sexta-feira, novembro 06, 2009

Miscelânea criacionista: o sexo.

O Mats comentou assim este boneco: «Palavras para quê? É a teoria da evolução.»(1)

sapo

Por esta altura o Mats com certeza já sabe que a teoria da evolução descreve como variam as características de populações de geração em geração, e que é disparate falar da evolução de indivíduos. Mas se bem que este comentário do Mats seja mais decepção que ignorância*, a confusão que o sexo faz aos criacionistas deve-se, principalmente, à falta de conhecimento. Os criacionistas imaginam que a reprodução ou é assexuada ou há macho e fêmea que precisam um do outro para se reproduzir. Sem olhar para a natureza, são incapazes de imaginar como a evolução gradual pode ir de um sistema ao outro. Felizmente, nem todos estamos limitados àquele livrinho.

As bactérias não fazem sexo mas têm partes do mecanismo molecular da reprodução sexuada. Conseguem incorporar ADN do meio onde se encontram (transformação), partilhá-lo com outras bactérias (conjugação) ou receber ADN transportado por vírus (transdução). Na verdade, o difícil é impedir esta promiscuidade pois, sendo todos os organismos aparentados, o ADN de um organismo normalmente funciona nos outros. Por isso é que as bactérias também têm enzimas de restrição, para destruir ADN indesejado.

As bactérias têm também enzimas para recombinar o ADN(2). A recombinação é um passo crucial na reprodução sexuada, trocando partes dos cromossomas que o organismo herdou dos pais. Este baralhar dos genes torna os filhos diferentes entre si e diferentes dos pais, com um número astronómico de combinações possíveis. Mas nas bactérias, que não têm sexo, a recombinação já há muito tempo serve para integrar genes "importados" e reparar trechos danificados de ADN substituindo-os por cópias funcionais. Numa jogada típica da evolução, a reprodução sexuada aproveitou para os seus fins mecanismos que já desempenhavam outras funções.

Os criacionistas também imaginam que a reprodução sexuada exige que um indivíduo nasça com o sexo determinado nos genes, talvez por Deus, e só se possa reproduzir com um indivíduo do sexo oposto. Mas há muitas alternativas. O sexo dos crocodilos é determinado pela temperatura de incubação do ovo (3). Em muitas espécies de plantas e de peixes, os indivíduos mudam de sexo ao longo da vida (4), e nos invertebrados é comum não haver distinção entre machos e fêmeas, sendo todos hermafroditas. Na verdade, a reprodução sexuada depende apenas de dois processos fundamentais: a fusão de duas células, cada uma com uma cópia de cada cromossoma (fertilização), e a posterior divisão de células com duas cópias de cada cromossoma em células só com uma cópia (meiose). De resto vale tudo, dando à evolução uma grande margem de manobra para inventar e reinventar o sexo. Ou desistir dele.

Maria ficou famosa porque a partenogénese é muito rara nos mamíferos. Mas, fora deste pequeno grupo, muitos animais abandonaram esse pecado (pouco) original: várias espécies de lagarto, insectos, aracnídeos (5) e até alguns tubarões (6). Os protozoários do filo Rotifera fizeram-no em massa, com 2200 espécies conhecidas sem pingo de malandrice.

A evolução da reprodução sexual é um mistério intrigante. Mas não por esta caricatura criacionista, do primeiro macho à espera que a fêmea evolua. Nem por falta de oportunidades para um processo gradual transformar em sexo os mecanismos de reparação e partilha de genes de seres assexuados primitivos. O que intriga é que vantagens possam compensar o custo, para cada progenitor, de transmitir às gerações seguintes apenas metade dos seus genes em vez de todos como faz quem se reproduz sem sexo. Há várias hipóteses, desde compensar mutações nefastas a reparar o ADN até a protecção contra parasitas (7). Mas há ainda muito para fazer até se ter uma ideia concreta e devidamente fundamentada dos factores que levaram à origem e, especialmente, à preservação desta forma de reprodução.

No entanto, esta é mais uma de muitas questões que não se responde satisfatoriamente com um "porque Deus quis". E a mais que isso a bíblia dos criacionistas já não chega.

* O Mats até foi buscar o desenho a um post de um criacionista, Ray Comfort, a negar ter dito precisamente aquilo que o Mats insinua: Here we go again...

1- Mats, Macho e Fêmea
2- Robert Winning, Bacterial Recombination
3- Wikipedia, Temperature-dependent sex determination
4- Wikipedia, Hermaphrodite, Sequential hermaphrodites
5- Wikipedia, Parthenogenesis
6- Washington Post, Female Sharks Can Reproduce Alone, Researchers Find
7- Wikipedia, Evolution of sexual reproduction

25 comentários:

  1. Caro Ludwig,

    belo post!

    Um problema que identifico nos criacionistas é a redução da mensagem bíblica a uma superficialidade literalista que muito pouco favorece o seu valor real e interpretação da relação entre Deus e o mundo. No último post que coloquei no meu blog partilho um dos últimos trabalhos de John Polkinghorne sobre a "Relação entre a Bíblia e uma Criação Evolutiva", onde esses aspectos são explorados do ponto de vista do diálogo entre ciência e fé.

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  2. Aqui está um excerto da resposta de Eugenie Scott ao Ray Comfort (aka The Banana Man - famoso pela autoria do argumento da banana - o pesadelo dos ateus) na parte que diz respeito à evolução do sexo:

    Scientist Genie Scott's Last Word to Creationist Ray Comfort: There You Go Again

    [...]

    Consider Comfort's view on the evolution of sex: "No one even goes near explaining how and why each species managed to reproduce (during the millions of years the female was supposedly evolving to maturity) without the right reproductive machinery." Of course not. That's because no biologist thinks males and females evolved separately!

    Birds do it; bees do it; even educated fleas do it: but so do the majority of plants and even certain single-celled organisms. But they do it in radically different ways. A male bee has no father and cannot have sons, for example, while there are animals, even vertebrates—bonnethead sharks and Komodo dragons—
    in which virgin birth occurs. So it's not just for the obvious reason that sex is a fun topic for biologists.

    The myriad ways in which organisms reproduce, sexually and asexually, have fascinated biologists for decades and have been examined, in a thoroughly evolutionary context, since Charles Darwin and August Weismann. But none of them have thought that lonely males waited patiently for millions of years for the first females. And anyone who, like Comfort, tells you otherwise is ignorant—or worse.

    [...]

    o resto pode ser lido aqui:

    http://www.usnews.com/blogs/god-and-country/2009/11/03/scientist-genie-scotts-last-word-to-creationist-ray-comfort-there-you-go-again.html

    E os links para os posts anteriores a este estão aqui:

    1. Ray Comfort - Exclusive: Ray Comfort Defends His Creationist Edition of 'On the Origin of Species'

    http://www.usnews.com/blogs/god-and-country/2009/10/29/exclusive-ray-comfort-defends-his-creationist-edition-of-on-the-origin-of-species.html

    2. Eugenie Scott - How Creationist 'Origin' Distorts Darwin

    http://www.usnews.com/blogs/god-and-country/2009/10/30/how-creationist-origin-distorts-darwin.html

    3. Ray Comfort - Ray Comfort Responds to Genie Scott on Creationist 'Origin of Species'

    http://www.usnews.com/blogs/god-and-country/2009/11/02/ray-comfort-responds-to-genie-scott-on-creationist-origin-of-species.html


    Até doi ler até onde chega a ignorância atroz dos criacionistas! Então da deshonestidade nem se fala...

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  3. "Então da deshonestidade nem se fala..."


    Não levantarás falso testemunho

    a) a não ser que seja para defender o cricionismo.

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  4. Ludwig:

    A cada par de genes passou a haver a possibilidade de comporem 3 genotipos.

    2 homozigoticos e 1 heterozigotico.

    As populações onde isto passou a ser utilizado passaram a ter maior diversidade. Maior diversidade é igual a maior probabilidade de ter os indivuos certos para uma tarefa. Por exemplo. Ou de ter resitentes a uma doença.

    Foi uma maneira simples de criar novos fenotipos a partir do mesmo numero de genes.

    Existem fenomenos emergentes muito curiosos como a heterose.

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  5. Sem "troca" de genes homologos o mecanismo (multiplicar os fenotipos sem aumento do numero de genes disponiveis no patrimoniio genetico) seria menos eficiente, ja para não dizer que não estou a ver como funcionaria, mesmo se desenvolvessem a biploidia.

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  6. Só para complementar ficam aqui os links para esta série de vídeos sobre a evolução da reprodução sexuada:

    The Joy of Sex (Sexual Reproduction)

    http://www.youtube.com/watch?v=fL_nuacgpo8

    Is Multi-Gender Sex Better?

    http://www.youtube.com/watch?v=KJJx312qn44

    The Origin of Sexual Reproduction

    http://www.youtube.com/watch?v=1w0FiwfyUMM

    The Evolution of Sex

    http://www.youtube.com/watch?v=wxysZmNsyDk

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  7. Mats,

    Percebo que estejas assustado, mas por favor não comeces a segregar espuma urticante até ficares incontactável. Olha que tens que responder pelo menos ao Miguel Panão sobre a "superficialidade literalista" da leitura da Bíblia. (sempre me intrigou que o literalismo seja um prejuízo para a "mensagem" na forma de relato escrito, e nisto estou contigo)

    Dá-lhes com força, nesses mercadores de metáforas que ofendem ao Senhor.

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  8. João,

    «Sem "troca" de genes homologos o mecanismo (multiplicar os fenotipos sem aumento do numero de genes disponiveis no patrimoniio genetico) seria menos eficiente,»

    Isso é verdade, e pode explicar porque as linhagens assexuadas tendem a desaparecer entre os eucariotas. Mas tem o problema de exigir uma selecção a nível do grupo, que é necessariamente muito mais fraca que pressões selectivas a nível do gene ou do organismo -- e a esses níveis a reprodução assexuada tem uma grande vantagem (o dobro, mais precisamente).

    Por isso parece-me que, por si só, essa é insuficiente. Tem de haver algo com uma influência mais significativa no número de descendentes dos reprodutores sexuados.

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  9. Ludwig:

    Uma vez li uma teoria que dizia que ligava a reprodução sexuada à mortalidade, ao facto do organismo estar programado para não regenerar as células e o sistema imonitário a partir de determinado ponto.

    A teoria começava por dizer que uma explicação comum para a mortalidade estava ligada à existência de predadores; que se um ser tinha - por causa dos predadores e outros perigos - uma esperança média de vida de X anos, então não haveriam mecanismo selectivos para promover uma capacidade de sobrevivência e reprodução muito acima desse valor, e isto justificava que os animais não estivessem "programados" para não enevelhecer a partir de determinada idade.
    Esta é uma explicação importante, mas insuficiente. É como se em grande medida não é simplesmente o facto de não se estar programado para não envelhecer, mas sim o facto de se estar programado para envelhecer.


    Depois, notava-se que isto ocorre muito menos com seres que se reproduzem assexuadamente, os quais geralmente não estão programados para envelhecer de todo.

    Depois então explicava-se a reprodução sexuada. À partida dir-se-ia que os benefícios evolutivos da reprodução sexuada são benefícios "de grupo" (a espécie adapta-se mais rapidamente ao ambiente), os quais não poderiam explicar como é que um gene "imortal" não se espalhava pela espécie para prejuízo desta.
    Mas se juntarmos a mortalidade, isso já não é assim. Tendo em conta a relação entre a proximidade geográfica com a proximidade genética (familiares vivem perto uns dos outros), os descendentes de um ser que se reproduza sexuadamente podem beneficiar com a sua morte, na medida em que ela liberta acesso a recursos.
    Assim, se a adaptação rápida ao meio é importante para a espécie, então o gene "imortal" não se vai espalhar: porque os descendentes de quem tem o gene imortal vão ter um acesso mais difícil aos recursos, e assim a adaptação ao meio é mais lenta, vitimizando especificamente quem tem os genes "imortais".

    Assim são dadas explicações adicionais para a reprodução sexuada e a mortalidade; e para a relação entre ambas.

    Não sei se me expliquei bem.
    Se encontrar o texto, envio.

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  10. Ludwig:

    Não penso que seja o unico factor. Acho que as vantagens são varias. Desde o "polimento" de genes indesejados ao fenomeno de heterose.

    Mas penso que apesar de ser obvio que uma parte importante da selecção neste aspeto vai ser ao nivel de populações, penso que estas a negligenciar a importancia disto a nivel individual.

    Os individuos que beneficiarem da combinação vao ser previligiados em relação aos aploides.

    É uma maneira que duplica a quantidade de informação genetica de uma maneira moderada. Porque se passassemos de aploides para diploides simplesmete, apesar de estarmos a duplicar a informação base, estavamos a perder em alguns organismos formas de compensação de problemas geneticos e de vantagens de novas combinações. Esses individuos, pela lei do acaso, terão de surgir. E estarão em vantagem em relação aos da propria população.

    Tambem a nivel do gene, quer-me parecer que a vantagem de um gene se associar a um seu complementar é muitas vezes (não todas) maior que a de se associar com uma copia de si proprio.

    Na parte do cromossoma Y que não tem estrutura homologa com o X, esses genes são como se fossem aploides. Por isso penso que as doenças ligadas ao sexo são mais frequentes nos homens, mesmo algumas muito letais como a hemofilia (ser letal normalmente não se reproduz muito, a mortalidade e a morbilidade tendem a ter uma correlaçao negativa, mas a hemofilia é rara o suficiente, excepto se compararmos com as mulheres).

    Talvez não queiras incluir o "rigor dos hibridos" (como era chamado nos primordios) dentro do grande caixote do aumento de informação, mas eu acho que é tudo o mesmo.

    Em resumo, penso que existe vantagens a todos os niveis, desde o gene à população, mas sendo de facto mais notorio a nivel de populações. Estaremos de acordo?

    Ja reparaste que o hemafroditismo autosuficiente é inexistente nas franjas mais evoluidas da vida? E que as estrategias sexuais estão desenhadas para favorecer o intercambio de genes e até "crossing over" com os outros? E que não foi uma coisa conseguida pelas formas mais simples de vida, que foi preciso muitos anos de evolução?

    Estou sempre disposto a aprender, mas acho que so agora exprimi completamente a minha ideia. Acho que tambem foi isso que me ensinaram na escola.

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  11. João Vasco:

    Não digo que não haja aí uma ponta de verdade, mas existem outros factores que tens de ponderar ao colocar a mortalidade como um factor de peso.

    O envelhecimento, tanto quanto sei, é uma consequencia de não ser possivel regenerar para sempre. Os processos oxidativos que precisas para viver, as doenças, etc, são muito responsaveis pelo envelhecimento.

    Se "viveres mais devagar", podes viver mais tempo (existe uma correlação curiosa entre o numero de batimentos cardiacos por minuto e a longevidade. O que levou alguns entusiastas a dizer que temos o numero de batimentos cardiacos preprogramados ate morrer.

    Mas as coisas fazem sentido se pensares que o metabolismo é uma combustão controlada e que teres material genetico pronto para regenerar constantemente a combustão é uma estratégia que a ser possivel, a vida não descobriu (ainda) e por isso esses individuos menos capazes acabam por se tornar uma despesa energetica adicional.

    As coisas regeneradas tendem a ser uma sombra do que eram anteriormente. Algumas vezes, se tentarres que algo se regenere muitas vezes, entras em processos de feedback positico descontrolado como a cirrose hepatica, ou até neoplasias (que por exemplo têm origem em metaplasoas por agressºao tecidual).

    Existe defacto evidencia cietifica que mostra que os cromossomas tem um numero maximo de vezes que se podem multiplicar.

    Mas antes de resolver esse problema é preciso resolver o problema da regeneração prefeita sem ter de fazer tudo do principio.

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  12. João:

    «Não digo que não haja aí uma ponta de verdade, mas existem outros factores que tens de ponderar ao colocar a mortalidade como um factor de peso.»

    Claro. Isto é um resumo atabalhoado de um texto que tem dezenas de páginas, e feito por quem não tem formação na área (eu).
    Não adimira que no resumo não seja ponderada muita coisa. O importante era passar essa "ponta de verdade".


    «Se "viveres mais devagar", podes viver mais tempo (existe uma correlação curiosa entre o numero de batimentos cardiacos por minuto e a longevidade. O que levou alguns entusiastas a dizer que temos o numero de batimentos cardiacos preprogramados ate morrer.»

    Não era a isto que o texto se referia.


    «As coisas regeneradas tendem a ser uma sombra do que eram anteriormente. Algumas vezes, se tentarres que algo se regenere muitas vezes [...]»

    Segundo o texto, em muitos seres assexuados o processo regenerativo é tão eficaz como é o nosso na juventude, e assim permanece sempre, enquanto o ser não for destruído por uma força exterior.
    E o nosso parece estar "programado" para perder eficácia.
    E friso que não é apenas uma questão de não ter sido programado para menter a eficácia a partir de determinado ponto. Em certa medida, parece ter sido programado para a perder.
    E isto pode ser explicado em termos da teoria da evolução.

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  13. Num comentário do blog de Ray Comfort:
    «Where do male frogs come from if no female frogs have "evolved"? You may at least get this straight: females come first. All embryos are female until they're given a special hormone in the womb to make them male.»

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  14. off-topic
    @Bruce Losé: «Dá-lhes com força, nesses mercadores de metáforas que ofendem ao Senhor.»

    Ao contrário do que é dito, os criacionistas em geral não são literalistas. Apenas defendem uma essência do sentido literal de partes específicas da Bíblia. Senão estariam a defender, por exemplo, que a Terra é plana e não andavam a distorcer o que é dito no Génesis interpretando-o com a selecção natural e, por vezes, com o Big Bang ou que "dia" não quer dizer dia, ou que uma outra passagem é uma hipérbole. Dizer que são literalistas dá azo a que nas discussões sobre "como ler a Bíblia" haja mal-entendidos, com comparações com criacionistas.

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  15. Joao Vasco:

    "Segundo o texto, em muitos seres assexuados o processo regenerativo é tão eficaz como é o nosso na juventude"

    Tiha de ler isso, mas à partida esses seres são mais simples. E era por ai que eu ia. Tens arvores sexuadas a viver uma data de tempo.

    Parece-me mais que a capacidade de regeneração (que é sempre baixa nos mamiferos e aves) se perde com o desgaste.

    Se houver programação é para afinar o crecimento de modo a ter um pico de rendimento o mais alto possivel durante o maior tempo possivel.

    Esse processo não é eficaz ao ponto de poder ser mantido ad-eternum. Mesmo que se arranje maneira dos cromossomas não terem limite de copia (como tirar o DRM,lol), o problema da regeneração é muito mais complexo.

    Por exemplo, a regulação das celulas acerca da multiplicação, quando se perde, da origem a celulas tumurais. O equilibrio entre celulas estaminais e funcionais provaelmente estara no equilibrio entre manter o monstro controlado e a rosnar.

    Não sei se me consigo explicar. Mas reparar é mais dificil que criar de novo. Muito mais. O desenvolvimento do corpo é procedural, e repetir tudo certinho so para um bocadinho do figado, ou um bocadinho dos pulmoes, é impensavel. É preciso criar o orgão todo do zero para não ficar uma manta de retalhos que é o que o corpo consegue fazer agora - com perda de função. Alem disso, o processo de reparação, tem sempre dificuldade em descobrir exatamente qual é o problema e é um bocado chapa 4. Fibrose é a palara que se associa a lesoes cronicas. É um tecido de suporte fisico que o corpo poe em todo o lado onde ha problemas. Às vezes apenas não consegue por mais nada. Não consegues criar um nefronio de novo por exemplo. Aquilo ja é complcado na embriogenese, quanto mais estar a reparar depois de uns quantos destruidos.

    A estrategia é o corpo tentar minorizar os estragos e aumentar a função dos que estiverem bons.

    Em seres mais simples, podes encontrar algumas estruturas com uma capacidade de regeneração elevada, como patas de camarões ou ras. E mesmo assim as coisas não são tão boas como o que estava antes.

    Porque é que seres com patas mais complexas e vidas mais longas não são ccapazes de o fazer?

    Eu acho que não é por estar programado. Acho que é porque não é possivel.

    Não li esse artigo, e até pode estar muito bom e ser tudo verdade com uma boa evidencia empirica por traz. Mas à partida a ideia da capacidade regenerativa estar pre-programada para diminuir parece-me pouco plausivel.

    Porque como tentei ilustrar a capacidade regenerativa é sempre um problema e o corpo não parece poder estar afinado para isspo. Não parece sequer que o possa fazer.

    Pensa nisso. A formaçºao de muita coisa é procedural. Cada celula esta preparada para para uma função no crecimento e se morrer o papel a que estava destinado fica comprometido. Por isso a embriogense é muito delicada e muitas vidas se perdem no primeiro terço de gestaçao.

    Ha coisas que não sei. Nem sei se se sabe, mas o envelhecimento não me parece programado. Parece-me antes inevitavel

    E o ser humano tem um equilibrio entre longevidade e capacidade funcional do melhor que ha.

    Comparado com o cao e o gato, que vivem menos, o nosso metabolismo funciona com limites bioquimicos muito mais precisos, com uma temperatura muito mais precisa e muito menor variabilidade.

    Não me parece ter nada a cer com o sexo ou pre-programação.

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  16. Joao:

    Vou ver se encontro o texto para o colocar.

    Se não estou em erro, um dos exemplos de como o corpo está programado é um conjunto de genes que podes alterar de forma muito simples que fariam com que cada célula pudesse ter um número muito maior de descendentes - imagina que uma célula está programada para que os seus "netos" sejam estéreis, o nosso corpo funciona assim com células que só podem ter poucas dezenas de "graus de descendência".
    Se não estou em erro, esta alteração não conduz a maior necessidade de recursos, nem aumenta a probabilidade de sobrevivência nos primeiros anos. Trata-se de uma mudança no código genético que poderia bem ter-se espalhado, visto que os seres com essa característica teriam mais filhos pois manter-se-iam ferteis mais tempo caso sobrevivessem aos predadores (e teriam igual probabilidade de sobreviver, pois estariam mais jovens).
    Mas não se espalhou, porque a sobrevivência desses seres prejudicaria a sobrevivência dos descendentes, e gradualmente a comunidade de seres com esse gene iria ficando menos adaptada às mudanças do ambiente do que a comunidade em que os seres iam morrendo e tendo mais filhos.

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  17. PAC,

    «Ao contrário do que é dito, os criacionistas em geral não são literalistas (...) Senão estariam a defender, por exemplo, que a Terra é plana»

    Estás a confundir tudo. A "Terra plana" não é uma figura de estilo, é uma figura geométrica. E é evidente que o Mats não iria considerar um planeta com duas dimensões quando o Criador se deu ao trabalho de nos dar três. A divergência com o texto não seria neste caso do foro da interpretação, mas do estrito respeito pelo trabalho que esta porcaria deu a fazer. Não te precipites, ok?

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  18. @Bruce Lóse: «A "Terra plana" não é uma figura de estilo, é uma figura geométrica.»

    LOL Mas no domínio do papel, só pode ser plana. Dizer que não é plana é uma falácia da inversão dos planos.

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  19. "conjunto de genes que podes alterar de forma muito simples que fariam com que cada célula pudesse ter um número muito maior de descendentes "

    SIm , eu sei, desregulação em alguns desses genes da origem a cancro. Por isso manter as divisões celulares no ritmo certo é um berbicacho. Nota que o cancro ainda mata cerca de 1/3 das pessoas.

    Mas posta o artigo se puderes. So depois é que posso ter uma ideia séria. Não quero dizer que esteja errado. So estou a dizer que me cheira a queimado.... :)

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  20. Por falar em cancro, morreu recentemente de cancro uma curandeira alternativa famosa, que tinha um metodo para curar para tudo, incluido cancro.

    La se vai mais uma mente aberta.

    De seu nome Hulda Clarck.

    Requiem da morte de uma aldrabona aqui:

    http://scienceblogs.com/insolence/2009/10/requiem_for_a_quack_part_ii.php

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  21. PAC:

    "LOL Mas no domínio do papel, só pode ser plana. Dizer que não é plana é uma falácia da inversão dos planos."

    Estas a confundir o mapa com o territorio.

    Não é por a terra ser redonda que a biblia esta errada. Pois a Terra é apenas aquilo que é descrito pela biblia, e não mais. Não confundas a realidade da biblia com aquilo que é apenas uma parte fisica do texto sagrado.

    Não percebes nadda de teologia como queres perceber qual é a forma do planeta no papel ou no espaço?

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  22. Bruce:

    "(sempre me intrigou que o literalismo seja um prejuízo para a "mensagem" na forma de relato escrito, e nisto estou contigo)"

    Escrever precisamente o contrario daquilo que se quer dizer não é facil. Muito menos quando sabes que cada um vai intrepertar o que esta escrito como melhor lhe convier.

    Por isso para de fazer pouco de um livro que ao ensinar a lavar as mãos estava a prever a gripe A e a ensinar a sua prevenção.

    Repeitinho.

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  23. A Genuine Apology:
    «I’m going to try and put this so that it can’t be taken out of context. I sincerely apologize for misrepresenting what Darwinian evolution says about the origin of males and females.» (...)

    Ludwig, enviaste o URL deste teu artigo para o Mats? Ele não aparece.

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  24. O significado de PAC....
    que intriga é que vantagens possam compensar o custo,
    variabilidade e logo maior facilidade de adaptação a alteração de condições, oxigénio, diminuição das temperaturas e inicialmente seria apenas transmissão de um plasmídeo ou equivalente entre microorgs
    isso da protecção contra parasitas???escapa-me completamente...
    para cada progenitor, de transmitir às gerações seguintes apenas metade dos seus genes em vez de todos como faz quem se reproduz sem sexo. Há várias hipóteses, desde compensar mutações nefastas a reparar o ADN

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