à parede. Os objectos físicos, a rodela de plástico e a caixa, são meus.
O que há é depois umas manigâncias com licenças de utilização do software e afins, mas isso são outras tretas.
«Acho que tens de distinguir entre "isto não pode ser feito" e "isto não deve ser feito se...".»
Não vejo onde esteja a fazer essa confusão. O que estou a dizer é que ao considerar que a categoria dos humanos e a categoria dos macacos -- todos os seres vivos reconhecíveis como humanos ou macacos, respectivamente -- são coisas, com uma essência, se comete um erro semelhante ao de imaginar que a categoria do parabéns a você -- todos os padrões de som ou suas representações reconhecíveis como sendo essa canção -- é uma coisa passível de ser propriedade tal como são os bens escassos.
Isto não quer dizer que seja impossível legislar obrigando a ensinar criacionismo nas escolas ou afirmando que alguém é dono do parabéns a você. Apenas afirmo que são disparates.
Miguel Panão,
ResponderEliminar«Por outro lado, a essência do macaco não se transforma na humana, mas ambos possuem um ancestral comum. Contudo, a essência - se a ela te queres referir - é clara e tem a ver com a consciência de si mesmo. Eu acredito que Deus age nos, com e através dos processos naturais. Age intrinsecamente, no íntimo, e é Causa Primeira, mesmo se causa é usado em sentido analógico, não sendo uma causa entre outras causas. Nesse sentido, a percepção de Deus poderia considerar-se, por exemplo, como o primeiro sinal de humanidade. Algo que não acredito acontecer a "um primeiro", mas relacionalmente a "um grupo". Algo a discutir também, claro ...»
À parte de queres definir o termo "humano" como sinónimo do termo "religioso", definição da qual discordo por razões óbvias, estás novamente a não dizer nada com uma data de palavras.
Essa coisa de deus ser uma causa intrínseca na contingência do etc e tal não adianta absolutamente de nada. Porque é uma afirmação que, se for totalmente falsa, dá exactamente o mesmo que se for totalmente verdadeira...
Ok, mas às vezes parece que falas como se houvesse uma impossibilidade tecnica ou lógica de o fazer.
ResponderEliminarAté podes ter razão e seria o primeiro a admitir isso caso tirar o copyright fizesse surgir uma revolução tecnologica e cultural - que por vezes parece que é o que isso está a impedir, pelas tuas palavras.
Mas não porque haja em essencia na catergoria uma impossibilidade logica. Se podes dizer que "não pode" tambem podes dizer que "pode". Depende do que se pretende atingir. Estamos a lidar com conceitos com efeitos e consequencias fisicas para além da crença que se faz deles.
João,
ResponderEliminar«Ok, mas às vezes parece que falas como se houvesse uma impossibilidade tecnica ou lógica de o fazer.»
Há uma impossibilidade lógica de dividir o conjunto dos inteiros em números que se possa transmitir e números que não se possa transmitir. Por isso se querem proibir a transmissão de certas sequências de bits por dizer pertencerem a uma certa editora enfrentam o incontornável problema matemático que se proíbes a transmissão do 33 basta mandar o 32 e dizer "e soma um".
E há uma impossibilidade técnica de implementar estas restrições, como é mais que evidente na Internet.
Admito no entanto que isto não impede os lobbies de pressionar legislação neste sentido, por muito ridícula, injusta e inútil que seja.
Ludwig,
ResponderEliminara crítica justa que me fizeste - na minha opinião - vem do facto do materialismo científico não possuir essa resposta, ou dessa questão num mesmo nível de realidade (o material) poder ser afirmada, bem como o seu contraditório.
O que eu me refiro diz mais respeito à ontologia que à física, onde considero (e imagino que discordes) a ontologia prioritária face à física.
Não tem problema, importa sim que no discordar continuemos a dialogar.
Abraço
Miguel Oliveira Panão:
ResponderEliminarA pergunta que tinha feito a respeito da esfericidade da terra parecia-me essencial para o esclarecimento daquilo que se entende por "níveis de realidade", evidenciando, ou não, aquilo que percebo como sendo um erro.
Infelizmente o Miguel nunca chegou a responder.
Visto que se voltou a falar nesse conceito, vou reiterar e reformular a pergunta:
Os engenheiros civís actualmente, para construir barragens e pontes, lidam com uma série de aproximações. Consideram que a física clássica está correcta, mas também que a terra é plana e consequentemente o campo gravítico uniforme.
Considero que ambas estas aproximações são erros úteis. A física clássica está errada e a terra não é plana. Mas o Miguel considera que a física clássica não está errada - está certa num determinado «nível de realidade». Mas a forma como justifica esta alegação aplica-se igualmente igualmente para a consideração de que a terra é plana. Daí eu perguntar: há algum nível da realidade em que a terra seja plana? Ou ela é quase esférica em todos os níveis, mas considera-la plna pode ser um erro útil (e possível de majorar) em várias circunstâncias?
João
ResponderEliminar"a epigenetica é a vingança silenciosa de Lamarck. Mas é só isso."
... e um valente abanão no dogma central da biologia. Nada de especial, portanto.
"e um valente abanão no dogma central da biologia. Nada de especial, portanto."
ResponderEliminarNão há dogma nem abanão. Ja percebi que és meio ignorante nestas coisas. Ao menos percebes de religião.
Miguel Panão,
ResponderEliminar«O que eu me refiro diz mais respeito à ontologia que à física»
A física é uma ontologia. É uma descrição das entidades que supõe existirem e das supostas relações entre elas. Qualquer tentativa de descrever o que é é uma ontologia. Não pode ser outra coisa...
O problema é que, das ontologias cuja correspondência ao que pretendem descrever se consegue testar, só sobrevivem aquelas que tu chamas de materialistas. Das outras, as que incluem deuses e mais essas coisas, ou há umas como as do Mats e do Sabino, que se vê logo que falham redondamente, ou há aquelas como as tuas que fogem de tudo o que se possa testar.
Nota que se o teu deus existir e for como tu dizes ser não nos faz diferença nem falta nenhuma, porque tudo o que lhe atribuis é o que se espera que aconteça sem ele.
É claro que depois acrescentas que sem ele não existiria nada, mas essa alegação ainda te falta muito para a justificar...
Ludwig:
ResponderEliminar"Há uma impossibilidade lógica de dividir o conjunto dos inteiros em números que se possa transmitir e números que não se possa transmitir. Por isso se querem proibir a transmissão de certas sequências de bits por dizer pertencerem a uma certa editora enfrentam o incontornável problema matemático que se proíbes a transmissão do 33 basta mandar o 32 e dizer "e soma um"."
Há, Então sempre achas que é impossivel. Bem me queria parecer.
Mas a questão é que não é importante defenir as coisas ao nivel de 0 e uns. Porque isso depende de convenções. Defines as coisas em termos de musica. E como podes distinguir musicas umas das outras podes manipular o conceito.
Se não houvesse a musica tu não querias os zeros e uns. Agora não podes querer que os zeros e uns não valham para uma coisa e valham para outra conforme as tuas nessecidades.
Ja para não falar que 4 é 4 e não 4+1. O teu exemplo não segue. Mais valia dizer que o 4 não pertence a ninguem e pronto. E as guerras pelo 4 caso isso fosse feito seriam uma desgraça.
"Não há dogma nem abanão. Ja percebi que és meio ignorante nestas
ResponderEliminarcoisas"
Sim, João. Sou eu e o Crick.
http://en.wikipedia.org/wiki/Central_dogma_of_molecular_biology
http://home.planet.nl/~gkorthof/korthof74.htm
Nuno Gaspar e João...
ResponderEliminarA ignorância tem sempre cura. A cegueira nem sempre.
Nuno Gaspar; obrigado pela referência do livro (já encomendei)
João,
ResponderEliminarA ver se é desta...
É impossível implementares um sistema que permita partilhar uns números e não outros. Isto porque podes sempre codificar uns com os outros.
Não é impossível legislares isto, e pôr uma lei que diga que eu agora sou o dono do 32. É disparate, mas podes legislar. O problema é que mesmo que eu proíba toda a gente de usar o 32 podem sempre escrever (31+1).
E a questão das categorias é ainda outra. Se bem que seja possível que eu seja dono, por lei, da categoria "pastel de nata", de forma a que qualquer que seja a origem de qualquer bolo que caiba nesta categoria, esse bolo (ou imagem, receita, descrição, o que quer que seja) fique automaticamente meu, defendo que não é uma boa ideia.
Mais, se alguém disser que as categorias são propriedade como qualquer coisa, defendo que está a confundir a categoria com os elementos que agrupamos nela.
OK agora?
Ludwig:
ResponderEliminarTambém me parece que fizeste uma confusão desncessária e passo a explicar.
Em termos metafísicos, não existem "essências". Isso são construções nossas para nos ajudar a compreender, ainda que limitadamente a realidade, ou para melhor a gerirmos.
Por isso, nós dizemos que existe um "Ludwig" ainda que a única coisa que exista seja uma função de onda universal que inclui tudo o que existe.
Mas seria tolo que um homocida alegasse que não fez mal nenhum, visto que os átomos estão quase na mesma e que as "essências" são uma ilusão e por isso não matou ninguém.
A música é uma construção nossa, o que existe são sinais nervosos estimulados por vibrações no ar com diferentes frequências e amplitudes. Mas se alguém trautear a "marcha imperial" e disser que aquilo foi criação sua, eu direi que ele é um plagiador aldrabão, e pouco me importa que ele diga que eu, tolo, acredito que a música tem uma essência que na verdade não existe.
Essa "essência" existe sim: é uma construção social, está fundamentada na nossa forma de caracterizar e dividir, e é útil.
Uma coisa é achares que a lei que protege os direitos de autor não favorece os cidadãos, outra coisa é fundamentares tal convicção na ideia de que as "essências" das músicas são uma ilusão. Não podias perder a razão mais rápido.
Ludwig:
ResponderEliminarNépia, não foi desta.
Acho que o João Vasco percebeu o que quiz dizer. Eu ja não sei como te hei de explicar melhor.
Até ja te disse que isso não invalida que o teu modelo possa ser bem sucedido.
Nuno Gaspar:
ResponderEliminarLê o artigo que citaste da wikipedia. Não é um dogma nem é um abanão.´
Se não perceberes eu explico-te sucintamente.
1 Não ha genes novos formados com infornação vinda de fora.
2 Crick não sabia o que era um dogma e teve muitos problemas consequentes da escolha do termo.
Eurico Moura:
ResponderEliminarA ignorância tem sempre cura. A cegueira nem sempre.
Sim, claro. Mas a proposito de quê me referes isso?
In his autobiography, What Mad Pursuit, Crick wrote about his choice of the word dogma and some of the problems it caused him:
ResponderEliminarI called this idea the central dogma, for two reasons, I suspect. I had already used the obvious word hypothesis in the sequence hypothesis, and in addition I wanted to suggest that this new assumption was more central and more powerful. ... As it turned out, the use of the word dogma caused almost more trouble than it was worth.... Many years later Jacques Monod pointed out to me that I did not appear to understand the correct use of the word dogma, which is a belief that cannot be doubted. I did apprehend this in a vague sort of way but since I thought that all religious beliefs were without foundation, I used the word the way I myself thought about it, not as most of the world does, and simply applied it to a grand hypothesis that, however plausible, had little direct experimental support.
"My mind was, that a dogma was an idea for which there was no reasonable evidence. You see?!" And Crick gave a roar of delight. "I just didn't know what dogma meant. And I could just as well have called it the 'Central Hypothesis,' or — you know. Which is what I meant to say. Dogma was just a catch phrase."
ResponderEliminarJoão Vasco,
ResponderEliminar«Em termos metafísicos, não existem "essências".»
A essência é o conjunto de atributos de um objecto que faz desse objecto aquilo que ele é.
O planeta Terra tem um conjunto de atributos (composição, etc) que fazem desse planeta o planeta Terra, tais que se fossem diferentes esse objecto já não seria o planeta terra. Esses são a sua essência. E esses têm de existir, senão o planeta Terra não existe.
O que não tem essência é o planeta, no sentido genérico, porque "planeta" não refere um objecto individual que tenha atributos. Pelo menos segundo o que pensamos agora. Para Platão era o contrário. Planeta era a forma de todos os planetas, a realidade em si, e os planetas seriam meras sombras dessa forma -- no platonismo a essência está no forma ideal da coisas.
Isso são construções nossas para nos ajudar a compreender, ainda que limitadamente a realidade, ou para melhor a gerirmos.
Por isso, nós dizemos que existe um "Ludwig" ainda que a única coisa que exista seja uma função de onda universal que inclui tudo o que existe.
«Mas seria tolo que um homocida alegasse que não fez mal nenhum, visto que os átomos estão quase na mesma e que as "essências" são uma ilusão e por isso não matou ninguém.»
Penso que estás a interpretar mal o que se entende por essência. A minha essência é o conjunto dos atributos que tenho que me fazem ser eu. Por exemplo, a minha capacidade para estar consciente. Se me dás um tiro e fico em coma permanente alteras um atributo meu essencial (daí o termo) e eu deixo de existir porque este individuo que sou eu é unicamente determinado por estes atributos essenciais.
«A música é uma construção nossa, o que existe são sinais nervosos estimulados por vibrações no ar com diferentes frequências e amplitudes. Mas se alguém trautear a "marcha imperial" e disser que aquilo foi criação sua, eu direi que ele é um plagiador aldrabão,»
Isso não tem nada que ver com a essência. Se eu cantar e te disser que este som sou eu que estou a produzi-lo, concordarás certamente. Se não não era eu que o estava a cantar. Mas se estou a tentar imitar um som que já ouvi e te disser que não estou a imitar um som que já ouvi, então estou a mentir.
É claro que a distinção entre um compositor original e um plagiador aldrabão é óbvia nos extremos mas muito difícil de fazer no meio, como vários casos em tribunal têm atestado. Será que a J.K.Rowlins plagiou o Tolkien?
Mas o problema não é esse. Quando apontas para um livro e dizes "este livro" estás-te a referir a um objecto individual com atributos que o fazem aquele objecto em vez de outro qualquer. Se o queimares deixa de ser esse livro, por exemplo.
Quando te referes à história do Romeu e Julieta não te estás a referir a uma coisa individual, com atributos essenciais. Estás-te a referir, implicitamente, a um conjunto de critérios que se pode aplicar a qualquer coisa para decidir se a vamos classificar como história do Romeu e Julieta ou não.
E enquanto que o livro em si é um objecto real, a categoria "história do Romeu e Julieta" é algo abstracto, inventado por nós para organizar a forma como percebemos as coisas.
Já agora, fazes essa confusão com a função de onda. «ainda que a única coisa que exista seja uma função de onda universal que inclui tudo o que existe.» É precisamente o contrário. A função de onde é um artifício abstracto, fruto da nossa imaginação, que serve para descrever algumas propriedades do que existe. Por exemplo, a distribuição de probabilidades para a detecção do electrão.
As coisas que existem são cada um dos CDs, cada chimpanzé, cada ser humano. A humanidade, o tenho dois amores e "macaco" são categorias que nós inventamos para organizar e descrever as coisas que existem.
João,
ResponderEliminar«Acho que o João Vasco percebeu o que quiz dizer. Eu ja não sei como te hei de explicar melhor.»
No problemo. Acho que isto deu confusão suficiente para merecer um post :)
Depois cascas nesse.
João:
ResponderEliminarO que eu quis dizer foi que existe uma corrente científica que não aceita que os mecanismos da evolução sejam apenas aqueles que aqui foram referidos. Não me parece sensato ignorar essa pesquisa.
Não sou biólogo e, mesmo que o fosse, não estaria habilitado, como tantos outros, para emitir qualquer opinião fundamentada sobre o assunto. No entanto pressinto, como tantos leigos curiosos e biólogos, que falta algo no estudo da evolução e que o Lamark não seria um prefeito idiota.
Em relação ao efeito na teoria da evolução, é uma correcção que não abala de modo nenhum o que se sabia antes. E mesmo que o fizesse é o processo normal da ciencia, evoluir. Precisamente porque não tem dogmas ainda que alguem goste da sensação que usar esse tema da.
ResponderEliminarA tua frase:
"... e um valente abanão no dogma central da biologia. Nada de especial, portanto."
Mostra ignorancia e inveja. Cientofobia pura.
« É precisamente o contrário. A função de onde é um artifício abstracto, fruto da nossa imaginação, que serve para descrever algumas propriedades do que existe. Por exemplo, a distribuição de probabilidades para a detecção do electrão.»
ResponderEliminarSeja, referia-me não à função matemática, mas à realidade que lhe dá origem, aquela que é descrita por essa função.
Tu dizes que um CD "existe". Certo, existe como existe a história do Romeu e Julieta. Em ambos os casos são criações nossas. Na natureza não existe separação entre o CD o chão que está por baixo, ou o Sol. Existem CDs e livros da mesma forma que existem constelações ou galáxias: são criações nossas, com grau de maior ou menor arbitrariedade.
E por serem construções, tanto o carro como o texto, às vezes a separação não é clara.
Há aquela história do navegador que tem um barco a que chamou X* e que todos os dias tira uma tábua do seu barco e coloca uma igual, e continua a navegar com ele. Com as tábuas que tira vai aos poucos construindo um barco igual ao inicial.
No fim, com dois barcos indênticos, fica a dúvida de qual deles é o barco X.
(* Não me lembro do nome...)
A dúvida existe porque o barco na verdade é uma criação nossa, e às vezes nós próprios não nomeamos as coisas da forma mais clara pssível.
Por isso é que é confuso saber se houve plágio no Harry Potter (na verdade nem conhecia a alegação nem me parece que faça muito sentido, mas imaginemos que era um bom exemplo) ou se aquilo que trauteias é a Marcha Imperial ou não.
Mas é tão falso dizer que não existe a história do Romeu e Julieta, como que não existe nenhum livro.
Ambas são construções. Às vezes as fronteiras são mais claras, outras mais difusas. Mas lá por serem construções nossas, não quer dizer que não tenham existência.
Eurico:
ResponderEliminarcontinuo sem perceber bem o teu ponto, se achas que eu acredito que ja se sabe tudo o que ha a saber sobre hereditariedade e evolução digo te ja que nem de perto.
A epigenetica é uma facto - repara que eu chamei-lhe a vingança silenciosa de Lamarck. Mas sei que dizer mais que isso é um exagero.
A epigenetica não é Lamarckismo. Não ha informção do ambiente a determinar genes a gosto. Pelo menos que se saiba. Se houver não será um mecanismo de precisão, devendo muito ao acaso.
A regulação de genes e não a sua criação é do que trata a epigenetica.
Não é uma abanão num dogma que não é dogma. Pelo menos por enquanto
João Vasco,
ResponderEliminar«Tu dizes que um CD "existe". Certo, existe como existe a história do Romeu e Julieta.»
Não. Um certo CD é um particular. Uma coisa. Aquela coisa. A história do Romeu e Julieta, ou algo como "árvore", "número par" ou assim, não é uma coisa. Não existe como particular. É apenas uma forma abreviada de referir um conjunto de critérios para classificar coisas.
Pensa na diferença entre aquele exame que tu fizeste, aqueles papeis com tinta em cima, e a categoria "exames com nota que permite aprovar à disciplina". É verdade que há exames em particular que pertençam a essa categoria. Mas a categoria em si não é uma coisa que existe.
A menos que sejas radicalmente platónico, penso que deves concordar...
«Na natureza não existe separação entre o CD o chão que está por baixo, ou o Sol.»
Não é isso que está em causa.
Quando tu usas o termo CD para designar um certo CD, é claro que o termo é um conceito criado por nós. Não está na natureza. Mas esse termo "aquele CD ali em cima da mesa" designa uma parte real da natureza -- aquele conjunto de átomos, ou de strings a vibrar, ou do que raio seja que a função de onda descreve, como tu disseste.
Em contraste, o termo "CD" usado na forma genérica não designa uma parte da natureza. Esse termo, usado dessa forma, refere um conjunto de critérios que criamos na nossa mente e que podemos usar para classificar partes da natureza na categoria das coisas que são CD. Não este CD ou aquele CD, mas CD em geral.
Não sejas tão dogmático, João
ResponderEliminar" the concept of gene itself is not exactly crystal clear either. This is not because geneticists don’t know what they are talking about, but because there are several legitimate uses of the word “gene” that can be deployed in different contexts, depending on one’s research agenda. And some of these uses are not entirely compatible either, and certainly not equivalent to each other.
Consider, for instance, the fact that some biologists refer to genes as whatever has causal effects on the formation of phenotypes and happens to be heritable. Well, by that definition both classical DNA-based “genes” and a variety of epigenetic phenomena qualify! In other cases, genes are defined simply as sequences of DNA that code for a particular protein. That not only excludes epigenetic effects, but also large swaths of DNA sequences that regulate development even though they do not produce proteins. You see what I mean?
Epigenetics is at the threshold of becoming an established discipline in the biological sciences, with implications for genetics, developmental biology, evolution and even medicine (many epigenetic effects are causally involved in a variety of diseases). P.B. and J.S. Medawar, in their classic Aristotle to Zoos (1983) famously said that “genetics proposes, epigenetics disposes,” meaning that the whole of epigenetic processes is what allows genes to produce phenotypes. If that is the case, and I don’t see any good reason to doubt it, epigenetics is poised to become a central discipline in 21st century biology."
Caro João Vasco,
ResponderEliminarcertamente que os engenheiro civis fazem a aproximação que a terra é localmente plana nos cálculos para constuir pontes e barragens, mas têm consciência dessa aproximação e da aplicabilidade da física clássica a problemas a essa escala.
Mas pelos vistos continua a insistir em reduzir toda a realidade ao memo e único nível, mostrando-se incapaz de perceber que existe continuidade e descontinuidade na forma como a ciência descreve o mundo e que isso representa um contraditório se reduzido ao mesmo nível de realidade.
Paciência. Talvez estudando mais um pouco e fazendo leituras menos superficiais dos textos de quem desenvolve estas matérias seja mais proveitoso para aprofundares os teus conhecimentos.
Ludwig,
ResponderEliminarA física é uma ontologia.
quer isso dizer que reduzes a física à ontologia, ou a ontologia à física? O que vem a seguir é uma posição do materialismo científico, mas pergunto: como explica a física a existência da própria física se é ela que dá - na tua perspectiva - o ser ao não-ser?
Sobre ontologias ...
só sobrevivem aquelas que tu chamas de materialistas.
É o teu ponto de vista. Não o meu.
ou há aquelas como as tuas que fogem de tudo o que se possa testar.
Ou que estão na base daquilo que se pode testar
Nota que se o teu deus existir e for como tu dizes ser não nos faz diferença nem falta nenhuma, porque tudo o que lhe atribuis é o que se espera que aconteça sem ele.
É uma crítica comum do ateísmo, verdade, mas apenas ocorre pela posição materialista que assume, não porque tenha razão, pois se tivesse seria capaz de demonstrar a inexistência de Deus segundo o método que considera válido para acessar ao Real, o científico.
E não te esqueças que a ausência de evidência, não implica a evidência de ausência. Ou seja, para ser verdade o que estás a afirmar, deverias demonstrar a evidência de ausência, não com base na ausência de evidência. Um exemplo. Quando Einstein formulou a sua teoria da relatividade geral não havia evidência para prová-la. Essa veio depois, mas veio. O mesmo deves fazer sob pena de invalidares o materialismo científico como forma de conhecer o Real.
Abraço
Miguel Oliveira Panão:
ResponderEliminarNão querendo ser desagradável, eu fiz uma pergunta, e o Miguel leua. Fez alguns comentários, e até críticas. Mas não respondeu.
Eu gostaria de insitir em pedir uma resposta. Que os engenheiros têm consciência de que se trata de uma aproximação dificilmente poderia ser uma novidade para mim, mesmo até porque várias vezes o escrevi. Mas aquilo que pergunto é se o Miguel considera que há níveis da realidade nos quais a terra é plana, ou se "a terra não é plana" é uma afirmação verdadeira em todos eles.
A isto o Miguel não respondeu.
Ludwig:
ResponderEliminar"Aquela parte da matéria" que constitui um livro é uma separação arbitrária escolhida por nós, e muitas vezes as fronteiras podem ser difusas. Para uns a capa pode ser parte integral, para outros mesmo que a capa se perca o livro continua inteiro. E isto é porque falamos de um livro e não de outros objectos de delimitação ainda mais complicada. E recordo-te do exemplo que dei do barco.
Se tu dizes que a música "a marcha imperial" não existe, porque "não há essências", discordo. Existe para poderes acusar alguém de plágio. É um conceito criado, e pode não corresponder a um determinado número de átomos e moléculas, e no fim de contas é muito complicado de delimitar objectivamente. Mas como vês, todos estes problemas também se aplicam a objectos - repito o exemplo da história do barco que aqui relatei.
E em última análise, mesmo que todos acordassem que o CD era o disco e não a capa; ainda terias problemas pois não poderias dizer "aquelas moléculas" visto que em última análise a própria molécula é uma construção nossa. E a matéria do CD está ligada à matéria que o rodeia. A separação é sempre um artifício nosso.
Caro Miguel Panão,
ResponderEliminarJá por várias vezes defendeu que o materialismo peca por uma negação apriorística do transcendente, e que assim estaria minada qualquer hipótese de admitir a inclusão de explicações não-materialistas na nossa compreensão do mundo.
Ia escrever um comentário a essa posição mas como o comentário já ia longo, resolvi publicá-la noBanqueiro Anarquista.
Espero que o Ludwig não leve a mal o link...
Francisco,
ResponderEliminar«Espero que o Ludwig não leve a mal o link...»
Claro que não. No amor, na guerra e no html, vale tudo :)
Miguel Panão,
ResponderEliminar«quer isso dizer que reduzes a física à ontologia, ou a ontologia à física?»
Não. Quero dizer que a física também nos dá um relato acerca de que entidades existem e como se relacionam. Ao dizeres que falas de ontologia e não de física dás a ideia, errada, que a física não é também uma ontologia.
É claro que a física tem mais que apenas o relato daquilo que existe e das suas relações. Tem também os métodos para desenvolver e testar esse relato. E isso é o que te falta.
A ciência é ontologia com epistemologia. É dizer o que é tendo o cuidado de averiguar se o que se diz é mesmo assim. A religião tenta fazer ontologia sem saber nada daquilo que descreve...
«E não te esqueças que a ausência de evidência, não implica a evidência de ausência.»
Sim e não.
Em rigor, não ter evidências da verdade de uma proposição não indica que seja falsa, por si só.
No entanto, quando se trata de decidir -- e decidir inclui o acto de formar uma crença -- a falta de evidências a favor de uma alternativa é suficiente para não a escolher. A falta de evidências que o Obama é um extraterrestre leva-me a decidir rejeitar essa crença, mesmo que não possa provar que é falsa.
João Vasco,
ResponderEliminar«"Aquela parte da matéria" que constitui um livro é uma separação arbitrária escolhida por nós»
Certo. A diferença é se o termo se refere a uma parte da matéria, ou da realidade que nos rodeia, mesmo que arbitrariamente separada, ou se se refere apenas a critérios para que se possa classificar uma eventual parte da matéria à qual se queira aplicar esses critérios.
«Se tu dizes que a música "a marcha imperial" não existe, porque "não há essências", discordo. Existe para poderes acusar alguém de plágio.»
Então Deus existe, porque existe para poderes acusar alguém de heresia. É isso?
Acho melhor isto ir num post, mas a diferença é entre referires uma parte da realidade (um particular) ou um conceito que te permita classificar partes da realidade (um universal).
João Vasco,
ResponderEliminaro teu exemplo não tem interesse para explorar os níveis de realidade. Está respondido.
Ludwig,
ResponderEliminara física também nos dá um relato acerca de que entidades existem
qual a certeza que a física tem de que tem possibilidade de conhecer "tudo" o que "existe"? Porém, percebi que a tua resposta demonstra - como seria de esperar - que reduzes a ontologia à física. É um reducionismo.
dás a ideia, errada, que a física não é também uma ontologia
Não estou certo que a física seja uma ontologia porque não tem capacidade de se pronunciar sobre a natureza da existência, apenas daquilo que existe e como, mas não "porquê" assim e não de outra forma.
E isso é o que te falta.
Não percebi o que me falta.
A ciência é ontologia com epistemologia.
Eu penso que a ontologia e epistemologia são mais do que apenas ciência e não se reduzem a ela, embora compreenda que os teus pressupostos filosóficos conduzam a esta afirmação.
a falta de evidências a favor de uma alternativa é suficiente para não a escolher.
Em rigor não. A escolha deveria ser continuar a procurar em vez de optar.
A falta de evidências que o Obama é um extraterrestre leva-me a decidir rejeitar essa crença, mesmo que não possa provar que é falsa.
Lamento mas discordo. Não é apenas a falta de evidência, mas sobretudo a probabilidade baixa de ser um extraterrestre que te leva a essa afirmação.
Contudo, permanece a questão: qual a evidência de ausência de Deus segundo o materialismo científico?
Miguel P.:
ResponderEliminar"Contudo, permanece a questão: qual a evidência de ausência de Deus segundo o materialismo científico?"
É a quantidade de coisas que consegues explicar precisamente por não precisarem de Deus.
Sobra muita coisa por explicar. Mas nada grande o suficiente para caber um Deus.
Miguel Panão:
ResponderEliminarE tambem gostava de saber porque é que o exemplo do Joao Vasco não é pertinente na abordagem dos noveis de realidade. Por outro lado gostava de saber mesmo assim, como se é esse o caso a resposta não é simplesmente "não".
Miguel Oliveira Panão:
ResponderEliminarSejamos rigorosos: não está respondido. Está é esclarecido que o Miguel não quer responder.
O Ludwig acusa o discurso do Miguel de evitar a clarificação, e sou da opinião que este esclarecimento do Miguel dá razão a tal acusação.
«Então Deus existe, porque existe para poderes acusar alguém de heresia. É isso?»
ResponderEliminarSe tu disseres que Ulisses existe, mas enquanto personagem, as pessoas vão aceitar.
E Deus existe enquanto criação humana.
No entanto, quando as pessoas afirmam que Deus existe referem-se a algo que existiria independentemente dos humanos.
Mas o dinheiro é uma construção nossa. E não deixa de existir por isso. A justiça, o bem, também existem.
Neste sentido do "existe enquanto construção nossa" suficientemente forte para o dinheiro, a recta, a equação, existem textos, algoritmos, lendas. Tal como existem "tretas", superstições. Tal como existem músicas.
Se o teu argumento para a sua inexistência é a dificuldade m delimitar a matéria que lhes corresponde, é defini-los de forma objectiva, é que "não existem essências" lembra-te por favor da história do barco (devo repeti-la?) que mostra como os mesmos problemas se aplicam a objectos como um CD, u telemóvel, etc..
1) O facto de os filhos herdarem as características dos pais por causa da informação codificada no DNA corrobora inteiramente o que a Bíblia ensina quando diz que os seres vivos se reproduzem consoante o seu género.
ResponderEliminar2) Deus quis que os seres vivos se reproduzissem e enchessem a Terra, tendo-os dotado com a necessária informação codificando todas as instruções necessárias a esse processo.
3) O DNA tem o sistema de reparação notável. No entanto, porque a corrupção caracteriza a natureza decaída, os erros de cópia tendem a acumular-se, reduzindo e degradando a informação no genoma. Por causa disso, muitas espécies acabam por se extinguir.
4) Os criadores de plantas e animais podem fazer selecção artificial (v.g. diferentes tulipas, diferentes cães) dentro de diferentes géneros, mas nunca conseguem transformar um ser vivo noutro de outro género e mais complexo.
5) O facto de os seres vivos herdarem características dos seus progenitores (a partir do respectivo potencial genético) nunca os transforma num ser de outro género mais complexo.
6) A teoria da evolução postula antepassados arbóreos. No entanto, apenas sabemos que macacos e seres humanos são contemporâneos. Os supostos antepassados têm que ser imaginados a partir da premissa de que houve evolução.
7) Os seres humanos têm capacidade de pensamento racional e abstracto. Nunca ninguém viu um chimpanzé a interessar-se por teologia, ciência, filosofia, música, arquitectura, pintura, etc.
8) A evolução é essencialmente especulação naturalista, destituída de qualquer fundamento empírico. Todos sabemos que há diferentes populações de diferentes géneros, que transferem as suas características para os seus descendentes através de um sistema preciso de codificação de informação. Mas isso só corrobora inteiramente o que a Bíblia diz.
9) Para existir e se reproduzir um ser vivo necessita da existência simultânea de informação codificada e de maquinismos para a sua cópia, leitura e execução. Não basta ter a informação sem os mecanismos, nem os mecanismos sem a informação. Tudo tem que estar presente e funcional no momento preciso.
10) A produção e reprodução dos seres vivos depende de informação codificada. E esta, em todos os casos conhecidos, tem sempre uma origem inteligente, não se conhecendo nenhum processo físico ou lei natural que crie códigos e informação codificada.
Nuno Gaspar: «Sim, João. Sou eu e o Crick.
ResponderEliminarhttp://en.wikipedia.org/wiki/Central_dogma_of_molecular_biology»
«Many years later Jacques Monod pointed out to me that I did not appear to understand the correct use of the word dogma, which is a belief that cannot be doubted. I did apprehend this in a vague sort of way but since I thought that all religious beliefs were without foundation, I used the word the way I myself thought about it, not as most of the world does, and simply applied it to a grand hypothesis that, however plausible, had little direct experimental support.»
«http://home.planet.nl/~gkorthof/korthof74.htm»
Gert Korthof não é Francis Crick...
«The neo-Darwinian dogma that all mutations are random must be refined. There are degrees of randomness. Some mutations occur at higher probabilities at specific locations in DNA.» (...) «The authors present two convincing examples of non-genetic heritable variation (epigenetic) that is transmitted to the next generation. Evidence showing that this type of non-genetic inheritance is important in evolution is still lacking. However, it cannot be excluded that it has a role in evolution. So, new ways of thinking about the neo-Darwinian dogmas and Lamarckism are required.»
PAC:
ResponderEliminarGert Korthof faz a apresentação do livro. As autoras são Eva Jablonka e Marion Lamb. Acho que vais ouvir falar delas por muito tempo. Ao contrário de muitos outros, estão mais interessadas em estudar a evolução do que falar de religião.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMais uma teoria criacionista sobre o desaparecimento dos dinossauros.
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