segunda-feira, setembro 24, 2007

A propósito...

Muitos bits têm corrido neste blog acerca da ciência e da fé. Discutimos semântica, religião, crença e crendices. Até a Santíssima Trindade, se bem que não tão a sério como alguns queriam (mas mais a sério do que o assunto merece). Mas não há nada como um bom exemplo para aclarar ideias. Na passada sexta-feira, a empresa farmacêutica Merck interrompeu os testes clínicos de uma vacina contra o HIV porque os resultados indicam que a vacina não funciona.

É isto que separa a ciência do resto. Pode-se baralhar o assunto à vontade, mas ao contrário das religiões, crenças, fés, bruxarias, alternativas e afins, em ciência o que não funciona deita-se fora. Imaginem o que seria da astrologia se lhe aplicassem o mesmo critério. Ou da religião, quando admitissem que não é por pedir que os deuses abençoem um casamento que este dura mais tempo.

A notícia no San Francisco Chronicle está aqui. Via Skeptico.

24 comentários:

  1. Acho que o assunto morreu por aqui :)

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  2. Alguma religião por estas bandas tem a pretenssão de "...pedir que os deuses abençoem um casamento [para] que este dura mais tempo."?

    Isto é sem sentido para a religião (e talvez possa até colocar sob o guarda-chuva de várias "religiões"). É misturar domínios. É fugir do NOMA defendido no seu último post.

    É misturar domínios porque o conceito de "deus" tem seu domínio de aplicações mas a duração de um casamento é do domínio dos vínculos sociais que os pombinhos consigam estabelecer e, principalmente, manter.

    É quase como querer usar a religião para explicar a ciência ou vice-versa. :)

    Se religiosos se embananam (ou dão a entender que se embananam) em questões tão micro e tão básicas, não me surpreendo das suas recorrentes críticas a questões mais macro (como o usar a religião para explicar a ciência, por exemplo).

    No cristianismo em especial, para justificar uma postura dessas, seria preciso uma manobra teológica tremendamente fora dos princípios bíblicos (praticamente todos sobre casamento teriam que ser quebrados). Fazer isso, é pegar a bíblia e os princípios cristãos e jogar fora.

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  3. «É misturar domínios. É fugir do NOMA defendido no seu último post.»

    Acho que o Tiago não entendeu o último post.
    Não era para defender o NOMA, mas sim para mostrar claramente que ele não é possível. Os domínios misturam-se mesmo, e por isso é que a fé e a ciência não são compatíveis.
    Não leve a mal, mas aconselho-o a reler esse texto.

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  4. «No cristianismo em especial, para justificar uma postura dessas, seria preciso uma manobra teológica tremendamente fora dos princípios bíblicos»

    É na própria Bíblia que está escrito que os casamentos abençoados por Deus são ligações mais difíceis de quebrar. (Eclesiastes 4:12, entre outras..)

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  5. Haja bom senso e pragmatismo :)

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  6. tiago
    a religião não explica a ciência, ok, mas a ciência explica a religião.Existem vários estudos sobre o assunto: como o nosso cérebro funciona e porquê a necessidade de "acreditar".
    Outro comentário: o facto e darmos nomes a coisas não significa que essas coisas são reais. Por ex. fadas, gnomos, deuses e NOMA.
    Karin

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  7. Já que se falou da santa trindade, acrescento que a única coisa que prova é que a religião cristã não é na realidade tão monoteísta como alega.
    Karin

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  8. A religião, para falar a verdade, não só não explica a ciência, como tenta impedir a ciência.
    Estranho que agora se tentem imiscuir no assunto, e tentem projectar na religião, aquilo que é exclusivo da ciência. :-)
    Agora querem explicar a matéria negra, querem ser mais criticos que a própria ciência, em coisas que até há pouco tempo davam fogueira a quem as defendesse.
    É giro vêr...

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  9. Ludi,
    se a religião fosse apenas uma mundividência, há muito que teria desaparecido. Pela simples razão de ser refutada continuamente pelos factos, e por não servir para prever fenómenos ou para sistematizar a produção de tecnologia.
    A religião não sobreviveu até à actualidade por ser uma mundividência individual. Sobreviveu por ser imposta por instituições e grupos sociais. Se não compreendermos o aspecto colectivo da religião (os laços sociais que cria, a as vantagens que isso traz, por exemplo), não compreenderemos o porquê da sua persistência, apesar de ter tantos erros óbvios.

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  10. Sobre a persistência da religião, sugiro a leitura de Dawkins ou Daniel Dennet sobre memética.

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  11. Escrevi sobre esse assunto nos últimos comentários do artigo anterior.

    Não só é de esperar que exista religião, como é de esperar que esta promova nos seus crentes comportamentos que aumentem a natalidade, que diminuam o espírito crítico, que fevoreçam a submissão, que promovam a intolerância face a outros memes "ameaçadores" (outras religiões ou pontos de vista que coloquem a religião em causa).

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  12. João Vasco, claro que seria de esperar que a religião promova memes anti-outras religiões, como seria de esperar que a ciência promova memes anti-religião, ou "anti-treta". Como é de esperar que as bacterias promovam genes anti-leucocitos ou que a os leucocitos promovam genes anti-bacterias (entenda-se por bactérias algo nocivo e externo ao corpo humano, e não no seu sentido mais lato)

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  13. João Vasco,

    Nos meus comentários sobre o NOMA expus que acredito sim na divisão de domínios. O Ludiwg é da opinião contrária.

    Eclesiastes não cita nenhum ritual para "trazer" a bencão de Deus para um casamento. Cita sim um "cordão de três dobras" um relacionamento entre homem, mulher e Deus. Somente isso e nada mais.

    Sua leitura viciada e preconceituosa faz com que não veja o valor do trecho em questão.

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  14. Tiago,

    Para que fique claro, por favor esclareça:

    Deus supostamente abençoa o matrimónio ou não?

    A benção de Deus tem algum efeito ou é um mero placebo?

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  15. Bem, lá vai uma colherada. eu nãqo queria mas...

    As religiões, a determinada altura, tiveram de enfrentar o problema da degradação da mulher - os homens usavam as mulheres enquanto novas e depois lixo com elas.

    Umas enveredaram pelo monoteismo - queres sexo? então tens de cuidar da mulher que escolheste até ao fim da tua vida, não a podes deitar para o lixo qd te apetecer.

    Outras pela poligamia - podes arranjar mais mulheres mas não podes desprezar a anterior.

    As Religiões têm como objectivo a sociedade humana. As religiões são criações do Homem. Antigamente não existia Constituição, nem tribunais , nem policias. A organização social teve de ser conseguida usando a Religião. De que outra maneira poderia ser?

    Têm uma sugestão melhor para evitar que os homens abusassem das mulheres naqueles tempos do que as inventadas pelas religiões? Ou melhor, inventadas pelos homens que tinham de gerir as sociedades humanas e recorreram À autoridade divina (que outra?) para impor a ordem?

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  16. "Têm uma sugestão melhor para evitar que os homens abusassem das mulheres naqueles tempos do que as inventadas pelas religiões?"

    uma data delas, mas não é essa a questão. A questão é que hoje temos a Constituição e a Igualdade de Direitos (embora teórica, mas é um progresso) e não se vislumbra para o que serve a religião, a não ser para o padre viver na borga?
    Cristy

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  17. Posso dar várias colheradas na bondade pro femininista da religião, mas, assim como assim, a primeira que me lembro é que considera o homem como despejando a mulher velha depois de usada, mas, é estranho que a viuva não tivesse direito a mais nada a não ser a solidão, e o homem podia passar à seguinte. Mas, isto sou eu que tenho outros olhos.
    Outra questão sobre o homem "deixar" a mulher, é que a mulher não podia "deixar" o homem, e tinha de ser submissa. A avaliar pelo facto de uma mulher poder ser morta por trair o marido e o marido podia andar com as que quisesse que até era melhor visto por isso mesmo.
    Acho que sim, que era a mulher que se estava a proteger... NÃO!!! :-)
    Tudo o que foi dito pelo Alf mostra a visão machista da religião, com a agravante de achar que isso era bom para a mulher. Tudo isto era portanto um suponhamos, com alguma base cientifica?

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  18. Não nos devemos esquecer que João Paulo II deatificou uma senhora por esta não ter abandonado o marido, mesmo apesar da violência doméstica de que era vítima...

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  19. António

    Esse último comentário faz imenso sentido... em Marte! Onde não há humanos. Neste planeta não estou a ver onde (ou em que religião) é que isso se aplica! Pode ser alguma estranha que eu não conheça, mas não estou a ver qual é. Só se for (a)moral do Antigo Regime.

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  20. Cristy

    Essa de os padres viverem na borga pode ser por não teres conhecido alguns extraordinários e com uma capacidade de entrega total. Olha que são muitos (assim como ateus ou de outras religiões, claro!). Há os trastes, como em qualquer lado, e acho que a igreja não filtra o suficiente e ainda tem má fama (e infelizmente proveito) de proteger pedófilos, só por serem padres. Ora isto não está certo!

    A religião não é "precisa" para a ética e ela tem que vir do respeito pelo ser humano. Ver cada homem como um irmão não deveria ser (e não é) exclusivo da religião. É o que eu já chamei de ética cristã: é a mesma coisa, menos a parte do Deus.

    Mas descartá-la como uma fralda de plástico usada... podes explicar-me qual é a utilidade disso? E a necessidade? Agora pergunto eu! E os erros do passado não são desculpa: o passado tem sempre qualquer coisa que se lhe diga! Tanto o de uma instituição (e ainda por cima com tanto poder) como o de uma pessoa.

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  21. Que giro! A Abobrinha está a tornar-se uma crente radical. Daquelas com quem não se consegue discutir os assuntos. :-)

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  22. Mas, Abobrinha, se me dizes que
    "A religião não é "precisa" para a ética e ela tem que vir do respeito pelo ser humano (já agora, a ética ou a religião?). Ver cada homem como um irmão não deveria ser (e não é) exclusivo da religião. É o que eu já chamei de ética cristã: é a mesma coisa, menos a parte do Deus.", não respondeste já à pergunta que me colocas?
    Quanto à piada aos padres, era só isso, piada. Devia ter-lhe posto um :-) Porque se todos os males das igrejas fossem os seus agentes viver na borga, estaríamos todos muito bem.
    Cristy

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  23. António

    Eu não sou crente radical, mas como puseste esse smiley entendi que estavas a gozar comigo e a indicar que posso estar a exagerar. O que pode bem ser o caso: eu gosto de ser do contra (estás convidado para uma reunião do meu condomínio para fazer medições rigorosas de quanto sou do contra).

    Suponho que tecnicamente poderei ser mais para o agnóstica, mas não é coisa que me apoquente o espírito por aí além. Só digo porque tenho dúvidas e não consigo aceitar certas coisas, incluindo alguns dogmas (e alguns bem sérios).

    Contudo o facto de a maior parte dos comentários serem tão assanhadamente (radicalmente?) anti-religiosos despertou em mim o instinto protector que tenho por algo que fez e faz parte da minha vida. E não creio que os ateus tenham sido 100% racionais, mas emocionais demais. Alguns até com discurso de cruzados, de puros. Ora eu não acho piada a cruzados, guerras "santas" nem puros. Os puros, sobretudo, regra geral assustam-me e/ou aborrecem-me.

    Dito isto, pode dar-se o caso de não passar a linguagem corporal para a escrita, o que faz com que os meus pontos de exclamação sejam entendidos como berros indignados. Aí é defeito meu e/ou de quem lê. Mas não é grave: gosto da troca de impressões. Nem que não concorde, mas eu também não tenho a ilusão de ter sempre razão... eu SEI que tenho sempre razão ;-) Afinal, sou uma gaja!

    Peço desculpa é por não ter lido todos os comentários e por ter lido alguns na diagonal. Não abona em meu favor, tentei ser justa e objectiva nas críticas, mas estou toda moída de corpo e mente: faxina pura, dura e intensiva, cansaço e um pouco de estado de espírito de loura à mistura.

    Digo eu que para a semana estarei em melhor forma... espero que não sejam famosas últimas palavras!

    Voltando ao início, espero não ser levada como radical de absolutamente nada! Porque a realidade é que sou radical no amor que tenho aos meus sobrinhos e ao resto da minha família. Aí podes-me chamar fanática à vontade, que eu não me importo!

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  24. Cristy

    A religião não se resume à ética. MAs não sei se estou em forma para discutir isso de novo. Ainda estou a dever uma leitura ao blogue do Joaquim Simões a esse respeito, mas tenho andado "all over the place" e um bocado loura (o episódio de hoje foi tentar pôr o carro a trabalhar sem chave... tenho que trocar de carro para um que ande com a força do pensamento... o problema é se não tenho força!).

    Mesmo porque alguém falou (suponho que terás sido tu) em ética para com os animais, que o cristianismo, o islão e o judaísmo não cobrem mas que estão contemplados no budismo (que eu vejo como uma filosofia de vida e não como uma religião, mas isso é outra história). É uma das razões por que sou vegetariana! Mas tenho mau feitio, como vegetarianos de vários quadrantes do mundo (do Hitler aos hipopótamos, elefantes e rinocerontes).

    Suponho que o Ludwig possa querer pegar nesse assunto (eu ainda tenho que matar vários assuntos de cariz badalhoco no meu, agora que está esclarecida a questão das barbatanas nos peixes e mamíferos marinhos).

    A parte do sentir Deus é a que implica a "necessidade" da religião. E isso não é necessariamente 100% lógico ou racional. Como quase tudo na vida, aliás. Mas quase tudo não é tudo, e de facto pensar nas coisas regra geral faz bem. Mais que não seja para manter a cabeça ocupada! E evitar episódios de "lourice".

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