Treta da semana: a Cultura Racional.
«A Cultura Racional é a cultura do desenvolvimento do raciocínio. A cultura natural da Natureza . É o conhecimento da origem do ser humano. De onde ele veio, como veio, porque veio e o retorno a sua origem, mostrando como o homem voltará ao seu estado natural de ser Racional puro, limpo e perfeito. Tudo isto através das mensagens do RACIONAL SUPERIOR, um ser extraterreno, publicadas nos Livros "UNIVERSO EM DESENCANTO".»(1) No site, a imagem com os pingos de água e a explicação em maiúsculas dão também uma boa ideia do que trata a Cultura Racional.
Há vários aspectos interessantes nisto, além do efeito soporífero das palestras do fundador do movimento, Manuel Jacinto Coelho, ideais para quem sofra de insónias.
Manuel Jacinto Coelho nasceu em 1903 e faleceu em 1991(2). No entanto, segundo testemunham os seus seguidores, quem alcança a Imunização Racional «continua a viver normalmente neste mundo físico, porém deixa de estar subordinado a ele e às vicissitudes da vida orgânica.»(3) Ou seja, pela Cultura Racional, seguindo os ensinamentos daquele que nos foi enviado pelo Racional Superior, podemos ter a esperança de vencer a morte tal como ele a venceu. Não a morte física, deste plano material, mas a morte num sentido metafísico e transcendente.
A Cultura Racional tem também um vasto corpo de conhecimento. A série Universo em Desencanto tem 1000 volumes, «3 livros do Obra Inicial […] 21 livros da Obra Básica […] 21 livros da Réplica […] 21 livros da Tréplica [e] 934 livros do Histórico ou Fascículos»(4). E todo este conhecimento foi revelado ao Manuel pelo Racional Superior, que habita no Mundo Racional, por meio da Energia Racional. Não se trata de teorias falíveis criadas por seres humanos limitados ao mundo empírico.
Finalmente, a ciência natural não pode provar que isto seja falso. Não há, nem pode haver, qualquer descoberta científica que refute as alegações do Manuel Jacinto Coelho ou o testemunho dos seus seguidores.
No entanto, apesar do testemunho de esperança de que podemos vencer a morte, do vasto corpo de conhecimento que alega ter, da sua fonte alegadamente infalível e transcendente, da impossibilidade de se refutar a doutrina da Cultura Racional e de estar até na Wikipedia, parece-me que a maioria das pessoas que ler este post vai concluir que isto é uma treta. E com razão. Nem é preciso acreditar, ler os 1000 livros que o Manuel escreveu, estudar aprofundadamente esta doutrina ou procurar provas materiais que a refutem.
O cepticismo justifica-se porque inventar tretas acerca do transcendente, do significado profundo, do destino último de tudo e do que acontece depois da morte não só é trivial como sempre foi um passatempo popular. Da história antiga à Internet, nunca faltaram tretas. Por isso, o mais sensato não é dar crédito a uma tese só porque parece atraente, ou sequer dar-lhe o benefício do agnosticismo só porque não se pode provar o contrário. Cada alegação é apenas mais uma num mar imenso de disparates, pelo que só se justifica considerar como minimamente plausíveis aquelas, poucas, que se destacam das restantes por algum fundamento objectivo. Não quando um diz que sim, outro acredita ou vem num livro, mas apenas se as forçam até o cepticismo a admitir que essa hipótese possa ser menos treta do que as outras. É esse crivo que leva a maioria a rejeitar doutrinas como a da Cultura Racional. É um bom primeiro passo. Falta agora dar o passo seguinte e perceber que o crivo não serve apenas para as crenças dos outros.
1- www.mundoracional.com.br. Obrigado pelo email com esta revelação.
2- Wikipedia, Manuel Jacinto Coelho
3- Wikipedia, Imunização Racional
4- Wikipedia, Universo em Desencanto
Ludwig, dizes:
ResponderEliminar"Falta agora dar o passo seguinte e perceber que o crivo não serve apenas para as crenças dos outros."
E depois?
O teu sistema de crenças assenta na absolutização da percepção dos mecanismos causa-efeito e que tal sistema de crenças assenta a sua validade em dois axiomas indemonstráveis:
1) de que o sentido da existência humana é descrever os fenómenos observáveis, e
2) de que o sentido da existência humana é a intervenção nesses fenómenos tendo como fim último a sobrevivência do individuo, do grupo ou da espécie.
De que te serve alguém constatar isto?
Nada.
É exactamente o tipo de constatação que tu fazes julgando que apenas se aplica às crenças dos outros.
Sofrologista,
ResponderEliminar«O teu sistema de crenças assenta na absolutização da percepção dos mecanismos causa-efeito»
Isso é falso. Mesmo para as crenças que formo com intenção de descrever a realidade, a relação causa-efeito é uma hipótese, não um fundamento. Até aceito como plausível a hipótese da maioria dos acontecimentos a nível sub-atómico não terem causa. E há muitas crenças que formo que não têm intenção de descrever a realidade. Por exemplo, que a liberdade individual é um valor ético importante. Isso não tem nada que ver com causa-efeito.
«assenta a sua validade em dois axiomas indemonstráveis:
1) de que o sentido da existência humana é descrever os fenómenos observáveis, e
2) de que o sentido da existência humana é a intervenção nesses fenómenos tendo como fim último a sobrevivência do individuo, do grupo ou da espécie.»
E isto é um disparate. O que estou a dizer aqui não tem nada que ver com o sentido da existência humana. Ao contrário da maioria dos religiosos, eu defendo que o sentido de cada existência humana não é dado por um livro ou pelos padres, mas tem de ser criado pelo indivíduo que vive essa existência.
O que defendo é que usar o cepticismo na avaliação de alegações que pretendem descrever algum aspecto da realidade é a forma mais fiável de ir seleccionando tendencialmente as descrições mais correctas. Se queres escolher descrições da realidade com base noutros critérios fica à vontade, mas o mais provável é que acabes por viver enganado.
Ludwig
ResponderEliminarDizes que o sentido da existência humana é dado por cada um, o que significa que para o individuo A o sentido da existência humana pode ser pintar, para o individuo B pode ser amar, para o individuo C pode ser matar, para o individuo D pode ser passear, para o individuo E pode ser torturar, para o individuo F pode ser cantar o fado, etc. etc. Mas isso não é o sentido da existência humana mas simplesmente uma constatação de que as pessoas devem fazer aquilo que lhes apetece. Contudo, dizer que as pessoas devem fazer aquilo que lhes apetece nada diz sobre o sentido da sua existência. Quando muito diz que o sentido da existência é as pessoas fazerem aquilo que lhes apetecer. Mas fica por fundamentar este sentido da existência tal como fica por fundamentar porque razão a liberdade é um valor ético fundamental (e repara que até estou de acordo contigo embora isso não passasse de um simples capricho pessoal sem qualquer validade objectiva se não existisse um fundamento transcendental para esse valor).
Leia o livro Universo em Desencanto.
Eliminarwww.culturaracional.info
Que confusão tremenda.
ResponderEliminarUma coisa é moralidade das diferentes acções, questão que deve ser discutida pela ética.
Outra coisa diferente é o «sentido da vida», que corresponde a uma escolha pessoal de cada indivíduo que queira dar sentido à sua vida.
Assim, se um indivíduo considerar que o sentido da sua vida é torturar matar e fazer sofrer, e colocar estas acções em prática, tanto é verdade que está a praticar acções moralmente erradas, como é verdade que isso não implica que não esteja a dar sentido à sua vida.
A ética não necessita de qualquer fundamento transcendental: a ética nasce da constatação de que seres conscientes vivem juntos, e têm toda a vantagem em encontrar formas de conciliar vontades diferentes (muitas vezes opostas) de forma a minimizar os efeitos nefastos daquilo que é inconciliável, promovendo assim a máxima satisfação das diferentes vontades que for possível.
A ética é o que permite «vencer» no «jogo do prisioneiro», o que é vantajoso para cada um dos participantes.
Não é preciso nada de transcendental: basta compreender a teoria dos jogos.
Imagine, caro João Vasco, um dilema do prisioneiro em que um dos prisioneiros é o polícia, isto é, pode arbitrariamernte decidir a pena do outro prisioneiro porque tem a força do seu lado e pode impôr pela força a sua vontade. Qual será o resultado?
ResponderEliminarPara que não fique de novo com a sensação de "confusão tremenda", explico-lhe por miudos. Existem situações em que se a força estiver do lado de um individuo ou de um grupo, ele pode impôr a sua "ética". Existiram e existem grupos, comunidades e sociedades que impõem a sua "ética" aos membros dominados dessa sociedade. Infelizmente nem sempre as sociedades e os grupos se regem pela cooperação pois são possíveis muitas situações em que é possível a um individuo ou a um grupo ter muitos mais beneficios com a dominação brutal do que com a cooperação. Sem um fundamento transcendental a ética será sempre o resultado das relações de força entre os individuos ou os grupos (em certos casos ela pode surgir sob a forma de cooperação mas também pode assumir aspectos bem hediondos - basta olhar para a história da humanidade).
sofrologista:
ResponderEliminarHá novamente aí uma confusão entre «ética» e «moralidade».
É verdade que quando um grupo tem força para impor a sua moralidade, ele tende a fazê-lo, mas isso é uma mera descrição da realidade.
Também acontece que aqueles que são oprimidos várias vezes lutam directa ou indirectamente contra quem os domina, e esse permanente conflito pode ser prejudicial para todos os envolvidos.
Mas a ética simplesmente põe todos os seres conscientes em pé de igualdade e estuda qual a moralidade que melhor concilia as diferentes vontades. É uma abstracção, mas não necessita de qualquer fundamento transcendental.
É uma ferramenta importante, e é fácil explicar naturalmente a nossa atracção por ela, bem como a tendência para vários comportamentos egoístas e imorais, ou altruístas e admiráveis.
João
ResponderEliminarSuponho que já tenhas lido Rawls. A sua principal obra "Teoria da Justiça" apresenta precisamente essa fragilidade: o véu da ignorância não dispõe de qualquer fundamento. Por mais sedutora que seja a sua teoria ela reflecte apenas a visão dele. Embora as nossas sociedades (e eu próprio) considerem que é uma teoria que reflecte adequadamente a Justiça, tal deve-se apenas à nossa história (permito-me dizer, cristã) comum . Em outras sociedades ela é absurda.
bom um tem um sistema de valores neo-darwinistas e uma amálgama variada
ResponderEliminarde outras juntas num ateísmo primarote
do outro lado um brasileiro com 88 anos já ganhador da corrida para o esquecimento...pois a passagem do tempo é uma realidade incontornável
até o grande krippahl tinha 37 anos quando eu adescobri isto e uns 100 kg mais coisa menos coisa ...agora está a dois passos de ser quarentão a não ser que os Maias do Eça tenham acertado e Portugal desapareça do éter em 2012
até lá vou fazendo uma rezas ó racional supremo e uns sacrifícios humenos a krippahl por vias das dúvidas
Em virtude das dificuldades que o nosso País atravessa resolveu a Companhia Profissional de Teatro Maria Paulos alterar as Condições de Deslocação da peça “DEIXEMOS O SEXO EM PAZ” para o ano lectivo de 2011/2012 – (INFORMAÇÕES - 962951567)
Exmos. Senhores,
Vimos por este meio informar V. Exas., que a COMPANHIA PROFISSIONAL DE TEATRO MARIA PAULOS estará em digressão durante o ano lectivo de 2011/2012 com a peça de teatro “DEIXEMOS O SEXO EM PAZ” de DARIO FO (Nobel da Literatura), dando assim continuidade a uma digressão com muito êxito e agrado geral.
É um espectáculo em tom de comédia, profundamente didáctico e perfeitamente integrável no PROGRAMA DE EDUCAÇÃO SEXUAL, que tem alcançado imenso êxito junto do público em geral e estudantil. É um divertidíssimo monólogo onde, a brincar, se trata muito a sério dos assuntos do sexo que ainda são tabu.
a cada um as suas crenças
«Embora as nossas sociedades (e eu próprio) considerem que é uma teoria que reflecte adequadamente a Justiça, tal deve-se apenas à nossa história (permito-me dizer, cristã) comum . Em outras sociedades ela é absurda. »
ResponderEliminarÉ como a Democracia: há povos (no espaço e no tempo) que adoptam melhor ou pior princípios democráticos no que diz respeito à distribuição de poder, e há povos que consideram tais princípios absurdos ou indesejáveis.
Mas isso não implica que os princípios democráticos sejam transcendentais.
São uma abstracção, e eu defendo que essa abstracção é um ideal desejável, dados os benefícios que pode trazer quando implementada o melhor possível.
Com a ética ocorre o mesmo. Pretende-se encontrar a forma de moralidade que traz mais benefícios a todos. Mesmo que muitos acreditem que não se justifica tal procura, isso não implica que seja necessário recorrer a qualquer forma de transcendentalidade para justificá-la.
João
ResponderEliminarQuase não me apetecia responder a esse ultimo comentario pois estamos quase inteiramente de acordo. É um pouco bizantinice da minha parte mas fixo-me no quase.
Dizer que é uma abstracção (e defenderes tal como eu que é um ideal desejável) não serve para aferir da sua validade.
O próprio Rawls se deu conta disso num dos seus últimos textos ("Justice as Fairness: A Restatement") mas saltou ligeiramente (ao contrario do que normalmente faz nas suas obras) sobre o assunto (penso eu que por duas razões: porque é um obstáculo lógico intransponível que, segunda razão, ainda por cima arriscava introduzir um elemento de atrito - as diversas religiões - num mecanismo que pretendia universal e consensual).
Ora justamente o que eu critico em Rawls é querer construir uma teoria da Justiça de "consenso" que, consequentemente, parece prescindir de um fundamento transcendental tal como as tuas abstracções. A validade da teoria da Justiça é-lhe dada apenas pelos actores do consenso. Do meu ponto de vista, ela apenas é válida não enquanto teoria "consensual" mas porque representa uma forma de tradução do mandamento do amor "em termos de mínimo denominador comum" nas relações entre as pessoas.
Por outras palavras, a razão pela qual a escravatura é condenável não é porque os seus actores (escravos e dono dos escravos) devam aceitar a teoria do véu da ignorância como sendo a melhor para os dois, mas porque existe um mandamento anterior (que tem que ser, de um ponto de vista logico, necessariamente trancendental) que estabelece a igual dignidade de todos os homens.
Quando digo necessariamente transcendental é porque o consenso nada diz sobre a validade intrinseca e universal do valor da dignidade humana. Nem o consenso nem qualquer elemento objectivo/fisico. A dignidade humana é um axioma. Enquanto axioma, a sua validade apenas se pode encontrar fora do sistema logico do qual esse axioma faz parte.
Sofrologista,
ResponderEliminar«Mas isso não é o sentido da existência humana mas simplesmente uma constatação de que as pessoas devem fazer aquilo que lhes apetece.»
Não. Quando digo que o sentido da existência humana é dado por cada um estou simplesmente a dizer que o sentido da existência de uma pessoa não pode ser algo que lhe é dado por outra pessoa, um livro, seja o que for. Ou seja, não é algo que se descobre “lá fora”, mas algo que se tem de inventar “cá dentro”.
Isto não implica que a pessoa deva fazer o que lhe apetece. É um pouco como a noção de vontade livre. Se alguém pedir “Digam-me o que devo fazer para agir com vontade livre” é porque não percebeu o significado de “vontade livre”. Analogamente, se alguém pedir “digam-me qual é o sentido da minha vida” é porque não percebeu o significado disso.
Mas dizer que alguém tem vontade livre não é defender que essa pessoa deva fazer o que lhe apetece. Analogamente, dizer que cada um tem de procurar o sentido da sua vida também não implica que cada um deva fazer o que lhe apetece.
Posto ainda de outra maneira, quem achas que é a pessoa mais indicada para encontrar o sentido da minha vida: tu, ou eu?
Sofrologista,
ResponderEliminar«Suponho que já tenhas lido Rawls. A sua principal obra "Teoria da Justiça" apresenta precisamente essa fragilidade: o véu da ignorância não dispõe de qualquer fundamento.»
Rawls não estava a apresentar um fundamento ético para a justiça. Pelo contrário. Rawls estava a assumir que o fundamento ético da justiça é a tal igualdade entre todos, e a usar o véu da ignorância para traduzir esse conceito para as normas políticas de uma sociedade eliminando o ruído causado pelas vicissitudes da natureza, que podem fazer um nascer inteligente, rico e talentoso e outro ao lado nascer débil mental na miséria. Há problemas nesse véu de ignorância (quanto é que se ignora exactamente?), mas o véu de ignorância é apenas uma experiência conceptual e não algo que exija fundamento. Rawls não propõe que esse estado em que somos almas desencarnadas ignorando onde vamos nascer alguma vez ocorra mesmo. Apenas propõe que pensar assim é uma forma prática de traduzir a noção ética de justiça para a implementação política das regras de uma sociedade.
Sofrologista,
ResponderEliminar«a razão pela qual a escravatura é condenável não é porque os seus actores (escravos e dono dos escravos) devam aceitar a teoria do véu da ignorância como sendo a melhor para os dois, mas porque existe um mandamento anterior (que tem que ser, de um ponto de vista logico, necessariamente trancendental) que estabelece a igual dignidade de todos os homens.»
Isto é contraditório. Se tu assumires que há um agente que manda mais que os outros todos, então não percebes sequer o problema ético. Esse manda, os outros obedecem, caso encerrado. Tanto faz o que é que ele manda. Não há certo nem errado. Se manda que se amem, têm de se amar. Se manda que se odeiem, têm de se odiar.
O problema ético só te ocorre quando essas soluções te causam constrangimento e queres algo mais justo. Uma situação em que todos os agentes valem pela sua subjectividade. Não por serem homens, ou judeus, ou cristãos, ou por terem alma, serem escolhidos do senhor e afins, mas por sentirem. É quando tentas resolver os conflitos entre as várias subjectividades não assumindo que uma manda nas outras todas é que o problema ético se revela.
Se propões que todos os seres subjectivos têm igual dignidade porque um ser subjectivo mandou que todos tivessem igual subjectividade não só te está a escapar o problema ético como te estás a contradizer.
sofrologista:
ResponderEliminar«Dizer que é uma abstracção (e defenderes tal como eu que é um ideal desejável) não serve para aferir da sua validade.»
Claro que não.
Se olharmos para o dilema do prisioneiro, podemos verificar duas coisas:
a) todas as soluções podem surgir na natureza, e surgem tanto quanto se esperaria se dependessem das leis naturais e não de nenhum factor sobrenatural moralizante que altere de alguma forma os resultados.
b) de um ponto de vista descritivo não faz sentido considerar que uma solução é melhor que as outras, a menos que exista um critério para «melhor».
c) se considerarmos o critério da conciliação mais eficaz das diferentes vontades cumprimos as seguintes condições:
i) descrevemos adequadamente algo que esteve de alguma forma subjacente à criação de diferentes sistemas morais, e que por essa mesma razão é particularmente compatível com o conceito que diferentes pessoas têm de «Bem», sendo que nenhum outro critério é tão adequado para descrever o sentido que esta palavra foi ganhando na linguagem humana.
ii) descrevemos adequadamente um objectivo que, quando compreendido, geralmente desperta (por razões que a selecção natural pode explicar - empatia por todos os seres que saibamos ou imaginemos ser conscientes, tanto maior quanto maior a consciência atribuída) agrado. Somos impelidos a avaliar, mesmo de forma intuitiva e não consciente e com todos os equívocos que a nossa ignorância pode criar, os diferentes sistema morais com base neste critério.
Isto explica em parte o ponto anterior.
iii) Ao desenharmos sistemas morais com base neste princípio conseguimos como um todo a máxima vantagem (por definição do princípio).
Claro que cada indivíduo poderia estar interessado na sua máxima vantagem e não na do grupo, mas enquanto objectivo de cooperação - o mais alargada possível - apenas este princípio tem mérito para todos.
É o facto das cooperações mais alargadas poderem ter mais força, que fez com que a selecção natural tendesse a criar formas de empatia que nos levam a facilmente termos uma percepção intuitiva deste princpio, mesmo sem o explicitar conscientemente. O que explica parcialmente o ponto anterior.
"É o facto das cooperações mais alargadas poderem ter mais força, que fez com que a selecção natural tendesse a criar formas de empatia que nos levam a facilmente termos uma percepção intuitiva deste princpio,"
ResponderEliminarEstão aí o apogeu demográfico islâmico e hindu para o demonstrar.
«Estão aí o apogeu demográfico islâmico e hindu para o demonstrar.»
ResponderEliminarhã??
"hã??"
ResponderEliminarA selecção natural não explica a evolução cultural e comportamental, JV.
«A selecção natural não explica a evolução cultural e comportamental, JV.»
ResponderEliminarA evolução das diferentes culturas ao longo da história também sofreu fenómenos de selecção análogos aos da selecção natural. Mas não precisamos de ir por aí:
O comportamento humano é explicado pela sua biologia e pela respectiva educação, a qual depende da respectiva cultura. Nada no comportamento humano exige explicação sobrenatural.
A cultura é explicada pelos seus autores, os seres humanos. Nada nas culturas exige explicação sobrenatural.
Portanto, se a cultura é explicada pelo comportamento dos seres humanos, e o comportamento destes é explicado pela biologia e pela cultura, temos aqui um «loop». A parte de fora deste «loop» é a biologia que é explicada pela selecção natural.
JV,
ResponderEliminar"Portanto, se a cultura é explicada pelo comportamento dos seres humanos, e o comportamento destes é explicado pela biologia e pela cultura, temos aqui um «loop». A parte de fora deste «loop» é a biologia que é explicada pela selecção natural."
A cultura é explicada pela cultura e a biologia é explicada pela biologia. Hum...
«A cultura é explicada pela cultura e a biologia é explicada pela biologia. Hum...»
ResponderEliminarNão. Isso é errado, e não corresponde ao que escrevi. Leia com atenção.
Ludwig
ResponderEliminarDizes: "quem achas que é a pessoa mais indicada para encontrar o sentido da minha vida"
Jesus Cristo. Tu és apenas a história dos teus genes e dos inputs do ambiente exterior que te moldaram desde a tua concepção. Dificilmente por ti próprio, com as limitações que referi e que são inerentes a todos os seres humanos, poderás encontrar um sentido para a vida que não seja apenas o resultado dos genes e inputs que referi.
Ludwig
ResponderEliminarDizes;"Rawls não propõe que esse estado em que somos almas desencarnadas ignorando onde vamos nascer alguma vez ocorra mesmo."
É óbvio.
"Apenas propõe que pensar assim é uma forma prática de traduzir a noção ética de justiça para a implementação política das regras de uma sociedade."
Presiamente. Apenas propõe. A validade intrinseca de uma tal concepção de Justiça não é demonstrada. Tanto pode ser assim (como eu desejo que seja) como não. A sua validade é igual à de uma teoria que defenda o contrário.
Ludwig
ResponderEliminarDizes: "Se propões que todos os seres subjectivos têm igual dignidade porque um ser subjectivo mandou que todos tivessem igual subjectividade não só te está a escapar o problema ético como te estás a contradizer."
Não foi um ser subjectivo que determinou que todos os humanos têm igual dignidade. Foi Deus. O princípio e o fim de tudo.
João Vasco
ResponderEliminarNão creio ter compreendido o teu comentário.
Gostava apenas de sublinhar que o homem tanto é capaz de cooperação como de competição, de amor como de ódio, da guerra como da paz.
A capacidade para a cooperação até existe genéticamente. Ela é útil até para os lobos e até para os individuos que capturaram e torturaram o Kadafi (para dar um exemplo recente). A cooperação é apenas um instrumento. Não é uma ética.
«Gostava apenas de sublinhar que o homem tanto é capaz de cooperação como de competição, de amor como de ódio, da guerra como da paz.»
ResponderEliminarExacto. Esse era o ponto a) do meu comentário.
« A cooperação é apenas um instrumento. Não é uma ética.»
A relação entre um e a outra é aquilo que explico no ponto c)
João Vasco
ResponderEliminarContinuando telegraficamente: podemos concluir que c) representa uma lenta revelação historica de Deus ou é apenas o acaso da sobrevivência da espécie humana que conduz a esses resultados?
Por outras palavras, se a espécie humana se encontrar ameaçada por esse lento processo histórico que descreveste e a sua sobrevivência for assegurada por outros mecanismos (que até podem ser igualmente lentos) que nos parecem neste momento hediondos, quid?
«Continuando telegraficamente: podemos concluir que c) representa uma lenta revelação historica de Deus ou é apenas o acaso da sobrevivência da espécie humana que conduz a esses resultados?»
ResponderEliminarNem uma coisa nem outra.
c) tenderá naturalmente a surgir como ideia numa categoria algo abrangente de seres conscientes capazes de elaborar pensamentos que ultrapassem determinado limiar de sofisticação (em particular no que diz respeito à interacção social entre pares). Que isso não ocorra é que exigiria uma certa dose de «azar» por assim dizer.
«se a espécie humana se encontrar ameaçada por esse lento processo histórico que descreveste e a sua sobrevivência for assegurada por outros mecanismos (que até podem ser igualmente lentos) que nos parecem neste momento hediondos»
Isso pode acontecer, e já ocorreu no passado.
A natureza dos seres com um pensamento com determinado grau de sofisticação pode conduzir à abstracção da «Ética» (enquanto estudo daquilo que conduz à conciliação ideal de vontades), mas não conduz necessariamente a um comportamento moral.
Por isso mesmo pode acontecer que se adoptem comportamentos imorais, e não está fora de questão que isso resulte na nossa destruição (é ver a inconsciência subjacente a tantos dos nossos comportamentos colectivos ao longo da história e no presente) ou elevados danos.
Não existe, de facto, um Deus que nos possa garantir que tudo vai acabar "bem", e que a moralidade "adequada" triunfará.
Dzieki, Jaaan Bascus Sabb. Kurcze, widze ze nie spisz po nocach (
ResponderEliminarwpis o 3:51!!!!). Wlasnie Carbone i Caravelle mnie najbardziej ostatnio intryguja.
Widac, musze jeszcze powachac obaa moralidade "adequada" drunfará?
Excelente "Treta da Semana"!
ResponderEliminarOs seus posts dão-me um enorme prazer intelectual. Discute as questões essenciais com argumentos impecáveis. Obrigado.
Sofrologista,
ResponderEliminar«Dificilmente por ti próprio, com as limitações que referi e que são inerentes a todos os seres humanos, poderás encontrar um sentido para a vida que não seja apenas o resultado dos genes e inputs que referi.»
Em primeiro lugar, não vejo razão para exigir que o sentido da minha vida não resulte daquilo que eu sou, do total das minhas características biológicas, propensões, experiências, desejos, etc. Pelo contrário, acho que o sentido da minha vida deve reflectir precisamente isso. Senão, não seria o sentido da minha vida, mas sim o de outra qualquer.
Em segundo lugar, não vejo porque é que o personagem de uma obra de ficção há de ser a fonte indicada para o sentido da minha vida.
E, em terceiro lugar, se fosse para escolher um personagem fictício preferia alguém com mais pinta. Garion, Peter Parker, Hari Seldon, Thomas Covenant... há muitos candidatos melhores do que o carpinteiro que dava sermões.
sofrologista,
ResponderEliminar«Não foi um ser subjectivo que determinou que todos os humanos têm igual dignidade. Foi Deus.»
O teu deus é uma máquina? Não tem subjectividade?
Conhecer, para depois julgar.
ResponderEliminarSalve a Cultura Racional.
O site oficial para esclarecimentos posteriores é :
http://culturaracional.com.br/
TODO EFEITO TEM UMA CAUSA E ESSA CAUSA DO FEITO EM MATÉRIA
ResponderEliminarMANOEL JACINTHO LEVOU OU TIROU DESSE CAMPO DE FORÇA DEFORMADO...
POR ISSO NÃO RENASCEREMOS MAIS NA MATERIA....E SIM NO NOSSO
MEIO DE ORIGEM IMATERIAL....
MANOEL SEGUIU AS LEIS DA MATÉRIA,
MAS,SEGUNDO PROFECIA ,RESSUSCITARÁ NO RETIRO RACIONAL....
QUEM VIVER VERÁ...
PAZ A TODOS
O ser humano dão suas opiniões clareadas pelo pensamento e imaginação fruto das duas mecânicas material. Os seus conhecimentos, frutos desta criação, não sabe solucionar a causa do pensamento e nem da imaginação.Porque só usamos 10% de nossa capacidade mental?Porque já provada cientificamente que a glândula pineal esta paralisada? que é a jurisprudência o raciocínio.
ResponderEliminarVejo muitas opiniões formadas e são respeitadas, mais como falar de uma fonte se dela nunca saciou apenas a curiosidade.Falar todos falam mais provar e comprovar já é de outra esfera,vamos conhecer meus irmãos para dai termos opiniões que sejam frutíferas com base e logica da quilo que desconhece.Salve a todos por que todos estão salvos.