Contas estranhas.
No De Rerum Natura, a Palmira Silva repete umas contas suspeitas que andam por aí a propósito da proposta de banir os aquecedores de pátio. Estes aquecedores a gás estão a tornar-se muito populares no Reino Unido para aquecer as esplanadas durante a noite e no inverno.
«Em relação às emissões de CO2, cuja «poupança» tanto preocupa os eurodeputados, os aquecedores são responsáveis por uma infíma fatia destas - cerca de 0.002% em Inglaterra onde há actualmente cerca de 1.2 milhões destes equipamentos, muito menos que as emissões provenientes de televisores (que emitem cerca de 210 vezes mais CO2).»(1)
Seguindo a fonte que a Palmira refere temos que «Government figures showed that emissions from all domestic patio heaters amounted to 22,200 tons of carbon dioxide - only 0.002 per cent of the total UK CO2 emissions»(2). Um milhão de aquecedores, vinte e duas mil toneladas por ano, cerca de vinte quilos de emissão de CO2 por aquecedor por ano. Será que aquecer uma esplanada consome meia bilha de gás por ano? Isso é que é eficiência...
Infelizmente, não. Lendo com mais atenção vemos que este valor se refere aos «domestic patio heaters». Estes dados são baseados na venda de bilhas de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL) para uso doméstico (3). O uso doméstico de aquecedores de pátio é de cerca de 21 horas por ano por aparelho, em média. É isto que explica a emissão de 22 mil toneladas por ano para os cerca de 600 mil aparelhos em uso doméstico na altura em que estes dados foram recolhidos (2006).
Neste momento há cerca do dobro dos aparelhos em uso, estima-se que o número ultrapassará os dois milhões no próximo ano e há um uso crescente em estabelecimentos comerciais. Um aquecedor numa esplanada não vai ser usado apenas 21 horas por ano. Por isso a estima-se em cerca de duzentas mil toneladas de emissões de CO2 na industria de restauração devido a este tipo de aquecimento, ou cerca de 2% do total das emissões desta indústria (2, pg 7).
É verdade que é menos que as quatro milhões de toneladas de emissões devido a sessenta milhões de televisores no Reino Unido. Ou as dezoito milhões de toneladas de CO2 que a população do Reino Unido emite anualmente só por respirar. Comparado com isto, duzentas mil toneladas não parece muito. Mesmo assim, é muito combustível e CO2 só para ficar na rua sem casaco. Seria mais razoável cortar nisto que na respiração. Mas para a Palmira esta proibição tem um objectivo mais sinistro:
«...considerando a cruzada anti-tabaco da eurodeputada e a constatação de que estes equipamentos são maioritariamente utilizados, pelo menos em Inglaterra, para tornar menos desagrável a vida dos fumadores, diria que o seu problema com os aquecedores de pátio não são as suas ridículas emissões mas sim o facto de mitigarem o ordálio dos fumadores.»
É uma conspiração. Uma perseguição. Os coitados dos fumadores cada vez têm mais dificuldade em mandar fumo para cima dos outros. Se isto continua assim «praticamente apenas se poderá fumar em casa». Em casa. É terrível. E não é só o tabaco. Não se admirem se qualquer dia escarrar para o chão na paragem do autocarro for visto como má educação, ou se os mais aflitos tiverem que ir para trás de uma árvore para não salpicar as calças dos outros. Querem tirar-nos o direito de incomodar, e já nem se pode poluir o ar com duzentas mil toneladas de CO2 para fumar em conforto.
1- Palmira Silva, Europa quer banir aquecedores de pátio
2- Daily Mail, EU bid to ban patio heaters (even though they don't harm the planet)
3- DEFRA’s Market Transformation Programme
Ludwig
ResponderEliminarAntes de mais, já os vi há séculos na Polónia e na Alemanha. E acho-os um horror: o incómodo de ter a cara a assar e ter que mudar de posição para não queimar mesmo (fora o "cheiro" a ar queimado) não justificam o prazer de estar lá fora. Para isso faz-se uma marquise com ar condicionado e isolamento decente. Mas isso sou eu, que sou muito lógica.
Se as contas já eram falheiras, o argumento do tabaco então matou tudo! E eu que até acho a Palmira uma pessoa razoável. Deixa que te diga que já dá gosto sair à noite, sem aquela núvem de fumo a pairar por todo o lado. Que alívio!
De qualquer modo, a tendência terá que ser a redução de consumo energético, especialmente tendo como fonte combustíveis fósseis. Neste aspecto podia-se fazer alguma pedagogia em vez de pura e simplesmente proibir. Sei lá, uns acumuladores alimentados de dia a luz solar e que irradiassem o calor acumulado à noite!
Com efeito, ou a Palmirita não tem viajado muito ou há problema magno logo no primeiro parágrafo da prosa: escrever que «os aquecedores de pátio apenas se difundiram na Europa depois da proibição de fumar em espaços fechados se ter efectivado» é uma tremenda calinada. Mas em verdade se diga que está longe de ser a única dessa conhecida «doutorada em Química», que não se coíbe de distribuir opiniões sobre coisas que mal conhece - ou que conhece mal.
ResponderEliminarGeralmente não tenho grande paciência para blogs, mas fui ver o da tal Palmira, porque me interessavam as reacções ao teu post. Só te digo que se o teu objectivo é promover uma cultura de debate civilizado e inteligente em Portugal, ainda tens muito trabalhinho pela frente ...
ResponderEliminarCristy
BEm já conheço esses aquecedores à muito tempo, não me consta que tenham nada a haver com os fumadores.
ResponderEliminarNão desgosto dos aquecedores, em Andorra dão jeito porque os cafés são muito pequeninos, eles tem umas esplanadas cobertas daquelas tapadas com plasticos e depois aquecem aquilo com esses aquecedores. MAs acho que o fazem por todos os clientes não por causa de fumadores. POsso estar enganada claro, se bem que em andorra não existe lei do tabaco.
Pois, também já os vi em vários países. Compreendo que sejam confortáveis, mas a ideia de aquecimento ao ar livre parece-me um desperdício de recursos.
ResponderEliminarAgora isto do tabaco acho que já é mania da perseguição. Agora qualquer coisa que aconteça é para chatear os fumadores... :P
A verdade é que qualquer coisa que acontece é para chatear os fumadores, como a lei do tabaco, porque certamente não é pela saude dos não-fumadores, porque se assim fossem proibiam o consumo e venda de tabaco, e definia-se quais os sistemas de exaustão necessários, porque até agora não existem, e basta ter uma ventoinha numa janela que já serve para se poder fumar, mas isto é outra conversa.
ResponderEliminarOs aquecedores são porreiros dão muito jeito ao ar livre, mas se forem a proibir estes aquecedores pelo consumo energético terão que proibir muitas mais coisas por consumo energetico, como ver televisão, eu não vejo televisão e considero um desperdicio de tempo ver...
Bizarro,
ResponderEliminarA questão não é proibir o consumo mas o desperdício.
Hoje em dia há uma data de regulamentação para o isolamento termico e eficiência energética de edifícios. Faz sentido tentar poupar usando racionalmente os recursos que temos.
Mas é um bocado absurdo ter um isolamento térmico todo XPTO e depois pôr-se a aquecer o exterior.
Se há falta de àgua é razoável proibir que lavem os carros antes de proibir que façam comida ou tomem duche, mesmo que lavar os carros seja uma percentagem menor. E se queremos reduzir o consumo de energia e as emissões eliminar os aquecedores de rua é um bom principio também.
Eu acho que a energia gasta a iluminar um estádio de futebol durante um jogo nocturno é um principio muito melhor e muito mais eficaz, e com muito maior efeito que os aquecedores exteriores, mas ninguém faz estudos sobre isso...
ResponderEliminarVamos todos poupar, sou completamente de acordo, mas comecem a legislar tudo ao mesmo tempo, ou em alternativa comecem pelas coisas que não me fazem falta, como as televisões e a iluminação dos estádios de futebol, e até os aquecedores exteriores. A energia que se poupava se abolissemos com o futebol, sinceramente não percebo o dinheiro que se gasta e a energia que se gasta para um bando de marmelos poderem ver outros marmelos, e estão preocupados com os aquecedores exteriores.
Bizarro
ResponderEliminarEstou a ver que não sou a única a não ter televisão (espreito as partes boas na dos meus pais). Acho que o problema da poluição devida à televisão vai mais longe um pedaço que os monitores: é poluição de ideias, de conteúdos!
Dito isto, a televisão é um veículo de transmissão de coisas boas, como grandes documentários, humor de categoria e tantas coisas mais. O futebol também pode ser, por incentivar a prática desportiva, o desportivismo e a competição (mesmo que só em teoria, mas é defensável).
Cá para mim, rapaz, o fundamentalista aqui és tu!
Ms. Palmira post is typical of a society were waste is viewed as a virtue. This kind of attitude is similar to someone telling a fat person it doesn't matter if he/she eats a bit more because it will not change much their body weight. Obviously some lack of the basics of integral calculus.
ResponderEliminarLet's see, in the UK and in 2007 the total CO2 emissions were about 600e6 tons. According to a study by British Gas & DEFRA [1] all the patio heaters (15 KW average each) currently emit about 165e3 tonnes of CO2 this corresponds to about 0.0275% of total emissions, which is more than 10 times the number given.
Of course, 0.0275% might seem very low but if we don't want stop using this totally stupid and useless waste of energy, what chances are there to reduce emissions? Many pubs already had these heaters long before the smoke ban but probably there will be a big increase now. Most of these heaters are not at the centre of a table, they are at the edge, hence only one or two people sitting closer might marginally get some benefit from this immensely wasteful source of heat.
Also this utopic concept of total freedom is an delusion typical of "Market Fundamentalists" as George Soros calls them. The Libertarian utopia of "we should be able to do whatever we wish as long it doesn't harm others" is not only naive but is also unachievable. The reason is simple, people will never agree what constitutes harm to others until of course some strong evidence can be produced and even then they will probably deny they have caused it.
[1]http://www.britishgasnews.co.uk/index.asp?NewsID=713&PageID=16&Year=2007
This is the reference:
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