quinta-feira, junho 25, 2009

O efeito do copyright.

O propósito de conceder direitos exclusivo de reprodução ao autor – o copyright – é beneficiar toda a sociedade. Este monopólio encarece o acesso à obra para, mesmo indirectamente, aumentar o incentivo à criatividade e enriquecer a cultura. Mas este aumento de preço dificulta o acesso e, para maximizar o bem social, a legislação deve equilibrar o incentivo do autor com o desincentivo do consumidor. É importante frisar este ponto porque muitos defendem estes direitos como inerentes ao autor, o que é um erro. Por exemplo, os artistas que pedem uma extensão de vinte anos aos direitos sobre gravações argumentam que cinquenta anos é pouco porque, quando se reformarem, deixam de receber pelo que gravaram meio século antes. O sustento dos reformados é um problema de todos e não se justifica conceder aos artistas reformados mais direitos que aos outros. A menos que isso nos beneficie a todos por incentivar a criatividade.

No entanto, nos cento e poucos anos de copyright mundial, a tendência tem sido sempre para reforçar o monopólio. Isto levanta a possibilidade de se ter ultrapassado o ponto ideal de equilíbrio entre o incentivo ao artista e a facilidade de acesso à obra e estar agora o próprio copyright a inibir a criação cultural. Até 1999 isto era muito difícil de testar. Mas desde o Napster que a partilha de ficheiros nos dá uma oportunidade por retirar, na prática, muito do poder que o copyright tinha. Na semana passada, Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf disponibilizaram uma versão preliminar de uma análise empírica desta questão. Estes economistas de Harvard têm publicado sobre o conflito entre as discográficas e a partilha de ficheiro (1), e agora relatam um conjunto de indicadores que parecem confirmar a hipótese. O copyright que temos hoje na lei está muito além do ponto óptimo e está a inibir a criatividade artística. A prova disso é o que aconteceu nos últimos sete anos, durante os quais partes desta lei têm sido violadas por muita gente.

No ano de 2000 foram editados 35 mil álbuns comerciais. Em 2007 foram oitenta mil. A produção mundial de filmes passou de três mil e oitocentos em 2003 para cinco mil em 2007. Nos EUA, o aumento foi de 495 para 590. E a publicação de livros novos aumentou 66% entre 2002 e 2007. Claramente, a diminuição do poder do copyright teve um efeito benéfico na criatividade.

Em parte, isto explica-se por a criação artística não ser como a maioria dos trabalhos. Para o artista, o dinheiro não é o mais importante, e três quartos dos músicos profissionais têm outro emprego para os sustentar. O gosto pelo que fazem, a fama e a capacidade de atrair membros do sexo oposto ou, em alguns casos, do mesmo sexo, são também incentivos importantes. Outro factor relevante é que a quebra nas vendas de CD neste período, devido à concorrência de muitas outras forma de entretenimento e não apenas à partilha de ficheiros, foi acompanhada por uma subida nas vendas de bilhetes para concertos. Juntando estas duas fontes de rendimento, o mercado da música aumentou 5% de 2000 para cá – o contrário do cenário negro que os vendedores de CD apregoam. A redução drástica no poder do copyright desviou as vendas de alguns produtos, como CD e DVD, para outros como bilhetes de concerto e de cinema, e a complementaridade entre os ficheiros partilhados e estes serviços aumentou o volume de negócio. Menos copyright é bom para a produção artística.

E isto mesmo sem considerar o outro lado da equação. Menos copyright é sempre bom para o usufruto da arte, visto o copyright ser uma restrição ao acesso. Por isso reduzi-lo será uma boa ideia sempre que os benefícios do acesso mais fácil compensem os prejuízos de reduzir o incentivo dos autores. Não havendo esse efeito indesejado é evidente que se deve ter menos copyright. Até porque a divisão entre criador e consumidor é mais conceptual que real. Qualquer artista tem de ser um ávido consumidor de arte para poder contribuir algo com a sua criatividade, e facilitar o acesso é, por si, já um incentivo à criatividade.

«Descarreguei centenas e centenas de discos – porque me importaria se alguém descarregar o nosso? É tão mesquinho preocupar-se com isso. Na verdade, quanto dinheiro é que uma pessoa precisa? Pessoalmente, acho que é nojento quando se queixam disso» Robin Pecknold, vocalista dos Fleet Foxes. Bands 'better because of piracy', via Remixtures

Mais sobre isto no Sócrates (o verdadeiro), no Remixtures e no blog do Michael Geist. O artigo, em formato pdf, está aqui: File-Sharing and Copyright. Obrigado a todos os que me enviaram emails com a notícia (e desculpem a demora, mas o final de semestre é sempre assim...).

1- Por exemplo, Oberholzer-Gee, Felix and Koleman Strumpf (2007). The Effect of File Sharing on Record Sales: An Empirical Analysis. Journal of Political Economy 115(1): 1-42.

63 comentários:

  1. Pequeno àparte. Começas mal.

    O propósito de conceder direitos exclusivo de reprodução ao autor – o copyright – é beneficiar toda a sociedade.

    Desculpa lá mas isto é propaganda social-comunista. O propósito do copyright é a protecção dos direitos de propriedade, que são base fundamental para o garante da liberdade individual.

    Aquilo que depois podes fazer é argumentar que é um direito que já ultrapassa todos os limites e já impõe demasiadas coisas sobre as liberdades alheias.

    Agora argumentar pela colectividade, epa, vai lá passear.

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  2. Barba
    Social Comunista ? ora explica lá isso que assim de repente... não percebi a lógica. LOLL

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Barba,

    Na constituição dos EUA tens um exemplo da base do copyright nos paises anglo-saxónicos dando ao congresso o poder de conceder monopólios temporários «To promote the Progress of Science and useful Arts, by securing for limited Times to Authors and Inventors the exclusive Right to their respective Writings and Discoveries.»

    Na tradição europeia há uma certa confusão com a ideia de lei natural e direitos naturais, o que leva a uma interpretação diferente mas eticamente ultrapassada.

    Agora confundir o monopólio sobre a cópia com um direito de propriedade é totalmente errado. Os direitos de propriedade são para gerir aquilo que é de uso naturalmente exclusivo, não para tornar exclusivo aquilo que pode ser usado por todos sem prejuízo de ninguém.

    É garante da minha liberdade individual impedir os outros de me tirar a camizola. Mas propibir os outros de usar camisolas iguais à minha não é um garante de liberdade nenhuma. É uma violação dessa liberdade.

    O mesmo se passa com restrições sobre o que se ouve, pensa, lê ou vê que esteja publicado. Já discutí esse disparate muitas vezes...

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  5. Oscar Pereira25/06/09, 19:10

    Offtopic:

    http://torrentfreak.com/pirate-bay-judge-not-biased-no-retrial-090625/

    O raciocínio parece ter sido o de que como a lei sueca "reconhece o copyright", fazer parte de uma organização pro-copyright não é motivo para inferiar a não-imparsialidade (existência de bias).

    Não sei o que pensa disto o resto da audiência, mas por mim traduzo assim: a lei é parcial a favor do copyright, por isso o juíz também pode ser.

    *sigh*

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  6. Mário Miguel25/06/09, 22:18

    Ludwig,

    «Claramente, a diminuição do poder do copyright teve um efeito benéfico na criatividade.»

    Em rigor, especulas.

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  7. Anomos - BitTorrent Anónimo
    Criado por Francisco Aragão em 18 de Junho de 2009

    Anomos é um sistema de transferência de ficheiros derivado do tão conhecido BitTorrent, mas com uma grande diferença, a comunicação do Anomos é anónima e cifrada entre todas as partes intervenientes.

    O tráfego gerado é transferido ao longo de várias ligações cifradas entre os nós até ao destino final. Os nós intermediários apenas comunicam aos nós vizinhos que estão a fazer parte de uma ligação sem saberem o que está a ser transferido.

    [...]


    Via: Peopleware

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  8. Mário Miguel,

    Se consideras que extrapolar conclusões a partir de observações é "especular", então OK, especulo. Mas nesse caso, em rigor, não posso fazer mais que isso.

    Seja como for, se de 2000 a 2007 o número de álbuns comerciais editados por ano mais que duplicou, é mais razoável "especular" que a partilha de ficheiros foi benéfica do que especular que está a destruir a criatividade.

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  9. Mário Miguel26/06/09, 10:59

    Ludwig,

    «Se consideras que extrapolar conclusões a partir de observações é "especular", então OK, especulo. »

    Será pacifico dizer que sem partilha isso não ocorreria? É nesse sentido que digo que especulas.

    Posso dizer que cresceria mais se não houvesse partilha. Especulo também. Acho que falta mais alguma coisa para sustentar o que afirmas.
    Tu, querendo chegar a essa conclusão, relaxas a sustentação para o que queres afirmar.

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  10. Ludwig:

    Eu ainda não estou convencido que anular o copyright seja a solução para aumentar o prazer de ter mais arte disponivel.

    Estou convencido que a arte esta demasiado cara. Desde o quadro ao CD. E estou convencido que os processo legais estão a trilhar o caminho do ridiculo.

    Eu acho que a produção de discos, fikmes, cd.teria aumentado de qualquer maneira, tal como houve crescimento populacional e economico.

    Acho que não é plausivel fazer o paralelo entre a correlação que referes e causa. Se achas que é plausivel, acho que o importante era dizeres porquê. É aqui que não estou de acordo.

    Tambem acho que dizer que a copia esta a acabar com a industria é um exagero. Esta a acabar com lucros trilionarios e agora são só milionarioa talvez.

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  11. Agora confundir o monopólio sobre a cópia com um direito de propriedade é totalmente errado. Os direitos de propriedade são para gerir aquilo que é de uso naturalmente exclusivo, não para tornar exclusivo aquilo que pode ser usado por todos sem prejuízo de ninguém.

    Claramente, se não houvesse prejuízo de ninguém em abolir o copyright, ele já teria sido abolido há muito tempo.

    Tu partes da conclusão de que não há prejuízo de ninguém para chegares à premissa de que o copyright é uma ideia "disparatada".

    És muito parco na fundamentação daquilo que defendes, e muito exigente naquilo que discordas. Há aqui uma incoerência.

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  12. João,

    «Eu ainda não estou convencido que anular o copyright seja a solução para aumentar o prazer de ter mais arte disponivel.»

    Eu estou convencido que deixá-lo fora da nossa vida pessoa e restringi-lo estritamente às actividades comerciais é não só uma forma de incentivar a criatividade mas, especialmente, uma medida essencial para proteger direitos fundamentais de expressão, privacidade e acesso à informação.

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  13. Barba,

    «Claramente, se não houvesse prejuízo de ninguém em abolir o copyright, ele já teria sido abolido há muito tempo.»

    Estás a confundir as coisas. É um facto que eu posso plantar batatas no meu terreno sem interferir com a tua vida, o teu terreno ou as tuas batatas. Se vivermos suficientemente longe tu nem notas que eu planto batatas. É nesse sentido que o acto de plantar batatas não precisa ser sujeito a direitos de exclusividade.

    Em contraste com o teu saco de batatas. Esse precisa de leis de propriedade porque se eu comer essas batatas tu ficas sem elas.

    É claro que se tu tiveres um monopólio legal sobre o acto de plantar batatas podes dizer que eu plantar batatas sem te pagar te causa um prejuízo, comparado ao que a lei diz que tu devias receber. Mas isso é um problema muito diferente, por ser uma consequência da lei e não uma justificação para a lei.

    No copyright é isto que se passa. Como a lei diz que não posso copiar uma música tua sem te pagar, quando copio e não pago tens um "prejuízo" em comparação ao que seria se eu cumprisse a lei.

    Mas isto não é por nada que eu te faça, nem por te tirar nada, nem por te privar do usufruto de algo de que poderias usufruir se eu não existisse ou ouvisse outras músicas. Por isso, se considerarmos apenas a protecção dos teus direitos, eu copiar músicas publicadas não exige qualquer regulação.

    Daí que o único fundamento para os direitos patrimoniais do autor -- como o copyright -- seja o incentivo à criatividade. É um subsidio, não uma forma de protecção de direitos fundamentais.

    O mesmo não acontece com os direitos morais. Por exemplo, se fazes um projecto de arquitectura e o empreiteiro faz daquilo uma borrada tu tens o direito de não ser associado à obra e de impedir que ponham o teu nome no edifício. Essa lei já se justifica para proteger os teus direitos.

    Infelizmente, o chapeu dos "direitos de autor" abarca desde direitos a subsídios e baralha tudo. Para piorar, depois vem a "propriedade intelectual", um contrasenso que, infelizmente, está na moda...

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  14. Ludwig:

    Não me respondes-te à questão fundamental que te coloquei.

    (Apesar de ter achado muito interessante dizeres que para a actividade comercial faz sentido o copyright)

    eu continuava assim:

    "Eu acho que a produção de discos, fikmes, cd.teria aumentado de qualquer maneira, tal como houve crescimento populacional e economico.

    Acho que não é plausivel fazer o paralelo entre a correlação que referes e causa. Se achas que é plausivel, acho que o importante era dizeres porquê. É aqui que não estou de acordo."

    parece-me que o Barba Rija tem razão, estas a ser pouco critico com os argumentos que apresentas.

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  15. João,

    «Eu acho que a produção de discos, fikmes, cd.teria aumentado de qualquer maneira, tal como houve crescimento populacional e economico.»

    100% em 7 anos?

    Não te nego o direito de achares o que quiseres, mas parece-me que neste caso o factor mais relevante foi o enorme aumento na facilidade de acesso. Comparativamente, o crescimento económico e populacional não é muito significativo.

    De qualquer forma, convido-te a ler o artigo e a fundamentar devidamente a tua hipótese que o enfraquecimento do copyright não teve nada a ver com este aumento significativo na produção cultural. Até lá, o teu "acho" serve-me de tanto como os dos acupunctores e homeopatas :)

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  16. Já sabia que não irias compreender o meu parágrafo que foi apenas uma resposta ao teu quando dizes:

    ..não para tornar exclusivo aquilo que pode ser usado por todos sem prejuízo de ninguém.

    Aquilo que eu disse é que esta nem é uma conclusão que chegas, mas sim a premissa da qual partes, sem a fundamentares exceptuando com uma lógica "subsidiária" aliada a uma grande dose de wishful thinking.

    Não que eu goste do esquema do copyright como ele está. Mas até o partido pirata sueco reconhece a importância da sua existência ao propôr que o copyright funcione apenas durante 5 anos.

    Parece-me muito melhor, e até eu deixaria de sacar coisas da net (mesmo as que têm menos de 5 anos). Agora concordo que seria difícil de implementar, quase tanto como a tua ideia.

    Acho que 5 anos são um bom compromisso entre as duas partes interessadas (o privado e a sociedade). 0 minutos não.

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  17. Mário Miguel26/06/09, 15:07

    Ludwig,

    «Claramente, a diminuição do poder do copyright teve um efeito benéfico na criatividade.»

    Sustentado de forma muito pouco credível.

    Vou ser mais concreto: é como dares um único medicamento, e sem duplo-cego e placebo, dizeres que esse medicamento resulta, porque todos melhoraram.

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  18. Oscar Pereira26/06/09, 15:37

    Acho que 5 anos são um bom compromisso entre as duas partes interessadas (o privado e a sociedade). 0 minutos não.


    Desde de que se deixe de fora o uso privado, até concordo com isto. Não querendo parecer fundamentalista, no que toca à partilha de informação entre pares, 0 minutos parece-me não só um bom compromisso, como o único possível. O contrário seria uma intromissão da lei na vida privada dos cidadãos, sem melhor justificação do que a protecção de um modelo de negócio---algo manifestamente inaceitável.

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  19. "Até lá, o teu "acho" serve-me de tanto como os dos acupunctores e homeopatas :)"


    Bu uuuu. vou ler assim que puder. Golpe baixo.

    Foi por isso que não respondeste? É que acontece tanto que se é de proposito eu deixo de insistir... Admito que haja discussoes mais pertinentes que a minha a decorrer.

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  20. Ludwig:

    Não consigo abrir o pdf, diz que a file esta corrupta.

    De qualquer modo acho que o onus da prova não está todo em cima de mim. Mas para não discutir esse assunto deixa-me dizer que não acho esse aumento de 100% em 7 anos assim uma coisa tão incrivel. Se eu tenho surpresa é porque não dei por ele apenas mas era o que esperava se me tivessem perguntado ha 7 anos atras. Acho que isso quer dizer que se trata de uma industria em crescimento - ou seja - que estaria sempre em crescimento se os outros factores o permitissem. Ela tem o seu momentum. Porque ainda é muito aliciante e cada vez tem mais formatos diferentes de apresentação assim como meios de divulgação (para alem da copia ilegal), assim como ha cada vez mais liberdade e abertura para conhecer novas formas cores e sons - e isto é cultural.

    Se aceitares, como eu proponho que a industria de enterntenimento estaria a crescer de qualquer forma é preciso isolar e analisar os seguintes factores:

    - a que ritmo cresceu nos 7 anos anteriores? E nos 10 anteriores e nos 20 anterios, e nos 50 anteriores?

    - Que factores cresceram tambem que possam ter contribuido ex: maior formação escolar e academica que propociona indiretamente uma actividade social e cultural.

    - crise economica na classe media - que paradoxalmente leva as pessoas a desinvestir em produtos caros e a comprar mais livros e cd baratos por exemplo.

    - comparação com a taxa de crescimento de um tipo de cultura diferente sem tanta limitação do copyright (ainda que tenha sempre alguma) como o cientifico, e o desporto.

    - Em que momento do tempo se deu esse aumento de crecimento mais acelerado (se é que houve) e qual era o contecto social e economico presente.

    Etc,

    SE não me responderes a estas questões sabes menos do assunto que eu sobre gambuzinos guineeses.

    :p

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  21. Oscar,

    Desde de que se deixe de fora o uso privado, até concordo com isto.

    Boa malha. Concordo.

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  22. Barba,

    «Aquilo que eu disse é que esta nem é uma conclusão que chegas, mas sim a premissa da qual partes,»

    É uma conclusão, mas à qual chego da análise de um problema muito anterior -- centenas de milhares de anos mais antigo que o copyright.

    Na tua caverna fizeste uma fogueira e assaste um coelho. Se eu te quiser roubar as brasas e o coelho temos um problema para resolver porque não dá para eu usufruir disso sem te privar desse usufruto.

    Mas se eu, na minha caverna, fizer uma fogueira e assar o meu coelho não há problema nenhum. Tu tens o teu, eu tenho o meu. Isto mesmo que eu tenha aprendido a caçar coelhos e fazer fogueiras vendo o que tu fazias.

    As leis de propriedade, já muito antigas quando finalmente foram formuladas como leis, servem para resolver problemas do primeiro tipo. E já estão connosco antes de sermos desta espécie.

    A "propriedade intelectual" é um disparate inventado nos últimos anos para tentar fazer confundir com isto um subsidio à distribuição e divulgação de obras impressas, e que depois se espalhou por outras coisas.

    Para discutir o copyright uso isto como premissa, é verdade. Mas não é um axioma. É algo que estou disposto a justificar, e que já só tenho alguma relutância em fazê-lo por fastio, meu e de quem lê isto, porque já expliquei esta diferença uma data de vezes.

    Achas que um pensamento é propriedade? Um som? Uma cor? Uma sequência de números? Uma palavra? Uma frase? Uma jogada de xadrez, uma demonstração matemática, a carga do electrão, o número pi, ...

    Não confundas batatas com agricultura.

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  23. Mário Miguel,

    «Vou ser mais concreto: é como dares um único medicamento, e sem duplo-cego e placebo, dizeres que esse medicamento resulta, porque todos melhoraram.»

    Se plantas couves durante anos, num ano mudas de fertilizante e elas crescem todas do dobro do tamanho, então:

    a) tens alguma razão em dizer que deve ter sido do fertilizante.

    b) e ponto principal, seria estúpido dizer que esse fertilizante está a matar a couves.

    Nota que basta que a partilha livre de ficheiros não reduza significativamente a criatividade para que seja uma coisa boa e desejável -- mais acesso sem nenhuma desvantagem.

    É claro que os tipos que querem encher os bolsos a vender CD podem-se queixar, mas é legítimo perguntar que direito têm eles de proibir os ficheiros que trocamos só para ganharem mais massa.

    Em suma, para defender que se retire as restrições de cópia e distribuição para uso privado, sem fins comerciais, basta-me argumentar que isso não vai reduzir significativamente a criatividade. E esse argumento parece-me bem sólido.

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  24. Ok ok Ludwig, não comecemos isto outra vez :D

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  25. João,

    «comparação com a taxa de crescimento de um tipo de cultura diferente sem tanta limitação do copyright (ainda que tenha sempre alguma) como o cientifico, e o desporto.»

    Aqui posso falar do óbvio por experiência própria. Quanto mais fácil for o acesso ao que já se criou, mais fácil é inovar. O progresso científico tem sido muito acelerado pela facilidade de troca e acesso à informação, e a comunidade científica continua a pressionar nesse sentido, porque as políticas de cobrança restringindo o acesso são prejudiciais à investigação.

    Há áreas em que não é assim, mas na informática podes encontrar quase todos os artigos nas páginas dos autores, em pdf ou ps. Os editores já nem tentam impedir isso.

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  26. Barba,

    «Ok ok Ludwig, não comecemos isto outra vez :D»

    Não disfarces que eu sei que isto já é um truque para me ver escrever lençois de comentários. Enfim, cada um tem a sua panca. O perspectiva passa-se com o ADN, eu é com isto :)

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  27. Já agora, não me oponho à regulação da cópia no âmbito comercial porque, se restrita a isso, os custos sociais são irrisórios. Não é preciso violar privacidade, liberdade de expressão, etc.

    Mas também não defendo que seja necessário fazê-lo. Não o fazemos com receitas, equações matemáticas ou técnicas de saltar à vara, e não é obrigatório fazê-lo com músicas e filmes. Só o devemos fazer se for benéfico para a sociedade. Porque esse suposto direito de proibir a divulgação de algo que voluntariamente se tornou público não faz qualquer sentido.

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  28. Mário Miguel26/06/09, 19:28

    Ludwig,

    «a) tens alguma razão em dizer que deve ter sido do fertilizante.»

    E porque não de um ano com a solarização ideal e com a precipitação adequada bem como um regredir das pestes prejudiciais devido à invasão de outras inócuas que dizimaram as primeiras? Algo que não ocorria antes do fertilizante e ocorreu simultaneamente com o uso desse adubo.

    «b) e ponto principal, seria estúpido dizer que esse fertilizante está a matar a couves.»

    Pode ser um fertilizante inócuo ou mesmo desadequado, e as razões que eu apontei acima, que dariam aumento de crescimento, não estariam presentes antes do fertilizante. Logo o assunto carece de uma visão integrada.

    Reafirmo assim que ao dizeres que «Claramente, a diminuição do poder do copyright teve um efeito benéfico na criatividade.», usando CLARAMENTE como justificação, seria necessário teres algo para justificar que não tens, contra com todos os factores. Onde vais buscar essa clareza? Na tua vontade para que assim seja? Com a mesma sustentação (só com palpites) posso refutar a tua certeza, que está carente sustentação, caindo no palpite, como podes refutar que eu afirme que com cópia pirata reduzida a zero o cenário não seria melhor? Como consegues justificar o meu engano.

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  29. Ludwig:

    Comparas-te ao Perspectiva?

    Então e a tortilha do copyright livre?

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  30. Mário Miguel,

    «E porque não de um ano com a solarização ideal e com a precipitação adequada bem como um regredir das pestes prejudiciais devido à invasão de outras inócuas que dizimaram as primeiras?»

    Porque isso é especular factores para os quais não temos evidências. Pode ser que tenha sido isso, mas a parsimónia é uma boa heuristica.

    «usando CLARAMENTE como justificação, seria necessário teres algo para justificar que não tens»

    OK, o claramente. A justificação para o claramente está mais no artigo que no post. No artigo explicam os mecanimsos pelos quais reduzir o copyright pode não afectar os incentivos (pela venda de produtos complementares, cuja procura aumenta, e pela naturaza dos incentivos em si).

    Se vez a bola branca bater na bola preta e a bola preta começa a mexer-se é razoável dizer que foi pelo piparote que levou. Pode haver imans escondidos ou outro tipo ter poderes paranormais, mas quando se tem um mecanismo razoável justifica-se o claramente mesmo sem grupos de controlo.

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  31. Mas apanhas-te-me desprevenido com essa da copia comercial... É que estava a vender edições impressas do que treta com ilustrações minhas e agora se calhar tenho de te pagar uma parte dos direito de autor...

    Bolas! Porque não disseste antes? Agora ja gastei o guito a comprar uma pandeireta para o meu mais novo.

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  32. "No artigo explicam os mecanimsos pelos quais reduzir o copyright pode não afectar os incentivos"

    Isto eu não tenho duvidas.

    Agora diz-me la o que a parsimonia tem a ver com isto? Se so falas de 2 variaveis é obvio que a explicação mais simples é a outra variavel (neste caso). Mas esta explicação só é a mais simples porque o sistema criado para estudar o problema é fraco e incompleto. Para ultrapassar este problema creio que se precisa conhecer o mecanismo ou estudar outras variaveis para cocnluir por exclusão de partes. Ou não?

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  33. João,

    Se tens um mecanismo que faz previsões que são confirmadas, e esse mecanismo inclui algo que observas como causa de outra coisa que também observas, não faz sentido invocares outras causas não observadas e mecanismos sem suporte.

    Por exemplo, se vês vacas mortas sem olhos e genitais e sabes que animais comuns costumam comer primeiro as partes mais tenras, e observas esses animais por perto, não faz sentido dizar ah, se calhar foram extraterrestres que se teleportaram para aqui e levaram as partes baixas das vacas.

    Neste caso, temos o mecanismo conhecido pelo qual a redução no preço de um bem aumenta a procura, e o preço, de bens complementares e o aumento do dinheiro gasto em concertos ser maior que a redução do dinheiro que se gasta em CD. E também temos o mecanismo conhecido que relaciona a oferta com os incentivos à produção e a observação, independente, que muitos músicos trabalham na música mesmo que não tenham grandes rendimentos com isso (eles citam as estatísticas no artigo). E assim por diante.

    Isto, em conjunto, dá uma imagem clara que a redução do poder do copyright não só é um bem por si mas também vale indirectamente por incentivar a criatividade.

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  34. Ludwig:

    Estive à falar cons Deus. Sim... Ele está um pouco áborrecidos com o "K Treta".

    Pois é. Deus quer que páres com essa historiá do copirreight. Sabês o que Ele já perdeu só em cópias pirata dos Génesis? Sim, era suposto aquilo só poder ser passado num rolo da versão oficial. Muito áborrecido.

    Reza 3 vés marias e um paio nosso.

    ass:
    Prof: Mambo Jambu
    consultório no jardin dá estrela.
    tambem trata problemas de coluna e jogo

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  35. "Se tens um mecanismo que faz previsões que são confirmadas, e esse mecanismo inclui algo que observas como causa de outra coisa que também observas, não faz sentido invocares outras causas não observadas e mecanismos sem suporte."

    Mas isso foi o que eu disse desde o principio.

    Quanto aos mecanismos propriamente ditos está um pouco vago. tenho de ler o artigo.

    Eu ate quero acreditar nesta historia do libertem o copyright, mas não vi argumentos que me convençam. E olha que ja vim de onde tu vens. Eu estava na onda da frente do Napster quando os metalica mandaram cortar as contas. Fiquei lixado.

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  36. João,

    Penso até que o mecanismo mais fundamental é bastante óbvio. Imagina uma população de jovens de entre os quais pode haver alguns músicos de talento. O que te parece ser melhor para desenvolver esse talento:

    a) Facilitar o acesso à música
    b) Restringir o acesso à música e prometer mais dinheiro se conseguirem criar algo notável pagando por tudo o que ouvem.

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  37. Ludwig,

    acho que não tens de fazer essa dicotomia. Acho que não é valida. A divulgação pode ser forte a par com direitos de autor fortes.

    Mas na origem de diversidade não tenho um problema. É na sustentabilidade de superproduções. Como te disse sou apreciador de musica dos Beatles.

    A evolução do antes de Rubber Soul ate ao Sgt peppers so aconteceu porque eles dedicaram todo o seu tempo e criatividade ao estudio. A musica pop ainda hoje beneficia disso.

    Nao sei se gostas (ou conheces )o Pat Metheny, mas ha um album, o "secret story", que tambem não sei se seria possivel sem direitos de autor. Idem para muitos outros albuns que não vale a pena estar a mencionar.

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  38. Mário Miguel27/06/09, 13:08

    Ludwig,

    «Se vez a bola branca bater na bola preta e a bola preta começa a mexer-se é razoável dizer que foi pelo piparote que levou. Pode haver imans escondidos ou outro tipo ter poderes paranormais, mas quando se tem um mecanismo razoável»

    Da mesma forma que em tempos idos se olhava para Sol e era razoável dizer que este é que andava. Mas fazendo o paralelismo com os ímanes, no caso dos Sol havia algo escondido para a intuição e a realidade era completamente diferente, como referes no post seguinte «a intuição sem conhecimento engana». Queres criar um modelo do funcionamento da partilha de ficheiros vs copyright. Sabendo que há a hipótese que sem a partilha o crescimento ser maior, e com partilha também o ser, e sem ter uma justificação solida para escolher uma em detrimento da outra (como se faz ao criar um modelo de forma séria) optas pela que tu gosta. Parece-me pouco razoável, mesmo que esteja certa, que se estiver, parece-me ser ao calhas.

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  39. Mário,

    «Da mesma forma que em tempos idos se olhava para Sol e era razoável dizer que este é que andava.»

    Sim. Extrapolar a partir daquilo que conhecemos nunca é 100% certo (nem a extrapolação, nem o que julgamos conhecer). Mas, mesmo sem ser 100% certo, é o melhor que se arranja.

    «Sabendo que há a hipótese que sem a partilha o crescimento ser maior, e com partilha também o ser, e sem ter uma justificação solida para escolher uma em detrimento da outra»

    Eu acho que o padrão de mecanismos e efentos observados dá uma justificação sólida, no sentido de não haver outra explicação fundamentada para o crescimento observado. A população não duplicou em relação ao ano 2000, o rendimento não duplicou, o negócio da música não duplicou (aumentou 5%, ou 60% se contares a venda de leitores de mp3 e outro hardware relacionado). Aquilo que aumentou imenso foi o acesso pela facilidade com que se distribui estes ficheiros e se ignora a lei.

    E há mecanismos conhecidos pelos quais esta facilidade de acesso pode ser um incentivo à criatividade. Por aumentar o interesse na aquisição de bens complementares (como bilhetes de concerto, que se observa ter aumentado), e por aumentar o acesso que os artistas, no inicio de carreira, têm à arte que é a matéria prima das suas obras (ou seja, diminuir os custo da criação de músicas).

    Mas o artigo tem 25 páginas de texto e 15 de gráficos e tabelas. O meu post tem 2 páginas; não cabia cá tudo. Pode ser que seja outra coisa. Se calhar foi um milagre do santo condestável. Mas olhando para os detalhes que o artigo menciona parece-me clara a relação entre a criatividade e a facilidade de acesso às criações anteriores. O que, aliás, não devia surpreender ninguém...

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  40. João,

    «acho que não tens de fazer essa dicotomia. Acho que não é valida. A divulgação pode ser forte a par com direitos de autor fortes.»

    Não é uma dicotomia. São extremos numa gama de possibilidades que ilustram um tradeoff. E na segunda frase estás enganado. Ou facilitas a distribuição ou cobras mais dinheiro restringindo a distribuição.

    Essencialmente, o estás a dar mais dinheiro ao músico depois de ter composto a sua obra cobrando-lhe mais dinheiro pelo acesso à música dos outros, da qual ele precisa para compor a sua obra. Não é uma dicotomia porque podes decidir, numa gama contínua, quanto é que vais mais para um lado ou para o outro, mas não podes cobrar mais dinheiro pela música que vendes mais barato. Isso é contraditório.

    Quanto aos exemplos, considera toda a música composta antes de 1886 e tens uma ideia do que pode ser feito sem cobrar pelo acesso à cópia.

    Com a tecnologia que temos hoje e com o dinheiro que fariam em concertos, os Beatles poderiam compõr isso tudo, e melhor, sem cobrar um cêntimo pelas gravações. Das quais, aliás, os músicos recebem uma percentagem minúscula. Esse dinheiro é quase todo para os distribuidores.

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  41. "Não é uma dicotomia"

    de acordo, pensei é que me a estavas a apresentar como tal

    e quando pensei em divulgação estava a pensar em propaganda , marketing e divulgação tipo iTunes (que apesar de tudo é má e podia ser melhor - mais minutos para ouvir)

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  42. Mário Miguel28/06/09, 17:33

    Ludwig,

    Porquê que a criatividade não aumentaria se isso não ocorresse? Ou, porventura, ficaria na mesma? Ou aumentasse? Três hipóteses... Isso não fica claro no artigo, em que abundam CORRELAÇÕES. O artigo lança uma hipótese sustentada nos dados, provar não prova, lança unicamente uma hipótese. E tu vens com uma certeza.

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  43. Mário Miguel,

    Todas as observações dão-te correlações. A causalidade é sempre uma hipótese que explica as correlações mas nunca uma observação. Observas que o movimentod a bola branca, o embate na preta e o movimento da preta se correlacionam. Mas nunca observas uma a causar o movimento da outra -- a causa é a hipótese que faz parte do mecanismo que explica a correlação observada.

    E as correlações relatadas no artigo estão de acordo com os mecanismos que conhecemos. Para um artista criar tem de ter um incentivo e de ter acesso às criações anteriores. Se viver numa caverna não vai fazer música de jeito.

    O enfraquecimento do copyright desviou a procura das gravações para os espetáculos e isto, em média, aumentou o incentivo dos artistas. Além disso aumentou o acesso dos artistas às obras dos outros.

    Admito que é possível que tenha sido influência de extraterrestres ou milagre que tenha originado este efeito. Mas sem uma hipótese alternativa com detalhe e fundamento que rivalize esta que os autores apresentaram penso que se justifica dizer que o enfraquecimento do copyright foi bom para a criatividade artística.

    «E tu vens com uma certeza.»

    Onde? Eu disse que é claro. Não disse que é certeza... Eu posso dizer que a bola branca claramente fez mexer a bola preta e não ter a certeza se não foi um filme passado ao contrário, uma ilusão com espelhos ou eu que estava a sonhar. Uma coisa é o encaixe dos dados com a hipótese que a tornam evidentemente melhor que as alternativas. Outra diferente é a possibilidade de termos dados incompletos e sermos induzidos em erro por isso. Essa possibilidade é inescapável mas só se justifica preferí-la se algo o fundamentar. O "pode ser", por si só, não serve para nada.

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  44. O videoBay o piratebay à lá Youtube

    http://www.tvi24.iol.pt/tecnologia/video-bay-pirate-bay-youtube/1072665-4069.html

    Promete fazer ainda mais barulho. Gosto destes rapazes : )

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  45. Mário Miguel02/07/09, 14:40

    Ludwig,

    Para o aumento da criatividade, eu correlaciono, por exemplo, com a facilidade crescente de um grupo de pessoas gravar um disco. As ferramentas informáticas tornaram, o que eram impossível/proibitivo fazer em casa há 15 anos, uma brincadeira de crianças, e simultaneamente, necessitando de poucos recursos. A facilidade da divulgação da informação nos dias de hoje é muito maior devido à sofisticação, massificação, e diversificação dos canais de divulgação, bem como as técnicas de publicidade, industria de vídeos (produção dos mesmos) e estratégias das discográficas que têm evoluído (eventos, concertos, formas de publicidade, formas de criar grupos); basta ver os fenómenos de grupos tipos Spicegrils que são coisas bem pensadas que estão indseridas em estratégias mais sofisticadas (não digo que sejam boas, só se forem as cantoras enquanto mulheres), mostrando uma evolução na produção, diversificação e alcance/massificação do produto. Tantos factores que ficaram de fora, e a industria está buscando novas estratégias, e elas têm de facto evoluído, parece-me que o estudo em causa, no mínimo, está amputado no que diz respeito a factores basilares, e portanto parece-me uma explicação, pelo que atrás referi, com pouca sustentação.

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  46. Mário Miguel,

    Isso está relacionado, mas acho que não da forma como dizes.

    Coisas como as Spice Girls, e todo o marketing pré-p2p, visavam vender muitas cópias do mesmo. As empresas discográficas estavam a estrangular a diversidade porque dá mais lucro ter um mega sucesso do que dez ou cem bandas diferentes para gostos mais particulares.

    Isto foi especialmente agravado pelo domínio das cadeias de supermercados, como a Wallmart, na distribuição de música. Com espaço mais limitado em cada supermercado mas imenso potencial de venda, aumentavam o volume mas restringiam
    a diversidade.

    O p2p fez do dique um passador. E se bem que a tecnologia digital afecte o processo a vários nívels, reduzindo não só o custo de distribuição como o de gravação, é preciso ver que é a mesma tecnologia. A razão porque custa menos gravar um àlbum é a mesma porque custa menos copiar um álbum.

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  47. Ludwig,

    Apesar de concordar contigo quanto ao copyright também fiz uma careta quando li o teu "claramente", e outras conclusões semelhantes noutros sites. A diminuição do poder do copyright pode ser uma das causas, mas não é certamente a única. Até há poucos anos quem quisesse gravar um álbum tinha de recorrer a uma editora (que fornecesse ou alugasse um estúdio de gravação). Para colocar o álbum à venda nas lojas e divulgá-lo convenientemente junto das rádios e dos consumidores, idem aspas. Os computadores, a internet e a tecnologia digital em geral vieram facilitar enormemente tudo isto.

    É possível agora fazer gravações decentes em casa com um computador e um bom microfone, e colocar as músicas na internet à venda e/ou de forma gratuita. Sites como o youtube podem em pouco tempo tornar alguém mundialmente famoso (Susan Boyle, Mia Rose, Ana Free...).

    Ou seja, o incentivo do copyright pode ser menor, mas a barreira de entrada no mercado da música praticamente desmoronou. Actualmente as grandes editoras ganham menos e estão portanto menos dispostas a investir, mas quem quer gravar um álbum já não tem de andar a bater à porta delas.

    Este factor não pode ser menosprezado. Sempre houve mts músicos amadores que sonhavam gravar um álbum, mas que as editoras recusavam. O facto de 25mil daqueles 79mil álbuns serem puramente digitais aparece-me apontar nesse sentido.

    No entanto este estudo não deixa de ser um GRANDE GRANDE golpe naqueles que andam por ai sempre a queixarem-se que é fundamental acabar com a pirataria na internet, pois caso contrário irão à falência, haverá menos “diversidade cultural” ou até que será o fim da produção cultural. Ainda há pouco tempo dizia o “troll de serviço” do Remixtures que a continuar assim daqui a 5 anos não seriam feitos mais filmes, música ou livros. Ora... a julgar pelos últimos 5... :)

    Já na altura lhe respondi que nunca se fez tanta música como hoje (sem nunca imaginar os números revelados agora!), muita dela disponibilizada com licenças creative commons (gratuita) e que é feita porque existe a internet, e não apesar dela. Muito antes de haver direitos de autor, quanto mais haver a possibilidade de ficar rico com isso, já havia cultura. O incentivo monetário não é o único incentivo à criação. Tal como a venda directa dos conteúdos não é a única forma de lucrar com eles. E isso faz com que seja inaceitável o atropelar de direitos fundamentais só para proteger os lucros daqueles que se recusam a explorar outros modelos de negócio.

    A era actual é sim uma altura muito interessante e cheia de oportunidades. Por um lado temos muitos milhares de músicos a querer gravar e divulgar a sua música, e por outro lado os milhões que procuram e sacam música da internet. Não é preciso ser génio para perceber que há aqui uma grande oportunidade de negócio em oferecer serviços que liguem os dois lados; que respondam aos desejos e necessidades das duas comunidades. Se ao menos os administradores das editoras tirassem as palas dos olhos e vissem o que se passa à sua volta...

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  48. Nelson,

    Concordo que a perda de força do copyright não foi o único factor. Mas nem por isso deixa de ser um factor claro, no sentido de ser evidente nos dados. Nota, por exemplo, que as vendas de bilhetes para concertos também aumentaram, bem como o número de filmes de cinema. A mesma facilidade de acesso que reduz o poder do copyright está a aumentar a apetência pela cultura.

    E parece-me razoável que melhor acesso à cultura é em si um incentivo importante à criatividade.

    É por isso que digo "claramente". Por me parecer claro que é assim. Se quisesse dizer que era o único factor tinha escrto "exclusivamente" :)

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  49. Mário Miguel13/08/09, 13:21

    Ludwig,


    O Nelson Cruz, reforça exactamente os pontos que eu frisei.


    «Isso está relacionado, mas acho que não da forma como dizes.

    Coisas como as Spice Girls, e todo o marketing pré-p2p, visavam vender muitas cópias do mesmo. As empresas discográficas estavam a estrangular a diversidade porque dá mais lucro ter um mega sucesso do que dez ou cem bandas diferentes para gostos mais particulares.

    Isto foi especialmente agravado pelo domínio das cadeias de supermercados, como a Wallmart, na distribuição de música. Com espaço mais limitado em cada supermercado mas imenso potencial de venda, aumentavam o volume mas restringiam
    a diversidade.»


    Ora essa? Então os grandes grupos, artistas o que fazem é exactamente o contrário. Devido à sua grande popularidade, ao difundirem o seu trabalho vão originar sucedâneos do seu estilo que por diferenciação vão originar novos estilos e que recombinados vão dar por sua vez outros estilos. É assim que tem funcionado. Basta ver uma entrevista a uma banda, onde é frequente eles dizerem as suas influencias, e normalmente eles indicam sempre uma ou outra que foi massificada. Quanto mais popular é uma banda, NECESSARIAMENTE, influenciará mais bandas, basta pensar só na parte meramente estatística da coisa. Tanto é que uma banda quanto mais popular fica, mais recursos tem para chegar a mais gente (fenómeno circular trivial).

    Por exemplo, Michael Jackson, um dos mais populares do mundo e que mais vendeu, influenciou tantas bandas e originou uma porrada de estilos diferentes, influenciando na música coreografia e até nos vídeos, até originou o grande Golimarrrrr , o que é completamente o oposto da restrição a diversidade como apregoas. Acho que neste ponto perdes-te um pouco.

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  50. Mário Miguel,

    Acho que o problema é não estares a distinguir a criação com a distribuição.

    Se és um artista e tens acesso a vários estilos vais combinando e derivando e inovando conforme queres e podes. Com muitos artistas e fácil acesso tens uma grande produção de diversidade.

    Mas se és um distribuidor cujo modelo de negócio depende de direitos exclusivos de distribuição e se o teu rendimento vem de um canal limitado ao espaço em prateleira, o que vais fazer é tentar optimizar o numero de CD que vendes dentro das restrições de espaço. Para isso vais combinar duas coisas: focar naqueles títulos que mais vendem, em detrimento da diversidade, e tentar ao máximo restringir o acesso do consumidor por qualquer via que não inclua pagar-te.

    É esta a tensão que refiro. Enquanto a criatividade beneficia da diversidade e da facilidade de acesso, o modelo de negócio baseado na venda exclusiva de CD visa o contrário: a massificação para facilitar a distribuição e a restrição ao acesso para maximizar as vendas.

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  51. Mário Miguel13/08/09, 14:51

    Ludwig,

    «Acho que o problema é não estares a distinguir a criação com a distribuição.»

    De forma alguma, até por que as duas são face da mesma moeda... A distribuição andará sempre a reboque da procura que estimula a criação, mexes numa e escangalhas a outra.. Existe sempre um mecanismo de retroacção. As editoras não conseguem impingir o que as pessoas não querem. Acho que mesmo que fizesse confusão, isso não seria relevante.


    «focar naqueles títulos que mais vendem, em detrimento da diversidade»

    Eu acho que isso até roça a contradição. Ao focar o que se vende mais significa que se maximiza a venda para quem quer comprar, ir de encontro ao gostos. Logo, fornecer o que as pessoas querem. Mais gente compra o que se vende mais (isto soa a circular, mas não deixa de estar certo), e assim, perece-me, que o que ocorre é que há uma maior numero de pessoas a consumir e a ser influenciadas. Se pensares no cenário oposto: focar naqueles títulos que MENOS vendem, em detrimento da NÃO diversidade não me parece ter sentido. Pois menos vendas implica um universo de ouvintes menores, e por um critério meramente estatístico temos menos diversidade derivada.


    «É esta a tensão que refiro. Enquanto a criatividade beneficia da diversidade e da facilidade de acesso, o modelo de negócio baseado na venda exclusiva de CD visa o contrário.»

    Não me parece, pois se o objectivo é vender o mais possível, então é atingir (e nesse caso a possibilidade de influenciar) o maior numero de ouvintes possível, neste caso ainda com mais pertinência, pois as editoras dão prioridade ao que mais vende, logo o que mais hipótese terá de influenciar.

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  52. Do ponto de vista das editoras faz todo sentido. Havendo recursos limitados para gravar, divulgar e distribuir albuns, faz mais sentido concentrar-los nas Britney Spears e Spice Girls deste mundo, do que espalhar esses mesmos recursos por 5 ou 10 bandas com mt menor capacidade para cativar os consumidores. Com as primeiras o retorno do investimento é garantido. Com os segundos, não!

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  53. Mário Miguel,

    « distribuição andará sempre a reboque da procura que estimula a criação»

    Num mercado de concorrência livre, sim. Mas num mercado em que uma editora pode comprar os direitos exclusivos de distribuir centenas de títulos e depois só distribuir os poucos que vendem mais, usando a exclusividade de direitos para impedir concorrência, isso não é verdade.

    Nota que se só há spice girls há muito mais gente a comprar spice girls do que comprariam se houvesse outras coisas à venda. Não chega a esse ponto, mas anda lá perto. As editoras discográficas são donas dos direitos exclusivos de distribuição de muitoa mais coisas que aquelas que distribuem.

    «Não me parece, pois se o objectivo é vender o mais possível, então é atingir (e nesse caso a possibilidade de influenciar) o maior numero de ouvintes possível,»

    Vê o comentário do Nelson. Depende dos custos. Imagina:

    - Cenário 1: vendo cem mil cópias de A e dez mil cópias de B
    - Cenário 2: vendo 105 mil cópias de A porque não ponho B à venda.

    Se os custos fixos de produzir B forem superiores ao lucro das 500 cópias o cenário 2 é melhor. Para o distribuidor.

    Nelson,

    É aqui que surge o problema. Enquanto que o incentivo do distribuidor é puramente financeiro, o incentivo do criador não é. O criador cria, em grande parte, porque gosta de o fazer, fama, etc.

    Ao contrário do que acontece num mercado em que todos podem vender o que quiserem, neste mercado de monopólios e direitos exclusivos há um conflicto entre os interesses do distribuidor, por um lado, e do criador e consumidor, pelo outro.

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  54. Mário Miguel13/08/09, 23:11

    Ludwig,

    «Num mercado de concorrência livre, sim [...] usando a exclusividade de direitos para impedir concorrência, isso não é verdade.»

    De forma directa ou indirecta o circuito de procura acabará por forçar as editoras a irem ao encontro do que as pessoas querem, os consumidores não compram o que não gostam - o que me parece trivial-, e aí, salvo caso que me dês números e evidencias relevantes, na maioria dos casos, a distribuição andará sempre a reboque da procura que estimula a criação mesmo que seja de forma indirecta, por pressão das editoras, as editoras andam sempre à procura de novos talentos, o processo de tentativa erro é recorrente, e só isso já é um estimulo, as bandas sabem que o mercado anda sempre à procura de novidade, e é um facto que os top estão a ser sempre alimentados com novidades, basta ver o historial desde 1990 até hoje o que entrou e saiu do circuito da musica pop (a que vende mais) evidencia uma reciclagem constante o que sustenta esse estimulo à criação, e no caso da pop parece-me que um dos estímulos importantes é o dinheiro. Mesmo que esse mecanismo que apontas ocorra, a distribuição andará sempre a reboque da procura que estimula a criação na esmagadora maioria dos casos. Mesmo no caso limite, não estou a ver que as spice girls tivessem vendido tanto só porque as editoras não vendessem mais nada, se as pessoas não gostassem, nicles... E as spice girls vingaram num mar imenso de estrelas pop, a questão é que nesse caso foi uma formula (fabricada) que venceu, porque simplesmente foi ao encontro dos gostos dos ouvintes, ou achas mesmo que se deveu a um constrangimento da concorrência????

    «Nota que se só há spice girls há muito mais gente a comprar spice girls do que comprariam se houvesse outras coisas à venda. Não chega a esse ponto, mas anda lá perto. As editoras discográficas são donas dos direitos exclusivos de distribuição de muitoa mais coisas que aquelas que distribuem.

    [...]

    e os custos fixos de produzir B forem superiores ao lucro das 500 cópias o cenário 2 é melhor. Para o distribuidor.»


    Partem disto já foi respondido anteriormente...

    Parce-me ser mais plausível que sejam casos particulares a verificar esses cenários, e quando o factor escala é grande, a mim, parece-me que esse fenómeno tende a diluir-se face à força da quantidade de vendas que ser grande levará sempre a melhor.

    «É aqui que surge o problema. Enquanto que o incentivo do distribuidor é puramente financeiro, o incentivo do criador não é. O criador cria, em grande parte, porque gosta de o fazer, fama, etc.»

    O tanas! Para o criador, o incentivo financeiro é uma variável importante, e mais ainda no caso dos famosos. Por exemplo, no mundo do RAP, é algo que transborda nos vídeos, brancas pretas podre da boas e carros topo de gama todos kitados, tudo sempre associado à boa vida$$$$, por exemplo, um dos álbuns do «50 Cent» tinha como título «Get Rich or Die Tryin» o que é bem elucidativo, e que está impregnado no RAP/hip hop comercial.

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  55. Mário Miguel,

    «De forma directa ou indirecta o circuito de procura acabará por forçar as editoras a irem ao encontro do que as pessoas querem»

    Não, e isto é um erro fundamental. Se respeitarem os monopólios dos distribuidores, os consumidores ficam com uma capacidade muito menor de influenciar o mercado. É por isso que os monopólios são tão bons para os distribuidores.

    O que tu estás a dizer equivale a afirmar que um mercado com monopólios tem o mesmo ponto de equilibrio que um mercado em concorrência livre. O que é obviamente falso.

    «Para o criador, o incentivo financeiro é uma variável importante,»

    Parece-me estéril discutir sobre quão importante é essa variável e, especialmente, se a sociedade deve sacrificar direitos individuais de expressão e partilha para favorecer especificamente aqueles criadores que criam por dinheiro.

    Neste caso, basta apontar que enquanto que para o criador, o dinheiro é um incentivo e o acesso livre e gratuito a obras de arte é outro -- ambos contribuem para melhor criatividade -- para o distribuidor o dinheiro é o único incentivo e o que eles querem é ganhar mais dinheiro restringindo o acesso às obras criadas.

    Por isso é errado pensar que fazer as coisas a gosto do distribuidor vai favorecer igualmente o criador. E é também um erro esquecer que se favorece o distribuidor à custa do consumidor -- que é o destinatário final destas medidas, pois é inútil incentivar a criatividade se não for para a sociedade ter acesso às obras criadas.

    Por isso eu defendo que devemos deixar os criadores e consumidores negociar livremente, sem conceder monopólios a ninguém e confiando no mercado livre e competitivo, que é o ideal para coisas como estas.

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  56. Mário Miguel14/08/09, 17:54

    Ludwig,

    «Não, e isto é um erro fundamental. Se respeitarem os monopólios dos distribuidores, os consumidores ficam com uma capacidade muito menor de influenciar o mercado»

    Isso é no caso geral, e evidente quando o bem/serviço é de primeira necessidade (medicamentos, alimentação de base: arroz, leite etc...). Mas quando o bem/serviço faz parte do universo do facultativo, o monopólio, a existir, não terá o mesmo impacto, e a dinâmica entre consumidor e empresa é outra. Pois, no caso da música, ou se gosta ou não se compra, não me parece que a restrição de vários produtos em detrimento de um, implique que quem não goste desse produto, que ficou em posição privilegiada, o vá comprar, devido ao simples facto que neste caso o comprador não compra musica porque necessita, compra porque lhe apetece, e é aqui que falhas ao aplicar o conceito clássico da dinâmica de um monopólio com o consumidor. parecendo-me claro que as editoras andam atrás do cliente esmerando-se para dar a todo o momento o que a maioria quer ouvir, não me parece concebível outro cenário, e ainda a reforçar o que eu disse há o facto de haver mais do que uma editora, portanto há concorrência entre elas, mas achares irrelevante este último facto ignora-o. Os ouvintes gostam, compram, se não gostarem, não há monopólio que valha às editoras, parecendo-me que os clientes finais influenciam claramente a coisa, tal não ocorreria só no caso de a musica ser um bem de primeira necessidade, e é aqui que me parece que metes os pés pela mãos.


    «O que tu estás a dizer equivale a afirmar que um mercado com monopólios tem o mesmo ponto de equilibrio que um mercado em concorrência livre. O que é obviamente falso.»

    Claro que não têm, mas dependendo do produto/serviço que é vendido, a coisa muda radicalmente de figura como eu referi anteriormente, tu estás aqui a fazer uma generalização abusiva errada.


    «Parece-me estéril discutir sobre quão importante é essa variável e, especialmente, se a sociedade deve sacrificar direitos individuais de expressão e partilha para favorecer especificamente aqueles criadores que criam por dinheiro.»

    Românticos há poucos, e, pelo que parece, o dinheiro é um dos melhores incentivos que há, relevaras esse facto parece-me um erro grosseiro.

    Mas há algo que já me fartei de dizer e lembra-me a falácia referido no "A Pente Fino"... Não é por haver uma estratégia montada com copyright que isso não implica que uma estratégia sem ele não possa existir, e se essa estratégia for melhor, então porque é que não concorre com a do copyright? Que eu saiba não há uma lei contra isso. Porquê que as bandas continuam a recorrer às editoras? Ou os criadores são uns totós, ou então há vantagem ao recorrer às malvadas das editora$!
    Nada impede que o teu cenário romântico ocorra, parece é que, além das editoras, há muita gente (criadores incluídos) que não está para isso, e isso parece ser um facto.

    Continua...

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  57. Mário Miguel14/08/09, 17:55

    ... Continuação.

    «[...] para o distribuidor o dinheiro é o único incentivo e o que eles querem é ganhar mais dinheiro restringindo o acesso às obras criadas.»

    Exacto, mas as editoras só ganham vendendo, e ganharam mais ainda, vendendo mais ainda, e disto não podes sair, por isso para as editoras facturarem têm que vender e sujeitar-se aos requintes gostos tiques e manias dos ouvintes que só compram se gostarem, não porque necessitam de comprar para viver, e aqui a editora de forma indirecta tem que criar mecanismos de incentivo aos criadores, nem que seja sem ser de forma voluntária - sem matéria prima mudam de negócio...-, este ciclo, por mais que te doa, tem que existir.


    «Por isso é errado pensar que fazer as coisas a gosto do distribuidor vai favorecer igualmente o criador»

    Claro que o criador fica com menos poder, mas o distribuidor depende do criador, e sobre isto nada podes argumentar, só no caso do criador ser um escravo, que é o único cenário que valida a tua afirmação... Acho que estás a ser muito tendencioso nestas matéria.


    «E é também um erro esquecer que se favorece o distribuidor à custa do consumidor -- que é o destinatário final destas medidas, pois é inútil incentivar a criatividade se não for para a sociedade ter acesso às obras criadas.»

    Sim, em parte podes ter razão, mas o que vejo e que desde a época de 80 até 90 a produção e variedade de música aumentou de forma significativa, e nesta altura a Internet massificada era nula.
    Não vejo em que ponto houve um limitar da criatividade, pelo contrário. Mas sem o distribuidor, que corre os riscos, muitos não chegariam a sair da garagem.
    E que fique claro (já o disse aqui e volto a repetir para que fique claro): quem quiser andar sem editoras e copyright às costas, por mim não terá a mínima crítica, mas quem quiser optar por elas tem o direito seguir essa estratégia, agora que há forma de distribuição fácil, não entendo porque não há concorrência entre as duas estratégias. Se calhar a primeira é melhor para todos os envolvido nas criação e distribuição, e se calhar, a jusante, o consumidor também beneficia pelo produto que lhe chega que é feito a pensar o mais possível nele, mas isto já é especular.

    Fim.

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  58. Mário Miguel,

    Tenho de ler os teus últimos comentários com calma mas, entretanto, vai lendo isto. É antiguinho, mas to the point...

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  59. Mário Miguel13/09/09, 22:27

    «Tenho de ler os teus últimos comentários com calma mas, entretanto, vai lendo isto. É antiguinho, mas to the point...»


    Isto é para veres a dualidade de critérios da Courtney Love em termos genéricos de protecção.

    Não é bem um ataque ad hominem, é uma questão pertinente de facto, pois versa sobre mais ou menos sobre o mesmo conceito

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  60. Mário,

    Não recomendei esse artigo pela minha opinião da Courtney Love nem por achar que ele vê o copyright da maneira como eu vejo. Fi-lo para ilustrar o profundo conflito entre a arte e a "indústria cultural". As empresas discográficas e afins nunca foram um motor de inovação. Foram um mal necessário por limitações à divulgação e distribuição. Agora são um mal desnecessário.

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