Treta da semana: Protesto em branco.
Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, seis milhões de eleitores portugueses ficaram em casa e, dos quatro milhões que votaram, quase duzentos mil votaram em branco. Uma razão para não votar é considerar que o voto não compensa o trabalho de ir às urnas. É um juízo de valor subjectivo, nem certo nem errado desde que se baseie em premissas correctas. Mas suspeito que, destes seis milhões, alguns julgaram que não valia a pena votar porque se enganaram.
Na eleição onde se escolhe, uma vez, uma de várias alternativas, como nas presidenciais, o meu voto só conta se for de desempate. Caso contrário não serve de nada. E, se há muitos eleitores, a probabilidade de ser o meu voto a desempatar é tão pequena que não vale a pena votar só por isso. Neste tipo de eleição vota-se apenas para evitar que, no extremo, esta conclusão dê todo o poder de decisão a um punhado de eleitores.
Mas em eleições como as deste mês, e como as próximas, a situação é diferente. Elegem-se vários deputados em função da distribuição de votos e são eleições entre partidos que as disputam regularmente, que contabilizam as variações de votos à décima de ponto percentual e que respondem a essas variações. Não é uma decisão de tudo ou nada mas um contínuo onde, mesmo sem ganhar nem perder deputados, qualquer diferença indica aos partidos como o eleitorado está a reagir. Suspeito que muita gente se absteve por subestimar o valor do seu voto e por ignorar a sua importância como meio de comunicação entre eleitores e partidos.
Outros abstiveram-se por uma indiferença enganada. Não votaram por não ter um partido preferido e estarem indecisos entre dois ou três. E esqueceram-se dos outros partidos que não queriam ver ganhar. Talvez haja eleitores a quem nenhum partido cause preocupação. Mas duvido que sejam seis milhões. A maioria não se deve ter lembrado que votar num partido não serve apenas para aumentar a percentagem de votos desse partido. Serve também para diminuir as dos outros. O que me traz aos 164.917 que votaram em branco (1). Um protesto mudo. O Ricardo Pinho, por exemplo, escreveu assim:
«E se somarmos os votos nulos aos votos em branco, ficamos com 6,63%. Como podem ignorar estes números, se aqueles votos representam mais que a soma de todos os partidos com menos votos que o CDS? [...] Um voto em branco é um voto. E é um voto muito expressivo.»(2)
O voto nulo não é voto nenhum. É por isso que se chama nulo. E um voto em branco é só meio voto. Um voto num partido, além do voto a mais nesse partido, é também um voto a menos nos outros. Se há cem eleitores, cada um que vote em mim em vez de votar no meu oponente dá-me dois porcento de vantagem. Se vota em branco vale metade.
E a única coisa que o voto em branco exprime é “não se ralem comigo”. Não informa mais nada. Dizem que é protesto, mas contra quê? Contra a esquerda? Contra a direita? Contra o racismo, o comunismo, o governo, a monarquia? Não se sabe. Dá ideia de ser um protesto de quem não sabe contra o que há de protestar.
Quem achar que a política está podre e que nenhum partido se aproveita que proteste com o seu voto. Mas de forma que se oiça. Votando nos partidos mais pequenos ou nos que surgiram agora. Ou até ao acaso. São esses votos que os partidos se esforçam por ganhar, para tirar aos outros e guardar para si. Mas votar em branco, ou abster-se, não é protesto nenhum. É dizer “eu não conto”, deixar a decisão aos militantes e preservar o status quo. Precisamente o contrário do que se quer com um protesto.
1- RTP, Resultados das Eleições Europeias 2009. Adenda: também no Ministério da Justiça. Obrigado ao Mário Miguel pela dica.
2- Ricardo Pinho, 9-6-2009, Não branqueiem os votos em branco
" Se há cem eleitores, cada um que vote em mim em vez de votar no meu oponente dá-me dois porcento de vantagem. Se vota em branco vale metade." - Asneira!
ResponderEliminarNo sistema de atribuição de mandatos usado no nosso país Metodo d'Hondt), a percentagem não interessa para nada, e os votos nulos ou brancos tem o mesmo peso - não contam para nada.
Os calculos fazem-se apenas sobre o universo dos votos validamente expressos. Portanto a percentagem não interessa pra nada!
Um voto em branco é perigoso e enganoso. Pode-se colocar uma cruz num voto em branco. Isso acontecia há uns anos e acredito que ainda aconteça. Votar em branco pode significar um voto concreto a um partido, se alguém colocar posteriormente uma cruz.
ResponderEliminarLudwig,
ResponderEliminarPara fontes oficiais dos resultados das últimas europeias (preferível ao site da RTP), com possibilidade de comparação com as anteriores, vai aqui. Tens outro site oficial aqui que não tens todos os resultados.
@Dário: para alguém colocar uma cruz teria que ser com o apoio dos restantes que se encontram a contar os votos, habitualmente de partidos diferentes, o que desde logo poderá indicar que não aceitariam tal acção, a não ser que sejam corruptos.
ResponderEliminarQuanto aos votos em branco:
Por mim um voto em branco deveria contar para os mandatos. Quem vota em branco está a dizer que não dá confiança em ninguém para o representar, ao contrário de votar em partidos pequenos que assim poderão ganhar mandatos, mesmo que quem tivesse votado neles em vez de em branco não lhes reconhecesse legitimidade para os representar.
Como tal os votos em branco deveriam "subtrair" mandatos, isto é, ninguém ficaria com os mandatos ganhos.
Podiamos também discutir as listas... Eu não quero votar em listas e dar carta branca a várias pessoas, quero votar em pessoas a quem reconheça competência para representar aquilo em que acredito. Podemos advogar que as listas são pessoas alinhadas com partidos pelo que tanto faz uma ou outra serem eleitas. Se assim é se calhar devia haver então apenas uma pessoa com X mandatos a votar nos parlamentos, mudando consoante o tema em discussão e a área em que é perita.
"E a única coisa que o voto em branco exprime é “não se ralem comigo”. Não informa mais nada. Dizem que é protesto, mas contra quê? Contra a esquerda? Contra a direita? Contra o racismo, o comunismo, o governo, a monarquia? Não se sabe. Dá ideia de ser um protesto de quem não sabe contra o que há de protestar."
ResponderEliminarE votar "nos partidos mais pequenos ou nos que surgiram agora. Ou até ao acaso." indicia algum protesto ou o sentido do mesmo? Não.
O voto em branco não vale de muito, é certo. Alguns até dizem que "é só meio-voto". Mas é o único modo de dizer: eu não confio ou não me revejo o suficiente para apoiar um determinado partido, ou umas determinadas propostas, ou umas determinadas pessoas.
É a única arma que temos para, inequivocamente, protestar. Contra quê ou contra quem é algo ficará sempre ligado à subjectividade das interpretações.
Dário,
ResponderEliminarUm boletim com duas cruzes conta como voto nulo, e não como voto em branco. Se houver marosca nota-se nesses.
Mário Miguel,
ResponderEliminarTens razão... Inicialmente tinha pensado falar mais sobre o post do Ricardo Pinho, em que ele se queixava da comunicação social não mencionar os votos em branco. Daí ter escolhido a RTP. Depois vi que não dava espaço para tudo, fiquei pelo que achava mais importante mas esqueci-me de procurar uma coisa mais oficial.
O site da CNE para as europeias ainda está em contagem decrescente para as eleições, e diz que faltam -23 dias... Isso já dava para outra treta da semana :)
Socrates,
ResponderEliminar«Por mim um voto em branco deveria contar para os mandatos.»
Era muito pior. Imagina que tens um partido grande com 50% dos deputados e mais partidos pequenos com o resto. Queres protestar mas não há nenhum dos pequenos em que queiras votar. Votas em branco, todos perdem deputados.
Mas agora muitos partidos pequenos ficaram com 0 deputados, e o grande, que tem ainda metade dos votos que não são em branco, pode ficar com muito mais que metade dos deputados por arredondamento.
No limite, fica o grande com 1 deputado e todos os outro com zero. Não me parece um bom resultado :)
Riot,
ResponderEliminar«E votar "nos partidos mais pequenos ou nos que surgiram agora. Ou até ao acaso." indicia algum protesto ou o sentido do mesmo? Não.»
Sim. Se quem protesta vota em branco não faz nada. Simplesmente delega o voto nos outros. O efeito dos 6 milhões que se abstiveram ou votaram em branco foi fazer com que cada voto dos outros 4 milhões contasse por dois e meio. Mais nada. E isso não preocupa os partidos desde que os seus apoiantes votem, nem que votem só os militantes.
Eu acho que a melhor maneira de protestar com o voto é fazê-lo de forma dirigida. Fazes uma lista daquilo contra o qual queres protestar, escolhes o mais importante e votas no partido que te pareça melhor para opor isso. Foi esse o meu voto de protesto.
Mas se não querem preocupar-se em protestar de forma mais dirigida, ou se querem espicaçá-los a todos, então melhor que votar em branco é votar ao acaso entre os partidos que não rejeitam à partida. Imagina que seis milhões de pessoas davam um milhão de votos a cada um do PS, PSD, BE, PCP, CDS e MEP. Ficavam todos com 10-20% dos deputados. Isso fazia-os mexer-se para tentar ganhar mais votos, preocupava os grandes e encorajava os pequenos para que mudassem as coisas substancialmente.
Mas votar em branco deixa tudo na mesma. É uma acção que não preocupa nenhum partido.
"Fazes uma lista daquilo contra o qual queres protestar, escolhes o mais importante e votas no partido que te pareça melhor para opor isso. Foi esse o meu voto de protesto." - Caro amigo, essa é a situação normal, não de protesto. Votar em branco não deixa tudo na mesma, se a expressão for maciça, sem abstenções. Cria um impasse. Não se pretende uma anarquia ou um estado anómico, mas um alerta à navegação dos políticos de todos os partidos representados na AR, que têm um sistema blindado (e de outra forma mantém-se intocável e inatacável). Se quiser, não é dirigido a nenhum partido em particular, mas a todos. Com efeito, não é só o sistema eleitoral e representativo, mandatos por círculos, diferença abissal - peso - entre um voto de um cidadão de Lisboa e um de Trás-os-Montes, etc., mas o funcionamento real das instituições, com falta real de representação dos portugueses e do interesse geral ou coletivo. O políticos parece que vivem numa realidade paralela, totalmente alheados das dificuldade de uma maioria muito alargada. Em verdade, parece, a muitos compatriotas que a actividade das formações democráticas em Portugal carece de clareza, transparência. Ao contrário, enquistaram-se em jogos de influências e corrupção (mesmo que esparsa), donde são os principais responsáveis o PS e o PSD, com danos colossais na vida dos portugueses, que sentem uma ira por ter que pagar os erros e lances incertos - ou outros bem medidos - dos políticos. A imoralidade que grassa no seio político, com privilégios e mordomias incompreensíveis (e intocáveis) num país pobre (em prefeito contraste com países ricos), sem que alguma vez fosse dado um exemplo ou sinal aos cidadãos em geral, quanto mais não seja mora, é vergonhosa. É por estas e por outras que julgo ter-se gerado um descontentamento em Portugal - que teve a sua maior expressão histórica no passado dia 15: contra o sistema político e contra todos os partidos, ou com total desprezo pelos políticos. Como aproveitar esta força, se os partidos não tiram as ilações certas (senão aproveitamento ou dividendos)? A única maneira de esta vaga ser contabilizada é pelo voto em branco. O sentido deste voto em branco é contra o sistema vigente, contra a classe política; não tem qualquer filiação ideológica (podendo congregar sensibilidades descontentes da esquerda e da direita). Nunca houve no país uma verdadeira sondagem relativamente ao voto em branco potencial nem quanto às suas potencialidades ou consequências. Qualquer outro figurino, implícito no que você preconiza, entra no domínio do voto útil, num pragmatismo aparente que apenas perpetua o sistema político couraçado de Portugal. Além de que o voto em branco pode ser solidário, mesmo pelos mais desafogados, favorável e fiel à ideia de um país mais justo e melhor.
EliminarFernando Lopes
Dário,
ResponderEliminarEsquece o meu comentário :)
Percebi mal, estava a pensar em pôr uma cruz num voto que já tinha uma, e isso é que fica um voto nulo.
Agora é que percebi que querias dizer pôr uma cruz num voto em branco para ele contar. Isso seria possível, mas parece-me difícil porque há várias pessoas a contar os votos e se alguma está lá de caneta na mão a escrever dá um bocado nas vistas :)
Mas, na verdade, votar em branco é dar o seu voto para outro escolher (o mesmo como a abstenção). Seis milhões de pessoas não votarem o que fez foi dar esses votos às outras.
Ludwig,
ResponderEliminarEsta é a primeira treta da semana que é uma não-treta.
Há uma falha básica em todo este post: usar as estatísticas do voto assumindo que qualquer que seja a escolha (um dos partidos, voto em branco, voto nulo ou abstenção) têm o mesmo valor para quem vota do que para os outros.
Para ti, é racional que alguém que não se reveja, por exemplo, em nenhum dos partidos mais votados, e que queira protestar contra eles, vote, por exemplo, no POUS. De facto, é um partido que não vai eleger ninguém e desta forma diminuiu-se a percentagem de votos dos maiores partidos.
No entanto, para a pessoa que vota, o valor intrínseco da sua opinião, que é efectivamente mostrar que não concorda com nenhum dos partidos da lista, poderá ser muito superior ao valor de reduzir qualquer percentagem de um partido em particular.
Até podemos dizer a essa pessoa "Eh pá, mas olha que é mais racional votar num partido muito pequeno porque assim protestas com mais força ainda". Mas é perfeitamente lícito e natural que essa pessoa nos responda "A minha opinião é que nenhum dos partidos me serve e é exactamente essa opinião que eu vou expressar".
Não concordo de todo contigo. O voto em branco é uma forma de protesto pois é a expressão de uma opinião pessoal. E quando a opinião da pessoa é de que não concorda com nenhum partido dos que estão na lista, emiti-la é uma forma natural de protestar.
Estás também a pôr ao mesmo nível o voto em branco com a abstenção. Nisto não tens razão alguma. É errado dizer que o voto em branco é "eu não conto". Isto é a abstenção, não o voto em branco. É por isto que qualquer partido usa os números da abstenção a seu belo prazer, mas já não o pode fazer com os votos em branco. Argumentos como "os votos em branco são eleitorado do PS que, porque está convicto que o PS vai ganhar, não se manifestou" não pegam porque a pessoa se manifestou de facto (este tipo de argumento foi recentemente usado nas últimas eleições regionais nos Açores relativamente à abstenção). Ou argumentos como "os votos em branco mostraram que as pessoas estão descontentes com o Governo e por isso querem a mudança para o PSD" também não pega, caso contrário, teriam dado o voto a outro partido.
Repara também que é provável haver uma "abstenção por indiferença enganada", mas é pouquíssimo provável que haja um voto em branco por indiferença enganada. Quem se dirige a uma urna e vota em branco sabe, na esmagadora maioria das vezes, o que está a fazer. O mesmo não se pode dizer da abstenção nem é líquido dizer que quem vota num determinado partido sabe exactamente o que está a fazer. E em geral, quando se quer dar um voto de protesto, as pessoas sabem como fazê-lo, votando "estrategicamente" num partido diferente daquele(s) que querem penalizar.
Outra discussão diferente é avaliar a eficácia do protesto. Se me disseres que é mais eficaz votar num partido ao acaso, eu digo que isso é treta, pois é mais eficaz ainda criar um movimento cívico qualquer, incitar manifestações, criar um novo partido, escrever artigos para a comunicação social, entre outras muitas formas de protestar. E cada uma destas alternativas de protesto não obriga a pessoa a manifestar uma opinião que não é a sua.
Pedro,
ResponderEliminar«No entanto, para a pessoa que vota, o valor intrínseco da sua opinião, que é efectivamente mostrar que não concorda com nenhum dos partidos da lista, poderá ser muito superior ao valor de reduzir qualquer percentagem de um partido em particular.»
Não critico o juízo de valor. Se a pessoa quer mostrar que não concorda, tudo bem.
Mas se assumirmos que o que esse eleitor quer é mostrar que não concorda para forçar os partidos a mudar o que estão a fazer, então votar em branco é objectivamente um erro por ser um voto menos útil para o seu propósito que qualquer outro voto não nulo. O voto em branco é um voto no status quo e declarar que esse eleitor vale metade dos outros.
«Outra discussão diferente é avaliar a eficácia do protesto. Se me disseres que é mais eficaz votar num partido ao acaso, eu digo que isso é treta,»
"Mais eficaz" tem de ser sempre que qualquer coisa.
Votar num partido ao acaso é mais eficaz que um voto em branco para forçar os partidos a mexer-se, porque em vez de manter as coisas como estão e reduzir o valor desse eleitor, altera o equilíbrio de poder e faz esse eleitor valer tanto quanto os outros.
Mas isto é menos eficaz que votar no partido que estiver mais em linha com aquilo que queremos. Isso tem as mesmas vantagens do voto em alguma coisa e, adicionalmente, dá mais informação -- informa não só que queremos mudança mas também em que direcção.
Finalmente, pode ser mais eficaz movimentos cívicos, fundar partidos, escrever nos blogs e assim, mas isso já sai do âmbito do post que é como usar o voto com eficácia.
Resumindo, não estou a criticar os juízos de valor. Mas, assumindo que quem vota em branco quer forçar alguma mudança no sistema, então está a votar enganado. O seu voto tem o efeito contrário.
Quanto à diferença entre os votos em branco e a abstenção, à parte da retórica vai tudo dar ao mesmo. Caçar um desses votos, branco ou abstenção, vale metade do que vale caçar um dos outros. São essas contas que importam.
Ludwig,
ResponderEliminarSei que havia pessoas que aproveitavam os votos em branco para assinalar a cor do seu partido. Isso era real. Hoje não sei se é, mas há uns 15 ou 20 anos aconteceu. Por isso acho que votar em branco é deixar que outras pessoas possam usar o nosso voto. É ilegal, eu sei. Mas acontece...
Ludwig,
ResponderEliminar"São essas contas que importam." para ti... Mas para quem vota em branco, o que importa é manifestar a sua opinião.
Se todos os eleitores encarassem as eleições de forma séria, ninguém emitiria uma opinião que não fosse a sua opinião, e assim a tua solução não funcionava.
A tua solução funciona apenas para quem não se importa de votar em algo que não acredita, apenas como um meio para atingir um determinado fim. Para todos esses, então de facto é melhor votar no POUS. :)
Acredito também que haja pessoas que votem em braco e que achem a solução que apresentas eficaz e até caricata. Mas desde que sejam os outros a fazê-lo, pois quem vota em branco, certamente que valoriza mais emitir a sua opinião do que provocar um hipotético embaraço aos políticos.
Disseste "Se a pessoa quer mostrar que não concorda, tudo bem.". O que eu proponho é que quem vota em branco está a fazer exactamente isto e de forma consciente. Logo, não se pode dizer que seja uma "má estratégia" para mudar as coisas, pois o propósito principal é emitir uma opinião.
Não tens razão ao dizer que à parte da retórica, é tudo o mesmo. É precisamente o contrário: o voto em branco não se presta a retóricas.
É possível teorizar sobre a abstenção mas um voto em branco é o que é: uma manifestação clara de protesto e assumida de forma activa.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarPedro Ferreira,
ResponderEliminar«"São essas contas que importam." para ti... Mas para quem vota em branco, o que importa é manifestar a sua opinião.»
Não é para mim. É para os partidos. Supõe que és contra a nova lei de financiamento dos partidos e decides protestar continuando a tua vida como se nada fosse. Não critico a tua decisão de protestar nem esses juízos subjectivos, mas posso apontar que essa forma de protesto é das menos eficazes que podes encontrar.
É o que proponho neste post. Se querem protestar, o voto em branco é má ideia. É claro que se querem votar em branco porque lhes apetece, ora força, não tenho nada contra. Mas não se iludam a julgar que isso é um protesto. É simplesmente delegar o voto aos outros.
«A tua solução funciona apenas para quem não se importa de votar em algo que não acredita, apenas como um meio para atingir um determinado fim. Para todos esses, então de facto é melhor votar no POUS. :)»
Não. A minha solução, a que eu encontrei nestas eleilções, foi olhar para os programas e intenções dos partidos e votar naquele que está mais perto do que eu considero importante. Pode estar ainda longe em muitas coisas, mas o protesto mais eficaz, pela via do voto, é o que empurra na direcção mais aproximada à que eu quero.
A outra solução, que me parece pior mas melhor que o voto em branco, seria apenas pôr de parte os partidos que são mesmo contrários aos meus valores e votar ao acaso nos restantes.
A pior alternativa para quem quer mudar as coisas é não votar ou votar em branco (que, para os partidos, vai dar no mesmo). Essa mantém tudo na mesma.
«É possível teorizar sobre a abstenção mas um voto em branco é o que é: uma manifestação clara de protesto e assumida de forma activa.»
É uma manifestação clara, assumida de forma activa, que aquele eleitor não vota. Para os partidos, isso vale o mesmo que uma abstenção.
Nota que não estou a criticar a parte subjectiva. É como a homeopatia. As pessoas podem tomar as gotinhas convencindas que isso faz muito efeito. O que estou a criticar é que estão enganadas nisso. O efeito de um voto em branco é menor que o efeito de um voto num partido, e se querem protestar pôr a cruzinha algures, seja onde for, duplica a força do protesto (e se puserem a cruzinha num sítio pensado até indicam o que protestam).
Estou de acordo com o Pedro Ferreira.
ResponderEliminarSe alguém não se revê, de todo, em nenhum partido (grande ou pequeno), nas suas propostas, ou mesmo num sistema que, na sua opinião, dificulta significativamente a criação de novos partidos, a melhor coisa que tem a fazer é votar em branco (ou nulo); pois nenhuma outra atitude passa aos agentes políticos essa mensagem de forma tão clara.
A reacção do sistema político aos votos das pessoas não acontece apenas no que diz respeito aos deputados que cada partido ganha, por isso não é nada "objectivo" (como o Ludwig diz que é) que o voto em branco seja menos eficaz.
A reacção do sistema político também passa pelas interpretações que os agentes políticos fazem dos resultados, quer os reguladores, quer os decisores, desde os juízes ao presidente; também passa pela forma da sociedade reagir a essa mensagem. Recentemente surgiam dois partidos no espctro político português (MMS e MES) num fenómeno que não deve ter sido alheio ao assunto em discussão; mas em última análise se mais de metade dos votos expressos fosse em branco e não ocorresse uma mudança de fundo, poderiam apostar que o facto de tantos conhecerem o descontentamente generalizado com o sistema levaria brevemente a uma revolução. Porque a mensagem do descontentamento seria pública e essa seria uma mensagem forte (ao contrário de 50% de abstenção, que passa por "se temos o país em tão boas mãos, porque me tenho de preocupar com política, e sacrificar um dia de praia para discutir a sua gestão?")
Por isso, acredito que quem não se revê no actual sistema deve votar em branco ao invés de se abster. Caso se abstenha, não venha depois dizer mal dos políticos e da política. Mas se votar branco ou nulo, não é nada incoerente fazê-lo.
Ludwig,
ResponderEliminar"É uma manifestação clara, assumida de forma activa, que aquele eleitor não vota..." em nenhum dos partido propostos.
Quem não vota, são os que não vão às urnas. Estás mais uma vez a confundir abstenção com voto em branco.
"Para os partidos, isso vale o mesmo que uma abstenção."
Errado. Qualquer partido pode usar a abstenção no seu discuro, mas já não o pode fazer relativamente ao voto em branco. Mais: aposto que qualquer que seja o partido, a ter que escolher entre um abstencionista e um voto em branco, preferiria o primeiro. Para o apuramento de quem tem mais votos, pode contar o mesmo. Mas não é a mesma coisa.
Para que fique claro, pessoalmente acho mais eficaz votar no partido que mais se aproxima daquilo que acredito. Defendo apenas que o voto em branco é talvez aquele que é o mais consciente de todos e portanto é um manifestação clara de protesto.
João Vasco,
ResponderEliminarPenso que estás a confundir as duas coisas. Uma é votar em branco para ter legitimidade de se queixar depois, «Caso se abstenha, não venha depois dizer mal dos políticos e da política.». Não concordo com isto, mas é um desacordo subjectivo, em matéria de valor.
A outra, muito diferente, é a eficácia deste voto em branco:
«Se alguém não se revê, de todo, em nenhum partido (grande ou pequeno), nas suas propostas, ou mesmo num sistema que, na sua opinião, dificulta significativamente a criação de novos partidos, a melhor coisa que tem a fazer é votar em branco (ou nulo); pois nenhuma outra atitude passa aos agentes políticos essa mensagem de forma tão clara.»
O voto em branco passa uma mensagem vaga e, mais importante que isso, é um meio fraco de pressionar a mudança. É claro que os partidos respondem aos votos em branco. Os partidos querem todos os votos. Mas respondem mais aos votos que não estão em branco, porque esses contam mais e informam mais.
E acho que se alguém chegou à conlusão que todos os partidos são exactamente iguais naquilo que para si importa, ou tem prioridades muito estranhas ou não se deu ao trabalho de olhar para os partidos. Por isso é que acho que o melhor voto de protesto é o dado ao partido mais para o lado que o eleitor quer virar a política. O segundo melhor é dado ao acaso entre um conjunto de partidos vistos como equivalentes, e o pior protesto de todos é, ex-equo, abster-se, votar em branco ou enganar-se a preencher o boletim. Isso pode ser interpretado de muitas formas mas, feitas as contas, vale metade dos outros votos.
Quanto à revolução, parece-me que não será o objectivo de quem vota em branco acabar com a democracia. Mas esse é um efeito nefasto de não votar em nada. Quanto mais gente desperdiça o seu voto mais fraca fica a democracia.
E quem acha que o problema é ser difícil criar partidos novos devia protestar votando nos partidos novos em vez de ajudar os antigos votando em branco... Parece-me que deste um bom exemplo da confusão que critico :)
Acho que o voto em branco tem passado uma mensagem vaga até ao presente, sendo um meio fraco, pois, de pressionar qualquer mudança. E, desse modo, o escrutínio dá para várias interpretações. Penso que votar no grande partido virtual do voto em branco, não por se achar que sejam todos iguais e equivalentes, se declarado publicamente como um movimento de protesto, não tem o valor nulo e ineficaz que convoca. Parece-me que as soluções que propõe (votar nos partidos novos ou partido "mais para o lado que o eleitor quer virar a política") são, vistas a seco, um atentado à consciência dos eleitores, pois é como se votassem alienados, ao acaso, com o intento único de um ganho de eficácia não medido e comprovado em tempo algum. Ora, tem sido precisamente uma ideia pseudo-pragmática e utilitarista que tem mantido o sistema político tal como está. Com efeito, o que você propõe é um voto útil. O problema que se põe atualmente, ainda que não teorizado e amplamente avaliado, é o da criação de um impasse no atual sistema, genericamente falando, e com uma mensagem para os partidos representados na AR. Essa ideia resulta de um descontentamento global (de que não é possível, com objetividade, medir este surto, porque vago) que teve a expressão máxima no passado dia 15. E é este capital que deveria ser catapultado. Já o referi neste blog (dispensando-me de o reiterar) que me parece uma forma adequada - ainda que muito imprevisível quanto a ganhos e perdas - para pressionar o sistema e protestar. Todas as outras soluções conduzem, na minha opinião, a nenhuma alteração e sinal claro aos poderes centrados nos grandes partidos e até nos pequenos, que, tendo assento na AR, ali se enquistaram sem qualquer oposição ao sistema onde se integram, trabalhando avulsamente, sem qualquer ideia clara ou projeto para o pais. Acho que se os portugueses sentissem que o sistema funciona bem, se as instituições cumprissem o papel para que foram criadas (e destaco desde já a Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação da AR), se as medidas regularmente tomadas, à vez, pelos principais partidos não tivessem resultado em efeitos lesivos e, nalguns casos, perversos para a maioria dos portugueses, não estaríamos a ter esta conversa, mas outra. Em verdade, é possível extrair, semanticamente, um número considerável de hipóteses como as que advoga, seguindo um conjunto de argumentações (nesta coisa da valoração, são sempre retóricas; e não o menciono pejorativamnente, antes pelo contrário, porque é útil que assim seja; sou apenas contra a pseudo-retórica baseada em figuras de estilo, não em argumentos). Já estabeleci alguns diálogos, úteis e interessantes, em fóruns dessa natureza e, em geral, tendemos também para um "impasse" hermenêutico, que leva a considerações de índole técnica que não favorecem a formação de uma vaga plena, pois nem todos os portugueses eleitores estão abalizados para discussões aprofundadas deste jaez. Além disso, uma especificação muito elencada de valores tenderá a ferir alguns dos descontentes, promovendo que se entre num debate emaranhado e idêntico ao dos políticos, que são o alvo e não o exemplo (foi por isso que, ao serem arroladas algumas ‘ideias’ por alguns, a caminhada de 15 de Setembro último foi logo catalogada como uma marcha de ‘comunas’, o que, sabia-se antes e comprovou-se depois, era um engano ingente, pois tratou-se de uma exposição muito transversal). De facto, precisam que alguém interprete o seu descontentamento, lhe dê alguma forma e conteúdo, o que é sempre difícil, pois, do que me apercebo, o denominador comum está, não especialmente nas teorias e práticas políticas, mas essencialmente na falta de transparência, encobrimento de interesses que não servem o país, etc. E tem de ser vago este sentimento, pois os cidadãos não mudam de um dia para o outro as suas sensibilidades e filiações politicas e partidárias, as suas tendências
Eliminar(Cont.)O voto em branco não quer aniquilá-los, mas transportá-los, não como um elemento divisor nesta hora, mas como mais-valia que exprime a essência da democracia, a pluridade e solidariedade de pensamentos e anseios quanto a esta pouco clarificada prática política difundida, de que resulta uma ira. É esta, quanto à parte comum, que pode gerar uma contratualização tácita nos portugueses para manifestarem e indicarem aos políticos que são eles a substância e poder da democracia e não os seus representantes, para que se lembrem, sublinhadamente, que devem representar e não auto-representarem-se, num alheamento crasso e distanciamento da realidade mais pungente de muitos compatriotas. A ideia do voto em branco é a regeneração – e não se trata de um aproveitamento moralista, mas tão-só de mínima moralização da vida politica.
EliminarLudwig,
ResponderEliminar" Por isso é que acho que o melhor voto de protesto é o dado ao partido mais para o lado que o eleitor quer virar a política."
Agora estou a entender. Estás também a confundir um "voto de protesto" com um "voto em branco".
Se eu quiser "protestar" contra um partido, dou o meu voto a outro. Isto é de facto o mais racional.
E se eu quiser "protestar contra todos os partidos", tiro o meu voto a todos eles. E a única forma de fazer isto é votar em branco.
Mas o voto em branco é mais do que não dar um rebuçado a alguém. É mostrar uma opinião assumida.
Pedro Ferreira,
ResponderEliminar«Quem não vota, são os que não vão às urnas. Estás mais uma vez a confundir abstenção com voto em branco.»
Penso que quem julga que o voto em branco é um voto é que está a confundir esse "branco" com um partido. Não houve 160 mil a votar numa coisa. Houve 160 mil a não votar em nada, que é bem diferente.
«Errado. Qualquer partido pode usar a abstenção no seu discuro, mas já não o pode fazer relativamente ao voto em branco»
Não me parece um bom critério. Vê, por exemplo, aqui:
«A duplicação do número de votos em branco nas europeias de domingo é uma "manifestação activa do descontentamento" do eleitorado não só com o PS mas com o próprio sistema político-partidário, consideram vários politólogos contactados pela Lusa.
[...]
Já António Costa Pinto, investigador do ICS, considera que neste aumento dos votos em branco está "expressa, em princípio, uma parte do eleitorado que vota habitualmente PS", estando "também aí o seu protesto". "Não penso que expresse um sentimento anti-partidos global, porque esses eleitores abstêm-se", acrescenta.»
O voto em branco, como a abstenção, é a versão política da mancha de Rorschach.
E tu das um bom exemplo:
«Defendo apenas que o voto em branco é talvez aquele que é o mais consciente de todos e portanto é um manifestação clara de protesto.»
Talvez haja um voto em branco de quem estudou a fundo todos os partidos e concluiu que estavam todos exactamente equidistantes daquilo que essa pessoa queria. Mas como me parece improvável que isso aconteça, penso que muitos votos em branco foram pela razão contrária: porque não olharam com suficiente cuidado para ver diferenças nos partidos que fizessem votar num em vez de dar o seu voto aos militantes de todos.
Quem se abstém, pronuncia-se, conscientemente ou não, contra a instituição a sufrágio. Por exemplo, quem quer deslegitimar a União Europeia radicalmente, deve abster-se (e é justamente nas eleições para o Parlamento Europeu que a abstenção bate sempre recordes). E os monárquicos coerentes não deveriam votar para a Presidência da República.
ResponderEliminarJá quem vota branco ou nulo, pronuncia-se a favor da instituição em causa e do seu carácter electivo, mas contra as opções referidas. O significado é: «sou a favor da democracia, mas não me revejo nas opções que me oferecem». A subida significativa dos brancos e nulos nestas últimas eleições foi significativa.
Ludwig:
ResponderEliminar«O voto em branco passa uma mensagem vaga e, mais importante que isso, é um meio fraco de pressionar a mudança.»
Tu dás isto como um facto objectivo, mas não é.
Não passa da tua opinião. Pressupõe uma simplicidade que o sistema não tem.
Dizes que um voto em branco vale menos para um partido do que um voto noutro partido, mas isso não é verdade. Depende muito de caso para caso.
Por exemplo: assumamos que uma pessoa X é moderada e identifica-se ideologicamente mais com os partidos de centro que com qualquer outro partido.
No entanto verifica que os partidos de centro são corruptos e estão constantemente a tomar decisões que favoreçam alguns líderes partidários prejudicando o interesse nacional.
Se for votar num outro partido à esquerda passa a mensagem que quer políticas mais à esquerda, mas isso é falso. Se votar num partido à direita passa a mensagem que quer políticas mais à direita, mas isso é falso.
Se for relativamente fiel a um dos partidos grandes e votar em branco, está a dizer outra coisa. Se vários o fizerem o partido pode compreender que tem de mudar a sua atitude se quiser ganhar votos. E que o problema não está no binómio esquerda/direita.
E o cenário que tracei não é assim tão fantasista.
Por fim, eu não creio que o objectivo dos votos em branco seja qualquer revolução. Eu apenas mostrei com este exemplo extremo que é uma mensagem poderosa e consequente, mesmo que por vezes as consequências escapem à lógica que pretendes única da simples aritmética eleitoral.
PS- Uma revolução pode alterar o sistema democrático e manter a democracia. Mas reitero que não acredito que seja esse o objectivo de grande parte dos 3% que votaram em branco.
Pedro Ferreira,
ResponderEliminar«E se eu quiser "protestar contra todos os partidos", tiro o meu voto a todos eles.»
É esse tipo de erros que me parece muita gente cometeu. Votar em branco não é tirar o voto aos partidos todos, coisa que aliás não tem qualquer efeito. Votar em branco é apenas delegar o voto nos outros eleitores.
Se queres penalizar os partidos tens de escolher um que queiras penalizar menos e votar nesse. É assim que o sistema funciona. Isso do protesto em branco é não fazer bem as contas.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarJoão Vasco,
ResponderEliminar«Se for relativamente fiel a um dos partidos grandes e votar em branco, está a dizer outra coisa.»
Sim. Mas lê bem o teu cenário. O que o voto em branco está a dizer é "desisto, não sei o que fazer, não contem comigo". Isso não é um protesto de jeito. Para protestar é preciso dizer não só que se está contra mas dizer também o que se quer.
Por exemplo, uma pessoa na situação que tu sugeres devia ter votado no MEP, PH, MPT ou um desses que nunca esteve perto do poder e que lhe fosse menos contrário. Isso sim dava uma mensagem clara que os outros têm de mudar. Além de mostrar a todos que os partidos novos têm possibilidades.
O voto em branco, como o teu cenário bem ilustra, é o resultado de ser contra mas não querer comprometer-se em concreto... :)
«uma pessoa na situação que tu sugeres devia ter votado no MEP, PH, MPT»
ResponderEliminarEstás enganado.
Uns desses partidos estão à esquerda, e outros à direita. E todos eles propõem coisas que podem estar mais distantes das posições do eleitor em questão que as daquele partido que o desiludiu pelo seu comportamento.
Essa aleteração de voto passaria assim a mensagem errada aos partidos. A mensagem de que aqueilo que estava mal eram as ideias propostas e não o comportamento efectivo dos partidos.
Mas o problema aqui geral é que tu só acreditas no poder da aritmética eleitoral.
Mas eu acredito no poder da comunicação. E passar de forma precisa a mensagem "nenhum partido se adequa ao que acredito" tem implicações que ultrapassam a aritmética eleitoral e as leis da república. Porque cada pessoa é um agente na democracia, e as pessoas não reagem apenas de acordo com as leis, mas também de acordo com aquilo que acreditam e aquilo que ouvem e lêem.
Já agora devo dizer que nunca votei em branco, mas essa hipótese continua sempre bastante presente nas minhas opções de voto.
Cada vez mais.
Ludwig,
ResponderEliminarVamos partir do princípio que as pessoas votam conscientemente, e discutamos os princípios, para anular alguns argumentos como "Isso do protesto em branco é não fazer bem as contas" ou "há mulheres que votam no Sócrates porque o acham até um político atraente". Estou apenas a comentar votos conscientes e pensados (com as contas bem feitas). Portanto, vou partir daí.
Quando me citaste, usaste a parte menos importante do meu comentário. Eu disse que o voto em branco é mais do que não dar um rebuçado a alguém: é manifestar de forma consciente a nossa opinião.
Neste sentido, se não me revir em nenhum dos partidos, ou saio do jogo e tomo uma atitude passiva (abstenho-me), delegando assim a minha escolha para os outros, ou digo que não concordo com nenhum deles de forma activa (voto em branco).
Para um terceiro, até poderá parecer que também estou a delegar o meu voto nos outros, mas em rigor não o fiz. E mais importante que tudo, fiquei bem com a minha consciência, pois disse o que pensava.
Se houver alguém que se sinta desconfortável em votar num partido que não lhe diz nada, mas que é o menos mau (ou que é o mais inócuo) de todos, não deverá votar em nenhum deles, mas sim em branco.
Quanto às interpretações dos números feitos por politólogos, isso sim, dava uns excelentes "treta da semana" :) O que estou perfeitamente convicto é que para quem vota em branco optou por falar em vez de ficar calado e se não votou em nenhum outro partido, foi porque não quiz dizer que concordava com esse partido.
Ludwig,
ResponderEliminar"desisto, não sei o que fazer, não contem comigo".
Errado. Isso é se a pessoa se abstivesse.
A forma correcta para o voto em branco seria algo como "não desisto, sem muito bem o que quero e principalmente o que não quero e têm de contar comigo"
João Vasco,
ResponderEliminar«Mas eu acredito no poder da comunicação.»
Mencionei esse papel do voto no post. Nesse contexto, o voto em branco é como protestar com cartazes em branco. Pode dar a ideia que se protesta, mas adianta de pouco.
Pedro Ferreira,
«A forma correcta para o voto em branco seria algo como "não desisto, sem muito bem o que quero e principalmente o que não quero e têm de contar comigo"»
Mais ou menos. Essa pode ser a mensagem pretendida. Mas a transmitida é "posso saber o que quero, mas não digo o que é e dou o meu voto aos outros eleitores".
«Mencionei esse papel do voto no post. Nesse contexto, o voto em branco é como protestar com cartazes em branco. Pode dar a ideia que se protesta, mas adianta de pouco.»
ResponderEliminarSe calhar é essa a leitura que fazes. Mas quem vota em branco confia que os agentes democráticos em geral (e a generalidade dos eleitores em geral) seja um pouco mais rico nessas interpretações.
«Mais ou menos. Essa pode ser a mensagem pretendida. Mas a transmitida é "posso saber o que quero, mas não digo o que é e dou o meu voto aos outros eleitores".»
A ti pode transmitir-te isso. Não podes é pretender que por ser isso aquilo que te transmite a ti é necessariamente isso o que transmite a todos.
Pedro, João Vasco, etc,
ResponderEliminarPara esclarecer as coisas, quero deixar claro que não estou a falar da consciência com que cada um fica, se se sente melhor em votar em branco ou com outra cor qualquer, etc. Tudo isso são avaliações subjectivas que não comento.
O que quero focar é o efeito do voto em branco, e da abstenção, quando comparado com o voto num partido.
Em primeiro lugar, vale menos. Tirar um voto a A e deitá-lo fora é uma pressão menor que tirar o voto a A e dá-lo a B. Seja qual for o B. Por isso como forma de pressionar mudança dentro do sistema democrático, seja para onde for, o voto em branco é menos eficaz.
O seu único propósito seria, em números muito elevados, destruir o sistema democrático. Mas isso penso que poucos querem (espero...).
Em segundo lugar é uma forma vaga de comunicar a vontade do eleitor. Não vota em nenhum, muito bem, mas não diz mais nada. Como o Ricardo e os politólogos ilustram, as interpretações dessa mensagem podem ser as mais diversas.
O que não é de estranhar. No fundo, é uma carta em branco. O que é que isso diz? Nada.
Não disputo que o voto em branco tenha sentido para quem vota assim, faça sentir conscencioso ou o que for. E até podem ter razão nisto, a nível subjectivo.
O que defendo é que o efeito do voto em branco é muito menor que qualquer outro, e está ao nível do voto nulo e da abstenção. Qualquer distinção entre estes três é puramente subjectiva e depende da interpretação de cada um.
Ludwig:
ResponderEliminarParece-me que estás a insistir num ponto em que não tens razão nenhuma.
«O que quero focar é o efeito do voto em branco, e da abstenção, quando comparado com o voto num partido.»
Exacto. Eu também.
«Em primeiro lugar, vale menos. Tirar um voto a A e deitá-lo fora é uma pressão menor que tirar o voto a A e dá-lo a B. Seja qual for o B. Por isso como forma de pressionar mudança dentro do sistema democrático, seja para onde for, o voto em branco é menos eficaz.»
Em primeiro lugar, estás errado.
Existem várias maneiras de pressionar os partidos. Por exemplo, as manifestações de rua contam 0 votos, e no entanto são uma forma de pressão que a democracia consagra.
Pela tua lógica, uma manifestação não pressiona partido nenhum, porque formalmente não decorre qualquer efeito político-partidário da adesão a uma manifestação. Mas essa lógica é disparatada.
Os partidos são pressionados de várias formas diferentes e um "grito" como o voto em branco corresponde a uma pressão que não podemos quantificar. Pode ser menor que o voto noutro partido, mas não tens forma de saber.
«Em segundo lugar é uma forma vaga de comunicar a vontade do eleitor. Não vota em nenhum, muito bem, mas não diz mais nada.»
O próprio sistema democrático corresponde a formas vagas de comunicar. Infelizmente a comunicação entre vários milhões de eleitores não pode ser muito precisa.
Mas discordo que não diga nada. Tu não "lês" nada, mas reitero que a tua leitura é mais limitada que aquela que a generalidade das pessoas faz.
A generalidade das pessoas entende que aqueles milhares de pessoas que votaram branco ou nulo deram-se ao trabalho de ir às urnas expressar o seu descontentamento, a sua não-identificação com os partidos actuais. E isto tem um significado tanto maior quanto maior a percentagem da população que estes milhares representarem.
Hehe
ResponderEliminarAcho que tem de aparecer um novo quadrado a dizer "protesto, e venho por este meio pedir que se tire um voto ao partido que tiver a maior contagem"
Não, sério.
ACho q desta vez estou de acordo com o Joao Vasco. Afinal os ateus não são todos iguais.
Ludwig,
ResponderEliminar"Tudo isso são avaliações subjectivas."
Ora aí está. Concordo plenamente.
A única coisa em que acho que tens razão é quando criticas quem voto em branco julgando que assim penaliza um partido em específico (p.ex., o partido que está no Governo). Aí, objectivamente, a pessoa está enganada. Mas é apenas neste grupo de pessoas.
Mas como estou convicto de que, ao contrário de quem se abstém, sabe exactamente o que (não) quer, acho que não tens razão.
Pedro Ferreira:
ResponderEliminarSe forem eleitores geralmente fiéis ao partido do governo (por serem dessa área ideológica), então não estão enganadas.
Aliás, nesse caso eles estão na mesma situação que os outros - não se identificam com nenhum partido porque o único com o qual se identificariam (por ser da sua área ideológica e ocupar o espaço eleitoral impedindo outros de surgirem nessa área ideológica) está a agir de forma que vêem como inadmissível (previligiar trocas de favores face ao interesse nacional, por exemplo).
E um partido de governo que perde votos da sua base de apoio para o voto em branco fica a entender que o problema não é a ideologia que professa, não é uma questão de governar mais à esquerda ou à direita. Esse partido sai prejudicado por esses votos em branco, porque estamos a falar de eleitores que não votariam noutro partido, visto identificarem-se menos com os restantes partidos que com aquele que está no governo.
João Vasco,
ResponderEliminarÉs capaz de ter razão. Mas a ideia principal que quis transmitir no meu comentário anterior foi que a maioria das pessoas que vota em branco sabe o que está a fazer e não o faz "por engano".
Acho mais verosímel olhar para o número de votos em brancos e inferir que se tratam das pessoas que quiseram convictamente mostrar que nenhum dos partidos propostos seriviam os seues propósitos do que olhar para o número de votos de um partido e dizer que se tratam das pessoas que convictamente apoiam aquele partido.
De acordo.
ResponderEliminarAcho que vocês estão a confundir preferências com o valor absoluto de uma coisa. Quer esteja a votar por chocolate ou pudim, ou a escolha seja entre levar um pontapé ou um tiro, não é o facto de não gostar de nenhuma alternativa que justifica abster-me ou votar em branco.
ResponderEliminarO voto em branco, mais ainda que a abstenção, significa indiferença, se vier de um agente racional. Se assumirmos que quem votou em branco sabia exactamente o que fazia, só podemos inferir que tanto lhe faz se ganha o PNR ou o BE, o PCP ou o CDS. Só quando todas as opões valem exactamente o mesmo é que se justifica o voto em branco.
E isto parece-me improvável.
O que julgo que aconteceu, e vocês têm confirmado essa suspeita, é que muita gente votou em branco por não haver nenhum partido do qual gosta. E isto é compreender mal o mecanismo.
Mais concretamente, imaginem que numa votação classifico os três partidos como +3, 0, -3. Neste caso é evidente que voto no +3.
Agora suponham que lhes atribuo os valores -3, -6 e -9. O racional será votar no -3. O mais racional é sempre votar naquele que tem mais valor para mim, mesmo que não goste de nenhum.
Mas nesta situação suspeito que muita gente pensa que como não gosta de nenhum o melhor é não votar.
Quanto à mensagem que o voto em branco transmite, só é clara para o remetente e tem muito pouca força sobre o receptor.
Retirar alguma conclusão. Votar em branco é dar carta da mesma cor a todos os partidos. Pode ser um voto de protesto mas não há forma de o ler, não se sabe se são da extrema direita , anarquistas, adeptos da monarquia etc
ResponderEliminarSó votando se pode exprimir algum ponto de vista. Nesta últimas eleições não pude votar, e não pretendia votar de qualquer forma. Mas nestas próximas já vou deixar de ser do partido da abstenção, mas isso porque acho mesmo importante votar desta vez. Vamos a ver o resto da população, espero que se vote em massa mesmo.
«Agora suponham que lhes atribuo os valores -3, -6 e -9. O racional será votar no -3. O mais racional é sempre votar naquele que tem mais valor para mim, mesmo que não goste de nenhum.»
ResponderEliminarNa teoria dos jogos existe um jogo curioso.
O sujeito A divide 10 rebuçados entre aqueles que irão para si e aqueles que irão para o sujeito B.
O sujeito B pode escolher entre aceitar a divisão ou mandar todos os rebuçados para o lixo.
Os seres humanos, consoante a sociedade em que foram educados e outros factores tendem a, no papel do sujeito B, só aceitar a divisão se lhes couber acima de um valor de rebuçados que ronda os 3.
Os macacos aceitam sempre que ganhem pelo menos um rebuçado. Ganhar um é melhor que ganhar 0, por isso os macacos são mais "racionais" que os seres humanos.
Ou então as coisas não são assim tão simples. Ou então os seres humanos agem dessa forma porque hoje perdem aquele rebuçado que poderiam ganhar, mas transmitem à sociedade um sinal. Esse sinal, transmitido através da cultura dominante, faz com que numa nova situação o sujeito A não se atreva a tanto.
Em democracia a participação não é apenas o voto.
«Quanto à mensagem que o voto em branco transmite, só é clara para o remetente e tem muito pouca força sobre o receptor.»
Isto é falso.
É clara para muitos que não o remetente (por exemplo eu nunca votei em branco e a mensagem é claríssima para mim), e se calhar tem pouca força para ti, mas não para mim e muitos outros eleitores.
Por isso não assumas que uma mensagem que tem pouca força para ti tem pouca força para todos.
Esse é o teu grande erro nesta discussão.
« (por exemplo eu nunca votei em branco e a mensagem é claríssima para mim),»
ResponderEliminarClaríssima não diria, pois nenhum voto é uma mensagem clara.
Mas, para mim, tão clara quanto uma mensagem expressa através do voto pode ser.
Nuvens,
ResponderEliminar«Votar em branco é dar carta da mesma cor a todos os partidos.»
Não. Isso está errado. Votar em branco é aumentar o peso dos votos dos outros, e não distribuir votos igualmente por todos os partidos. É muito diferente.
Imagina que tens 5 partidos e 1000 eleitores. 500 já sabem onde vão votar: 250 no A, 100 no B e C, 50 no D e 0 no E. 500 não sabem o que fazer aos votos.
Se esses 500 não votarem, o partido A, com 250 votos fica com 50% dos votos. Ou seja, por não votarem (ou votarem em branco) duplicaram o valor dos votos dos outros.
Se esses 500 votarem ao acaso, em média o resultado será 350 para o A, 200 para B e C, 150 para D e 100 para E. Isso sim nivela os votos dos partidos e faz diferença.
Na prática, e à parte das tretas que inventam para escrever notícias nos jornais ou discursos políticos, a abstenção e os votos em branco são uma redução no número de eleitores.
João Vasco,
ResponderEliminar«Mas, para mim, tão clara quanto uma mensagem expressa através do voto pode ser.»
Supõe que num ano o PS tem 45%, o PSD 35% e o PCP 10% dos votos, mais 5% em branco.
Agora considera três cenários possíveis para a eleição seguinte.
A) o PS tem 35%, o PSD 45% e o PCP 10%. + 5% brancos
B) o PS tem 40%, o PSD 30% e o PCP 20%. + 5% brancos
C) o PS tem 45%, o PSD 35% e o PCP 10%, +15% brancos.
Achas mesmo que C dá uma mensagem tão clara aos partidos como A ou B? Se sim, tens de me explicar, porque em C não consigo ver o que esses 10% querem, a menos que seja não votar...
Se tens alternativas e votas numa dizes qual queres. Se não votas não dizes. Parece-me bastante clara a diferença.
João Vasco,
ResponderEliminar«O sujeito A divide 10 rebuçados entre aqueles que irão para si e aqueles que irão para o sujeito B.
O sujeito B pode escolher entre aceitar a divisão ou mandar todos os rebuçados para o lixo.»
Em que é que isto é análogo a votar em branco?
No cenário A) a conclusão é "os portugueses estavam partos de políticas de esquerda, portanto a direita venceu". O PS vai optar por alterar as suas propostas para ser mais à direita, para ganhar o eleitorado do centro.
ResponderEliminarNo cenário B) a conclusão é "os portugueses estavam partos de políticas de direita, portanto a direita perdey". O PS e o PSD vão optar por alterar as suas propostas para ser mais à esquerda, para ganhar o eleitorado do centro.
No cenário C) a conclusão é "os portugueses estão fartos das políticas usuais do sistema político português". Esta cenário pode ser o incentivo que faltava para que a sociedade civíl crie mais partidos que disputem o eleitorado insatisfeito mas motivado.
Os partidos também podem concluir que não são apenas as ideias aquilo que devem mudar, mas sim os comportamentos, se quiserem obter mais votos.
O cenário C pode portanto ser considerado o preferível para algum eleitorado, e por isso é racional que votem em branco.
«o PS tem 45%, o PSD 35% e o PCP 10%, +15% brancos»
ResponderEliminar45+35+10+15=105!!!!!!!!
;);););););););););)
(Somos todos humanos... ;) )
ResponderEliminarLudi,
a mensagem que dou saindo de casa, desviando-me das tarefas habituais, e passando pela secção de voto para me dar ao trabalho de votar em branco, é muito mais expressiva do que ficando em casa.
E eu sei que os partidos não ligam muito, mas repara como alta abstenção (50-60%) provoca debate sobre o voto obrigatório. Votos em branco acima de 10% provocaria que género de debate?
Ricardo Alves
ResponderEliminarè mais expressiva do ponto de vista pessoal porque se perde sono e tempo, em termos dos resultados é igual ao voto, nula
Ricardo,
ResponderEliminarAs percentagens dos partidos no meu exemplo hipotético eram em relação aos votos contabilizados. Os brancos em relação ao eleitorado. Isto para ilustrar precisamente o ponto que por muito que os votos em branco aumentem a proporção de cada partido pode ficar na mesma.
Ricardo,
ResponderEliminar«E eu sei que os partidos não ligam muito, mas repara como alta abstenção (50-60%) provoca debate sobre o voto obrigatório. Votos em branco acima de 10% provocaria que género de debate?»
Nenhum. O voto em branco expressa que a pessoa se deu ao trabalho de ir votar em branco. Mas não expressa nada acerca de porquê o fez, nem do que devemos fazer para que volte a votar em alguém.
João Vasco,
ResponderEliminar«No cenário C) a conclusão é "os portugueses estão fartos das políticas usuais do sistema político português". Esta cenário pode ser o incentivo que faltava para que a sociedade civíl crie mais partidos que disputem o eleitorado insatisfeito mas motivado.»
Não. A conclusão que os portugueses estão fartos das politicas da malta do costume é algo duvidosa, mas ainda a aceito (estás a assumir que o voto em branco é motivado pela mesma coisa na maior parte dos casos, o que pode não ser verdade).
Mas não dá nada a mensagem que os portugueses querem partidos novos. Isso seria se os partidos novos tivessem angariado votos. Quando há dez vezes mais gente a votar em branco que num partido novo não é razoável concluir que votam em branco porque querem partidos novos...
Ludwig:
ResponderEliminar«Nenhum. O voto em branco expressa que a pessoa se deu ao trabalho de ir votar em branco. Mas não expressa nada acerca de porquê o fez, nem do que devemos fazer para que volte a votar em alguém.
»
É isto que não faz sentido.
Já me parece pouco razoável achar provável que 10% de votos em branco não viessem provocar nenhum tipo de debate estruturante.
Menos razoável ainda me parece dar essa ausência de debate como certa e afirmá-la como um facto.
Estás a assumir que todos os eleitores/agentes políticos pensam o mesmo que tu a respeito do voto em branco, mas isso não acontece, e por isso os argumentos que vens dando caiem pela base.
«Mas não dá nada a mensagem que os portugueses querem partidos novos. Isso seria se os partidos novos tivessem angariado votos.»
Por acaso eu não disse que a mensagem é "criem partidos novos" e apenas que a mensagem do voto em branco dá esse incentivo à sociedade.
Porque existem vários fenómenos políticos que ultrapassam as consequências formais dos votos expressos, e é isso que insstes em não considerar.
Aliás, recentemente surgiram dois partidos novos, em grande mendida por compreenderem o descontentamento de muitos portugueses com os actuais partidos, e - infelizmente, a meu ver - o MEP se tivesse tido os mesmos resultados nas legislativas que teve nas europeias já alcançaria a representação parlamentar.
«o MEP se tivesse tido os mesmos resultados nas legislativas que teve nas europeias já alcançaria a representação parlamentar»
ResponderEliminarNão e sim. Se tivesse tido o mesmo número de votos numas legislativas (com a abstenção própria de legislativas), não teria representação parlamentar. Se tivesse a mesma percentagem, claro que sim.
«Quando há dez vezes mais gente a votar em branco que num partido novo não é razoável concluir que votam em branco porque querem partidos novos»
ResponderEliminarHouve três vezes mais votos em branco do que no MEP (o maior dos pequenos). O que significa apenas que as pessoas que votaram em branco não estão satisfeitas com o MEP (ou o MMS, ou os partidos anteriormente existentes). Nada diz sobre outros partidos que possam aparecer.
Ludi,
ResponderEliminarquanto ao igualar a abstencão ao voto em branco digo apenas que não podes comparar uma pessoa que participa activamente no processo democratico (indo votar, seja o seu voto, num partido, branco ou nulo) com uma pessoa que vai para o algarve apanhar solinho. Quanto mais não seja uns têm consciência do seu dever civico e outros não estão nem ai para isso.
Quanto à eficacia do protesto através do voto em branco estamos praticamente de acordo.
beijos
«O voto em branco expressa que a pessoa se deu ao trabalho de ir votar em branco.»
ResponderEliminarExacto. O que significa que dá importância suficiente ao acto de votar para alterar a sua rotina domingueira.
«Mas não expressa nada acerca de porquê o fez, nem do que devemos fazer para que volte a votar em alguém.»
Pois não. Mas é muito diferente da abstenção. A mensagem que passa é até oposta à da abstenção, diria eu.
Voto em branco não diz nada, diz menos que a abstenção. Da abstenção sabe-se que são pessoas que não se importam de qual o resultado, por exemplo o meu caso nas europeias, não me interessava um chavelho se era PS ou PSD a ganhar, são uma gota de água nos grandes grupos europeus. por isso , fui apanhar sol em férias previamente marcadas. Quem marca eleições para épocas de feriados consecutivos...
ResponderEliminarAgora voto em branco ? é metido nos nulos, e nunca se sabe que tipo de protesto, se é contra os partidos e a favor de uma ditadura, se é contra o governo, se é por não haver alternativas , é um mistério.
Por isso querer tirar do voto em branco um romantismo imenso é mais um exercício de malabarismo argumentativo que esbarra na realidade da contagem de votos.
Estou com o Ludwig em duas coisas: tentar adivinhar o que significa um voto em branco é muito subjectivo e votar em branco só pode tornar menos representativa uma eleição.
ResponderEliminarSociologicamente podem acontecer outras coisas...
As interpretações que se fazem a posteriori são sempre definidas a priori, quer o eleitor decida votar em branco por uma razão ou por outra.
Se os media passarem todo o tempo de campanha a dizer o que o voto em branco significará, depois das eleições o voto em branco é o que os media decidiram que é... Um exemplo clássico de que uma afirmação (não necessariamente falsa) repetida 1000 vezes se torna verdadeira. Especulação pura.
E isto quer os eleitores concordem à partida, sejam influenciados em função disso, ou nenhuma das duas hipóteses.
Por isso mesmo, quase concordo com o João Vasco: se estiver mais ou menos enraizada na sociedade a ideia de que o voto em branco é um voto de protesto contra algo, então votar em branco poderá passar essa mensagem.
Mas a CNE não interpreta votos em branco e quem o faz pode ter ideias diferentes do que significa...
Portanto o significado do voto em branco é permanentemente subjectivo e variável.
Podem fazer-se inferências estatísticas sobre quem perdeu o voto para quem mas o que isso significa na cabeça do eleitor só mediante sondagem.
O resto é escatologia política.
Boa. Sou uma treta.
ResponderEliminarDepois de N posts a concordar com o Ludwig, teria de aparecer pelo menos um em que tal não acontecesse. Aqui concordo inteiramente com o João Vasco e o Pedro Ferreira, que já disseram tudo o que havia a dizer.
ResponderEliminarSó acrescento mais um pouco: votos de descontentamento noutros partidos ou ao calhas, pode ser muito mais bonito aritmeticamente, que parece ser a única faceta com a qual o Ludwig examina esta questão. Mas depois não se queixem quando Le Pens e companhias limitadas apareçam com força e voz suficientes para começar a incomodar, pois é este o resultado que votar noutro partido em forma de protesto costuma ter.
Eu fiz o teste que me colocava próximo do MMS. Deixei a leitura do programa do MMS para o fim. De facto, concordo com muita coisa, discordo doutras. Poderia ter votado MMS. Mas existe algo no programa com que discordo em absoluto, que vai contra todos os meus princípios, a criação da base de dados com informações dos cidadãos. Nunca votaria num partido que propusesse isto, mesmo que concordasse com todo o resto do programa. Daí a impossibilidade de, em consciência, eu poder votar nesse partido, mesmo concordando com 99% do programa, a questão de princípio impede-o. Tal como esse, outros insatisfizeram. E prefiro mostrar que não quero nenhum dos que se propõem do que contribuir para a eleição ao acaso de alguém perigoso ou absurdo, que é o que acontecerá se todos começarem a distribuir votos ao calhas por pensarem que esse alguém nunca lá chegará.
"Por isso querer tirar do voto em branco um romantismo imenso é mais um exercício de malabarismo argumentativo que esbarra na realidade da contagem de votos."
ResponderEliminarA tentativa de menorização do eleitor que participa em relação ao eleitor que se marimba, esta sim, nunca tinha apreciado. Mas, de facto, assiste-se a tudo, realmente... Estúpidos foram aqueles que não meteram o cu ao sol, mas que foram votar. Mais estúpidos ainda foram os que votaram em branco. Parece-me excelente, oh Nuvens. Não se quer candidatar para que a vontade de votar em branco continue a existir?
Se o voto fosse obrigatório, muitas coisas mudariam neste Portugal.
ResponderEliminarÉ essa a questão !
Unreal,
ResponderEliminar«votos de descontentamento noutros partidos ou ao calhas, pode ser muito mais bonito aritmeticamente, que parece ser a única faceta com a qual o Ludwig examina esta questão. Mas depois não se queixem quando Le Pens e companhias limitadas apareçam com força e voz suficientes para começar a incomodar, pois é este o resultado que votar noutro partido em forma de protesto costuma ter.»
Se a um eleitor incomoda que ganhe a extrema direita então não faz sentido votar em branco porque prefere uns partidos aos outros. Se considera que há partidos menos maus que outros não deve votar em branco.
Votar em branco é recusar-se a dar a sua opinião quando lha é pedida como parte do processo democrático. Isto só me parece fazer sentido se não tiver opinião para dar ou se for contra o processo democrático.
Todas as outras justificações de ser contra alguns partidos, a forma como se comportam, etc, não fazem sentido enquanto houver, para esse eleitor, pelo menos um partido pior que os outros (que o deveria levar a votar num dos outros, nem que fosse ao acaso, só para reduzir o poder desse).
Para usar o teu exemplo, se a uma pessoa preocupa que o PNR tenha mais poder, nunca deve votar em branco mas sim num dos outros partidos. Votar em branco só se justifica se tanto lhe fizer se é o PNR ou outro qualquer que ganha mais votos.
Já agora, chamo a atenção para esta peculiaridade do processo democrático que temos. A parte que conta é a aritmética dos votos. O resto é demagogia que, no fundo, só interessa na medida em que acabar por afectar a aritmética dos votos. Quem não gostar disto terá de lutar por um processo diferente da democracia, coisa que não vejo com bons olhos...
O que é que acham de pôr nos boletins uma caixinha extra:
ResponderEliminar[ ] Não sabe / não responde
Que exegése se poderia fazer das cruzes nesta caixa?
:)
Olá,
ResponderEliminarUm voto em branco é bem diferente de uma abstenção, representa interesse do eleitor no sistema eleitoral e descontentamente com as propostas eleitorais. Se toda a abstenção usasse a tecnica de votar em pequenos partidos para impedir que outros ganhassem provavelmente ainda teriamos o PNR no governo.
Bizarro,
ResponderEliminarNão é obrigatório votar no PNR... A menos que sejam todos exactamente tão maus como o PNR, votar num dos outros é melhor que votar em branco se queres reduzir a percentagem do PNR.
É uma das razões para criticar o voto em branco. Quem vota em branco está a votar como se todos os outros partidos fosse exactamente tão maus como o PNR. Nem sequer é quase tão maus -- o quase já justificava preferir um dos outros...
Uma lotaria dos votos é que era, como alguns políticos já sugeriram para as facturas (incentivo para pedir facturas): uma lotaria.
ResponderEliminarExemplo: 50 prémios, em dinheiro, a sortear por todos os votantes, no mínimo de 3000 euros para o prémio mínimo. Ou uma conjugação a pensar melhor.
«votar num dos outros é melhor que votar em branco se queres reduzir a percentagem do PNR»
ResponderEliminarComo se a única coisa que conta fossem as percentagens... Pessoalmente, tenho mais tendência a olhar para os dados em bruto (o número absoluto de votos)...
Ricardo Alves,
ResponderEliminarPessoalmente, até te podes preocupar mais com a cor dos boletins. Por mim, faz como quiseres. Não estou a criticar aquilo que, pessoalmente, cada pessoa acha mais ou menos importante. Por isso se alguém me disser que vota em branco porque lhe apetece digo está bem, é legítimo.
É quando sugerem que votar em branco também é um voto como os outros (não é, é metade), que votam em branco para dar menos poder ao PNR (só seria verdade de a única alternativa fosse votar no PNR) e assim por diante é que eu critico essas afirmações como objectivamente falsas.
Porque mesmo que tu não te rales com as percentagens, são essas que determinam os deputados, são essas que os partidos tomam em conta para moldar as suas acções, e são essas, acima de tudo, que exprimem a vontade do eleitor. Porque "não sabe / não responde" é menos informativo.
«Já agora, chamo a atenção para esta peculiaridade do processo democrático que temos. A parte que conta é a aritmética dos votos. O resto é demagogia que, no fundo, só interessa na medida em que acabar por afectar a aritmética dos votos. »
ResponderEliminarLudwig:
Deixa-me dar-te uma novidade: isso não é verdade.
Um governo com exactamente a mesma percentagem de votos pode fazer muito mais ou muito menos que outro com a mesma percentagem, consoante as chamadas "condições políticas".
As condições políticas não correspondem apenas a questões formais. Se por lei o governo pode fazer passar aquela reforma ou não. Correspondem a N questões puramente subjectivas. Se a reforma é vista como legítima e justa pelos afectados, que poder é que quem discorda tem para realizar greves, paralisações, que instabilidade social é que resultará da reforma, e em última análise se isso irá levar o parlamento ou o presidente a demitir o governo.
Ora as "condições" políticas estão relacionadas, entre outras coisas, com aquilo que cada um pensa que os outros pensam. Por isso um governo com 51% dos votos expressos, 10% de abstenção e 1% de votos em brancos tem condições políticas muito superiores ao que ganha com 51% dos votos expressos, 40% de abstenção e 10% de votos em branco.
E, por outro lado, uma mensagem que passes hoje pode afectar a aritmética dos votos amanhã.
No exemplo em que deste três cenários (A, B e C) eu mostrei-te como era possível um eleitor ver o cenário C como o preferível, e nem tive de considerar a criação de novos partidos.
DINOSSAUROS NA ARCA DE NOÉ?
ResponderEliminarÉ sabido que o facto de se encontrar, com alguma frequência, tecidos moles não fossilizados, células, proteínas, vasos sanguíneos, em ossos de dinossauro (v.g. R Rex, Hadrossauro) demonstra que os mesmos não podem ter milhões de anos, como os evolucionistas afirmam.
Os dinossauros foram criados há cerca de 6000 anos, na semana da criação, tendo sido quase extintos pelo dilúvio, em virtude do escasso número que estava na Arca e das alterações climáticas subsequentes a um cataclismo global sem qualquer paralelo na história da Terra.
Muitos cépticos perguntam frequentemente aos criacionistas como é que os dinossauros poderiam
ter cabido na Arca.
A resposta já era simples, para os criacionistas. Como os dinossauros se reproduzem muito cedo, só dinossauros pequenos, em idade reprodutiva, é que caberiam na Arca.
No entanto, um estudo recente veio afirmar a necessidade de rever em baixa a dimensão e o peso dos dinossauros, alertando para o carácter erróneo dos cálculos até hoje feitos para calcular esses valores.
Os criacionistas não precisam desse argumento para corroborar a sua tese.
No entanto, os criacionistas não deixarão de fazer referência a esse novo estudo, quanto mais não seja para mostrar o que existe de precário e de provisório nos "factos" da teoria da evolução.
FONTE:
Dinosaurs May Have Been Smaller Than Previously Thought
ScienceDaily (June 22, 2009)
P. S. quem quiser ver uma Arca com as medidas bíblicas pode procurar no google fotografias da réplica da mesma que foi construída em Hong Kong.
Basta procurar no Google "Noah's Ark Hong Kong".
"É sabido que o facto de se encontrar, com alguma frequência, tecidos moles não fossilizados, células, proteínas, vasos sanguíneos, em ossos de dinossauro (v.g. R Rex, Hadrossauro) demonstra que os mesmos não podem ter milhões de anos, como os evolucionistas afirmam."
ResponderEliminarQue grande treta.
Vejam aqui uma boa resposta:
http://arnaldo.networkcore.eti.br/?p=216
"[ ] Não sabe / não responde"
ResponderEliminarAcho que devia ser: "nenhuma das opções anteriores".
É mais virado para os partidos do que para a pessoa a minha sugestão. Mas, na hipotese de ser politicamente incorreto, apoio a tua-.
Ludi,
ResponderEliminarse o PNR tem 13 mil votos, um voto a menos nos brancos ou a mais no BE, ou no MRPP, ou no MPT ou outra coisa qualquer não faz diferença. O número de votos é a melhor medida do apoio de cada partido.
Por exemplo, os 1.5% do MEP não significam grande coisa porque são só 50 mil votos. Se repetirem a votação (número de pessoas) nas legislativas, e a abstenção descer para 33%, podem ficar com 0.7%.
As percentagens dão informação indirecta. A única coisa real é o número de pessoas que escolheu a opção X.
Ludwig,
ResponderEliminarOntem deixei de poder acompanhar o resto da conversa. Não me vou alongar muito mais sobre o assunto, prometo.
Acho que o que pode explicar a nossa divergência é a forma como encaramos a atitude de quem vai votar.
Para mim, só faz sentido votar em "quem queremos delegar o poder de nos governar". Sendo assim, o voto em branco é dizer que, não estando alheados do processo democrático, não queremos nenhum dos partidos que estavam a concorrer. Nesta perspectiva, os votos em branco podem ser um indicador da qualidade dos partidos que se apresentaram às eleições. Ah, e repara que o voto em branco, segundo esta perspectiva, é completamente diferente da abstenção, pois esta última é não participar, por livre e legítima iniciativa, neste processo democrático.
Parece-me que a forma como encaras o voto é do tipo "já que vai alguém governar-nos, caso não haja ninguém que me interesse, deixa-me escolher o que fará menos mau, e assim maximizo a minha vontade". Parece-me que está sempre presente uma análise "custo / benefício", fria e racional, envolvida neste processo de escolha.
Eu não faço nenhum juízo de valor sobre quem pensa assim. Aliás, acho que tem até a sua lógica intrínseca. Mas como já disse, a forma como eu encaro o meu voto, é dar o poder a alguém da minha escolha para me governar. Não havendo ninguém do meu agrado (não vou ver quem será o menos mau: ninguém, pura e simplesmente, me agrada), tenho duas opções: ou não participo e deixo a escolha aos outros, ou expresso o meu desagrado em não haver nenhum partido que me convém, votando em branco.
E como estou convicto que não serei o único a pensar e a encarar o voto desta forma, continuo a afirmar que não é treta protestar em branco.
Rui Oliveira e Costa defende menos deputados na AR
ResponderEliminarRicardo,
ResponderEliminar«se o PNR tem 13 mil votos, um voto a menos nos brancos ou a mais no BE, ou no MRPP, ou no MPT ou outra coisa qualquer não faz diferença. O número de votos é a melhor medida do apoio de cada partido.»
Se votam vários milhões de pessoas, um voto a menos não faz diferença muita diferença. Mas quanto menos pessoas votam, mais diferença faz. E por votar quero dizer votar numa das opções, e não recusar-se a votar.
Por isso se o PNR tem 13 mil votos e os outros partidos todos juntos tiverem menos que isso, o PNR tem maioria absoluta. Os votos em branco não contam.
É claro que podes dizer que, se isso acontecesse, o pessoal revoltava-se e corria com o PNR à canelada. Pode ser. Mas isso é deitar fora a democracia. E é mais uma razão para não votar em branco...
Pedro Ferreira,
ResponderEliminarA questão relevante para esta discussão não é como tu encaras o teu voto. Isso é contigo.
O que estou a discutir é o funcionamento objectivo do sistema e o efeito dos votos.
O sistema democrático que temos dá um conjunto de alternativas. Quem vota numa favorece essa. Quem não vota numa, seja por que razão for, não contribui para o processo. Pode dar mais trabalho a quem conta os votos se votar em branco, mas não afecta os resultados.
Depois podemos fazer grandes análises acerca da psicologia e sociologia de votar em branco e assim por diante, mas aí estamos a falar de algo alheio ao processo.
E o processo é claro: se não dás a tua opinião, contas menos.
O voto é, na essência, uma expressão democrática. É também um dever cívico, mas não é obrigatório. Como é que tira as ilações que tira quanto à contribuição para o processo? Como conclui (além de "mais trabalho") que quem não vota não afeta os resultados? Que panorama tem em vista? Alguma vez observou um resultado com 100% de participação dos eleitores em que 80%, por exemplo, fossem votos em branco? Se tem em mente algum contexto concreto, deveria tê-lo partilhado. Se arrazoa com base em hipóteses, são as suas conclusões lógicas, necessárias, tendo em cima da mesa o nosso sistema? Conhece algum estudo baseado na hipótese que ventilei? No limite, para levarmos isto ao absurdo, se 100% dos eleitores não votasse simplesmente (não pusesse os pés nos locais de voto), que conclusões tiraria? O senhor não está a querer jogar com todas as possibilidades, mas somente com as que favorecem o seu ponto de vista. Além disso, as eleições não são somente uma questão matemática. Sabe o que aconteceria se houvesse 80% de votos em branco sem abstenção considerável? Não lhe parece que os votos nulos e em branco são inúteis apenas quando não têm grande expressão e quando há um número elevado de abstenção (como até aqui em Portugal), favorecendo este e aquele partido, porque se retira dali uma tendência da omissão? António costa, em Lisboa, foi eleito com o nº de votos equivalente pouco mais ou menos idêntico ao dos lugares do Estádio da Luz (cerca de 10% dos votos possíveis). O nº de eleitores em Lisboa é superior a meio milhão. Imagine que todos os eleitores de Lisboa - 530.000 - tinham ido votar, e que os absentos tinham votado em branco: qual seria a legitimidade do atual Presidente da CML para o cargo? Seria um descaramento ignorar a eventual expressão de descontentamento, se o tivesse sido efetivamente. Como não foi assim, logo surgiram as leituras habituais de que a abstenção deveria seguir as tendências positivamente expressas, ou porque estava um lindo dia de praia e os lisboetas já sabiam quem previsivelmente ia ganhar e por conseguinte não se preocuparam muito, etc., porque não estava em jogo nada de crucial.
Eliminar«O que estou a discutir é o funcionamento objectivo do sistema e o efeito dos votos.
ResponderEliminarO sistema democrático que temos dá um conjunto de alternativas. Quem vota numa favorece essa. Quem não vota numa, seja por que razão for, não contribui para o processo. Pode dar mais trabalho a quem conta os votos se votar em branco, mas não afecta os resultados.»
Continuas a dizer coisas que são objectivamente falsas.
Não é apenas a contagem dos votos que tem efeito sobre o sistema, como já expliquei na última mensagem que escrevi, com exemplos concretos vários.
É falso que quem não vote numa não "contribua para o processo". O "processo" vai desde as manifestações/greves/paralizações/iniciativas várias em que se participa até à discussão no café ou no blogue, passando pelas leituras que se faz e se recomenda.
Jorge Sampaio demitiu um primeiro ministro, e tinha toda a legitimidade para o fazer, face a uma avaliação subjectiva que fez da vida política do momento.
As conversas de café, as greves, toda a política fora das urnas tem efeitos práticos concretos.
E ir ás urnas dizer "nenhum destes me agrada" tem efeitos eleitorais concretos e não só.
Aliás, foste tu próprio que deste um perfeito exemplo de um caso em que, pela lógica do sistema, pode interessar a um eleitor o voto em branco.
Basta veres os comentários que fiz aos teus cenários A, B e C.
Ludwig,
ResponderEliminar(Quase) que concordo contigo. Mas estamos a falar de coisas distintas.
"E o processo é claro: se não dás a tua opinião, contas menos."... para a eleição de quem vai Governar.
Isso é óbvio. Mas o objectivo do voto em branco não é eleger alguém, logo, é óbvio que conto menos para a eleição do Governo. Aliás, não conto nada...
Mas será que conto menos em termos políticos? Num caso limite e perfeitamente ficcional, achas que um Governo eleito com 1% de votos brancos Governa da mesma forma que um Governo eleito com 80% de votos brancos (não estou a falar de abstenção)?
Já que eu não posso impugnar as eleições por achar que a oferta política que me é apresentada é insuficiente, posso pelo menos mostrar a minha opinião que essa oferta é insuficiente, não é?
Os objectivos de quem vota em branco são bem distintos em quem vota em algum dos partidos. Não podemos dizer então que "o protesto em branco é treta", pois quem votou em branco tinha um objectivo específico.
Quando muito, podemos dizer que "é treta votar em branco julgando que assim evita a eleição de alguém". Mas isso, acho que ninguém no seu juízo perfeito julga.
Eh!Eh!
ResponderEliminarPois Pedro Ferreira, o mal de não teres lido a discussão que precedeu os teus últimos comentários é não teres visto que dei, entre outros, esse exemplo em concreto: as "condições políticas" de dois governos com a mesma percentagem de votos expressos, mas com diferente quantidade de votos em branco. :)
João Vasco,
ResponderEliminarConcordo contigo. No meu comentário anterior apenas quis mencionar que há pessoas que votam em branco com plena consciência. Dá a sensação que o Ludwig está a dizer que quem vota em branco fá-lo por ingenuidade. Fá-lo porque não saber fazer contas ou não tem a capacidade de perceber que votar no POUS penaliza o PS mais do que votar em branco. Apenas quis passar a mensagem que isto é falso.
Se o objectivo é penalizar o PS, o Ludwig tem razão ao dizer que é preferível votar no POUS. Mas há quem vote com outros objectivos, nomeadamente, dizer o que efectivamente pensa, sem fazer um "exercício de optimização da função utilidade" do voto.
(Ainda) não entrei pelos efeitos práticos do que poderia acontecer se, por exemplo, uma grande parte da abstenção fosse transformada em votos em branco. Curiosamente, o Saramago escreveu um livro interessante sobre este assunto.
Mas tinha prometido também que não me ia alongar muito mais neste assunto. :)
João Vasco e Pedro,
ResponderEliminarAcho que isto já está a precisar de um post. Já corrigi os exames e já mandei a minha parte de um artigo que estamos a escrever, por isso deixem-me acabar os morcegos e a confiança na ciência que já vos atendo :)
Força Ludwig. :)
ResponderEliminarvenha ele!
ResponderEliminarHey!
ResponderEliminarquanto é que eu tive? Passei?
« Dário Cardina Codinha disse...
ResponderEliminarUm voto em branco é perigoso e enganoso. Pode-se colocar uma cruz num voto em branco. Isso acontecia há uns anos e acredito que ainda aconteça. Votar em branco pode significar um voto concreto a um partido, se alguém colocar posteriormente uma cruz.»
Um voto válido também é perigoso.
Facilmente se coloca lá outra cruz, uma pila a ejacular, uma cruz gigantesca em todo o impresso, etc e é menos um voto no partido em que votou.
É o chamado bi-argumento, dá para ambos os lados.
O mais seguro é anular o voto. Aí dificilmente mudam a sua escolha.
O Ludwig só é defensável se disser que 60% de votos em branco, como sinal político, é igual a 60% de abstenção. E este é um ponto que ainda não o vi endereçar (no próximo post, espero).
ResponderEliminarAcredito que no entanto, porque o sangue é mais forte que a cabeça, que antes de haver 60% de votos em branco mais depressa haveria forquilhas na rua.
Uma coisa é a apatia, outra um protesto silencioso mas activo. E se há quem se contente com o menos mau há quem exija o bom. Os primeiros mantém o status quo com pequenos ajustes, os segundos fazem revoluções.
Um voto em branco é reconfortante. Quer dizer que há cada vez mais pessoas que não se reveem na oferta mas são suficientemente interessadas para discutir e agir. Senão tinham ido à praia.
Se fossem outros os tempos as pessoas não votavam em branco. Iam a S. Bento e queimavam os malandros :)
tulnanQuem se abstém, pronuncia-se, conscientemente ou não, contra a instituição a sufrágio. Por exemplo, quem quer deslegitimar a União Europeia radicalmente, deve abster-se (e é justamente nas eleições para o Parlamento Europeu que a abstenção bate sempre recordes). E os monárquicos coerentes não deveriam votar para a Presidência da República.
ResponderEliminar-
Eu não posso acreditar!...
O Ricardo disse algo sábio e inteligente!...
Como anti-europeista e monárquico, tenho que concordar com ele, porque é isso mesmo que eu faço!