domingo, novembro 20, 2011

Treta da semana: a cultura.

Uma reportagem na Sábado da semana passada mostra um «teste de cultura geral» concebido por jornalistas da revista. Aplicaram o teste a «a 100 alunos de universidades de Lisboa», seleccionaram as maiores argoladas, e o resultado foi um vídeo que tem dado que falar(1).

Alguns apontam-no como evidência de que «uma parte considerável dos estudantes inquiridos não tem conhecimentos básicos. Por exemplo, 44% dos estudantes não soube dizer quem pintou o tecto da Capela Sistina, 24% não sabe quem é a chanceler da Alemanha...»(2) Um problema deste “não sabe” é a distância entre não terem mesmo conhecimento e não lhes ocorrer a resposta certa, imediatamente, com a câmara e o microfone apontados. Além disso, «Na totalidade dos 100 entrevistados, apenas cinco conseguiram acertar em todas»(2). Isto seria o valor esperado se cada um, em média, acertasse 85% das perguntas. Nem é assim tão mau. Em 100 alunos há certamente alguns cromos e, admito, é triste que tantos vivam desligados da política. Mas, dadas as condições deste “teste de cultura geral”, não são as respostas o que mais me preocupa.

A qualidade da peça é um pouco mais preocupante. Uma das perguntas era sobre o “símbolo” químico da água. Se bem que não concorde que se rotule alguém de ignorante só por não saber que os símbolos químicos representam elementos, e que a água tem uma fórmula química, parece-me que mesmo uma peça destas teria merecido uma consulta rápida da Wikipedia para confirmar se as perguntas estavam bem. Mas o pior é a noção de cultura, ignorância e “conhecimentos básicos” partilhada por jornalistas, entrevistados e boa parte da audiência. Isso sim, é preocupante.

Quando eu tinha uns dez anos, o meu avô contou-me como a escola no tempo dele era muito mais exigente. Na segunda classe já sabia de cor todos os rios de Portugal, e todas as linhas férreas. Com a falta de diplomacia característica da idade, perguntei-lhe para que é que isso servia. A ideia de cultura e “conhecimentos básicos”, subjacente à peça e a quem se indignou com a ignorância dos jovens, segue a mesma linha. As vinte perguntas focam dados triviais, inúteis e que qualquer um encontra no Google em segundos. É tão fácil encontrar esta informação que, mesmo sabendo quem pintou o tecto da Capela Sistina, se alguma vez eu precisasse de o referir iria confirmar na Wikipedia primeiro, não fosse a memória pregar-me uma partida. E, quando digo que estes factos são inúteis, não me refiro a uma eventual utilidade prática. Para mim, o conhecimento tem valor intrínseco, e não apenas instrumental. Mas para ser conhecimento a sério os dados têm de encaixar. O conhecimento explica e esclarece. Não papagueia.

No contexto da química ou da história da arte, a fórmula da água e o Michelangelo são peças importantes do puzzle. Mas como informação avulsa, como “cultura geral”, não são grande coisa. O que esta peça revela, e as reacções a ela, é que se dá muito pouco valor à compreensão e à capacidade de explicar. O que importa é saber os nomes dos rios todos. Antigamente, isto até se compreendia. Quando a informação era escassa, saber estas coisas impressionava e indicava pertença à elite dos que sabiam ler e tinham acesso a livros. Mas hoje chove-nos informação em cima, constantemente, e ser culto já não devia ser só ter nomes e datas na ponta da língua.

Para testar a cultura geral e conhecimentos básicos devia-se pedir explicações em vez de factos decorados. Por exemplo, porque é que os planetas são redondos, o que é a inflação, porque é que o suor refresca a pele, porque é que Portugal não participou na segunda guerra mundial, porque é que a água sobe se chupamos a palhinha e se há uma altura máxima à qual pode subir. Saber encaixar a informação e compreender a realidade é muito mais importante do que ganhar queijinhos no Trivial Pursuit. Excepto, é claro, se for para jogar Trivial Pursuit.

1- Sábado, Vox Pop: A ignorância dos nossos universitários (vídeo)
2- Nuno Gouveia, A ignorância universitária

22 comentários:

  1. Precisamente. É irritante verificar vezes sem conta a valorização social da acumulação de factos enciclopédicos arbitrários. É paternalista, moralista e perigoso. Pior é a frustração recorrente que é ver a irresponsabilidade dos media na perpetuação destas falácias. Os media fazem opinião; mais, criam sentimentos generalizados de "verdade" sobre determinados assuntos, e, com o poder imenso que têm e a impunidade com que o executam, deviam, no mínimo, ponderar duas vezes sempre que fazem uma reportagem.

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  2. periodicamente surge uma geração rasca, curiosamente, revela-se sempre melhor do que a anterior

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  3. Treta: Se é certo, certíssimo, que a “cultura geral” de tipo Trivial Presuit não dá necessariamente capacidade de compreeder e de explicar, igualmente certo é que a falta de conhecimentos (“avulsos”) impossiblita liminarmente a dita capacidade de compreeder e de explicar.

    Desancou-se este assunto nos idos da P.G.A. (esse grande barrete, mas enfim…), mas nunca é demais. Gente burra, muitos alcandorados em tachos, guincham por qualquer muleta que os livre de ocupar os neurónios com algo que não seja futebol ou novelas — ontem contra o “elitismo burguês”, hoje pela “inteligência emocional”, amanhã o quê?

    Treta também: O meu avô dizia o mesmo, mas sei hoje que poucos alunos jamais retiveram todo o conteúdo do livrinho de “Geografia Pátria”, menos ainda foram capazes de o recordar para além do exame da 4.ª classe, e, para cúmulo, o dito livrinho estava eivado de erros que qualquer enciclopédia ou documento técnico da C.P. da época desmonta. (A minha prof. da 3.ª classe, em 1978 e já entradota, enganou-nos a todos ao confundir o Mira com o Sado… Treta, treta!!)

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  4. Zarolho,

    Os factos não contribuem todos da mesma forma para a compreensão. Saber que a matéria é composta por átomos é fundamental para compreender muito mais coisas do que saber quantos cabelos tinha D. Afonso Henriques quando morreu. O meu ponto não é que o conhecimento não seja necessário. O meu ponto é que aquilo a que chamam cultura está terrivelmente enviesado para as coisas menos úteis para se perceber o que quer que seja. Por exemplo, saber como se resolve equações diferenciais, ter uma noção básica de estatística ou fazer ideia de como distinguir entre causalidade e correlação são muito mais importantes do que saber o nome do tipo que pintou o tecto da igreja não sei das quantas. Mas é socialmente aceitável que uma pessoa culta afirme, até com algum orgulho, que isso de equações diferenciais não é consigo, ao contrário do que se passa se decorar os nomes dos autores dos livros que lê.

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  5. Cappella Sistina...tem dois pp é italiana se fosse a Capela dos ossos

    1ºcamarada na krippahlidade - não é por não saber que um tal de Mendelev fez uma coisequa que destronou os 4 elementos fundamentais da Alquimia que alguém é ignorante
    1/4 dos meus avós e 3/8 dos meus bisavós não sabiam ler e nenhum era ignorante ou inculto (a única bisavó que conheci sabia centos de contos e lendas de cor e salteado e dos restantes analfabrutos um foi político na monarquia (e tirando esse sacana semi-ignorante) os restantes prantaram arvoredo e relojoaria solar quinda anda por cá hoje)

    O que é ignorante nisto é um sistema cultural e de ensino que pretende dar um conhecimento do universo 8a nível atómico e não só) para todos até ao 9º ano (a partir dai pode-se apostar mais nas Cappelas ou nos capetos mathematicos) que não saibam quem é que Merckla na Eurropa tamém nã é importante

    A Merckle nã aparece no Formspring nem tem quinta no Facebook
    nem twitta mensages semi-porno nem faz vídeos encima dum skate

    Há uns anos alguém disse numa conferência sobre democratizar a ciência
    (um conceito um pouco absurdo mas vá lá) que se no século XXI a Eurropa (ou Portugal)sofresse um colapso económico, a maioria dos eurropeus abaixo dos 50 anos (hoje seria 60 e tal) não saberia o básico da sobrevivência (inclusive recuperar de uma gripe ou pneumonia sem visitas a uma farmacologia Antibiota-rhesustenente depenar uma galinha ou plantar uma batata ou apanhar sementes de rabanetes ou de batateiras)

    Logo ó suma...theoilógica

    Polo ilom é o fecho de correr que a mamã usa a mamã e as outras senhoras
    Saber se Sisto restaurou a capela magna e uma das tartarugas ninja pintou o tecto é um conjunto cultural tão válido como conhecer os hit do Tokio Hotel o nome de todos os Pókemons ou Digimons

    saber todos os episódios do Naruto ou do Full Metal Alchemist
    e nã saber que na ofensiva ofenciva brutal... a greve é geral
    (mas satôr o mê pai nã pode fazer greve que tá na Mauritânia a pescar
    comé qué geral ...bocês é que fazem greves dizem qué geral e ódespois obrigam-nos a levantar às 7 da manhê pra apanhari chuva)

    Isto é que é Ingnorância no dia 14 comé que sabe que bai chover a 24?
    falta de kultur destes putes y bitch's né krippahl

    Olha lá se krippahl tem 2 pp puque é ca capella só tem um?

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  6. Por exemplo, porque é que os planetas são redondos...são?

    e a força centrífuga faz o quê?

    o que é a inflação...(e principalmente o que significa a inflação para quem não tenha empréstimos a juros fixos)

    porque é que o suor refresca a pele,(há suor frio quente e (refresca é subjectivo ...tal como quente e frio ...ponho krippahl a cortar cablagem num túnel suiço e krippahl diz que tá quente ponho o krippahl no desemprego e fora do túnel e ele diz que tá frio

    porque é que Portugal não participou na segunda guerra mundial...acho que o Hitler nã tava prá i virado era megalomaníaco nem foi à suécia por causa dos ferrinhos de kiruna
    nem à suiça ou a gibraltar...em suma fez muita parboíce

    porque é que a água sobe se chupamos a palhinha....bom ê cá nã usava isso numa aula (mas tamém sei lá ...
    e se há uma altura máxima à qual pode subir.....capilaridade?
    olha prás sequóias...a iágua chega lá acima né...

    olha u poço di pitroil a 3 ou 4 kilometradas depende da palhinha e do fôlego do palhinheiro...capilar-tótó...

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  7. Zarolho disse...

    A minha prof. da 3.ª classe, em 1978 (9 menos 78 dá 69....deve ser por isso qué zarolho) e já entradota, enganou-nos a todos ao confundir o Mira com o Sado….....

    esgraçada...a colonizar o Mira com o Sado a tua prof. nã era entradota adevia era ser Tataravó de Australopitheca (e Terciária em natura
    Pois como adezia quadrado Bacias que num são endorreicas do Tejo e Sado (e mira associado)lá por serem 3 bacias hidrográficas distintas não o foram sempre

    só quem é rei em terra de cegos é que nunca sesgana

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  8. Consegui ler três comentários do Roeth sem sofrer uma embolia cerebral que fosse!

    Acho eu...

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  9. Confesso que quando li na revista Sábado a reportagem sobre o tal questionário fiquei impressionado com a ignorância dos nossos jovens, tanto mais grave tendo em conta que eram, pelo menos na sua maioria, estudantes do ensino superior. No entanto, ao ler o postal de Ludwig Krippahl, reconheço que não era tão impressionante quanto me tinha parecido. Concordo, principalmente, com a distinção entre conhecimento útil e "cultura geral". Confesso ainda que, sendo eu químico encartado, não dei pelo disparate de perguntar o símbolo da água, mas, enfim, foi por ler o artigo à pressa.
    Já agora não resisto a contar que decido perguntar ao meu neto de 8 anos se sabia qual era o maior animal da Terra, ele respondeu "O elefante", mas quando eu expliquei que me referia ao planeta Terra e portanto não só a animais terrestres, ele respondeu prontamente "A baleia". Claro que não lhe fiz as outras perguntas, escolhi a que devia corresponder ao seu conhecimento provável.

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  10. Eu sei que quando chegou a pergunta sobre o Padrinho, eu daria precisamente a mesma resposta que um dos protagonistas do vídeo: «sei, mas neste momento não me lembro». Era o Marlon Brando, sabia perfeitamente, mas na altura que vi o vídeo o nome estava a escapar-me. Se isso me tivesse acontecido com as câmaras à frente, os meus 15 minutos de fama haveriam de ser muito frustrantes...

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  11. Jota, para 100.000 euros!

    Qual o nome do cidadão português, cujo inglês não é assim muito bom, neste momento em Paris a estudar engenharia filosófica?

    30 segundos a partir de agora.

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  12. A in gnorançia unibersitária num vai a greve...

    logo num é tã in gnu rant

    quisto fazer ponte com greves

    já que pontes com feriados sã mais difíceis em 2012

    é de génio

    diria mêmo mais é de krippahl

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  13. Krippmeister disse...

    Consegui ler três comentários do Roeth sem sofrer uma embolia cerebral que fosse!

    Acho eu...
    qui saudades sua embolia permanente...

    qui ninguém tem in sultus de jêto...tá tudo em greve permanente

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  14. Pelo contrário, estava até a ser simpático. Na verdade não consegui ler os três comentários.

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  15. Este comentário foi removido pelo autor.

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  16. Cara Roethia Secunda Roetia Prima. Saber escrever é uma virtude. Saber ler o que foi escrito, é uma virtude ainda maior. Saber dar uma "chapada de luva branca" é uma virtude ainda maior, e não saber fazer isso torna-se mesmo num defeito. E mais não digo. Ou melhor, digo, porque o caríssimo Ludwig Krippahl acabou de lhe dar uma.

    "Consegui ler três comentários do Roeth sem sofrer uma embolia cerebral que fosse!

    Acho eu..."
    Não queria bater mais no ceguinho mas adorei o comentário.

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  17. Samuel,

    Não é muito importante, mas o Krippmeister não sou eu (é meu irmão, pelo que também não te enganaste por muito :)

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  18. Nome de Deus não sou eu mas é como se fosse é um animal da minha criação e com potencial partilha de 50% do fundo genético familiar

    A calvície deve-se a aquecimento prematuro da caixa de parafusos

    Obviamente
    não conseguiam ler isto:

    pra ano gtava de dar algu e q xama-se o intrresse aos al

    como Por exempl:
    doenças raras
    violença
    artistas portugueses imptantes
    temas interressantes
    sei lá até

    Se este perder o cabelo vai dar um Krip se ficar com ele fica um Samuel
    (tou brincando esta gaija aos 17 anos tem mais mioleira cós dois

    Eu até consigo ler o Krippahl....

    Ou vocês são muito estúpidos

    Ou eu sou um génio.

    Nah ...não sou nada um génio.....

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  19. Saber escrever implica capacidades de raciocínio muito baixinhas e não é uma virtude theologica...oh שְׁמוּאֵל filho de el cana

    último dos juízes corruptos e primeiro dos profetas destrambelhados
    percebido oh ....?
    não?
    também me parecia

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  20. "Samuel,

    Não é muito importante, mas o Krippmeister não sou eu (é meu irmão, pelo que também não te enganaste por muito :)"
    Peço desculpa. Já não me lembrava.

    "Saber escrever implica capacidades de raciocínio muito baixinhas e não é uma virtude theologica...oh שְׁמוּאֵל filho de el cana

    último dos juízes corruptos e primeiro dos profetas destrambelhados
    percebido oh ....?
    não?
    também me parecia"
    Ninguém falou em virtudes "theologicas", ou lá o que isso é. Mas baixinho, baixinho, é mesmo deixar comentários no meu blogue, tipo:

    "Samuel Lourenço disse...
    Esta mensagem foi removida pelo autor.

    esta foi a melhor que escreveste

    é tudo pessoal da nova né....
    há falta de pessoal para assinalar o nome dos bolseiros?"

    "va fi vizibil she muel după"

    Isto porque se deseja resposta, há que escrever no blogue correcto. Não há que ser zarolho...

    E agora vou à pharmácia receptar uns genéricus de pharacetamol para a minha chabeça.

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  21. Tens razão gogol, peço desculpa. Quem sou eu para ter a pretensão de gozar contigo quando tu já o fazes de forma tão sublime sozinho?

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  22. "Tens razão gogol, peço desculpa. Quem sou eu para ter a pretensão de gozar contigo quando tu já o fazes de forma tão sublime sozinho?"
    Bem dito!

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