sexta-feira, abril 02, 2010

E, já agora, era também um tentáculo com unhas para coçar as costas...

O Mats descobriu outra prova que a teoria da evolução é falsa. «De acordo com a teoria da evolução, os nossos ancestrais tinham a capacidade de opor o dedo grande do pé aos outros dedos [...]. Se nós tivéssemos retido essa capacidade, poderíamos apanhar coisas do chão sem ser necessário debruçar.»(1) Porque a evolução se “esqueceu”, segundo o Mats, de nos dar essa capacidade, então só há uma conclusão possível. «Nós somos o resultado do Poder Criativo Do Senhor Jesus Cristo». Ora aí está. Foi o filho do carpinteiro. O que mais poderia explicar o dedo grande do pé?

Na verdade, o Mats não explicou porque é que o Senhor Jesus se esqueceu de nos dar um polegar oponível no pé. Ou tanta outra coisa que poderia dar jeito. Ao contrário da evolução, o Senhor Jesus é supostamente inteligente e devia ter pensado nisso. Mas o que o Mats fez foi dar mais um exemplo de evolução e não de design inteligente. O nosso pé é assim porque a linhagem dos hominídeos, da qual hoje infelizmente só resta a nossa espécie, foi pressionada a especializar-se numa locomoção exclusivamente bípede e terrestre. O polegar aduzido (junto ao pé) e os dedos curtos são mais úteis para impulsionar o corpo do que o polegar abduzido (afastado) e dedos longos dos nossos antepassados arbóreos, a quem era útil agarrar ramos com os quatro membros.

E o nosso pé é uma adaptação incompleta, não planeada, que claramente aproveitou o membro ancestral com modificações. O equilíbrio e a propulsão estão a cargo quase totalmente do dedo grande e da planta do pé. Os outros dedos têm um papel menor, e o mais pequeno parece servir apenas para bater nos cantos dos móveis e nas pernas das mesas. E como a evolução não tem discernimento nem inteligência, lá vamos vivendo ainda com esses vestígios de um passado arbóreo. E com todos os problemas da coluna vertebral, das ancas, dos joelhos e tornozelos que são consequência da adaptação gradual de um esqueleto de quadrúpede para uma locomoção bípede apenas pela selecção natural de mutações aleatórias.

Um problema bastante grave deste remendar cego, que a tradição judaica até teve de atribuir a uma vingança maldosa do seu deus, é nascermos pelo meio do pélvis da mãe. Num quadrúpede ou num primata arbóreo isto não faz mal porque as ancas podem ser tão largas quanto o crânio do bebé precisar. Mas um bípede cabeçudo é uma desgraça. As ancas largas dificultam o andar com duas pernas, criando uma pressão selectiva para ancas mais estreitas. Mas as ancas estreitas dificultam o parto, tornando o parto humano um dos piores do reino animal*. O resultado é um compromisso muito pouco inteligente entre a mortalidade materna e infantil por um lado e, por outro, aquele andar sensual mas metabolicamente mais exigente. Um problema que só foi resolvido com a inteligência, não dos deuses nem da evolução, mas dos humanos. Um corte acima do osso púbico e plop, salta o bebé num instante.

A teoria da evolução permite inferir, da observação de características presentes, hipóteses testáveis acerca desta interacção entre as restrições impostas pela hereditariedade e as pressões selectivas que as moldaram. No pé humano podemos ver claramente o traço dos nossos antepassados arbóreos e as adaptações que deformaram o que era praticamente uma mão e a tornaram um pé mais eficiente no seu novo papel.

Para o criacionismo, o dedo grande é mais um de muitos mistérios do desígnio divino, a juntar a outros tantos milagres que, em conjunto, tornam esta teoria tão útil para a ciência como o algodão-doce na construção civil. Agrada a uns, enjoa outros, cola-se a tudo e não serve para nada.

* Há outros tramados. As hienas fêmeas, que não fizeram malandrice alguma com a maçã, têm um pénis falso e as crias nascem por aí. É uma consequência da selecção para maior massa muscular e agressividade, que leva as fêmeas desta espécie a ter níveis muito altos de testosterona e, por isso, órgãos genitais masculinizados. Até dói só de pensar...

1- Mats, Capacidades do Mundo Animal Que a Evolução Esqueceu-se de Conferir ao Ser Humano

14 comentários:

  1. Ludwig,

    repara que esse é um exemplo de perda ou alteração de informação, tal como as modificações de outros ossos, diminuição do pêlo, mudança de posição da glote e aumento da caixa craniana e cérebro. É como as diferenças de animais do mesmo género.

    Percebo por que é que a evolução esquece-se de caudas, de pelagem e até de olhos. Ora bolas, supostamente até os criacionistas têm uma certa ideia quando se referem a orgãos vestigiais (como se não tivessem qualquer função, definhando com a falta de uso). Mas se outros primatas gozam de vantagens com um pé que serve de mão, e ainda têm uma força sobrehumana (segundo o Mats), como é que Deus esqueceu-se de tão útil ferramenta? Se a estúpida evolução esqueceu-se, o inteligentíssimo Deus também. Não esperamos consistência num criacionista, mas enfim...

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  2. Epá, eu não sei se algum dia vou recuperar deste ataque devastador ao criacionismo.

    Se um pé humano totalmente funcional não é evidência contra a Bíblia, então não sei o que será.

    Entretanto, e enquanto eu recupero deste duro golpe à minha fé (nem sei se vou à igreja em Algés no próximo Domingo), fica aqui a minha resposta.

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  3. Dizer que a evolução se esqueceu de criar um pé como uma mão é que deve ser um ataque devastador à Teoria da Evolução. E usar isso como uma prova de que existe um Deus é o golpe final. Olha mais um ataque devastador: as baleias deixaram de ter patas, provando que Deus criou barbatanas totalmente funcionais com ossos de patas com cinco dedos, porque não sei o quê. A agonia! Façam-me parar! Por amor de Deus! Bem, pelo menos posso aproveitar o fim-de-semana para viajar... volto no dia 12.

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  4. Como é que a visão apareceu? Deus.
    Como é que células sensíveis à luz surgiram? Deus.
    Como é que a visão do Nautilus surgiu? Deus.
    Como é que a visão do caracol surgiu? Deus.
    Como é que surgiu a cegueira? De... Serp... Satanás.
    Por que é que tenho de usar óculos? De... Satanás.

    Como é que a respiração surgiu? Deus.
    Como é que surgiram as guelras? Deus.
    Como é que que surgiu a bexiga nadatória? Deus.
    Como é que surgiram os peixes pulmonados? Deus.
    Como é que surgiram os anfíbios? Deus.
    Como é que surgiu a asma? D... Satanás.

    Como é que a banana surgiu? Deus.
    Como é que o cão surgiu? Deus.
    Como é que surgiram as línguas? Deus.
    Como é que surgiu a roupa? Deus.
    Como é que surgiu a agricultura? Deus.

    Como é que surgiu o Universo? Deus.
    Como é que surgiram os planetas? Deus.
    Como é que surgiram as estrelas? Deus.
    Como é que surgiram os buracos negros? Deus...
    Como é que surgiu o buraco negro que suga a nossa galáxia? De... hm... Satanás?

    O horror, o horror. A evolução não existe. Quer dizer, existe a micro, mas não a macro... Tomem lá, evolucionistas.

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  5. Ludwig,

    vejo que continuas a perder tempo com criacionistas, lendo-os com atenção. Será que está aí o verdadeiro desafio? Alguns deles, lamento, são católicos e a posição que assumem não é a posição oficial da Igreja Católica. Não seria mais desafiante enfrentar os que se opõem ao teu materialismo e cientismo?

    "All you have to decide is what to do with the time that is given to you." A minha sugestão: não o percas com criacionistas ;)

    Abraço

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  6. Miguel Panão,

    O meu critério de selecção, sendo isto um hobby, consiste em ir por onde me apetece.

    Além disso, o Mats, e o criacionismo em geral, têm a virtude de fazer afirmações erradas. Não explicam nada, mas põem erros em evidência e isso permite explicar coisas. A teologia católica oficial é tão vaga nestes assuntos que se acaba por perder a maior parte do tempo a tentar descobrir sequer o que estão a dizer.

    No entanto, concordo que a forma como a doutrina católica distorce a teoria da evolução é uma treta digna de menção. Andarem à procura da teleologia da evolução, por exemplo, que é como perguntar que propósito tem o vento para levar a areia fina e deixar os pedregulhos...

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  7. Ludwig,

    tens razão, a teologia católica dá que pensar, mas não por distorcer a teoria da evolução - como afirmas - e mais por lhe dar sentido e significado numa teologia da criação. A questão teleológica é um exemplo, como reconheces, mas não no vento deixar pedregulhos e levar a areia para outro lado. Pensa antes, por exemplo, na lei da complexidade-consciência em Teilhard de Chardin. É mais estimulante que o criacionismo porque ajuda a perceber - no teu caso - as limitações impostas ao materialismo por si próprio, por exemplo ...

    Abraço

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  8. Miguel Panão,

    O problema não é tanto o dar que pensar. É perder-se imenso tempo em resmas de papel à procura de algo concreto. A teologia católica resulta de séculos de aperfeiçoamento da arte de não dizer nada no máximo de texto possível...

    Quanto a Teillard de Chardin, tive o azar de ler o senhor e estava confuso. Nota-se o claro conflito entre a sua fé e a ciência, e ainda por cima numa altura em que a teoria da evolução não parecia encaixar com a genética e ninguém sabia bem o que fazer disso.

    Essa lei da complexidade e consciência é um disparate. Um furacão é mais complexo que um ser humano, por exemplo, e a maior parte das células do teu corpo são células de bactéria no teu intestino.

    Finalmente, perde-se muito tempo com essas tretas vagas de "procurar sentido". Se eu disser que se pode interpretar o facto dos Himalaias estarem a subir alguns centímetros por ano por ser da natureza da terra procurar elevar-se aos céus isto é procurar sentido ou a dizer um disparate? Eu acho que é a segunda opção.

    E é exactamente isso que vejo nessas tentativas de encontrar na evolução, ou no universo em geral, algo de propósito, intenção, ou vestígio do grande bonequeiro a puxar os fiozinhos. É ir contra aquilo que se vê só para inventar uma história bonita...

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  9. Lugwig:

    Tenho lido alguns artigos que sugerem que a percepção de "agency" ou intencionalidade onde ela não existe é uma tendencia psicologica evolutivamente favorecida.

    Penso que a teleologia é essa mesma percepção de intenção.

    Se tiveres vontade de ler os artigos já coleciono alguns.

    Inclusivé há indicios que o cortex visual seja onde o padrão "ser vivo" é processado, e que é inato, está "hardwired". Um falso positivo é uma entidade sobernatural, ou seja, se o circuito disparar por uma especie de pareidolia, temos adamastores, Zéfiros, deuses do trovão (thor), criadores do universo e a explicação para o "fine-tuning".

    Mas há razão para crer que este circuito nem esta sozinho no processo.

    Se quiseres ler estes artigo terei todo o gosto em te dar os links.

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  10. Ludwig,

    A teologia católica resulta de séculos de aperfeiçoamento da arte de não dizer nada no máximo de texto possível...

    Acho que honestamente só poderás ter razão depois de conheceres esses textos. Mais do que aperfeiçoamento, resultam de uma experiência de vida e pensamento milenar. Têm história e por isso mesmo é que se deve concentrar a atenção em autores contemporâneos para começar. No meu último post encontras alguns nomes.

    Nota-se o claro conflito entre a sua fé e a ciência

    Conflito!? Não estarás equivocado relativamente a Teilhard? Qual o excerto que te deu essa ideia?

    Essa lei da complexidade e consciência é um disparate. Um furacão é mais complexo que um ser humano, por exemplo, e a maior parte das células do teu corpo são células de bactéria no teu intestino.

    Como!? Um furação não pensa por si mesmo, logo não pode ser mais complexo que o pensamento mais simples como a palavra "eu".

    Se eu disser que se pode interpretar o facto dos Himalaias estarem a subir alguns centímetros por ano por ser da natureza da terra procurar elevar-se aos céus isto é procurar sentido ou a dizer um disparate?

    O disparate não está na alternativa, mas na pergunta em si mesma. Agora se me perguntares porque razão posso fazer a leitura de olhar para uma montanha e pensar que ela se eleva em direcção a algo maior do que si própria, é uma história diferente. Ou seja, porque razão somos capazes de olhar para a natureza e questionar-nos sobre algo que está para além dela? Uns procurarão resposta na filosofia, outros além da filosofia na teologia, mas poucos irão restringir-se a uma afirmação meramente científica, penso ...

    vestígio do grande bonequeiro a puxar os fiozinhos. É ir contra aquilo que se vê só para inventar uma história bonita...

    Como sabes, também sou contra este tipo de conceitos de Deus manipulador ou que preenche as lacunas do nosso conhecimento. Esse não é um Deus com um pensar criador, ou criativo, mas manipulador e não acredito que exista pois não haveria no mundo espaço para a contigência.

    Abraço

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  11. Concordo com o Ludwig. A igreja católica e muitos protestantes querem misturar a evolução com Deus quando os próprios ateus afirmam vez após vez que a teoria da evolução refuta Deus.

    1. A crueldade do “deus” da evolução.

    2. Evolucionistas Admitem Ter Estado a Mentir Ao Público
    ...
    "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas ?" - 2 Cor 6:14

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  12. Mas uma vagina musical que até toca pífaro, isso é que é um verdadeiro milagre da criação do Senhor Jesus:

    http://videos.sapo.pt/4wRIop9e1LUtP46MKIyT

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  13. "Se nós tivéssemos retido essa capacidade, poderíamos apanhar coisas do chão sem ser necessário debruçar."

    Mas a verdade é q podemos apanhar coisas com os pés, mesmo sem ter polegar oponível. Não seria a primeira vez que o faço (canetas, lápis ou panos são fáceis). Há por ai um video de uma mulher que não tem braços, e que até muda as fraldas ao seu bebé com os pés. A maioria das pessoas é que não pratica fazer nada com os pés. E andar com eles sempre enfiados em sapatos não ajuda.

    A verdade é que os nossos pés têm uma destreza superior às patas de MUITOS animais. Uma destreza não necessária para simples locomoção. Pode-se facilmente atribuir essa destreza à evolução a partir de algo mais parecido com uma mão, como têm os chimpanzés. Ou então foi o criador que nos deu essa destreza, claro... (sabendo que muito poucos a iriam utilizar, andando quase sempre com os pés dentro de sapatos). Bem que podia ter perdido o seu tempo a melhorar outras coisas.

    Este argumento do Mats de que a evolução se "esqueceu" de dar coisas ao ser humano, não só é algo que não faz sentido quando se conhece bem a teoria, como é um argumento que funciona de forma muito mais poderosa contra o criacionismo. A evolução tem muito de aleatório, e não tem propósito. O resto do reino animal não é "menos" evoluído. Os outros animais seguiram caminhos diferentes, mas tiveram tanto ou mais tempo para aperfeiçoarem esses caminhos e se adaptarem ao seu ambiente. Não é por tanto de admirar que façam muita coisa melhor que nós! Um urso pardo não é menos evoluído que o um urso polar, mas troquem-nos de habitat e são capazes de morrer os dois.

    Mas se houvesse um criador, do qual o homem fosse a sua obra suprema, a criatura preferida, então sim seria de admirar que houvesse animais mais fortes, mais rápidos, mais resistentes, com melhores olhos, etc. Por toda a natureza há "design" inteligentissimo, e "design" muito burro. A teoria da evolução explica muito bem essas diferenças. A hipótese do criador inteligente (único, omnipotente, omnisciente) não explica nada disso!

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  14. A evolução esqueceu de "dar coisas ao ser humano"?
    Na minha opinião, isso é típico para os protagonistas do Intelligent Design:
    encontrar brechas na teoria da evolução, "pontos fracos", apontar o dedo e dizer: ISSO foi Deus. O "problema" é que estas tentativas não disprovam a teoria em si.
    Se eu fosse um teista convencido, eu não usaria argumentos deste tipo.
    It's a waste of time.

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