Solidariedade.
Já mencionei aqui a diferença entre a solidariedade por caridade, por simpatia ou sentimento pelo sofrimento alheio, e a solidariedade como justiça e consciência social. O nosso Parlamento ilustrou bem esta diferença cumprindo anteontem um minuto de silêncio «em solidariedade para com o povo haitiano» e aprovando «por unanimidade um voto de pesar pelas vítimas do sismo que atingiu o Haiti» (1). Os deputados exprimiram também a sua «total disponibilidade para, a par com as mais diversas instituições nacionais e internacionais, ajudar na reconstrução e no auxílio às vítimas da devastação». Foram simpáticos. Foram caridosos. Mas ninguém propôs qualquer rectificação ao Orçamento de Estado (OE) para disponibilizar fundos de auxílio ao Haiti.
O OE português é de cerca de 75 mil milhões de euros. Se ocorresse por cá uma tragédia semelhante à que assolou os haitianos uma parte significativa do OE seria canalizada para auxilio às vítimas e reconstrução. Estimemos, por baixo, que seria de 5 mil milhões de euros. É certo que este dinheiro é “nosso” e “nós” não vamos gastá-lo todo em haitianos. Mas era bom saber explicitamente que fracção de um português vale um haitiano. É que se vale um décimo sempre são quinhentos milhões de euros. E mesmo que cada haitiano só valha 1% de um português, ainda assim deveríamos dar cinquenta milhões de euros de ajuda ao Haiti. E é improvável que, forçado a fazer uma estimativa explícita, algum político se atreva a defender um valor tão baixo.
É certo que há muitos factores a considerar. Questões de soberania, de aplicação eficaz das verbas e assim por diante. Mas mesmo dando uma margem confortável a estes factores, a conclusão é que estamos a agir, enquanto país, como se a vida de seres humanos nascidos noutro sítio valesse praticamente zero. Os nossos representantes manifestam «total disponibilidade» para ajudar os haitianos desde que seja com o dinheiro da caridade e que não lhes custe decisões políticas pouco populares. O minuto unânime de silêncio fica bem no boneco e não custa votos a ninguém.
E esta caridade fica muito aquém do justo. O que é irónico, visto que quem faz caridade julga fazer mais que a sua obrigação. Até agora reuniu-se em Portugal uns dois milhões de euros (2). É o preço dos bilhetes de um Benfica x Sporting. A caridade portuguesa avalia um haitiano em 0,05% de um português, mais coisa menos coisa.
O Jornal de Notícias ilustra outro aspecto deste problema. O título da notícia anuncia «Bispo do Porto ajuda Haiti com 25 mil euros»(3), o que é generoso mesmo para quem tem cama, comida e roupa lavada de graça. Mas uns parágrafos à frente esclarece: «Seguindo a agência Ecclesia, os 25 mil euros enviados por D. Manuel Clemente foram recolhidos através do Fundo Social da Diocese do Porto.» Ou o fundo social é todo do bispo ou a generosidade é mais diluída do que o título sugere.
A solidariedade por caridade disfarça a injustiça e cria uma falsa sensação de se ter ido além do dever. Sentimo-nos generosos por darmos dois milhões de euros quando é o mesmo que dizer que o bispo deu 25 mil. E esta sensação de generosidade faz-nos esquecer que isso dá apenas vinte cêntimos por cabeça. Cada um de nós ganha, em média, vinte vezes mais que um haitiano e, quando uma tragédia destas mata duzentos mil e destrói uma boa parte da infraestrutura do seu país, cada um de nós dá-lhes, em média, vinte cêntimos. Isto só pode ser caridade porque justiça não é de certeza.
1- Visão, Haiti/Sismo: Parlamento cumpre minuto de silêncio em solidariedade com vítimas.
2- Público, Portugueses já doaram 1,2 milhões de euros para o Haiti
3- Jornal de Notícias, Bispo do Porto ajuda Haiti com 25 mil euros
E tu, quanto deste? E a quem?
ResponderEliminarDei 100€ à AMI. E tenciono continuar mensalmente durante uns tempos -- vai ser especialmente importante quando deixar de ser notícia, que aquilo não é coisa que se resolva em poucos dias.
ResponderEliminarMas isso é irrelevante para o mais importante, que é assumirmos colectivamente a responsabilidade de distribuir os recursos de forma justa e não desprezar uma data de gente só porque nasceu num sítio diferente...
Uma medida mais correcta seria algo como aumentar 10% os impostos de quem ganhe mais que 2000€ brutos por mês e usar esse dinheiro para um fundo de apoio ao desenvolvimento de outros países.
Ludwig
ResponderEliminarAcho que estás a ser injusto com o governo português: mandamos para lá recursos no âmbito de missões internacionais. Conheço pessoalmente uma pessoa que lá foi há anos como capacete azul (lá e a mais um monte de sítios, diga-se), mandamos para lá INEM e mais uns quantos.
Acho que também estás a ser injusto para com a generosidade dos portugueses, que fazem coisas extraordinárias como engordar listas de dadores de sangue, potenciais dadores de medula óssea e sangue de cordão umbilical quando não têm NADA a ganhar com isso.
Aumentar os impostos? Estás louco? Eu ia refilar e não tem nada que ver com achar que a vida de um haitiano vale menos que a de um português. E logo 10%?? Olha, dá os teus 10% ou mesmo 20 se achas bem, mas não mandes no meu dinheiro. E o governo também não tem nada que ver com a minha generosidade.
Pessoalmente dei €50 ao fundo de emergência da Cruz Vermelha... e fiquei super desconfiada por não me pedirem dados para um recibo. Não é que me esteja a fazer a meter essa despesa no IRS (mas tenho direito a isso), mas cheirou-me a dinheiro que perde o rosto e o rasto. Estou mesmo a pensar fazer queixa.
Fizeste-me lembrar um padre de quem gosto bastante que falava de algo que tinha feito (não me lembro o que era) e remata com "não fiz mais que a minha obrigação". O que disse a seguir deu a sensação que nem o suficiente tinha sido (é verdade: os problemas não acabaram), mas conseguiu reduzir à insignificância todos os gestos e não-gestos de toda a população.
Eu posso não querer palmadinhas nas costas por cada boa acção que faça, mas também não quero ter sentimentos de culpa por todos os meus actos e omissões ou por viver relativamente bem. Ou por ter um rendimento acima de tanto. É que os "ricos" também têm os seus dramas pessoais e mesmo patrimoniais.
Desculpa o sermão, mas não gosto que me façam sentir culpada nem má pessoa. E sinto-me desconfiada com muitas iniciativas de solidariedade.
Abobrinha,
ResponderEliminarPenso que identificaste bem o problema:
«dá os teus 10% ou mesmo 20 se achas bem, mas não mandes no meu dinheiro. E o governo também não tem nada que ver com a minha generosidade.»
A razão principal pela qual um português médio ganha vinte vezes mais que um haitiano médio não é o português ser vinte vezes melhor no que faz. É claro que com formação e motivação produz-se mais, mas não é só por isso. A razão principal para teres um trabalho normal, uma casa, carro, água corrente e aquecedor no inverno em vez de dormires debaixo de um cartão e passares o dia na lixeira à procura de garrafas de plástico para vender e poderes comer qualquer coisa é teres tido a sorte de nascer num sítio em vez de noutro. O valor do teu trabalho, e as recompensas que recebes por ele, dependem quase inteiramente da sociedade onde nasceste.
É por isso incorrecto considerares que todo o dinheiro que o teu empregador te dá é algo que só te pertence a ti pelo teu mérito.
Já agora, achas que o estado não tem nada que cobrar impostos, e que a saúde, a educação, as estradas, a polícia e os tribunais deviam ser financiados por donativos voluntários? Ou o voluntário é só para os estrangeiros?
Ludwig
ResponderEliminarEu estou consciente de que nasci com a cor certa, no lugar certo do mundo e possivelmente na hora certa (dou-te a resposta mais exacta a esta questão quando souber as recompensas do meu trabalho na velhice, já que na doença tenho confiado quase inteiramente no meu próprio pecúnio, mas isso é outra história: eu e o SNS temos contas a acertar). Eu agradeço mentalmente a quem quer que tenha designado este pedacinho de paraíso como o meu local de nascimento e o meu nascimento na família em que tive a sorte de nascer.
Dito isto, voltas ao sentimento de culpa, que é uma base muito má para a solidariedade: eu não tenho "culpa" por ter nascido onde e como nasci. Eu não sou solidária por sentir culpa por ser tão rica: eu sou solidária porque me parece bem, porque acho que se todos estivermos bem eu estarei melhor ainda. E simplesmente porque sim.
Uma coisa de que falas recorrentemente e concordo é de um sentimento de responsabilidade para com todo o resto dos seres humanos, sejam eles cidadãos nacionais e estrangeiros. Ora para isso há a teoria e a prática. E o governo tem responsabilidades no campo internacional, mas essencialmente no nacional. E não pode nem deve IMPOR uma cobrança para ajudar pessoas do outro lado do mundo. Eu dou se quiser, quando e quanto quiser (e vou pensar no que vou fazer em relação à Cruz Vermelha).
Uma coisa é a teoria, em que concordo contigo, outra é a prática: não nascemos nem morremos iguais. Tentar diluir a diferença deverá ser a missão de vida de todos, mas há que ver como se faz isso. E há países "mais ou menos", sendo que calha o Haiti ser um deles. Para bem, para bem, devíamos ocupar aquilo tudo e ensiná-los a não ser corruptos, a ser solidários e a fazer casas que não se esboroem com um abanão. Ah, e a abandonar o vudu, que não faz bem a ninguém! Mas isso interfere com a auto-determinação e modo de estar deles... mas resolveria muitas situações... mas não se faz... do mesmo modo que o MEU governo não pode pensar mais nos outros países que no nosso (ou então pomos os haitianos a descontar para nós, não?).
Voltamos ao mesmo: solidariedade é quanta se pode, não quanta se quer. E o nosso governo tem mesmo é que nos fazer mais ricos de modo ético. Entre outras coisas para em vez de € 50 eu poder dar 100 ou 200 ou 25 000 sem que me faça falta. E mesmo o meu tempo, que é do que tenho mais importante para dar.
Em relação aos nossos impostos para as nossas necessidades... aí entramos numa discussão muito complicada! Sendo que em termos de saúde e justiça o que temos não é suficiente, talvez não por falta de dinheiro mas por má aplicação.
Grande lucidez a da Abobrinha!
ResponderEliminarEssa coisa de receber ajuda internacional nas horas de desgraça está muito bem mas que eu tenha de pagar mais impostos por causa disso está mesmo muito mal. A verdade é que o Haiti só deixou de viver em contínua guerra civil de facções que se chacinavam umas às outras há muito pouco tempo, quando a ONU enviou para lá capacetes azuis. A história do Haiti é uma longa sucessão de golpes de Estado e de atrocidades e essa é que é a verdadeira razão por que um haitiano ganha dez vezes menos do que um português. E os portugueses não têm culpa nem têm de pagar por isso.
Além disso, o facto de nós termos mais qualidade de vida não é apenas consequência de termos nascido no sítio certo e sim do facto de sermos herdeiros do esforço que os nossos antepassados fizeram para que nós recebêssemos esta herança. E olhem que no Paleolítico estávamos todos em igualdade de circunstâncias.
Abobrinha e Cristina,
ResponderEliminarImaginem que o dinheiro e conforto de qualquer pessoa era decidido apenas por uma lotaria. Pura sorte. Nesse caso penso que concordariam ser justo recolher parte do dinheiro daqueles a quem tinha calhado mais para distribuir a coisa mais equitativamente.
Num país como o nosso, em que a maioria tem acesso a educação, a uma vida saudável e pacífica, não é por pura sorte, em geral, que uns têm mais que outros. A sorte conta muito, mesmo assim, mas não é só sorte.
No entanto, quando olhamos à escala global, é quase só sorte. Porque é pura sorte termos nascido cá e não numa favela do Rio, nas montanhas do Afeganistão ou no Haiti em plena guerra civil. E essa sorte ditou 99% ou mais dos recursos a que temos acesso.
A Cristina escreveu que foi por causa da guerra e assim que o haitiano ganha menos que o português. Por um lado tem razão. Mas pelo lado que importa não tem. Porque se a Cristina pegar num haitiano miserável dificilmente poderá dizer que ele está assim por culpa sua, porque se meteu a fazer guerras civis sabendo que ia ficar na miséria por isso. Esse haitiano está como está, principalmente, porque teve azar em ter nascido lá. E nós estamos como estamos, em relação a ele, por termos tido a sorte de nascer cá.
Não defendo que vá dinheiro "de uns" para outros por culpa, pena ou algo assim. Defendo que a distribuição inicial que deu a uns uma caixa de cartão e uma esperança de vida de 35 anos e a outros casa, carro, água corrente, emprego porreiro e dinheiro para ir de férias é tão injusta e aleatória que justifica, por justiça, um esforço significativo para compensar a diferença.
Se querem mais detalhes acerca da noção de justiça que defendo, sugiro Rawls
Eu até posso imaginar isso, o problema é que não estou convencida de que seja essa a realidade. É verdade que quando alguém nasce não tem nenhuma responsabilidade sobre o país em que nasceu e, de acordo com esse princípio, poderíamos mandar os nossos impostos apenas para as crianças, o que resultaria numa situação bizarra e ineficaz porque as crianças não têm capacidade para gerir recursos. Quanto aos adultos, não podem ser desresponsabilizados da situação porque as atrocidades motivadas pela cobiça e pelo desejo de poder não são, no Haiti, uma coisa remota, aconteceram até há meia dúzia de anos.
ResponderEliminarMas, pelo princípio da redistribuição, para tornar justos os resultados da lotaria, eu também posso alegar que tive um grande azar em ter nascido em Portugal em vez de nascer no Luxemburgo ou na Austrália. Portanto, para compensar este meu azar, e tornar o mundo mais justo vou pedir aos luxemburgueses e aos australianos que me dêem parte dos seus impostos.
Não percebi porque é que “num país como o nosso não é só sorte” mas à escala global já é. Além disso, não percebo qual é o critério que fixa os 10% ou qualquer outra percentagem a entregar-lhes. Como é que sabemos se esse valor é justo ou se ainda não chega a ser? Na verdade não podemos quantificar essa justiça, a menos que dividamos o total dos PIB de todos os países do mundo e o dividamos pelos não sei quantos milhões de habitantes. Tudo o que seja diferente disso não será equitativo, continuará a ser caridade mesmo que eufemisticamente rotulada como solidariedade, que é exactamente a mesma coisa mas sem as conotações religiosas. Na verdade, o que o Ludwig fez com a sua doação de 100 Euros foi caridade (mesmo que prefira dar-lhe outro nome) e continuaria a ser se, em vez de cada um enviar directamente o seu donativo no valor que entende, déssemos todos o mesmo e mandássemos o Estado fazer o favor de o mandar para lá.
Ludwig
ResponderEliminarA vida é injusta. A distribuição de recursos é injusta. A distribuição de paz no mundo é injusta. Tivemos sorte na lotaria (se bem podíamos ter tido mais). Isto são factos contra os quais podemos muito pouco. Podemos e devemos ir aliviando o sofrimento de algumas pessoas (aquelas a que podemos chegar), mas as mudanças de fundo não competem ao cidadão comum mas a maratonas de acções de vários governos ao longo de anos e décadas (e mesmo séculos), eventualmente pressionados pelo público. Não há heróis, mas há causas visíveis, como o caso da auto-determinação de Timor, em que a nossa população foi determinante para que se fizesse qualquer coisa... com resultados limitados a médio prazo, mas em que não há arrependimentos em relação ao que se fez.
O que eu disse em relação à culpa é que não é apelando a esse sentimento que me vais "obrigar" a ser solidária. E repito que é curioso que apeles à culpa e à obrigação quase como um religioso o faria, quase como o padre de que falei o fez. Eu posso não ser heroína nenhuma, mas não sou má pessoa e ajudo quem posso e quer ser ajudado ao perto. Ao longe faço o que posso mas tenho menos controlo sobre quem ajudo.
Há solidariedades diferentes: uns dão rigorosamente tudo o que têm e mesmo a vida para ajudar os outros (a maioria são os missionários religiosos, mas não só). Há quem dê somas avultadas, dentro do que pode. O bispo do Porto mandou dar do que o bolo do Fundo Social da Diocese do Porto (o dinheiro não é dele, mas é ele que também manda nesse dinheiro). O George Clooney não dormiu não sei quantas noites a organizar uma recolha de fundos (fez mal: ele com olheiras fica menos bonito, logo, menos capaz de reunir fundos) que recolheu milhões. Há ainda quem contribua com o que pode dispensar na altura, sem que isto faça mossa no seu estilo de vida, seja ele só o manter o emprego e uma vidinha simpática mas sem grandes luxos e medo de desastes comezinhos como desemprego ou que aquela bolsa linda desapareça antes dos saldos, seja uma vida com férias a grandes destinos e carros luxusos.
Eu refilei foi em relação à criação de um imposto para acções de solidariedade fora do nosso país (e logo de 10%!!! Não queres subir para 20%??? Era só o que faltava!): temos os nossos compromissos com forças de manutenção de paz no estrangeiro, temos as nossas ONG, temos muita coisa. Temos a nossa solidariedade dentro do nosso país e temos a sociedade que se organiza para ajudar com o que cada um se dispõe a dar (de preferência tentando ter a certeza que o dinheiro lá chega). Chega? Não! Nunca chega nem nunca chegará, porque as solicitações são muitas!
Ludwig, eu e a maioria dos portugueses somos solidários só porque sim! Mas não nos obrigues a dar o que não queremos, o que não estamos dispostos a dar. Não ponhas o governo a meter-nos a mão no bolso para não vermos o resultado do dinheiro dispendido... ainda mais do que o que já temos a sensação de ver! Mesmo porque há outras crises no mundo, que não se resumem ao Haiti e não podemos acudir a todas ao mesmo tempo. Antes pudéssemos!
A realidade é que não fazemos o suficiente também porque nunca chega! A realidade é que se não ajudarmos os outros, os problemas deles hão-de vir-nos bater à porta (a imigração ilegal de africanos, que arriscam a vida a atravessar o Mediterrâneo porque o risco compensa). Mas um imposto nos moldes em que propões? Estás louco! Isso dava um motim e eu encabeçava-o.
Se o dinheiro que todos enviaram para o Haiti servir para reconstruir casas de alvenaria básica outra vez, os decisores serão novamente responsáveis pela má qualidade dos edifícios. Não é a primeira vez que o Haiti sofre com a destruição causada por um sismo e não será a última. Para mim, a grande fatia da culpa é das más decisões tomadas no passado.
ResponderEliminarUm fundo monetário internacional para crises humanitárias e calamidades, pesado pelo PIB de cada país e pela distância dos recursos a transportar, talvez fosse uma boa resposta ao que o Ludwig aponta como a obrigação de todos os seres humanos.
A UE contribuiu com bastante dinheiro - quanto desse dinheiro corresponde à nossa contribuição na economia europeia? Será uma fracção justa?
Seja como for, por muito que contribuemos monetariamente, aquilo que o Haiti mais precisa é de boas escolhas ou corre-se o risco de todas as ajudas se revelarem inúteis. Pensemos no pouco que pesarão agora todas as ajudas do passado...
Joaninha e Cristina,
ResponderEliminara respeito das responsabilidades pela situação no Haiti e de «nós» não termos culpa nenhuma: Na sequência de uma revolução dos habitantes contra o regime terroista colonial, a França acedeu a dar a independência ao Haiti em 1825 mediante pagamento de 150 milhões de francos de ouro. Uma indemnização não-renegociável com pertinência sublinhada pelo estacionamento da marinha de guerra nas costas da ilha. O Haiti não teve alternativa - também porque o resto dos regimes coloniais, como se deve imaginar, achou muito bem. Portugal não foi excepção, pudera.
A economia da escravatura do país já estava de rastos, de modo que os haitianos levaram até 1948 para pagar a dívida. A dívida impossibilitou a reconstrução (em 1900, só para dar um exemplo, 80% dos rendimentos do Estado eram destinados ao seu pagamento). O Haiti teve que recorrer a novos empréstimos de bancos a juros extorsionários para a saldar. Bancos ocidentais, claro, que fizeram sempre óptimos negócios, que nos beneficiaram muitíssimo, a nós, os habitantes dos tais países «que não temos nada a ver com isso».
O dinheiro que devia ser usado para construir um país acabou nos bolsos ocidentais. Há sete anos, o Governo do Haiti pediu à França a restituição do dinheiro que foi forçado a pagar pela força das armas. O governo fracês concluiu em 2004 que não tinha responsabilidade moral nem legal «em termos históricos». Não se ouviram protestos de Portugal - pudera.
O Haiti nunca teve a menor chance. E os ditadores que vieram a seguir só singraram porque - lá está - foram apoiados pelos ocidente. O Haiti não e excepção da forma como «nós» lidamos com quem não tem defesa e que até nos esforçamos por manter na miséria, porque é à custa da miséria alheia que vivemos tão bem. Dizer que nós não temos responsabilidades por aquilo que se passa no mundo brada aos céus.
Cristina,
ResponderEliminarA diferença entre Portugal e Luxemburgo é muito menor que entre Portugal e Haiti. E o problema de nascer num sítio desses não se restringe à infância da pessoa. Tem impacto em toda a sua vida, e na sua forma de a viver.
Abobrinha,
É precisamente por a vida ser injusta, por termos injustamente controlo sobre muito mais recursos que seria justo, e outros sobre muito menos, que temos uma obrigação moral muito mais forte que esse "cada um dá o que quer" da caridade. A caridade só faria sentido se a vida fosse justa -- aí sim, tudo o que se fizesse a seguir seria superrogatório. Mas a reparação de uma injustiça não é moralmente opcional.
Francisco,
Estou de acordo, e é outra das razões pela quais a caridade fragmentada em milhares de instituições com objectivos diferentes não é uma boa solução. Nem sequer é solução. É só um paliativo.
O que é preciso é algo organizado, com poder político, que possa controlar minimamente a aplicação eficaz dos fundos e assim resolver problemas. Algo como o FMI, por exemplo. Se bem que longe de perfeito, é melhor que atirar dinheiro aos pedaços ou não fazer nada. Só que, ao contrário do FMI, não teria como missão principal reaver com juros o dinheiro investido.
Mas, e esta é para todos, o que queria salientar aqui é que enquanto a maioria está satisfeita com a "nossa" generosidade colectiva, e como ajudamos os outros de forma caridosa e voluntária, a verdade é que estamos muito aquém de cumprir a obrigação moral básica de redistribuir parte daquilo que nos calhou de forma tão injusta, só por termos nascido aqui.
A teoria da evolução propõe-nos um mundo cheio de doenças, sofrimento, comportamentos predatórios, crueldade e morte.
ResponderEliminarEla sugere que os seres humanos são acidentes cósmicos, destituídos de valor intrínseco. De acordo com a teoria da evolução, os mais fortes têm direitos biológicos sobre os mais fracos.
Do mesmo modo, quando uma catástrofe natural mata muitos animais e pessoas, isso é visto como uma forma normal de eliminar a concorrência pelos recursos naturais.
A teoria da evolução propõe um mundo onde não existem padrões objectivos de moralidade, pelo que não há nada que diga que o bem e é melhor do que o mal ou de que devemos ajudar os outros.
Em contraposição, a Bíblia ensina que todos fomos criados à imagem e semelhança de Deus e temos valor intrínseco. Todos somos descendentes e um único casal, sendo parentes uns dos outros e tendo obrigações uns para com os outros.
O próprio Deus, porque nos ama, assumiu a nossa imagem e morreu pelos nossos pecados, o que confirma o nosso valor perante Deus.
Por causa do pecado humano, a Terra está amaldiçoada e os nossos corpos adoecem e morrem.
Mas Jesus promete-nos novos corpos incorruptíveis numa Criação restaurada. A Bíblia ensina que nos devemos amar uns aos outros porque todos fomos criados à imagem de Deus e todos somos literalmente da mesma família.
Não admira que, invariavelmente, sejam as nações mais influenciadas por sentimentos cristãos que imediatamente acorrem a auxiliar as vítimas de catástrofes naturais, com mais ajuda.
É por isso que é importante preservar os sentimentos cristãos.
A teoria da evolução não propõe nenhum fundamento para a amor, a justiça ou a solidariedade.
A avaliar pelo que o Ludwig tem dito sobre a moralidade, ajudar os Haitianos é uma preferência subjectiva tão valida como deixá-los morrer.
Para a teoria da evolução não existe bem nem mal. Só existem preferências subjectivas, sem qualquer critério objectivo para as comparar.
Do ponto de vista evolutivo, deixar os Haitianos morrer seria até mais condizente com a lei do mais forte e a sobrevivência do mais apto... ou do mais sortudo.
Não são só os cristãos que reconhecem a total imprestabilidade da teoria da evolução para fundar valores e sentimentos morais.
O próprio Richard Dawkins reconhece isso quando afirma:
“I’m a passionate Darwinian when it comes to science, when it comes to explaining the world, but I’m a passionate anti-Darwinian when it comes to morality and politics.”
Ele próprio reconhece que a teoria da evolução é uma teoria sem qualquer moral...
O problema de Richard Dawkins, tão bem evidenciado no seu último livro, é que o darwinismo, além de não explicar a origem e a vinculatividade da moralidade, também não explica a origem da matéria, da energia, da vida e mesmo das espécies.
A teoria da evolução é uma nulidade absoluta.
Ludwig,
ResponderEliminarO problema do quilómetro sentimental. Mais longe é com "eles", mais perto é "connosco"... E se a TV nos ordenhar umas lágrimas até guardamos a pequena Maddie no nosso próprio coração.
Depois do oportuníssimo comentário da Cristy gostava de advertir para um outro problema - queiram desculpar-me - mais de etiqueta e boas maneiras: não se fala em "ajuda internacional" com a boca cheia. Também as organizações gigantes em que delegamos este tipo de assuntos podem funcionar muito bem para dormirmos na consciência de que alguém trata deles cuidadosamente, mas o que é certo é que ainda não se conseguiu libertá-las numa dinâmica própria e independente das oligarquias do costume. Quem paga, manda. E quem manda está-se nas tintas para quem paga na verdade.
O que pode ser feito? Acho que devemos desde logo assumir uma fronteira clara entre o que é ajuda à sobrevivência após uma catástrofe, em que a esmola é o activo mais eficaz, e o que é ajuda à estruturação democrática sustentada de um país inteiro. Devemos promover moral, política e conscientemente sobretudo este lado de "construção" contínua por via de escolhas políticas lúcidas. Só que é isto que ninguém faz, muito menos enquanto não devolverem à política a poltrona dos mercados. Pelo contrário, as "ajudas internacionais" parece que se conjugam para perpetuar uma espécie de suplício de Tântalo nos países repassados de corrupção e miséria, seja pela mão do FMI, do Banco Mundial , de um contingente chinês ou americano. Começa a tresandar, mesmo sem cadáveres amontoados.
Perspectiva,
Se não desligar a betoneira imediatamente começo a insultá-lo.
Ludwig Krippahl
ResponderEliminarO que é preciso é algo organizado, com poder político, que possa controlar minimamente a aplicação eficaz dos fundos e assim resolver problemas.
E quem quer implementar medidas draconianas num estado em que as pessoas não devem saber nem ler nem escrever, estão mais do que habituadas a violência e não tem respeito pela vida humana ?
Os países mal possam vão sair de cena, e deixar as ONG's. Depois quando o dinheiro acabar estas sairão de cena deixando aquilo de volta ao que sempre foi.
É muito triste, mas para se ajudar o Haiti ter-se-ia de criar um protectorado e isso cheira-me que nenhum estado irá fazer, o risco de correr mal é muito grande.
Se o Haiti tivesse petróleo, ouro, diamantes...Mas tem mestiços incultos , é um azar, mas aposto que daqui a 10 anos estarão entregues a si e sem quase nada.
Sou muito céptico em relação a "ajudas".
Bruce Lóse
ResponderEliminarAs ajudas internacionais nunca funcionaram , porque o problema maior não é o dinheiro, são as instituições e a cultura social do país.
A Alemanha depois de ter sido destruída e devastada pela 2 ªguerra em algumas décadas voltou a ser uma potência mundial porque tinha uma cultura de base que permitiu voltar a fazer tudo do zero.
Agora um país sem médicos, sem enfermeiros, sem juízes, sem agricultura, sem electricidade, sem nada do mais básico como se ajuda ?
Tem de ser um projecto de mais de 50 anos, e isso implica a execução de projectos muito ambiciosos, muito caros mais em termos humanos do que dinheiro: necessita de um acompanhamento a tempo inteiro por parte de pessoas com muita experiência, consultoria permanente, métricas rigorosas, etc
Mas mais , necessitava agora da utilização de medidas de guerra como o desarmamento de bandos armados e a execução sumária de bandidos, recolher obrigatório, pulso de ferro terrível para permitir o fluxo da ajuda humanitária e proteger a populaão.
Senão aquilo vai descambar antes de sequer começar.
Ninguém vai fazer isso pois o país é independente e suspeito que o pior ainda está para vir na época das chuvas que vai começar em breve, com a disseminação de doenças, afinal as valas comuns se não forem bem isoladas vão permitir o regresso do mortos :(
Por isso não vejo que o problema seja das ajudas internacionais mas sim do completo atraso do país.
Existe um limite mínimo para a cultura. Sem se atingir esse patamar, todo o esforço perde-se sem produzir resultados.
«Por isso não vejo que o problema seja das ajudas internacionais mas sim do completo atraso do país.
ResponderEliminarExiste um limite mínimo para a cultura. Sem se atingir esse patamar, todo o esforço perde-se sem produzir resultados.»
Nuvens, a ONU é cara demais para pormos as coisas assim :) As "escolhas políticas lúcidas" que imagino serem a única saída daquela bola de esterco são, em primeiro lugar, as dos parceiros internacionais. Não as imagino para já no cenário interno daquele país.
E concordo com a prioridade do desarmamento dos bandos, parece-me até que é um bom exemplo do que já podia ter sido feito e não foi. A isso não será alheia a tradiçâo americana de fazer chegar armas aos países do sul, ao contrário de as tirar de lá...
Bruce,
ResponderEliminarconcordo, e acrescento mais uma observação. A «ajuda» internacional só parece pouco eficiente quando vista pelo ângulo dos que alegadamente dela deveriam beneficiar. Vista pela perspectiva (no pun intended :-)) dos generosos doadores, é um negócio chorudo à brava, determinante para o bom funcionamento das economias dos países ricos. Quanto mais degraças pelo mundo fora, melhor para nós.
Cristy,
ResponderEliminarEu não disse nada! Bolas apanho mesmo antes de abrir o bico...:)
Adorava dar a minha opinião mas ando completamente sem tempo, já ler isto é roubar tempo ao estudo...
Beijos
Cristy
ResponderEliminarNão percebo, mas como achas que as ajudas são boas para quem dá ?
sai dinheiro dos orçamentos de estado que poderia ser aplicado no país, são enviadas pessoas que podem morrer, são gastos recursos.
?
so ?
Cristy,
ResponderEliminarÉ um bom exemplo da necessidade de saber um pouco de história :)
Mas queria salientar que o meu argumento não depende de alguma culpa. Também não tenho culpa que haja paralíticos e cegos mas acho bem que parte do dinheiro que pago em impostos seja para rampas de acesso e letreiros em braille nas repartições públicas. É uma questão de obrigação moral de mitigar uma injustiça e não apenas a redenção por um pecado qualquer.
Nuvens,
ResponderEliminarUm país (os EUA fazem muito disso) dá dinheiro na condição que esse dinheiro seja usado para contratar empresas do país dador. Estas cobram imenso, os seus accionistas enchem os bolsos e pagam aos políticos que decidiram "ajudar" o país necessitado (quando estes não são logo os accionistas...). Entretanto o que fazem lá não tem efeito nenhum para que a situação permaneça como está e possam voltar a ganhar uma data de massas repetindo o esquema.
Enquanto esta ajuda for movida por esquemas destes ou esmolinha esporádica não vai servir de nada. Aliás, uma coisa muito útil para os países industrializados é enviar comida de borla. Temos excedentes que não usamos, damos cabo da economia local e depois é só ir lá montar fábricas e aproveitar a mão-de-obra barata.
Estou a simplificar bastante mas, se esgravetares, vais encontrar muito esquema desse género.
A única solução é o eleitorado começar a pressionar os políticos para fazerem isto como deve ser. Isso e desconfiar quando o pingo doce vende ameijoa congelada do Vietname a 1.5€ o quilo. Considerando o custo do transporte e quanto os intermediários metem ao bolso é evidente que os desgraçados que a apanham estão a ser lixados com F grande...
Joaninha,
ResponderEliminareu disse Joaninha em vez de Abobrinha? Está visto: é Alzheimers. Ou então era saudades :-)
Beijos
Nuvens,
ResponderEliminaracho que o meu irmão respondeu á tua questão, mas se quiseres dados concretos, avisa, não deve ser fácil de encontrar por aí a net.
Ludi,
ResponderEliminarconcordo plenamente e faço uma distrinça clara entre culpa e responsabilidade. Mas dessa só se safa quem tem facilidade em meter a cabeça na areia. Cá por mim, não consigo, sufoca-me :-).
Nuvens
ResponderEliminarcorrecção: .. não deve ser difícil. E o "de" é optativo ;-)
LK e Cristy
ResponderEliminarNão concordo nada com as visões conspirativas. Acho que as ajudam falham porque não chega mandar dinheiro e mantimentos. São necessárias duas gerações que saibam ler e escrever, que tenham acesso a conhecimento, que saibam regras básicas de higiene para que as coisas possam mudar.
Só que como escrevi, isso implicaria décadas de investimento em professores, em métodos de ensino, universidades, escolas primárias, só em infra-estrutura em centenas de milhões e depois em mão de obra outro tanto.
Ninguém vai arriscar um projecto que para ter sucesso teria de ser atípico, retirava-se durante 50 anos a possibilidade de autodeterminação, e depois , com elites formadas e capazes de assumir governar e serem governadas, devolvia-se o país.
mas isto é teoria, na prática o haiti não tem reunidas as condições de ser sequer uma colónia.
Entretanto as pilhagens, a doença, etc vão continuar
Até concordo com o argumento de que é injusto que tenhamos tanta riqueza dado isso se dever ao facto de termos nascido no sítio onde nascemos.
ResponderEliminarContudo, e não querendo ser intrometido, 100 euros é muito menos do que o que devíamos dar, seguindo esta linha de raciocínio. É que é perfeitamente razoável admitir que pelo menos 95% da nossa riqueza relativamente aos haitianos se deve a termos nascido em Portugal e não no Haiti. Mas quem está disposto a dar 95% da sua riqueza?
Nuvens,
ResponderEliminar«Não concordo nada com as visões conspirativas.»
O importante é porquê. Se é porque estás dentro do assunto e consegues estimar de forma fiável que estas aldrabices têm um impacto reduzido, estou interessado em saber que evidências tens. Se é porque acordaste para aí virado, vale tanto como o espírito santo :)
« implicaria décadas de investimento em professores, em métodos de ensino, universidades, escolas primárias, só em infra-estrutura em centenas de milhões e depois em mão de obra outro tanto.»
Exacto. Não com vinte cêntimos cada um quando há um terremoto que se resolvem estas coisas. Mas é mesmo isso que eu defendo. Décadas de investimento em infraestrutura. E não faríamos mais que a nossa obrigação. Afinal, é o que fazemos por cá também.
João Pedro,
ResponderEliminarSe cada um de 4-5 milhões de portugueses der 100 euros por mês durante meio ano ou assim, já serve para qualquer coisa. Se dermos 95% da nossa riqueza de uma vez não adianta de nada porque acabamos por destruir a nossa infraestrutura económica sem grande benefício para ninguém.
Por isso o que defendo é que o dinheiro seja bem usado, com um equilíbrio entre a manutenção dos sistemas que funcionam e o financiamento daqueles que não funcionam bem. Um conjunto de países decidiu doar 0.7% do seu PIB para ajuda ao desenvolvimento, mas nem uma fasquia tão modesta foi atingida. Julgo que poderíamos ir bem mais alto que esse valor sem grande prejuízo para nós e muito benefício para outros se houvesse vontade de o fazer.
Em suma, o meu argumento não é no sentido de darmos 95% do que temos mas no sentido que a desculpa de "este dinheiro é nosso" não é aceitável porque a riqueza que temos resulta de uma distribuição injusta. Infelizmente, para a maioria das pessoas até dar 0.7% é demasiado...
Nuvens,
ResponderEliminareste é só para teres uma ideia, até porque diz respeito a uma das "causas" lusas favoritas, se bem que tardiamente: Timor-Leste
http://www.nytimes.com/2006/05/30/world/asia/30iht-timor.1852773.html?_r=1
Não percebo o que entendes por visões conspirativas. O facto é que os países ricos todos os anos enviam uma miséria em alegada ajuda para os países pobres - os EUA e outros têm inclusive a desfaçatez de declarar as armas e os militares enviados «assistência ao desenvolvimento», para não falar das linhas de crédito às próprias empresas para garantir as exportações de coisas que lá ningém precisa - e o retorno ultrpassa essas somas «solidárias» em muito. Os números estão aí, é so procurar.
claro que as condições no Haiti não são ideaism ninguém disse que são. Mas não foi só a falta de infra-estruturas (e porque não foram criadas com a ajuda?) que fez a assistencia falhar. Não te voi insultar indicando estudos, são tantos que nem saberia onde começar.
Cristy,
ResponderEliminarNo caso de Timor não sei, nunca acreditei que aquilo corresse bem, tinha todos o ingredientes para ser um desastre. Ainda não aconteceu o desastre apenas porque as figuras de proa estão vivas, mas mal morram, a geração que se segue vai pilhar aquilo tudo e depois pedem ajuda internacional outra vez.
É como as famílias problemáticas nos bairros sociais, quando tudo falha voltam a viver de subsídios, não há um sentimento de colectivo porque esse colectivo é tribal, cheio de fracturas ect.
É certo como o destino, porque e como eu digo, a menos que se faça uma ocidentalização do local durante uns 50 anos sem liberdade estragar o trabalho, e com educação obrigatória , o resultado é sempre mau. Mas como pensar em ocidentalizar é hoje em dia sinónimo dos grande erros que foram feitos no passado, estamos de mãos atadas.
A democracia não é o voto, é um conjunto de instituições que se auto regulam, que se vigiam e que devem estar equilibradas. É a possibilidade de se ter justiça, a possibilidade de se subir na vida trabalhando de se ter família de se estudar. A democracia é a liberdade de expressão e a possibilidade de a usar, é o acesso à saúde para todos, é não criação de minorias desfavorecidas, é o combate ao nepotismo, à cunha, ao favorecimento pessoal.
É a não pilhagem dos recursos da nação e a aplicação de leis justas, e sobretudo a criação de um ideal colectivo, sem isto nada feito.
Nestes países isso não existe, nem sequer a ideia de porque isto é importante .
Ás vezes tenho a sensação que as pessoas se esquecem que nós demoramos milénios a chegar a este sistema político, fomos dilacerados por guerras espúrias, guerras ideológicas, guerras religiosas, de fim de semana, etc
E depois de duas guerras de grande escala, ainda vivemos uma guerra fria, de mísseis de ameaças etc.
Não descobrimos a democracia e os direitos cívicos num carica da coca cola :)
Querer que os povos por artes mágicas ,façam saltos civilizacionais é irreal.
Só criando as infraestruturas de base , educando e permitindo a vivência em comunidade é que se pode esperar que ideias como a democracia sobrevivam.
Os países ricos simplesmente não tem estruturas que lhes permitam ajudar com eficiência os pobres . O resto é incompetência e má gestão.
As ajudas que depois acabam em mandar frigoríficos para o polo sul são casos de má supervisão, mas se virmos o sistema financeiro mundial percebemos que estas coisas são muito mais comuns do qeu parece.
Cristy
ResponderEliminarMas podemos tentar perceber as causas do falhanço aqui mesmo. Nós temos 20 % de pobreza, temos tido ajudas imensas de bruxelas, e onde está esse dinheiro ? humm
Onde estão as empresas maravilhosas ? onde estão os centros de competência ?
Eu não sei, o que vejo é um país pobre, dependente do exterior, dependente de subsídios e cada vez com mais desempregados.
"Os países ricos simplesmente não tem estruturas que lhes permitam ajudar com eficiência os pobres"
ResponderEliminarNuvens,
talvez o erro esteja todo aí. Não é de ajuda que esses países precisam, é de justiça. Por exemplo, que lhes comprem os produtos a preços de mercado, e não lhes estraguem os mercados subsidiando os produtos no Ocidente. Que não os façam pagar pela presente crise financeira e económica, causada apenas pela ganância Ocidental. Que não lhes impinjam como ajuda projectos que servem apenas para criar postos de trabalho e gerar riqueza nos países de origem. Que não os usem como lixeira para detritos tóxicos. A lista é infindável.
Não concordo muito com a ideia de que «nós» também precisámos de muito tempo. As sociedades desses países funcionavam antes da nossa intervenção. Mas tiveram que sacrificar a independência e a autonomia aos nossos interesses. Ate hoje. É muito fácil dizer que o colonialismo já acabou e que eles é que não sabem governar nem gerir os seus recursos. Não é bem assim, como pova o que aconteceu na América Latina na segunda metade do século passado.
Se isto te interessa, recomendo a leitura de Naomi Klein «The Shock Doctrine». Embora não seja directamente sobre a ajuda ao desenvolvimento, é muito escalrecedor sobre os métodos usados para manter uma parte do mundo completamente dependente da outra.
Cristy
ResponderEliminarJustiça é um bem muito escasso , nem por cá vai havendo.Basta ver os casos mediáticos, nenhum até agora resultou em condenação :)
A questão do comércio concordo que é uma tragédia, mas assim de repente não há sequer ideia de como travar esse problema. Havendo liberdade de comércio obviamente que se compra onde é mais barato e a preços locais, nem fazia sentido outra coisa.
O problema não é pagar-se pouco, o problema é que esses países não tem economia e por isso tudo o que consomem é importado. ou melhor o pouco que consomem, se se lhes dessem mais dinheiro apenas iria inflacionar os preços do produtos importados e em pouco tempo estariam na mesma situação de pouco dinheiro.
As sociedades desses países não funcionavam bem, o haiti não existia as tribos que lá viviam podiam estar até muito bem mas foram conquistadas, Timor era um conjunto de tribos que ainda viviam na idade da pedra quando lá chegamos e o resto não era melhor.
Este foi o drama , a diferença tecnológica. Repara que a china e o japão também tinham um diferencial tecnológico significativo, mas tinham uma cultura milenar e sobretudo em alguns campos até estavam mais avançados, coisa que estas tribos tiveram o azar de não ter.
Dou de barato que a colonização gerou uma data de aberrações, mas isso é para esquecer, agora o caminho tem de ser para a frente e sem ideias feitas.
O problema é que como no caso doméstico do s guetos e bairros pobres, parece não haver ideia de como os erradicar.
Para sistematizar~o que penso:
ResponderEliminar1) a pobreza endémica não se cura com dinheiro
2) o dinheiro injectado deve ser o estritamente necessário para uma ajuda pontual e de garantia de mínimos de dignidade
3) a ajuda deve ser distribuída com vista a criar infra -estruturas de educação e saúde assim como o necessário de estradas e outras vias de comunicação
4) o tempo de intervenção deve ser longo , de forma a pelo menos garantir duas gerações na mudança
5) este sistema não consegue ser implementado com uma democracia
6) este sistema implicaria existência de um acordo mundial
O plano a longo prazo e a necessidade de um espécie de coordenação mundial onde se teria de dividir as responsabilidades faz a meu ver que isto seja impraticável.
Aliás mesmo que se pudesse praticar, rapidamente os abutres habituais estariam em angola a sorver o petróleo, oa diamantes, em timor o que haja para pilhar, só o haiti é que nada tem de jeito, pode ser que essa seja a sua sorte.
«A questão do comércio concordo que é uma tragédia, mas assim de repente não há sequer ideia de como travar esse problema. Havendo liberdade de comércio obviamente que se compra onde é mais barato e a preços locais, nem fazia sentido outra coisa.»
ResponderEliminarNuvens,
Eu aprendi um bom par de coisinhas em "The Globalization of Poverty and the New World Order" do Chossudovsky, de 2003. O dumping é muito pior do que um problema que possamos não travar.
«O problema é que como no caso doméstico do s guetos e bairros pobres, parece não haver ideia de como os erradicar.»
Também já vi que mudaste do "deixem-se de teorias de conspiração" para o "ok, a solidariedade necrófila existe mas a culpa é dos países que não passam da cepa torta". Já está melhor... De qualquer modo gostava que olhasses com atenção para este rosto da solidariedade mundial e diz-me o que vês... Tenho um parolo de um vizinho da frente que é gerente bancário (sou eu que troco os projectores de halogénio do patamar porque o gajo é um fuinha da merda) e confio mais nele do que no presidente do Banco Mundial para erradicar qualquer tipo de problema. Estranho, não é?
«O plano a longo prazo e a necessidade de um espécie de coordenação mundial onde se teria de dividir as responsabilidades faz a meu ver que isto seja impraticável.»
O motivo para esse receio diminuiu um pouco desde a Sociedade das Nações. Hoje em dia, o pior mesmo é o zoocialismo.
Bruce Lóse
ResponderEliminarNão percebo o que entendes por dumping, neste contexto não se aplica o sentido de vender a baixo do preço de custo.
Eu não acredito numa conspiração porque estas acções não são concertadas. Mas sei muito bem que há a tendência de pilhar o que é fraco, mas isso é algo que não muda por decreto.
As acções a nível mundial de solidariedade são mal coordenadas, mas eu chamo a atenção que a nossa SS também tem dificuldades em chegar ao terreno. A falta de eficácia por cá como se explica ? e é local , não há conspirações nem tramoias.
A gestão de dinheiros é uma actividade muito complexa , que não é para todos e que pode correr mal. Entregar dinheiro a ONGs que depois ninguém consegue muito bem fiscalizar....é o início do fim.
«Não percebo o que entendes por dumping, neste contexto não se aplica o sentido de vender a baixo do preço de custo.»
ResponderEliminarProvavelmente estás a pensar em dumping no sentido contrário. Por exemplo. Um cargueiro com cereais ofereceido a uma economia frágil, de base agrícola, é uma granada ecomómica que tem sido usada diversas vezes com efeitos desastrosos e muito pouco "cirúrgicos" :)
"Dou de barato que a colonização gerou uma data de aberrações, mas isso é para esquecer"
ResponderEliminarNuvens,
como se demonstra amplamente no caso do Haiti, é precisamente o que não se deve nem pode esquecer. Porque o método das dívidas continua a ser aplicado para manter os países pobres de bolinha baixa. Embora reconheça que há uma ligeira mudança de mentalidades no FMI we no Banco Mundial. Mas é incipiente.
E dizer que antes de lá chegarem os europeus os timorenses viviam na Idade da Pedra é uma arrogância comum: quem te garante que não estavam muito bem como estavam? Temos vários casos de tribos indianas na América que tentaram e ainda tentam defender o seu modo de vida até à última. Não foi de certeza porque lhes queriam oferecer uma vida melhor em troca.
Os teus pontos (excepto do da democracia, como demonstram vários casos de sucesso :-) sobre como se deve proceder na ajuda ao desenvolvimento, parecem-me todos válidos. mas não adiantam nada enquanto as pessoas as quais pretendemos ajudar não puderem decidir elas próprias que ajuda querem ou não querem. E não adianta de nada enquanto não houver uma verdadeira vontade dos ricos de prescindirem de uma data de coisas para garantir que o sistema económico mundial seja justo. Por essa recomendo esperar sentado.
"Aliás mesmo que se pudesse praticar, rapidamente os abutres habituais estariam em angola a sorver o petróleo, oa diamantes"
Exactamente, os arbutres como os EUA, a França, Portugal e até a Alemanha (que está a descobrir a Angola agora), que para sorverem isso tudo não hesitam em apoiar ditadores da laia de um José Eduardo dos Santos. Porque muito mais importante é proporcionar aos seus eleitores no mundo rico mais confortos ainda, do que fazer justiça aos angolanos.
casos de tribos indianas
ResponderEliminaríndias, claro
Cristy
ResponderEliminarOs abutres não são os países, são alguns membros desses países, e esses vão estar sempre por aí.
quanto ao desenvolvimento, é mais complicado, mas não é a mesma coisa haver universidades, escrita, conhecimento permanente, livros , cultura, uma agregação nacional etc e viver numa tribo perdida.
O conhecimento do mundo e o domínio de conceitos permitem-nos pensar mais e melhor.
Por exemplo um dos defeitos de muitas línguas africanas é o facto de não terem numeração avançada e tempo futuro que permitam por exemplo expressar algo como: vou fazer esta actividade daqui a 303 dias.
Esta particularidade curiosa faz com que eles simplesmente tenham um dificuldade imensa em expressar e compreender o conceito do planeamento. Não por menos inteligência mas porque não tem os conceitos necessários. provavelmente a caça não se planeia a 300 dias, ou as tribos nunca necessitaram de fazer censos, a questão mantêm-se.
Mais exemplos há em que se demonstra como são fundamentais os conceitos para se poder pensar de forma correcta. Como imitar palmas para além da capacidade de contagem da língua, se esta for de 5, tentar imitar 7 palmas é muito difícil, e é algo trivial para nós.
não digo que eles eram menos felizes, apenas que as sociedades deles eram muito frágeis e em contacto com a nossa foram absorvidas.
dito isto , um ponto
E não adianta de nada enquanto não houver uma verdadeira vontade dos ricos de prescindirem de uma data de coisas para garantir que o sistema económico mundial seja justo.
Isso simplesmente não acontece, ninguém prescinde do que tem , quanto mais os ricos, que são quem mais preza o vil metal :D
claro que eu tenho uma certa crença que isto não vai sair da cepa torta até haver alterações profundas e radicais nos equilíbrios de forças. Ou pelas mudanças climáticas , ou pela ascensão da china e india. etc
MAs mesmo assim as perspectivas são de as condições piorarem e não de melhoria, só com menos gente, mais cultura e menos pobreza podemos ir a algum lado.
A minha perspectiva ?
Com tempo haveremos de criar energia ilimitada e partir para o espaço, deixando a terra como um imenso haiti :D aposto
Nuvens,
ResponderEliminar"Os abutres não são os países, são alguns membros desses países, e esses vão estar sempre por aí."
É verdade, mas somos nós que os elegemos e nós que beneficiamos.
E é evidente que não sou ingénua ao ponto de pensar que tribos da «idade da pedra» hoje ainda têm uma possibilidade de sobreviver. Mas se não as deixámos em paz - e a outros que da idade da pedra não tinham nada - por interesses nossos muito claros, então agora cabe-nos grande parte da responsabilidade pela sua situação. É um facto.
O que fazemos com essa responsabilidade, é outra questão. E aí, lamento profundamente, mas partilho do teu pessimismo. O que não me impede de protestar, claro ;-) Venham então essas naves espaciais, se não houver outra solução ...
Ficou a pesar-me na consciência ter dito mal do meu vizinho da frente, que ainda por cima pouco vejo e mal conheço. Não vou pedir uma procissão de desgravo à Senhora de Fátima mas registo aqui esta pequena penitência. (e o que é certo é que sou sempre eu que troco a porcaria dos projectores)
ResponderEliminardesagravo
ResponderEliminar(atenção linguistas)
Ludwig,
ResponderEliminarQue interessa o que as outras pessoas fazem? Se fôssemos a seguir à risca o lema da injustiça de que falas, e que eu até tendo a aceitar, então teríamos de dar mais, muitíssimo mais do que 100 euros. Acho que nem o Rawls era tão santo.
Teríamos de dar algo que, ao mesmo tempo, não nos retirasse a capacidade de produzir riqueza, mas, tirando isso, teríamos de baixar o nosso nível de vida para valores de miséria equivalentes aos deles. Lá porque as outras pessoas não dão dinheiro não é desculpa para eu continuar a fazer o que é injusto. Se é justo dar mais, devemos dá-lo, ainda que as outras pessoas sejam injustas e não dêem nada, e que a injustiça delas contribua para que eu tenha de dar tanto. Sei que é um problema incómodo, mas não deixa de ser um problema.
Nada do que a Cristy disse lá em cima sobre a história do Haiti justifica uma sucessão de guerras civis que só pioraram a situação. Até poderia justificar que (hipótese absurda só pela desproporção de forças ) declarassem guerra à França ou outros países “responsáveis” pela sua situação mas não que se chacinem uns aos outros. E não me venham dizer que a guerra é promovida pelos Estados Unidos. Isso é como a questão da droga: há gente que se droga porque há traficantes ou há traficantes porque há gente que se droga?
ResponderEliminarMas se devemos contribuir com os nossos impostos para responder às nossas responsabilidades de países menos pobres, porquê só o Haiti? Só porque a televisão nos comove com a objectiva para lá virada. Porque não a Somália, o Congo, o Bangladesh, Moçambique. E a Índia? As centenas de pessoas que morrem todos os dias nas ruas de Bombaim e Calcutá? São responsabilidade nossa ou dos indianos ricos ?
E os portugueses que vivem abaixo do limiar da pobreza?
João Pedro,
ResponderEliminar«Que interessa o que as outras pessoas fazem?»
É determinante na eficiência com que os fundos são aplicados para resolver um problema. Por exemplo, dividir esporadicamente dinheiro por uma data de instituições com objectivos diferentes é muito menos eficiente que ter um investimento constante com o qual quem precisa possa contar.
«Se fôssemos a seguir à risca o lema da injustiça de que falas, e que eu até tendo a aceitar, então teríamos de dar mais, muitíssimo mais do que 100 euros. Acho que nem o Rawls era tão santo.»
Devíamos dar mais que 100 euros. 100 euros por mês, por exemplo, dependendo do rendimento. Ou algo assim. Mas esta ideia de justiça não exige que todos fiquem com a mesma riqueza. Se eu tenho 20 vezes mais não tenho por isso de dar 95%. É justo que uma pessoa possa ter mais riqueza que outras.
O injusto é uns terem tão pouco, e para remediar isso basta uma pequena fracção do muito que alguns têm.
Cristina,
ResponderEliminar«Mas se devemos contribuir com os nossos impostos para responder às nossas responsabilidades de países menos pobres, porquê só o Haiti?»
Eu não defendo que seja só o Haiti. Um grupo de países, incluindo Portugal, prometeu há décadas na ONU dedicar 0.7% do PIB a ajudar países em desenvolvimento. Quase nenhum desses cumpriu essa promessa.
Acha que 0.7% do PIB é demais para ajudar pessoas a morrer à fome? Ou será de menos? Qual é a percentagem dos nossos luxos que seria justo cedermos para ajudar essas pessoas?
Parece-me que o problema é que o chavão "é o nosso dinheiro" disfarça o cálculo subjacente pelo qual uns acham mais justo comprar a terceira televisão em vez de ajudar quem vê a família toda a morrer de fome e doença.
Note que eu não estou a dizer que temos de dar todo o dinheiro. Estou a dizer que devemos ser explícitos nas contas que fazemos a quanto dinheiro devemos dar, porque penso que muita gente, se lhe dessem a escolha explícita entre ter uma TV no quarto além da da sala e da cozinha ou salvar 10 crianças de morrer à fome não se iam pôr com "o dinheiro é meu, os miúdos que se f....".
Mas para isso funcionar não podemos ter um sistema em que cada um dá o que quer quando quer. Temos de ter algo que funcione, mesmo que imperfeitamente, como funciona o sistema de saúde, de ensino, de justiça, segurança social, etc.
E quanto aos pobres portugueses penso exactamente o mesmo. A diferença é que essa pobreza relativa é relativa, não absoluta. O limiar da pobreza em Portugal é 360€, aproximadamente. Isso é cinco vezes mais que o ordenado médio no Haiti.
«E não me venham dizer que a guerra é promovida pelos Estados Unidos. Isso é como a questão da droga: há gente que se droga porque há traficantes ou há traficantes porque há gente que se droga?»
ResponderEliminarÉ uma pergunta que não convém fazer epidermicamente, não é? Em 2008 os US of A exportaram 600 mil milhões de dólares em armamento, mais do dobre de há 20 anos, como podemos consultar por exemplo em http://www.sipri.org. É verdade que este número não nos diz muito sobre as acções dos US na Guerra Fria nem do seu papel na história recente da América Central e do Sul, nem do papel da indústria do armamento na economia americana... Por isso é que convém ler umas coisitas sobre o assunto. Se há coisa tão irritante como o anti-americansimo primário é o pró-americanismo primário.
De qualquer modo concordo com o paralelismo entre a participação dos US numa série de conflitos pós-II Guerra e a participação do Afeganistão no inferno da toxicodependência, independentemente de cada um ser a causa ou o efeito na sua especialidade.
JOão Pedro
ResponderEliminarTeríamos de dar algo que, ao mesmo tempo, não nos retirasse a capacidade de produzir riqueza, mas, tirando isso, teríamos de baixar o nosso nível de vida para valores de miséria equivalentes aos deles.
Isso não é verdade.
Nós vamos ter de baixar o nosso nível de vida, ou pelo menos aquilo que entendemos como tal, porque simplesmente não há recursos no planeta e as viagens espaciais ainda são uma quimera.
Quando cada chinês quiser o seu frigo, a sua máquina de lavar, o seu carro etc diz adeus ao planeta como o conhecemos.
Temos de consumir menos, poluir menos, comer menos, sermos menos.
9 Biliões de cromos em 2050 é dose, e não há tecnologia que não a nuclear para produzir energia para esta gente toda.
Estamos metidos num problema com soluções muito complexas, duras e nada nada agradáveis.
Agora uma coisa se sabe, se não ajudarmos o dito terceiro mundo, ele acabará por extravasar as fronteiras geográficas e isso ninguém quer.
Temos de os ajudar nem que não seja para nos ajudarmos a nós. As doenças são só um dos petiscos que ter populações no limiar da fome pode trazer.
Tirando o factor ético , e é tirar muito, o simples egoísmo colectivo deveria chegar para perceber que estamos todos no mesmo barco.
um exemplo, foi descoberto mais petróleo entre o brazil e africa, aparentemente há a possibilidade de enormes zonas do atlântico serem poços de biliõe de barris de petróleo.
ora sabe-se que devemos reduzir as emissões de CO2 , Uma das fontes é a queima para energia, como por exemplo os geradores.
Se não ajudarmos o 3º mundo a sair da estagnação , continuarão a queimar para produzir electricidade, contaminando o planeta. Podemos dizer que os EUA produzem mais. O problema é que os EUA podem deixar de produzir, é uma questão de vontade política, o terceiro mundo não.
por este andar não vamos deixar muitos descendentes , a meu ver a espécie humana está à beira de uma extinção em massa e nada está a fazer para a evitar.
A evolução não se compadece com a incapacidade de aprendizagem
Nuvens,
ResponderEliminarDisseste tudo. O problema é que a generalidade dos decisores à escala mundial não viu ainda o filme (como biliões de individuos ainda não viram) e os que viram acham que das duas uma: ou entretanto a tecnologia dá um salto e resolve as nossas dores ou em alternativa têm um bunker em qualquer lado.
Anyway, tendo em conta o número incontável de espécies que surgiram e se extinguiram no nosso planeta não é far fetched achar que a nossa também se extinguirá pela extrema falta de adaptação que estamos a demonstrar. Já "dominamos" o mundo. E só sairemos dele se, enquanto espécie, fizermos um esforço colectivo e nos apercebermos que quando os sinos tocam, eles tocam por cada um de nós.
Infelizmente os biliões de Pedros e Cristinas preocupados com os seus impostos e qualidade de vida serão a nossa ruína. Pouco importa na pior das hipoteses seremos matéria que irá formar novas estrelas. :)
Vieram recentemente a lume notícias sobre o facto de a cooperação ter sido, afinal, um elemento fundamental na evolução das espécies, e não apenas a competição (ou lei do mais forte), como se dizia até aqui. Não li ainda o estudo mas, se a conclusão é válida, é um exemplo de como o conhecimento científico pode contribuir para decisões políticas acertadas e aceites como boas pelas populações em geral. O problema está em divulgá-lo suficientemente para que possa pressionar (ou ao menos equilibrar) o sentido oposto. Talvez uma questão de tempo e de empenho...
ResponderEliminarCristina,
ResponderEliminaré verdade, se exceptuarmos a ocupação do Haiti portropas dos EUA entre 1915 e 1935, o facto de eles terem levado todo o ouro do banco central haitiano para o First National Bank de Nova Iorque, reinstituirem a boa tradição do trabalho forçado, suprimirem brutalmente a Cacos, uma guerrilha que queria a independência, e terem massacrado 246 camponeses em Les Cayes em 1929, e mais uns mimos iguais, sim, acho que não se pode falar da qualquer responsabilidade dos EUA. Pessoas mal intencionadas poderiam talvez chamar a atenção para o facto de, em seguida, Washington ter apoiado os ditadores todos - inlcuindo o famigerado Papa Doc Duvalier. Há ainda quem aponte a introdução forçada de uma economia de mercado liberal pelos EUA através do Banco Mundial após a invasão de 1994 como uma das causas principais para o prolongamento da miséria. Mas isso é gente que não tem juízo. Afinal, o Haiti teve guerras civis, por isso temos toda a justificação em lavar as mãos dessa gente.
Vicente,
ResponderEliminarO motor principal da selecção natural é a competição. Mas não a competição entre organismos. É a competição entre alelos, aquelas variantes em cada sítio (locus) do ADN das quais cada organismo só tem um número limitado (duas, no nosso caso), e que por isso competem por espaço na população.
O resultado dessa competição entre alelos é muitas vezes a cooperação. Um organismo é exemplo de como milhares de genes, em loci diferentes, cooperam entre si.
Se tiver paciência de ler, há tempos escrevi um post sobre isso.
Ludwig e Cristy,
ResponderEliminarSejamos claros numa coisa. Isso da herança histórica do colonialismo e outras atrocidades servir de justificação para pagar tudo e mais alguma coisa aos coitadinhos que são pobrezinhos não pega.
Sempre fomos belicosos, e sempre houve guerras entre povos, pelos motivos mais banais, e sempre houve pilhagens, e os mais fortes sempre roubaram os mais fracos, até muito recentemente. Como um povo não é coisa que "faleça" de um momento para o outro, essas "dividas" do passado tendem mais para o infinito. Por nada ser para sempre, nem o castigo, é que existem prescrições nas leis. Não faltava mais nada que eu ou os meus sucessores terem de assumir dividas "morais" que os meus antepassados arrecadaram. Está prescrito! Agora virem-se com o que têm.
Os alemães também foram espremidos até ao tutano depois da primeira guerra mundial, tanto que o estado em que ficaram permitiu que se instalasse o clima politico que levou à ascensão de um personagenzinho e sua trupe, que nos arranjaram a segunda guerra mundial. Acho que os franceses, ingleses e outros que tais nos deviam pagar pelo facto de terem induzido a segunda guerra mundial! Parece-te absurdo? Tanto como eu pagar 10% do meu trabalho para "pseudo" vitimas. Na mesma ilha, com os mesmos recursos, floresce um dos maiores paraísos turisticos mundiais.
Deixemos-nos de conversa fiada, porque a realidade é que a prosperidade actual dos países depende mais da capacidade actual das populações locais, do que de recursos roubados no tempo dos avozinhos.
A Alemanha e o Japão são gigantes económicos, depois de arrasados e/ou "roubados" no inicio do século, porque não vivem dessa pedinchice que é conversa de preguiçosos. É eles queixarem-se que têm fome, e em vez de aprenderem a pescar querem que os que têm mais peixe o dêem, porque senão têm de passar a hora do telejornal a ver imagens de choque, acompanhadas de reportagens de "filosofia barata" a apelar ao sentimento.
A questão dos 0,7% é outra utopia originaria de uma fase da história onde nasceram das maiores aberrações sociais, e das mesmas cabeças que depois de uma tragédia natural ter assolado um território português, abriram as portas a todo o nativo que quisesse imigrar para fugir da tragédia. O resultado é que a população válida para o trabalho debandou toda, e foram os outros que tiveram de recuperar e reconstruir o que foi abandonado pelos locais. Felizmente que se lembraram de proibir outro êxodo igual no Haiti, com as consequências para o país que isso traria.
António,
ResponderEliminarpara sequer começar a discutir este assunto contigo, era preciso que primeiro te informasses sobre o funcionamento da economia global ontem e hoje. O teu comentário indica que não é este o caso. De modo que iriamos discutir ideologias. E eu para isso não tenho paciência - até porque não tenho nenhuma ideologia para defender. Mas se precisares de literatura para perceber o factos, avisa, coloco à disposição com todo o gosto. Desconfio, no entanto, que isto é mais para justificares perante ti próprio porque é que não tens nenhuma responsabilidade pelo resto do mundo, não é?
Cristy,
ResponderEliminarA realidade é que por muito pequeno que o mundo seja hoje graças à globalização, continua a funcionar demasiado por apelos emocionais, que na maior parte dos casos são manipulados. A distancia encobre todo o resto.
A questão aqui não é de ideologia. A questão é mesmo de sentido practico sobre as coisas. Em tempo de tragédias, ajuda-se no momento pagando a quem lá vai ajudar, e apoiando a reconstrução, por muito ineficaz que essa aplicação de fundos seja. Quando se fala de dedicar uma percentagem do produto a ajudar outros, em particular vindo de reuniões da ONU, é impossível não pensar no caso das comitivas enviadas para países que necessitam de ajuda, em que a comitiva absorve a quase totalidade dos fundos com burocracias. É o embaixador/director da comitiva que vai para o meio da miséria, mas, continua a comer como se estivesse em casa, e que necessita de 2 secretárias para o apoiar e também se tratam muito bem, e por aí fora. Junta-se 1 milhão de euros para ajudar, mas, a comitiva que vai levar o dinheiro da ajuda consome 90% deste em mordomias. Pelo contrário, em tempo de catastrofe só lá vai quem trabalha e o dinheiro é muito melhor gasto.
A ajuda corrente, é uma forma de politica ignóbil, que apenas fomenta o seu próprio sustento. Se o governo dos países a ajudar não colaborar, nem se consegue chegar perto dos necessitados, e tudo o que mude o status quo é um risco para esses governos. Se os governos querem ajudar o próprio povo, já está percorrido quase todo o caminho, e a ajuda internacional é apenas um complemento. Não se ajudava o Haiti antes da catástrofe, porque valham o que valerem os Haitianos, ajudar o povo era enfraquecer o poder dos governantes, e isso só é possível contrariar à força, e voltamos ao problema inicial: pela força o povo perde sempre.
Por isso não justifico para mim porque é que não sinto responsabilidade pelos outros, porque na realidade a "ajuda" ajuda mais quem ajuda do que quem é ajudado.
E não é por questões ideológicas, nem por falta de conhecimento, porque a teoria económica vigente e passada já eu a engoli de assentada na faculdade, por isso não tentes seguir por aí. Mas, por conhecer o suficiente da história e dos mecanismos politicos actuais e passados é que não me comovo com discursos inflamados, estiradas ideológicas e conceitos genéricos como esse da ajuda para o bem global.
This is a bit off topic here but it is related with the concept of justice.
ResponderEliminarThe great American intellectual and historian Howard Zinn [1] has just died, aged 87. He wrote probably one of the most accurate History books of the USA [2], not one of those fairy tales story books that many establishment historians like to spoon feed the masses. A good video about his life can be viewed here [3].
Of course, many people have never heard of Howard Zinn and not much mention of his death in the news but, as Mark Twain said, "If you tell the truth, you'll eventually be found out."
[1] http://en.wikipedia.org/wiki/Howard_Zinn
[2] http://en.wikipedia.org/wiki/A_People's_History_of_the_United_States
[3] http://www.democracynow.org/2010/1/28/howard_zinn_1922_2010_a_tribute
António,
ResponderEliminarparece que o problema é que não me fiz compreender. Estou inteiramente de acordo contigo que a "ajuda" não resolve nada. E muito menos na forma de «caridadezinha» praticada hoje, e que me enche de repulsa.
Dito isto, a velha treta da burocracia e das mordomias dos cooperantes que engolem os dinheiros é só isso: treta. Não é o caso das organizações sérias. Por exemplo, na Alemanha as organizações não governamentais são examinadas por uma instituição independente (DIZ) e recebem um selo mediante certas condições. As cerca de 250 que têm o selo gastam uma média de 14% dos donativos na administração e na publicidade. Quero crer que a Alemanha não é excepção. Mas isso é um parêntese para não deixar aqui afirmações tiradas do nada e que também só servem para desculpar a inércia individual.
Quando eu falava de perceber o funcionamento da economia global no passado e no presente, não me referia a teorias económicas, mas a factos. Esses são acessíveis a todos e demonstram claramente que com o sistema actual nunca vai mudar nada. Posso pegar num exemplo que tu próprio mencionáste. Dizes que o Haiti podia ser um paraiso turístico se quisesse. Eu conheço alguns desses «paraísos turísticos» nos países em vias de desenvolvimento. Pertencem a empresas do mundo industrializado que obtiveram as licenças porque têm os meios para as pagar ao preço que lhes apetece e com os quais os autóctones não podem concorrer. Os lucros que depois auferem são todos retirados do país e - à parte meia dúzia de empregos precários a um nível muito básico - não trazem qualquer benefício ao país. Quando um governo tenta impor a regra de que pelo menos uma parte dos lucros tem que ser reinvestdido no país, acenam-lhe logo com sanções por violação das leis do mercado livre. É um pagode.
E isto é apenas um exemplo de muitos, muito mais complexos e graves, mas que resultam apenas numa conclusão: não é com este sistema que vamos lá. Como se viu na presente crise financeira, penso. Também esta foi resultado da ganância desmedida de uma parte do mundo que «faz porque pode». Quem está a pagar a sério são aqueles que não tiveram nada com isso. Para variar.
Hidro,
ResponderEliminarThanks for the Zinn advice. Right at the beginning I read something obvious I'd never thought about. One of the top reasons to angle for India by taking such a long seaway was the fall of Thrace to the Ottomans... Once the launchpad for trading with the far East, Constantinople became just like the cork in a bottle! Never saw it that way :)
Bruce,
ResponderEliminarI can assure you that much more light will be shed on the darker areas of the European "discoveries" as you read further."In here you can read up to page 6 of 1st chapter".
Though most mainstream (read establishment) media ignored his death, this book seems to be selling well in Amazon.com and at Amazon.co.uk it has even sold out:
#1 in Books > History > North America
#9 in Books > History > Countries & Regions
#13 in Books > Society, Politics & Philosophy > Government & Politics
Regarding Haiti, the main questions many people should really be asking now are: What are those African people doing there in Haiti today? Where are the native Arawak people that inhabited the island of Hispaniola (now Haiti + Dominican Republic) when the Spaniards first arrived there? What happened to them?