sábado, novembro 28, 2009

O negócio que se foi.

Em Julho o presidente da ASSOFT queixou-se da luta «até à data desigual, entre o valor da Propriedade Intelectual e da Cultura (que tantas batalhas tem travado desde o século XIX para se impor e conseguir criar condições para que a produção cultural possa evoluir e acontecer) e a Pirataria»(1). Mas não parece que as condições para a produção cultural tenham piorado com a partilha de informação. A investigação científica – e a ciência é uma parte importante da nossa cultura – tem beneficiado muito desta tecnologia. A educação também, e não se preserva nem se fomenta a cultura sem educação. A cultura tem sido estimulada pelo acesso à informação, a troca livre de ideias e pela criação cultural amadora, não no sentido de não ser remunerada mas no sentido de ser por gosto em vez de por negócio. Se a Cultura, com maiúscula, for o conhecimento e ideias cultivados na sociedade, hoje está melhor que nunca. E mesmo restringindo o termo ao negócio da música e cinema, também está bem de saúde. Recordes de bilheteiras todos os anos, cada vez mais dinheiro em concertos e a inovação constante nas formas de ligar os autores aos seus clientes. Mas é disto que alguns se queixam.

O filme «Ink» estreou em Janeiro no festival internacional de Santa Barbara. Sendo uma produção independente, não conseguiram que fosse exibido em quase mais lado nenhum. Nem têm dinheiro para o publicitar. Segundo Kiowa Williams, um dos produtores, a dificuldade foi as grandes distribuidoras de «Hollywood alegarem não saber como comercializar o filme ou que não tem audiência». Mas este mês alguém pôs uma cópia do filme na rede BitTorrent. Em poucos dias centenas de milhares de pessoas já o tinham visto e saltou para 16º lugar em popularidade na International Movie Database (2), um empurrão enorme às vendas do DVD.

«Se isto é o melhor que podia ter acontecido ao nosso filme? Absolutamente! Era impossível que tanta gente descobrisse o filme de outra forma, ou que o nosso MovieMeter na IMDb tivesse disparado uns espantosos 81,000% depois de poucos dias de actividade em sites de torrent. O que Hollywood contabilizaria como dólares perdidos nós contamos como fãs ganhos»(2)

Se bem que este sistema seja bom para quem cria obras de qualidade, que assim chegam a quem as aprecia, não é bom para a integração vertical que domina a salsicharia a que chamam "indústria cultural". Para vender Spice Girls às rodelas de plástico é preciso controlar a distribuição, não só para cobrar a cada ouvido mas também para não perder o investimento em publicidade só por surgir algum concorrente menos financiado mas com mais talento.

Mas o pior é para os intermediários. Aqueles que não acrescentam valor ao produto e apenas lucram cobrando o acesso. Esses estão tramados. Um exemplo nacional são os clubes de vídeo. A Joana Pereira Bastos, no Expresso, escreveu «Videoclubes não param de falir devido à pirataria de filmes. Governo admite cortar acesso à Internet a cibernautas que façam downloads ilegais.»(3) É pena que a maioria dos jornalistas ainda não tenha percebido que não são os downloads que são ilegais. Nem é claro que sejam, nem se tem processado pessoas por fazer download, nem há forma prática de os impedir. Todas as medidas legais até agora têm visado os uploads, que é o contrário. Partilhar é que é ilegal. Ninguém vai preso por ver vídeos do YouTube. O que querem é cortar o acesso a quem os puser lá.

Mas apesar disto a jornalista acerta no título. «Internet arrasa clubes de vídeo». Não é a "pirataria". É a Internet mesmo. Os clubes de vídeo estão a ir à falência simplesmente porque não servem para nada. Fitas e rodelas de plástico já não são a melhor forma de distribuir filmes. A fibra óptica é que é. Seja pelo download ou pelo Vídeo on Demand (VOD), tem-se o filme em casa sem precisar andar à procura na loja. O Paulo Santos, da FEVIP, explica que o VOD não é problema por causa dos «custos de manutenção do sistema tecnológico associado ao VOD, nomeadamente à digitalização e armazenamento digital das obras»(3). Isto parece um disparate porque os "piratas" fazem exactamente o mesmo – digitalização, armazenamento e distribuição – a custo zero. Mas não é completamente disparatado porque, para cobrar o acesso, é preciso centralizar a distribuição e isso já tem custos.

Infelizmente para o Paulo Santos, clubes de vídeo e mapinetas, as pessoas não são idiotas e percebem que a distribuição em si é gratuita. É por isso que há "pirataria" na Internet. Todos os "custos" de distribuir filmes e músicas vêm de alguém meter dinheiro ao bolso. Que os autores lucrem com a obra todos concordam. Por isso cada vez se paga mais por concertos ou directamente aos criadores. E há serviços que vale a pena pagar. Daí os recordes de bilheteira nos cinemas. Mas os proprietários de clubes de vídeo e negócios afins têm de aprender com a história. Os águadeiros que conseguiram continuar a vender água puseram-na em embalagens mais atraentes ou arranjaram outras formas de convencer os clientes a comprar. Os que tentaram salvar o negócio exigindo que se proibisse a água canalizada não se safaram.

Mapinetas, sec. XIX
Imagem copiada de Profissões Antigas.

1- TEK, Partilha ilegal de ficheiros na Internet: afinal onde está o negócio?
2- TorrentFreak, 10-11-2009, Indie Movie Explodes on BitTorrent, Makers Bless Piracy
3- Expresso, 25-11-09, Internet arrasa clubes de vídeo, via MAPiNET

70 comentários:

  1. Belo exemplo, o dos aguadeiros.
    O exemplo do Ink é um entre muitos, e o que as indústrias ligadas ao entretenimento não querem ver ou querem até esconder ou minimizar é o potencial da Internet como veículo de distribuição. Este estrangulamento na distribuição que elas impõem, forçando a continuação de distribuição física dos seus produtos, só serve para fomentar novas tecnologias e metodologias de distribuição online feitas e utilizadas por aqueles que estão um passo à frente. Que é a vasta maioria das pessoas...
    Todos os estudos independentes sobre o impacto da partilha de ficheiros nas vendas de música, por exemplo, dizem o mesmo: os artistas continuam a ganhar dinheiro, seja através da venda de pacotes de luxo, mercadorias ou concertos. É quem faz a distribuição que anda a perder dinheiro. Porquê? Porque não a fazem como os consumidores a querem!
    Digo e repito, é o mercado que se adapta (mais cedo ou mais tarde) à vontade dos consumidores, não o contrário. Mais cedo ou mais tarde, estes sistemas draconianos com pés de barro cairão.

    ResponderEliminar
  2. Totalmente de acordo quer com o texto quer com o comentário. Este é um bom exemplo, entre muitos outros possíveis, de como o mercado é kafkiano logo injusto...mas isso levar-nos-ía a outros voos, nomeadamente a um tipo de análise mais política-ideológica.
    Pode ser que o Ludwig Krippahl se sinta tentado a fazê-la um dia destes...

    ResponderEliminar
  3. E eu aqui ainda a pagar água! Vou já fazer um download de um metro cúbico do Tejo via torrent.

    ResponderEliminar
  4. Patrícia,

    Sim, se eles tivessem aproveitado o Napster, que tinha um registo central de quem trocava o quê, e tentado acrescentar-lhe um serviço pago que oferecesse algum valor adicional (novidades, selecção inteligente de músicas, melhor qualidade, etc) tinham feito um bom negócio.

    Mas ao pisar o Napster levaram o pessoal a redes cada vez mais distribuidas, e agora fazer dinheiro com o Kadmillia ou a DHT do bittorrent é impossível, porque ninguém sabe quem anda a fazer o quê.

    E além de assumirem a premissa duvidosa que os downloads gratuitos são a razão principal para não vender os CD, ainda assumem a premissa absurda que se castigarem quem troca ficheiros vão ganhar clientes...

    Francisco,

    Neste caso não me parece que o mercado seja um problema. Há pessoas de talento que têm um serviço pelo qual outros querem pagar, e entre esses o mercado funciona bem. O problema é tentar distorcer o mercado com leis que precisam castigar judicialmente quem partilha uma música que é vendida a cinquenta cêntimos, e esse valor já só por causa do monopólio legal.

    Penso que o mercado é injusto e precisa de ser acompanhado de formas de redistribuição e garantias de serviços essenciais para funcionar bem. Mas aqui o que é kafkiano é a lei que tenta distorcer o mercado, que leva ao absurdo de tentar distinguir entre sequências de zeros e uns quais são "propriedade intelectual" de umas companhias e quais pertencem a outras.

    ResponderEliminar
  5. Mário Miguel,

    Água ainda não, até porque é um bem material que não pode ser infinitamente copiado. No entanto, se comparares a proporção entre o preço do metro cúbico a que pagas a tua água e o teu ordenado, com o que era essa proporção há cem anos, penso que verás que, na prática, é quase o mesmo que aconteceu com os bits. No verão comprei uma piscina de plástico para os miudos. Se tivesse de comprar 13 m^3 de água aos águadeiros tinha ficado arruinado...

    Mas se quiseres outro exemplo, tens as tabelas de logarítmos. Antigamente eram segredo de estado e valiam mais que o seu peso em ouro, e serviam para se fazer multiplicações que fazes de borla, e com menos esforço, com o teu PC.

    ResponderEliminar
  6. Ludwig,

    O meu ponto era, mais concretamente, que os aguadeiros não acabaram. Há é menos e mudaram a sua estratégia de distribuição. No entanto continuam a haver (EPAL, Luso...) e tu continuas a pagar a água, como antigamente...

    ResponderEliminar
  7. Mário Miguel,

    Sim. Era esse o meu ponto também. Hoje pagas filmes, música e o que mais transferires aos ISP, a ligação à net é um bem essencial como a água canalizada e o mercado alternativo, das águas engarrafadas, sobrevive ou por ter custos baixos ou por vender algo de valor acrescido, como garrafinhas xpto ou águas de dieta (marketing fabuloso...)

    ResponderEliminar
  8. "águas de dieta (marketing fabuloso...)"

    Mesmo assim, fica a anos luz da homeopatia, se falamos em vender agua por um preço ridiculo...

    ResponderEliminar
  9. Lud,

    Continuas a desiludir-me...
    O texto do "outro senhor" diz que alguém pagou 5500 milhões de euros pelo pirate bay, e tu nem questionas isso?
    De repente a pirataria, gratuita, vale 5500 milhões de euros, ou seja, o rendimento per capita da Suécia subiu 1000 euros num ano, e tu não dizes nada.
    Não me interessa se o valor é falso e manipulado, ou se alguém consegue lucrar efectivamente o suficiente para pagar isso a outrem, ou se a taxa de juro está tão baixa, que uma rentabilidade de 0.2% ao ano se tornou aceitável. Se alguém lucra com a pirataria informática, o teu modelo "ideal", está com um rombo.
    Afinal se eu crio algo e um engravatado ganha 5500 milhões para pagar algo que tu dizes não existir, algo está mal.
    Está tão mal como gravar e vender com a "mama" a reverter para os "copiadores" autorizados. Está tão mal como não comprar por 10 euros ao autor mas dar 5 ao paspalho que vende na feira, porque os 10 euros alimentam mais bocas que os 5 da feira, que nem os cofres do estado enchem (os mesmos que depois se vazam a pagar subsídios e rendimentos a esses parasitas que dizem não ganhar nada).

    Porque a pirataria ou é um negócio de lucro nulo, ou é tão imoral como vender rodelas e atiçar policias. Aplicando a mesma teoria que hoje se aplica ao trafico de drogas. Descriminalize-se o "consumidor", mas, vá-se atrás de quem lucra. Neste caso o ISP, os alojadores de sites, os fabricantes de hardware, etc. Que são quem lucra mesmo com esta treta.

    ResponderEliminar
  10. António,

    «O texto do "outro senhor" diz que alguém pagou 5500 milhões de euros pelo pirate bay, e tu nem questionas isso?»

    O texto diz que alguém estava a pensar pagar pelo Pirate Bay. No entanto o texto é de Julho, e ninguém chegou a comprar o Pirate Bay até agora. Vou questionar o quê?

    «Se alguém lucra com a pirataria informática, o teu modelo "ideal", está com um rombo.»

    Se alguém lucra com a pirataria é porque o mercado está a ser distorcido, criando uma diferença entre o preço de equilibrio e o preço praticado.

    Isso acontecia antes da Internet, quando as leis de copyright criavam uma grande diferença entre o custo real de um CD e o preço cobrado pelas editoras e, além disso, havia compradores para CD. Nessa altura os piratas faziam bom dinheiro vendendo CD (ou cassetes) copiados em feiras ou à porta do Metro.

    Agora as leis de copyright são cada vez menos eficazes a distorcer o mercado. O valor do CD está a cair, e isto afecta tanto o da loja como o do pirata. Por isso à porta do Metro agora vendem bolos, fruta e guarda-chuvas. Um efeito nítido da Internet foi fazer com que a pirataria -- no sentido da venda de CD e DVD contrafeitos -- perdeu muito da sua rentabilidade.

    «Aplicando a mesma teoria que hoje se aplica ao trafico de drogas.«

    Aplicar a mesma "teoria" que se aplica às drogas é disparate porque a cópia de ficheiros não é um problema de saúde pública.

    Penso que se devia aplicar a mesma "teoria" que se aplica às anedotas, à matemática, às jogadas de xadrez ou até às teorias. Cada um que as copie à vontade que não faz mal a ninguém, e quem quiser fazer negócio da venda de 0s e 1s que arranje maneira de convencer os compradores a dar dinheiro, porque a lei não é para isso.

    ResponderEliminar
  11. Engraçada essa comparação do aguadeiro... e já agora: porque razão os cinemas estão à parte dos clubes de video e afins??? Será que apenas os cinemas têm o direito à distribuição e exploração dos filmes? ou estes já não são maus da fita e só os clubes de video é que são...
    Isto é tudo uma treta... esta conversa já cheira mal...
    Existem em Portugal pelo menos 1 milhão de consumidores de filmes em clubes de video... muito mais do que no cinema ou em nos vod. E esta é que não dá para aceitar, né?
    Pois é, mas é dado real. E esta hein??? Habituem-se que os clubes de video só desaparecerão quando o formato fisico tambem desaparecer.

    ResponderEliminar
  12. Alexandre,

    Nem os clubes de vídeo nem os águadeiros são maus da fita por tentarem fazer o seu negócio. Os maus da fita são os que querem proteger o seu negócio proibindo os outros de trocar informação e violando a liberdade de expressão e privacidade das pessoas.

    Quanto aos cinemas, obviamente não precisam disso porque vendem um serviço que as pessoas querem comprar. Se compararmos as falências dos clubes de vídeo por um lado com os recordes de bilheteira todos os anos por outro vemos uma grande diferença entre os dois negócios, apesar da "pirataria" ser a mesma.

    Outra coisa importante: não é a prender pessoas que os clubes de vídeo vão ganhar clientes.

    ResponderEliminar
  13. António,

    esse valor monetário citado pelo Manuel Cerqueira está errado em algumas ordens de grandeza. Houve uma empresa sueca que queria comprar o Piratebay, mas por 60milhões de coroas suecas, o q dá uns 5.5milhões de euros. E queriam tornar aquilo num serviço legal em cooperação com as empresas de conteúdos. Mas o negócio não avançou por falta de investidores.

    Quanto ao resto, o Piratebay, os "ISP, os alojadores de sites, os fabricantes de hardware, etc", não violam direitos de autor. Quanto muito ajudam, simplesmente por existirem. São ferramentas, usadas por aqueles que partilham conteúdos sem fins lucrativos. Os telefones também são usados todos os dias para actividades ilícitas, imorais e mesmo criminosas. Alguém defende que as operadoras telefónicas ou fabricantes de telefones devam ser penalizadas por lucrarem com isso??? Já para não falar nos fabricantes de armas... coisas que matam pessoas em vez de as ajudarem a copiar uns filmes...

    Mais ridículo ainda: se se tivesse aplicado à 20 anos esse principio de culpar e proibir as ferramentas não teríamos em casa os gravadores VHS, com os quais estes senhores dos clubes de vídeo ganham a vida. Há 20 anos eram os gravadores VHS que iam arruinar a indústria, pq podendo-se gravar e ver filmes em casa, ninguém iria ao cinema. Acabaram por ganhar milhões com eles. Hoje é a internet o grande papão, que amanhã será a galinha dos ovos de ouro. Não tenho dúvidas disso. Os clubes de vídeo não existiam à 20 anos atrás, e não vão existir daqui a 20. E não vai ser nenhuma desgraça, apenas progresso.

    Foi a tecnologia que deu a ferramenta que permite o modelo de negócio dos clubes de vídeo. Agora a tecnologia deu-nos outras ferramentas melhores, e já não é preciso ir a uma loja buscar um filme para ver em casa. Tal como não é preciso ir comprar água. Ela vem pelo cano. No dia em que a indústria oferecer serviços decentes, esses filmes virão de forma legal. Até lá vêm de forma ilegal, mas vêm na mesma.

    Se a indústria quer que a pirataria continue, é muito fácil. Basta continuar a "combatê-la" como tem feito até aqui. Sempre que fecham um site ou serviço "pirata", declaram uma grande vitória, e no dia seguinte estão a abrir meia-dúzia idênticos ou melhores. Sempre que aprovam uma lei mais repressiva, arranjam-se formas de a contornar. É uma eterna caça ao rato técnico-legal. Enquanto ela continuar é o status quo dos últimos 10 anos. Esta nova moda de desligar a ligação à internet de quem partilha filmes, etc, não será excepção. O upload será feito indirectamente a partir de servidores.

    A solução para alugar ou vender filmes a quem está habituado a recebê-los pelo cano, não é cortar o cano... é usar o cano!

    ResponderEliminar
  14. Nelson Cruz,

    A minha posição mantém-se desde a primeira hora, e é clara. Eu estou contra a perseguição do tipo que faz download para ver, e contras todos os atropelos que se andam a cometer. Mas, desde a primeira hora que defendo, que se o "download" ou qualquer outra forma de obter cópias envolver circulação de dinheiro, é tão ou mais imoral que a lei proteger o autor.
    Se alguém tem de viver daquilo que cria é o autor, e quem contribuir para que em maior ou menor proporção, lhe permitir evoluir na arte. Não é de certeza moral que o individuo A crie algo, e o individuo B viva de copiar/usar o trabalho de A, e não pague ao A para criar mais.
    Isto é o que faz o tipo que vende pirateado na feira, e o tipo da discoteca, que se não passar a musica do A, não tem clientela, etc. Neste momento, também incluo os ISPs no molho, pois com o preço do download ilimitado, não devem estar a contar que seja a ler páginas de blogues que o trafego seja consumido. E quem tem a consciência daquilo que está a vender, os ISPs, tem tanta culpa como quem vende cópias na feira.
    Outro problema da distribuição gratuita, que o Ludwig tanto defende, é que gera mais artistas, mas, com tendencia para a "normalização". E, arte normalizada, é um conceito abominável. No mundo "Ludwigiano", a arte que prospera é a "arte" de massas, que no caso, por exemplo, da música actual, é a musica que adolescentes ouvem. É o padrão da Internet, que não muda por causa de idealismos bacocos. Actualmente existe interesse em piratear a arte feita com protecção de copyright, quando deixar de haver copyright, a arte vai ser tão boa como os e-mails com 80% de desconto na Pfizer, e fazer tão bem como as cópias que esses mails vendem aos papalvos.

    Os aguadeiros não pretenderam cortar o cano, mas, tal como há quem goste de beber agua que sabe a lexivia, também há quem prefira agua do Luso, a diferença, é que no caso da cópia, alguns ideologos, querem exigir que se canalize agua do Luso, porque ainda não perceberam, que no cano só mesmo aguínha com sabor a lexivia, que é o que é adequado ao cano.
    Há tanto filme caseiro à disposição no YouTube, que é uma boa amostra do que nos reserva o futura da criação cultural de distribuição gratuita. Vão aproveitando e treinando os vosso gostos.

    ResponderEliminar
  15. Caro António,

    Se há alguma coisa que contribuiu para a "normalização" da música, foi o domínio das grandes editoras nas últimas décadas. Só lhes interessava promover os artistas que agradassem às massas, e sobretudo aos adolescentes que eram aqueles com maior apetência para comprar. Na internet, o que se vê, seja lá qual for o tipo de conteúdo (desde blogs, a cartoons, videos, música, etc), é uma grande variedade. Mesmo que algo não agrade às massas à muito mais fácil encontrar o seu nicho. E como os custos de produção e distribuição são muito menores, os criadores podem viver da sua arte com umas centenas de fans devotos. Isto não é idealismo ou cenário hipotético, é a realidade de muitos.

    Quanto ao individuo A criar, e o B lucrar com essa obra sem pagar nada a A, tal apenas é um problema se o A depender exclusivamente do B como fonte de receitas. Se a promoção feita pelo B levar a que A lucre por outras vias, saem os dois a ganhar. E isto até acontece actualmente entre muitos artistas e as suas editoras. Muitos artistas, provavelmente a maioria, pouco recebem da venda de CDs, mas a promoção feita pelas editoras permite-lhes lucrar com actuações ao vivo. Agora há quem esteja a cortar as editoras e a venda de CDs dessa equação, e a acrescentar mais formas de os fans pagarem qualquer coisa, e a darem-se muito bem com isso. A "pirataria" deixa de ser problema, para passar a valiosa divulgação e distribuição gratuita. No Brasil há uma certa cena musical onde os artistas até recorrem aos vendedores de rua para divulgarem as suas músicas.

    Não digo que quem lucre com certos conteúdos, como a música, não deva pagar qualquer coisa aos criadores. Mas quem lucra sem pagar nada não está necessariamente a explorar o criador. E no reverso da medalha, quem paga alguma coisa, não significa que não explore (como tantas vezes fizeram e fazem as editoras).

    O argumento do António foi usado para se taxar as rádios (que lucram com a difusão de música), e depois afinal as editoras até foram apanhadas várias vezes nos EUA a pagar (ilegalmente) às rádios para colocarem as suas músicas no ar! E acabaram por arranjar intermediários para o fazerem contornando a lei. Ora, se a divulgação feita pela rádio é tão valiosa, não será estranho as estações de rádio terem de pagar aos artistas pela permissão de os divulgar???

    No caso dos ISPs há ainda outro problema. Se se taxar os ISPs para distribuir pelos artistas, não será justo dar também uma parte aos bloggers por exemplo? Eu pessoalmente passo mais tempo a ler blogs do que a ouvir música! Também se pode argumentar que os ISPs lucram aqui com o blog do Ludwig, sem lhe pagarem nada! Já para não falar no Twitter, no Facebook, no Google, etc, etc...

    A julgar por alguns filmes "amadores" e semi-profissionais de distribuição gratuita que já vi na net, não temos muito com que nos preocupar no futuro. E são coisas que estão a dar os primeiros passos. As primeiras produções para televisão (coisa gratuita, imagine-se!) também eram de fraca produção e baixo orçamento. Daqui a 10 ou 20 anos vamos-nos rir destas previsões apocalípticas da "morte" da cultura por causa da internet e da "pirataria". Tal como nos rimos hoje das mesmíssimas previsões quando surgiu a rádio, a televisão, os gravadores de cassetes, os gravadores de vídeo, etc.

    ResponderEliminar
  16. A água do luso tem o sabor que dificilmente pode ser obtido na água canalizada, tal como a experiência de ir ao cinema ou a um concerto não pode ser replicada num download. É por isso q aí as receitas continuam a aumentar. O que se vende nesses casos é a experiência, mais do q o conteúdo em si, e isso não vai acabar. Outra coisa que pode ser vendida é a conveniência de acesso. A indústria que crie serviços online que permitam ver o que se quiser, quando se quiser, sem "espinhas", suportados por publicidade ou tarifas razoáveis, tipo Hulu e Spotify, a ver se não fazem sucesso.

    ResponderEliminar
  17. Caro Nelson,

    Eu sou a favor de todas as formas de inovação na distribuição, desde que o contexto seja o correcto. Novos serviços e novas formas de distribuição, não são sinónimo de uniformização, excepto para si e para o Ludwig. Se o artista A fizer uma obra e quiser proteger a mesma de cópia, não vejo porque é que a vontade de um qualquer Nelson, ou Ludwig, ou António, pode prevalecer sobre a dele. Se ele não quer fazer parte da cultura popular, e da distribuição gratuita em massa é um direito que lhe assiste, e se não quer que lhe copiem a obra, não é uma ditadura de maioria que lhe pode impor o que quer que seja. Se esse processo de distribuição é tão vantajoso, e o artista não o quer usar, deixem-no ficar na "miséria" do copyright... Mas, espera... Ah! Pois é! Isto da distribuição gratuita não é para interesse dele, é para interesse do consumidor! Pois é... Já agora castiguem-no! Se ele quer copyright, e "nós" queremos borlas, que pela teoria de alguns, até são mais benéficas para o artista do que ele imagina, vamos castigar o tipo e não compramos nenhuma das cópias do trabalho, nem usufruimos, e vamos ignorar o tipo até ele desaparecer do mercado. Ah! Espera... Nós é que não conseguimos passar sem a obra dele, e o apelo é mais forte do que as teorias da treta. Que se lixe. É do interesse dele que nós usufruamos gratuitamente de tudo o que nos apetece.

    Toda a cedei produtiva envolve custos. Seja o produtor que consegue o som certo, e que como não toca ao vivo, não recebe a não ser pela gravação, assim como o técnico de som que faz com que a banda tenha o som certo, que também só pode receber pela gravação, porque ao vivo a história é outra. Vamos todos passar a ser normalizados, porque distribuição gratuita não permite pagar a estes especialistas, e os que permite pagar não são a mesma coisa. A música vai chegar ao consumidor final na mesma, só que vai perder o factor de qualidade extra. Lá está, passamos a engarrafar agua da torneira e deliramos porque o rotulo diz Luso, tudo porque alguém quer fazer crer que é possível fazer muito bom, e à borla.
    Eu não digo que é o fim da cultura, digo é que é o principio de uma cultura de m&#%@, mediocre, e sem interesse. Ver algo único, ou ver 1 milhão de clones não é a mesma coisa.

    ResponderEliminar
  18. António,

    Há modelos de negócio que permitem aos artistas ganharem com a "pirataria". Os exemplos de experiências nesse campo (para além dos concertos ao vivo) são inúmeros. E sendo assim, é de facto melhor para eles prescindirem do copyright, e melhor para todos os outros que passam a poder desfrutar da sua música e não poderiam de outra forma. Quanto mais gente ouvir, mais potenciais fans para o artista, e mais potenciais recomendações aos amigos e por ai fora. E isto sem terem uma editora a mandar-lhes alterar a sua música para ser mais "comercial" e fazer isto e aquilo.

    Eu há vários anos defendia a criação de uma taxa compulsiva sobre a assinatura de acesso à internet para compensar os artistas. Taxar os ISPs vai dar ao mesmo. Seja lá qual for o valor vai-se repercutir nas assinaturas. Hoje em dia, embora não me oponha totalmente à ideia, ela tem várias consequências negativas e vejo cada vez menos necessidade dela face às experiências que se vão fazendo e aos novos modelos de negócio q vão surgindo. Se fizerem algo do género, que seja de aderência voluntária. Algo tipo Spotify, em que se possa aceder a toda a música que se quiser por uma mensalidade. Há muitas formas de "esfolar o gato"; de fazer os consumidores pagarem pela criação. Insistir na venda ou aluguer de discos de plástico é que já não faz sentido.

    Se um criador não quer que copiem a sua obra, hoje em dia só tem uma forma de garantir que tal não acontece: nunca a publicar. Deixá-la na gaveta. Tal como se eu inventar uma anedota, a partir do momento que a conto a alguém perco o controlo sobre ela. De certa forma sempre assim foi. Mesmo antes da imprensa do Gutemberg já se copiavam os livros à mão. E as canções sempre passaram de boca em boca. O copiar, imitar e partilhar faz parte da natureza humana.

    Os produtores e engenheiros de som podem sempre ser contratados directamente pelos artistas e bandas, independentemente das gravações serem vendidas ou distribuídas gratuitamente. E mesmo que tal não ocorra e que eles ganhem menos ou desapareçam por completo, o progresso tem dessas coisas. Uns empregos desaparecem, e aparecem outros. Ninguém disse que ninguém ia sofrer.

    Tentar impedir que a revolução aconteça é inútil e contra-producente. Dá azo aos abusos e atropelos de direitos, como o corte de ligação à internet por simples acusação.

    Num mercado com concorrência forte o preço de venda de um produto tende a baixar até atingir o custo marginal (o custo de produção de cada unidade). Isto independentemente do custo original de criar o produto. Quando temos algo infinitamente copiável o custo marginal é zero. O preço de venda tenderá para zero. Nem é preciso "pirataria" para isso, basta haver concorrência.

    A indústria do copyright pode enterrar a cabeça na areia e ignorar o que dizem os economistas, mas isso não altera a realidade. Enquanto as grandes editoras continuam a bater com o pé no chão e a chorar que estão a ser roubadas, há toda uma nova industria que está a nascer à volta delas.

    Não percebo pq o António acha que só vai haver clones. O que eu vejo são os clones a serem engolidos na avalanche de clones. Com os canais de divulgação e distribuição a não serem controlados por um oligopólio, é mais difícil enfiarem-nos pela garganta abaixo clones das Spice Girls, não? Só aqueles verdadeiramente únicos, que se destingem da multidão, é que conseguem qualquer coisa. Mas o facto de todos terem a oportunidade de tentar, de serem lidos, vistos e ouvidos, já é muito positivo. E claro que tudo o que sirva para separar o trigo do joio vai ter grande utilidade e procura...

    ResponderEliminar
  19. "alguém quer fazer crer que é possível fazer muito bom, e à borla"

    Se há, esse alguém não sou eu. Mas é possível sim fazer bom sem gastar fortunas. E também é possível (e até bastante frequente) gastar fortunas para fazer m€&d@.

    Lá por algo ser distribuído gratuitamente não quer dizer que seja feito de borla! Simplesmente é financiado de outra forma que não a venda directa. Todos podemos ouvir música de borla na rádio. Todos podemos ver filmes, séries e programas de todo o género na televisão. Não me diga que o António acha que foram feitos de borla!

    ResponderEliminar
  20. Nelson,

    Todos esses exmplos são falsas borlas. A rádio e a televisão são financiadas pela publicidade, e pagam os direitos pelo que transmitem.
    Se acha que arte pode ser financiada por 15 minutos de anuncios cada vez que é apreciada, ou se cada vez que ouvir um MP3 de uma canção com 5 minutos aceitar outro tanto de publicidade, o futuro é brilhante.
    A emissão de programas com publicidade é um excelente filtro, porque se escolherem porcarias não têm publico, e a publicidade desaparece, e a emissora assume o custo. E continuará a não ser à borla.

    A hipotese do artista amador, ainda assim seria a mais viável, mas, com a agravante de ter de se dedicar ao trabalho em primeiro lugar, e só depois à criação. O que leva de volta ao problema, que é a reduzida disponibilidade para se dedicar à arte. E se for professor de musica como o Lud já defendeu, quando chegasse a altura dos concertos lá os alunos tinham de ficar a chuchar no dedo, e isso não é forma de se ensinar nada. A alternativa é não dar concertos, e então pouco ou nada tem de interesse compor e divulgar. Só não vê isto quem está a defender o seu interesse próprio, que é o de exigir borlas.

    ResponderEliminar
  21. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  22. António,

    Não, a rádio e a TV não são falsas borlas. Como bem disse são financiadas pela publicidade (e/ou pelo estado). E isso apenas demonstra que é possível os conteúdos serem oferecidos gratuitamente e financiados de outras formas. Os artistas actuais estão a inventar outras formas extremamente criativas. Há por exemplo uma cantora americana que fez mais de 10 mil dólares numa relaxada sexta-feira à noite em casa a fazer uma espécie de conferência por webcam com os seus fans, e a leiloar uma carrada de bugigangas que preparou e outras q lá tinha em casa. Até o copo de vinho que ela estava a beber quiseram comprar. Simplesmente porque queriam participar (e comparticipar) com alguma coisa (e provavelmente ter alguma coisa que foi dela). Há outra que fez um dueto com a fan que mais contribuiu para gravar o seu novo álbum, outros que vão almoçar com os fans, dão mini-concertos em festas na casa deles, etc, etc. Não se subestime a vontade dos verdadeiros fans de querem contribuir e suportar os seus artistas favoritos, desde q lhes seja dado motivos para isso.

    O Mike Masnick do techdirt.com chama a este tipo de experiências "Connect with Fans + Give a Reason to Buy = $$$".

    Lá para os lados do extremo oriente (Coreia, China e Japão) a moda parece que é as grandes marcas patrocinarem bandas e artistas. A publicidade desde que não seja demasiado intrusiva e chata também tem e terá o seu lugar. Mas se for exagerada, as pessoas vão preferir a "pirataria".

    Não me venha dizer que só quero borlas, pois não me conhece. Eu queria borlas quando era jovem e não tinha dinheiro! Agora gostava de ter era serviços que me permitissem ver as minhas séries de TV favoritas quando quero e tenho tempo para isso, sem ter de andar à caça dos torrents, etc, e pagar alguma coisa por isso que contribuísse a que elas continuassem a serem feitas. Idem aspas para os filmes (embora prefira vê-los no cinema). Jogos de computador já comprei este ano mais de 10, quase todos já depois de os ter jogado e gostado. Alguns no Steam, que não ocupam espaço na prateleira, outros na Amazon.co.uk q ficam bem mais baratos.

    O Richard Stallman tb propôs uma ideia à uns meses atrás que me agradou bastante. Que os leitores de conteúdos tivessem um botão, que ao ser pressionado enviasse um donativo de 50 cêntimos ou 1 dólar/euro para os criadores do que quer que estivéssemos a ver ou a ouvir. Com algo assim tão simples e prático quantos já não teriam "pago" vários dólares/euros pelas suas músicas favoritas, em vez de as comprar por 1 dólar/euro no iTunes e afins.

    O problema é que a industria, por pensar como o António, tem medo de pensar sequer em novos modelos de financiamento, receando que não sejam tão lucrativos quanto os actuais. Não é q os modelos actuais sejam os únicos, ou os melhores, simplesmente são os q eles conhecem e estão habituados. Enquanto renderem, não querem saber do resto. E para mim, enquanto assim for, perdem todo o direito de se queixarem da "pirataria". Os "piratas" são potenciais clientes mal servidos e desaproveitados. Se não os querem tentar seduzir, então que os deixem em paz!

    ResponderEliminar
  23. A propósito dessa história do professor, lembrei-me agora do americano Corey Smith que era professor de ciências no liceu e cantor amador aos fins-de-semana. Até que começou a usar a internet para divulgar gratuitamente as suas músicas. Facturou 4 milhões de dólares em 2008 (3,5 a tocar ao vivo, 0,5 em merchandising). Mesmo que a margem de lucro seja de apenas 10%, 400mil dólares num ano não é nada mau. Ele tem as suas músicas disponíveis para download gratuito no seu site. A certa altura tentou tira-las para ver se vendia mais no iTunes. Resultado: vendeu MENOS!

    Funciona para todos? Claro que não, mas nunca nada funcionou! Há quem não tenha carisma em palco. Há quem faça música que não se presta a execução ao vivo. E claro... há a "pequena" questão de ser preciso verdadeiro talento e fazer boa música.

    ResponderEliminar
  24. Nelson,

    Aponto-o para o inicio do meu post de 2-12-2009 às 1h03. Algo me diz que anda a ler na diagonal. Se um artista quer distribuir de forma diferente, eu estou de acordo. Por isso, eu não penso como a industria ao contrário do que diz. O que eu digo é que se tal como o professor do seu exemplo, se alguém quer optar por impor copyright ao seu trabalho, está no seu direito. Quem como o Nelson e o Ludwig não gosta ou não concorda, não tem o direito de lhe impor a cópia livre. Porque se não gosta de pagar, pode sempre não consumir. A imposição de vontades supostamente "vanguardistas" como a cópia indiscriminada, é uma das teorias mais reaccionárias que conheço, perfeitamente ao nível da atitude fascizoide e desproporcionada das associações que querem perseguir quem faz downloads, e que apoiam penas absurdas por delitos menores como o download ilegal.
    Eu não defendo nem o modelo actual nem o que o Nelson me parece defender. Eu defendo a liberdade de escolha. Quem quer distribuir gratuitamente pode e deve fazer isso, mas, não deve poder mudar de opção a meio do caminho, mas, isto apenas porque quando se muda de opção ninguém tem obrigação de andar a ver como param as vontades. O mesmo se passa com o material protegido.

    Actualmente, parece que não há meio termo. Uns, querem tudo à borla, e acham que nenhum criador pode ter direito a nada. Outros, acham que perseguir quem faz downloads e trata-los pior que assassinos é a solução. Um bocadinho de meio termo não fazia mal nenhum, a nenhuma das partes, a começar por aqueles que se dizem muito progressistas.

    ResponderEliminar
  25. António,

    Que ache que se deva respeitar os desejos dos autores, é uma posição de certa forma honrada e que eu respeito enquanto escolha pessoal. Tenho problemas é quando se mete o estado ao barulho para fazer respeitar esses desejos. Note-se que nem todos os caprichos de um autor têm protecção legal. A protecção incide sobre a cópia, pq se entendeu proteger um certo modelo de negócio (venda de cópias) como forma de permitir aos autores lucrarem com as suas obras e portanto incentivar a criação. Note-se também que este direito é temporário (cada vez menos, mas ainda é temporário), e cheio de excepções. A lei reconhece também o direito do público aceder ao conhecimento e à cultura, e é por isso que existem bibliotecas. E reconhece o direito de se fazerem cópias para uso privado. Ou seja, este direito de exclusividade da cópia não é nenhum direito "sagrado". São direitos comerciais. É um instrumento económico. Entendeu-se que era o menor dos males limitar temporariamente a distribuição das obras, comparado com a possibilidade de elas não serem feitas de todo.

    Como instrumento económico pode e deve ser avaliado em termos de eficácia e necessidade, e ajustado conforme a tecnologia vai evoluindo. Sempre se fez isso. Quando apareceram os pianos automáticos e a rádio, por exemplo, o direito de autor foi ajustado para permitir a sua utilização criando-se licenças para o efeito. Só agora é que estes direitos parecem ser intocáveis. A "rádio" desta geração ninguém parece quer legalizar.

    Numa altura em toda a gente tem acesso a uma máquina que faz cópias infinitas, deixa de fazer sentido atribuir monopólios sobre a cópia. Tal começa até a roçar a imoralidade. Se houvesse máquinas q fizessem comida de forma infinita, não seria imoral proibir a sua utilização apenas para respeitar os desejos dos agricultores?

    Sempre que surgiram novas tecnologias, ajustou-se a lei para permitir que os desejos individuais de cada autor não impedissem a sua adopção. Legalizaram-se umas coisas (ex. gravadores VHS), permitiram-se outras em troca do pagamento de licenças colectivas (rádio), etc. Soluções equilibradas. Não é reaccionário, é o que sempre se fez. É o tal meio termo. Quem nos dera!

    ResponderEliminar
  26. Nelson,

    Se me dissesse que estavam a proibir pessoas de respirar à borla, ou de aceder a um bem fundamental, estaria de acordo. Sobre o copyright, não falamos de nada fundamental, mas, na maior parte dos casos, de caprichos. Com tanto conteudo gratuito já disponível, é estranho que se "marre" em copiar material que alguém quer proteger. É estranho que ninguém queira saber de copiar musica que já é gratuita, e há muita, e queiram copiar a "agua do Luso". Por isso não me venham falar da mudança de paradigmas, que é uma treta. Não mudou, nem está a mudar nenhum paradigma em relação ao cerne da questão. A cópia só tem interesse se for a saga da guerra das estrelas, ou os U2, ou a Madonna, etc., porque são os conteudos que interessam copiar, e que sob a perspectiva de cópia livre, não interessariam aos autores produzir, pois quem tiver de viver dos concertos, não precisa de gastar vários milhões a gravar, e sem proteção, as centenas de milhões que os filmes custam não seriam rentáveis. Os filmes de baixo orçamento raramente são alvo de cópia, além de o Lud, já ter atacado num post o facto de alguém ser alvo de processo por estar a filmar um filme que estava a ser projectado numa sala de cinema, o que me parece estranho, dado que a projecção será o principal meio de sustento de uma produção cinematográfica. Não há meio termo aqui. Não é a facilidade de cópia o motivo por detrás da "liberalização" exigida, é uma mera birra e moda.
    O ser fácil copiar, também é uma treta como motivo para "liberalizar" a cópia de tudo. Matar é fácil nos dias que correm, roubar crianças também, tal como despedir pessoas para aumentar lucros, mentir, etc. Tanta coisa é tão fácil hoje em dia, que se o argumento da facilidade fosse válido para o que quer que fosse, já tinhamos era extinto a vida na terra. Por isso é melhora arranjar outros motivos que não esses para legalizar algo que vai reduzir, e muito, a produção e o rendimento de algo. A extinção dos aguadeiros foi resultado da necessidade de aumentar a disponibilidade de agua à população, mas, não vai haver aumento nenhum de produção com a extinção do copyright, antes pelo contrário, e não me parece que seja fundamental o acesso a produção artistica gratuita e em massa, e no exemplo dos aguadeiros, a agua não passou a ser gratuita. Foi precisamente ao contrário. A água era gratuita nas fontes públicas, e eles distribuiam a água a quem pretendesse, e a água canalizada é toda paga, e levou ao fecho das fontes públicas. Por isso esta conversa começou numa má analogia do Ludwig, e baseia-se numa suposta evolução de modelos de distribuição, que não é evolução nenhuma, é já o presente. A questão é, foi sempre, e continuará a ser, que algumas pessoas querem escolher o que é distribuido dessa forma, porque não lhes agrada o que já existe à borla. Querem os filmes da moda, e a música da moda, querem que continuem a ser feitos, mas, que os outros assumam os custos, e chamam de alarmistas os que não querem abdicar deste nivel de produção e que têm a noção que os custos envolvidos não são viáveis sem protecção.
    Ainda hoje estive a ouvir a versão antes de produção e pós produção de editora de uma canção dos Stone Roses, e o resultado não tem nada a ver. Se me disser que tenho de viver com a versão original, digo-lhe muito claramente que nunca teria comprado ou sido fã deles, se o som deles fosse o anterior à produção da editora. E é isso que eu acredito estar reservado num futuro de produção barata para distribuição gratuita, mas, isto não quer dizer que não tivessem fãs, só que eu não teria sido um deles, e sem dúvida estaria pior "servido" por causa disso. Se alguma vez estiver interessado em ouvir esta diferença, diga que vou procurar o link para o colocar aqui.

    ResponderEliminar
  27. António,

    Insistir no modelo de negócio de vender cópias em discos de plástico também é um "capricho", particularmente quando há alternativas. Fazia sentido quando havia necessidade de alguém, um distribuidor, levar os conteúdos dos produtores para os consumidores. Era um negócio que acrescentava VALOR aos interessados (produtores e consumidores), gerando lucros com isso que financiavam a criação. E tal como os aguadeiros, não adianta apelar a que se "respeite" o negócio deles. Deixando de serem necessários, progressivamente tanto produtores como consumidores irão largá-los. A partir do momento em que há uma cópia digital, os próprios consumidores organizam-se entre si para a distribuir entre si. O problema é q esta distribuição gratuita tem uma margem de lucro zero. Isto pode ser resolvido de outras formas que não proibir uma tecnologia e criminalizar toda uma geração (coisas que nunca resultam). Uma possibilidade é uma taxa mensal para quem quiser fazer partilha de ficheiros. Outra é oferecer serviços que, ao serem ainda mais convenientes (acrescentem VALOR), concorram eficazmente com a partilha de ficheiros. E ainda outra é aproveitar essa distribuição e divulgação gratuita para vender outras coisas e/ou angariar donativos. Seja como for não há justificação para manter artificialmente os intermediários na "mama". O seu fim representa preços inferiores para os consumidores e/ou mais lucros para os produtores.

    Quanto à "qualidade" do que será produzido nestas condições, tal é obviamente muito subjectivo, mas pode-se dizer que dificilmente um filme de grande orçamento como um 2012 poderia ser feito para distribuição gratuita. Felizmente não precisa! As receitas dos cinemas continuam a subir, e durante muitos anos fez-se cinema apenas com as receitas de bilheteira. O que vem para além disso é um complemento importante, mas ninguém pode dizer que os métodos acima descritos não venham a representar receitas superiores aos DVDs, televisão, etc. Eu arriscava-me a dizer que tal é inevitável dada a facilidade de chegar a um mercado maior com custos inferiores. Além disso saliente-se q não há crise alguma no cinema. As receitas de bilheteira continuam a bater records todos os anos, o número de filmes feitos tem crescido, assim como a indústria no seu todo. Podia-se legalizar a "pirataria" amanhã e esse cenário não se alteraria.

    ResponderEliminar
  28. Quanto à música, a indústria musical no seu global também está a crescer em receitas e não só. Nunca se fez tanta música como agora (o número de álbuns mais do que duplicou nos últimos 7 anos), nunca tanta gente se dedicou à música, ou ganhou dinheiro com ela. O sector da venda de discos de plástico é que está previsivelmente à rasca. E nem é preciso a pirataria para isso. Mesmo que a pirataria acabasse amanhã, tal não mudava NADA para as editoras. Aquele velho modelo de divulgar uma música da rádio e depois impingir um CD com mais 10-13 músicas que não interessavam por 15-20€, acabou! Basta os sites legais como o iTunes, 7digital, etc, para garantir isso. Algumas estão a tentar adaptar-se com "contractos de 360graus", que lhes atribuem parte das receitas de concertos, merchandising, patrocínios, publicidade, etc. Outras pequenas editoras vão pela via oposta, deixando os artistas e bandas ficarem com todos os direitos e a maioria das receitas, vendendo-lhes os serviços que desejarem.

    Em ambos os sectores há também que contar que há muito maior produção de conteúdos actualmente. Por via das facilidades e reduções de custo que a tecnologia digital permite, há mais concorrência. O bolo de receitas está a crescer, mas há mais gente a lutar pela sua fatia. O que por um lado poderá dificultar a realização de grandes produções, ou por outro lado poderá aumentá-las pela necessidade de sobressair na multidão.

    Dizer que "sem protecção" os conteúdos vão ser de baixo orçamento e/ou baixa qualidade é uma falácia. Não sabemos as receitas que serão possíveis com novos modelos! Chama-se a isto o "dilema do inovador". As empresas com negócio establecido tendem a não introduzir inovações que coloquem em causa as receitas actuais, esquecendo-se que na maioria das vezes, se não o fizerem, outros o farão por elas. A pirataria é uma desculpa para estas empresas se irem queixar aos governos e pedir leis que lhes permitam combater as inovações que não desejam. Mas no fundo a "pirataria" é largamente secundária para os desafios e transformações que as industrias de conteúdos enfrentam. Os governos que forem na conversa só vão adiar as adaptações necessárias e prejudicar toda a gente, inclusive os criadores que pretendem ajudar.

    ResponderEliminar
  29. Nelson,

    Continua com as confusões...
    Há gente que já faz distribuição gratuita, e usa os modelos que defende, e mesmo os que vendem via iTunes e afins, não vão abolir copyright nenhum. Se o modelo que defende dever ser o único (daí eu lhe chamar de reaccionário) fosse tão bom para os artistas, não os haveria a fazer figura de estúpidos como a Lily Alan, que começou a divulgar musica dela à borla e a defender o fim do copyright, mas, assim que a editora lhe pagou um contrato, foi-se a ideologia e agora faz birra porque está a perder dinheiro com a pirataria. A mesma pirataria que ela defendia.
    A realidade é esta. Antes da editora ela era conhecida, e iniciou carreira graças à divulgação gratuita do seu trabalho, mas, para viver dele, teve de ser apoiada por uma editora e aceitar as regras para que esse rendimento fosse gerado.
    O modelo do copyright permite que haja profissionalização dos criadores, e sem ele é impossível haver tantos profissionais, mas, certamente haveria muitos mais criadores amadores, que como amadores que são nunca desenvolverão totalmente o seu potencial.
    Se a profissão médica pudesse ser liberalizada do mesmo modo, haveria muitos mais amadores a exercer, que pelo que defende para o processo criativo deve ser muito melhor. Acabavam-se as esperas, baixava o preço das consultas, etc. Era só vantagens. O mesmo se aplica ao funcionamento de um banco, e com impressoras todas "pimponas" até podemos imprimir o nosso dinheiro. É tão fácil! Ah! Mas espere aí. Só porque a musica e a arte não são fundamentais, e copiar é fácil, as regras invertem-se?! Ser amador é o máximo, mas, só naquilo em que a avaliação é subjectiva? É que nem a distribuição de agua, que extinguiu a profissão de aguadeiro, se liberalizou. A extinção foi um processo decorrente precisamente do fim do acesso gratuito à agua nas fontes públicas. O aguadeiro é o rapidshare, o Kazaa, o emule, etc. da pirataria. O computador individual é a fonte, e estes, são os supostos serviços prestados, a soldo, para quem pretende copiar. São os únicos candidatos a extinção com a liberalização. A editora vai simplesmente deixar de apostar em musicos bons e caros, mas, de baixa rentabilidade, para montar umas dezenas de esquemas tipo D'ZRT para vender merchandizing, que rende mais do que os CDs. Quem sai prejudicado nisto é quem consome música e não produtos embalados para o nicho.
    E já agora Nelson, não confunda inovação, que é distribuir de novas formas, com o que as editoras fazem para proteger o seu investimento, porque estas não podem impedir que eu, António, distribua gratuitamente a musica da minha banda, como já o faço, o que eles fazem é defender o investimento que fazem em melhorar o que existe, para permitir o negócio das "rodelas". E tanto eles têm razão, que a quem copia na net pretende sobretudo copiar esses conteudos melhorados, e não o conteudo original. Ninguém quer saber da Lily Alan a cantar antes da editora entrar na questão, e existe esse conteudo algures na net, pois foi onde ela começou, mas, muitos querem copiar o que ele gravou para a editora. E ela também vende no iTunes e afins. A inovação mantém-se na distribuição, mas, a realidade mostra que a cópia só tem interesse para os conteudos caros de produzir, e inovar na distribuição, não significa tornar gratuito, significa reduzir custos, e tornar mais barato, o que continua a não ser compativel com pirataria.

    ResponderEliminar
  30. António,

    «Se o modelo que defende dever ser o único (daí eu lhe chamar de reaccionário) fosse tão bom para os artistas»

    Primeiro, temos de pensar que "artistas" quer dizer uma pessoa com talento. Pode ser um tipo famoso, rico, que vende milhares de CD e para quem o ideal seria até que se proibisse as pessoas de cantar no duche sem lhe pagar porque haveria quem pagasse para o poder fazer.

    Mas também pode ser um jovem com muito talento, sem dinheiro, e que antes de ser um bom músico terá necessariamente de ouvir música. Cortar-lhe o acesso por razões económicas é mau para esse artista.

    O copyright é um compromisso entre dar mais a quem já tem o controlo sobre as obras e menos a quem -- inclusivamente artistas -- que quer ter acesso às obras.

    Mas o problema principal nem é esse. Esta questão de pagar ou não, de direitos de cópia, exclusividade e afins é uma questão económica. É negócio. Está a um nível muito diferente de outras como privacidade, acesso à cultura e liberdade de expressão e partilha de informação. Esses são direitos pessoais.

    O direito de emprestar um CD, copiar um poema, ler uma história em voz alta ou partilhar um ficheiro está muito acima do "direito" de proibir estas coisas para ter mais lucro.

    Não defendo que o copyright desapareça. É útil para regular certas formas de comércio, se bem que deva ser menos impeditivo da inovação, mesmo que seja apenas inovação comercial.

    O que defendo é que o copyright fique fora da esfera pessoal. Por exemplo, a nossa legislação exclui explicitamente os direitos conexos do uso privado. Basta uma cláusula semelhante, que os direitos exclusivos de cópia se aplicam apenas a actividades comerciais.

    Há umas décadas isto era irrelevante, porque para copiar discos e livros era preciso fábricas, e se copiassem livros à mão ou músicas em cassetes ninguém ia a casa bisbilhotar. Hoje é importante porque a partilha de informação digital tornou-se parte da nossa vida pessoal e tudo isto se pode fazer trocando bits. Os sistemas para financiar e incentivar certos negócios não devem ser implementados à custa de direitos fundamentais. Não se justifica proibir a troca de números só para proteger os lucros de alguns.

    ResponderEliminar
  31. Ludwig,

    E voltamos ao mesmo ponto. Eu também sou contra os excessos, que se querem alargar ainda mais, na implementação do copyright.
    O copyright deve incidir sobre a componente comercial, e isso estamos de acordo, mas, eu incluo na componente comercial apenas a execução especifica, pessoal de uma obra. Um quadro deve ser protegido de toda e qualquer cópia visualmente identica do mesmo, com o mesmo proposito visual, mas, um livro sobre a obra não tem nada a ver com o proposito original da obra, pelo que não vai substituir a mesma ou uma cópia da mesma na sua função original, e por isso não deve copyright ao autor da obra original. Um livro, como história que representa, deve ser protegido de qualquer reprodução escrita do mesmo, que vise transmitir a mesma história, mas, uma análise tecnica à escrita do livro, não tem nada que pagar copyright por referir o mesmo. Uma reprodução sonora de uma gravação sonora de uma actuação de um artista, deve ser protegida, mas, a representação escrita da mesma, não, porque saber que a musica é de determinada forma não impede a venda da mesma. Ouvir U2 não é a mesma coisa que ouvir Kane a tocar U2, mas, se os segundos viverem de tocar exclusivamente o trabalho dos primeiros, alguma coisa lhes deveriam, assim como as discotecas que vivem da musica que passam, e que não existiriam se não houvese musica.
    Nisto é que nós discordamos, porque tu alegas que a facilidade de cópia é uma desculpa para acabar com o copyright, mas, isso é falacioso, porque a facilidade não é desculpa para nada. Há muitas coisas mais fáceis que copiar, e continuam a ser punidas. Viver numa era de partilha electronica de informação não significa que se possa fazer tudo e mais alguma coisa. Quando se envia algo a outro computador, essa informação passa por muito hardware que não é nosso, e sobre o qual não podes exigir privacidade para alegar que interceptar a informação é invadir a tua vida privada. Isso seria o mesmo que achar que não te podiam prender por enviares droga por correio. Ou dar-te uma "panca" e saires de casa nu, para ires para casa da tua namorada, e depois de a policia te interceptar no carro a meio caminho dizeres que tens o direito de estar num tanto em tua casa como da tua namorada, e que a policia invadiu a tua privacidade ao interceptar-te no teu carro a caminho, pois como saiste de tua casa e ias acabar na casa da tua namorada, todo o caminho entre ambas era parte da esfera privada. Na Internet nada está no foro privado, pois não és dono nem controlas a infraestrutura subjacente, para poderes alegar a privacidade como um direito quando envias dados pela rede, ou quando abres a "porta" para que te venham buscar os dados.

    A componente comercial, ao contrário da tua visão, deve incluir a rentabilização dos meios de criação. Se gravas com o intuito de criar um CD, nenhuma forma de copiar o mesmo pode ser liberalizada, tal como não o é a impressão de dinheiro em casa, tal como não o é a actividade bancária, tal como não o é o exercicio da medicina.
    Quando leio a "visão" de futuro que tu e o Nelson defendem, e que acham muito retrogada a protecção de cópia, também me lembram a geração dos nosso pais, na década de 60, que na conversa sobre o futuro das relações humanas achavam que o amor livre era o maximo, nada de amarras, fazemos tudo e tudo é permitido, tudo é legal, etc. Estranhamente, ainda não mudou nada. O casamento não acabou, e até está a estender-se a outras conjugações de géneros entre parceiros, e tanta liberdade e inutilidade de criação de laços parece não ser compativel com a criação da prole daí resultante e sustento da mesma, nem dos outros problemas que vêm por arrasto.

    ResponderEliminar
  32. Como já te disse, e ao Nelson muito claramente, o modelo que defendes já existe, sempre existiu alternativa ao modelo das editoras, e eu já vi, e ouvi os resultados de ambos, e não me agradou a generalização única de um dos modelos. Como a distribuição gratuita não é proibida, só é para trabalho que esteja sobre copyright, volto a dizer, que se não gostam de pagar pela cópia, vão ao youtube e ao myspace que existem lá milhares de coisas gratuitas para gravarem copiarem e distribuirem. Não sei porque é que se queixam, ou vais-me dizer que o que lá há gratuito não vos interessa?! Se for isso só me dás razão quando digo, que querem optar por, e impor a todos, um modelo que só tem falsos ganhos.

    ResponderEliminar
  33. António,

    «Um quadro deve ser protegido de toda e qualquer cópia visualmente identica do mesmo, com o mesmo proposito visual,»

    Supõe que eu meço a intensidade da luz reflectida pelo quadro num ponto, em 3 comprimentos de onda, vermelho, azul e verde, e registo esses três valores. Agora faço isso para muitos pontos distribuídos uniformemente pelo quadro, obtendo uma lista com uns milhões de números.

    Deve ser proibida a divulgação dessa lista de milhões de números?

    ResponderEliminar
  34. António,

    «A componente comercial, ao contrário da tua visão, deve incluir a rentabilização dos meios de criação.»

    Discordo que a rentabilidade de um negócio possa justificar a proibição de actos pessoais apenas por prejudicar esse negócio. Discordo que se proíba as pessoas de cozinhar em casa mesmo que os restaurantes dependam disso, que se proíba as pessoas de comprar batatas ao agricultor mesmo que os supermercados dependam disso, que se proíba as pessoas de andar a pé mesmo que sem isso os taxistas não consigam subsistir, que se proíba as pessoas de beber água da torneira para rentabilizar a venda de água potável porta-a-porta.

    Não conheço nenhum exemplo em que o simples facto de um negócio depender da proibição de um acto pessoal justifique que isso seja proibido.

    Sou por isso contra que se proíba a partilha de ficheiros, a cópia de CD ou a desactivação de DRM só porque dá jeito a alguns negócios. Se esses negócios falirem por causa disso, paciência. Não são os primeiros, e não serão os últimos. Chama-se a isso progresso, e é por isso que não vemos pessoas pela rua com barris de água a vendê-la ao cântaro.

    ResponderEliminar
  35. António,

    Parece-me que ainda não percebeu a minha posição. Eu não defendo que a distribuição de música gratuitamente deva ser o único modelo. Se houver quem queira vender água porta à porta, longe de mim pensar em proibir tal coisa. Não esperem é conseguir muitos clientes, nem venham pedir ao estado que intervenha para lhes garantir o negócio! Apenas isso.

    Não me choca que o estado impeça que alguém lucre directamente com obras "protegidas" sem contribuir nada para os seus autores ou para a sua produção. Tipo a pirataria das feiras. Nesses casos isto limita apenas uma certa liberdade comercial. Sou contra é a perseguição a quem partilha conteúdos para uso pessoal, sem fins lucrativos, assim como as ferramentas e serviços usados por essas pessoas. A "protecção" das obras não justifica os atropelos a direitos muito mais importantes que isso implica. No fundo é o regime que vigora em Espanha actualmente, graças à lei e jurisprudência acumulada (e a venda de DVDs e CDs não desapareceu por causa disso!). Por outro lado também defendo que quem obtém conteúdos gratuitamente, compre o que realmente gosta de forma a contribuir para que continuem a ser feitos.

    Voltando a soluções de "meio termo", eu até aceitaria uma politica de "tolerância zero" à partilha de obras lançadas à menos de 6 meses ou 1 ano (em qq parte do mundo), desde que depois disso fosse livre e legal. Um novo equilíbrio entre necessidades económicas e o domínio publico. Dava oportunidade à industria de recuperar o investimento feito sem concorrência da "pirataria" sem ser demasiado dacroniano contra os partilhadores. Mas dada a dificuldade de garantir até estes 6 meses sem a colaboração dos partilhadores, seria difícil de o implementar contra a sua vontade.

    "Só porque a musica e a arte não são fundamentais, e copiar é fácil, as regras invertem-se?!"
    Pelo contrário, se falarmos em regras da economia elas mantêm-se. Quando mais fácil é fabricar unidades de um produto, mais barato ele fica (a não ser que haja monopólios a interferir). Quando um produto é passível de ser copiado e distribuído a custo praticamente zero... adivinhe lá o preço. Basta a regra básica da oferta e da procura para isso. Mas releia o que eu disse sobre o custo marginal num comentário anterior para perceber melhor.

    "Ser amador é o máximo, mas, só naquilo em que a avaliação é subjectiva?"
    Exactamente! Não há razões objectivas para impedir que um amador seja músico, ao contrário de ser médico. Na música sempre houve mais amadores do que profissionais. As ferramentas actuais permitem-lhes levar a sua música ao mundo. Os amadores vão ganhar proeminência, mas os profissionais não vão desaparecer. O que está a acontecer é mais amadores a passarem a profissionais, e a não precisarem de exercer os seus direitos de autor para isso. Algo semelhante está a acontecer no jornalismo, com os blogs e outros sites mais ou menos "amadores", ou mais ou menos "profissionais", a ganharem proeminência e as velhas instituições jornalísticas a serem abaladas. Confundir copyright com ser profissional é completamente errado.

    ResponderEliminar
  36. "mesmo os que vendem via iTunes e afins, não vão abolir copyright nenhum"
    Eu falei no iTunes, não por abolir o copyright, mas por abalar radicalmente o negócio tradicional das editoras, simplesmente por vender as músicas separadas. Aquele negócio de promover as melhores músicas na rádio e depois vendê-las em pacote junto com outras muito menos interessantes, acabou. Mesmo que a "pirataria" acabasse amanhã, aqueles lucros imensos das editoras nos anos 90 não voltariam. Os CDs nunca vão voltar a vender tanto, e não me creio q a venda de álbuns digitais alguma vez o compense.

    Isto para mostrar que os problemas das editoras têm pouco a ver com "pirataria" e muito mais com outras coisas. Aliás, estudo atrás de estudo tem vindo a demonstrar que o impacto da "pirataria" nas vendas é pequeno, e que afinal os "partilhadores" são os melhores clientes. E esta, hein? Se a industria prefere tratar os seus melhores clientes com o pau em vez da cenoura, fá-lo a seu próprio risco.

    Termino recomendado a leitura deste artigo de um artista e executivo inglês:
    http://www.pampelmoose.com/2009/12/dear-musicians-please-be-brilliant-or-get-out-of-the-way

    ResponderEliminar
  37. "Quando se envia algo a outro computador, essa informação passa por muito hardware que não é nosso, e sobre o qual não podes exigir privacidade para alegar que interceptar a informação é invadir a tua vida privada."

    Há não? Então esta polémica toda das escutas telefónicas era escusada segundo o António. Ninguém tem privacidade ao falar ao telefone, pois a conversa passa por "muito hardware que não é nosso". O Socrates tava bem lixado. Idem aspas para os correios. Os CTT deviam começar a abrir e ler as cartas todas só para o caso de alguém mandar ao amigo umas fotocópias de algum livro!

    ResponderEliminar
  38. Nelson,

    Essas escutas são a prova de que a privacidade é nula numa rede como a internet por onde também passam os sinais telefónicos. Só que existe uma diferença, entre ser acessível, e utilizável em termos legais. Quando a conversa é entre 2 cidadãos, a infraestrutura serve apenas de meio de ligação, e portanto é necessário saber qual o objectivo da escuta para que o juiz autorize a mesma. Neste caso, um sujeito que é escutado por motivos originários noutros indícios que permitiram a autorização da escuta, implicam que a escuta só serve nesse âmbito, ou seja, de confirmar a culpa desse cliente. Se durante a conversa surgirem indícios de outros crimes, legalmente estes indícios não são válidos porque não estão no âmbito da autorização, nem que esse indicio seja outro crime cometido por um dos interlocutores. Se outra pessoa for apanhada em algo relacionado com o crime em investigação, essa escuta já será válida para incriminar o segundo sujeito escutado. Isto serve para garantir que não se usa a escuta como simples espionagem, para perseguir alguém, ou simplesmente tirar nabos da púcara.
    Por outro lado, um site é algo de acesso público, e estando a cometer um crime, publicamente visível, pode estabelecer-se a escuta, e quem for apanhado em actividades directamente relacionadas com esse crime publicamente visível, será incriminado. A única questão é a legalidade da intersecção, porque a actividade está exposta publicamente, apesar de poucos saberem como a ver.

    Sobre o custo marginal tender para zero implicar a venda a preço zero, isso é treta. Se eu plantar um pomar, e em vez de nascerem 1000 frutas nascerem 1001, o custo dessa fruta na produção é zero, segundo a lógica do Nelson e do Lud, todos podem roubar uma fruta, pois o custo marginal de cada uma tende para zero. Isso, de ignorar o investimento inicial não só é treta, como é demagogia da mais pura, e demonstração de desconhecimento (se for propositado já não será desconhecimento, mas, não me apetece dizer aqui o que isso é para não descambar) sobre princípios económicos básicos. É a mesma coisa que exigir que os novos CPUs sejam vendidos a preço de custo de produção pois vão ser vendidos tantos que é esse o custo marginal de cada um. Como se a investigação para chegar a um novo patamar tecnológico, e o custo de instalação das respectivas máquinas fosse para ignorar.
    Ou, já agora, como produzir um comprimido é barato, vamos todos plagiar as patentes farmacêuticas, e ignorar o custo de investigação.
    A realidade é que o custo de gravação existe, e mais não fosse por esse, cada cópia tinha de ser paga nem que fosse um valor infimo, porque 1 milhão de euros de gravação, significa que caso se copie 1 milhão de vezes, por que processo for, cada cópia custou 1 euro a fazer, seja qual for o custo marginal. A incapacidade de pagar este custo implica a extinção do processo criativo, e se não querem ver isso, nem vale a pena argumentarem mais, porque alguém assume a mesma radicalidade no extremo oposto, e legisla para proibir como bem entender, e quem perde é a sociedade.

    ResponderEliminar
  39. António,

    Se um site estiver claramente a fazer algo ilegal, tipo a meter MP3 para download sem autorização, nem é preciso "escutas" para nada, uma queixa ao alojador do site deve chegar para que o site seja encerrado, ou pelo menos os ficheiros apagados. Outra coisa é tentar culpar os sites que não alojam quaisquer conteúdos e servem de meros intermediários e ou organizadores da partilha (tipo Pirate Bay), ou culpar os ISPs, forçando-os a serem responsáveis por vigiar o que os utilizadores fazem com os seus serviços. É a mesma coisa que exigir à PT que ouça todas as conversas telefónicas e que os CTT abram todas as cartas só para o caso de alguém fazer algo ilegal. Nem o youtube e sites do género, entendidos como legais, fazem tal coisa. O youtube tem alguns filtros automáticos, mas não é responsabilizado pelo que passa pelos filtros. Removem depois o que for alvo de queixa. Como fazem aliás alguns sites de torrents.

    A partilha em si até é feita de forma relativamente pública. Se uma lista de IPs que uma entidade privada alega estavam a partilhar algo serve de prova para alguma coisa é que já são outros 500. Até já houve impressoras de rede acusadas de partilhar filmes:
    http://www.pcmanias.com/index.php?option=com_content&task=view&id=125&Itemid=5

    E assumindo que o IP seja entendido como prova fiável, há ainda a questão de não provar se foi o titular do contracto que cometeu a infracção, ou se foi algum familiar ou algum vizinho através do router wireless.

    Quanto ao custo marginal, o António está a fazer confusão com o custo fixo, que incluem os custos de desenvolver o produto, construir a fábrica, etc. Se plantares um pomar e em vez de 1000 frutas nascerem 1001, o custo marginal de cada uma desce 0,1%, nada mais que isso. Mas fruta até é relativamente mau exemplo, pois não tem custos de desenvolvimento como nos medicamentos e nos processadores. Esses são exemplos melhores. E como te diria qualquer responsável da AMD nos tempos que correm é difícil vender os processadores a um preço que permita recuperar os custos fixos (custos de desenvolvimento inicial, novas máquinas, etc). Porquê? Por causa da concorrência feroz da Intel, a AMD é empurrada a vender os processadores cada vez mais perto do custo de produzir cada unidade; o custo marginal! Num mercado livre, com concorrência cerrada, os preços tendem para o custo marginal, independentemente dos custos fixos de construir a fábrica e desenvolver o produto. Regra geral, nenhuma empresa tem o estado a garantir que consegue recuperar os custos fixos.

    Eu trabalhei até ao final de Novembro para uma marca de computadores portáteis e tenho plena consciência disto. Estou agora desempregado em parte pelas suas consequências. É uma luta constante para introduzir novos designs, características e inovações, junto com muito marketing, para combater a concorrência e conseguir manter uma boa margem sobre o custo de produção de cada unidade. Essa margem está cada vez mais espremida. Agora imagina que se conseguia fazer computadores portáteis em casa com custos mais reduzidos que numa fábrica (tal como a partilha de ficheiros versus CDs/DVDs). Vender computadores deixava de ser bom negócio. Deixava de ser bom mecanismo para financiar o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias. Tal como nos conteúdos não creio que a solução fosse proibir a cópia caseira de computadores, mas arranjar modelos de negócio alternativos. E com as impressoras 3D que permitem fazer objectos físicos a tecnologia para lá caminha.

    ResponderEliminar
  40. As empresas de conteúdos, tal como as das outras actividades, podem fugir ao preço marginal oferecendo qualidade superior à concorrência. Facto a que o António já aludiu ao dizer em que os conteúdos protegidos são mais partilhados do que os gratuitos. Mas aí o factor desconhecimento também pesa muito. Sobretudo na música parece-me que o facto das pessoas desconhecerem a boa música legalmente gratuita que existe pesa mais do que suposta melhor qualidade da música "comercializada". A rádio, e toda a máquina de promoção das editoras, ainda é muito poderosa.

    Seja como for, visto que a concorrência está a aumentar quantitativamente e qualitativamente, cada vez fará mais sentido oferecer a música e fugir por completo à guerra de preço. Os criadores podem aproveitar que os conteúdos podem ser oferecidos a custo zero ou quase, e usarem isso para se promoverem e ganharem dinheiro com outras coisas que não são duplicáveis num download. Para a maioria dos artistas e músicos o serem desconhecidos é um problema MUITO maior à pirataria. Como eu costumo dizer, os Metallica podem ser muito pirateados, mas quantos não gostariam de estar no lugar deles?

    ResponderEliminar
  41. Estive a ler e relembrar umas coisas e cheguei à conclusão que chamei aqui "custos fixos" ao que deveria ser "custos globais". O resto mantém-se. O preço de venda de um produto é definido principalmente pelo custo marginal, pela procura e pela concorrência. Se a margem de lucro a multiplicar pelas unidades vendidas não dá para pagar os custos globais, ou a empresa baixa os custos, ou arranja um modelo de negócio alternativo (algo que subsidie o produto), ou então fecha as portas.

    ResponderEliminar
  42. Acho que o Nelson chegou lá!
    -"...ou então fecha as portas." Quando a perpectiva é um falso custo zero, a hipotese de curtar custos é impossível, e a solução é o fecho.
    Eu não tenho paciência para ver concertos, e por isso a musica que oiço é a que existe gravada ou a que toco. Como ao contrario de certas pessoas não gosto de me ouvir só a mim, se não tiver musica gravada, com qualidade, estou mal servido e por isso nunca serei a favor da abolição completa do copyright. Mas, continuarei a ser contra as atitudes desproporcionadas que se estão a generalizar, pois não têm correspondência com as atitudes assumidas contra crimes muito mais graves.
    Por fim uma palavrinha para o Lud. :-) C@&@# de cócoras, também é um acto pessoal, mas, fá-lo no meio do Odivelas Park, em pleno dia, e admira-te se fores catado. Tal como "chutar" também é um acto pessoal, e por aí fora. Essa de a revolta ser por proibirem um acto pessoal tem mais piada que outra coisa, se é um argumento a favor de ser deixado em paz, está longe de ser válido e muito menos de ser bom argumento, mas, gostei do raciocínio. Se pegasse...

    ResponderEliminar
  43. António,

    Eu já lá cheguei há muito. :) E o Ludwig também (daí a comparação com os aguadeiros). Os negócios e actividades que deixam de fazer sentido com as novas condições do mercado, novas tecnologias, etc, mais cedo ou mais tarde acabam. E devem acabar. É geralmente positivo que assim seja. Perdem-se alguns empregos é certo, mas outros surgem no seu lugar. Não foi a proteger os carroceiros que se obteve a industria automóvel. As tentativas legislativas para o fazer apenas serviram para dar falsas esperanças aos carroceiros e adiar a proliferação do automóvel durante algum tempo.

    Com ou sem copyright o modelo de negócio tradicional das editoras (pagar aos artistas para gravarem e depois venderem os CDs) está a ficar obsoleto e desnecessário. Nunca mais vai gerar tantas receitas como nos anos 90. Mais do que a pirataria é a venda das músicas uma a uma, que lhes está a comer os lucros:
    http://remixtures.com/2009/12/como-os-lucros-das-editoras-estao-a-ser-arrasados-pela-venda-de-singles-digitais/

    A médio/longo prazo é a música gratuita legal, que está a ganhar qualidade e notoriedade, que vai acabar por ser a pior ameaça. Podem espernear quanto quiserem. A própria natureza do que eles vendem, um bem infinito, não pode ser ignorada. Haverá cada vez mais gente a dispensar essa muleta do estado chamada copyright e a arranjar outras formas de financiamento. Que poderão as editoras fazer, senão entrar no jogo também? Que as editoras vão ter de se adaptar ou fechar as portas, não tenho dúvidas. Tenho receio é dos estragos que vão causar entretanto, com leis como a "resposta gradual", etc. Só vão atrapalhar o desenvolvimento da internet e outras tecnologias e serviços relacionados que serão o ganha pão dos artistas no futuro. Tudo para se tentar salvar um modelo de negócio em estado terminal.

    António, talvez o Jamendo.com seja um bom sitio para começares a te desmamares das editoras. :)

    ResponderEliminar
  44. Nelson Cruz,


    «E o Ludwig também (daí a comparação com os aguadeiros). Os negócios e actividades que deixam de fazer sentido com as novas condições do mercado, novas tecnologias, etc, mais cedo ou mais tarde acabam.»

    Pois... No caso do aguadeiros não acabaram, vedem à mesma a água "encaixotada", só que em vez de serem particulares são empresas, como a Luso, e ao invés de andarem na rua a venderem fazem-no nos supermercados.
    O modelo de negócio é o mesmo, embora inseridas em hábitos de consumo diferentes.

    «Com ou sem copyright o modelo de negócio tradicional das editoras (pagar aos artistas para gravarem e depois venderem os CDs) está a ficar obsoleto»

    Certo... Mas isso não implica que quem quer usar o copyright não tenha direito de o fazer, se for suicídio, azar.


    «A médio/longo prazo é a música gratuita legal, que está a ganhar qualidade e notoriedade, que vai acabar por ser a pior ameaça. Podem espernear quanto quiserem. A própria natureza do que eles vendem, um bem infinito, não pode ser ignorada. Haverá cada vez mais gente a dispensar essa muleta do estado chamada copyright e a arranjar outras formas de financiamento.»

    Embora envolto em wishful thinking mesmo que seja isso que vá ocorrer, em nada invalida o acto de quem quiser usar o copyright não tenha o direito de o usar.

    Ninguém é obrigado a comprar, só compra quem quer, quem não quer comprar também não quererá de borla, ou quererá???? Ahh pois é...

    ResponderEliminar
  45. Nelson,

    Só um ultimo apontamento para o corrigir. No comentário de 07-12-2009 1:33 diz que o custo marginal de cada fruto baixa com o aumento de produção, algo que me passou despercebido, por não ter sequer pensado nisso na altura, mas, que é falso. O custo marginal de cada fruto extra é zero!! Não custa mais nada o aparecimento desse fruto. O custo marginal é o custo extra de produzir o fruto extra, não é a divisão dos custos de investimento pela nivel de produção. Os custos de investimento são pagos como amortização, e em termos contabilísticos, uma amortização que não é possível cobrir com os lucros, implica a falência técnica, e na produção de CPUs, os primeiros exemplares custam uma exorbitância para permitir a amortização, mas, passados 6 meses custam menos de metade do preço inicial. Se o investimento inicial da AMD em maquinaria para produzir não fosse coberto, estavam em falência técnica e acabavam fechados, mais não fosse porque o custo é coberto com empréstimos bancários e nenhum banco empresta o que não tem retorno, e o pagamento dos empréstimos não entra nas contas de custo marginal. Não há negócio nenhum que trabalhe para vender ao custo marginal, por muito idílico que isso seja para fazer comentários contra o copyright. E se pretende usar o argumento de saber como se esmaga o preço nos computadores por ter trabalhado no ramo, já somos 2, e na minha antiga empresa não vendíamos só portáteis, mas, todo o hardware do básico, até aos servidores de grande porte, clusters, sistemas de storage, e também produzíamos software. Felizmente não trabalhávamos a custo marginal, nem nada que se pareça.
    Para que não pareça que quem gosta de borlas inventa argumentos da cartola, sejamos honestos em admitir que nem que seja por motivos legais e contabilísticos, se uma editora investe uns milhares de euros numa gravação, e grava alguns milhares por ano, têm que os rentabilizar, pelo que a cópia a preço zero que o Nelson e o Lud gostariam de justificar, será sempre impossível, e que para evitar a falência, as editoras terão sempre de obter dinheiro pela distribuição, e que não será a preço de custo marginal (tal alegação é demonstrativa de falta de conhecimentos contabilísticos básicos), e que por haver receitas fiscais envolvidas, os estados protegerão sempre quem gera dinheiro. Por isso a cruzada anti-editoras, será sempre uma guerra perdida para os defensores da borla total, como por exemplo o partido pirata Sueco, e ainda não percebi se também o Lud e o Nelson.

    ResponderEliminar
  46. Mário Miguel,

    «No caso do aguadeiros não acabaram, vedem à mesma a água "encaixotada", só que em vez de serem particulares são empresas, como a Luso, e ao invés de andarem na rua a venderem fazem-no nos supermercados.»
    Pois, houve uma adaptação, coisa que as industrias do copyright não querem fazer. E nem toda a gente compra água engarrafada. Quem não se importa de beber água da torneira (eventualmente filtrada, etc) não precisa de comprar água engarrafada. A cota de mercado dos "aguadeiros" caiu. Se eles tivessem reagido da mesma forma das industrias criativas, e se lhes tivesse sido dado o mesmo proteccionismo, a esta hora já a água da torneira vinha envenenada para ninguém a beber!

    «isso não implica que quem quer usar o copyright não tenha direito de o fazer, se for suicídio, azar.»
    Concordo completamente. Mas quando há "azar" vão-se queixar aos estados para pedirem cada vez maiores protecções, para suster o tal modelo de negócios que está a falhar. Parece que na industria criativa as coisas não podem falhar. Há sempre mais proteccionismo governamental para salvar a coisa.

    «Ninguém é obrigado a comprar, só compra quem quer, quem não quer comprar também não quererá de borla, ou quererá???? Ahh pois é...»
    Sim, há quem não compre pq não vale a pena ou é caro demais. Quem saca da net o que nunca compraria não causa mal nenhum a ninguém. E há quem o faça para experimentar, conhecer, encontrar coisas novas de que goste e que depois compra. Os estudos mostram q os "piratas" da net são simultaneamente os melhores clientes. Fazer partilha de ficheiros não é fundamentalmente diferente de gravar músicas da rádio, filmes da TV, copiar os CDs ou DVDs emprestados pelos amigos, etc. A diferença é uma de escala e facilidade. É irrealistico esperar que as pessoas não usem a tecnologia. E é irrealistico pensar que se pode acabar com a coisa por meios repressivos. Restam duas alternativas, modelos de negócio que aproveitem a partilha que já é feita, ou serviços legais que sejam ainda mais convenientes e atractivos. Enquanto a industria insistir em vender os seus produtos assim em vez de assado, como os consumidores querem, e exigir inutilmente q as suas vontades sejam respeitadas, não sai do sitio. É preciso colocar as questões "morais" ou ideológicas de lado e ser pragmático. Isto se quiserem resolver a questão... pq se quiserem continuar a investir contra moinhos de vento e manter tudo na mesma, tanto me dá.

    ResponderEliminar
  47. António,

    O exercício das 1000 ou 1001 frutas nem sequer é real. Os fruticultores e agricultores não sabem exactamente o q vão produzir. Podem ter uma estimativa. De resto, tem razão. Na produção de fruta dificilmente se consegue atribuir um custo de produção a cada unidade. No fundo têm-se custos anuais mais ou menos fixos de manter a propriedade, aplicar adubos, pesticidas, etc. E o custo marginal por peça de fruta é... aproximadamente zero. Basicamente os produtores vendem ao preço mínimo que permita escoar a produção. Resultado: volta e meia lá estão eles a manifestar-se em Lisboa ou em Bruxelas q os preços estão baixos demais (há pouco tempo foram os produtores de leite). E lá vêm os governos com cotas de produção, subsídios para não produzirem, etc. É o q dá um custo marginal quase zero combinado com concorrência "em demasia".

    Quanto aos CPUs, os primeiros exemplares "custam uma exorbitância" quando o fabricante o consegue justificar pelo desempenho. A AMD não tem conseguido fazer muito isso. E o custo de produção dos primeiros exemplares também é geralmente MUITO superior. É uma questão de quantos saem a funcionar e quantos saem estragados (ou a funcionar a baixa velocidade) em cada "bolacha" de silício. Veja-se um produto semelhante, mas em que a concorrência pelo preço é ainda mais aguerrida: a memória. O preço de venda anda tão perto do custo marginal q tivemos a Qimonda quase a fechar. Por muito que a Qimonda quisesse vender mais caro, o mercado é que define os preços.

    ResponderEliminar
  48. António,

    Se trabalhou em informática claro que não trabalhava a custo marginal, mas marcava os preços aplicando uma margem por cima do custo marginal de cada produto, certo? E essa margem é sempre tão alta quanto o mercado deixa. Devem-se contar pelos dedos das mãos as vezes que falei com revendedores sem se queixarem das margens estarem a ficar pequenas demais para cobrirem os gastos. Quem define as margens é a procura e sobretudo a concorrência, e desta há muita! Pode-se pressionar os revendedores para subirem as margens, pode-se espernear e arrancar cabelos! No fundo o mercado é q manda (por muito que as industrias criativas o queiram ignorar e culpar tudo na "pirataria"). E lá estão os serviços, a assistência técnica, etc, a subsidiar as baixas margens no hardware. Dificilmente alguma loja de informática existiria hoje só com a venda de hardware.

    Vejamos um exemplo de um produto subsidiado a interferir com um mercado: o programa e-escolas. O governo obrigou as operadoras de telemóveis a subsidiar portáteis para estudantes, com a assinatura da banda larga associada (e em troca das licenças 3G q receberam à borla). Resultado: os fabricantes vêm-se agora à rasca para vender portáteis mais caros aos estudantes. É certo q as operadoras compram-lhes os portáteis, mas usam o seu poder para espremê-los ao máximo. É um negócio de lucro quase nulo. A marca para a qual eu trabalhava, inicialmente nem participou e teve períodos em q voltamos a sair por causa disso. Agora imagine-se se as operadoras começavam a oferecer portáteis a custo zero, subsidiados com assinaturas de banda larga, e alargado ao público em geral. "Ninguém" mais conseguiria vender portáteis. Só as operadoras lucrariam alguma coisa e, em vez de reduzir os efectivos, melhor seria as marcas fecharem já os escritórios em Portugal! Não estou a criticar o programa e-escolas. É apenas um exemplo de como um produto financiado por outros meios que não a venda, altera um mercado para os que insistirem em vendê-lo.

    Onde eu quero chegar, mais uma vez, é que se vender um produto é um mau modelo de negócio, tudo o resto são tretas. Não adianta fazer birra, há que arranjar alternativas. E nem de propósito cá está mais um artigo no techdirt a argumentar q lá por esse modelo ser mau, não significa que não existam outros modelos de negócio bons e lucrativos para a música, e que esta sempre foi usada para acrescentar valor a outras coisas (como discos de plástico):
    http://techdirt.com/articles/20091208/1052477252.shtml
    Eu acrescentaria pedaços de papel (bilhetes), e q o negócio da música também inclui tradicionalmente um meio gratuito (a rádio) que promove o resto. A diferença para os novos modelos de negócio não é tão grande assim.

    Perdoa-me os “testamentos”, mas este é um assunto que me apaixona e pelas razões que já indiquei tenho tempo para desperdiçar. E não é por querer tudo à borla, é porque gostava de ver soluções positivas a aparecer e as coisas avançarem. Esta guerra da indústria contra os partilhadores não dá em nada e já dura há 10 anos. Nem um centavo mais para a criação resultou dela.

    Proponho-te um exercício António. Imagina que nunca tinha havido venda de CDs, discos de vinil, cassetes, etc. Havia apenas actuação ao vivo e a rádio. Nem copyrights existiam (não havia cópias sequer!). E agora surgiu a internet, com todas as suas potencialidades. Qual era a modelo que idealizavas para ti e para os músicos em geral? Criavas os copyrights, as editoras, a venda de música, etc? Colocavas isso com o papel dominante e protegia-lo a todo custo?

    ResponderEliminar
  49. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  50. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  51. Nelson,

    «Pois, houve uma adaptação, coisa que as industrias do copyright não querem fazer.»

    Sim, houve uma adaptação ao mercado, mas a forma do negócio é a mesma, agua engarrafada vendida às pessoas, nada mais, a adaptação foi como ela foi embalada distribuída e comercializada, de resto, o negócio é exactamente o mesmo: venda de água encaixotada, nada mais. Parece que queres dar a ideia que a base do negócio mudou, mas não, isso não ocorreu.


    «E nem toda a gente compra água engarrafada. Quem não se importa de beber água da torneira (eventualmente filtrada, etc) não precisa de comprar água engarrafada.»

    Exactamente, quem não quer comprar musica com «copyright», da mesma forma que não compra água da torneira, não compra, e vai beber água da torneira, ou música sem «copyright». Eu não diria melhor. O que dizes continua a não invalidar o facto de quem quer usar «copyright» no seu trabalho, não o possa fazer e legitimar essa "protecção".


    «A cota de mercado dos "aguadeiros" caiu. Se eles tivessem reagido da mesma forma das industrias criativas, e se lhes tivesse sido dado o mesmo proteccionismo, a esta hora já a água da torneira vinha envenenada para ninguém a beber!»

    Falso paralelismo, errado até à ultima casa decimal. Hoje em dia quem quiser dar a sua música de borla pode dar, o envenenar água da torneira seria o equivalente a quem não quer usar o «copyright» fosse boicotado, como exemplo seria um troiano nos mp3 que os autores forneceriam sem «copyright», mas não é isso que ocorre. Que fique claro. Quem não quer usar «copyright» pode fazer sem espinhas. Quem quer também, qual é mesmo o problema????


    «Mas quando há "azar" vão-se queixar aos estados para pedirem cada vez maiores protecções, para suster o tal modelo de negócios que está a falhar. Parece que na industria criativa as coisas não podem falhar. Há sempre mais proteccionismo governamental para salvar a coisa.»

    É o direito deles, azarzinho para quem quer adquirir o que foi feito e distribuído sobre essa regra (eu só vendo quem concordar com isto, não concordas, sem problema,
    não compras, mas não vais por trás adquirir. FIM da história...). Quem fez só disponibilizou o produto mediante essa regra, e como estamos a falar de coisas que não estão no patamar da insulina ou coisa similar, então a coisa é simples.


    «Sim, há quem não compre pq não vale a pena ou é caro demais. Quem saca da net o que nunca compraria não causa mal nenhum a ninguém.»

    O autor/empresa que fez o produto é que é dono dele até ser cedido sobre o acordo que é determinado e aceite por ambas as partes. Se é dono é quem decide se pode ou não ceder a coisa. Não é o consumidor que diz que quer aceder à coisa e prontos, isto é colocar todo ao contrario.

    (Continua...)

    ResponderEliminar
  52. (...Continuação)

    «E há quem o faça para experimentar, conhecer, encontrar coisas novas de que goste e que depois compra.»

    Se quem fez a coisa concordar com isto, tudo bem, se não concordar, é ele que terá o direito de restringir, e não o consumidor de adquirir.


    «Fazer partilha de ficheiros não é fundamentalmente diferente de gravar músicas da rádio, filmes da TV, copiar os CDs ou DVDs emprestados pelos amigos, etc. A diferença é uma de escala e facilidade».

    É um facto, embora não suporte nenhuma ideia em concreto. Argumento neutro...

    Se quem vende disser o disparate que deves ouvir o cd unicamente às sextas-feira e que deves pagar uma multa se cantares aos sábados, parece-me que se alguém comprar mediante esse acordo devia cumprir, eu, obviamente, não compraria. Simples... Por mais idiota que seja o acordo, isso não me dá o direito de eu ir por outra via sacar a música. Azar para quem vende se vender menos.


    «É irrealistico esperar que as pessoas não usem a tecnologia. E é irrealistico pensar que se pode acabar com a coisa por meios repressivos.»

    O facto de ser irrealista parece ser um facto, mas o facto de não se poder conter a cópia é bem diferente de se tentar com isto de forma subtil e indirecta validar e legitimar a cópia não comprada, caso ela esteja protegida pelo «copyright».


    «Restam duas alternativas, modelos de negócio que aproveitem a partilha que já é feita, ou serviços legais que sejam ainda mais convenientes e atractivos. Enquanto a industria insistir em vender os seus produtos assim em vez de assado, como os consumidores querem, e exigir inutilmente q as suas vontades sejam respeitadas, não sai do sitio.»

    os cliente podem exigir muita coisa: que o produto seja bom, que esteja em funcionamento, que seja conforme etc... Mas não podem exigir de borla o que não é. Se essa politica levar à falência as editoras, por mim, tanto faz. O direito de quem faz a coisa é superior a vontadinha que eu tenho ter à borlix o CD X ou Y.


    «É preciso colocar as questões "morais" ou ideológicas de lado e ser pragmático. Isto se quiserem resolver a questão... pq se quiserem continuar a investir contra moinhos de vento e manter tudo na mesma, tanto me dá.»

    É um direito de quem vende, como já disse só compra quem quer e ninguém é obrigado a comprar nada, certo?! Estamos a falar de "pipocas" e não de Insulina... Se falirem, azar.

    ResponderEliminar
  53. Mário Miguel,

    «o envenenar água da torneira seria o equivalente a quem não quer usar o «copyright» fosse boicotado»

    A analogia da água envenenada foi um paralelismo à forma como a industria criativa está a tentar proibir certos actos privados (ou para fins privados) para proteger os seus lucros, coisa que acho inaceitável.

    «É o direito deles, azarzinho para quem quer adquirir o que foi feito e distribuído sobre essa regra [...] Se quem vende disser o disparate que deves ouvir o cd unicamente às sextas-feira e que deves pagar uma multa se cantares aos sábados, parece-me que se alguém comprar mediante esse acordo devia cumprir»

    É o direito da indústria criativa ter protecção jurídica para todos os seus caprichos???? E as outras não têm o mesmo direito porquê???? Não Mário, o direito de autor não funciona assim. Os criadores não podem impor todas regras que quiserem (a não ser que haja algum contrato prévio assinado, e mesmo assim...). Podem tentar, que tal tenha valor jurídico é que já é outra história. Muito menos podem os criadores impor regras ou multas a quem não aceitou nem sequer um contracto implícito (quem não comprou). O estado é que define na lei os direitos dos autores, assim como os direitos dos utilizadores. Os autores só têm o direito de controlar a venda das suas obras devido ao monopólio temporário concebido pelo estado. Sem isso, esse direito não existe.

    Se é ilegítimo aceder a um conteúdo sem o comprar e/ou respeitar as condições dos autores, por idiotas que sejam, ninguém o disse ao legislador! Temos de começar por fechar as bibliotecas. Depois proibir a cópia privada (é da maneira q se paga menos nos CDs e DVDs graváveis) e depois ainda com as excepções para educação, hospitais, direito de se fazer citações, etc, etc. A rádio também leva por tabela, que isso de passar músicas sem autorização prévia explicita também não pode ser correcto. E pq não tornar os copyrights eternos? Os bisnetos, trinetos e tetranetos dos autores também devem receber por obras q eles nem fizeram.

    Felizmente as coisas não são assim. Segundo a nossa lei, os intérpretes, músicos e produtores de gravações fonográficas nem sequer têm o direito de se queixarem do uso privado de cada um. Só os autores e compositores se podem queixar no caso de acharem que a exploração comercial das suas obras é ilegitimamente afectada. E depois cabe ao juiz decidir se tal é verdade ou não. Daí q nem se saiba se o download para fins privados é ilegal em Portugal.

    Eu compreendo os teus argumentos Mário, mas os direitos de autor não são uma coisa de preto ou branco. Não é "como eu quero ou põe-te a andar". São uma série de tons de cinzento, que tentam equilibrar a exploração comercial com as necessidades de acesso à informação, acesso à cultura (que é de todos!), e claro a privacidade de cada um. Este equilíbrio, e o facto de os direitos incidirem principalmente sobre a cópia, foi concebido à volta de um certo modelo de negócio: a venda de cópias. A partir do momento em que a tecnologia colocou esse modelo de negócio em crise, a lei também está desfasada e precisa de ser reequacionada.

    (continua)

    ResponderEliminar
  54. (continuação)

    Eu tendo a achar que se deve alargar o princípio da cópia privada à partilha de ficheiros na internet. Eventualmente, com uma taxa que o compense, se for necessário (e é discutível). Precisamente por não ser fundamentalmente diferente da gravação de filmes da TV, música da rádio, ou emprestar CD/DVD ao amigos, e por ser tão ou mais difícil de proibir e controlar. E também pq há modelos de negócio que podem ser edificados com base nisso e que a longo prazo serão mais ou menos inevitáveis.

    A outra opção é o maximalismo do copyright. Assumir que os interesses da indústria devem estar acima de tudo, e siga em frente tipo rolo compressor. É preciso passar por cima da privacidade de cada um, da neutralidade dos intermediários, da confidencialidade das comunicações, etc. E depois ainda se vai ver que não chega e é preciso fazer pior. Em França o sector já conseguiu a "resposta gradual" e não satisfeitos agora querem também uma taxa de 1€ nas ligações à internet. Se querem mais 10 anos de conflitos, discussões e processos em tribunal sem que nada de fundamental mude, força. Acho que ninguém ganha com isso, excepto talvez os advogados e aqueles que vão ganhando alguma coisa com a pirataria.

    ResponderEliminar
  55. Nelson,


    «A analogia da água envenenada foi um paralelismo à forma como a industria criativa está a tentar proibir certos actos privados (ou para fins privados) para proteger os seus lucros, coisa que acho inaceitável.»

    Paralelismo feito de forma incorrecta.


    «É o direito da indústria criativa ter protecção jurídica para todos os seus caprichos???? E as outras não têm o mesmo direito porquê????»

    O problema é esse mesmo, é das outras não terem esse direito e não a industria criativa ter.


    «Não Mário, o direito de autor não funciona assim. Os criadores não podem impor todas regras que quiserem (a não ser que haja algum contrato prévio assinado, e mesmo assim...)»

    Sim, tudo não pode estar ao nível das lei, embora eu por mim não acharia reprovável (ao nível do entretenimento) que as condições fosse as mais exóticas. Mas uma coisa é certa, cópia não paga é punível por lei.


    «O estado é que define na lei os direitos dos autores, assim como os direitos dos utilizadores. Os autores só têm o direito de controlar a venda das suas obras devido ao monopólio temporário concebido pelo estado. Sem isso, esse direito não existe.»

    Exacto, e é isso que é transgredido actualmente à grande...


    «Se é ilegítimo aceder a um conteúdo sem o comprar e/ou respeitar as condições dos autores, por idiotas que sejam, ninguém o disse ao legislador! Temos de começar por fechar as bibliotecas. Depois proibir a cópia privada (é da maneira q se paga menos nos CDs e DVDs graváveis) e depois ainda com as excepções para educação, hospitais, direito de se fazer citações, etc, etc»

    Fechar bibliotecas? Porquê? Não vi nenhum autor a reclamar, ouviste???


    «E pq não tornar os copyrights eternos? Os bisnetos, trinetos e tetranetos dos autores também devem receber por obras q eles nem fizeram.»

    Simples: Direito de autor, nao é direito dos descendentes do autor.


    «Eu compreendo os teus argumentos Mário, mas os direitos de autor não são uma coisa de preto ou branco. Não é "como eu quero ou põe-te a andar".»

    Claro que é, pois estando no campo do entretenimento é isso mesmo, queres compras, não queres não compres, não morres por isso, só amuas. Se vai sacar à borla, se usufruis, porquê não pagar esses "amendoins"?


    «Este equilíbrio, e o facto de os direitos incidirem principalmente sobre a cópia, foi concebido à volta de um certo modelo de negócio: a venda de cópias. A partir do momento em que a tecnologia colocou esse modelo de negócio em crise, a lei também está desfasada e precisa de ser reequacionada.»

    Sim, sei perfeitamente a história da coisa... Se a industria se lixar isso é outro filme, não confundas... Agora que eles têm o direito de o fazer é legítimo, se é desactualizado e os leva a ruína isso é outra coisa que de repente parece que indicia que o coisa seja reprovável. Não faças esta misturada.


    «A outra opção é o maximalismo do copyright. Assumir que os interesses da indústria devem estar acima de tudo, e siga em frente tipo rolo compressor. É preciso passar por cima da privacidade de cada um, da neutralidade dos intermediários, da confidencialidade das comunicações, etc. E depois ainda se vai ver que não chega e é preciso fazer pior.»

    A questão é esta, se é considerado ilegal e se é legitimo as editoras/autores verem os seus direitos salvaguardados, qual é o problema? Privacidade? A privacidade pode ser mote para encobrir uma ilegalidade?
    Mas isso resolvia-se bem com software que faria a coisa de forma independente do homem.

    ResponderEliminar
  56. «O problema é esse mesmo, é das outras não terem esse direito e não a industria criativa ter.»

    Pelo contrário! O proteccionismo é um grande problema e é economicamente indesejado. Não cabe ao estado proteger umas empresas em detrimento de outras ou limitar a concorrência ou a evolução tecnológica. Deve ser o mercado a escolher os vencedores, não o estado! Já agora voltávamos aos tempos em que os reis atribuíam monopólios de tudo e mais alguma coisa, e geralmente a quem interessava por razões politicas. Mais, se o estado deixasse as empresas venderem os seus produtos como bem entendessem, não haveria garantias nem outros direitos dos consumidores. Era bonito, era…

    «embora eu por mim não acharia reprovável (ao nível do entretenimento) que as condições fosse as mais exóticas. Mas uma coisa é certa, cópia não paga é punível por lei.»

    Entretenimento (também) é cultura e é desejável promover o seu acesso. Tem de haver um equilíbrio. E não, a cópia não paga nem sempre é punível por lei. A cópia para uso privado é legal! Não tens aí em casa CDs copiados? Cassetes gravadas da TV ou da rádio? Fotocópias? Pagaste a alguém? Achas que é ilegal? As cópias temporárias efectuadas pelos computadores e equipamentos de rede também são reconhecidas como legais, por exemplo. Claramente ilegal é vender cópias sem autorização do autor (e nem sequer comprá-las é ilegal). No resto a legislação começa a ficar turva... cinzenta.

    «Fechar bibliotecas? Porquê? Não vi nenhum autor a reclamar, ouviste???»

    As bibliotecas dão acesso às obras sem se pagar. E sem pedir autorização aos autores! Então isso não é ilegítimo, Mário? :)

    E sim, há quem se queixe. Há um autor na Nova Zelândia que diz que é roubo andarem a emprestar livros sem lhe pagar:
    http://techdirt.com/articles/20090925/0100086317.shtml

    «Simples: Direito de autor, nao é direito dos descendentes do autor.»

    Mário, não conheces mesmo a lei, pois não? Também gostava q assim fosse, mas... Os direitos sobre gravações podem expirar em 50 anos, mas os direitos de autor duram durante a vida do autor mais 70 anos! Os descendentes herdam os direitos e têm feito muita coisa estúpida, como os descendentes do irlandês James Joyce que quiseram proibir a leitura de passagens dos livros dele numa cerimónia de homenagem. E a viúva do Frank Zappa também não quer que ninguém toque as músicas dele:
    http://techdirt.com/articles/20090414/0315454503.shtml

    «A questão é esta, se é considerado ilegal e se é legitimo as editoras/autores verem os seus direitos salvaguardados, qual é o problema? Privacidade? »
    O que é ilegal pode ser alterado, basta haver vontade política. Sim, é legitimo as editoras/autores tentarem proteger os seus direitos, mas só até certo ponto. Os direitos e liberdades de uns acabam quando esbarram nos direitos e liberdades dos outros. E aí temos de nos entender uns com os outros, ou não saímos do sítio. Não me digas que aceitavas que te entrasse um polícia em casa todos os dias para ver se tinhas cópias ilegais (ou outras coisas piores)?

    Atentar contra direitos fundamentais para proteger o raio de um negócio, seja ele qual for, não é legítimo! Como disseste isto é “pipocas”, não insulina. Ninguém morre se as editoras forem à falência.

    «A privacidade pode ser mote para encobrir uma ilegalidade? Mas isso resolvia-se bem com software que faria a coisa de forma independente do homem.»

    Pode, e é, todos os dias. Um software que filtre as coisas automaticamente, não resulta. Encripta-se o tráfego e pronto. E já agora, aceitavas um software automático que te desligasse as chamadas telefónicas quando ouvisse certas palavras (indiciadoras de algo ilegal)?

    ResponderEliminar
  57. Já agora uns vídeos sobre o que tenho falado aqui.

    Os princípios económicos dos bens abundantes:
    http://www.youtube.com/watch?v=VuxMJ8lnYA4

    O dilema do inovador:
    http://www.youtube.com/watch?v=Q1vw23YHFds

    Why $0.00 is the Future of Business:
    http://www.youtube.com/watch?v=RZkeCIW75CU

    ResponderEliminar
  58. Nelson,

    «[...] proteger umas empresas em detrimento de outras ou limitar a concorrência ou a evolução tecnológica»

    Não é isso que está em causa na música.


    «Deve ser o mercado a escolher os vencedores, não o estado!»

    Com o copyright continua a ser o mercado a definir os vencedores, e não é por haver copyright que não pode haver música sem ele, certo?!

    «A cópia para uso privado é legal! Não tens aí em casa CDs copiados? Cassetes gravadas da TV ou da rádio? Fotocópias? Pagaste a alguém?»

    Para uso privado na boa, backup etc... Agora se eu compro sabendo que não posso copiar para dar a um amigo, não compro, ou se compro não faço, simples. Onde está a dúvida?


    «As cópias temporárias efectuadas pelos computadores e equipamentos de rede também são reconhecidas como legais, por exemplo»

    E???


    «As bibliotecas dão acesso às obras sem se pagar. E sem pedir autorização aos autores! Então isso não é ilegítimo, Mário? :) »

    Se os autores não reclamam, então é legítimo (na minha opinião).


    ««Simples: Direito de autor, não é direito dos descendentes do autor.»

    Mário, não conheces mesmo a lei, pois não?»


    Por acaso até conheço, até podes ver eu a comentar em posts anteriores onde se fala nisso, o que eu disse foi a minha opinião, lamento se não fui claro, e repito: Direito de autor, não é direito dos descendentes do autor, é o que eu acho correcto, embora não seja o que ocorre.


    «O que é ilegal pode ser alterado, basta haver vontade política. Sim, é legitimo as editoras/autores tentarem proteger os seus direitos, mas só até certo ponto. Os direitos e liberdades de uns acabam quando esbarram nos direitos e liberdades dos outros. E aí temos de nos entender uns com os outros, ou não saímos do sítio. Não me digas que aceitavas que te entrasse um polícia em casa todos os dias para ver se tinhas cópias ilegais (ou outras coisas piores)?»

    Não, mas não poderia reclamar se eu tivesse um servidor de música a fazer uploads em fartura e me desligassem a Net.


    «Pode, e é, todos os dias. Um software que filtre as coisas automaticamente, não resulta. Encripta-se o tráfego e pronto.»

    Jogue-se ao gato e ao rato, haverá forma de identificar quem faz upload.


    «E já agora, aceitavas um software automático que te desligasse as chamadas telefónicas quando ouvisse certas palavras (indiciadoras de algo ilegal)? »

    Não, pelo simples facto de dizer coisas ilegais seria um disparate não comparável a reproduzir ilegalmente uma obra.

    ResponderEliminar
  59. Mário Miguel,

    O estado, ao proteger especificamente um certo modelo de negócio, no “big picture” está de facto a favorecer umas empresas em detrimento de outras, a limitar a concorrência e a evolução do mercado. Ao fecharem-se sites que servem de plataforma para distribuição de conteúdos gratuitos (ilegais ou não) atacam-se os alicerces dos modelos de negócio alternativos. As grandes editoras ao extorquirem milhões de qualquer empresa que queira fazer seja o que for com música na internet, geralmente sob ameaça de processo em tribunal, ainda antes de estarem sequer em actividade quanto mais terem lucro, estão a dificultar o aparecimento e desenvolvimento de canais de distribuição alternativos (e lucrativos para as editoras a longo prazo). E se se vier a taxar os ISPs, ou a obrigá-los a vigiarem ou desligarem os seus clientes, está-se a interferir no negócio e desenvolvimento destes. E tudo isto são esforços e despesas (algumas da responsabilidade do estado) para dar falsas esperanças a um modelo de negócio moribundo.

    As editoras têm todo o direito do mundo de continuarem em toda a velocidade em direcção ao precipício. Mas não podem exigir que o estado vá construindo uma ponte para quando lhes faltar chão debaixo dos pés, em detrimento daqueles que estão a caminhar para terra mais firme. Isso não ajuda ninguém.

    «Agora se eu compro sabendo que não posso copiar para dar a um amigo, não compro, ou se compro não faço, simples.»
    Compreendo e respeito. Embora geralmente até tenhas o direito, por lei, de fazer cópias para uso privado. A não ser que tenha protecções anti-cópia cuja neutralização é ilegal (que já foi outra treta que enfiaram aos governos… pq senão era o fim, bla bla bla). Nesse caso a lei diz que precisas de ir ao IGAC pedir uma ferramenta que te permita fazer uma cópia. Ferramenta essa que eles não têm. :)

    «Direito de autor, não é direito dos descendentes do autor, é o que eu acho correcto, embora não seja o que ocorre.»
    Assino em baixo. Mas já agora que justificação vês para que esses direitos durem sequer a vida toda do autor? Quem faz e vende bens físicos não tem direito de impedir ou exigir pagamento no caso de revenda, aluguer, etc. Quem faz uma casa ou um prédio, vende uma vez e pronto. Ninguém paga nada ao arquitecto, engenheiro ou empreiteiro que fez uma casa ou um prédio quando o revende ou aluga. Há um século atrás, pelo menos nos EUA, os direitos de autor duravam 14 anos, podendo ser renovados por outros 14. Agora creio que vai em vida mais 90 anos.

    «Não, mas não poderia reclamar se eu tivesse um servidor de música a fazer uploads em fartura e me desligassem a Net.»
    Dependendo da natureza do servidor, e das músicas, e se já tivesses sido avisado antes, sim até se pode dizer que concordo. Embora sendo uma ligação doméstica, segundo a legislação europeia aprovada recentemente, terias de ser ouvido primeiro, e consideradas as provas contra ti, e poderias apelar judicialmente depois.

    «Jogue-se ao gato e ao rato, haverá forma de identificar quem faz upload.»
    Não se o upload for feito através de um servidor com uma VPN ou se fizerem o upload para um site tipo rapidshare e afins. Os ratos têm muito por onde fugir. E é esse jogo do gato e do rato técnico-juridico que já dura à 10 anos e que eu acho desejável que termine. Esta coisa da “resposta gradual” só vai dar dinheiro aos sites tipo rapidshare e aos serviços VPN. Não vai dar dinheiro é aos artistas. Grande progresso, hein?

    Quanto ao software que cortaria chamadas telefónicas. Os telefones são usados todos os dias para coisas mais graves que a “pirataria”. Se fosse para cortar chamadas de quem estivesse a combinar assaltar ou matar alguém, ou planear ataques terroristas, até eram “disparates” bem mais graves que reproduzir ilegalmente obras, não? Nem por isso se aceita vigilância indiscriminada, nem se exige às empresas de telecomunicações que o impeçam ou paguem por isso.

    ResponderEliminar
  60. Nelson,

    Faço perfeitamente ideia daquilo que me desafia no comentário de "09/12/09 06:43". Se "não houver copyright", e não havia, a cultura era para os ricos que eram amigos do rei e afins e que iam aos concertos dos autores elitistas da epoca. Das centenas que existiam, hoje conhecemos uns quantos, cuja obra foi escolhida pelos interpretes, para gravarem, e os restantes foram esquecidos pois não tinham tanto interesse para quem os sabia tocar.
    Havendo tanta tecnologia, e nenhuma protecção de cópia, o mais provável seria impedir a entrada dessa tecnologia nas salas, nem que fosse à bruta, com recurso à propria tecnologia. Mala de senhora fica no vestibulo, e nem entram telemoveis ou gravadores. Querem ouvir, pagam! Sempre foi assim, até haver copyright. Se deixar de haver copyright, pode voltar a ser assim ou muito semelhante. Eu não sou obrigado a deixar gravar um "acto privado", por muito que paguem para o presenciar. Eu como artista não sou muito prejudicado, mas, muitos consumidores potenciais vão deixar de ter acesso. Estão melhor? Dúvido...

    ResponderEliminar
  61. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  62. Nelson,

    «O estado, ao proteger especificamente um certo modelo de negócio, no “big picture” está de facto a favorecer umas empresas em detrimento de outras, a limitar a concorrência e a evolução do mercado.»

    Limitar concorrência? Como assim? Então se as pessoas tem que pagar, não será óbvio que quem opte por oferecer é que ganhará? Não é proibido oferecer sem Copyright, certo? Ou estás implicitamente a querer dizer que devido à dinâmica do Copyright esses produtos são mais apetecíveis por terem maior "qualidade"?


    «Ao fecharem-se sites que servem de plataforma para distribuição de conteúdos gratuitos (ilegais ou não) atacam-se os alicerces dos modelos de negócio alternativos.»

    Calminha aí, sites que não tenham nada de ilegal não são fechados, e que eu saiba não é proibido dar borlas, basta ver o caso da Ana Free, ou do Radiohead que optaram por outras estratégias vencedoras.


    «As grandes editoras ao extorquirem milhões de qualquer empresa que queira fazer seja o que for com música na internet, geralmente sob ameaça de processo em tribunal, ainda antes de estarem sequer em actividade quanto mais terem lucro, estão a dificultar o aparecimento e desenvolvimento de canais de distribuição alternativos (e lucrativos para as editoras a longo prazo)».

    Não estão não, estão é a dificultar que se prevarique, mais nada, os canais de distribuição legais vão de vento em popa, basta ver o iTunes, mesmo que tenha decrescido, vende a rodos. Os canais de distribuição alternativos nada têm a temer.


    «E se se vier a taxar os ISPs, ou a obrigá-los a vigiarem ou desligarem os seus clientes, está-se a interferir no negócio e desenvolvimento destes».

    Mas SÓ dos que prevaricam, os outros, não os metas no mesmo saco. Esse podem fazer o que lhes bem entenderem. Ninguém é obrigado a assinar com as editoras.


    «E tudo isto são esforços e despesas (algumas da responsabilidade do estado) para dar falsas esperanças a um modelo de negócio moribundo.»

    Não é devido ao negócio estar moribundo que se pode sustentar o argumento em que se pode ir contra a lei que, para mim, reflecte o direito legítimo do autor/editora vender o seu produto com a condição que ele define. Quem compra, se não gostar do acordo, que não compre, como já disse várias vezes aqui. Tens alguma justificação para que isto não seja válido no contexto do entretenimento???


    «As editoras têm todo o direito do mundo de continuarem em toda a velocidade em direcção ao precipício. Mas não podem exigir que o estado vá construindo uma ponte para quando lhes faltar chão debaixo dos pés, em detrimento daqueles que estão a caminhar para terra mais firme. Isso não ajuda ninguém.»

    Os que caminham para terra firme que o façam com música sem Copyright.


    «Mas já agora que justificação vês para que esses direitos durem sequer a vida toda do autor?»

    Foi ele que fez a obra, logo só a publicou mediante esse acordo, concordo com isto só para o entretenimento.


    «Quem faz e vende bens físicos não tem direito de impedir ou exigir pagamento no caso de revenda, aluguer, etc»

    O que se lucra com uma casa, e o que o arquitecto ganha com um projecto é radicalmente diferente do que se ganha com um único álbum, logo a comparação falha neste ponto.


    «Não se o upload for feito através de um servidor com uma VPN ou se fizerem o upload para um site tipo rapidshare e afins»

    É não devido a aldrabice e a contornar com intenção de fugir à coisa, que não está presente neste caso a intenção e a acção de aldrabar. Isentar que se seja apanhado não implica que não se seja culpado, não faças esta confusão.


    «Quanto ao software que cortaria chamadas telefónicas.»

    Desacordei disso, lembras-te? No entanto se for efectivamente e indubitavelmente para o bem público que haja escutas, nem me ponho a pensar duas vezes, embora tenha que ser feito com critérios rigorosos, e não para simples palavras proibidas sem o mínimo sentido.

    ResponderEliminar
  63. Mário Miguel,

    «Pois... No caso do aguadeiros não acabaram, vedem à mesma a água "encaixotada", só que em vez de serem particulares são empresas,»

    Não. Os aguadeiros vendiam o serviço de levar água às pessoas. Esse serviço deixou de ser um negócio rentável. As empresas de água engarrafada vendem algo diferente, como a qualidade da água, por exemplo. É por isso que os aguadeiros desapareceram e essas empresas não.

    Na música passa-se o mesmo. Há um serviço de distribuição que deixou de ser rentável. O resto é rentável. Concertos, edições limitadas, musica paga antes de ser gravada, e assim por diante. Por isso é lógico que o mercado abandone a distribuição e se dedique ao resto.

    Mas pessoas como o António defendem que se imponha restrições legais cujo único propósito é defender um negócio ultrapassado. Como proibir torneiras para proteger os aguadeiros. E isso é absurdo. Se o negócio não sobrevive sem leis cuja única justificação seja proteger o negócio, esse negócio não merece sobreviver.

    ResponderEliminar
  64. Mário Miguel,

    « Por mais idiota que seja o acordo, isso não me dá o direito de eu ir por outra via sacar a música. Azar para quem vende se vender menos.»

    O que está em causa é não é o direito de sacar música. É a legitimidade de proibir os outros de o fazer.

    Tu argumentas que quem celebra um contrato deve ser legalmente obrigado a cumpri-lo. Não é verdade, mas vamos começar por assumir que sim. Nesse caso, se te recusares a celebrar o contrato não és obrigado a cumpri-lo. Por isso se eu me recusar a comprar o CD não tenho nenhuma obrigação contractual que me impeça de o sacar da net.

    Ou seja, a proibição de partilha tem de existir para além do contrato. Tem de afectar toda a gente quer queira quer não. E isso eu proponho que é ilegítimo. Se eu cantar uma música, usar um aparelho para a descrever como uma lista de números e disponibilizar voluntariamente esses números para estações de rádio, editoras, e publico em geral não é legítimo querer depois proibir o acesso a esses números.

    Quanto ao contracto penso que também não tens razão. Se o cumprimento do contracto é para ser imposto por força da lei, então só o deve ser naquilo que é legítimo a lei impor. Pagamentos, sim. Se ouvimos a música à quinta feira em vez de à sexta, não.

    E a troca de listas de números que foram voluntariamente publicadas pelos autores é algo que a lei não deve ter legitimidade para impedir.

    ResponderEliminar
  65. Ludwig,

    «Não. Os aguadeiros vendiam o serviço de levar água às pessoas. Esse serviço deixou de ser um negócio rentável. As empresas de água engarrafada vendem algo diferente, como a qualidade da água, por exemplo. É por isso que os aguadeiros desapareceram e essas empresas não.»

    Engano teu. O serviço fundamental é vender água num contentor transportável mantém-se, o que mudou é a qualidade do conteúdo e onde ele é vendido. É como vender com Copyright, mas mudar a forma como vendo os CD's, vendendo com mais qualidade de som (Super Áudio CD) e com faixas de vídeo etc...


    «Como proibir torneiras para proteger os aguadeiros.»

    Para fazeres o paralelismo exacto isto estaria correcto se alguém ligasse a tubagem da EPAL à fonte do Luso e distribuísse para toda a rede essa água e lucrasse com isso. Nesse caso proibir as torneiras de se abrir quando é distribuído água do Luso sem autorização é perfeitamente justificável.


    «Tu argumentas que quem celebra um contrato deve ser legalmente obrigado a cumpri-lo. Não é verdade, mas vamos começar por assumir que sim. Nesse caso, se te recusares a celebrar o contrato não és obrigado a cumpri-lo. Por isso se eu me recusar a comprar o CD não tenho nenhuma obrigação contractual que me impeça de o sacar da net.»

    Para mil e uma obrigações que estás sujeito na sociedade não fizeste contrato nenhum, e tens que as cumprir sem apelo nem agravo.


    «Quanto ao contracto penso que também não tens razão. Se o cumprimento do contracto é para ser imposto por força da lei, então só o deve ser naquilo que é legítimo a lei impor. Pagamentos, sim. Se ouvimos a música à quinta feira em vez de à sexta, não.»

    Porque não? Mesmo sendo um exemplo idiota, porque não quando aplicado ao puro entretenimento? Eu vendo a minha música, sou um artista extravagante (não devem faltar) e impõem, por exemplo, que se reze antes de ouvir a música dele. Acho parvoíce, mas não és obrigado a comprar, então não compres. Eu sei que isto parece de doidos, mas serve para exemplificar como exemplo limite. Mesmo que a lei não contemple esse tipo de acordo (de puro entretenimento). que não coloca a integridade da pessoa em perigo, então não vejo porque não.


    «E a troca de listas de números que foram voluntariamente publicadas pelos autores é algo que a lei não deve ter legitimidade para impedir.»

    Se o autor as publicou com a condição de que quem ler tem que fazer algo, então está a subverter a condição que levou o autor a publicar caso não cumpra o que o autor estipulou, pois ele publicou nessas condições, não noutras.

    ResponderEliminar
  66. António,

    Acho essa uma visão muito pessimista da situação. O que está a acontecer são os artistas utilizarem a internet para se tornarem conhecidos, para se aproximarem dos fans, e com isso conseguirem vender muita coisa (concertos, merchandising e não só) ou angariarem donativos para financiar a gravação de álbuns. Há até sites para organizar isso, o sellaband.com por exemplo. E há as bandas, anteriormente envolvidas com editoras, a auto-financiar a gravação de novos álbuns e a ganhar mais com isso. Lembro-me de ler sobre uma banda q dizia já ter ganho mais dinheiro em 4 meses só a vender CDs no final dos concertos, do que em 3 anos a gravar através de editoras e a vender pelo canal de distribuição normal.

    Pois é... o negócio das editoras não é dar dinheiro aos músicos, é ganhar dinheiro com eles! Ainda nos últimos dias foram notícia dois casos de como as editoras evitam pagar aos artistas:
    http://remixtures.com/2009/12/canada-majors-arriscam-se-a-pagar-quase-4-mil-milhoes-de-e-por-violacao-de-copyright/
    http://remixtures.com/2009/12/artista-acusa-warner-music-group-de-esconder-dinheiro-das-vendas-da-sua-banda/

    Se as editoras não existissem e os músicos tivessem dependido apenas dos concertos ao vivo e da rádio até hoje, tudo isto que a internet oferece poderia ter surgido igualmente agora. O facto das editoras ainda serem o meio dominante para financiar a gravação (e até já começo a duvidar se serão, face à quantidade de música feita fora), é mais por razões históricas do que por ser o modelo "ideal" ou mais lucrativo para os artistas. E não estou com isto a tentar desculpar ou justificar a partilha de ficheiros. Apenas a argumentar contra essa visão pessimista de que sem as editoras vai ser tudo muito pior.

    No entanto também reconheço que se as editoras não existissem muitos artistas habituados só a viver de concertos, até vissem a internet e os MP3 como ameaças. Afinal foi isso que aconteceu quando o Thomas Edison começou a gravar rolinhos de música. :)

    ResponderEliminar
  67. Mário Miguel,

    «Calminha aí, sites que não tenham nada de ilegal não são fechados, e que eu saiba não é proibido dar borlas, basta ver o caso da Ana Free, ou do Radiohead que optaram por outras estratégias vencedoras.»
    Estou a falar de sites como o Mininova, e as redes de partilha de ficheiros em geral, que a apesar de terem muito conteúdo legal, colocado ou autorizado pelos autores, não deixam de ser perseguidos e de os tentarem encerrar. O Mininova, ao contrário do Pirate Bay, até retirava torrents quando os detentores de direitos assim o pediam. E até tentou implementar um sistema mais pró-activo, mas não foi suficiente. Um tribunal ordenou agora que deixassem apenas os torrents colocados confirmadamente pelos detentores dos direitos. O próprio Youtube tem sofrido pressões do género, e se não tivesse o Google por trás, que é poderoso e tem dinheiro para ir pagando, não sei como estaria hoje. Se a decisão do Mininova lhe fosse aplicada, 99% dos vídeos tinham de ser retirados. É aquela coisa de culpar as ferramentas e os serviços pelas acções dos seus utilizadores, e através disso torná-las menos atractivas e difíceis de usar até para os que cumprem as regras.

    E já adivinho Mário que vais dizer que os autores que não querem ter os seus conteúdos nestes sites não são a isso obrigados. Mas os sites também não devem ser obrigados a adivinhar os desejos dos autores, ou a serem os “polícias” deles. E lembro-te também que não foi este o entendimento quando surgiu a rádio por exemplo. Não era possível às estações de rádio funcionarem, a não ser com uma playlist muito limitada, se tivessem de pedir autorização e negociar pagamento por cada música que colocam no ar. Optou-se por uma espécie de licença global estabelecida por lei. Caso contrário ainda hoje tínhamos rádios piratas a emitir de barcos em alto mar.

    Felizmente a legislação de direitos de autor não serve apenas para garantir que os desejos dos autores sejam cumpridos. É um equilíbrio entre os desejos dos autores (e intermediários) e os do público. É suposto ser algo bom para a sociedade em geral, e não apenas para alguns!

    Tal como era uma pena não deixar a rádio florir, só para respeitar os desejos individuais dos autores e artistas, também é uma pena deitarmos fora essa espécie de “biblioteca de Alexandria” virtual que são as redes de partilha de ficheiros, sem que existam alternativas comerciais que ofereçam algo parecido. Algo como o Spotify, por exemplo, que tendo de pedir autorização nunca poderá ter tanta variedade, mas já dá acesso a uns milhões de músicas de forma gratuita com publicidade ou por assinatura. Coisas que só após 10 anos as editoras começam finalmente a autorizar (embora geralmente só após adiantamentos milionários e, como é o caso do Spotify, participação accionista na empresa).

    (continua)

    ResponderEliminar
  68. (continuação)

    «Não é devido ao negócio estar moribundo que se pode sustentar o argumento em que se pode ir contra a lei que, para mim, reflecte o direito legítimo do autor/editora vender o seu produto com a condição que ele define. […] Tens alguma justificação para que isto não seja válido no contexto do entretenimento???»
    O meu argumento é que do ponto de vista do estado e da sociedade em geral, não vale a pena, é inútil e contra-producente, apoiar um negócio moribundo. Tal como quando se passaram leis para se tentar proteger as carroças dos automóveis (em Inglaterra a certa altura foi obrigatório andar uma pessoa à frente de cada automóvel a abanar uma bandeira vermelha). Permitir que a indústria recorra às leis existentes, e em alguns casos abuse delas, para manter o seu negócio, já é grave o suficiente. Aprovar leis novas que violam liberdades civis para proteger a continuidade esse negócio é inaceitável.

    Se é “apenas entretenimento” como dizes então não vejo razão para o estado levantar uma palha sequer para o proteger, quanto mais andar a garantir direitos de exploração comercial. Se for tudo à falência e deixar de se fazer “entretenimento”, ninguém morre por isso.

    Mas viveríamos todos pior! Os chamados direitos morais dos autores podem-se justificar por outras vias, mas os direitos comerciais existem para o bem da sociedade, não dos autores! Entendeu-se que dar monopólios temporários era um mal menor se tal incentivasse maior criação. Como diz a constituição dos EUA, “para promover o progresso da ciência e das artes úteis”. É por isso que não se aceita que cada autor imponha todas as condições que bem entender. É por isso que se aceita que estes direitos sejam vendidos a terceiros (ás editoras), que podem depois fazer e autorizar coisas contra os desejos dos autores.

    Se a arte é “apenas entretenimento” não justifica que se gaste o dinheiro dos contribuintes nem sequer para fazer respeitar os caprichos dos seus criadores, mais ou menos ridículos. Não merece o contracto social chamado direitos de autor, ponto final.

    «Eu vendo a minha música, sou um artista extravagante (não devem faltar) e impõem, por exemplo, que se reze antes de ouvir a música dele. Acho parvoíce, mas não és obrigado a comprar, então não compres.»
    Na música é raro, mas os produtores de software até metem muitas condições idiotas e abusivas nas suas “licenças de utilizador” (que ninguém lê). Mas imaginemos que compras um CD, e ao abri-lo em casa tem lá dentro uma “licença” a dizer que tens de fazer o pino para o ouvires. Que pessoalmente reconheças esse direito ao autor, e o cumpras, ou vás devolver o CD, é uma coisa. O autor é que não pode esperar que o estado te mande um polícia a casa para te vigiar e prender caso não faças o pino ao ouvir o CD. Isso era mais doidice que a doidice do autor. Eu nem sequer reconheceria a esse autor o direito de te espiar pela janela e de te processar no civil caso não cumprisses, e creio que a lei concordaria.

    ResponderEliminar
  69. Nelson,

    A realidade sobre o mundo sem copyright é conhecida, basta olhar para o passado, e estudar um bocadinho para perceber que o que conhecemos hoje é uma parcela pequena, cuja escolha nem foi nossa. Não é pessimismo, é realismo, e seria bom que os defensores do desrespeito pelo copyright se deixassem de intitular (mesmo que indirectamente) de progressistas, porque a evolução histórica é que vai dizer onde está o progresso, e não a visão inflacionada que cada um tem das suas ideias. Um exemplo disso é o caso do Rudolph Giuliani, que quando se tornou mayor de NY resolveu impor uma politica de intolerância total sobre os pequeno delitos, naquilo que muitos chamariam de atitude populista, incluindo eu, mas, que se provou ser a forma de resolver o problema da criminalidade que se tinha genaralizado em NY, combatendo o sentimento de impunidade que começa no pequeno delito, mas, que vai em escalada até acabar no crime.
    Se o fim do copyright vai ou não desenvolver a cultura, não sou eu ou o Nelson, ou o Ludwig, hoje que podemos afirmar. O que podemos fazer é como o Lud faz relativamente à religião, usar a informação que possuimos para decidir sobre o que devemos acreditar. Já conhecemos o mundo sem copyright, e com copyright, já ouvi a musica feita em versão amadora, e a mesma musica moldada pela editora por saber que iria recuperar o investimento, já vi o resultado do trabalho de amadores antes e depois do copyright, e pela quantidade e variedade, bem como pela acessibilidade, prefiro o trabalho com copyright, com a clara noção de que toda a cadeia de valor que gerou aquele trabalho desaparece com o copyright. E isso não me agrada.
    Mas, também não me agrada que se proteja indefinidamente o trabalho de criação, ou que o direito de cópia seja transacionável à posteriori, pois isso não é proteger a criatividade, nem fomentá-la. Investimento à priori é um risco, e quem o assume merece protecção.

    Sobre outro assunto que ficou para trás, sobre os CPUs, e o custo marginal, cá vai mais uma correcção. Quando o CPU é desenvolvido, aponta-se a uma velocidade limite, e fabrica-se aos lotes, que são de qualidade homogénea por lote. Os lotes são testados a velocidades crescentes e é medida a geração de calor, e os lotes são graduados em velocidades, conforma a velocidade a que geram o limite de calor suportável para o desempenho fiável. Por isso, o custo marginal de produzir todos os CPUs da mesma familia é o mesmo. O que distingue o CPU a 2Ghz e o CPU a 2.5Ghz, da mesma familia, é só que o lote dos de 2Ghz aqueceu demais, mais cedo, nos testes, porque saiu da mesma máquina, com as mesmas quantidades de materiais e tempos de fabrico. Um custa é 3 vezes mais que o outro, porque assim a empresa recupera o investimento, espremendo a carteira dos que estão dispostos a pagar mais. O custo marginal de ambos é igual, o preço de venda, não.
    Até é um bom modelo para o mundo da música. Paga-se mais nos primeiros anos, e quando a procura desce, desce o preço.

    ResponderEliminar
  70. Ainda ao Nelson, :-)

    "Lembro-me de ler sobre uma banda q dizia já ter ganho mais dinheiro em 4 meses só a vender CDs no final dos concertos, do que em 3 anos a gravar através de editoras e a vender pelo canal de distribuição normal. "
    Pois eu acho normal. Se uma banda vender pelo canal normal, um CD de 10 euros, ficam 2 euros no estado, 4 euros em margens coemerciais de editoras e lojas, e custos de transporte, 0.5 pagam os custos de material com o fabrico, dos 3.5 que restam tem que se pagar a gravação, a publicidade, e os salários de toda a cadeia de produção e gestão, bem como os advogados da editora, e o IRC da mesma, e uma parcela para os músicos, que pode ser 50 centimos ou algo assim.
    A vender CDs directamente, não declaram a venda, por isso não pagam impostos, não pagam para os distribuir, nem à loja que faz stocks, nem aos funcionários da loja. Não há margens para ninguém a distribuir ao longo da cadeia. O CD custa-lhes 50 centimos a fabricar, e é vendido aos mesmo 10 euros. É fazer as contas. Um CD que seja disco de prata, rende menos à banda que um milhar vendido no fim dos concertos. Mas, a questão continua a ser, que isso rende se o copyright impedir que o primeiro comprador coloque o CD na net à borla. Senão, levam 1 euro por cada bilhete, e 500 pessoas num concerto já é muito bom, para desconhecidos. Só que 500 a dividir por uma banda e pelo desgaste de material, é menos do que eu ganho por dia... Ui. É a loucura do enriquecimento dos artistas. Morte ao copyright!

    ResponderEliminar

Se quiser filtrar algum ou alguns comentadores consulte este post.