As religiões são más?
São. A Abobrinha comentou:
«O que não aceito é que se culpe a religião por todos os males do mundo [...]. [S]er ateu não é sinónimo de ser mais avançado ou mais racional e de estar livre de pensamento.» (1)
As religiões não são culpadas por todos os males, nem julgo que as inventem com intenção de fazer mal. Pelo menos não mais que qualquer outra invenção. Mas, estatisticamente, as religiões são más. Não é o mal intencional do violador ou do carteirista mas o mal indiferente da peste ou das lombrigas.
As religiões evoluíram para habitar os nossos cérebros. Não por nos beneficiar; os países mais religiosos não têm sociedades melhores nem os crentes mais fervorosos são mais felizes que os demais. As religiões persistem porque têm características que favorecem a sua persistência. A aceitação incondicional, o dever de se manter fiel à doutrina, de a passar aos filhos e assim por diante. E isto propaga quaisquer crenças que venham associadas, sejam inofensivas como ir à missa no Domingo, incómodas como andar de cara tapada ou hediondas como cortar o clitóris a crianças e matar quem discorda da doutrina. É o que calhar, porque a propagação pela fé e entrega não distingue ideias boas de ideias más.
Como há muito mais formas de fazer mal que de fazer bem, quando se faz algo só por uma crença forte o mais certo é dar asneira. É por isso que as religiões são más. As religiões e não só. A Abobrinha notou que «O efeito de ateísmo iluminado também [faz muito mal]. Veja-se ditaduras de esquerda, que fizeram contáveis e incontáveis vítimas no século XX e oprimiram (quando conseguiram) a religião.» É verdade. Qualquer ideologia do sim porque sim faz mais mal que bem, tão certo como o casino receber mais dinheiro do que dá em prémios.
O que safa as religiões é os religiosos serem-no menos do que manda a doutrina. Em geral, o religioso educado e livre ignora as crenças mais nefastas da sua religião. Muitos Católicos em Portugal não ligam à proibição dos contraceptivos, não se preocupam que parentes e amigos de outras religiões ardam no inferno por rejeitar Jesus nem julgam merecer castigo quem deixar de ser Católico.
Em países como o Irão, a Arábia Saudita e o Paquistão falta aos crentes a educação e a liberdade para fazer isto. Tal como em Portugal há uns séculos. Desapareceram os autos de fé, a Inquisição, a censura de obras contrárias à doutrina Católica e as penas por heresia, mas não por ter havido alterações profundas na doutrina. Desapareceram porque os Católicos foram ignorando o pior.
Penso que é isto que faz confusão. As religiões são más mas os crentes são tão decentes e sensatos quanto a sociedade os deixar ser, e isto cria a ilusão de haver algumas religiões boas. Não há. Qualquer ideologia baseada na fé dá asneira. Felizmente temos por cá crentes capazes de avaliar criticamente a sua religião e não a levar demasiado a sério.
O que me traz novamente ao comentário da Abobrinha, «ser ateu não é sinónimo de ser mais avançado ou mais racional e de estar livre de pensamento.» Concordo. O ateu pode ser simplesmente alguém que se safou de ser religioso, como quem se safa da gripe. O ateu não é necessariamente mais racional ou mais livre. Mas o crente racional e livre é quase sempre mais ateu, e é por isso que as religiões não fazem tanto mal como podiam fazer.
1- Uma perspectiva diferente.
As religiões são como grupos económicos, estão no mercado, e se os consumidores adquirem o produto é por que necessitam dele. Os consumidores são racionais e fazem escolhas racionais. A análise das religiões na perspectiva da teoria das escolhas racionais, comprova que as religiões, nomeadamente as evangélicas têm taxas de crescimento que garantem um futuro, no médio prazo, promissor.
ResponderEliminarVer:
http://www.etica.pro.br/jeitinho/files/EscolhaRacional_IURD_LSRega_PUCSP.pdf
António
Além disso, um dos princípios mais valorizados é o acreditar sem questionar (Senhor, não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra que serei salvo). Aquele que tem Fé, aquele que menos precisa de provas é o mais virtuoso.
ResponderEliminarOra para quem vive num mundo como o nosso e mais ainda quem acredita no método científico, isso não é aceitável.
Ludwig
ResponderEliminarSobre este tema não podia estar mais em desacordo (ou pelo menos não podia ter tantas dúvidas).
Bom mas para não me autoplagiar (desculpa-me a contradição) aqui deixo três artigos que resumem a minha opinião...
Acabar com a Religião? Por que não.
http://conjurado.blogspot.com/2007/02/acabar-com-religio-por-que-no.html
Existe correlação entre religiosidade e uma sociedade melhor? (Claro que já conheces este texto mas aqui fica só para quem quiser perceber o terceiro)
http://www.portalateu.com/2008/02/22/existe-correlacao-entre-religiosidade-e-uma-sociedade-melhor/
Uma resposta crítica e um elogio merecido.
http://conjurado.blogspot.com/2008/02/uma-resposta-crtica-e-um-elogio.html
PS. Espero que tenhas outros estudos que comprovem o que dizes "(...) estatisticamente, as religiões são más." Se puderes enviamos...
Rui,
ResponderEliminarNão tive tempo ainda de ler bem os posts que referiste, mas eu não defendo um mundo sem religiões. As religiões fazem parte da nossa cultura.
O que eu defendo é um mundo em que ninguém considere que algo merece ser levado a sério só porque está escrito num livro antigo ou porque é proclamado por alguém que alega ter uma relação directa com os deuses.
Quanto às estatísticas, o que proponho é que os dogmas religiosos têm muito mais coisas más que boas. Vê o antigo testamento, o direito canónico, a sharia, etc.
A única coisa que nos safa nos países mais laicos é que isto não é levado a sério.
Estatísticas deve ser difícil fazer, mas aqui está uma. Dos dez mandamentos aproveita-se talvez uns 25%, e não são originais.
Anónimo,
A maior parte das pessoas adquire a sua religião em criança. Não me parece que esse modelo de agentes racionais a decidir em seu próprio interesse seja aplicável a esta situação.
Óptimo,
ResponderEliminarEntão afinal estamos de acordo. Fico mais aliviado. E dou-te toda a razão ... as religiões deviam aceitar diminuir em número e importância.
Os dogmas na maior parte dos casos não devem ser levados demasiado a sério.
E subscrevo o que disseste:
"O que eu defendo é um mundo em que ninguém considere que algo merece ser levado a sério só porque está escrito num livro antigo ou porque é proclamado por alguém que alega ter uma relação directa com os deuses."
Se era esta a mensagem que querias transmitir então não podia estar mais de acordo.
Ainda assim e para quem for mais alem que isso e defenda que as religiões são más e perversas convido-o a seguir os links que coloquei em cima. É a minha resposta a esses. Desculpa se te coloquei por momentos nesse saco.
O peso das religiões também está sujeito à evolução. Eu defendo que já houve tempos em que tiveram a sua utilidade, agora já nem tanto, e provavelmente deixarão de a ter.
ResponderEliminarA mim não me faz mal nenhum ter uma religião, porque como dizes, eu ignoro tudo o que vai contra os principios eticos da minha sociedade.
Mas sou obrigado a concordar, se não fosse esta selecção feita pelos crentes, estavamos muito pior, temos um passado em que esta selecção não era feita como prova.
Rui,
ResponderEliminar«Ainda assim e para quem for mais alem que isso e defenda que as religiões são más e perversas»
O problema é definir o que se entende pela religião. Imagina que vinha um marciano e perguntava-nos o que é isso da religião Católica. Davamos-lhe a bíblia, o código de direito canónico e os decretos papais para ele ler. Ele ia achar que era uma coisa horrível.
Mas se observasse o que os Católicos aqui fazem hoje ia ter uma opinião diferente.
Por isso se por religião entendes o que os crentes fazem, então é verdade que nuns sítios é má e noutros não. Mas se a religião for a doutrina oficial, mesmo que seja praticamente toda ignorada, então é uma coisa má. Má no sentido que causa sofrimento, e má no sentido que é epistemicamente inválida.
Bizarro,
ResponderEliminar«O peso das religiões também está sujeito à evolução»
Sim.
«Eu defendo que já houve tempos em que tiveram a sua utilidade»
Não me parece, mas depende de como medes a utilidade. Concordo que sem religião provavelmente não haveria pirâmides no Egipto. Mas será que as pirâmides foram úteis? Terão valido o esforço? Julgo que não.
Penso que a regra geral foi sempre que as religiões se propagavam porque tinham características úteis à sua propagação, e não uteis aos hospedeiros.
Sim, mas foram úteis no sentido em que, no passado, eram a melhor explicação que havia. Daí hoje já não terem utilidade explicativa.
ResponderEliminarLudwig:
ResponderEliminarConcordo com cada letra escrita.
Além disso, está tudo muito bem exposto.
Parabéns!
Eu não sou religioso; sou, talvez, um ateu apático...
ResponderEliminarNo entanto, gostava de comentar uma coisa do teu texto. Dizes que estatisticamente as religiões são más. Que dados (fundamentados) possuis para teres chegado a essa conclusão? E não achas que qualquer opinião sobre a influência da religião, ao longo da história e na actualidade, na civilização não será sempre subjectiva? Isto porque o resultado de grande parte das acções "religiosas" tiveram quase sempre ramificações positivas e negativas.
E acabo citando C. Sagan, "A religião lida com a história, com a poesia, com a grande literatura, com a ética, com a moral, incluindo o impulso moral de tratar com compaixão o menos afortunado de entre nós. A estas coisas eu abraço de todo o coração. Onde a religião mete a pata na poça é nos casos em que pretende saber alguma coisa acerca da ciência.".
"O efeito de ateísmo iluminado também [faz muito mal]. Veja-se ditaduras de esquerda, que fizeram contáveis e incontáveis vítimas no século XX e oprimiram (quando conseguiram) a religião.»
ResponderEliminarIsto é falso! Nenhum dos crimes perpetrados por facínoras tais como Estaline foi efectuada em nome do ateísmo. Não foi devido a nenhuma filosofia ateísta. Seria a mesma coisa q culparmos todos os americanos pelas asneiras do Bush!
Ser ateu é sinónimo de ser mais avançado! Será que os crentes de todo o planeta ainda não notaram que nos últimos milhares de anos a desculpa para as guerras tem sido a religião? Não será altura de tirarmos esse tapete debaixo dos pés dos senhores da guerra?
ResponderEliminarKarin
Bem, este artigo, como todos os outros do autor deste blog, parte obviamente do princípio que as religiões são meras invenções humanas. O que até pode ser verdade, sim, mas a questão é saber que necessidade é que elas preenchem.
ResponderEliminarOu ainda, fora do campo das diferenças de ritual e doutrina e outras peculiaridades culturais de cada uma, o que é que existe de intrinsecamente comum a todas elas?!
A propósito, há na Net uma obra monumental que tem imenso interesse para o estudo da comparação entre as diferentes religiões, desde as tradicionais até aos cultos mais recentes. A ênfase centra-se nas semelhanças entre todas elas, sendo cada capítulo dedicado a um tema específico com citações alusivas dos livros sagrados das diversas fés. Não tenho aqui neste portátil o link do site, mas deixá-lo-ei depois se o encontrar.
Bem, aquilo que existe de mais comum é o conceito de "Deus", como é óbvio. Seja ele visto como uma entidade pessoal - Pai e Mãe - ou impessoal - o Tao - Deus é o fundamento último de toda o sistema de crenças religiosas.
Como repetidamente tenho insistido, a crença em Deus... whatever that may be!... é inseparável do princípio filosófico idealista que considera ser a consciência anterior à matéria, tendo esta sido originada a partir daquela. Nesta concepção, um Ser consciente pode existir sem as limitações do espaço-tempo, ou seja, indefinidamente por toda a eternidade.
A propósito disto, convém também recordar que há 2 aspectos básicos na religião: o esotérico ou dos mistérios e o exotérico ou dos rituais. Este segundo é o mais vulgarmente conotado com a prática religiosa, já que de facto o aspecto mais íntimo da vivência religiosa é bem mais elusivo e difícil de apreender.
A questão das religiões serem más só se pode colocar numa perspectiva da sua falsidade intrínseca, claro. Ou seja, se a base filosófica em que assentam for ilusória e não existir pois nenhum princípio consciente fora da organização material, neste caso o cérebro humano, essencialmente.
É certo que também se pode utilizar esse qualificativo para verberar várias práticas que, ao longo dos tempos ou ainda na actualidade, foram apanágio de algumas religiões ou grupos de aderentes que justificam os seus actos com a fé. Mas aqui não temos nada de substancialmente diferente daquilo que desde sempre tem sido a "maldade" humana, por assim dizer. Logo, não creio que esse seja um fundamento correcto para avaliar da não bondade do fenómeno religioso.
Só para terminar, ainda um comentário a essa afirmação do Scheeko quando diz que um dos princípios mais valorizados é o acreditar sem questionar. Isto de facto realça uma certa oposição entre o pensar e o sentir. Este é um tema muitíssimo fascinante, que ultrapassa o fenómeno religioso, como é óbvio. Deveras, o mesmo se passa no enamoramento e na força irracional - melhor dizendo, para além da razão - que subjaz à paixão. Ah, e as meras explicações biológicas aqui são insuficientes, claro. Ou seja, qual a natureza desse sentimento... o amoroso ou religioso... e por que razão ele ultrapassa o questionamento racional?!
Melhor ainda, a experiência amorosa é, deveras, aquilo que humanamente existe de mais parecido com o arroubo místico. Mas, de novo, querer tirar apenas conclusões meramente biológicas de tal facto é possivelmente muito redutor.
Logo, independentemente de algumas práticas condenáveis, a religião não pode ser má caso se baseia em algo correcto, como é óbvio. Por outro lado, quem pensa que a ideia de Deus ou a consciência imaterial é uma fantasia pode ter motivos para assim pensar, sim.
Question is: is it, is it really?! :)
Por fim, os aspectos na crença religiosa que são de facto mera superstição e não respeitam o sagrado princípio da "lei de ouro", são sem dúvida humanamente maus, como tudo aquilo que é imposto sem uma verdadeira consciência do seu significado.
I let go of the law,
and people become honest.
I let go of economics,
and people become prosperous.
I let go of religion,
and people become serene.
I let go of all desire for the common good,
and the good becomes common as grass.
Tao Te Ching, 57
Ludwig
ResponderEliminarO seu post está cheio de falácias do verdadeiro escocês. Em 9 parágrafos, 8 têm falácias. O único parágrafo onde não existe uma única falácia é o segundo onde se escreve:
«O que não aceito é que se culpe a religião por todos os males do mundo [...]. [S]er ateu não é sinónimo de ser mais avançado ou mais racional e de estar livre de pensamento.»
Mas adiante também se escreve uma grande verdade:
«O efeito de ateísmo iluminado também [faz muito mal]. Veja-se ditaduras de esquerda, que fizeram contáveis e incontáveis vítimas no século XX e oprimiram (quando conseguiram) a religião.»
Quanto ao resto, comportou-se como um verdadeiro escocês! ;-)
Já agora, a partir de amanhã começarei a comentar os seus posts nos blogues "meio minuto", "cinco dias" e "sete dias" (ou seis dias, ainda não decidi.
ResponderEliminarÓ Karin:
ResponderEliminarEssa de que a desculpa para as guerras tem sido a religião é um bocadito puxada! Não me parece que o Marx estivesse de acordo, embora em muitos conflitos possa também haver a exploração do sentimento religioso, é um facto.
Mas significa isso que se, por algum passe de mágica, a religião desaparecesse o mundo se tornaria melhor?! Bem, parece-me um raciocínio simplista e muito difícil de ser defendido. E até podemos estudar o que se passou nos regimes políticos em que a expressão natural da religião foi suprimida ou reduzida ao mínimo, como na Europa de Leste, China, Coreia do Norte e outros. Não consta que deixassem de ser conflituosos por causa disso, a religião tem muito pouco a ver com barbáries, ainda que até possa ser utilizada como desculpa conveniente, vide os discursos patéticos com apelos contra o "eixo do mal" e similares.
Se há de facto algo a que podemos chamar "mau", isso é a ignorância sobre a nossa verdadeira natureza humana, aquilo que deveras somos e a razão por que estamos aqui. Ironicamente, são até aqueles que mais apelam à lógica e ao raciocínio que defendem não haver razão alguma para o aparecimento do Ser Humano e da própria Vida. Apenas uma sucessão de acasos evolutivos... that's it!
É tão espantosamente miraculoso... ou crédulo!... poder supor que a consciência surgiu da mera organização espontânea da matéria - ainda que só ao fim de biliões de anos - que deveras não vejo mesmo que maior milagre do que esse possa mesmo ser imaginado. A vida por geração espontânea? Humm... não soa lá muito científico, tanto quanto sei...
Isso sim, é uma concepção bem ingénua e infantil, baseada somente num conhecimento ainda tão imperfeito do que deveras tudo isto é!
Still, we can feel Love... the true mark of our divinity... from within and above! :)
When a superior man hears of the Tao,
he immediately begins to embody it.
When an average man hears of the Tao,
he half believes it, half doubts it.
When a foolish man hears of the Tao,
he laughs out loud.
If he didn't laugh,
it wouldn't be the Tao.
Thus it is said:
The path into the light seems dark,
the path forward seems to go back,
the direct path seems long,
true power seems weak,
true purity seems tarnished,
true steadfastness seems changeable,
true clarity seems obscure,
the greatest are seems unsophisticated,
the greatest love seems indifferent,
the greatest wisdom seems childish.
The Tao is nowhere to be found.
Yet it nourishes and completes all things.
Tao Te Ching, 41
Leprechaun,
ResponderEliminar«Bem, este artigo, como todos os outros do autor deste blog, parte obviamente do princípio que as religiões são meras invenções humanas. O que até pode ser verdade, sim, mas a questão é saber que necessidade é que elas preenchem.»
Na minha experiência pessoal, nenhuma. Se preenchessem alguma necessidade real duvido que precisassem disso da fé, da salvação, da vida eterna e essas coisas. Bastava preencher a necessidade para se justificar ser religioso.
«Logo, independentemente de algumas práticas condenáveis, a religião não pode ser má caso se baseia em algo correcto, como é óbvio.»
Isso é absurdo. Ser correcto (corresponder à realidade) é independente de ser bom ou mau. É correcto dizer que muito açucar provoca cáries. Mas comer muito açucar e ter cáries é mau à mesma.
António,
ResponderEliminar«O seu post está cheio de falácias do verdadeiro escocês»
Não se terá enganado no post que queria comentár? Essa não faz muito sentido...
Se não foi engano, então deixe-me dizer que é muito mais útil quando se aponta falácias explicar porque o raciocínio é falacioso.
Note também que muitos dos meus parágrafos são exposições de mecanismos causais e não inferências. Podem estar incorrectos, mas não sendo inferência não são falaciosos.
Vou ilustrar com um exemplo. Dizer que posso concluir que choveu porque sei que o garfo está na gaveta é um argumento falacioso. A conclusão não é consequência lógica da premissa.
Mas se eu disser que o garfo na gaveta causa a chuva isto não é um argumento falacioso. É apenas uma afirmação falsa. Nem é argumento, nem contém inferências e por isso não pode ser falácia. É simplesmente um modelo causal incorrecto.
«Já agora, a partir de amanhã começarei a comentar os seus posts nos blogues "meio minuto", "cinco dias" e "sete dias"»
Como um dos meus filhos costuma dizer: e?...
Ludwig
ResponderEliminarAha! Um post de agitador!!! Gosto! Vou ter que ir comentando às prestações.
Estragaste tudo logo de início: respondeste logo "sim". Sinceramente é um dos erros que te tenho apontado há muito: partes logo do preconceito que isso é verdade e depois vais justificando. Podes argumentar que eu faço o mesmo, mas acho que é óbvio que eu ainda sou mais descrente nas pessoas e na igreja que tu.
O "estatisticamente as religiões são más" foi mais uma cavadela que deu duas minhocas. Nem foi tanto (mas também foi) a falta de rigor da palavra. Foi porque a escolheste e reflecte o teu preconceito. Pois se eu te apontei o estudo da National Geographic e nem lhe ligaste nenhum (claro que é uma interpretação de uma verdade complexa).
Puxando a brasa à sardinha a favor da religião, a taxa de suicídios nos países mediterrânicos é menor que nos nórdicos (não te sei dar uma referência, mas é mais ou menos conhecimento comum). Acho que não é preciso um tratado sociológico para saber que quem se suicida só pode estar avariado dos pirulitos, a bater mal e muito infeliz. Pode ser uma medida de religiosidade e respeito pela vida (ou coincidência, ou exposição solar).
Onde está a tua estatística agora? Não tens problemas em aceitar outras, porque é que evitas estas?
Já te disse que a excisão do clitóris é um hábito cultural (ou "falta de cultural") e não religioso: na Ásia não se pratica, mas pratica-se entre algumas comunidades cristãs africanas (acho que à volta da Somália ou assim uma coisa, mas vou tentar investigar). Repito: não é religioso. Acusas-me de querer colar o que é religioso ao que é bom e de "descolar" a religião de coisas más, mas não vês que eu sei perfeitamente (talvez mais que tu) distinguir entre as duas. Sê objectivo!
Nuno
ResponderEliminarNenhuma guerra foi travada em nome do ateísmo. Do mesmo modo, pouquíssimas guerras o foram verdadeiramente em nome da religião, e mesmo essas são discutíveis.
Qualquer desculpa para uma guerra mascara só a sede de poder. As cruzadas (que eventualmente, no meu ponto de vista, podem ser verdadeiramente consideradas guerras religiosas) podem ser consideradas uma posição de poder em relação a uma terra, a terra santa (três vezes santa, isso é que é azar!) são mesmo assim uma conquista territorial. A conversão dos indígenas foi uma excelente desculpa para justificar o descobrimento de terras a uma força política muito forte, a luta contra os infieis é uma excelente maneira de vender armas a várias pessoas. E por aí adiante.
Mas o que será em tudo isso religioso? Isso faz-me lembrar aqueles homens que repetidamente corneiam a mulher, mas que a amam e respeitam. É que uma coisa não tem que ver com a outra! Mas é amor e respeito! Eu acho que não! Mas eles juram a pés juntos que é.
O comentário anterior também era dirigido à Karin, mas esqueci-me de dizer. Não interessa, porque ainda voltarei ao assunto.
ResponderEliminarNão acho que o post seja falacioso. Creio sim que é parcial. É precisamente isso que, respeitando o ateísmo de todos, estou a tentar provar que se está a tentar provar (mm... acho que fiz sentido, mas não juro). Volto à afirmação inicial: a religião não é a raíz de todos os males! Isso não é parcial sequer: é falso! Pode mesmo ser perigoso como ideia.
"E?..."
ResponderEliminarE o meu ciclo "Ktreta!" termina.
Quanto ao resto das suas observações não vou comentar. Tenho a certeza que percebeu o que eu escrevi.
Seja feliz.
Abobrinha,
ResponderEliminar«Estragaste tudo logo de início: respondeste logo "sim". Sinceramente é um dos erros que te tenho apontado há muito: partes logo do preconceito que isso é verdade e depois vais justificando. »
Cada um tem o seu método, e quem sou eu para julgar os outros. Mas eu costumo pensar no que vou escrever *antes* de escrever. Por isso o «sim», apesar de vir no inicio do texto, vem no final do raciocínio.
O resto do texto mostra o raciocínio que me levou ao «sim».
«O "estatisticamente as religiões são más" foi mais uma cavadela que deu duas minhocas. Nem foi tanto (mas também foi) a falta de rigor da palavra. Foi porque a escolheste e reflecte o teu preconceito.»
Não é preconceito. É observação; é por isso que é estatistico.
Sugiro o seguinte exercício. Pega nos livros sagrados de várias religiões, bem como os seus textos oficiais, doutrinas, etc. Agora, para cada uma, imagina levar tudo isso à letra, tal e qual devia ser o crente perfeito segundo a versão oficial ditada pelos deuses.
Parece-me que a vasta maioria do que sairá daí será mau. Aproveita-se pouco daí.
Se eu afirmasse que dar medicamentos ao calhas era, estatisticamente, mais mau que bom penso que ninguém me ia exigir dados concretos, até porque seria difícil fazer a experiência. Mas também não me parece que fossem contestar muito.
É essa a ideia aqui. Crenças ao calhas dão asneira na maior parte dos casos. E se comparares um molho de religiões vais ver que são crenças ao calhas. Não há nada de racional nessa macedónia.
Ludwig
ResponderEliminarNão leves a mal o que disse do "sim". Não era uma crítica ao estilo em si, mas mais um reflexo daquilo que eu interpretei como o teu preconceito.
Eu também tenho o meu estilo: montes de pontos de exclamação! Há quem não goste, mas eu sou mesmo uma incompreendida! ;-)
(o resto comento mais tarde)
Abobrinha,
ResponderEliminarNão tenho nada que levar a mal. Devia é ter posto o smiley para saberes que te estava a manda uma boca, he he :)
Agora mais a sério, vou por a coisa de outra maneira.
Se um acto é bom é porque faz algo de bom, e isso justifica o acto. Lavar os dentes previne as cáries, aconchegar os miudos à noite fá-los sentir-se bem, exercicio regular melhora a saúde, etc.
Se um acto tem que ser justificado pela observância de uma doutrina religiosa é porque não tem nada de bom. Se tivesse não era preciso a religião.
Mas obrigar as mulheres a andar de cara tapada, ou batptizar as crianças sem considerar se elas querem ou não, ou proibir o uso de contraceptivos, para isto já é preciso religião.
Resumindo, não há nada de bom que precise de ser justificado pela religião, e há muita coisa má que se faz porque as religiões o justificam.
Ludwig
ResponderEliminarAi estavas a mandar-me uma boca???? Hás-de ter muitos amigos!
Estava a brincar: acho que te "conheço" o suficiente para saber que não levaste a mal. Foi mais também pelos outros leitores e para dissipar dúvidas.
Mas há pessoal que leva tudo à letra, sabes disso.
Pegando em duas coisas que dizes:
"obrigar as mulheres a andar de cara tapada, ou batptizar as crianças sem considerar se elas querem ou não, ou proibir o uso de contraceptivos, para isto já é preciso religião"
"Pega nos livros sagrados de várias religiões [...] imagina levar tudo isso à letra"
Levar tudo à letra é complicado, impossível e não contempla a realidade moderna. Por exemplo, não estou convecida de que blogar não seja pecado, mas como não há instruções nesse sentido, tá-se bem!
Em contrapartida, "lavar os dentes previne as cáries, aconchegar os miudos à noite fá-los sentir-se bem, exercicio regular melhora a saúde" é a mais pura verdade... e há quem ache que lavar os dentes é uma seca e não o faça, que aconchegar os filhos à noite é coisa de mulher ou paneleiros e que o único exercício físico que é mesmo preciso é levantamento de garfo e de copo, que é para estar em forma (tens coragem de dizer que redondo não é uma forma?).
Ou seja, não pensar não é exclusivo de pensamento religioso. Há mais implicações que isto (que está menos que superficial) e eu ando a pensar em organizar isto num post. Mas não quero tirar visibilidade à promoção da causa do ra... da pran... do desenho do teu irmão. (Mentira: ainda não amadureci o assunto, mas era para o pessoal não se esquecer de ir votar)
E esqueci-me de dizer que as duas citações eram para dar o exemplo de coisas que NÃO são interpretações literais de livros sagrados porque não há lá uma alínea que diga "faça-se assim".
ResponderEliminar"Sugiro o seguinte exercício. Pega nos livros sagrados de várias religiões, bem como os seus textos oficiais, doutrinas, etc. Agora, para cada uma, imagina levar tudo isso à letra, tal e qual devia ser o crente perfeito segundo a versão oficial ditada pelos deuses.
ResponderEliminarParece-me que a vasta maioria do que sairá daí será mau. Aproveita-se pouco daí."
Ludwig, não sei se conhece a história de S.João de Deus, se não conhece pode ler aqui: http://www.paroquia-sjoaodeus.pt/saojoao.html
Foi uma pessoa que levou a sério toda a doutrina da Igreja Católica, e por isso fez bem a muita gente. E como ele, poderia dar exemplos de muitos milhares de santos que tornaram o mundo melhor porque levaram a sério essa doutrina.
É estranho que pense que os católicos mornos é que tornam o mundo melhor, porque é exactamente ao contrário, são os que levam o amor de Cristo a sério que o fazem.
Presumo que esteja a falar sem conhecimento de causa.
Pedro Silva
Abobrinha,
ResponderEliminar«Levar tudo à letra é complicado, impossível e não contempla a realidade moderna.»
Concordo. É o que eu estou a dizer. As religiões, enquanto amontoados incoerentes de dogmas sem nexo, são coisas más. Se tentares seguir uma religião à letra vai dar chatice.
O que safa é essa tal "realidade moderna" que consiste nas pessoas serem crentes em apenas uma pequena fracção desse conjunto de dogmas, fracção essa escolhida de forma a causar poucos danos.
Pedro Silva,
ResponderEliminarLi a biografia que recomendou:
http://www.paroquia-sjoaodeus.pt/saojoao.html
É interessante e recomendo-a aos outros participantes nesta conversa. Se esse é um exemplo de «uma pessoa que levou a sério toda a doutrina da Igreja Católica», então não tenho mais nada a acrescentar a não ser QED.
Ludwig,
ResponderEliminarSe a religião existe, alguma utilidade deve ter tido em alguma altura. Provavelmente não teriamos piramides, como muito provavelmente nem sequer tivessemos tido a civilização egipcia. A religião em ultima instancia funcionou como uma cola social, que serviu não só para fazer piramidades, como também para manter coesa uma sociedade, e também para trazer todo o mal ao mundo :P Hoje pode parecer que não é a melhor forma, mas na altura era provavelmente a unica.
"E o meu ciclo "Ktreta!" termina".
ResponderEliminarLOL
Cristy
Abobrinha
ResponderEliminarlá venho eu atrasada para a conversa, enfim, é sina ..
Talvez não seja correcto dizer que as religiões são a causa de grande parte das guerras, mas se substituires "causa" por "pretexto" verá que assenta que nem uma luva.
Evidentemente que se não houvesse religiões, as pessoas encontrariam outros pretextos para fazer guerra. Mas a guerra não é, como penso que o dono blogue já explicou muito melhor do que eu sei fazer, o único, nem - para o mundo moderno - o mais grave malefício das religiões. Agora, que não ajuda exactamente a resolver conflitos, mesmo nos nossos dias, isso penso que salta à vista.
Cristy
«Logo, independentemente de algumas práticas condenáveis, a religião não pode ser má caso se baseie em algo correcto, como é óbvio.»
ResponderEliminarIsso é absurdo. Ser correcto (corresponder à realidade) é independente de ser bom ou mau. É correcto dizer que muito açúcar provoca cáries. Mas comer muito açúcar e ter cáries é mau à mesma.
Sim, até pode ser absurdo já que falamos de algo para além do Bem e do Mal... à la Nietzsche! :)
Mas, como expliquei mais no final, se deveras há uma Realidade imaterial é melhor reconhecê-la do que ignorá-la. É apenas este o pressuposto para a religião não ser "má", de per si, independentemente das suas consequências práticas.
A questão é continuamente a mesma: será que as religiões preenchem alguma necessidade humana, quer se baseiem ou não em algo real, que neste caso transcende o plano material?
Ao que sei, a resposta é positiva. Mas isso não significa necessariamente que todos os espíritos religiosos se agrupem em torno de alguma denominação religiosa em concreto, já que há de facto uma espiritualidade que não se reconhece em nenhuma religião particular. Ou se pode até considerar uma síntese da unidade comum em todas elas.
Para além do mais, é óbvio que mesmo fora dessa espiritualidade difusa há muita gente para quem a crença ou prática religiosas nada dizem, ou são perfeitamente dispensáveis. Ora, seres mais evoluídos e libertos, claro! ;)
A este propósito, e já que o site que referi é de facto algo pesado e muito específico - esse livro das "World Religons" tem bem mais de mil páginas! - deixo aqui outro link do Harmony Institute, que tem 2 documentos Acrobat Reader com muito interesse e uma só página cada um. Ou seja, demora ainda menos tempo a ler do que aquilo que eu escrevo, e o conteúdo é muitíssimo mais legível... claro!!! :)
Vou apenas transcrever os 10 ensinamentos comuns a todas as religiões, já que me parece adequado ao tema em causa sobre o suposto malefício das religiões em geral, opinião da qual não partilho, como é óbvio.
1. Um só Deus
2. Deus está em toda a parte
3. A existência da alma
4. Deus está dentro de nós
5. O conhecimento espiritual é acessível a todos
6. O nome de Deus: EU SOU!
7. Compaixão e respeito por todos
8. Ética: não matar, mentir, roubar, invejar
9. Toda a humanidade está unida
10. Paz e não violência
Bem, pelo menos creio que os últimos princípios são comuns a crentes e não crentes, já estamos aí 50% de acordo... nada mal!... ó Abóbora especial :)
Leprechaun,
ResponderEliminar«Mas, como expliquei mais no final, se deveras há uma Realidade imaterial é melhor reconhecê-la do que ignorá-la»
Por outro lado, se não há, o melhor é reconhecer que não há. E mesmo que haja só haverá algo a reconhecer quando soubermos o que é essa realidade. O problema epistémico é sempre o primeiro. Antes de sabermos não há nada a fazer.
«Vou apenas transcrever os 10 ensinamentos comuns a todas as religiões
[...]
1. Um só Deus»
Hã!? Todas as religiões são monoteístas?
De qualquer forma a questão é se os princípios que dependem da religião são bons. Porque para aqueles que não dependem da religião não precisamos da religião para nada.
Finalmente, quando compilas essa lista resumidinha estás a fazer exactamente o que eu disse. Tiras todos os detalhes hediondos que cada religião tem, seleccionas apenas as coisas melhores, e apresentas uma lista que não coincide com a doutrina oficial de nenhuma religião. Essas têm muito mais coisas, a maioria das quais bastante mazinha.
Por exemplo, vê os castigos que a maioria das religiões prescreve para a apostasia.
Ludwig Krippahl:
ResponderEliminar“A maior parte das pessoas adquire a sua religião em criança. Não me parece que esse modelo de agentes racionais a decidir em seu próprio interesse seja aplicável a esta situação.”
As crianças aprendem muitas coisas a religião é apenas uma delas.
Quanto ao modelo não ser aplicado à religião pemita-me que discorde. Creio que se consultar os seguintes autores mudará, certamente, de opinião.
Rodney Stark and Roger Finke, 2000, Acts of Faith: Explaining the Human Side of Religion, Berkeley, University of California Press. Citado em Quebrar o Feitiço – A Religião como Fenómeno Natural. Esfera do Caos. Pag. 154 e 155.
António
António,
ResponderEliminarPelo que me lembro desse livro do Dennett a tese principal é precisamente que a religião se propaga porque é um bom replicador, não porque seja um bem útil preferido por agentes racionais que o querem "comprar".
Ludwig Krippahl:
ResponderEliminarDennett faz o inventário de todas as abordagens da religião com especial destaque para as que tem como fio condutor a teoria da evolução. Não deixa porém de referir outras nomeadamente a religião vista de uma perspectiva da teoria das escolhas racionais, que, na minha opinião, é um contributo (apenas um, entre muitos) importante para o estudo da religião.
António
Ludwig, ainda bem que gostou.
ResponderEliminarSendo assim mando-lhe aqui outra biografia, a de S.Maximiliano Kolbe:
http://www.ecclesia.pt/santos/agosto/14.htm
Esta é bem mais pequena, lê-se em 30 segundos.
Pedro Silva
Ludwig
ResponderEliminarNa sexta-feira comentei só de raspão e quase sem pensar. Como resultado, os comentários foram-se acumulando e torna-se complicado dar respostas com pés e cabeça porque estava a pensar em várias coisas ao mesmo tempo. Vou tentar dividir a coisa em secções, já que desisti de resumir!!!
O que me motivou a escrever aquelas frases que destacaste foi a sensação de que tu e outros entre este blogue e o De Rerum Natura (não sigo os outros que apontas, por falta de tempo) apontam para a religião como algo de absolutamente irracional e mesmo absolutamente pernicioso. A palavra “absolutamente” é complicada, das mais falsas que há e uma que eu odeio usar.
ResponderEliminarO que é absoluto? Eu acho que nada ou quase nada. A maior parte das coisas e situações merecem ser olhadas com todas as particularidades que encerram. E a religião é mais que muito complexa, como todas as coisas que envolvem uma componente humana muito pronunciada. São simplesmente variáveis a mais e torna-se complicado distinguir onde acaba a natureza humana e onde começa a religião! O comentador – com – dá + ainda lançou mais confusão (não é uma queixa!) ao tentar pôr em perspectiva o que é o sentimento religioso, que é possivelmente outro ponto em que poderás pegar (não garanto é ser competente para comentar).
Quando dizes que qualquer ideologia do “sim porque sim” (ou seja, do pensamento absoluto) é perniciosa, concordo. Mas assumes de novo que a religião é irracional. Pode ser irracional quando se aceita tudo o que se pensa estar contido na religião “porque sim”. Do mesmo modo, embora fundamentes muitas das tuas objecções à religião, muitos dos teus argumentos reduzem-se a “porque sim”, ou seja, verdades absolutas e sem necessidade de justificação, dado que não os fundamentas tão bem como pensas ou ignoras descaradamente dados que te fornecem.
Deste modo resumiste que as religiões são estatisticamente más. E acabou! Dizes que há hábitos que são religiosos que não o são (excisão do clitóris, cobrir o rosto e as formas femininas) e confundes com os que são religiosas (baptismo, circuncisão). Ignoras propositadamente os mandamentos que preto no branco apelam à tolerância, caridade e outros. Porquê? Porque te é conveniente, porque tens uma ideia definida em relação à religião e é essa a que te agarras, queres fazer passar e não te interessa mudar.
Quanto aos “concretamentes”. dizes que “desapareceram os autos de fé, a Inquisição, a censura de obras contrárias à doutrina Católica e as penas por heresia, mas não por ter havido alterações profundas na doutrina. Desapareceram porque os Católicos foram ignorando o pior.” Ludwig, os católicos não ignoraram nada: os católicos pensaram bem e uma religião baseada na tolerância e no perdão não é consistente com nada disso que de facto se fez e que constitui vários momentos negros da história da humanidade. Estas acções estavam no contexto da época e foram uma aplicação segundo os preceitos de justiça de então. Pelo que há séculos se queimaria uma bruxa, hoje a mulher seria levada a tribunal e condenada a pagar x dias de multa. Se fosse no nosso país, só depois de anos e então seria arquivado.
ResponderEliminarO exemplo da proibição dos preservativos não é para levar a sério porque a cúpula católica está autista e não vê que a contracepção não é contrária à vida. Pelo contrário (com a SIDA é “pelo contrário” ao quadrado, e aquelas criaturas não conseguem ver isso!)! O mesmo não é válido para o aborto, onde eu concordo contigo (do que já consegui ler) e com a igreja católica. Embora tenha votado “sim”, mas isso agora já é outra conversa.
Ao falar de liberdade de pensamento e de ateísmo, de novo o comentador – com – dá + fala uma grande verdade: não serão muitos ateus só ateus por moda? Tão incapazes de pensar como se fossem religiosos fervorosos noutros tempos. E de justificar as suas opções. Tu particularmente justificas grandemente a tua opção por continuar ateu (tanto quanto entendi, foste criado ateu, daí não ter sido uma conversão). Mesmo assim não entendes ou fazes por não entender certos pontos de vista que defendem a religião como algo de bom. Possivelmente não algo de absolutamente bom, mas nem estás aberto sequer a essa possibilidade.
ResponderEliminarQuando dizes que não defendes um mundo sem religiões, dás outro tiro no pé: então se são tão más como dizes, deviam ser (e eu apoiaria) erradicadas. Não estás a fazer sentido, compreendes?
Quanto ao facto de as religiões arranjarem maneiras de se propagarem geração após geração... é assim com tudo quanto é saber! Só dizes isso porque de facto a religião chegou até aos nossos dias. Se não tivesse essa particularidade, nem sequer era uma questão, não achas?
ResponderEliminarTodo o conhecimento e modo de ver a realidade se propaga de geração em geração: as pessoas não crescem baseadas no nada mas nas crenças da sociedade em que se vive. Daí não fazer sentido criar uma criança ateia e depois ver se ela quer entrar no clube de uma religião: o ateísmo é em si uma opção de vida e não um ponto neutro qualquer a partir do qual se pode decidir em total liberdade. Isso é falso e tu sabes disso.
Só para terminar, falou-se que as religiões não contemplam uma série de novas situações especificamente modernas. Quanto a isso, e uma vez que não creio estar prevista uma nova vinda do Cristo à Terra, creio que a única coisa a dizer em relação à resolução de novas questões foi o que disse a avó da Marjane Satrapi (do filme Persepolis, que retrata a vida dessa iraniana de 38 anos e ao qual dediquei um post) à neta: temos sempre a escolha e só pedia à neta para ser íntegra.
ResponderEliminarNo fundo é sempre o que pensei e torna desnecessário o drama de ir ou não para o inferno para conduzir as nossas opções do dia a dia. Deste modo é a nossa própria consciência e integridade que ditam a nossa conduta e não o medo de castigo divino. Ou, citando o meu pai, o céu e o inferno são aqui, nesta vida e não na outra. Mas eu acho que o meu pai é agnóstico, como a maioria dos irmãos (e possivelmente eu também). E andaram os meus avós a rezar tanto... é injusto, estás a ver? ;-)
Cristy
ResponderEliminarA diferença entre "causa" e "pretexto" não é um pormenor. De todo! Faz toda a diferença.
A religião não ajuda a resolver conflitos? Mmmm... isso tem muito que se lhe diga! Já falei com várias pessoas acerca de, por exemplo, as semelhanças entre judaísmo e Islão. É só preciso ter dois dedinhos de testa para ver que uma série de tradições nas duas religiões deveriam ser indicações de semelhança, de amor ao mesmo Deus.
Exemplos: a "alergia" à carne de porco, os rituais de purificação antes de rezar e comer (os cristãos são mais badalhocos e a dada altura isso custou vidas), a mesma Terra Santa, o mesmo Deus. Em vez disso preferem agarrar-se a especificidades culturais e ter ódios de morte que não conseguem justificar racionalmente e tentam justificar com diferentes religiões.
Não faz sentido rezar ao mesmo Deus de Amor e odiar o Irmão! São as pessoas que odeiam, não as religiões que mandam odiar. Ou seja, tens razão na prática, mas não na teoria: em teoria as religiões uniriam, mas na prática as pessoas escolhem o ódio. É essa a natureza humana.
Abobrinha
ResponderEliminara palavra operacional aqui é "deveria". Nesse caso também não deveria haver atritos entre judeus e cristãos, já que o cristianismo não passa de uma seita do judaísmo. Mas a mim interessa-me mais o que é. E se há uma diferença entre causa e pretexto, ela não reside no efeito. Não me refiro apenas a guerras. Num post anterior focas, e com muita razão, que a mutilação genital feminina não é à priori produto da religião. No entanto, a interpretação feita ao Corão por quem tem interesse em tal (porque é que no Islão havia de ser diferente?) permite deduzir que o Maomé era a favor. E o facto de haver muitos líderes religiosos a assinar por baixo esta interpretação, reforça quem quer manter a tradição. É o mesmo com os preservativos: há uma resistência ao uso em todo o mundo, mas particularmente em África e na América Latina entre as camadas populacionais menos esclarecidas. Os argumentos da igreja católica servem para reforçar esta atitude até de quem nem sequer católico é (sobretudo quando o biscpo de Maputo lança barbaridades como aquela de que os Ocidente infectou os preservativos com a Sida para matar todos os africanos). E há muitos mais exemplos que mostram os efeitos nocivos das religiões e igrejas.
Cristy
Cristy
ResponderEliminarDeste-me razão. Em mais que uma maneira.
O que eu quis dizer com as frases que o Ludwig destacou é que a religião às vezes é uma boa desculpa para outras coisas. Quase como uma capa de protecção divina usada para coisas muito mais mundanas.
Repara que se retirares a religião, o verdadeiro problema continua lá. E o problema é o ódio que vive no coração das pessoas e que é mais forte que o amor. As tensões entre judeus e cristãos são essencialmente conflitos antigos, ultrapassados em parte pela História e em parte pela culpa de muita parte da História. E por algumas pessoas pensarem!
Mas a tensão era mais étnica que propriamente religiosa: os cristãos de há uns séculos não admitiam que se fosse não cristão, invejavam a prosperidade dos judeus e achavam estranho como é que eles pareciam imunes a algumas doenças (o que é fácil, porque os padrões de higiene eram mais avançados).
Dizer que os judeus é que sacrificaram Jesus Cristo é uma parvoíce tão grande como era há 2000 anos, mas hoje é mais óbvio. Daí que um cristão que diga hoje que odeia um judeu não pode dar outra desculpa que não ser palerma. Ou que os judeus oprimem os palestinos. Ou mesmo outra porra qualquer, porque se eu quiser mesmo arranjo desculpas para odiar (judeus ou quem eu quiser). Para amar é que é mais chato. Nesse sentido até posso agarrar-me àquela coisa que o Cristo disse que era de amar toda a gente (mas isso dá muito trabalho, sobretudo porque há 6 mil milhões de pessoas no mundo, o que é manifestamente demais).
O bispo que defende que o vírus do HIV foi posto nos preservativos, além de ter sofrido uma lobotomia recente ou não querer ou não saber pensar, é racista. Venha de pretos ou de brancos, para mim o racismo (como expressão de ódio não justificado mas simplesmente "porque sim") é mau e acabou. Das poucas coisas absolutas que encontro em maneiras de pensar e de ser.
Voltamos de novo ao mesmo: a religião não é uma demonstração de irracionalidade nem de mal, pelo que se está a atacar o problema pelo sítio errado. O problema reside na incapacidade de pensar e ser crítico das pessoas. E numa grande necessidade de odiar e ser superior a alguém! E isto é válido para religiosos e para ateus. Cada um deles mais ou menos pensante e mais ou menos crítico. A religião não é o alvo a abater, mas a ignorância e o ódio são.
Se fosse o alvo a abater, eu mesma ajudaria a abatê-la, independentemente de a minha fé ser a mais ferrenha. Por um bem maior (vamos admitir que não seria um disparate perseguir a religião).
Ludwig, Abobrinha
ResponderEliminarpensei em não comentar este post, havia qualquer coisa que não me parecia bater certo mas já descobri o que era.
Não Ludwig! As religiões não são más! ... Nem boas!
As religiões são construções humanas (por muito que os crentes digam o contrário) e como tal esse atributo não se aplica.
Os seres humanos podem ou não fazer coisas boas. Com religião ou sem religião.
A religião pode estar errada ou certa mas não é má nem boa.
A ciência pode estar errada ou certa mas não é má nem boa.
Dizer que estatisticamente as religiões são más parece-me tão errado como dizer que estatisticamente a ciência (ou a politica, ou a cultura) são más. É um grande tiro no escuro.
Entendo a tua tentação Ludwig mas repara que estás a atribuir à religião um poder que ela não tem per si.
Tudo o que é construção humana tem consequências positivas e negativas. Repara quantas vezes houve erros na ciência e como estes serviram para rasgar fronteiras no conhecimento. Quantas conjecturas na matemática se provaram erradas e da busca dessa prova nasceram ramos inteiramente novos. Repara como Gödel demostrou, ao contrário do que se esperava, que não é possível construir um sistema axiomatico consistente e completo.
Até a religião Ludwig! Até a religião contribuiu imenso para a formação do teu (nosso) conceito do bem, do belo, da ética e até da lógica. Até a religião foi pródiga a levantar questões (questões que depois não pôde responder) fundamentais, algumas delas ainda por resolver condignamente, como são as questões da origem (última) da vida e do universo.
Por isso entendo que, tal como as diferentes correntes políticas são importantes para a democracia, a religião foi útil no passado e continuará a ser necessária no futuro.
E, contudo sou ateu.
Et voilá!
ResponderEliminar"O problema reside na incapacidade de pensar e ser crítico das pessoas".
ResponderEliminarConcordo, e adianto que a religião é um dos factores que impede as pessoas de pensarem de forma crítica.
Cristy
(desculpa a pressa da resposta)
Cristy
ResponderEliminarNão concordo só pelo seguinte: porque ser ateu não é garantia de capacidade crítica e de ética ateia. Do mesmo modo que religião não implica necessariamente ética associada à religião (a "parte boa", se quiseres).
Abobrinha,
ResponderEliminarclaro que ser ateu não é garantia de coisa nenhuma e não me lembro de jamais o ter afirmado. O que me parece sim, é que a religião nos condiciona à partida para não usarmos os nosso sentido crítico. Sobretudo porque nos educa desde a infância nos moldes: “tens que acreditar se quiseres ir para o céu e se não o fizeres vais para o inferno. E se começas a fazer muitas perguntas é que está tudo estragado”. Isso condiciona-nos à partida a aceitarmos calados quem consegue fazer-nos acreditar que tem grande autoridade (pais, professores, chefe). É uma atitude que, às vezes, dá 1968, mas na maior parte das vezes as pessoas assumem pela vida fora. E claro que não são só a religião e os seus representantes que têm esta atitude, mas se for num ambiente onde lhe é atribuída grande importância, pode ser a quem os piores efeitos.
Cristy
Cristy,
ResponderEliminara religião não é diferente de outras correntes de pensamento.
Noutra época talvez não houvesse outra possibilidade - ou eras crente ou eras crente; felizmente hoje, pelo menos no ocidente, vivemos em sociedades pluralistas o que significa que é dada às pessoas a possibilidade de escolha. Há formas muito perniciosas de lavagem cerebral em todas as correntes de pensamento mas não acredito que a religião (repito no ocidente) tenha um destaque especial nesse particular.
- com - dá +
ResponderEliminarconcordo, também não faço a distrinça entre as várias formas de lavagem cerebral. Acontece que é mais vulgar ensinar às crianças quando são pequeninas todas as tretas religiosas. Há poucas escolas onde a astrologia ou o feng shui pertencem ao currículo, não como tema a analizar e criticar, mas como algo que se tem que engolir e acreditar. E embora haja de certeza pais que ensinam esses disparates aos filhos, há-de ser menos do que aqueles que acham que lhes devem enfiar com a religião antes que comecem a pensar pela própria cabeça.
Cristy
Cristy,
ResponderEliminarvou dar o meu caso pessoal:
Tenho 3 filhos com 9, 10 e 12 anos. A mãe é católica e fez questão que eles frequentassem a catequese. Não gostei mas não me opus e eles estavam entusiasmados com a ideia.
Hoje posso dizer com satisfação que são eles que se divertem a apontar as incoerências do velho e novo testamento; a evidência do incesto na família de Adão e Eva foi mesmo um must para eles.
Qual foi o meu papel ?
Muito pouco ! Apenas os confrontei aqui e ali com factos conhecidos como por exemplo: a evolução da terra e do sistema solar, os problemas da reprodução quando existe consanguinidade.
Não há "lavagem ao cérebro" possível quando se tem acesso à informação !
Teria sido melhor Impedi-los ? (se eu pudesse claro :) ) Creio que não !
A repressão, quer de um lado quer de outro, gera sempre aberrações.
- com - dá +
ResponderEliminar(não tem aí um pseudónimo mais prático?)
Não seja tão modesto. O seu papel foi absolutamente crucial: pelo seu simples exemplo, despertou nos seus filhos a vontade de pensar pela própria cabeça. É exactamente o que eu defendo que todos devem ter o direito de aprender.
Cristy